BOUT DU CHEMIN

                               BOUT DU CHEMIN

 

Sentia um cheiro que lhe incomodava, não era nauseabundo.

Mas devido a situação atual, isso era normal, no fundo sabia que estava se decompondo a seco, caralho, como se explica isso.

Fazia muito tempo que não tomava banho, logo ele que adorava isso no passado. Aliás o passado lhe parecia algo tão distante, que nem sabia como se situar a respeito.

Mas o problema era a pele, estava se secando, como o resto do corpo, tinha a textura de um papel, a água quando roçava lhe doía.  Na verdade desde que tudo tinha começado, tudo o que podia fazer era molhar um pano, passar pelo seu corpo. A água corrente estava contaminada, acelerando o processo de decomposição do corpo.

Não sabia a quantos dias estava sentado nessa velha poltrona, era a mais confortável do apto.   Tinha tudo disposto em sua volta, não tinha mais preocupação em mijar, cagar, porque essa parte do corpo já não funcionava. Tomava pequenos goles de água, que sentia percorrer seu corpo, desaparecer.

Olhou pelo grande buraco na parede do apartamento, viu seu amado rio Sena.   Amava o lugar que estava, embora as circunstancia de como tinha chegado ali, hoje lhe pareciam distantes, mas será que eram.   Nada funcionava, tudo que era elétrico, digital, ou mesmo um relógio manual, tudo estava parado.

Não conseguia controlar o dia e a noite. Porque tudo funcionava de outra maneira. Estendeu o braço direito para mais um gole de água. Nesse movimento ele podia ver os músculos, que estavam agarrados a pele, esse braço pelo movimento constante ainda funcionava direito, mas o outro não.

Não sabia a quanto tempo estava em Paris.  Tinha perdido a noção do tempo.  Voltou a olhar em direção a parede destruída, ao  rio, este continuava correndo, mas a sensação era que era mais lento, a água agora era cinza, quase branca por causa da espuma da poluição. Tudo parecia branco, era como uma eterna nevada.

De vez em quando ainda caia essa cinza do céu, ai era melhor não estar na rua, pois queimava. Desprendia um cheiro ácido, como se imaginava a morte.

Sua cabeça repousou na poltrona, com os olhos semi cerrados, se recordou do dia que tudo tinha acontecido.  Tinha chegado a dois dias a Paris, para um encontro de literatura na Sorbonne, como convidado.  Ficou no mesmo hotel que se hospedava sempre.

Desde a chegada no aeroporto, as notícias eram apavorantes, pois os bombardeios entre vários países era cada vez mais intenso.

A guerra tinha se espalhado pelo globo, se resistiam com muita dificuldade os países da Comunidade Europeia. Como o bloco era governando desde Bruxelas, tinha altos mandos nos antigos países.  Tudo era comandado a partir de lá. Os Árabes se guerreavam entre si, os asiáticos também, tudo pelo controle do mundo.  O Brasil dominava toda a América do Sul, com guerrilhas em defensa da liberdade, de cada um. Era um sem cessar de bombardeios, atentados.  Até que o louco do filha da puta da Coreia, num acesso de loucura tinha apertado todos os botões vermelhos.  As bombas foram lançadas em todas as direções.    Ao mesmo tempo revidadas, o estado de alerta explodiu no ar.  As que vinham em direção a Paris, partiam não somente da Asia, mas da américa, da Rússia,  os da França faziam os trajetos ao contrário.

A rádio, televisão estavam frenéticas, os apresentadores gritavam o que se devia fazer. Todos deviam se esconder no subsolo, se estivessem na rua, nas estações de metrô. E esperar.

Gritavam calma, mas eles estavam frenéticos, em um canal a apresentadora gritava histérica que não queria morrer.

  Subiu até o seu quarto, em cima da cama, estava uma maleta meio aberta, colocou roupa interior, sua necessaire, um casaco de couro, umas quantas camiseta, isso teria que bastar, nem sabia como, nem porque pegou seu Ipad de última geração, o celular, desceu correndo. Já estavam todos entrando no subsolo do hotel, a maioria eram funcionários que estavam trabalhando, uns quantos hospedes, o hotel estava meio vazio nesses dias.  Os empregados tinham abaixado tudo que estava em latas.  Leite, café, uma cafeteira, enfim tudo o que podia necessitar.  Inclusive uma televisão tinham descido, mas quando começaram a sentir os zumbidos, esta deixou de funcionar. Nada mais funcionou, ele ainda tentou com o celular, ou Ipad, nada.  Bah pensou, quando tudo isso se acabe, volta tudo a funcionar.  Então o chão começou a estremecer, ruídos fortes foram em aumento.  Sentiram o chão se mover, os ruídos era apavorantes, algumas vezes o chão se movia brutalmente, isso foi aumentando, começaram a cair, troços de pintura, depois pedaços de rebocos, num determinado momento viram que a parede lateral cedia, o pessoal da loja ao lado estava ao descoberto, tão assustados como eles.

Os relógios tinham parado, mas sentia que o tempo passava o ruídos não diminuíam.  Escutaram ruídos surdos, como se na distância, edifícios se desmoronavam.  Pareciam sons de filmes de guerra, tudo era distante ao mesmo tempo presente.  Ninguém se atrevia a se mexer ou sequer falar.  De vez em quando escutavam gritos, alguns deles mesmos.

Um cliente, inglês, que estava muito assustado, começou a gritar que iam morrer lá em baixo, por mais que tentasse segura-lo, escapou, subiu as escadas correndo,  por incrível que pareça teve a delicadeza de fechar a porta, ou será que esta tinha um sistema automático. Bah, que importa isso agora, pensou.

Perderam a noção do tempo ali embaixo, como que esperando que a televisão voltasse a funcionar, alguém chamasse pelo celular, dissesse podem subir, está tudo bem, não passa nada.

Foram comendo o que estava nas latas, ele que não suportava leite condensado, sempre que lhe passavam a lata dava um sorvo.

Um dia, não sabia quando, começaram a escutar ruídos vindos de cima. Ele tomou coragem, se atreveu a subir.

A porta estava emperrada, precisaram três pessoas para abri-la.

A primeira imagem que viu, foi o inglês, sentado no que restava do sofá, sem a parte da frente da cabeça.  O edifício tinha se aberto em dois, caído para trás, do céu caia uma nuvem de cinzas, a rua estava coberta com isso, parecia que nevava, quando esses flocos tocavam a pele, queimavam.  Voltou, lentamente, vestiu seu casaco de couro, cobriu a cabeça.  Mas como pensou, se estamos no verão. Sentiu que seu movimentos eram lentos, não entendeu porquê.   Trepando com dificuldade pelos restos de paredes, chegou a rua. Já não existia as portas da frente do hotel, na verdade o hotel já não existia.  A avenida era um grande canteiro de buracos imensos. Na esquina jorrava agua de um sistema de incêndio. A maioria dos edifícios em frente tinham desmoronados  sobre si mesmos.  Na sua cabeça, ele pensou quem vai assistir minha palestra na Sorbonne nessa confusão toda.  Olhou para trás em direção a Universidade, teve um esgar, pois não existia nada, nenhum edifício. Pelo vazio do hotel, se via tudo limpo, limpo porque estava tudo coberto de branco pensou.

Conseguiu chegar a rua, arrastando sua pequena maleta. Na esquina uma cena idiota, uma mulher com os cabelos queimados, coberta de cinzas, levantava o celular, como que procurando encontrar o sinal de cobertura.

Entre os buracos da rua, muitos carros, destroçados, os que estavam vazios, as pessoas tentavam fazer funcionar, mas que nada.

Os que estava com pessoas dentro, ou melhor múmias, pois estavam secos tal qual uma múmia.  Prestou atenção ao ver um número muito grande pessoas vestidas de branco, eram muitas. Pensou enfermeiros, vou procurar saber como sair daqui.

Estas chegavam as pessoas mortas na rua, seguravam de uma determinada maneira uma das mãos, puxavam, de dentro saia a pessoa inteira, ficando o corpo no chão.  Levou um tempo até entender que o que tiravam eram as almas.

Boquiaberto ficou olhando. Chegou lentamente, perto de um desses homens de branco, quando este se virou, viu que tinha os olhos negros. Ah pensou, encontrei um como eu. Tinha passado a vida inteira, tentando esconder esse problema, quando despertava os seus olhos estava negros, colocava um colírio especial, feito pela sua mãe, ultimamente por ele mesmo,  aí os olhos voltavam ao normal.

O homem falou com ele com naturalidade, deve ser porque tenho os olhos negros como ele.

Lhe perguntou quem eram é porque retiravam as almas dos seus corpos.

Somos almas cuidadoras, esse é o nosso trabalho. Depois virão outras almas, as negras e recolher os corpos para serem incinerados.

Almas cuidadoras, repetiu para si mesmo, mas em voz alta.

Sim ou anjos da guarda, como queira.  Já não é necessário sermos invisíveis. O mundo já acabou mesmo, esse era o final esperado,  só que pensávamos que iria demorar mais para acontecer é que fosse menos trágico.

Todos os países do mundo estão assim, perguntou ansioso.

A alma lhe respondeu que não sabia, Estou trabalhando a muito tempo retirando as almas, por isso não sei.  Às vezes fica difícil, pelo trauma que tem, acreditam que estão vivos. Não está sendo fácil. Temos tempo limites.

Ficou completamente aturdido.  Caralho se o mundo tinha acabado, ele estava vivo ou não?

O outro lendo seus pensamentos, respondeu. Sim estas vivo, por isso cubra-se ao máximo, coloque óculos escuros,  só coma o que estiver em latas, água engarrafada. Pois tudo se contamina rapidamente.

Viu uma loja destruída, conseguiu uns panos para se envolver num expositor jogado no chão, viu ainda inteiro uns óculos escuros.

Ia procurar um espelho para se olhar, mas isso já não valia a pena.

Para que ter vaidade, se tudo tinha tempo contado.

Como num choque pensou, se vou morrer, que seja num lugar que eu goste, vou fazê-lo no meu lugar preferido aqui de Paris, que se foda o mundo.

O que não entendia era porque andava tão lento.  Como se suas pernas estivessem cansadas, tinha que fazer um esforço para isso. Os únicos que se moviam mais rápidos eram os homens de branco.

Foi em direção ao que queria ver, seu sentido de direção não tinha mudado em nada.  As ruas ou o que restava delas era uma grande confusão. Gente morta, almas que as recebiam, e pessoas vivas, tentando arrumar comida nos restaurantes abandonados, comendo tudo que viam pela frente sem cuidado nenhum, ele se lembrou do aviso........Latas.

Quando chegou ao  Sena, por ele corria lentamente um rio novo, cinzento, com os flocos de cinzas, cobrindo toda a extensão possível.

Se amontoavam parecendo blocos de neve.

Procurou com o olhar a Notre Dame, mas sentiu um frio na coluna vertebral, pois aonde havia uma estrutura que tinha aguentado séculos, só viu um monte de pedras, as torres tombadas, como quando fazia fotos, tinha mania de tombar as igrejas, para dizer que as religiões estavam mortas.  Agora via a primeira igreja morta, a mais famosa do mundo.

As torres da parte alta da igreja com os Santos, estavam enfiadas no rio, com as pontas para baixo, os santos enterrados,  Do portal não existia nada. Olhou para o jardim, não restava nada, troços de pássaros caídos, aos pedaços, as pessoas os catando para comer.

Quando com muito custo chegou do outro lado, já em direção a Île de Saint Louis.  Estava atontado, não tinha noção do tempo que tinha levado para andar a extensão do que restava da igreja, se topou com um pedaço de um gárgula  que parecia rir do que estava acontecendo. A sensação era que a terra tinha parado, será, mas não tinha aonde encontrar respostas.  

Da ponte só restava uma lateral, o resto tinha caído ao rio. Olhou para o seu canto preferido, os primeiros edifícios tinham desaparecidos, o que restava de um restaurante que ficava em frente à ponte, as pessoas se amontoavam procurando entrar e outras saírem.  O aspecto que tinham era lamentável, queimados, algumas arrastavam algum membro do corpo.

Desviou o olhar para seu lugar preferido, aonde tinha passado tantos momentos sentando contemplando o cenário diante dele.

O que restava era um troço da árvore, esta estava torrada, o que restava  se erguia como se tivesse tentado resistir, os fogos do céu, a tinham castigado pela ousadia.

Estava inclinada num ângulo contrário ao original, parecia um dedo acusando aos céus pelo que tinha acontecido. O banco de pedra, o chão em volta tinham desaparecido.

Olhou, em sua cabeça o que via era uma nova decoração, como que malignamente tivesse criado no mesmo lugar, uma cena em negro.

Aí lentamente contornou a rua entre os escombros, até a Pont Louis Philippe, mas esta estava como cortada no meio, a parte central já não existia. Se virou para o edifício Azul, que  chamava de seu. Tinha se apaixonado por ele, ao assistir um filme a muitos anos atrás. Tinha um rombo na sua fachada, mas continuava em pé.

Viu que saia um grupo de almas levando outras.

Perguntou a uma delas se tinha mais alguém no edifício?

Não, está vazio.

Aproveitou que a porta tinha ficado aberta, aliás para que fechar.

Realizou o sonho de sua vida, entrar, olhar cada andar com detalhes.

No primeiro andar, as portas abertas, viu duas senhoras sentadas em um belo divã, secas como pau, pareciam múmias, eram as que tinham saído com as almas.

Foi até a cozinha olhar os armários, encontrou muitas latas, mas muitas mesmo, procurou, encontrou uma bolsa, a encheu, numa outra garrafas de água. Com o peso, subir ao outro andar lentamente.  Nele encontrou após empurrar a porta meio entornada, um homem sem idade, múmia também, sentado perto de uma janela,  tinha sido cortado em dois, quiça pelos vidros da janela. Devia ter se aproximado para ver o espetáculo final, tinha participado nele.

Fez a mesma coisa, olhou os armários, mais latas de comidas  bebidas, que bom tenho comida por bastante tempo,  isso significaria mais bolsas. Fechou bem os armários, foi para o último andar, aonde se passava o filme que tinha visto.

Quando chegou, viu que tinha uma fenda muito grande na parede, de lá se via o que tinha restado da árvore.  Era como se tivesse tirado uma parte da parede, do chão,

Caralho, ficarei aqui é assim poderei contemplar meu fim, num lugar que amo pelo menos.

Viu que na parte detrás do apartamento, tinha dois quartos vazios.

Arrastou uma cama até lá com um esforço imenso.

Se deitou um pouco para descansar, sentiu o cheiro seco da morte na roupa de cama. Depois iria procurar mais roupas, trocaria.

Iria fechar os apartamentos debaixo assim poderia ficar sozinho lá.

Depois de ter descansado, voltou para buscar as bolsas, foi subindo tudo que ia encontrando nos outros para usar, edredom, lençóis limpos guardados nos armários, no que estava o homem encontrou gabardinas boas, que seriam para sair à rua.

Levou todas as bolsas de comida para cima, as fechou num grande armário que tinha chave, depois arrumaria tudo.

Ao descer encontrou na mão de uma das mulheres as chaves da porta, pareciam chaves de um palácio, sistema antigo, como de uma masmorra, aproveitou, com dificuldade fechou as janelas, colocou uma barra de ferro que as protegia. Desceu fez o mesmo com a porta da entrada do prédio, este tinha uns bons barrotes, pareciam medievais.

Vasculhou para saber se havia um porão, afinal o encontrou, com uma das chaves da mulher conseguiu abrir.  Estranho pensou, com um porão, eles ficaram nos seus apartamentos, como se fossem donos do mundo, nada fosse acontecer a eles.

O porão ou cave, funcionava como uma grandes despensa, não se podia ver direito pois faltava luz, encontrou uma vela, fósforo, acendeu, a chama ficou reta como um pau. Tinha vinhos, comidas em latas muito mais, uma porta, ao abri-la viu que dava a garagem que da rua era como uma rampa de descida.  Esta estava fechada com vários barrotes de metal, que não permitiam ninguém entrar, o mais interessante tinha um Citroen antigo, não sabia precisar o ano, coberto de pó. Tinha sobrevivido o filho da puta, mas não servia para nada. Riu para si mesmo.

Viu num dos cantos, como um reservatório de água, voltou ao outro lado aonde tinha visto uma lona, cobriu o mesmo, assim teria água para lavar-se pensou. Como estava tudo fechado não devia estar contaminado.  Aí entendeu, essa água provinha de um poço, esse prédio se abastecia de sua própria água. Então como a mesma era profunda podia não estar contaminada.  Quiça no primeiro andar poderia tomar um banho.  Foi o que fez, e subiu para descansar. Sairia de noite quando não tivesse ninguém nas ruas.

 Quando começou a cair a noite, saiu levando duas bolsas grandes, teve o cuidado de trancar a porta com muitas  voltas.

Desceu a Rue Saint-Louis-en-Ile, entrando em todas as lojas de comidas, a maioria já tinha sido saqueada, mas foi buscando a parte detrás das lojas, foi carregando tudo, que estivesse em latas.

Em algumas esperou que as pessoas comessem o que estava no balcão.  Se sentia um filho da puta, por não avisar, mas viu que estavam já com os sintomas, por terem comido coisas contaminadas antes.

Quando teve as duas bolsas cheias de tudo, desde patês, as cousollette em latas, tudo o que pudesse ir consumindo, as mais pesada das bolsas ia com latas de refrigerantes, porque tudo que era de vidro tinha se rompido. Em alguns lugares havia um cheiro de vinho queimado forte.

Olhou ao final da rua, levou um choque, a torre da igreja de Saint-Louis, estava enterrada no meio da rua, como se fosse uma escultura.

Se lembrou do palácio ao final da rua, pensou, lá deve ter mais coisas.

Não sabia quanto tempo levou para estar de novo no apto, guardou as coisas, em alguns momentos sentia como se estivesse meio que flutuando, outras cada passo era mais difícil.

Já era noite cerrada quando voltou a sair, lentamente se dirigiu ao palácio, levava no bolso da gabardina que tinha vestido, velas e fósforo. Tinha encontrado um revólver carregado numa das mesas do apartamento que estava, a tinha no outro bolso pesando.

Quando chegou relativamente perto do palácio, muita gente estava por lá, entrou atrás de uma coluna, meio derrubada, para observar.

As mesmas levavam objetos raros e caros, Bah, objetos para que, se não servem para comer.

Resolveu que tinha o suficiente, não sabia quanto tempo estaria vivo.   Viu uma das portas do outro lado, um antigo palacete que conhecia, estava semi aberto.  Nesse momento saiu uma das almas mensageiras, levando pela mão um senhor que parecia não concordar com a ideia.   Este dizia, então estou vivo, eu sabia que ia sobreviver, por isso te vejo, a todo mundo. A alma lhe explicava que não, que tinha desencarnado, que agora era uma alma.

Ele aproveitou se aproximou, perguntou ao espírito ou alma,  porque temos essa dificuldade para andar.

Porque a rotação da terra, foi afetada por tantas bombas,  agora gira em direção contrária, além disso está fora de prumo.

Como assim?

Tantas explosões em todos os sentidos, bombas subterrâneas, fizeram com que houvesse uma inclinação forte.  Hoje o que era o trópico, estão os países gelados. Algumas cidades desapareceram por maremotos.

Que cidades perguntou?

Todas que estavam perto do mar, Rio de Janeiro, NYC, San Francisco, Lisboa, enfim muitas outras. Aliás o oceano Atlântico invadiu o Mediterrâneo.  Desapareceram  países inteiros, Israel toda a região Árabe, agora estão embaixo do mar. Aonde fica quase impossível buscar as almas.

Repetiu o que a outra já tinha falado com ele.

Tenho que ir andando com este senhor, não beba nada que não esteja em latas, sempre latas, se queres sobreviver mais tempo.

Entrou pelo portão.  A muitos anos atrás tinha visto a biblioteca do primeiro andar, tinha invejado o morador, Agora sabia que pertencia ao velho que tinha ido com a Alma.

A porta estava aberta, ele entrou se dirigiu imediatamente para lá.

O velho estava sentado numa grande poltrona de couro, quase toda queimada pois um dos vidros tinha se rompido.  As outras grandes janelas estavam fechadas, com grandes barras, o que talvez tivesse suportado os impactos.  Ou seria porque estava dentro de uns muros de contenção fortíssimos.  Olho com pena para o velho, este tinha os ossos agarrados nos braços da poltrona, sem olhos, com a dentadura caída nas pernas.

Olhou por curiosidade o título do livro que estava na mesa ao lado, era sobre o fim do mundo. O título era sugestivo “O Fim do Mundo está próximo”. O colocou na bolsa, quem sabe lhe sobrava tempo para ler.

Nesta casa se via que morava gente velha, a quantidade de latas era impressionante, encheu as duas bolsas novamente, o restante escondeu bem escondido para voltar.

Olhou para uma mesa no meio de um salão, cheia de relógios, para ver se algum funcionava, mas qual o que.......nada.

Quando ia sair, viu que caia uma quantidade maior de cinzas, e resolveu ficar ali até que melhorasse, desceu, se abrigando bem, fechou o portão com as chaves que viu, assim seria difícil alguém entrar.  Fechou o apartamento, inclusive a tal janela aberta, embora com dificuldade pois estava meio torta.

Se deitou numa chaise longue, ficou desfrutando lentamente de uma Coca-Cola, controlando a cada gole, fechava rapidamente a tampa outra vez.

Não sabia se do cansaço, ou porque já estava mal, dormiu, e sonhou com as semanas antes. Uma confusão de notícias batiam na sua cabeça. Os conflitos tinha transpassado fronteiras. Se lembrava de um noticiário sobre o Japão, apesar de ter sofrido com uma experiência nuclear, tinha se armado até os dentes, tendo em vista as ameaças da China, da Corea do Norte. Esses primeiros ataques, tinham provocado uma grande poluição, estava provocando o desgelo do polo sul norte. O mar tinha subido demasiado, fazendo com que as pessoas abandonassem as cidades costeiras.

Havia tempestades elétricas, tornando impossíveis voos nessa direção.   Os jovens se suicidavam com medo, os que não queriam ir à guerra se entregavam totalmente as drogas sintéticas.

No seu pesadelo, se lembrou o que estava acontecendo no Brasil, que tinha resolvido agregar todo o continente, para fazer simplesmente, um grande país comunista. Os atentados eram constantes.  Tinha visto alguns mesmo diante do seu nariz.

As guerras tinham gerado um problema sério, que era a falta de alimentos. Os países loucos de poder, tinham repartido entre si a África para plantar, colher alimentos, os pobres de lá morriam de fome.  Os líderes, se consideravam a mão de Deus, estavam sim,  todos loucos.

Despertou pensando se os malditos homens tinha sido feito a imagem e semelhança de Deus, este devia estar simplesmente furioso, pois tinha feito algo errado, é tudo isso era para arrumar seu próprio erro.

Olhou pela janela, agora ventava, a quantidade de cinza era maior. Resolveu ficar mais um tempo.  Encontrou na cozinha uma dessas garrafas de metal para colocar café, pensou se coloco água aqui fica mais protegida. 

Olhando através de uma fresta de cortina, observou a rua, mas esta estavam vazias, ninguém se atrevia a andar com essa quantidade de cinzas caindo.

Sentiu que havia mais alguém na sala, e quando se voltou, viu a alma com que estivera falando antes de entrar.

Imaginei que estarias aqui, posso me sentar, passar a noite contigo.  Não trabalhamos pela noite, temos que descansar, a hora que trabalham os de negro, pois tem mais resistência e recolhem os corpos, de noite morrem também muita gente que terei que recolher com os outros pela manhã.

Consegui tua ficha, vi que vais durar muito tempo ainda. O que me surpreendeu, que nos encare com tranquilidade, sem medo. Coisa que os outros não tem.

Como vou ter medo, se sei que todos nós iremos, que como o mundo acabou, estamos na verdade sobrevivendo por mais algum tempo.

Na verdade me pergunto se sobrou muita gente viva.

Em comparação com os mortos não. Pior é os que morreram despedaçados, nem sempre encontramos a parte aonde se aloja a  alma.  Pela manhã nos dão uma lista para verificar.

Por isso lancei o teu nome, mas ele está em outra lista.

Que outra lista?, perguntou assustado.

A lista dos que ficam aqui.

Não estou entendendo, todos morreremos, não foi o que me disseste?

Sim foi o que eu disse,  mas isso não é literal.  Os que estão nesta parte do mundo sim, mas os que estão no polo sul e norte não.

É difícil explicar porque está tudo do avesso.  Nada mais é como conheceste.

Quando realmente termine tudo, recolocaremos  a terra a girar como deve, para que os novos possam reconstruir a terra. Mas nada será como antes.

E as almas que vocês vem recolhendo?

Bah, estás é uma coisa complicada de explicar.

Algumas renascerão dentro de algum tempo em outros planetas um pouco mais adiantado, por isso existe uma seleção.  Os que estão muito desequilibrados, provocaram tudo isso, irão para um mais atrasado. Os que estejam bem equilibrados irão para esse mundo novo a ser construído.

Esse também, já foi habitado, foi destruído a séculos atrás, agora será reconstruído pelos que ali renascerão.

Tudo é cíclico.

É o polo sul e norte, como sobreviveu gente ai?

Bom, com o desgelo que veio acontecendo, apareceram o que estava a muito guardado embaixo, boas terras, alguma que outra civilização anterior à idade do Gelo.  No momento que estourou tudo, estavam  por la a nata dos cientistas do mundo que estavam estudando as possibilidades. Eles foram avisados, se meteram em profundas covas que existiam.  Essas águas não estão contaminadas, pois nenhum bomba estava programado nessas direções.  As parte muito altas sobreviveram todas.  Agora na verdade com a nova configuração da terra, eles são os trópicos.

O que vai acontecer, a terra voltará a girar mas num eixo diferente.

Tudo isso parece um exame seletivo, como se as pessoas tivessem sido preparadas para isso, selecionadas para o que vai acontecer.

Exatamente isso que estas pensando?

Eu porque fico como diz tu?

Ficarás como observador, como eu já fui aqui.  A função é observar, orientar, corrigir futuros erros.

Espere, eu orientar , corrigir, acho que há um engano, tenho horror ao contacto com outras pessoas. Não tenho paciência , sou uma pessoa de carácter difícil.

Por isso ficarás purgando ainda, nesse tempo tua cabeça te julgará, poderás te reorientar.  Quando tiveres preparado, será a tua hora.

Isso é incrível, começou a falar se exaltando um pouco, Eu a muito tempo deixei de acreditar nas pessoas. Fui perdendo os poucos amigos que tinha.  Ver os amigos morrendo disso ou daquilo, é doloroso.  No momento estou só, pelo visto velho para esse mundo novo.   Depois com um certo cansaço de tudo isso.

Sim mas tens um fator importante. Sabes quem és, aprendeste a sobreviver, escutas com atenção, é parte para a ação. Como quando te falaram de como devias te proteger. Vens te preparando para o que não sabes o que vai acontecer. Tomastes todas as medidas necessárias para sobreviver mais algum tempo.

Depois aqui ainda terás mais algumas coisas que fazer.

Silêncio, escutas estes gemidos?

Sim, mas pensava que era o vento.

Venha, cubra-se bem, tape o rosto, temos que encontrar essa mulher que está gemendo.

Ela estava do outro lado da rua, sentada no que restava de um edifício, se protegendo das cinzas.  Tinha uma barriga imensa de grávida. A alma a tranquilizou, lhe dando de beber de uma garrafinha de metal.  Entre os dois a cobriram com uma manta a levaram até o apartamento.

A manta estava toda com furos, o  cheiro que as cinzas deixavam na roupa era desagradável.

A alma, molhou uma toalha no banheiro, enquanto ele ia acendendo algumas velas que estavam por ali.

Menos mal que esses edifícios antigamente tinham sua própria água.  Esta não está contaminada.

Com a toalha molhada foi lhe limpando a cara, apesar de ter muitas queimaduras, no rosto, nos braços, era uma linda mulher de cabelos negros, olhos azuis.

Repetia sem parar.......o que vai ser dele........o que vai ser dele.

A alma a tranquilizou dizendo que ia ajudar em todo o possível.

Abriu de novo aa garrafinha de metal, depositou algumas gotas em sua boca.

Infelizmente ela já tem um dos pulmões muito seco. O que acontece é que as pessoas ao morrerem se ressecam de dentro para fora.

Quase numa ordem cronológica, se vão ressecando os órgãos internos. Quando o último pulmão fica seco a pessoa morre, mas ficam secas, parecendo múmias.

Nisso entraram uns homens de negro para levarem o velho, era interessante como o faziam.

A alma explicou que era essa a função desses homens,  eles as recolhem levam para um crematório que não para de funcionar dia e noite.  Trata-se de liberar o espaço. Se não fazemos isso, algumas podem tentar voltar ao seus corpos, a coisa fica complicada.

A alma se sentou numa das grandes poltronas que tinha no salão, comentou que tinha vivido nesta casa no século passado.   Por isso fiz com que te encaminhasses para cá. Ela tem um porão incrível.

Só  agora entendi porque esse senhor não se escondeu, vi que não tinha televisão, ou outro aparelho de música.

Ele se dedicava exclusivamente a escrita, a literatura, o mundo fora destas paredes não lhe interessava.

Sei que gostas do outro apartamento, mas por enquanto necessito que fiques aqui com ela durante o tempo necessário para essa criança nascer.  Não posso perder essa criança, ela será do futuro. Como ela, já temos muitas guardadas, separados nos polos.

Porra como falas, parece que estás falando de gado, de animais.

Espera meu amigo, é o que somos, animais, apenas mais evoluídos, Mas nem por isso deixamos de ser animais.

Pensou, acabou concordando.

Acabou se relaxando, dormiu quando a alma, colocou algumas gotas da tal garrafinha.

Dormiu, sem saber quanto tempo, primeiro muito pesado, e teve pequenos pesadelos.  Via parte da sua vida, como um filme, lá estavam sua infância.  Sonhou com seus erros, acertos, sua persistência em sobreviver a qualquer custo, mesmo que algumas vezes tivesse de se comportar como um bom “filho da puta”.

Foi revivendo essa luta, a perda dos amigos, pela doença da época o câncer. A dor interior de perder esses amigos que considerava sua família. Apesar de que se comparasse o câncer  com o que estava passando agora, tudo era uma bobagem.  Nada se comparava.

Os humanos pareciam moscas caindo uma a uma.

Seu primeiro livro tinha sido sobre esse assunto. A dor da perda, a falta de humanidade nos enterros, atendimento aos familiares.

Nele falava da dor, o sentido de perder, não poder fazer nada.

Simplesmente se limitar a sobreviver.  Foi seu primeiro sucesso como escritor.

Mas nessas alturas já tinha poucos amigos a quem convidar para assistir os lançamentos dos livros..            Os poucos que ficaram, foram desaparecendo pouco a pouco na bruma da vida.

Passou a ter dinheiro, solidão.  Não, que esta última lhe incomodasse.  Ele conseguia se ocupar tanto, que tinha a sensação de bastar-se a si mesmo.   Lutando, tendo ideias, observando as pessoas, analisando.  Ganhou um bom dinheiro podia finalmente passar largas temporadas em Paris.

Nessa época, procurava passar todos os dias pelo seu lugar preferido.  Se tinha alguma casal de namorados, se sentava nas escadas de acesso, ou num café na esquina, ficava esperando para poder se sentar em paz, prestar solidariedade a árvore, que sempre acabava sozinha como ele.

Não tinha vergonha de dizer que as vezes conversava mentalmente com ela.  Imaginava a quantidade de namorados que ela tinha visto ali aos seus pés.  Que se transformavam em casais infelizes ou felizes. Que importava isso agora.

Amava o pôr do sol, as barcas,  estas com as luzes acessas, tudo em volta lançava, sombras sobre as águas do Sena.

As imagens foram se apagando na sua cabeça para voltar a consciência.

Amanhecia, não poderia dizer quanto tempo tinha durado a noite, mas tinha a sensação de que eram curtas, pois como nada era normal, estava confuso.

A mulher continuava dormindo, gemia suavemente.

Levantou a cabeça, encontrou a alma, com que de roupa nova, o seu traje branco resplandecia.  Nada como uma momento relaxante para que tudo volte a estar bem.

Como foi o teu exame de consciência deu para superar as partes más da tua história?

Menos mal que sempre tiveste a coragem de saber que nada podia fazer, que te tocava seguir em frente, não é mesmo?

Não queria responder, olhou para a barriga dela  perguntou, não está muito grande?

Sim já passou dos nove  meses, creio que entra no décimo, mas temos que ajudar essa criança a nascer.

Ia responder que não havia mais mundo para a criança, quando se lembrou da conversa da noite.

A alma deixou uma garrafinha com ele, disse, sempre que ela comece a despertar dê-lhe algumas gotas, depois acerque até sua boca um pouco de comida, das latas é claro.

Mas se acontecer alguma coisa, como faço, como te chamo?

Não estava gostando da situação.

Já deixei  aqui tudo preparado, ele viu numa mesa, facas limpas, tesoura grande, panos, muitos panos, limpos que tinha tirado de um armário, tudo coberto com um plástico.

Apesar de estar tudo fechado, alguma que outra cinza entra, não há como impedir.

Quanto a me chamar, me mentalize. Lembrar que quando rezavas, que nunca falavas Jesus ou Deus, mas sim as almas. Sempre rezastes para as almas médicas, as do espaço, as da terra. Sei que deixaste de acreditar em qualquer religião, como tal.

Bom, isso lá é verdade, eu tinha uma noção que existiam almas na terra, apenas não as via. Mas tinha perfeita noção que estavam ali, ao meu lado, algumas vezes me ajudavam, quando me desesperava.

E me faziam entender o que estava acontecendo, tinha que acontecer, nada mais.

Na minha juventude, princípio de madurez, me fui decepcionando com todas as religiões, a não ser as primitivas que cultuavam as almas.

Sim, isso é uma grande verdade, os homens sempre necessitaram de deuses, de seres que pudessem venerar, seguir como cordeiros.

Outros se aproveitavam disso para manejar o mundo.  Aí fomos obrigados a desaparecer, assim por dizer, ou seja não estar visível para os humanos.

Quando nos começaram a cultuar por viver numa montanha, de lá observar, tentar cuidar, dirigir suas vidas, era o monte Olimpo na Grécia, logo nos transformaram em Deuses.

No Egito foi igual, inventaram logo uma série de deuses. No fundo posteriormente um copiava o outro, essas coisas, como a travessia dos faraós,  para a outra vida, a cristã inventou Jesus,  sua ressureição, que era a mesma coisa do faraó, a partir daí houve sempre mais, cada uma com sua verdade suprema, sua legitimidade, como única.  Mas analisando profundamente, era tudo a mesma coisa.

O homem nunca se contentou com nada, fizeram as cruzadas, para limpar o mundo dos ímpios como diziam. Eram fanáticos, os que sobreviveram eram mais fanáticos, mataram mais gente inocente. A quantidade de guerras religiosas que aconteceram, a maioria simplesmente manipuladas para se ganhar dinheiro à custa dos que acreditavam, seguiam seu mestre.

Se inventou o bem, o mal, o pecado, etc. Mas na verdade, verdade o que importa é a evolução da alma.   A aceitação de si mesmo.

Essa coisa que tu disseste de erros, isso não existe, sim experiência.   Depois o mundo continuou girando, até que foi dominada pelos loucos, que se sentiam sedentos de poder. Quando na verdade deviam estar no auge de sua evolução. Esses loucos exploraram mais uma vez os incautos com coisas de sempre, religião, deuses, na verdade se sentiam deuses, toda essa baboseira.

Mas isso é uma necessidade do homem, tem acontecido em toda a evolução, mesmo nos planetas mais adiantados. É como uma repetição

Você nos acusou de selecionar ou separar as almas como animais, não importa elas vão impregnadas dessa base evolutiva.

Talvez tu seja um dos poucos que conheço, que a muito se desencantou de tudo isso. A única coisa que te moveu todo esse tempo, foi o teu instinto de viver, sobreviver, escrever sobre esse desencanto, procurar outros como tu.

O teu primeiro encontro aqui, com uma alma visível, foi um levantar de ombros, como que dizendo. Agora isso, essas almas que nunca vimos é sempre estiveram aí, aparecem para limpar o que sujamos.

É ou não, mais ou menos isso?

Ele estava pasmo, muitas vezes tinha pensado nisso, na evolução, como era possível que os homens, séculos atrás de séculos, cometia os mesmo erros, por mais que o mundo evoluísse mecanicamente, que as cabeças pensantes fossem incríveis, ao mesmo tempo eram frágeis, em contra as que manipulava tudo.   Tudo que era novidade era rapidamente absorvido pelo lado errado é usado de outra maneira.

De tal maneira que ele foi se fechando em si mesmo, se dedicando a observar e escrever sobre isso.  Não entendia como o que escrevia, fazia sucesso, as mesmas pessoas que liam, diziam ter absorvido o que ele tinha escrito, lhe faziam uma série de perguntas cretinas, justamente mostrando que não tinham entendido nada.  Apenas entendiam, absorviam o que lhes interessava, transformando suas palavras em banalidades.

Quando escrevera seu último livro, tinha essa sensação, de que afinal tudo isso estava por acabar.

Despertou de seu pensamento, pelos gemidos da mulher.  A alma fez sinal para que lhe desse o pouco de líquido da garrafa. Depois foi a cozinha, abriu uma lata de patê de Foie Gras, tapou com um pano, foi até ela é lhe deu uma pequena colherada, depois mais outra, até que ela tomou pelo menos umas cinco, ele acabou de arrematar.

A alma disse, tenho que seguir, voltarei assim que possa, mas qualquer coisa, pense firmemente em mim, virei em seguida.

Te chamo por algum nome?

Esta riu, isso é o começo, quando passas a ter nome, logo viras um santo. Você já viu o meu rosto, pense em mim é tudo acontecerá.

Como não conseguia ficar parado, viu que na mesa da biblioteca, havia papel, canetas e lápis.  Ele sempre adorara os lápis, quando lhe perguntavam sobre isso, respondia que os homens das cavernas tinham começado a desenhar, a partir do carvão das fogueiras.  Os seus alunos riam dele, como se estivesse falando uma besteira.  Claro todos tinha nascido depois dos computadores, do mundo virtual.  Sem sentir, mais como um movimento de ação, começou a separar os livros que estavam sobre a mesa.

Todos eram sobre o mesmo assunto, a Alma. Livros, mais livros, vários autores, alguns tinham palavras escrita firmemente sobre as capas, um palavrão, ou idiota, até que deu com o último livro seu.

Mas eu nunca escrevi diretamente sobre as almas, viu uma anotação na parte lateral do livro. “Esse é um deles, noto pelos olhos da fotografia”. 

Olhou uma foto de si mesmo, uns olhos pequenos, nada mais, tinha tirado os óculos escuros que sempre usava, se via o negro dos olhos.

Ele sabia que tinha herdado isso da sua mãe, olhos pequenos que pela manhã só tinha uma cor, negro, nada de branco.

Iria pergunta a alma, porque.

Achou muito papel em branco nas gavetas, ufa este senhor era avesso ao modernismo, a última estética do ser humanos, Ipad, leitores eletrônicos, computadores de última geração. Riu ao pensar nisso, sempre se dizia última geração. Embora quase tudo era baseado num conceito hoje considerado antigo.

Mas ele ainda gostava de fazer anotações em papel, com lápis.

Sentou-se, começou a escrever, mais para colocar sua cabeça em ordem.

Tudo que a alma tinha falado sobre ele, foi fazendo um retrocesso em tudo, anotando cada coisa que tinha pensado a muitos anos, que tinha ficado sem resposta ou ele tinha ido pelo caminho errado pelo visto em seu raciocínio.  Não sabia se porque o ato de escrever era um movimento pequeno, pois escrevia com facilidade, não era como andar, quando tinha a sensação de se arrastar.

Voltou a sua cabeça o que está dissera sobre fazer o mundo voltar a figurar como antes.

Depois ficou pensando  quem seriam essas pessoas que estavam tanto no polo sul como no norte.

Quando começou o desgelo dessa parte do planeta, foram descobertas terras férteis embaixo.  Começaram as guerras, pois as grandes nações queriam sua parte. Isso gerou o começo do fim.

Sabia que durante muitos anos, existiam expedições que tinham montado pequenas cidades nesses dois extremos, sempre mistas de científicos de todas as partes do mundo. Financiavas por grandes empresas, que resultou serem empresas falsas. Quando se descobriu isso, começaram as primeiras brigas.

Mas quem era então que tinha mandado essas gente para lá.

Teriam começado nessa época a seleção das pessoas que iriam renovar o mundo.

Nunca tinha se descoberto realmente, apesar de mil conjecturas, provas, titulares em jornais de ciências, como tinha evolucionado o homem,  sempre se falava na evolução do macaco, mas agora todos os animais estavam mortos.

A mulher voltou a gemer, ele se aproximou, perguntou seu nome bem perto do ouvido.   Maria, respondeu. Caralho, outra Maria, é uma nova criança que seria da nova leva de humanos.  Será que as almas estavam recaindo outra vez no mesmo erro pensou.

Lhe deu do líquido, buscou outra lata. Viu uma de sopa, sabia que não havia gás no fogão. Se lembrou da vela, tentou aquecer um pouco a lata. Ao começar a lhe dar pequenas colheradas, notou que esta estava suando, como se a energia de seu organismo em funcionamento  provocava.   Somos como as máquinas, quando tudo começa a funcionar com esforço, transpiramos.

Com um pano foi lhe secando a pele super ressecada.

Foi até o banheiro, num armário velho, encontrou uma lata de óleo para o corpo, devia ser o que o velho usava para sua pele seca.

Levou até ela, humedeceu o pano com o óleo, passou pelo seu rosto queimado, a pele começava a ficar seca como papel, quando ele passava o pano, era como se está bebesse esse líquido.

Somos realmente como a terra, absorvemos tudo.

Ela voltou a dormir, ele passou a mão pela sua barriga, sentiu um movimento dentro.

Esteve quase o dia inteiro escrevendo, pois não tinha outra coisa que fazer.  Procurava encaixar o que pensava do que tinha escutado.

Uma coisa que se deu conta, foi que a alma não falava, nem ele tampouco, a conversa era somente mental.

Porque nós os homens nunca conseguimos desenvolver isso, a conversa mental. Começou a rir, pensando, com essa mania que as pessoas tinham de falar ao mesmo tempo, isso seria uma grande confusão.

De longe notou que a criança estava se movendo, como tentando escapar da barriga que a aprisionava. Mas a mulher não tinha conhecimento nenhum disso.

Sentiu cheiro, viu que ela tinha feito suas necessidades ali mesmo.

Com panos e jornais velhos, limpou tudo. Arrastou com dificuldade uma cama de solteiro do quarto ao lado, devia ser aonde o senhor descansava.   Cobriu o colchão com vários lençóis limpos, que tinha encontrado num armário. Andou pelos outros quartos, trouxe travesseiros, levanta-la, passar para a cama, lhe pareceu um esforço supremo.  Mas conseguiu. Sentiu que a criança como que saltava de alegria dentro da barriga, como se o bem estar dela, fosse o dele também, o que não deixava de ser uma verdade.

Escutou movimento na rua, lentamente foi até a parte da frente do apartamento, entreabriu a janela, se escondeu atrás da velha cortina toda queimada, ficou observando.  Eram pessoas procurando comida, na loja de abastecimento em frente.  Dois estavam brigando por um pedaço de alguma coisa que tinham encontrado, sem saber que já estava envenenado.  O mais forte acabou derrubando o outro, este conseguiu uma faca, agrediu o mais forte que estava já comendo. Era a lei da sobrevivência, então agora estamos na fase da selvageria, não entendiam que iriam morrer do mesmo jeito.

O mais fraco, voltou a loja, conseguiu mais alguma coisa, saiu se arrastando pela rua.  O que tinha a faca cravada no corpo, sangrava em branco, ou seja já tinha o corpo tomado por algo, não sabia que estava morto.  Como num passe de mágica, surgiram duas almas ao seu lado, o tiraram de dentro do corpo. O homem grande era agressivo, tentado por todos os meios se livrar das almas que lhe queriam ajudar. Até que uma delas verteu o líquido do mesmo tipo de garrafinha que tinha deixado a alma com ele.

Pois viu que o que se debatia, imediatamente se deixou levar.

Foi até a que estava em cima da mesa, levantou lentamente a tampa, cheirou.   O cheiro lhe penetrou, relaxou.  Voltou a tampar como se fosse escapar um elixir da vida.

Ficou sentado observando o efeito que lhe tinha feito o cheiro, uma calma interior é um bem estar fantástico.

Viu que a mulher estremecia várias vezes, mas estava sem forças para ajudar.

Sentiu que ela estava morrendo, ao mesmo tempo uma desesperança imensa o invadiu, mas superando com todas suas forças o efeito do elixir, se levantou, mas já era tarde, ela estava morta.

Viu pelo movimento da barriga que a criança lutava desesperadamente para sobreviver. Ele não conseguia se concentrar para mentalizar a alma.  Levantou o pano que cobria a mesa que estava ao lado da mulher, rasgou a sua roupa, abriu sua barriga de cima a baixo, mergulhou a mão até encontrar a bolsa com o feto.  Puxou, rompeu a mesma. O impressionante era que a criança fazia o mesmo. Procurou o cordão umbilical,  levou um susto, a criança não o tinha.  Alguém já o tinha cortado. Foi então que percebeu a alma ao seu lado, fora ela que cortará o cordão.

Ele envolveu a criança com os panos, ela agora chorava baixinho, a estreitou contra si. Isso teve o dom de acalmar a mesma, que em seguida deixou de chorar.

Como vou fazer para alimentar essa criança, sem sequer olhar a alma, foi até a cozinha, buscou em algum lugar se havia leite.

Encontrou na geladeira velha, pequenos potes de leite, deste que se usam para fazer mono-doses de café com leite. Fez um pequeno buraco numa, colocou na boca da criança, está sugou rapidamente com avidez.

Não te disse que tinhas o sentido da sobrevivência.

Sentou-se, porque a criança lhe parecia tremendamente grande, pesada.

Estas é cansado pelo esforço, a alma pegou a criança, sentou-se ao seu lado, colocou a mão direita sobre a mesma, falou em uma língua tão antiga que ele nunca tinha ouvido antes.

Ah estou dando a bem-vinda a esta criança, nesse mundo morto.

Fechou os olhos, deu a entender que estava mentalizando, quase instantaneamente apareceram duas almas femininas, uma branca, outra negra, que rapidamente tomaram posse da criança.

A negra lhe deu a teta, ele começou a sugar.

As almas femininas, tem essa vantagem, podem alimentar todos os humanos.

Nisso começava a anoitecer, entraram umas almas vestidas de negro, sem dizer uma palavra, levaram o corpo da mulher morta.

Uma das mulheres, virou-se para ele, muito bom procedimento, tens sentido a tua escolha, então notou que elas tinham os olhos como ele, negros.

Se despediram dizendo, antes que escureça caia muita cinza temos que ir.       Aonde estão levando a criança?, perguntou ansioso.

Esta vai para o polo sul, alguém em especial vai tomar conta dele.

Amanhecia, não poderia dizer quanto tempo tinha durado a noite, mas tinha a sensação de que eram curtas, pois como nada era normal, estava confuso.

A mulher continuava dormindo, gemia suavemente.

Levantou a cabeça e encontrou a alma, com que de roupa nova, o seu traje branco resplandecia.  Nada como uma momento relaxante para que tudo volte a estar bem.

Como foi o teu exame de consciência deu para superar as partes más da tua história?

Menos mal que sempre tiveste a coragem de saber que nada podia fazer, e que te tocava seguir em frente, não é mesmo?

Não queria responder, olhou para a barriga dela e perguntou, não está muito grande?

Sim já passou dos nove  meses, creio que entra no décimo, mas temos que ajudar essa criança a nascer.

Ia responder que não havia mais mundo para a criança, quando se lembrou da conversa da noite.

A alma deixou uma garrafinha com ele e disse, sempre que ela comece a despertar de-lhe algumas gotas, e depois acerque até sua boca um pouco de comida, das latas é claro.

Mas se acontecer alguma coisa, como faço, como te chamo?

Não estava gostando da situação.

Já deixei  aqui tudo preparado, e ele viu numa mesa, facas limpas, tesoura grande e panos, muitos panos, limpos que tinha tirado de um armário, e tudo coberto com um plástico.

Apesar de estar tudo fechado, alguma que outra cinza entra, não há como impedir.

Quanto a me chamar, me mentalize. Lembrar que quando rezavas, que nunca falavas Jesus ou Deus, mas sim as almas. Sempre rezastes para as almas médicas, as do espaço e as da terra. Sei que deixaste de acreditar em qualquer religião, como tal.

Bom, isso lá é verdade, eu tinha uma noção que existiam almas na terra, apenas não as via. Mas tinha perfeita noção que estavam ali, ao meu lado, algumas vezes me ajudavam,quando me desesperava.

E me faziam entender o que estava acontecendo, tinha que acontecer, nada mais.

Na minha juventude e princípio de madurez, me fui decepcionando com todas as religiões, a não ser as primitivas que cultuavam as almas.

Sim, isso é uma grande verdade, os homens sempre necessitaram de deuses, de seres que pudessem venerar e seguir como cordeiros.

Outros se aproveitavam disso para manejar o mundo.  Aí fomos obrigados a desaparecer, assim por dizer, ou seja não estar visível para os humanos.

Quando nos começaram a cultuar por viver numa montanha e de lá observar e tentar cuidar e dirigir suas vidas, era o monte Olimpo na Grécia, logo nos transformaram em Deuses.

No Egito foi igual, inventaram logo uma série de deuses. No fundo posteriormente um copiava o outro, essas coisas, como a travessia do Faraó  para a outra vida, a cristã inventou Jesus, e sua ressureição, que era a mesma coisa do faraó, e a partir daí houve sempre mais, cada uma com sua verdade suprema, sua legitimidade, como única.  Mas analisando profundamente, era tudo a mesma coisa.

O homem nunca se contentou com nada, fizeram as cruzadas, para limpar o mundo dos ímpios como diziam. Eram fanáticos, os que sobreviveram eram mais fanáticos, e mataram mais gente inocente. A quantidade de guerras religiosas que aconteceram, a maioria simplesmente manipuladas para se ganhar dinheiro à custa dos que acreditavam e seguiam seu mestre.

Se inventou o bem, o mal, o pecado, etc. Mas na verdade, verdade o que importa é a evolução da alma.   A aceitação de si mesmo.

Essa coisa que tu disseste de erros, isso não existe, e sim experiência.   Depois o mundo continuou girando, até que foi dominada pelos loucos, que se sentiam sedentos de poder. Quando na verdade deviam estar no auge de sua evolução. Esses loucos exploraram mais uma vez os incautos com coisas de sempre, religião, deuses, na verdade se sentiam deuses, e toda essa baboseira.

Mas isso é uma necessidade do homem, e tem acontecido em toda a evolução, mesmo nos planetas mais adiantados. E como uma repetição

Você nos acusou de selecionar ou separar as almas como animais, não importa elas vão impregnadas dessa base evolutiva.

Talvez tu seja um dos poucos que conheço, que a muito se desencantou de tudo isso. A única coisa que te moveu todo esse tempo, foi o teu instinto de viver, sobreviver, escrever sobre esse desencanto e procurar outros como tu.

O teu primeiro encontro aqui, com uma alma visível, foi um levantar de ombros, como que dizendo. Agora isso, essas almas que nunca vimos é sempre estiveram aí, aparecem para limpar o que sujamos.

É ou não, mais ou menos isso?

Ele estava pasmo, muitas vezes tinha pensado nisso, na evolução, como era possível que os homens, séculos atrás de séculos, cometia os mesmo erros, e por mais que o mundo evoluísse mecanicamente, e que as cabeças pensantes fossem incríveis, ao mesmo tempo eram frágeis, em contra as que manipulava tudo.   Tudo que era novidade era rapidamente absorvido pelo lado errado é usado de outra maneira.

De tal maneira que ele foi se fechando em si mesmo, se dedicando a observar e escrever sobre isso.  Não entendia como o que escrevia, fazia sucesso, e as mesmas pessoas que liam e diziam ter absorvido o que ele tinha escrito, lhe faziam uma série de perguntas cretinas, justamente mostrando que não tinham entendido nada.  Apenas entendiam e absorviam o que lhes interessava, transformando suas palavras em banalidades.

Quando escrevera seu último livro, tinha essa sensação, de que afinal tudo isso estava por acabar.

Despertou de seu pensamento, pelos gemidos da mulher.  A alma fez sinal para que lhe desse o pouco de líquido da garrafa. Depois foi a cozinha e abriu uma lata de patê de foie gras, tapou com um pano e foi até ela é lhe deu uma pequena colherada, depois mais outra, até que ela tomou pelo menos umas cinco, ele acabou de arrematar.

A alma disse, tenho que seguir, voltarei assim que possa, mas qualquer coisa, pense firmemente em mim, e virei em seguida.

Te chamo por algum nome?

Esta riu, isso é o começo, quando passas a ter nome, logo viras um santo. Você já viu o meu rosto, pense em mim é tudo acontecerá.

Como não conseguia ficar parado, viu que na mesa da biblioteca, havia papel, canetas e lápis.  Ele sempre adorara os lápis, e quando lhe perguntavam sobre isso, respondia que os homens das cavernas tinham começado a desenhar, a partir do carvão das fogueiras.  Os seus alunos riam dele, como se estivesse falando uma besteira.  Claro todos tinha nascido depois dos computadores, do mundo virtual.  Sem sentir, mais como um movimento de ação, começou a separar os livros que estavam sobre a mesa.

Todos eram sobre o mesmo assunto, a Alma. Livros e mais livros, vários autores, alguns tinham palavras escrita firmemente sobre as capas, um palavrão, ou idiota, até que deu com o último livro seu.

Mas eu nunca escrevi diretamente sobre as almas, e viu uma anotação na parte lateral do livro. “Esse é um deles, noto pelos olhos da fotografia”. 

Olhou uma foto de si mesmo, uns olhos pequenos, nada mais, tinha tirado os óculos escuros que sempre usava, e se via o negro dos olhos.

Ele sabia que tinha herdado isso da sua mãe, olhos pequenos e que pela manhã só tinha uma cor, negro, nada de branco.

Iria pergunta a alma, porque.

Achou muito papel em branco nas gavetas, ufa este senhor era avesso ao modernismo, a última estética do ser humanos, Ipad , leitores eletrônicos, computadores de última geração. Riu ao pensar nisso, sempre se dizia última geração. Embora quase tudo era baseado num conceito hoje considerado antigo.

Mas ele ainda gostava de fazer anotações em papel, e com lápis.

Sentou-se e começou a escrever, mais para colocar sua cabeça em ordem.

Tudo que a alma tinha falado sobre ele, e foi fazendo um retrocesso em tudo, anotando cada coisa que tinha pensado a muitos anos e que tinha ficado sem resposta ou ele tinha ido pelo caminho errado pelo visto em seu raciocínio.  Não sabia se porque o ato de escrever era um movimento pequeno, pois escrevia com facilidade, não era como andar, quando tinha a sensação de se arrastar.

Voltou a sua cabeça o que está dissera sobre fazer o mundo voltar a figurar como antes.

Depois ficou pensando  quem seriam essas pessoas que estavam tanto no polo sul como no norte.

Quando começou o desgelo dessa parte do planeta, e foram descobertas terras férteis embaixo.  Começaram as guerras, pois as grandes nações queriam sua parte. Isso gerou o começo do fim.

Sabia que durante muitos anos, existiam expedições que tinham montado pequenas cidades nesses dois extremos, sempre mistas de científicos de todas as partes do mundo. Financiavas por grandes empresas, que resultou serem empresas falsas. Quando se descobriu isso, começaram as primeiras brigas.

Mas quem era então que tinha mandado essas gente para lá.

Teriam começado nessa época a seleção das pessoas que iriam renovar o mundo.

Nunca tinha se descoberto realmente, apesar de mil conjecturas, provas, e titulares em jornais de ciências, como tinha evolucionado o homem,  sempre se falava na evolução do macaco, mas agora todos os animais estavam mortos.

A mulher voltou a gemer, e ele se aproximou e perguntou seu nome bem perto do ouvido.   Maria, respondeu. Caralho outra Maria, é uma nova criança que seria da nova leva de humanos.  Será que as almas estavam recaindo outra vez no mesmo erro pensou.

Lhe deu do líquido, e buscou outra lata. Viu uma de sopa, sabia que não havia gás no fogão. Se lembrou da vela e tentou aquecer um pouco a lata. Ao começar a lhe dar pequenas colheradas, notou que esta estava suando, como se a energia de seu organismo em funcionamento  provocava.   Somos como as máquinas, quando tudo começa a funcionar com esforço, transpiramos.

Com um pano foi lhe secando a pele super ressecada.

Foi até o banheiro, e num armário velho, encontrou uma lata de óleo para o corpo, devia ser o que o velho usava para sua pele seca.

Levou até ela, e humedeceu o pano com o óleo, e passou pelo seu rosto queimado, a pele começava a ficar seca como papel, e quando ele passava o pano, era como se está bebesse esse líquido.

Somos realmente como a terra, absorvemos tudo.

Ela voltou a dormir, ele passou a mão pela sua barriga, e sentiu um movimento dentro.

Esteve quase o dia inteiro escrevendo, pois não tinha outra coisa que fazer.  Procurava encaixar o que pensava do que tinha escutado.

Uma coisa que se deu conta, foi que a alma não falava, nem ele tampouco, a conversa era somente mental.

Porque nós os homens nunca conseguimos desenvolver isso, a conversa mental. Começou a rir, pensando, com essa mania que as pessoas tinham de falar ao mesmo tempo, isso seria uma grande confusão.

De longe notou que a criança estava se movendo, como tentando escapar da barriga que a aprisionava. Mas a mulher não tinha conhecimento nenhum disso.

Sentiu cheiro, e viu que ela tinha feito suas necessidades ali mesmo.

Com panos e jornais velhos, limpou tudo. Arrastou com dificuldade uma cama de solteiro do quarto ao lado, devia ser aonde o senhor descansava.   Cobriu o colchão com vários lençóis limpos, que tinha encontrado num armário. Andou pelos outros quartos e trouxe travesseiros, e levanta-lá e passar para a cama, lhe pareceu um esforço supremo.  Mas conseguiu. Sentiu que a criança como que saltava de alegria dentro da barriga, como se o bem estar dela, fosse o dele também, o que não deixava de ser uma verdade.

Escutou movimento na rua, e lentamente foi até a parte da frente do apartamento, entreabriu a janela, se escondeu atrás da velha cortina toda queimada, e ficou observando.  Eram pessoas procurando comida, na loja de bastecimento em frente.  Dois estavam brigando por um pedaço de alguma coisa que tinham encontrado, sem saber que já estava envenenado.  O mais forte acabou derrubando o outro, este conseguiu uma faca e agrediu o mais forte que estava já comendo. Era a lei da sobrevivência, então agora estamos na fase da selvageria, não entendiam que iriam morrer do mesmo jeito.

O mais fraco, voltou a loja, e conseguiu mais alguma coisa, e saiu se arrastando pela rua.  O que tinha a faca cravada no corpo, sangrava em branco, ou seja já tinha o corpo tomado por algo, e não sabia que estava morto.  Como num passe de mágica, surgiram duas almas ao seu lado, e o tiraram de dentro do corpo. O homem grande era agressivo, e tentado por todos os meios se livrar das almas que lhe queriam ajudar. Até que uma delas verteu o líquido do mesmo tipo de garrafinha que tinha deixado a alma com ele.

Pois viu que o que se debatia, imediatamente  e se deixou levar.

Foi até a que estava em cima da mesa, levantou lentamente a tampa e cheirou.   O cheiro lhe penetrou e relaxou.  Voltou a tampar como se fosse escapar um elixir da vida.

Ficou sentado observando o efeito que lhe tinha feito o cheiro, uma calma interior é um bem estar fantástico.

Viu que a mulher estremecia várias vezes, mas estava sem forças para ajudar.

Sentiu que ela estava morrendo, ao mesmo tempo uma desesperança imensa o invadiu, mas superando com todas suas forças o efeito do elixir, se levantou, mas já era tarde, ela estava morta.

Viu pelo movimento da barriga que a criança lutava desesperadamente para sobreviver. Ele não conseguia se concentrar para mentalizar a alma.  Levantou o pano que cobria a mesa que estava ao lado da mulher, rasgou a sua roupa e abriu sua barriga de cima a baixo, e mergulhou a mão até encontrar a bolsa com o feto.  Puxou e rompeu a mesma. O impressionante era que a criança fazia o mesmo. Procurou o cordão umbilical, e levou um susto, a criança não o tinha.  Alguém já o tinha cortado. Foi então que percebeu a alma ao seu lado, fora ela que cortará o cordão.

Ele envolveu a criança com os panos, e ela agora chorava baixinho, e a estreitou contra si. Isso teve o dom de acalmar a mesma, que em seguida deixou de chorar.

Como vou fazer para alimentar essa criança,sem sequer olhar a alma, foi até a cozinha e buscou em algum lugar se havia leite.

Encontrou na geladeira velha, pequenos potes de leite, deste que se usam para fazer mono-doses de café com leite. Fez um pequeno buraco numa e colocou na boca da criança, e está sugou rapidamente com avidez.

Não te disse que tinhas o sentido da sobrevivência.

Sentou-se, porque a criança lhe parecia tremendamente grande e pesada.

Estas é cansado pelo esforço, a alma pegou a criança e sentou-se ao seu lado, colocou a mão direita sobre a mesma e falou em uma língua tão antiga que ele nunca tinha ouvido antes.

Ah estou dando a bem-vinda a esta criança, nesse mundo morto.

Fechou os olhos e deu a entender que estava mentalizando, e quase instantaneamente apareceram duas almas femininas, uma branca e outra negra, que rapidamente tomaram posse da criança.

A negra lhe deu a teta, e ele começou a sugar.

As almas femininas, tem essa vantagem, podem alimentar todos os humanos.

Nisso começava a anoitecer, entraram umas almas vestidas de negro,e sem dizer uma palavra, levaram o corpo da mulher morta.

Uma das mulheres, virou-se para ele, muito bom procedimento, tens sentido a tua escolha, então notou que elas tinham os olhos como ele, negros.

Se despediram dizendo, antes que escureça e caia muita cinza temos Aonde estão levando a criança?, perguntou ansioso.

Esta vai para o polo sul, alguém em especial vai tomar conta dele.

À partida da criança, lhe provocou uma intensa ansiedade, era como perdesse uma parte de si. Afinal a tinha ajudado a nascer, sobreviver.

Aonde a estão levando?

A alma tirou do seu bolso um aparelho, comentou com ele, está vai para o polo sul.   Os que estão lá, vivem numa cova muito profunda,

Foram os primeiros a nós ver, pois tínhamos que avisa-los que entrassem na cova, para se salvarem.

Nesta cova por curiosidade, viveu uma civilização muito anterior à nossa, que desapareceu sem deixar vestígio, justamente porque ficou soterrada pelo gelo.

Sentia um extremo cansaço de repente.   A alma lhe segurou a mão, disse “venha comigo”.

Se deu conta que voava pelo ar numa velocidade incrível, se fosse em outros tempos diria supersônica. Foram para numa grande cova, se diria a muitos níveis abaixo do mar. Por aonde olhasse via um lago imenso de águas limpíssimas.

O primeiro desejo foi atirar-se para se limpar de todas as impurezas  que sabia que estavam em sua pele.

Esta é a esperança do mundo, quando a última cinza terminar de cair, fizermos o mundo voltar outra vez a  girar como antes, essa água subira, limpará a que está fora.

Esta Cova será alta, os que estão aqui, viverão como numa montanha. O mesmo acontecerá no outro Polo, pois existe um lado igual por lá.  Metade das Américas desapareceu, a África idem. Alguns animais conseguiram sobreviver entrando em grandes covas, o resto morreu, mas novas espécies sairão dos lagos, poderá alimentar os novos habitantes.

Por raro, uma tribo de Tuaregs que vivia no deserto nos aceitou, entrou com todos seus animais em uma cova conhecida por eles em pelo deserto do Saara, a mesma também tem um lago imenso subterrâneo.  Este vai subir transformar o que hoje é deserto num novo mar, diga-se de passagem que essa mesma área já foi mar antes.

Desta vez, não vamos exterminar toda a civilização, mas deixaremos pessoas ou almas como tu, para que possam contar, explicar o que aconteceu. Para que os erros sejam menores, porque a repetição dos erros é frequente no ser humano.

Ele sem saber como reconheceu o garoto que tinha ajudado a nascer, nos braços de uma mulher jovem, sentiu imediatamente que ela daria uma boa mãe.  A alma lhe tocou o braço, como dizendo, fica tranquilo. Se aproximaram, como se o bebê o reconhece-se agitou os braços e pernas.

Foram interrompidos por gritos de uma mulher que reclamava que tinham trazido mais crianças.

Ela não se conforma que seu marido, seu filho, que estavam no mar, não foram salvos. Tem uma mente daninha, mas não podemos fazer nada.  Acabará sendo apartada pelos próprios companheiros.

Quando estiveres aqui, deves ficar de olho nela.

Bom temos que voltar, porque senão o teu corpo físico morre, ficarás perdido.

Quando se deu conta estava outra vez na velha sala. Ia dizer algo, mas a alma lhe informou que seu cordão está intacto, ainda tens algo de tempo por aqui.

Agora descanse, lhe deu água, um pouco do elixir, ele dormiu profundamente, sonhando com a cova.

Despertou mais tarde, antes que fosse noite, transportou duas bolsas para o edifício azul.  Voltaria outras vezes quando necessitasse de comida. Inclusive levou alguns livros.

Quando chegou ao edifício Azul, notou que tinham tentado forçar a porta, mas tinha resistido.  Menos mal que  tinha a chave..

Ao depositar uma bolsa no chão, rolou uma lata e bateu na parede, fazendo um ruído surdo.  Entendeu imediatamente que se tratava de uma parede oca.    Foi batendo, passando a mão pela mesma, até encontrar o ponto de pressão.

Deu com um grande armário, com comida, é uma escada que descia, já iria explorar em outro momento.

Apesar da curta distância entre um lugar e outro, estava morto de fome e cansaço.  Abriu uma lata pequena comeu rapidamente.

Depois adormeceu.

Despertou com o sino da igreja de Saint-Gervais e Saint-Protais. Achou estranho,  imaginou o esforço imenso para isso. Mas acabou como tinha começado rápido.

Desceu, fechou a porta a forçou, viu que resistia.

Tinham colocado umas tábuas largas numa das laterais da ponte, viu que dava para passar.

Quando estava no meio, olhou para baixo, tudo que viu, foi um rio de cinzas brancas, espumas altas. O cheiro era insuportável.

Abriu a porta da igreja com muito esforço, viu que era uma reunião de sobreviventes, muitos já com o corpo deteriorado.

Um padre fanático, que falava do final dos tempos.

Que merda pensou, não vou ficar para escutar tanta besteira.

Nisso o padre começou a falar das almas, ele as culpava do que estava acontecendo.

Estas só voltariam quando a Bíblia dizia, então essas só podiam ter sido mandadas pelo Diabo, por isso estamos assim, estão nos enganando.

Reconheceu a alma que estava sempre com ele, se levantar do meio das pessoas que estavam ali.

Aqui o único culpado, és tu. Queres que eu mostre a esta gente teus pecados. Fez um movimento o padre foi alçado no ar.

Como numa projeção, o viam roubando comida dos outros, abusando sexualmente dos corpos femininos, antes de serem recolhidos. Roubando dinheiro dos bolsos das pessoas mortas, como se valessem para algo. A igreja foi se esvaziando lentamente, quando somente ficou ele na última fila,o padre suspenso no ar, a alma.

O padre pediu para o descer, a alma estalou um dedo  surpresa, ele nunca tinha estado no ar, mas sim sentado na mesma cadeira no altar.  Começou a gritar, me enganas-te, como me enganou Deus, que pensei que ia nos proteger, olha aonde estamos.

Ele se levantou, se dirigiu a saída, a alma o acompanhou, enquanto o outro ficava gritando ao vento seu ódio. Mal sabe ele que seu tempo já acabou com tanto esforço para nada.

Ajudou a mesma abrir de par em par as portas, assim as pessoas que quisessem morrer lá dentro ou se abrigar poderia entrar fácil.

Nas escadas havia um homem, que mal conseguia se levantar, ele fez questão de ajudar.  A alma disse, vai morrer dentro de uns instantes, deixe-o aonde está.    Mas não, mesmo se cansando, sabendo que diminuía seu tempo de vida. Fez questão de levá-lo até aos pés de uma estátua de Cristo.  

Ficou lhe segurando a mão, enquanto o outro morria. Suas últimas palavras foram...”obrigado”.

Quando não sentiu mais, iam chegando almas pra recolher o homem, se levantou, apertou como tinha visto fazerem, ajudou a alma do homem a sair do corpo.

Os outros que chegavam ficaram surpreso, quer dizer que já apreendeste?

Sim, eu sempre aprendi tudo na vida, prestando atenção.  Assim vi aonde pressionam, como fazem.

A que saiu do corpo lhe agradeceu os últimos momentos, partiu ajudada pelos outros.

Algumas pessoas que tinham entrado iam morrendo aos poucos.     O padre continuava a clamar a desgraça no altar. De repente começou a gritar que não queria morrer, que adorava a vida é os prazeres desta.

A alma o acompanhou de volta ao apartamento.  O ajudou a sentar-se, olhou a brecha na parede.  Já entendi porque gosta daqui.

Pelo ângulo que faltava, se via o resto da árvore, queimada, que parecia um dedo condenando os céus.

Passou um grupo de almas vestidas de negro, carregando corpos, ia comentar algo, mas a alma lhe respondeu antes que fizesse a pergunta, que mesmo do outro lado, cada um tinha seu ofício, suas obrigações.

O esforço de ir até a igreja lhe pareceu demais, sentia que ia se afundando na poltrona.  A alma lhe derramou um pouco de líquido na boca, se relaxou,  adormeceu.

Sabia que seu tempo se acabava, mas na verdade, o quanto antes melhor.

Acreditava que tinham passados dias. Tinha revisto toda sua história, analisado inclusive antes dele o que tinha acontecido a sua mãe.   O fato de ter nascido com os olhos negros, os médicos a consideravam cega, a queriam ter para analisar e estudar.

Seus pais a tinha levado aos melhores médicos, nada, todos queriam operar, sem saber como nem porquê.

Um dia saindo de uma consulta se aproximou uma senhora vestida de branco, turbante na cabeça,

Sentou-se no banco que estavam, disse, essa menina só precisa de um colírio, nada mais. Deve colocar todos os dias ao levantar-se, ela tem uma missão, que é, conceber um dos elegidos.

Ninguém entendeu nada, mas sua avó resolveu experimentar  fazer o tal colírio.  Realmente depois de colocar os olhos ficavam como o das outras pessoas.

É assim foi revirando sua vida, como quem revira um baú de memórias, histórias.

A alma sempre vinha falar com ele. Conversavam sobre o que ele tinha lido durante o dia, discutiam a respeito.

Seus músculos tinham cada vez mais dificuldade de esticar e fazer os movimento.  Já quase tampouco se via pessoas passando ou mesmo se arrastando.

As cinzas caiam cada vez menos. De vez em quando acreditava ter visto entre as cinzas e espumas, algum que outro pedaço de água do rio.

Seu corpo foi emagrecendo, quiça pela alimentação que era pouca na verdade, sentia que seu corpo absorvia menos, ou necessitava de menos coisas para se alimentar.  Sua respiração era cada vez mais lenta, escutava às vezes surpresos, o ruído do esforço que fazia para respirar.

Um dia, como por encanto, começou a chover, primeiro pequenas gotas, depois com mais intensidade, posteriormente torrencialmente.  O céu estava tão escuro, mas tão escuro que ele não conseguia distinguir o dia da noite.

A latas já estavam no fim, ele se achava sem força para ir buscar mais.

A alma lhe dizia quando aparecia, que a natureza, estava lavando o mundo.

Tinha passado os últimos dias, como num estupor, sabia ou melhor sentia como que cada parte de seu mecanismo começasse a falhar.

Mijar era como em gotas, cagar nem pensar, o pouco que consumia, não tinha porque sair.

Cada dia antes de partir renovado, a alma lhe dava uma gota do elixir, cada noite o mesmo.

Colocava suas secas mãos sobre o peito,  escutava o latido do seu coração, muito débil, o ruído que fazia sua respiração.

Nesse dia estava como que agonizante. Mas como nunca tinha morrido antes, ou não tinha noção de uma vida anterior com particularidades.

A alma entrou, sorrindo, isso o deixou surpreso.

Estamos comemorando o que?

Tudo, vamos colocar o mundo a girar outra vez como antes.

Eu estou cansado, posso partir, foi tudo o que pode comentar.

Nem sabia se o que estava fazendo funcionária com ele mesmo.

Com o seu braço ainda bom, apertou o ponto de liberação do espírito, como tinha vista as almas fazerem.   Criou um impulso interior, quando viu estava olhando para sua própria velha carcaça.

A alma riu, estava esperando para saber se ias usar o nosso sistema para se liberar.

Olhava para seu corpo que parecia ir desinflando.

Quando entraram os homens vestidos de negro, levaram o seu corpo nem sequer pestanejou. Olhava como visse uma múmia, num museu.  Tinha sido um bom lugar para viver todos esses anos, mas sabia que ainda viveria muitas experiências.

Em seguida acompanhou a alma na viagem até o polo sul.  Levou um susto, pois reconheceu o garoto, este já andava e corria atrás de uma bola improvisada.

Estão crescendo rápido demais, todos têm uma inteligência superior.

Se lembrou da mulher que reclamava, procurou em volta para ver se a via.  

Ela acabou subindo, dizendo que deixava de se esconder, quando chegou lá em cima se atirou ao mar.  Tinha feito confidências com uma das pessoas, que sua vida não tinha mais sentido, sem sua família.  Por mais que a outra lhe falasse que as crianças precisavam delas. A única resposta que teve foi, não são da minha família.

Bom vou te deixar aqui, confio que ajudaras ao garotos seguir em frente.

Foi até um ponto da subida com ele, lhe explicou que tinha que levar as pessoas até lá. Pois em breve  o movimento voltaria, mas criaria choques,  esse lugar era perfeito.

A alma disse ao pessoal que o acompanhasse, todos seguiram em direção ao lugar referido.

Sentiu de repente uma sensação nova, de alegria, ao mesmo tempo jubilo, Olhou para baixo, em cada lado tinha uma criança segurando suas mãos.  Um deles era o garoto.

Quando lhe perguntou o nome, este respondeu Arcanjo.

Quando chegaram todos ao nível indicado. Se sentaram todos juntos.

Sentiram uma forte vibração. Daquelas em que o corpo treme, a vista percebe movimentos muito fortes que não consegue assimilar.

Esses movimentos bruscos foram crescendo, mas ninguém mostrava nenhum temor.  Houve uma elevação da cova, como se alguma força interna da terra a obrigasse a se expor implodir.

Quando tudo terminou, não sabia quanto tempo depois, recebeu uma sinal das almas.  Novamente a violência dos movimentos foi brusca, parou.

Depois de algum tempo, apareceu um grupo, mais numerosos que os que tinha visto antes.

Ajudaram as pessoas a se levantar, a dar alguns passos.

Tudo em ordem, levará alguns dias a tudo voltar à normalidade,

Quando saíram da cova, está era  como o Himalaia de alto.  Não desçam ainda, esperem tudo se assentar.

Lhe entregaram uma espécie  de relógio para controlar o tempo.

Agora estarei sempre aqui com vocês disse a alma.

Já podes me dizer teu nome.. e está respondeu Arcanjo Gabriel.

Lhe apertou a mão.  Sentiu como uma corrente elétrica  lhe percorrendo os sentidos, viu tudo que tinha acontecido na terra como num flashback.  Agora sabia o que tinha que fazer.

Finalmente sentia que estava vivo, e que tinha muito trabalho pela frente, afinal havia um mundo a construir e alimentar.

Afinal era lei de vida.

 

 

 

  

Comentarios

Entradas populares de este blog

TROCO

JIM TWOSEND