PRECISO ANDAR
Estava parado, olhando para o nada, ali no
Leme, a vida tinha dado um jeito de o fuder como nada. Tinham lhe passado uma rasteira de fazer
gosto, justamente de uma pessoa que ele jamais pensou que faria isso.
Tinha sempre sonhado com um relacionamento
perfeito, como imaginava de seu pai e sua mãe, tinha acabado de falar com ela.
Quando comentou isso, ela começou a rir,
teve um acesso de riso, que sua enfermeira correu com um copo d’água, pois
sabia que em seguida começaria a tossir.
Menino acorda de uma vez, tens idade demais
para sonhar uma idiotice dessa, imagina, teu pai era a pessoa mais
irresponsável que conheci, quem controlava tudo era eu, além de suas aventuras
por baixo do pano. Nunca foi perfeito,
nem eu esperava isso, pois seria sonhar com o impossível. Tens que pensar que essa história de
contos de fadas, foram felizes e comeram perdizes, é pura balela.
Ficou com a boca aberta, ela dizia sempre
uma coisa que martelava na sua cabeça, um movimento qualquer, rompia a inercia,
que era o que sentia nesse momento, não sabia para que lado ir.
Sem querer se lembrou da letra de um samba
“Vou por ai a procurar, sorrir para não chorar”.
Entre tantas merdas, de uma certa maneira
tinha dinheiro, no meio da confusão toda, recebeu uma oferta pela fábrica que
tinha construído com muito gosto, atendendo a todas as boutiques do Rio de
Janeiro, fabricava especialmente para cada uma, detalhes para suas coleções,
ele era conhecido, por ser uma pessoa de confiança, jamais traia qualquer
cliente, o segredo dizia é uma arma poderosa.
Era conhecido como Abelardo Feitosa, ou
para muita gente como Feitosa, tinha escutado uma vez, um cliente falando por
telefone com outra pessoa, lhe indicando, “procure pelo Feitosa, é de
confiança.
Antes de vender, tinha ido de cliente em
cliente, para avisar, que deixava a fábrica, todos lhe disseram o mesmo, se ele
precisasse de alguma referencia podia indicar o nome deles.
Seu socio, amigo de infância, amante, tinha
lhe traído, jogando em sua cara, dividas aos montes, pois era quem cuidava das
finanças, pois não era de maneira nenhuma criativo.
Ele tinha seguido morando na casa de sua
mãe, um imenso apartamento no final do Leme, depois da morte do pai, tinham
feito uma bela reforma, inclusive muita gente tinha se interessado, mas sua mãe
lhe disse, que queria passar o resto de seus dias ali, ele concordou.
Julio Ribeiro, seu ex-sócio, amante, tinha
um apartamento em Laranjeiras, era antigo, o mais interessante é que dizia para
todo mundo que era seu, mentira, era alugado, por um preço antigo isso sim.
Nos últimos anos, basicamente vivia lá, mas
no dia que tudo estourou, tinha lhe dito que iria ver sua mãe, mas na última
hora, mudou de ideia, entrou no apartamento, escutou gemidos do quarto, o
encontrou de bunda para cima, com um negão que vendia drogas ali na praça,
gemia como uma puta, com ele não era assim.
Quando o viu, o chamou para entrar na
dança, o que o surpreendia, era que estava drogado, coisa que sempre dizia que
era um absurdo.
Não disse nada, virou as costas foi embora,
com o outro atrás dele.
No outro dia, quando este chegou a fábrica,
a coisa estourou, estava sentado na frente dele o rapaz da contabilidade, tinha
descoberto a quantidade de dinheiro que Julio vinha tirando da empresa.
A divisão de partes era desequilibrada, ele
tinha 90% da mesma, Julio 10%, que lhe deu, para ter lucros, afinal ele era o
dono.
Pelas retiradas, isso pagaria sua
indenização.
Ele ficou furioso, apontou o dedo para o
rapaz, não esqueça de dizer ao teu patrão, que te dou o cu aqui no escritório
quando não tem ninguém.
Assinou os papeis, foi embora.
O rapaz de mulato, estava branco.
Senhor Abelardo, me desculpe, mas é
verdade, os dias que o senhor saia para atender algum cliente, dizendo que já
não voltava, ele ficava atrás de mim, sabia que eu tinha um instrumento grande,
era o que queria, o que me surpreendia, era que as vezes nem se limpava, subia
as calças ia embora como se nada.
Sei também que andou fazendo com o
segurança da noite, pois esse comentou para alguns aqui da redondeza.
Não sei se ele está louco, ou o que foi que
o motivou.
Na verdade, uma parte ele sabia que tinha culpa,
nos últimos anos com o problema dos pais, se ausentava da casa do Julio.
A família dele, apesar de se conhecerem
desde jovens, tinha feito universidade juntos, mas ele no último ano, desistiu
de direito, foi estudar no Senai Cetiqt, moda, que era o que gostava, o pai não
gostou muito, mas acabou aceitando, bem como os dois tinham aceitado que era
gay.
Estagiou em todas as boutiques da cidade,
muitas fabricavam suas mercadorias, ele logo se destacou trabalhando com esses
criadores, fazendo bijuterias, complementos em geral.
Quando seu pai tinha finalmente se
aposentado a dez anos atrás, vendeu o imenso escritório de advogados no centro
da cidade, em plena av. Rio Branco, dois andares inteiros, tirou uma parte lhe
deu para realizar seu sonho.
Ele foi a luta, procurou aonde montar uma
fábrica, primeiro em tamanho pequeno, foi as boutiques que conhecia, ofereceu
seu trabalho. Assim começou, com o pé no
chão, um dia encontrou com o Julio que tinha terminado o curso de direito, mas
não estava contente, tinham tido uma aventura.
Sabia que a família dele, tinha perdido
tudo, nas muitas confusões de entra e sai governo, no brasildosbrasileiros,
como ele dizia, havia que estar com os pés bem colocados no chão.
Nunca dever a nenhum fornecedor, cobrar o
justo, ter credito na praça, mas pagar em dia.
Isso o Julio não pode fuder, pois ele
controlava pessoalmente esses pagamentos.
Por isso quando queria um material, o
conseguia sempre, ao gosto do cliente.
Muitos que ele conhecia, reclamavam disso,
que as vezes o cliente pedia uma coisa, na hora “H”, desistiam, os levando a
merda.
O primeiro que fez isso, a mercadoria
estava toda com etiqueta, tinham um contrato, ele simplesmente avisou, já que
não queres, vou vender no mercado de Madureira, no prejuízo não vou ficar. A compradora que tinha encarregado o
ameaçou, ele conhecia o proprietário, as vezes faziam surf juntos, lhe contou o
que tinha acontecido, ainda me ameaçou, parece que comprou demais de outro
fornecedor. Mas pensem bem, pois
realmente vou vender no mercado, eu desenvolvi o produto só para vocês,
portanto, sou dono da ideia.
Essa compradora foi para a rua, nunca mais
conseguiu outro emprego.
Assim era esse mundo, as fofocas corriam
soltas.
Como agora, quem queria lhe comprar a
fábrica, tinha sabido através do Julio que ele estava com problemas
financeiros, nada mais longe da verdade.
Se sentia sim desanimado, pensou consigo
mesmo, sabe de uma coisa, vou sorrir para não chorar, tinham uma série de
encomendas, seguiu em frente, não mandou o rapaz da contabilidade embora, pois
o mesmo tinha sido honesto com ele, apenas agora fiscalizava tudo.
Tinha duas enfermeiras cuidando de sua mãe,
uma de dia, outra do final da tarde para a noite, até a hora que ele chegava.
Ela estar contente, para ele bastava.
Uma delas, fez um comentário um dia, que o
deixou com a pulga atrás da orelha, seus pais eram muito velhos, para o ter, ou
tinham se casado tarde, ou por causa disso sua mãe nunca mais teve filhos.
Mas perguntar para sua mãe que tinha
principio de Alzheimer, era como confundir sua cabeça, algumas vezes o
confundia com seu pai, porque tinha chegado tarde em casa, andavas por ai, não
é seu velho malandro.
Ele achava engraçado ela falar assim, pois
nunca tinha escutado esses comentários.
Não adiantava ele dizer que era seu filho,
o olhava bem, depois sorria, fiz confusão, estava pensando no teu pai, talvez
por isso, tem detalhes na tua cara, vocês sempre foram parecidos.
Ele sempre tinha tido um bom relacionamento
com o pai, mas era com ela que ele se dava bem.
Se passou um ano, quando saia, procurava ir
a lugares aonde não se cruzaria com o Julio.
Dois anos depois, estava outra vez pôr em
cima da cocada preta como dizia, não dava abasto de atender os clientes,
inclusive agora alguns de São Paulo.
Os finais de semana, para ele agora eram
sagrados, nada de estar de ressaca, nos dias de sol saia com a mãe, para dar
uma volta, lugares que antes ela gostava, mas considerava como estar vendo pela
primeira vez, procurava não ir aonde a conheciam, pois sempre tinha a famosa
pergunta das pessoas inconvenientes “se lembra de mim”. No fundo se matava de rir, pois ela dizia
simplesmente que não, se a pessoa ia explicar, fazia um gesto que alguns
tomavam como falta de educação, se tinha o telefone, depois chamava explicando,
fazia o famoso, “corta”.
Quando ela morreu, ao contrário de seu pai,
embora ele estivesse lá também, na parte dos judeus do cemitério do Caju, aonde
estava seu avô.
O mais interessante, foi que na leitura do
testamento, só tinha ele, se deu conta, que a vida inteira, nunca tinha visto
parentes ou amigos íntimos em casa.
O advogado se sentou com ele, desta vez
será fácil demais.
Depois pensaria, para ele, pois descobriu
sem querer muita coisa.
Primeiro que tinha mais bens do que
imaginava, era tudo administrado pelo escritório que tinha sido de seu pai.
Os dois locais na verdade pertenciam ao seu
avô, bem como uma série de lojas ali no Saara, sabia que ele tinha tido uma
loja lá, mas que haviam outras não.
Bem como uma caixa no Banco do Brasil, foi
até lá com o advogado, apresentaram a certidão da morte dela.
Nesta havia um diário, bem como uma
certidão de nascimento, presa na mesma uma carta.
Tua mãe original era uma amante de teu pai,
quando ela morreu, vinha do sul do Brasil, não tinha parentes, eu tomei a
decisão, que serias meu filho, pois sempre quis ter um, mas a vida é como é, comigo
a coisa não funcionava, não ficava gravida.
Então fizemos um papel diferente, te
registramos outra vez, isso teu pai era mestre em conseguir, agora como meu
nome, se fosse necessário um dia te explicaria, como faço agora.
Mas ele era teu verdadeiro pai, por isso
gostava de ti, nunca soube se teve outros filhos por aí, nem me interessa, sempre
foste meu filho querido, sabes bem disso.
Estou perdendo a linha de pensamento, creio
que estou com Alzheimer por isso, resolvi escrever esse diário, para saber de
aonde sai.
Leia com calma, depois que eu parta,
saberás de tudo, adoraria que fosses visitar esse lugar, durante minha
juventude foi um lugar idílico, eu dizia que parecia um conto de fadas, com
tantos castelos. Leia o diário,
entenderas.
Tinha uma boa quantidade de dinheiro no
banco do Brasil, bem como em um outro, os dois esse dinheiro estava aplicado,
ou seja ia só aumentando.
Como se diria hoje em dia, estava forrado,
podia modificar o rumo de sua vida.
Sem querer, quando desceu do carro, ali em
frente ao apartamento, atravessou a rua, ficou olhando como a muito tempo
atrás, para o nada, tinha que pensar no que fazer, iria ler esse diário, talvez
definir outro rumo para sua vida, em breve faria quarenta anos.
Agora sim se explicava o comentário da
enfermeira, realmente os dois eram muito mais velhos, podiam quase ser seus
avôs, mas entendia, tinha lido o nome da mulher que o tinha parido, podia ser
qualquer uma, Maria da Silva, existiam milhões de mulheres com esse nome nessa
terra de deus, pensou.
Depois de um tempo ali, o céu ficou escuro,
começou a cair, um dos famosos temporais do Rio de Janeiro.
Correu para casa, sentou-se aonde sua mãe
adorava ficar, numa poltrona junto ao grande janelão do apartamento, ficou
primeiro olhando os relâmpagos, em cima do mar, depois a água que caia, ficou
imaginando que se estivesse na fábrica, teria problemas para vir, pois a
Av.Brasil devia estar inundada, bem como a praça da Bandeira, para voltar teria
que ir por dentro, fazer uma volta imensa.
Telefonou para lá, falou com o encarregado,
que com essa chuva ele não se arriscava, o mesmo disse que ali, ainda não
estava caindo muita água, lhe falou da entrega que tinham feito hoje a tarde,
disse o nome da compradora, uma de suas clientes fiéis, ela me soltou, só mesmo
o Feitosa para fazer com tanto esmero um trabalho desses. Examinou cada uma como sempre faz.
Ele sabia como funcionava a cabeça de cada
uma, ela tinha lhe dito na época da confusão com o Julio, que ele fosse em
frente.
A noite caiu de repente, ainda tinha comida
na geladeira, tinha agora que pensar que esse apartamento imenso, para ele só
ia ser uma barbaridade.
Abriu o diário, sabia que ia encontrar no
mesmo uma maneira especial de escrever, afinal era uma mulher com um humor
muito especial.
Era verdade, se já estás lendo esse diário,
significa que já bati as botas, mas quero que saibas que sempre te amei como
meu filho, como se tivesse te gestado.
Tua mãe morreu, logo depois do parto, algum
problema que tinha que os médicos não perceberam, teu pai, como sempre, fazia
as merdas, depois corria, para que eu resolvesse a situação.
Quando te vi, me apaixonei, teu pai, queria
te colocar num orfanato, não permiti, eu sempre quis ter um filho, não ia
perder essa oportunidade, a partir desse momento eras meu filho, não te pari,
mas foi como se tivesse acontecido.
Minha história, começa no Vale do Loire, ou
Loira, na França, meu pai tinha uma bela propriedade por lá, como avanço dos
Alemães, resolveu ir embora, sabia o que já estava acontecendo com os Judeus.
Eu era garota, meus pais tinham se casado
já com uma certa idade, fui uma filha que pensaram que foi parida, para cuidar
deles na velhice.
De uma certa maneira, ele vendeu tudo que
tinha, eu iria sentir sempre, a falta dos famosos castelos dessa região,
imaginava, sempre depois, que perdia a chance de me casar com um príncipe, que
viria me salvar dos brasileiros, num belo cavalo branco.
Ele ainda conseguiu embarcar, conosco, num
navio que saia de Lisboa para o Rio de Janeiro, um dos últimos. Mas tínhamos
atravessado toda a España, como se podia ser numa época que esse pais, também
atravessava por problemas, mas chegamos a Portugal a tempos, ele trazia
escondido por debaixo do seu carro, muito dinheiro, bem como diamantes.
Embarcamos no navio, a viagem tinha deixado
minha mãe com uma saúde muito frágil, hoje em dia só consigo me lembrar dela,
naquelas fotos que estão em cima de uma estante no salão, mas a cara com
detalhes não.
Ela acabou morrendo em alto mar, num dia de
temporal, claro como em todos os barcos, o enterro foi ali mesmo, a enrolaram
em um sudário que meu pai trazia, ele rezou o Kadish, depois soltaram em pleno
Atlântico.
Chegamos no Rio de Janeiro, num belo dia de
verão, fiquei primeiro encantada, meu pai tinha contato com outros judeus que
já estavam nessas terras, primeiro fomos morar no Catete, num apartamento
velho, mas que ele contratou uma senhora para limpar a fundo.
Logo fui a uma escola para aprender a ler e
escrever português, ele comprou sua primeira loja no Saara, aonde todos os
judeus e árabes tinham lojas.
Com ele aprendi a administrar seus
negócios, queria um herdeiro para isso, mas não era a típica garota carioca, de
ir a praia, barzinhos, essas coisas, fui ficando para trás, até que teu pai,
que era advogado do velho, fez negócios com ele, precisava de dinheiro para
comprar os escritórios, teu avô lhe deu o dinheiro que precisava, com isso
casou comigo.
Ele estava louco para colocar a mão no
dinheiro do teu avô, mas quem sempre administrou tudo fui eu.
Teu avô morreu logo depois de chegares,
ficou como um louco, finalmente tinha um descendente, não lhe importava como,
mal sabia que terias o tino de negócios como ele, creio que se tivesse ficado
na França teria feito muitas coisas.
Os diamantes da caixa, ainda são os mesmo
que ele trouxe da França, um dia deves ir até lá, eu nunca mais voltei, ao teu
pai, nunca lhe interessaram as viagens, fui ficando, talvez tenha me contagiado
com esse vírus carioca, a preguiça.
Foi várias vezes depois de ler tudo,
conversar com sua amiga, ela riu a bessa quando ele falou no valor que tinha
herdado, só não comentou sobre os diamantes.
Se fosses abrir um negócio, garanto que ia
contigo, mas acho sim que devias ir, se reciclar na Europa, valeria a pena.
Ele pensou muito nisso, foi quando soube
que o dono da empresa que ela trabalhava, estava com câncer, que seu filho
assumiria o lugar.
Ela lhe disse, com esse não vou nem a
esquina, não entende nada de moda.
Lhe fez uma proposta, porque ela não
dirigia a fábrica, enquanto ele ia fazer a tal reciclagem, depois já veremos se
abrimos alguma coisa.
Ela topou imediatamente, sempre tinha sido
sua melhor cliente, a que sabia o que queria, desenhava para ele o que era para
fazer.
Ele foi ao banco, retirou dois diamantes, o
misturou em sua bagagem, com bijuterias, assim passava os controles.
Mas antes resolveu curtir o carnaval, ela
conseguiu duas entradas para um dos camarotes mais frequentados, por um acaso,
viu o Julio chegar, justamente com o homem que quis comprar a fábrica.
De aonde estava, viu como Julio tentava
fazer com que o sujeito fosse embora, mas ele insistia em falar com ele, se
livrou do outro, se aproximou.
Foi direto ao assunto, porque ele não tinha
querido vender o negócio, a informação que o Julio me deu, era que estavas
arruinado.
Se engana, o dinheiro que ele me roubou,
era pouco, em relação ao que tenho, mas cuidado com ele, não é de se fiar. Samantha, que o conhecia também, comentou, eu
te disse que ele não ia vender. Agora
vou trabalhar para ele.
O sujeito ficou olhando os dois, soltou
rindo, agora entendo, Julio vive reclamando que o deixaste sem nada.
Sim ele roubou bastante, fiz a besteira
como tínhamos um relacionamento de confiar nele, lhe dei 10% do negócio, mas o
idiota roubou um pouco mais que isso valia, mas o prédio da fábrica é meu, bem
como o resto, por isso o coloquei para fora sem nada. Pelo que sei, roubava para pagar os homens
com quem fazia sexo, o segurança noturno da fábrica, alguns outros que andavam
pelo subúrbio, ele gosta muito de um negro com instrumento grande.
A cara do outro era ótima, achas que me
engana?
Não sei, tens um bom instrumento, o outro
só faltou abrir as calças para olhar.
Foi embora, se via de longe que os dois
discutiam.
Tinha sido uma vingança sem querer limpa e
fria.
Amanhã todo mundo vai saber que vou
trabalhar contigo.
Uma semana depois, embarcou para Paris, mas
foi de classe executiva, afinal tinha dinheiro para isso.
Em Paris se hospedou num hotel que Samantha
lhe indicou, riu muito quando assinou seu contrato de trabalho, seu verdadeiro
nome era Maria Rodrigues, como ele, descendente de judeus espanhóis.
Telefonou para o amigo dela, que o convidou
para jantar, foram a um bistrô muito simpático em Marais, aonde a maioria do
pessoal, tirando algum turista, eram gays.
Ele lhe perguntou se tinha vindo em busca
de aventuras.
Riu muito com isso, nada disso, vim me
reciclar, comentou o que fazia.
No dia seguinte foi ao seu ateliê num lugar
extremamente chic, no andar de baixo a loja, depois um andar que se atendia as
clientes, o resto para cima, era aonde o pessoal criava.
Amou, riu muito dizendo que no Rio em São
Paulo, só os grandes costureiros tinham um negócio assim.
Sim, eu tenho um sócio capitalista, que
analisa todos os meses, gastos, lucros coisas assim, embora ganhe bem, sou como
um empregado que manda no negócio.
Na sua sala, tinha uma bolsa em cima de uma
mesa, a comprei da Samantha, ele pediu licença, abriu a mesma, mostrou a
etiqueta de fabricação, fui eu que criei para ela.
Pois eu já a repeti de mil maneiras.
Lhe mostrou a coleção que estava fazendo,
ele pediu um tempo olhando os desenhos, foi desenhando a parte detalhes para as
mesmas.
Quando mostrou o outro se matou de rir,
disse, estás contratado.
Ele mesmo se sentou numa máquina que podia
costurar peles, começou a montar o que tinha feito, um dos rapazes, lhe ajudava
com o material, ele sabia aonde tinha tudo, ou aonde conseguir.
Foram quase 20 dias trabalhando, ele falava
todas as semanas com a Samantha, de brincadeira disse que já não voltava,
ficava trabalhando.
Eu fotografei cada detalhe do que fiz,
vamos reproduzir ai, afinal o desenho é meu, assinei a todos, fiz fotos.
Depois tirou uma semana para ir aonde sua
mãe tinha falado, a casa, pois ela se lembrava do endereço, hoje em dia era um
Gite, como uma casa de hospedes para turistas.
Quando viu todos os castelos, se lembrou do
que ele falava, imaginar um príncipe para se casar.
Voltou a Paris, para assistir a
apresentação da coleção, o amigo da Samantha o apresentou como criador de todas
as peças de acessórios, um ilustre fabricante do Brasil.
O foi apresentando a todos os grandes nomes
da moda, foi visitar o ateliê de todos, alguns lhe perguntaram se poderiam mandar
o que iam fazer, para a temporada de verão.
Um deles ia trabalhar com tecidos indianos,
lhe mostrou os mesmos, esse além da loja chic, tinha em outro lugar uma
boutique, lhe disse que as grandes vendas eram ali.
Descobriu uma loja de tecidos africanos,
comprou uma série deles, que pareciam seda, era alguma mistura que faziam, com
estampas diferentes, soube por quem vendia, que esse tipo de tecido, era usado
normalmente para as mulheres usarem na cabeça como turbante, pois ficavam
duros, facilitando a modelagem, mostrou como fazia, ele comprou vários.
O homem disse que se lhe interessava, ele
poderia ir a fábrica, desenhar ele mesmo as estampas.
Voltou para o Brasil, cheio de ideias, se
sentou com a Samantha, rindo muito, se me perguntas se fui algum dia ao Louvre,
ou mesmo algum outro lugar, nada disso, estive metido em todos ateliê de
costureiros famosos, vi como trabalhavam, um deles me levou inclusive a Galerie
Lafayete, aonde tem lojas, me mostrou tudo por detrás.
Mas claro a maioria das coisas, hoje são
feitas na Índia, China, esse fabricam para os americanos.
Mostrou as fotos dos tecidos africanos, bem
como indianos.
Estou pensando em dar um pulo até lá,
podias ir comigo, fazemos contato, saímos daqui, vamos direto até lá,
compramos, nos colocamos a desenhar.
Ela lhe falou de uma loja, que estava para
alugar, conhecia o dono, na Praça N.S. da Paz, assim podíamos lançar como uma
marca nossa.
Fazemos isso, mas vamos montar um negócio,
como tem teu amigo, tu eres a fachada, todo mundo te conhece no mundo da moda,
dirigiste basicamente essa empresa que trabalhavas.
Assim fizeram, seguiram atendendo aos
clientes de sempre, depois tiraram a época do Natal e Ano novo, que basicamente
tudo estava feito, só ficaram alguns trabalhadores na fábrica, principalmente
os mecânicos, para consertos, coisas que não podiam fazer num dia de trabalho.
O rapaz que tomava conta era o mesmo de
sempre.
Foram tranquilos, fizeram os contatos
antes, o bom que os dois falavam inglês, foi fácil, um fabricante foi
apresentada ao outro. Juntaram tudo, colocaram em dois containers, que chegaria
dentro de um mês ao Brasil, mas mesmo assim levaram metros de tudo, para irem
criando as peças-chaves.
Trabalhariam, para uma coleção, como se
fosse atemporal, nada de verão ou inverno, embora no Rio isso fosse normal.
Ele levou um tempo, que mal parava, era
capaz de dormir na fábrica, para ver o protótipo pronto.
Samantha lhe chamou atenção, esse rapaz que
cuida da contabilidade, te olha com adoração, porque não lhe dá uma chance.
Samantha, apesar de ter passado um tempo,
ainda preciso de mais tempo para assumir qualquer coisa, fazer sexo com ele,
somente por sexo, não é o que gostaria.
Um dia que ficaram os dois até mais tarde,
analisando como fariam para entrar com a mercadoria importada no Brasil, num
momento que suas mãos se roçaram, foi como soltar faíscas.
Ficaram um olhando para o outro, mas nenhum
fez nenhum movimento, o Alberto Nunes, sabia que era um simples empregado, não
podia perder seu emprego, lhe comentou que sustentava sua mãe, bem como uma
irmã que estudava direito.
Não pude ir à universidade, me conformei em
fazer um curso de contabilidade.
Ele tinha feito uma coisa, arrumou toda a
fachada da fábrica, embora isso significasse pagar mais impostos, arrumaram um
primeiro andar para atender clientes, bem como uma sala para cada um.
Para a loja, nova, desenhou uma série de
camisas masculinas, com detalhes dos tecidos, nesse momento pensou, os tecidos
africanos ficariam fantásticos com essa parte, teria sim que conseguir a tal
seda sem estampas, já tinha feito contato com um representante no Brasil, que o
convidou para ir a Nigeria, aonde estava a fábrica.
Lhe disse que assim que lançassem a
coleção, bem como a loja nova, iriam.
Samantha, preparou o pessoal da loja
pessoalmente, como deviam se vestir, o comportamento, inclusive a irmã do
Alberto, iria trabalhar lá no horário depois da universidade.
Assim respiro um pouco, também lhe dá
responsabilidade.
O grande problema, segundo analisou com
Alberto, seria a importação, voltaram os três para conversar com o
representante no Brasil, esse disse que podia fazer, consigo um voo, especial,
não é confortável, mas eles tem interesses aqui.
Ele tinha vendido um dos diamantes em
Paris, sabia aonde podia vender agora em São Paulo, qualquer coisa faria isso.
Alberto veio falar com ele, esse pessoal é
complicado, preferem que paguemos num paraíso fiscal, ou se for o caso, em
dinheiro vivo.
Eles estavam em plena produção para a loja
nova, Samantha estava como louca, disse que essa adrenalina a deixava a mil,
melhor que qualquer droga.
Ela conhecia todos os jornalistas de moda,
fez uma apresentação com todos os modelos que tinham desenhado, eram para ser
usados, tanto na praia, como no dia a dia das pessoas, com cores, tecidos
diferentes.
Depois dessa apresentação, convidaram todos
os donos de empresas para quem trabalhavam, poderiam criar coleções similares
para eles.
Foi um sucesso, o dito cujo que tinha
querido comprar a fábrica, agora falava com ele, queria para a sua cadeia de
boutiques, uma coleção mais masculina.
Disse que tinha ideias, que logo o chamaria
para apresentar.
Não perguntou em nenhum momento pelo Julio,
quem tocou no assunto foi ele, o filho da puta estava me roubando, mandei um
detetive o seguir, é como falaste.
Ele não emitiu nenhum comentário.
Um dia achou que o Alberto queria lhe falar
alguma coisa, antes de viajar, acho melhor o senhor ir conhecer minha avó.
Ela é mãe de santo, sem que eu tivesse
tocado no assunto disse que era melhor fazer uma firmeza.
Lá foi ele para o subúrbio, depois de
Deodoro. A senhora era extremamente
simpática, o mandou tomar um banho de ervas, depois jogou para ele.
Sorriu, acho o senhor respeitável.
Não me chame de senhor, meu nome é Feitosa
para todo mundo.
Lastima que tua mãe verdadeira morreu cedo,
ia se sentir orgulhosa do senhor.
Falou de sua mãe, do velho Feitosa, um bom
sem vergonha.
Nunca falava disso com ninguém, tinha que
acreditar no que ela dizia.
Lhe disse para tomar cuidado,
principalmente na parte financeira, vão querer lhe convencer de mandar de
avião, isso vai causar problemas, diga que tem tempo.
Antes disso, crie para o verão uma coleção,
misturando linho, rendas de bilro, uma coisa bem brasileira, assim dá tempo de
chegar o que venha da Africa, se for o caso, vá ao Senegal, pois eles tem
fábricas lá também.
Acabou por algum motivo que a viagem não
deu certo, através do consulado, conseguiu informação sobre o Senegal, mudaram
de rumo, nada de intermediários pelo meio.
Tinham sido obrigados a contratar mais
gente, ele fez uma coisa, que normalmente os fabricantes não faziam, reformou toda
a parte das costuras, com ar-condicionado, os banheiros, mais conforto para o
pessoal, inclusive uma cozinheira, que preparava comida para todos, eles
inclusive comiam lá juntos com os empregados, era o que melhor pagava no
mercado.
Seguiu a ideia da avô do Alberto, quando
falou com a Samantha, os dois consultaram tudo que puderam sobre as rendas,
aonde podiam encontrar pessoal para fazer, como usariam.
Eles dois desenharam uma coisa bem
brasileira, com linho branco, azul que chamavam de Iemanjá, inclusive camisas
masculinas com detalhes, calças e bermudas de linho, tanto masculina como
feminina.
Num conhecido que fazia calças jeans,
fizeram as mesmas mas com linho.
A loja só dava lucro, alguns queriam franquiais,
mas conversaram entre eles, o trabalho era infernal.
Estava tão acostumado com o Alberto, que
quando aconteceu, foi sensacional, um ficou olhando para o outro.
Ele era uma pessoa sensível, honesta, se
encaixavam.
Achava interessante Feitosa não ser como
eram a maioria dos clientes que apareciam ali, que ostentavam, chegavam ao
subúrbio em carros caros, davam dinheiro para a garotada cuidar do mesmo, com
medo de serem roubados.
Ele seguia usando um carro de toda vida,
dizia que funcionava bem, isso bastava, mesmo o apartamento do Leme, ele só
usava uma parte, falava sempre em vender, mas dizia que tinha tido uma
infância, além de uma juventude maravilhosa ali.
Saiam os dois para jantar por ali, se
encontravam algum cliente, era como se fosse uma coisa normal, claro alguns
perguntavam o que faz esse branquinho com esse negro.
Mas a ele, isso lhe dava igual.
A loja de Ipanema, era sempre moda, cada
nova coleção, saiam todas as revistas.
Não faziam nada para os clientes iguais, ao
contrário, caprichavam procurando fazer para eles coisas diferentes.
Tinha criado uma repartição na fábrica, uma
parte trabalhava para os clientes de sempre, outras para a loja.
Foram seguindo em frente, conheceu a mãe do
Alberto, que riu, ele fala tanto em ti, que é como se o conhecesse, minha mãe
então nem se fala.
Eram respeitados no bairro, aonde tinham a
fábrica, os clientes finos, vinham como se nada.
Atendiam agora, através da Samantha, alguns
clientes que eram artistas que queriam roupas para seu show, importavam direto
a famosa seda falsa do Senegal, mas ele ia até lá desenha a estamparia, agora
era um criador mais completo.
Quando num carnaval, o amigo dela veio de
Paris, ficou louco quando conheceu o Alberto, esse não sabia aonde se enfiar,
esse homem está enganado comigo, sou de uma pessoa, me basta.
Esse ao final, se sentou com eles,
desenharam toda uma serie de coisas para a coleção deles, ele foi para Paris,
com o Alberto, levando duas costureiras, depois Samantha veio para o
lançamento, avisaram os da moda do Brasil, foi filmado, apareceram na
televisão, entrevistas coisas do gênero.
Gostava de ser respeitado, isso ele fazia o
mesmo com seus clientes, nada de fazer coisas parecidas para os outros, a
coleção de cada um era respeitada.
Lhe preocupava, conversava muito com o
Alberto, não tinham filhos, como seria o futuro, agora entendo minha mãe, com
seu pai, queria um descendente.
Sem querer aconteceu, um dia a mãe de santo
os chamou, uma filha do terreiro, tinha tido um casal, mas estava muito doente,
a acolheram lhe deram o melhor tratamento, mas ela tinha escolhido ter os
filhos a cuidar do câncer que tinha, eles ficaram com as crianças.
Eram mulatas, mas o garoto era a cara dele.
Agora a casa estava habitada como costumava
dizer, pois tinham uma senhora para a limpeza, outra para cozinhar, além da mãe
do Alberto que cuidava dos netos.
Eles quando saiu o matrimonio gay, se
casaram, mas Alberto exigiu que fosse com separação de bens, não quero que
digam que me casei contigo pelo teu dinheiro.
Estavam tanto tempo juntos, que para ele
tudo era perfeito, embora discordassem sempre na educação dos meninos, Alberto
dizia que por ele, faria todas as vontades dos meninos.
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