HERANÇA
Voltava ao Brasil,
depois de mais de 25 anos, tinha saído do pais, com uma mão na frente outra
atrás, apenas com uma bolsa de estudos, que mal dava para pagar o quarto que
viveu durante o tempo que estudou na universidade. Trabalhava duro nos horários que lhe
sobravam. Não era como os outros estudantes que levavam as aulas na flauta, ele
tinha que ser o melhor.
Quando terminou
medicina, foi trabalhar na urgência de um dos piores hospitais da cidade, ele
entendia é claro, era considerado como sendo do terceiro mundo.
Mas isso lhe
valeu, pois era trabalho duro, tinha que ter instinto, ser rápido no que fazia,
nas decisões a tomar, com isso ganhou respeito.
Depois de cinco
anos, conseguiu um contrato fixo, que foi quando pediu o “Green Card”, deixou
de ser considerado um estudante.
Mal tinha tempo
para sua vida particular, pois chegava rendido ao seu pequeno quarto,
abarrotado de livros, suas únicas posses.
Finalmente se
pode mudar para um apartamento pequeno, um pouco maior do quarto que vivia, a
vantagem era que tinha banheiro, além de uma pequena cozinha dentro de um
armário.
Agora se virava
para fazer algo de comida, deixar de comer a comida do hospital.
Todos o queriam
pela sua educação, modo de tratar não só os pacientes, como as enfermeiras os
colegas.
As vezes nos
momentos de caos, ele tinha a cabeça bem plantada em cima dos ombros, devia
principalmente tudo a sua mãe, ela o tinha incentivado a tudo isso. Viviam numa fazenda no sul, entre seus
irmãos, ele era o único que gostava de estudar, os outros já trabalhavam na
lavoura enquanto ele andava quase cinco quilômetros para ir à escola. Ia descalço, na entrada da pequena cidade,
tinha um riacho, ali lavava os pés para colocar as alpargatas, isso para não
gastar as mesmas, no recreio, todos jogavam bola, ele não, estudava, ou estava
na pequena biblioteca da escola.
Claro que sofreu
bullying, mas achava natural, pois os outros não iriam a lugar nenhum, ele ao
contrário queria mais. Ajudava a mãe,
nos partos das vacas, de qualquer animal da fazenda.
Seu pai era mais
bem um capitão, dava ordens, mas fazer não fazia nada.
Morreu um ano
depois dele ter ido embora, num puteiro da cidade, vítima de um enfarte.
Sua mãe escreveu
para um irmão que vivia com a família no Rio de Janeiro, lá foi ele viver com
este, além de suas filhas, tinha cinco, com uma pequena mesada que sua mãe
mandava, tinha dinheiro para ir à universidade.
Aprendeu inglês, pois escutou um professor falando de bolsas de estudo. No Brasil, quando muito seria um funcionário
publico em algum hospital caindo aos pedaços.
Quando ganhou a
bolsa, estava para acabar a universidade, mas sabia que ao chegar teria que
fazer uma adaptação do curriculum, preferiu recuperar o último ano que tinha
feito no Brasil, inteiro, pois assim sabia mais. Nunca se escutava nenhuma reclamação, como
dizia sua mãe, era o que havia, tinha que aceitar sem reclamar.
Se escreviam
todos os meses, ela tinha assumido a cabeça da família, pois os dois irmãos mais
velhos eram como o velho.
Nunca lhe mandou
dinheiro, a família era imensa, havia que sustentar a todos.
A ele não lhe
sobrava dinheiro para tomar um voo, ir visitar a família, acabou se acostumando
a levar sua vida em frente.
Fez todas as
especializações possíveis, que o hospital lhe oferecia, as que lhe
interessavam, pagava por fora, mas fazia.
Acabou sendo
convidado para ir trabalhar num dos melhores hospitais da cidade, Mount Sinai
Hospital, era especializado em cirurgia, finalmente ficou folgado, alugou um
apartamento maior, perto do Hospital, todos os dias travessava o central Park.
As vezes o
confundiam com um médico alemão, tinha que explicar que sua mãe era alemã,
judia que tinha fugido para o Brasil, nada mais ao começar a guerra, era uma
criança, depois se casou com um descendente de portugueses, daí seu nome
complicado, Gunther Silva.
Era alto, loiro,
de olhos azuis, ao contrário de alguns de seus irmãos que eram morenos como o
pai.
Os companheiros
lhe perguntavam por que não se casava, ele respondia ao mesmo, já olhaste teu
casamento?
Era difícil não
ter horários, as vezes fazia um turno de 36 horas sem sair basicamente do
hospital, nos poucos momentos livres, ia até o Central Park em frente, com
café, um sanduiche na mão, se sentava, fechava os olhos, relaxava. Esse contato com a natureza no meio do caos
da cidade, do hospital, lhe faziam recuperar forças.
Tinha algumas
aventuras, com homens, mulheres, alguém que lhe interessava ao momento, mas
quando queriam algo mais sério, pulava fora, tinha certeza de que não amava a
pessoa.
Quando chegou a
chefe, seu trabalho era treinar os jovens estudantes, a maioria não ia a lugar
nenhum, mas era exigente. O filho de um
de seus companheiros, foi reclamar ao pai, que ele era muito duro. O pai se matou de rir, não sei por que
fizeste medicina, ele está te ensinado o duro que é essa vida.
Nunca se envolvia
com nenhum aluno, apenas ajudava os que se destacavam mais.
Estava já com
todos os cabelos brancos, o usava muito curto, para não ter trabalho, sempre se
vestia modestamente. Hoje em dia,
poderia ter um apartamento de luxo, com o que ganhava, bem como o carro do ano,
tinha sim uma bela conta no Banco, dinheiro aplicado para se um dia se
aposentasse.
Só ficou sabendo
da morte de sua mãe, pois estranhava não receber cartas, porque escreveu ao
tio, que lhe telefonou, ainda segues com a coisa de escrever, quando todos usam
o E-mail.
Tua mãe faleceu a
um ano, há uma grande confusão com a herança, teus irmãos nunca procuraram te
localizar, querem te dar como desaparecido.
Sem saber muito
por que, pediu férias, não tinha nada urgente para fazer.
Quando visitou
seu tio, esse ria muito, tinha o hábito de quando o via estudando, passar a mão
pela sua cabeça, pois suas filhas, todas tinha que fazer muito esforço para
estudar.
Todas estavam
casadas, cheias de filhos, algumas sequer tinha usado o que tinham estudado,
eram simples donas de casa.
Ele comentou o
pouco que sabia de seus irmãos, quando chegou a sua cidade, sequer reconheceu a
mesma, não sabia se localizar na mesma, foi até a casa da família, foi um
escândalo, o irmão mais velho, disse agora podemos realizar a leitura do
testamento.
Ele ficou num
hotel, pois ninguém se ofereceu para hospeda-lo, a não ser um sobrinho que era
muito ligado à sua mãe.
Ela sempre me
falava de ti, para me incentivar a estudar, mas ao meu pai, isso lhe parecia um
absurdo.
Toda a herança está
no meio de uma grande confusão, pois a maioria já meteu a mão para pagar
dívidas.
Ele esclareceu ao
sobrinho, que estava chateado somente porque não o tinha avisado de nada, que o
queriam dar por morto ou desaparecido.
Quando foram
fazer a leitura do testamento, os irmãos ficaram furiosos, pois ela como ajudava
a todos, bem como suas famílias, deixava a ele, a parte principal da fazenda,
incluída a casa que ainda existia, outra parte a esse seu sobrinho, pois ele
tinha estudado veterinária, era ele quem cuidava dos animais.
Os irmãos estavam
justamente tentando vender a parte que lhe tocava. Fizeram então uma besteira, o agrediram
verbalmente, o chamaram de tudo. Uma
coisa que tinha aprendido com sua mãe, era nunca levar desaforo para casa.
Nesse momento,
aconteceu uma coisa, recebeu uma quantidade de visitas das mulheres, filhos dos
mesmos, que viviam todos acima de suas posses, queriam que ele abrisse mão de
sua parte. O único que não lhe pediu
nada, foi justamente o que era veterinário.
Jonas lhe disse
que tinha uma clínica, que desde criança ajudava a avó a cuidar dos animais,
inclusive tinha brigado com seu pai, pois esse vivia do conto. Sua mãe era professora, basicamente era ela
quem sustentava a casa.
Fez uma coisa que
nenhum dos outros esperavam. Passou tudo para o sobrinho, com uma condição,
seu irmão nunca poderia usufruir de nada, assim ele podia ajudar sua mãe.
Ela tinha sido a
única que o tinha tratado bem, era educada, tinha mais dois filhos, com uma
diferença de idade do maior, os obrigava a estudar na marra, não queria nenhum
vagabundo na família, fez uma coisa que o próprio não esperava, pediu o
divórcio, assim se livrava dele de vez.
Um dia foi jantar
com esse sobrinho, seus irmão, bem como sua mãe. Resolveram todos os problemas,
ele preferiu passar para o papel tudo que tinham combinado, foi franco, irei
embora, não pretendo voltar nunca mais ao Brasil.
Feito isso, deu
ao sobrinho seu contato.
O resto da
família, basicamente ficou sem nada, pois a maioria das terras que lhes tocava,
já estavam presas as dívidas que tinham.
Ainda comentou como ela fazia, saíram com muito sangue português nas
veias.
Nenhum deles veio
se despedir, a não ser o sobrinho Janus, sua mãe era descendente de poloneses.
Foi embora, nada
mais o prendia finalmente ali, o seu único elo que era sua mãe, estava desfeito.
Ficou uns dias no
Rio, procurando ex-colegas da universidade.
Só um tinha um certo renome, se encontraram para tomar uma cerveja.
O outro disse
logo, que ele era um completo gringo, sua postura, misturava palavras em
inglês, ao falar de coisas técnicas.
Esse tinha um bom
emprego, trabalhava numa das melhores clínicas do Rio de Janeiro. Deu inclusive uma palestra sobre os
procedimentos que usavam aonde trabalhava.
Voltou para NYC,
sabendo que aparentemente nunca mais voltaria ao Brasil.
O trabalho tinha
se acumulado, dois dias depois estava fazendo um turno de 36 horas, como se
fosse uma coisa normal, tinha feito uma cirurgia cardíaca de madrugada de
urgência, um homem tinha entrado em urgências devido a um enfarte numa festa.
O operou, como
fazia com todos, sem se importar muito com o nome, depois escutou comentários
das enfermeiras, bem como dos outros médicos, que tinham operado um dos atores
mais importantes de uma geração, que o mesmo vivia no Edifício Dakota, um dos
mais exclusivos da cidade.
Depois foi vê-lo
na UTI, o mesmo estava voltando a si, lhe agradeceu ter salvado sua vida.
Nem perguntou seu
nome, o examinou tranquilamente, o outro não parava de o olhar, soltou, o
senhor é sempre tão sério assim?
Ele deu um
sorriso, estou trabalhando, dizem que não sou muito simpático, pois estou mais
preocupado com o paciente que com que sorrir, pode ser que quando o mesmo
esteja recuperado totalmente, eu seguro de que poderei conversar, quem sabe
sorrio, principalmente se o mesmo segue os que estou falando com ele.
Por exemplo,
devias deixar de fumar, de beber, comer comida mais limpa de gordura, havia em
volta de seu coração, uma grossa capa de gordura.
Quando passou
para um quarto normal, quase uma suíte, para os clientes ricos, chegou, havia
uma verdadeira festa, inclusive tinham champagne. Expulsou todos os amigos do homem para fora,
este estava comendo um doce, o retirou de sua mão. Já vejo que perdi meu tempo, lhe operando, o
devia ter deixado morrer em urgências.
Já estas fazendo
tudo que eu proibi. Se queres posso te
dar alta imediatamente, para o senhor ir morrer no conforto de seu
apartamento. Chamou a enfermeira
responsável dali, perguntou se algumas das pessoas eram parentes do
senhor. Só podem entrarem se forem
parentes, está proibido as visitas, nunca o tinham visto furioso.
Odiava isso, o
menosprezo que alguns pacientes tinham, os proibia de fumar, as vezes entrava
num quarto o paciente estava fumando.
Lhes dava alta
imediatamente, pois estavam ocupando um lugar de uma pessoa que necessitava
quarto, se queriam morrer que fossem para casa.
A diretora de
relações públicas lhe chamou a atenção, se ele não sabia que o paciente era um
ator famoso.
Lhe respondeu
francamente, estou cagando para isso, é meu paciente, exigiu horas de meu trabalho,
quando podia estar atendendo a outro, para mim é igual a um homeless que tenha
que atender. Falou isso tudo, com a
porta do quarto aberto.
Antes de ir para
casa, passou para ver o paciente, este lhe sorriu, soltou enquanto o examinava,
que era um homem duro, preciso de um assim em minha vida.
Eu se fosse o
senhor, revia toda sua vida, não chegaste aonde chegaste sem sacrifício, agora
estas cercado de sanguessugas que vivem a sua sombra, pense bem no que quer da
vida, senão sou franco, prepare seu testamento, pois terás pouco tempo de vida.
Foi embora para
casa, ele que nunca via televisão, procurou algum filme do mesmo para ver.
Viu um que fazia
papel de cowboy, em guerra com os índios, acabou torcendo pelos índios.
No dia seguinte
lhe contou isso, tinha visto o filme, que tudo bem o roteiro era o mesmo de
sempre os brancos sempre venciam, que ele tinha torcido pelos índios, inclusive
nem vi o final pois sabia como acontecia.
Devias ter feito
algum papel de índio, para vencer os brancos.
O outro ria
muito, eu as vezes discutia isso com os diretores, ou mesmo roteiristas, até
que deixei de fazer esse tipo de filme, me queriam porque me descobriram
justamente num rodeio, eu venho de uma família humilde, depois de muitos filmes
no gênero, quando acabou o contrato que me prendia ao studio, passei a fazer
filmes que gostava do roteiro, lhe disse o nome de um, talvez o meu melhor
filme.
Perguntou se ele
era alemão?
Sou descendente
nada mais, na verdade sou brasileiro, embora me sinta americano, pois me
naturalizei.
Uma semana depois
lhe deu alta.
No dia seguinte
quando chegou em casa, encontrou na porta um ramo de flores, com um cartão do
mesmo, com um número de telefone.
Chamou
agradecendo, mas isso não era necessário, gostava de flores, em seu habitat
natural, pois como quase não parava em casa, essas morriam.
O convidou para
jantar, ele disse que sim, pois estava morto de fome.
O outro lhe
perguntou aonde, ele disse um restaurante pequeno perto de sua casa, lhe deu o
endereço, vou tomar um banho, trocar de roupa, te espero lá.
Finalmente sabia
o nome do outro, Joseph, embora tivesse um nome artístico, diferente.
Já viste algum
Cowboy judeu?
Riram com isso,
foi franco, nunca tive tempo de ir a um cinema, ou teatro, meu tempo é muito
limitado, trabalho 36 horas, ou 24 horas, depois tenho dois dias para
descansar. Esse tempo aproveito,
escutando música, lendo, venho aqui jantar, pois é uma comida caseira. Inclusive operei a proprietária, por isso me
tratam bem.
Já o tinham reconhecido,
ela os levou a uma sala mais reservada, só os dois.
Joseph ia pedir
vinho, não disse nada, se vais beber, me levanto vou embora, eu nunca bebo, nem
tampouco fumo, já te avisei.
Não sabia, ia
pedir para ti, claro iria beber um copo.
Nada disso. Tens
que pensar que não funciona assim. Tens
que ser radical, se fosse você, eliminava festas, coisas assim.
Terei que fazer
um exame daqui uns dias um médico de uma seguradora, pois tenho contrato para
um filme, por sorte filmo aqui na cidade.
Se vais fazer um
filme, te aconselho a te cansar o menos possível, faça um contrato, que deves
trabalhar só durante um determinado tempo, com um descanso no meio.
Nunca ninguém se
preocupou comigo, querem sim ganhar dinheiro.
Ontem me
convidaram para uma festa, o que tem sido uma tônica nos últimos anos, desde
que estou sozinho, pois meu companheiro adorava festas. Quando ele morreu, os mesmos amigos dele, que
são ricos, me convidam, as vezes creio que para fazer número.
A muito não faço
o que gosto.
Tenho um rancho
no Texas, aonde quando vivia em Hollywood, escapava mais, mas agora, fico sem
motivação.
Te amas a ti
mesmo?
Sim, mas amei
esse homem durante muitos anos. Nos
últimos ele como era mais velho, queria como que recuperar sua vida de jovem,
fomos nos afastando, pois queria festas, relações com jovens, eu como o queria,
aceitei.
Eu jamais
aceitaria isso, seria como deixar de me respeitar.
Comentou com ele,
que nunca tinha relações largas por isso, não lhe sobrava tempo para se dedicar
a ter uma família, a conviver diariamente com uma pessoa.
A maioria dos
meus colegas acabam divorciados, com vidas complicadas, ficam tentando um
segundo matrimonio, até um terceiro.
Para mim isso é perder tempo.
Contou que vinha
de uma família grande, que quem vestia as calças em casa era sua mãe, pois meu
pai era um boa vida, morreu num puteiro.
Contou como tinha
estudado, motivo pelo qual levava tudo a sério, nunca tive tempo para ir de
aventura em aventura.
Acho que
deverias, protelar esse filme, tirar um tempo no teu rancho, recuperar tua
vida, saber o que queres realmente. Precisas de dinheiro?
Não, nem filhos
tenho, apenas o vício de estar ocupado.
Depois do jantar, subiu com ele ao seu apartamento, nunca venho com
ninguém aqui, é o meu paraíso.
Joseph ficou de
boca aberta, pois era totalmente espartano, tinha sim muitos livros.
Se sentaram em
duas poltronas, ficaram conversando algum tempo. Se visses o apartamento que vivo, são
necessários quatro empregados para manter o mesmo. Tudo bem recebi uma boa herança do meu
companheiro, afinal o apartamento era dele, não meu.
Ficaram ali
sentados de mãos dadas, depois o levou até um taxi, para que fosse para casa,
lhe deu o número de seu celular, me chame sempre entre os horários, noturnos,
assim posso falar sem chamadas precipitadas.
Joseph, se
despediu, vou seguir teu conselho, farei a revisão, creio que esse filme será
muito violento para quem saiu de uma operação.
Os produtores não
aceitaram o que ele pedia, recusou o papel, se encontraram mais duas vezes, ele
iria para o rancho, o convidou para um jantar em sua casa.
Riu muito, agora
entendo tua cara quando viu o meu apartamento, por aonde olhasse se via luxo.
Acabaram na cama,
fizeram sexo em silencio, um explorando o outro, nunca tinha se sentido bem
assim com ninguém. Depois deitados um
ao lado do outro, sem que Joseph percebesse, ele estava controlado seu ritmo
cardíaco.
Rindo depois lhe
deu alta, despertaram pela manhã, abraçados, era a primeira vez na sua vida,
passaram seus dois dias livres juntos, ele voltou ao trabalho, com um sorriso
na cara, Joseph viajou para seu rancho lhe chamava todos os dias.
Falavam do que
tinham feito durante o dia.
Este lhe dizia
que ele tinha razão, estava precisando disso, se livrar das coisas toxicas, disse
que saia todos os dias com o capataz, para olhar suas terras, seus
cavalos. Disse que estava pensando em
aumentar a criação, que no momento não tinha nenhum convite para filmes.
Quando teve uns
dias livres foi para lá, tomou um avião até Dallas, um sorridente Joseph, o
esperava, estava mais magro, mais musculoso.
O rancho, era
muito bonito, ficava na parte alta depois de um bosque. Essa parte deixei sempre protegida. O capataz era um mexicano, junto com sua
mulher, o receberam bem.
Ele fazia muitos
anos que não andava a cavalo, contou que tinha ajudado muitas vezes sua mãe nos
partos de vacas, cavalos.
Depois
conversando contou que tinha um sobrinho que era veterinário.
Joseph contou que
o da vila próxima se aposentava, não sei se é afastado mas ninguém quer o
cargo.
Quando voltou a
NYC, a primeira coisa que estranhou era que sentisse falta do Joseph, algo não
encaixava, as vezes se voltava para o lado para fazer um comentário com ele.
Falou com o
sobrinho Janus, este lhe contou que os tios tinham entrado na justiça, querendo
reaver esse pedaço de terra, alegavam que eles tinham trabalhado a mesma muitos
anos, que tu estavas em outro pais, que isso não era justo.
Até mesmo meu
pai, participa disso, na verdade estão todos arruinados.
Falou com ele, do
que o Joseph tinha falado, falas inglês?
Sim, estudei,
muitos dos livros sobre cavalos, fala nisso.
Falou com o
Joseph, esse ria, o tio envia o sobrinho, para ocupar seu lugar. Mas disse isso rindo, ao final disse que
sentia demais sua falta.
Quando seu
sobrinho telefonou outra vez, a coisa estava feia. Tinha uma oferta de compra.
Lhe disse que
vendesse, deixasse o dinheiro com sua mãe, quando tudo isso tivesse realizado,
que lhe mandaria um bilhete de avião para vir desde São Paulo até NYC.
Meses depois ele
avisou que chegava, ele agora conseguia pelo tempo de serviço, trabalhar uma
semana, tirar de folga uma, ia sempre para perto do Joseph.
Quando o sobrinho
chegou, conversaram muito, o obrigava a falar inglês, para se acostumar, o
deixou aproveitar para conhecer a cidade, depois foram para Dallas.
Contou que Joseph
era seu namorado, que pela primeira vez na vida gostava de alguém.
Joseph quando o
conheceu, de brincadeira disse que o trocava pelo tio. Este ficou de boca aberta, pois tinha visto
muitos filmes com ele.
Mas gostou de
tudo que viu no rancho, disse que diferia completamente do que se via no campo
no Brasil, examinou todos os cavalos, duas raças ele conhecia pouco, passava
horas conversando com o capataz, sobre eles, como o fazia ou deixava de fazer,
Joseph lhe apresentou o veterinário, começaram a conversar, esse ria, dizendo,
pela primeira vez, vem alguém a uma entrevista, sem bancar o esperto, o sabe
tudo.
Janus, começou a
trabalhar com ele, vivia na vila, mas nas épocas que ele estava, vinha
conversar com o tio.
Já tinha planos
de trazer a mãe, bem como os irmãos.
Teriam sim que tirar visto correspondente, o veterinário tinha arrumado
para ele, o green card, mas para o resto da família ia ser mais complicado. Joseph moveu seus conhecimentos, conseguiu
para ele.
Numa das suas
estadias, um homem do rancho se sentiu mal, ele o atendeu. O levou até o hospital da cidade, explicou
que tinha remediado, mas que o mesmo precisava de uma operação. Eles não tinha especialistas, ele disse que
se a sala de operações tinha tudo, ele podia fazer, se identificou ao diretor
do mesmo, deu suas referências.
Este concordou
com ele, o outro muito esperto, chamou os que estavam esperando para serem
operados, ele fez todas as que podia.
O outro que o
acompanhou nas operações, disse que era seu sonho ter alguém assim ali, imagina
ninguém quer ficar numa cidade pequena, embora tenhamos todo que se necessita
de mais moderno, nunca conseguimos ninguém.
Joseph perguntou
por que ele não assumia esse posto, se era pôr dinheiro ele ajudaria.
Tinha colocado à
venda seu apartamento no Dakota, antes tinha mandado vender todas as obras de
arte dentro do mesmo. Isto por si só era
um bom dinheiro.
Ele aproveitou,
para fazer um exame geral nele, este ria, pensa que não percebo quando me tiras
a pressão, só falta mesmo fazer outros exames, porque alguns fazes muito bem na
cama.
Lhe chamaram para
fazer um filme em NYC, aceitaram suas condições de filmagens. Ele ficou no apartamento do Gunther, já que o
seu estava vazio para venda, o problema era que o comprador tinha que se apreciado
pelos outros moradores, não gostavam de escândalo.
Durante o tempo
que estivesse fora, Janus ajudaria o capataz.
Aproveitaram
muito esse momento de conviverem juntos, de noite se sentavam para conversar.
Joseph disse que os outros atores, estranhavam dele em seguida a filmagem ir
para casa, estavam acostumados a saírem para beber, as vezes de noite o ajudava
com seu texto.
Quando acabou a
filmagem chamaram o Joseph para fazer uma série de televisão, que a história se
passava em Dallas, ele fazia o papel de um xerife mal-humorado.
Filmariam durante
semanas seguidas, mas em ritmo relaxado, depois ele tinha meses livres para
fazer o que quisesse. Depois de
conversarem, aceitou.
Ele cada vez que
ia, tirava um ou dois dias para atender os casos que fosse necessário para
operações ali na cidade. Com isso
começou a fazer amizade com o diretor, as enfermeiras, outros médicos que o
vinham consultar para outras coisas, já que ele tinha mais experiencia.
A oferta era boa,
mas claro nem chegava aos pés do que ganhava em NYC. Para ele cada vez mais era difícil se separar
do Joseph.
Sentaram-se para
conversar, aliás ele nunca tinha feito isso com ninguém, tinha ido por livre
toda sua vida. Quando se deu conta,
começou a rir, teve que explicar.
Teve que dizer
que ele era muito importante para ele, que tinha um sentimento profundo, que
sentia sua falta quando estava em NYC, que ficava louco para voltar.
Eu sinto o mesmo,
quero estar contigo, amei meu antigo companheiro, mas contigo tenho uma coisa
que não tinha, cumplicidade, além dessa vida simples que temos. Gosto disso, me deu estabilidade.
Quando aparecia o
Janus, era como se tivesse ali um filho deles, era outro com quem se podia
conversar de tudo.
Breve chegariam
sua mãe com seus dois irmãos. Estava
procurando uma casa, para eles viverem, com o que ganho, tudo bem, pois o
dinheiro das terras, traduzidos para dólares não era muito, mas os meninos
poderão ir a uma escola melhor, quem sabe terão um futuro.
Sei que minha
mãe, conseguira algum trabalho.
Notou um dia que
a senhora que cuidava da casa, a mulher do capataz, não tinha boa cara, a
examinou, a levou imediatamente para o hospital, só deu tempo de fazerem uns
exames rápidos e sala de operações, por pouco morre na mesma.
Já não poderia
executar todas as tarefas, quando a mãe do Janus chegou, ficou no lugar dela, tinham
se conhecido pouco, mas era uma mulher como sua avó, feita a si mesma. Os meninos iriam ter professores para ajudar
a se preparem para integrar o sistema americano. Ele se ofereceu para pagar, o sobrinho disse
que não, já fizeste muito por nós.
Sua mãe comprou
um jeep de segunda mão, todos os dias as sete da manhã lá estava, para cuidar
dos café dos vaqueiros, bem como o do Joseph.
Enquanto isso,
uma das pessoas que ele tinha operado, teve que fazer uma revisão foi a Dallas,
o médico que a atendeu, viu seu nome nas fichas do cliente.
Comentou com o
diretor do hospital, esse homem vem de dias livres, aproveita para operar as
pessoas que não podem vir aqui. Seria
uma excelente aquisição para o nosso hospital, com o nome que tem.
Lhe fizeram uma
oferta, ele poderia trabalhar no hospital, bem como atender o da cidade, as
distancias não eram grandes, ele podia ir e vir.
Janus estava
fazendo uma pós-graduação, em veterinária, se especializando em cavalos.
Já tinha ido com
o capataz a várias feiras agrícolas para olhar os mesmo, dentro do que queria o
Joseph.
Pensou bastante,
estaria perto também do sobrinho que tinha aprendido a apreciar, bem como dos
outros dois, seriam sua família além do Joseph.
Um dia dentro do
tempo que passava lá, de noite os dois na cama, Joseph, lhe pediu em casamento,
nunca fui tão feliz em minha vida, queria que fosse para sempre.
Ele riu muito,
conhecia doutores jovens que tinham se casado com companheiros, mesmo lá o seu
enfermeiro predileto para cirurgias quase se tinha casado.
Quando falou com
ele, que talvez fosse embora, ele perguntou se não tinha um lugar para ele,
mexeu os seus contatos, falou com o diretor do hospital da cidade, pois era uma
superaquisição, era um enfermeiro especializado, com muitos cursos, inclusive
tinha sido enfermeiro no exército, sabia atender casos de emergências.
Chegou a um
acordo como hospital, lhe faltava pouco para aposentadoria, saia ganhando.
Aceitou os dois
convites, ia primeiro assumir o hospital da cidade, gradativamente iria
assumindo casos em Dallas.
Riu muito, seu
enfermeiro preferido, era descendente de mexicanos, Jose Rios, quando o
apresentou a Janus, dizendo que ele procurava um lugar para morar, viu que se
sentiam atraídos um pelo outro. Tinha
deixado seu apartamento fechado em NYC, se tudo desse certo, ele depois
alugaria um em Dallas para os dias que estivesse ali.
Logo a coisa
funcionava.
O primeiro Dia de
Ação de Graças que eles não estavam acostumados, passaram todos juntos.
Depois o Natal,
os meninos estavam se adaptando bem, tinham que se esforçar para acompanhar as
classes, mas eram jovens, se saiam bem.
Os dois eram da equipe de basquete da escola, eram bons nisso.
No principio do
ano seguinte, ele começou atender turnos de 24 horas no hospital de Dallas,
depois fazia durante o dia, dois dias na cidade perto. Assim estava sempre ocupado.
Um dia descobriu
que Janus tinha um romance com José Rios, só sua mãe sabia, pois ela passava
cada vez mais tempo no Rancho, a mulher do capataz, estava muito frágil.
Ele sempre
procurava atende-la, mas claro a idade não ajudava, teve uma conversa séria com
o marido, creio que deverias fazer com que ela deixasse de trabalhar, se cansa
muito.
Já fez muito na
vida.
Ele sorriu, quero
ver o senhor dizer isso para ela, essa mulher tem bicho carpinteiro no corpo, é
incapaz de ficar quieta, agora se levanta cedo para ensinar tua cunhada a fazer
pão, embora a outra faça o esforço maior, ela quer estar lá, para que tudo
corra bem.
Sempre fez isso,
as duas se dão bem, tua cunhada não a deixa fazer nenhum esforço.
Mas quando chegou
o inverno a senhora pegou uma gripe, que foi terrível, pois todos estavam com
gripe. Morreu durante a noite.
O enterro foi
concorrido, pois ela era conhecida e bem quista na cidade. Os meninos agora
iriam à universidade. Um queria fazer
medicina ali mesmo em Dallas, se chamava Otto, o outro queria fazer artes
gráficas em San Francisco. Entre todos
pagavam a universidade dos dois, o mais sem vergonha era o Per, embora seu nome
fosse Pernambuco, escolhido pelo pai, como os amigos não conseguiam falar,
abreviou para Per.
Otto viveria no
apartamento que tinha alugado em Dallas, acabou vendendo o apartamento de NYC,
colocou o dinheiro num banco para render, assim pagava essas despesas.
Sua cunhada
Berenice, assumiu diretamente o rancho, tinha um quarto na casa, mas dois anos
depois se casou com o capataz que era um pouco mais velho do que ela.
Os filhos acharam
graça, pois ele era o extremo oposto do pai deles, estava sempre fazendo alguma
coisa. Riam dizendo que o pai, era um idiota,
tinha perdido tudo. Tempos atrás, tinha
feito contato, perguntando se podia vir, Janus disse que a mãe tinha se casado
outra vez, aí desistiu.
Agora era como se
fossem realmente uma família, nas festas, do final do ano, Per que estava mais
longe vinha para ficar com a família. Da
última vez, veio com uma garota linda, também uma mistura de mexicana, morena
com uma cara de boneca. Os dois agora faziam
estagio numa empresa de desenho gráfico.
Otto, parecia
mais filho dele, era o melhor aluno de medicina, durante as férias fazia
estágios com ele, no hospital ali da cidade.
Se saia muito bem. Pediu
orientação, sobre como devia fazer depois.
Quero operar como o senhor.
Sempre o chamava
assim, Doutor Gunther, quando lhe perguntava por quê?
Respondia que era
para não esquecer quando estava no hospital.
Dois anos mais estava em urgências, disse que tinha encontrado seu
lugar.
A clínica de
veterinária agora em termos era do Janus, o velho o tinha como seu filho,
passou a viver em cima da mesma com o José Rios, os dois se davam muito bem.
A criação de
cavalos agora ia bem. Joseph tinha
renovado o contrato para mais dois anos da série, agora quando o chamavam para
fazer um filme fora, examinava bem o roteiro, dizia que não, que queria seu
repouso de guerreiro. mesmo que a serie
tinha ganhado vários prêmios, ele preferia ficar ali.
Quando Janus se
casou com o José Rios, os dois aproveitaram fizeram os papeis se casaram
também.
Tempos depois Per
já tinha dois meninos, vinham sempre para o Rancho nas férias, Berenice, ficava
como louca com os netos.
Per acabou vindo
tomar conta da filial da empresa em Dallas, assim estavam todos juntos outra
vez.
A vida seguiu em
frente se acomodando, resolvendo os problemas. Segundo pensava, a única vantagem de ter ido
ao Brasil, por causa da herança, tinha sido, conhecer o Janus que queria como
seu filho, bem como acabar tendo uma família dele.
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