BONIFÁCIO
Acabava de sair da sala do cônsul, quando
foi chamado outra vez, o som repercutia no edifício, senhor Bonifácio Marcus
Silveri, a senhora que trabalhava no sistema, fazia questão de quando chamava
as pessoas falar seu nome completo.
Se dirigiu outra vez a sala do mesmo,
subindo a escadas, era uma velha mansão árabe, claro impossível não ser,
estavam em Tanger, o último andar era a residência do Cônsul, mas os dois
debaixo era escritórios, ele era o chefe da segurança do edifício.
A secretária fez sinal que ele podia
entrar, achou estranho pois tinha acabado de sair dali, viu que o mesmo estava
com o telefone nas mãos, passou para ele.
A pessoa do outro lado se identificou como
diretor da prisão aonde estava seu pai.
Sentiu um frio pela coluna vertebral,
pensou imediatamente, em que se meteu desta vez, pediu para o homem repetir,
pois tinha perdido o fio da meada.
Estamos chamando para dizer que seu pai
faleceu, foi assassinado esta noite, como o único contato que temos é o senhor,
me deram na delegação de Polícia de Roma, seu contato.
Tudo que pode pensar, era puta merda. Seu irmão mais velho como sempre se
desentendia disso.
O homem lhe perguntou se queria o corpo, ou
se o mandava para algum lugar.
Lhe pediu o número de seu telefone, vou
falar com meu irmão mais velho, ver se ele pode se ocupar do assunto, senão
terei que sair desde Tanger até aí.
Sem problemas, se for o caso, o mantemos na
geladeira do presidio.
Quase soltou uma gargalhada, seu pai odiava
o frio, motivo pelo qual sua mãe tinha mudado para Turin, assim escapava dele.
Nunca tinha sido casada com ele, mas ele o
reconheceu, ao contrário de seu irmão, Orestes, esse usava o nome da mãe, Orestes
Cosme Durante, era professor na universidade de Roma.
Era completamente oposto, só passaram a
conviver, quando adultos, ele tinha ido estudar direito em Roma, foi quando se
encontraram pela primeira vez.
Todos os dois eram o oposto ao seu pai,
Dante Silveri, pertencia a máfia, isso até parecia parte dele, pois era o
típico homem que se via nos filmes, cara dura, cabelos cheios de brilhantina,
alisados para trás, ternos de seis botões, cruzados na frente, gravatas sempre
vermelhas, um sorriso maldoso na boca, olhos negros como a noite, como dizia
sua mãe, traiçoeiros.
O mais interessante, ele nunca deixou de
mandar dinheiro para ela, para sua educação, aparecia de vez em quando, ou
mesmo quando podia pelo Natal.
Sempre trazia presentes que não serviam
para nada, até que ele quando tinha doze anos, lhe disse na cara, que nada
disso lhe servia, que quando viesse saíssem para comprar o que ele gostava,
disse isso olhando na cara dele.
Primeiro ficou sério, depois soltou uma
sonora gargalhada como sempre fazia.
Quando saiam, primeiro iam tomar um
sorvete, se sentavam em alguma praça, prestava atenção, pois seu pai,
encontrava uma maneira de sentar, em que pudesse observar tudo em volta, um dia
lhe perguntou por quê?
Nunca escondeu quem era, a resposta foi
simples, assim posso ver se alguém planeja algo contra mim ou a ti.
As vezes falava do Orestes, como era
difícil conversar com ele, te leva uma vantagem de cinco anos, mas é
complicado, como foi sua mãe.
Anos mais tarde sua mãe lhe contou que ele
tinha entrado para a Máfia, justamente por causa dela, era filha de um mafioso
famoso na Sicília, esta tinha feito uma coisa, mandou o Orestes estudar em
Roma, interno num colégio, pelo que ele sabia, nunca mais tinha voltado.
Tentava passar desapercebido do mundo dos
pais, seu avô era um capo respeitado na ilha.
O dia que disse ao seu pai que ia estudar
direito, este o olhou muito sério, soltou sem mais preâmbulo, pode ser que um
dia dependa de ti.
Mas ele nunca chegou a exercer, pois quando
estava no último ano da universidade de Roma, estava estagiando num escritório,
viu sobre sua mesa, dobrada uma notícia, o capo da Máfia, Bonifácio Silveri,
preso, condenado a cadeia perpetua.
Alguém tinha descoberto sua origem, claro
ele usava o nome, sobrenome do pai.
Simplesmente jogou o jornal no lixo, sabia
que quando fosse para casa, compraria um.
Acabou o estágio, se sentindo um pária no escritório, ninguém lhe dava
atenção, fazia uma espécie de serviço de office boy, levar papeis de um lado
para o outro, tirar cópias, não entendia, a maioria dos clientes dali, na
verdade eram bandidos.
Ele queria ir assistir o julgamento do pai,
que seria em Roma, falou com Orestes, esse disse que nem pensar, o ia
comprometer.
Pois ele conseguiu com um conhecido que
fazia jornalismo, foi com o mesmo.
Apesar de tudo, ele amava seu pai, os dois falavam horas sobre o que ele
estava estudando, lhe dizia claramente, fui um idiota, devia era ter estudado,
mas isso era quase impossível na Sicília, depois minha família era
tremendamente pobre, não tive escapatória.
Ele era a mão direita do sogro, mesmo
depois de separado de sua mulher, seguia sendo o braço executor.
O viu abatido, mas com a cabeça alta. Depois do julgamento, pediu para vê-lo, se
identificou como seu filho.
Este o abraçou, beijou mil vezes, nunca
cometa os meus erros meu filho, siga em frente, falou do que tinha acontecido.
Se achas necessário, troque seu sobrenome,
como fez teu irmão, não o condeno, pois ele usa o sobrenome que tinha a avô
dele. Seu avô odeia isso.
Mas acredito mais que ele faz isso para se
proteger.
Sabes o que deves fazer, na Itália, os
advogados só servem para defender bandidos, deves entrar para a polícia,
escreveu num papel o nome de um homem, procure por ele, me conhece desde
infância, só fizemos uma coisa diferente, ele foi ser policial, eu bandido.
Quando foi de férias para Turin, comentou
com sua mãe, sobre o julgamento, lhe parecia tudo planejado, o advogado dele,
era um desses que ele comentava, só defendia bandidos.
Foi condenado a perpetua, por ter matado
três policias, numa batida que os mesmo fizeram na casa do chefe da máfia, sem
autorização de ninguém, simplesmente queriam encher o saco.
A vontade da polícia, que queria justiça
para os seus prevaleceu.
Terei férias eternas, disse seu pai.
Sua mãe concordou, nunca soube por que
foste estudar direito, sempre pensei que serias como teu irmão Orestes, esse
era professor de história na universidade.
Este era como ele dizia o analisando, uma
pessoa opaca, sempre bem vestido, com um óculos que fazia parte de sua
personalidade, uma vez o viu em cima da mesa de sua casa o colocou, achou
estranho não tinha grau, era para forjar sua imagem de homem sério.
Nunca tinha visto no pouco contato que
passaram a ter, dar um sorriso, ou mesmo soltar uma gargalhada.
Desceu para sua sala, procurou a agenda de
endereços, chamou seu número, atendeu uma secretária da universidade, disse que
era irmão dele, teve que esperar uns quantos minutos, imaginou que o mesmo
devia estar pensando se o atendia ou não.
Quando este atendeu, dizendo Salve Marcus,
sempre fazia isso, como se estivessem na antiga Roma.
Ele foi direto ao assunto, acabam de me
comunicar, desde o presidio, nosso pai, foi assassinado, podias tomar a
dianteira, verificar o que ele queria para seu enterro.
Nem pensar, não vou perder meu tempo com
esse sujeito, mas se queres, tenho o número do celular de seu advogado, pois
este me chamou a pouco tempo, precisava que um dos filhos, fosse falar por ele,
estava tentando a condicional.
Eu não fiquei sabendo de nada!
Acho que ele pensou, que você sendo
policial, se fizesse isso, ia pesar na tua folha de serviço.
Sem querer sorriu, a muito tempo trabalhava
para o serviço consular, já tinha estado em mil lugares, tinha sido uma opção
depois da morte de sua mãe.
Como tinha facilidade para línguas o
mandavam para lugares que alguns nem sempre queriam ir.
Para ele, era como realizar sonhos, pois
conhecia as cidades, segundo o cônsul, quando queria saber de alguma coisa ou
lugar, para levar sua família, falava com ele.
Quando tinha férias, explorava as outras
cidades perto, como estava já a cinco anos no Marrocos, tinha conhecido muitas,
sempre lhe perguntavam por que não ia para a Itália, as vezes nem respondia,
não tinha ninguém por lá.
Ok, sem problemas, desligou o celular,
sabia que seria mais ou menos essa a respostas, ele tinha ido muitas vezes
visitar seu pai em prisão, não tinha como podiam imaginar muitos, vergonha
dele, sabia que ele tinha se transformado nisso, por falta de oportunidades,
reconhecia que mal sabia ler e escrever, embora fosse uma pessoa inteligente.
Quando o arrastou a primeira vez a uma
livraria, o pai ficou parado na porta, disse honestamente que nunca tinha
entrado em nenhuma.
A última vez que tinha estado em Roma, foi
visita-lo, ficou emocionado, faziam dois anos que não o via, embora lhe
escrevesse sempre, o mesmo respondia, ele as vezes tinha que pensar no que ele
tinha escrito, sua letra era horríveis, além de erros de ortografia, mas ficava
contente em receber notícias suas.
Dessa última vez, ficou surpreso, em saber
que a mãe do Orestes, tinha se casado de novo, o seu marido era o novo chefe da
família.
Querem me ver pelas costas.
Nunca perguntava se ele via o irmão, só uma
vez, o pai perguntou o que ele tinha feito esses dias em Roma?
Soltou que tinha um dia ido comer com
Orestes, nunca tinha ido a sua casa, nem sido convidado para isso.
Seu pai, lhe perguntou como ele era, sem
querer lhe contou da história do óculos, ele tenta ser outra pessoa.
Sim por sorte, tem tios que mandam na
família, sua mãe o afastou de lá, uma vez um desses tios o viu com um dos
rapazes do grupo, comentou que na família, não iam aceitar nenhum gay, por isso
ela o mandou embora.
Mas as últimas vezes antes de vir para cá,
se negou a se encontrar comigo, descobri que vivia com outro professor, talvez
sentisse vergonha disso, eu ao contrário, nunca faria isso, ele como tu, são
meus filhos, eu nunca fui perfeito, não posso pedir que meus filhos sejam.
Inclusive quando foi selecionado para ser
chefe de segurança das embaixadas e consulados, falou com o pai, esse o animou,
assim não estas sujeitos a tentativas de corrupção.
Mal sabia ele que isso acontecia, mesmo
fora de uma delegacia, gente que queria favores, passaportes falsos, esse era
seu trabalho, controlar isso.
O advogado atendeu, ele se identificou, o
mesmo disse que já sabia, que estava tentando falar com seu irmão Orestes, mas
que esse não atendia o celular.
Ele não quer ser envolvido nisso, o senhor
sabe por acaso, quais suas últimas vontades.
Sim ele queria ser cremado, que suas cinzas
fossem jogadas no mar em Siracusa, de onde era originário.
Ok, vou conversar agora com meu chefe, vivo
atualmente em Tanger, creio que vou ter que ir até Casablanca, para conseguir
um voo para Roma, o senhor poderia pedir que o colocassem numa geladeira, até
eu chegar, podemos encarregar uma missa simples, depois a cremação, tenho
férias para tirar, assim eu levo suas cinzas para Siracusa, que não conheço.
Ele tinha feito isso, sua mãe era de
Catania, tinha levado suas cinzas para lá, colocado junto ao tumulo de sua
família.
Perfeito, é bom saber que alguém da família
se preocupa por ele. Sei que o senhor
sempre o ia visitar.
Voltou a falar com seu chefe, organizou
tudo, pediu a secretária o horário de voos desde Casablanca para Roma, era o
mais fácil.
Depois foi para casa, tinha 15 dias de
férias atrasadas, assim podia fazer tudo como queria.
Arrumou uma maleta, sabia que lá era
inverno, mesmo assim não tinha nunca muita bagagem.
Vivia num apartamento de um palacete,
antigamente residência de alguma família francesa, pois tinha janelas para
fora. Tinha uma vizinha que cuidava da
casa para ele.
A avisou, que ia ao funeral de seu pai, bem
como depois levar suas cinzas a Sicília.
Ela disse que seu marido, que tinha um taxi
o podia levar até Casablanca, pois assim não deixava o carro no aeroporto, nem
sempre era seguro.
Ele
concordou, em menos de uma hora tinha tudo pronto, ainda lhe deu tempo de comer
alguma coisa.
Chegou em Casablanca um bom tempo antes do
voo, o bom era que Ahmed, não falava muito, tinha sido uma viagem silenciosa,
ele ia pensando na última carta de seu pai.
Tinha lhe falado de uns exames médicos, que
iria tentar a condicional, mas não falou nada que podia precisar dele.
Agradeceu o ter trazido até lá, pagou a
viagem, disse que quando voltasse, o avisaria para ir busca-lo.
Com seu passaporte consular, passou
rapidamente o controle, sem querer se viu no freeshop, como fazia quando ia ver
a mãe, comprava para ela, perfumes que gostava, sabonetes cheirosos.
Ela tinha morrido numa residência, quando
viu que não podia se cuidar sozinha, nessa época ele estavam na China, na
embaixada em Pequim, levou tempo para chegar.
Tinha tentado convence-la a ir viver com
ele, mas ela disse que lá não poderia tratar do câncer que padecia, na
residência tinha médicos.
Venderam a casa que tinham para isso,
depois do enterro, soube que ainda havia dinheiro no banco em nome dele. Guardou para um dia se aposentar.
Tinha sorte, pois com seu trabalho, ganhava
mais que trabalhando numa delegacia, além de contar como tempo duplo para sua
aposentadoria, isso seria bom, lhe faltava poucos anos para isso, tinha
conhecido muitos lugares no mundo, tinha estado na China um bom tempo, primeiro
em Pequim, depois Xangai, por último em Hong Kong, depois San Francisco, NYC,
Toronto, um bom tempo no Brasil, no consulado de São Paulo, enfim falava essas
línguas todas, não lhe foi difícil aprender o árabe, além de falar francês,
inglês, português.
Olhou sem querer um espelho numa coluna do
free shopping, não tinha uma figura linda, mas era muito parecido com seu pai,
agora tinha as têmporas com cabelos brancos, a única diferença, era que tinha
os olhos verdes de sua mãe.
Até alguns meses atrás tinha um romance com
um escritor francês, que vivia em Tanger, mas esse com a crise da idade,
preferiu romper, se sentia atraído por jovens, que se prostituiam.
Ele concordou sem pensar duas vezes, nunca
tinha vivido juntos, pois o outro era cheio de manias, não se podia tirar um
livro do lugar, tudo era super organizado.
Seu apartamento, era o oposto, pequeno,
simples, nada demais, pois se amanhã tivesse que ir embora, só levaria a roupa
do corpo.
Se queria livros, ia a biblioteca, ou mesmo
podia consultar os da universidade.
Viu a chamada do voo, se sentou por sorte
no final do avião, que estava lotado, assim podia ir dormindo.
Nem viu se serviram nada, apagou, isso ele
tinha sorte, quando dormia, era pesado, nem sonhou nem nada.
Desceu no aeroporto, recolheu sua bagagem,
tinha telefonado ao hotel que sempre se hospedava, que pelo visto era perto do
escritório do advogado. De lá ligou
para o advogado, marcaram o dia seguinte para ir ao presidio, teu irmão me
telefonou, só ira a missa, pois comentei que depois teríamos que fazer uma
leitura do testamento de teu pai.
Testamento, ele achou estranho, isso, mas
concordou.
Seu pai, nunca tinha comentado que tinha
posses, mesmo preso, pagou todos seus estudos, sua mãe em vida, recebia todos
os meses um deposito no banco, embora ela trabalhasse.
Durante todos esses anos, ele tinha pensado
que se referia a pagamento feitos pela família mafiosa a qual seu pai pertencia,
já que nunca tinha sido casados.
Telefonou ao irmão, que atendeu de má
vontade, disse que quando marcassem a missa, ele iria.
Escutou a voz de um homem dizendo que ele
deveria ir junto com o irmão.
Imaginou seu irmão fazendo um gesto para o
outro fechar a boca.
Nessa noite sonhou com seu pai, este dizia
no sonho, que sabia que podia contar com ele, vais gostar do presente que desta
vez te deixo.
A figura com quem sonhava, era seu pai, da
infância, mais jovem.
No dia seguinte foi ao presidio com o
advogado, se surpreendeu, pois não era o mesmo do julgamento, esse era um
senhor da mesma idade de seu pai.
O conheci quando jovem, uma vez defendi uma
pessoa, ele viu na prisão nos jornais me procurou.
Na verdade, eu sabia que existias, mas
dizia que estavas pelo mundo, tinha orgulho de ti, pois não estava preso a
nenhuma família mafiosa.
Eu sei por que meu irmão mais velho,
pertence a uma, leva uma vida complicada, nunca quis ter filhos por isso.
Já me informei, podemos fazer a missa no
presidio, com os amigos que ele tinha lá, mas tenho certeza que teu irmão não
irá.
Pois não me importo, ele nunca veio visitar
nosso pai, eu sempre que estava em Roma, ia, até mesmo quando vinha de férias,
tirava vários dias para estar com ele.
Na minha ficha de funcionário consta que
meu pai, está num presidio, isso nunca me importou, ele era meu pai, com todos
seus defeitos, para mim sempre foi um pai que eu gostava de conversar.
Sim, sempre estava atualizado com a vida
aqui fora. Nos últimos anos, trabalhava
na biblioteca.
Quando estiveram com o diretor do presidio,
esse disse que na verdade, o tinham matado, pois tinha interferido na briga de
dois presos, por causa de um jovem, a quem ele protegia.
Nisso tocaram na porta, a mesma se abriu,
entrou um jovem de uns vinte anos, venho trazer as coisas de teu pai, eram dois
livros, bem como um diário, nos últimos anos, quando sentiu que iria morrer de
câncer, ele começou a escrever sobre sua vida.
Ele agradeceu muito.
Resolveram que a missa seria ali mesmo no
presidio, seria sempre um problema se fosse fora, telefonou ao irmão, que disse
que não iria, não fez nenhum comentário, se veriam no dia seguinte na leitura
de testamento.
A missa foi de tarde, se admirou que muitos
presos, vieram falar com ele, apertar sua mão.
Depois o corpo seria levado para o
crematório, dois dias depois estaria disponível para ir recolher, agradeceu ao
diretor.
Este ainda lhe perguntou como era a vida em
Tanger, seu pai sempre me mostrava os postais que mandava para ele, dos lugares
aonde viveste.
Sim, ele gostava de saber.
Voltaram para Roma, o advogado o convidou
para jantar, ele agradeceu, mas pensava ir sentar-se numa igreja ali perto,
aonde sabia que tinha missa, não que fosse um católico ferrenho, mas queria
rezar pelo seu pai.
O mesmo foi com ele.
No dia seguinte, depois de tomar um bom
café da manhã, num bar ali perto, o do hotel era horroroso, estava acostumado
ao café forte de Tanger, comeu um Croisant, estava era curioso sobre o
testamento.
Deu de cara com seu irmão ao chegar ao
escritório, estava acompanhado de um homem que era parecido com ele, em sua
maneira de vestir.
Foi apresentado, entendeu que era professor
como ele.
O advogado, os levou para uma sala de
reunião, abriu uma pasta, dela tirou uma envelope que passou ao seu irmão.
Depois começou a ler, deixava para ele uma
casa em Siracusa, a casa familiar, no momento não estava alugada, bem como uma
conta no banco lá e em Roma, aonde sua família depositava dinheiro todos os
meses, como se fosse um salário.
Tinha também uma carta, se via que dentro
tinha alguma coisa.
A cara de seu irmão era ótima, pois a ele
só deixava a carta nada mais.
Me fizeram vir aqui, só por uma carta, se
levantou, foi embora sem dizer sequer até logo, o outro sim veio se despedir,
disse que sentia muito, mas a morte do pai, pesou para ele.
Não disse nada, nem fez comentário, na
verdade não conhecia o irmão, quando se cruzaram as vezes em Roma, ele fazia
era perguntas sobre aonde tinha estado vivendo.
Dizia que ele era aventureiro, somos
diferentes, gosto das coisas organizadas.
O Advogado ainda comentou, teu pai sabia
que ele tomaria mal não ter nada, mas na verdade, ele tem família poderosa na
Sicília, segundo me contou, recebe todos os meses dinheiro de sua mãe, por isso
pode se dar o luxo do apartamento que tem.
Nunca fui a sua casa, nem me convidou, mas
isso não importa.
Foram ao Banco, viu a soma de dinheiro, que
era muita, passou tudo para sua conta, a da Sicília, o advogado lhe daria uma
cópia do testamento, deveria procurar um advogado de lá.
Foram almoçar juntos, enquanto conversavam,
tocou o celular, era o advogado de Siracusa.
Queria saber quando ele vinha, bem se
queria ficar na casa familiar, mandarei dar uma limpeza na mesma, está num
lugar privilegiado.
Esse é outro amigo daquela época disse o
advogado.
No dia seguinte ele teria as cinzas, tinha
escolhido inclusive uma caixa para colocar a mesma, dali foi a uma agencia de
Alitalia, para comprar o bilhete, informou que estaria levando uma caixa com as
cinzas do pai, como devia fazer.
Coloque dentro de sua bagagem, ou se
preferir, espere, preparou um documento que ele levava as cinzas do pai.
Iria de avião até Catania, de lá alugaria
um carro para poder ir a Siracusa, muito atenciosa, a senhora lhe deu uma
dessas propagandas, sobre a cidade.
No dia seguinte, despertou com os do hotel,
dizendo que tinha lhe chegado uma encomenda, as cinzas de seu pai.
Telefonou para o irmão, mas quem atendeu
foi o outro, aí se lembrou do nome do mesmo, Otavio.
Só disse que estava indo para Siracusa,
levar as cinzas de seu pai. Este
perguntou se a colocaria no cemitério.
Sim, tenho a localização do tumulo da
família, o deixarei lá, bem como mandarei rezar uma missa.
O outro abaixou a voz, disse que quando ele
voltasse viesse visita-los, teu irmão está abalado, nunca demonstra nada, mas
agora se arrepende de nunca ter visitado seu pai.
Ainda fez duas chamadas, uma para Tanger,
para avisar aonde estaria, a outra para a central aonde estava ligado, avisando
também o que estaria fazendo, bem como o lugar.
Foi para o aeroporto, com seu passaporte
consular, passou rapidamente, apresentou os documentos das cinzas, sem
problemas.
Sentou-se no avião, como sempre tinha
pedido um dos últimos bancos, sem querer ficou rindo, isso tinha aprendido com
o pai, sentar-se aonde pudesse observar as pessoas.
Releu a carta outra vez, com o tempo na
prisão, agora entendia que ele trabalhasse na biblioteca da mesma, escrevia
melhor.
Agradecia, o fato dele nunca ter renegado
dele, foste meu filho preferido todos esses anos, bem como meu orgulho,
venceste sozinho, foste pelo mundo, aprendendo coisas.
Te deixei a casa familiar, que na verdade é
a casa que comprei para meus pais, eles sempre viveram fora da cidade, meu pai
adorava o mar, por isso comprei essa casa para eles, já morreram, deixe minhas
cinzas junto a deles, o advogado de Siracusa, sabe aonde é.
O dinheiro do banco, bem como essa chave,
abre uma caixa forte, tem mais coisas para ti.
Espero que um dia queira ao se aposentar,
viver nessa casa, esse era meu sonho, passar meus últimos dias nela, olhando o
mar, na minha cela, tenho uma foto que ele conseguiu para mim, assim me evado
destas malditas paredes.
Uma coisa deves saber, eu nunca matei esses
policiais, mas fui obrigado pela família da minha ex-mulher a assumir essa
culpa, coisas de quando entra numa família mafiosa, por favor nunca faça isso.
Espero que aproveite tua vida meu filho, te
quero muito.
A chave estava presa num cordão com uma
cruz, que o rapaz lhe tinha entregado, entre as coisas de seu pai, na mala ele
tinha o diário, aproveitaria para ler tudo lá.
Depois dormiu, só despertou ao sentir que o
avião aterrissava.
Desceu, recolheu sua bagagem, foi em
direção aonde estavam os carros de aluguel, tinha reservado para uma semana.
Era um carro como ele gostava, estilo 4X4,
como o que as vezes usava no consulado em Tanger.
Pediu para o rapaz programar para ele o
GPS, de como sair da cidade, rumo a Siracusa, a direção do advogado, o tinha
avisado que já estavam na ilha.
Prestou atenção na estrada, nunca tinha ido
a Sicília, tinha sim fotos de seus avôs, nada mais.
Sua mãe tampouco tinha parentes por lá.
Por duas vezes teve a sensação de que o
estavam seguindo, mas pensou, aqui ninguém me conhece.
Foi seguindo o Gps, até o escritório do
advogado, este o esperava na porta, mandou abrir um portão grande ao lado,
aonde ele deixou o carro.
Aqui nunca se sabe.
Acho gracioso, o mesmo olhar para um lado e
para o outro.
Depois lhe perguntou por quê?
A família a qual pertencia teu pai, veio me
perguntar se ele tinha deixado algum documento em minhas mãos, eu disse que
não, que ele tinha conta num banco em Roma eles sabiam, pois depositavam
dinheiro lá, mas se havia alguma caixa com documentos eu não sabia.
A daqui, tampouco mencionei, nunca soube o
que tinha guardado lá.
Em seguida saíram, o advogado devia estar
acostumado, foram a um café primeiro, aonde ele pediu uma agua com gás, se
colocou junto ao fundo da barra, o advogado fez o mesmo, na porta apareceram
dois tipos, quando viram como tinha se colocado, saíram.
São da família, mafiosa, tens razão estão te seguindo.
Saíram por uma porta ao lado, ali estava o
banco, entraram, foram falar com o diretor do mesmo, ele pediu para ver a tal
caixa.
Desceu com um funcionário, quando abriu a
mesma sozinho numa saleta, riu, pois ali estava outra carta, num envelope
constava o que era um acordo dele com a família, de assumir a culpa dos
assassinatos, bem como que devia depositar dinheiro para o Orestes, bem como
para ele, sua mãe, nunca os incomodar.
Deixou a mesma lá, estava ali a escritura
da casa familiar, bem como por baixo dinheiro, os primeiro euros, além de mais
de um saquinho com diamantes.
Não disse nada, fechou, só enfiou a carta
no bolso de seu casaco, que se fechava com um zíper.
Subiu, abriu uma conta em seu nome, para
aonde transferiu todo o dinheiro que estava ali, se via um deposito de semanas
atrás antes dele morrer.
Saíram do banco, os dois homens estavam
ali, com um carro, no banco detrás, se abaixou a janela, ali estava uma mulher,
viva imagem do Orestes.
Meu filho me avisou que vinhas, queria
saber o que tinha nessa caixa?
Sinto muito, mas eram coisas particulares,
uma carta me explicando a casa familiar, bem como a escritura original da
mesma, além de dinheiro é claro, está satisfeita.
Diga ao seu filho, que é um bom filho da
puta, pois nunca visitou seu pai, nem foi ao enterro, mas não deixou de avisar
sua família mafiosa.
Não sei se sabes, mas sou da policia
diplomática, muito cuidado comigo.
Se virou para o advogado foram embora, não
disse sequer até logo, em seguida ligou para o irmão, olá filho da puta, ou
seja avisaste tua mãe não é, pois sabia que realmente eres mafioso, quando
voltar a Roma divulgarei isso na universidade, passe bem.
Entraram em seu, carro, o advogado
conduzia, foram até a casa familiar, ficava, justo paralela ao mar, era como
uma sequencia da muralha antiga da cidade, um sobrado, a parte de baixo dava
para a rua, a de cima, sim dava para o mar, embaixo, uma saleta ligada a uma
cozinha um pouco antiquada, bem como um banheiro, em cima, dois quartos, um
virado para o mar, outro para a rua, um pequeno salão que dava para o mar.
Mandei arrumar para o senhor.
Se sentou olhando o mar, teria muito que
pensar.
Perguntou se da família de seu pai, existia
alguém.
Sim existe seu irmão mais velho, que vive
no campo que herdou dos pais, o resto emigrou para América, nem tenho ideia de
para aonde.
Acho melhor pedir autorização desse meu
tio, para deixar a urna de meu pai lá, não achas.
Sim sou advogado dele também.
Ele pediu um minuto para ler o que dizia a
carta.
Era muito antiga, dizia, se les isso, é que
já morri, na sua letra antiga. A casa
familiar sei que deixarei para ti, pois teu irmão Orestes é muito ligado a
família de sua mãe.
Não te quero metido nisso, fique longe
deles, a declaração do acordo, que fiz com eles, se quiseres entregue a
polícia, mas só depois da minha morte.
Guardou a carta no mesmo lugar, só deixou
ali sua bagagem, bem como as cinzas.
Entraram de novo no carro, não viram o
carro da mãe do Orestes, nem lhe interessava, foram saindo do centro antigo da
cidade, rumo a parte mais alta, dali, foram para o interior.
Chegaram a uma terra bem cuidada, cheia de
árvores frutíferas, eu avisei teu tio que vinhas, disse o advogado.
Era a cara de seu pai, mais alto, o abraçou
forte o beijando de ambos os lados, saíram uma senhora de idade, fez a mesma
coisa, ficaram os três abraçados.
Venham comer, preparei uma comida simples.
Nisso foram chegando vários homens,
parecidos com ele.
Era uma família grande, viviam todos ali na
casa imensa, combinou com o tio, levar as cinzas de seu pai ao cemitério.
Segundo o advogado me contou, eras o único
que o visitava na prisão?
Sim, antes de tudo era meu pai, sempre que
ia me visitar, podíamos conversar horas, quando foi preso, eu fazia o mesmo,
cada vez que passava por Roma, em direção a algum destino, ia até lá,
mantínhamos uma correspondência.
Sei que ele renegava o que tinha feito,
principalmente pertencer a máfia, mas isso é coisa do passado, me incentivou a
ser policial, a estudar, mandava dinheiro para meu sustento, bem como de minha
mãe, nunca nos faltou nada.
Por isso, além de gostar dele. Reconhecia que tinha feito muitas coisas,
por falta de estudos, mas isso eram coisas da sua época.
Isso digo aos meus filhos, aos netos, que
estudem, para serem alguém.
Perguntou quantas línguas falava?
Ele explicou que tinha facilidade em
aprender, mesmo o mandarim que parece difícil, aprendi facilmente, depois vivi
muitos anos na china, trabalhando para o governo, Pequim, Xangai, Hong Kong, agora
vivo no Marrocos, em Tanger, gosto muito da vida lá.
Os meninos lhe encheram de perguntas.
Perguntou se algum ia a universidade, o avô
apontou a um, que lhe pareceu mais tímido, tem direito a uma bolsa de estudos,
mas não tem como se manter em Roma.
Sem problemas, vamos conversar, herdei
dinheiro de minha mãe, agora de meu pai, te ajudo.
O rapaz muito sério lhe perguntou se isso
exigia alguma troca?
Não entendeu na hora, o advogado lhe
explicou que a máfia ajudava, mas cobrava.
Mas eu não sou mafioso, meu pai pode ter
sido, eu ao contrário sou um policial, trabalho no serviço consular.
Sim, pedirei algo em troca, que sejas um
aluno estupendo, que saibas dirigir teu próprio futuro, só isso.
Eu nem sabia dessa casa em Siracusa, ele
nunca falou a respeito, quando li, casa familiar, na hora não entendi, pensei
que morasse muita gente lá.
Mas agora vejo que não, poderia ser usada
para os que querem estudar em Siracusa, antes de ir à universidade.
Ficaram olhando para ele, como se tivesse
algum ás nas mangas.
Ele acabou rindo, vejam eu ainda tenho pelo
menos cinco anos pela frente, antes de me aposentar, nunca sei aonde será meu
próximo destino, por isso, inclusive minha bagagem é mínima, se tivesse uma
casa montada, ao me mudar, nunca poderia levar nada.
Por isso vendi inclusive a casa de minha
mãe, quando está morreu, o dia que me aposente, terei que decidir aonde viver,
mas de momento não sei.
Não necessito dessa casa alugada, mas sim
que alguém viva nela a conserve.
Depois se despediram, o advogado comentou,
teu tio nunca aceitou que o irmão entrasse para a máfia, nunca lhe fez graça
isso.
Creio mesmo que sua mulher andou os
incomodando sobre um suposto documento que teria assinado com eles.
Não sei nada a respeito, ela me perguntou,
mas nunca vi nada, se ele o tinha, deve estar em Roma.
Mas sou honesto de dizer, que não sei se
ele tinha uma conta lá, ou uma casa, se vivia com alguém, nunca falava a
respeito de seu trabalho.
Como nessa caixa, só tem dinheiro, bem como
a escritura dessa casa.
Deve ser dinheiro negro de alguma coisa que
fazia, por isso acho melhor aplicar em que meus primos possam estudar, não
necessito desse dinheiro.
Explicou que por viver fora do pais,
trabalhando para o governo, ganhava mais, bem como teria uma aposentadoria mais
gorda.
Sou sozinho, sem filhos, então sem
problemas, se me perguntas se viverei aqui, não posso responder, tenho cinco
anos, como já disse, trabalhando.
Gosto do meu trabalho, da oportunidade de
ir pelo mundo, se fosse só policial, estaria reclamando disso.
Meu irmão Orestes, me perguntou uma vez,
como eu tinha conseguido?
Lhe expliquei que tinha um professor na
academia, que achava interessante eu saber várias línguas, além da facilidade
em aprender outras, foi ele quem me levou a uma entrevista nesse departamento
do governo, eu na verdade não servi em delegacia nenhuma, nunca estive ligado
vamos dizer assim, a tentativas de subornos, pois meu negocio é justamente
vigiar o pessoal da embaixada ou consulado a esse respeito.
A anos atrás, peguei em Xangai, um
funcionário que vendia passaportes vazios para os chineses, quando lhe
perguntei por que o fazia, o mesmo tinha duas famílias para sustentar, mesmo
com o bom salário, não podia dar esse luxo.
Ele não queria jantar, queria sim ter tempo
para pensar.
Quando chegaram em frente da casa, estava
um carro da polícia, uma vizinha tinha denunciado que tinham tentado entrar na
casa.
Por sorte não tinha tirado nada do cofre,
só o documento da casa, que tinha dado ao advogado, a carta estava no bolso do
seu casaco, na sua bagagem, só o diário de seu pai.
Mas só tinham tentado entrar, pois a
polícia chegou em seguida.
Falou com o policial encarregado, se
apresentou, explicou mais ou menos a situação.
Ele mandou um carro ficar na porta.
Examinou a casa inteira, para ver se tinha
alguma coisa diferente, depois pensou essa casa, esteve anos alugada, se
houvesse algo, já teriam encontrado.
Depois se sentou num cadeirão, em frente a
janela, olhando o mar, por sorte a lua estava cheia, pode ficar apreciando,
tinha comido tanto no almoço, que não tinha necessidade de mais nada.
Ficou pensando muito tempo no assunto, se
venho para cá, sempre terei esse problema, a bendita máfia me procurando.
Passou a mão no celular, chamou o Orestes,
agradeceu ele ter informado sua mãe, mas falava tranquilamente, diga a ela, que
não tenho nada contra a família, tampouco tenho documentos relativo a qualquer
ligação, isso me disse ela, nem sabia que poderia ter algo.
Ele queria saber o que tinha no banco.
Bom a escritura do que ele chamava de casa
familiar, que comprou para seus pais, resolvi passar para meu tio, assim seus
netos podem ir à escola.
Não penso em viver aqui, tampouco sei aonde
irei viver quando me aposente, mas te digo que desde já Sicília não faz parte
dos meus planos, talvez volte para Turin, aonde fui criado, tenho amigos lá,
mas antes de tudo, vou me preparar para isso, me aposentar, significa que terei
que me ocupar de alguma coisa, para não me aborrecer.
Talvez faça um curso de escritura, para
contar os casos que acompanhei pelos lugares que trabalhei, mas até isso, dado
que sempre tudo é confidencial, teria que ter autorização do ministério.
Amanhã, vou levar as cinzas dele, como
pediu, para estar junto aos seus pais.
A família de nosso tio, é imensa, vou
ajudar seus netos a irem em frente, nunca terei filhos, então toca ajudar a uma
nova fornada de Silveri, para que nunca tenham que recorrer a máfia, como tu.
Desligou o celular suavemente, tinha
passado sua mensagem.
No dia seguinte se encontrou com o
advogado, seu tio, bem como a esposa, foram levar as cinzas ao cemitério, entre
as duas tumbas tinha um pequeno oratório, deixaram as cinzas ali.
Depois foram ao escritório do advogado, ele
disse diretamente, vou ser claro, nunca me imaginei vivendo aqui, não tenho
filhos, nem penso ter, gostaria que aceitasse a casa, como um lugar para seus
netos viverem, poderem estudar, o advogado apresentou o documento que ele
transferia todos os direitos a família de seu tio.
Depois foi com os dois ao banco, foi a
caixa embaixo, trouxe dinheiro, colocou numa conta em nome da mulher de seu
tio, creio que as mulheres, administram melhor essas coisas, assim seu neto
pode ir a universidade em Roma.
Não digo que procure meu irmão Orestes,
pois ele tem ligação com sua mãe, que pertence a família, eu mesmo não tenho
ligação nenhuma com ele.
Passaram pelo cartório, ele pagou toda os
custos da transferência, foi com os dois até a casa, o carro da polícia seguia
ali.
Recolheu suas coisas, depois os deixou no
campo, se despediu da família toda, deu um cartão a sua tia, qualquer coisa me
chamem. Passarei um dia em Roma, depois
irei para Tanger.
Não tinha comentado nada, que tinha
retirado os documentos que estavam na caixa, tampouco dinheiro, além dos sacos
de diamantes.
Dormiu essa noite lá, depois logo de manhã
viu a família inteira tomando café para irem trabalhar.
Riu muito com os pequenos que sempre tinham
perguntas a ele.
Um primo dele, ia para Catania, aproveitou
o deixou levar o carro.
No aeroporto marcou seu bilhete, se
identificou, passou pelo controle.
Em Roma foi direto com sua pouca bagagem,
ao departamento ao qual trabalhava, perguntou ao seu chefe se conhecia alguém
do grupo antimáfia.
Este chamou alguém que ao cabo de uns
quinze minutos apareceu.
Tirou uma cópia de tudo, deu para o mesmo,
não estou pedindo que limpem o nome de meu pai, ele fez uma coisa, que era
cumprir pena no lugar de outra pessoa, não sei se através desses documentos
podem fazer alguma coisa.
Depois foi ao banco aonde tinha conta,
contratou uma caixa, deixou os originais ali, bem como dinheiro e os diamantes,
quem sabe para o futuro.
Avisou ao marido da vizinha que estaria
chegando em Casablanca, além do horário.
Seu irmão pelo visto sabia que ele estava
em Roma, lhe chamou, queria conversar com ele, disse que era impossível, tinha
um jantar na casa de seu chefe.
Depois nos falamos, desceu, fechou a conta
do hotel, foi para um no próprio aeroporto, embarcou logo cedo no primeiro voo.
Riu muito quando ao se sentar no último
assento, um dos homens que entrou parecia um mafioso.
Desceu em Casablanca, entrou logo no carro
do seu vizinho, foi para casa.
Seu apartamento, por desejo do departamento
tinha um sistema de alarma, que nunca ligava, nesse dia avisou a senhora, disse
que se o mesmo soasse, chamasse a polícia, bem como a ele.
Fez uma coisa, ele mesmo, saia para
trabalhar, dava uma volta, se sentava no outro lado da rua, com um chapéu na
cabeça como um turista qualquer, ficava vigiando sua casa.
Viu o tipo do aeroporto, o seguiu, viu que
o mesmo examinava a parte traseira da sua casa.
O pegou, enfiou sua arma nas suas costas, vocês
são idiotas, podem ser reconhecidos a qualquer hora, diga a sua chefa que não
tenho nada do meu pai, deixem sua família em paz, pois senão delatarei o filho
dela, na universidade de Roma, acabarei com a carreira dele, ela escolhe.
Quando tudo aconteceu finalmente, prenderam
o marido e atual cabeça da família, com as acusações, que seu pai tinha
aceitado carregar.
Ele nem estava mais em Tanger, estava com o
Cônsul, que tinha sido transferido para Frankfurt, ele vivia dentro do próprio
consulado, dada a dificuldade de conseguir apartamento numa cidade complicada
para isso.
Seu irmão lhe chamou.
Disse que não sabia nada a respeito, só
tinha lido as notícias que chegavam ao consulado, mas ele tinha dado informação
ao agente de antimáfia da existência de seu irmão, a ligação de sua mãe.
O tinham chamado dentro da própria
universidade, inclusive seu companheiro tinha pedido que se fosse de sua casa,
me aposentam antes do tempo, querem que eu volte para Catania, aonde funciona a
família, mas economizei anos para esse caso, vou para os Estados Unidos.
Não disse nada, o processo foi largo, o
acompanhava desde fora.
Releu várias vezes o diário de seu pai, um
dia, fazendo um crucigrama, estalou em sua cabeça, o diário falava de coisas
até um pouco tontas, se poderia dizer que não tinham importância.
Falou com o policial, que foi até
Frankfurt, os dois descobriram que na verdade estava tudo em código, ali
relatava, aonde a família tinha contas, fora da Itália, explicava alguns crimes
que tinham cometido, inclusive contra juízes.
Finalmente o processo se fechou.
Quando no julgamento, ele viu por vídeo o
mesmo, o juiz perguntou de aonde ele tinha tirado essas provas, o mesmo
esclareceu que quando ele tinha morrido na prisão, seu companheiro de cela,
tinha guardado um diário dele, esse diário a simples vista parecia uma
besteira, mas estava todo em código, que ele tinha aprendido na biblioteca da
prisão.
As vezes falava com seu tio, os meninos
estavam fazendo bom uso do dinheiro.
Ele quando finalmente se aposentou,
resolveu experimentar a viver outra vez em Tanger, conseguiu seu velho
apartamento, seguiu vivendo lá.
Nunca mais soube do irmão, nem tampouco
aonde andava.
Deixou tudo que tinha nos bancos, para os
netos de seu tio, para poderem sempre ir em frente.
Um belo dia estava no Zocco fazendo
compras, sentiu um frio na espinha, mal teve tempo de se voltar, para encarar o
homem que o matou. Mas olhou nos olhos do mesmo, era seu irmão.
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