PHASE

 

                                                   

 

As fases da vida, as vezes assustam quando olhas para trás, mas é uma realidade que não tem volta a trás.  Voltava ao seu lugar de origem em NYC, mais precisamente em Brighton Beach, de aonde tinha escapado a muitos anos atrás.

A meses tinha descoberto com a morte de seus avôs que ainda mantinha as propriedades na cidade, alugadas, uma casa, aonde tinha sido criado, a loja no passeio, bem como o hotel, tudo isso estava alugado.  Contratou um advogado, para colocar tudo isso a venda, pois não pensava voltar.

O advogado lhe disse que os interessados eram russos.

Isso lhe importou a mínima, afinal sua mãe era russa de Odessa, que importava de aonde vinham as pessoas, se iam pagar.

Passeou por toda a linha de praia aonde tinha vivido sua infância, bem como juventude, era um panorama diferente do lugar que vivia agora.    Não existia comparações possíveis, o que lhe importava era que tinha encontrado a paz.

A história da família remontava a muito tempo atrás, seus avôs não sabiam explicar, como seus antepassados tinham chegado a Brighton Beach.  Talvez pelo mar, porque eram da Jamaica.

Segundo seu avô, era por isso, seu pai, amava o mar, uns diziam que exercia a quiromancia, outros que era um bruxo, ou que fazia vodum.  O primeiro lugar que comprou, foi justamente essa loja pequena no passeio da praia, dizia que assim os deuses do mar lhe favoreciam, viviam nos fundos, apertados, mas bem.

Só tiveram meu avô, não dava para sustentar mais filhos.  Ele se dedicava a ler a sorte das pessoas, a indicar os caminhos a seguir, nunca fazia o mal para ninguém.

Meu avô começou a ir a escola, ia com uma menina da vizinha, uma mulher russa, que tinha escapado de lá através de Kiev, depois Finlândia.   Se casou com um americano, que a deixou com uma filha pequena, desde então viviam numa loja ao lado, ela vendia souvenires.

Os dois iam a escola juntos, não podiam ser duas figuras mais dispares, ele moreno, mais para o escuro, com os cabelos compridos, amarrados em tranças, como seu pai, ela loira de olhos azuis, muito branca.   As vezes de tarde escapavam para a praia.

Segundo ele, tinham a mesma idade na época, uns 10 anos, nunca se separaram, se amaram a vida inteira, ele dizia que nunca tinha conhecido outra mulher mais bonita do que ela.

Mesmo com a idade, seguia bonita.

Ele como não podia pagar a universidade, entrou para a polícia, depois de anos trabalhando em no Brooklyn, conseguiu ir subindo, acabou na delegacia de Brighton Beach, comprou uma casa, se casaram, tiveram dois filhos, meu pai, bem como sua irmã.

Imaginem da mistura, um descendente de Jamaicanos, com uma russa.  Minha tia, que só conheci por fotografias, era uma mulher diferente, cabelos negros lisos, olhos azuis, uma pele diferente, não se podia dizer que era mulata, pois era muito clara.   Meu pai igual, só que a ele gostava de levar os cabelos como o de seu pai, cheios de tranças.  Fazia sucesso no meio das garotas da escola.

Ele queria ser músico, tocava o saxofone, ela atriz de cinema e teatro.

Logo se baldearam para Manhattan, alugaram os dois um pequeno apartamento, meu avô ajudava, respeitava sempre os sonhos dos outros.

Dizia que seu pai, quando colocou as cartas para os netos, torceu a cabeça, nunca comentou o que tinha visto, disse que estava velho demais, jogou as cartas na lareira, assim não caia na tentação de saber mais sobre a vida alheia.

Nem seu filho, nem os netos se interessavam pelo assunto.

Meu pai foi estudar na Juilliard, música, queria ser compositor, tocar Jazz que amava, minha tia estudou dois anos num curso dos melhores para atores, mas já fazendo pequenas pontas no teatro, era versátil.

Nem chegaram a terminar os cursos, ele logo estava tocando numa banda de jazz, com uma cantora que começava a fazer sucesso, ela, conheceu numa filmagem um inglês, que se apaixonou por ela, foi com ele para Londres.  Ela queria na verdade um homem que a movesse, que fosse rico.  Esse era, mas muito mais velho do que ela, foi subindo no East End, fazendo desde clássicos, a teatro moderno, estava fazendo Ofélia, numa montagem moderna, quando um conde, de linhagem antiga se apaixonou por ela, contra o vento e maré, se casou com ela, a única exigência da família era que deixasse de atuar.   Uma vez por ano, escrevia aos velhos para felicitar pelo Natal, os mesmo nunca chegaram a conhecer seus filhos, nem tampouco sua família. 

Meu pai ao contrário estava louco pela cantora de seu grupo, me tiveram, ela era uma mestiça como ele, uma mulher de armas a tomar.  Quando saiam de viagem me deixavam com meus avôs.    Numa dessas os dois iam fazer uma temporada em Paris, me deixaram ou abandonaram definitivamente.

Eu adorei, pois gostava imensamente dos meus avôs.  Viver com os dois era difícil, viviam discutindo, de noite saiam para trabalhar, me deixando sozinho na espelunca que estivéssemos vivendo no momento.

Por algum motivo me fechei, era o melhor aluno da escola, em Brighton, era sério, como era muito alto, jogava basquete, era muito bom, basicamente não tinha amigos, estava sempre ajudando minha avó na sua loja, depois ia muito a praia, no verão ficava negro do sol, o inverno as pessoas riam, pois era o único que mergulhava naquelas águas frias.

Pensava que nunca sairia dali.

Graças ao Basquete, com ajuda dos meus avôs, fui para a universidade fazer medicina, coisa que sonhava desde garoto, meu avô dizia que quando me perguntavam o que queria ser, eu dizia médico.   Tinha uma percepção das pessoas doentes, talvez alguma herança genética do meu bisavô, não sabia dizer por que queria ser, mas sim que tinha que ser.

Consegui uma bolsa de estudos, pelas notas, além do Basquete.  O treinador dizia que eu era o único jogador que ele não tinha que pedir que estudasse.  Alguns queriam sim que algum olheiro os visse, para alguma equipe importante.

Eu achava que cada um tinha que saber o que queria.  Eu levava muito a sério meus estudos, estava sempre mergulhado nas aulas práticas, bem como sempre com algum livro embaixo do braço.    Dividia apartamento com mais quatro, que eram o oposto a mim, o jeito era estudar na biblioteca.  Ali tinha paz, acesso aos livros que não podia comprar.   Ficava ali até a hora de fechar.  No último ano deixei de jogar, pois tinha que fazer práticas num hospital.  Fui fazer práticas na emergência de um hospital muito concorrido.

Minha figura devia despertar curiosidade, tinha 2,10 de altura, magro, cabelo presos em trança, que levava sempre coberto por uma bandana, mulato, com olhos azuis, quando me perguntavam por que, ao princípio explicava dos meus avôs, mas depois com o tempo, soltava na cara das pessoas, este pais é de imigrantes, sou o resultado de mistura de raças.  Tinha orgulho da minha ascendência, inclusive falava russo, minha avó tinha me ensinado desde pequeno quando estávamos juntos.  Ela com o dinheiro que tinha, bem como a ajuda de um russo que emprestava dinheiro, comprou um hotel velho.

Meu avô a ajudou a reformar totalmente o mesmo, hospedava desde famílias que vinham passar o verão ali, bem como mafiosos russos, ela era discreta, ele chefe da delegacia da região.

Ele esses clientes perigosos, dizia que se comportassem, porque senão os ia transferir para seu hotel particular, aonde o sol nascia quadrado.

Mesmo os mafiosos o respeitavam, a cada novo chefe ele ia visitar com seu uniforme de gala, dizia que o que fizessem fora dali, não lhe importavam, mas no seu distrito a coisa ficava feia, o menor distúrbio ou andar bêbado pelo passeio, ou fazer confusão, significava dias entre as grades, drogas não eram toleradas, ele sabia que vários policiais faziam vista gordas para isso, pois o salário era uma merda.

Mas se a coisa esquentava, nunca perdoava, era muito respeitado por isso.

Durante o tempo que estava no hospital, conheci a que seria mãe de meu filho, nos apaixonamos atendendo um paciente, ela era baixinha, descendente de japoneses, começaram a conversar, acabamos vivendo juntos, no meu pequeno apartamento.

Quando ficou gravida a coisa ficou feia, pois tinha uma série de problemas, teve que ficar de cama muito tempo, eu a observava, cuidava dela com mimo.

Morreu na sala de partos, logo após ter o filho entre os braços.

Começaram meus problemas, os pais dela queriam a criança de qualquer jeito, ela era filha única, nem sabiam que eu existia, tampouco que estava grávida, eram ricos, tinham bons advogados.

Foram cinco anos, que me deixaram sem forças, pois além de tudo, recebia ameaças, mas tinha registrado meu filho, com meu nome.

Meus avôs fizeram uma loucura para eles que estavam assentados muito bem em Brighton Beach, alugaram tudo, vieram ficar perto de mim, alugaram um apartamento, passamos a viver juntos.

Eu feliz da vida, pois podia trabalhar tranquilo, quando o processo depois de cinco anos, estava para finalizar, tentaram raptar meu filho.  Foi a gota d’água, os pais de minha mulher, viram que iam perder o processo.

Minha avó estava numa praça perto de casa, com meu filho, meu avô, quando dois japoneses se aproximaram, tentaram levar o carrinho aonde estava meu filho, não contavam que os dois fossem reagir.   Um deles levou um murro em plena cara, o outro minha avó colocou para correr dizendo palavrões em russo, tirando da bolsa uma pequena arma, que na verdade ela só fazia farol, pois não estava carregada.   Meu avô chamou a polícia, o inspetor que levou o caso era seu amigo, conseguiram saber quem era o mandante, gravaram o depoimento, levaram para o juiz.   Os pais de minha mulher, perderam a causa.

Mas mesmo assim, nunca poderia ficar tranquilo.

Fui para um congresso em San Francisco, procurava outros ares, para viver, pensei dou uma olhada nas oportunidades por lá.

Um dia estava conversando com vários médicos, quando um senhor se aproximou, disse que tinha me escutado falar das oportunidade ali.

Se apresentou, era médico numa pequena cidade, buscava alguém como eu, que tivesse experiencia, tinha uma clínica que ele mesmo tinha construído numa pequena vila, no meio da floresta no norte da California, me disse na cara, nada de praia, de surf, mas temos um rio maravilhoso, cascatas, pequenas praias, caiaques, embora no inverno faça frio, pois é montanhas.

Avisei meu avô, que iria até lá para ver, quem sabe isso significava uma mudança de ares completamente diferente de tudo.

Foi uma paixão a primeira vista, ele me contou que o mesmo tinha acontecido com ele, era de San Francisco, quando foi até lá numa férias se apaixonou.  Depois voltou para montar sua clínica.   Era uma casa imensa, com salas para tudo, inclusive pequenas cirurgias, nossos clientes me contava no caminho, são principalmente gente que trabalha no campo, bem como madeireiros, gente bruta, mas sinceramente honestas.  As vezes não podem pagar algum problema, ou um parto, facilito o pagamento.

Estou viúvo recentemente, as viúvas e solteironas, andam atrás de mim, mas minha mulher foi o amor da minha vida.

Falei da minha, da minha família, do meu filho, que ali seria uma criança diferente, ele ria, natural deste lugar, creio que nenhum dos residentes, todos somos de algum lugar desse imenso mundo.

Gostei imediatamente de tudo, me mostrou um motel aonde podia ficar, era dirigido por uma família simpática, foi me apresentado a várias famílias, que eu talvez viesse para ajuda-lo, me apresentou a dona de uma imobiliária, que logo me mostrou casas, eu amei uma que parecia mais uma cabana do velho oeste, toda de troncos de madeira, grande com três quartos, dois banheiros, uma sala cozinha imensa, além de uma varanda que dava para o rio.

Tinha uma vista impressionante, se podia ir andando a vila, bem como que uns 20 minutos a cidade grande mais próxima, avião tinha que ser em Eureka, ali não tinha aeroporto.

Fui tirando fotografias, quando comentei que minha avó tinha um hotel em Brighton, os donos do motel, disseram que a anos procuravam alguém para passar o local, pois seus filhos estavam espalhados pelo pais, que queria ir viver perto deles.

O motel estava um pouco deixado como se diria, lhe faltava uma boa pintura, limpeza profunda.

Dei um sinal como um aluguel da cabana, o doutor Philips me levou a Eureka, quando cheguei, me sentei com meus avôs, falei com tanto entusiasmo que ficaram interessados no local.

Quando viram as fotografias, mais ainda, a cabana meu filho que estava sentado no meu colo, batia em cima da mesma.   Lhe perguntei se queria viver lá, sua resposta foi uma pergunta, se nesse rio tinha peixe, ele adorava comer peixe.

Disse que tinha comido um estupendo num restaurante perto justo da cabana.  Ele rindo disse que então queria ir, que seria pescador, virou-se para o meu avô dizendo que lhe ensinava a pescar.

Juntamos o pouco que era nosso no apartamento alugado, mandamos por uma transportadora, meus avôs passaram uma semana em Brighton, arrumando suas coisas, anos depois descobri que tinham alugado tudo, que esse dinheiro em parte iria para uma conta em nome de meu filho para ir à universidade.

Avisei ao Doutor Philips quando iriamos chegar, mas que alugaria um carro grande, para irmos, pois meus avôs iam juntos, que reservasse dois quartos no motel, até que chegassem nossas coisas, que se era melhor comprar camas antes em Eureka.

Rindo muito contente disse que sim, mas que ele conhecia os proprietários, que iria nos encontrar, alugarei uma caminhonete grande.

Eu em NYC, não tinha carro, pois ia andando para o hospital, meu avô tinha vendido o velho seu.

Quando falei em caminhonete, os carros que tinha visto por lá, todos 4X4, seus olhos se abriram, sempre tinha sonhado em ter um.

 Imaginava que ele se daria bem com o Philips, pois tinham mais ou menos a mesma idade.

Minha avó era a mais reservada, sempre tinha vivido em frente ao mar, de vez quem quando em Manhattan se escapava a Brighton, com a desculpa de ir ver seu hotel, para ver o mar, dizia que se sentava com suas amigas, para colocar a conversa em dia.  Mas eu não me lembrava nunca de a ter visto colocar um maio para ir à praia.

Os três nunca tinham viajado de avião, meu filho grudado na janela.   Ela se negava a olhar, apertava as mãos do meu avô durante alguma turbulência.

Quando chegamos, Philips, estava ali nos esperando, como era final do dia, tinha reservado um hotel para todos, meu filho olhava muito para ele, pois tinha os cabelos brancos imensos, um sorriso sempre na cara.

Perguntou se ele ia ser seu outro avô, este rindo respondeu que sim pois não tinha netos.

Depois iriamos descobrir que seu único filho tinha se mudado para o Japão a muitos anos, nunca voltou ou dava notícias, nem sabia aonde vivia, tudo que sabia que era tatuador.  Nunca tinha gostado de estudar, que estava sempre no meio de brigas, etc.

Fomos jantar, depois todos fomos para a cama, estávamos cansando, meu filho dividia quarto comigo, estava excitado de conhecer no dia seguinte a cidade aonde íamos viver, eu lhe corrigia dizendo que não era cidade, expliquei a diferença de cidade para uma vila.

Mas quando falava em população, lhe parecia muita gente.

Logo de manhã, fomos a loja do seu conhecido, cada um escolheu sua cama, meu filho escolheu uma que tinha outra por baixo, sempre reclamava disso que os amigos nunca podiam dormir lá em casa.

Quase lhe perguntei que amigos, mas sabia que ele imaginava que faria amigos na vila, eu espera que sim, pois todo esse tempo, estivera protegido pelos meus avôs, que o levavam e traziam a todos os lados, principalmente depois da tentativa de sequestro.

Ninguém dos conhecidos sabiam para aonde íamos, mesmo no hospital, não falei nada, pedi as contas nada mais, quando a que era minha assistente perguntou, eu soltei Miami, principalmente porque sabia que odiava, seus pais viviam lá num dos famosos resorts para velhos judeus.

Minha avô aproveitou comprou roupa de camas para o inverno, pois tinha deixado para trás as que tínhamos, em NYC.

Ficaram de entregar ou no final da tarde, ou no dia seguinte, a casa que tinha reservado estava completamente vazia, assim que olhou moveis que íamos precisar, mas achou melhor voltar de novo.

Meu avô queria olhar um carro para comprar, ele disse que ali não que na vila, conseguiria para ele, nem que fosse de segunda mão, pois o mecânico sempre tinha um.

Bobby meu filho, foi grudado na janela, na frente ia meu avô deslumbrado com tanto verde tantas floresta, fazendo mim perguntas ao Philips.

Bobby tinha lhe perguntado pelos peixes, pelo tamanho, se ele pescava, pois seu bisavô não sabia pescar.

Então gostas de comer peixe, ele entusiasmado disse que sim.

Verás o sabor é diferente, temos muitos tipos de peixes de água doce, foi dizendo os nomes, meu filho que já escrevia, ia anotando numa caderneta.

Não se preocupe, depois de empresto um livro que tenho sobre os peixes daqui.  Ele ficou eufórico.   Ainda não entendia isso dele.

Quando chegamos a vila, fomos para o motel, havia uma verdadeira recepção de vários moradores, alguns eu tinha sido apresentado, descobrimos assim a rádio fofocas, ali tudo se sabia, era melhor não esconder.  Como se quisesse espalhar alguma notícias, o mais fácil era contar alguma das senhoras, que tinha um circulo que se reunia no bar e restaurante do Jules, um francês, que tinha vindo parar ali.

Se reuniam fazendo tricô, crochê, bordados, todos os dias, em determinada hora, no verão do lado de fora, no inverno dentro, ele tinha inclusive um lugar especial para elas. De um ponto do bar, que se via tudo em volta.

Meus avôs no primeiro momento ficaram assustados.  A dona do Motel, quase que se apossou dela, falando do seu local, as outras torciam a boca.

Depois os levei para ver a cabana, Bobby corria como um louco, por tudo, mas parou na beira do rio, aonde tinha aparecido no jardim, um lugar para amarrar barcos, com dois cadeirões, ele logo gritava que já tinha aonde se sentar para pescar, queria tirar a roupa para atirar-se.

Philips ria muito, nos levou depois a escola, para registrarem, disse que lá tinha uma piscina de água quente, ali primeiro aprenderia a nadar, que as aguas do rio era frias.

Mostrou ao Bobby fotos das cascatas que estavam ali perto da vila.

Se eu tinha gostado do lugar, ele mais ainda.

Deixamos minha avó no motel, esse soubemos depois, quando viu os quartos, descobriu aonde tinha material de limpeza, fez uma faxina de fazer gosto, embora não fossemos ficar muito tempo ali.   Pediu roupa de cama limpa.

Enquanto isso, eu fui para o consultório, Philips com o avô Jordan foram a uma oficina mecânica, para olhar carros, o deixou ali, com um que depois seria um dos meus melhores amigos, negociando, passamos a atender os primeiros clientes da casa.

Bobby tinha ficado com meu avô, pois Smith, tinha um filho da sua idade, seria seu primeiro e grande amigo.

A sala da recepção estava lotada, Philips se colocou no meio, resolveu um problema grande, pois a maioria tinha vindo por curiosidade, me apresentou, os que não tem problema nenhum podem ir para casa.

Eu passei a atender um homem que tinha a mão inchada, uma lasca de madeira tinha entrado muito profundamente, tinha inflamado.

Ele disse que quando isso acontecia, tirava a lasca, banhava com whisky e estava curado, mas desta vez se distraiu, não retirei ao momento.

Um dos motivos que doía era que estava cravada num dos tendões da mão, mas nem sentiu que ele retirasse.  O doutor Philips, disse que ele normalmente provocava a dor, para essa gente tomar mais cuidado.

Atendeu vários pacientes ao lado do Philips, esse ria da sua amabilidade com todos, estas fodido, porque agora se aproveitarão de ti.

Um que chegou, ao que se percebia que não tinha nada, ele deu umas pastilhas que tinha na sua maleta.  O homem ficou superfeliz.

Esse aparece aqui cada semana com um problema, mas na verdade não tem nada.

Por isso lhe dei capsulas vazias, assim está feliz.

Seu avô apareceu flamante com seu novo brinquedo, foram jantar no bar com Philips, a cada tempo eram interrompidos pelas pessoas do lugar, que queriam ser apresentadas aos novos residentes.

Um deles, era o bombeiro, o que resolvia os problemas das casas, começou a falar com sua avó Maya, sobre como resolver as coisas no inverno mais pesado, disse que de qualquer jeito, apareceria no dia seguinte para dar uma olhada na casa.

Uma semana depois estavam instalados, a maioria dos problemas resolvidos, Bobby se sentava no final da tarde, pescando com seu novo amigo Junior, os dois pareciam disputar quem falava mais, já sabiam que não tinha mãe, como o seu filho.

O Smith vinha busca-lo, as vezes ficava para jantar, achava interessante a mistura de comidas da casa, uma mescla de comida da Jamaica e Russa.

Depois enquanto os garotos jogavam, ficavam sentados na varanda conversando.

Smith um dia soltou que era a primeira vez que tinha amizade com uma pessoa com uma formação superior, que falava com ele, de igual para igual.

Imagina, somos dois homens com o mesmo problema, temos os dois filhos, sem mães.

Smith contou um dia que tinha se casado com sua namorada do instituto, besteiras, ela ficou gravida, perdi o trem da universidade, mas três anos depois se foi, pensou que eu iria embora da cidade, por isso ficou gravida.  Me deixou com o garoto, me viro, como vivo em cima da oficina mecânica que era da minha família, sem problemas.

Ele contou a sua história para ele.  Éramos diferentes em muitos aspectos, mas tínhamos um ponto em comum a medicina que adorávamos.

Mas eu nunca soube nada da sua família, que ela não comunicou nada que vivia comigo, nem que tampouco estava gravida, devia saber como eram.  Quando lhe perguntava ela mudava de assunto, incorporou meus avôs como sua família.

Na verdade não convivemos tempo suficiente para conhecermos profundamente, pois morreu no parto.

Os meninos as vezes realmente pescavam algum peixe, primeiro o analisavam se era grande suficiente para tirar do rio, como o Philips tinha ensinado, mas quando pegavam um grande era uma festa.

Maya, preparava de uma maneira que os dois gostavam, nesse dia convidavam normalmente o Smith para jantar.

Seu avô fez amizade com o xerife da vila, esse quando precisava de ajuda, procurava por ele.

Com os anos, nunca mais falavam em Brighton Beach, tampouco de praia.

Os meninos iam juntos a classe de natação, na escola, o professor dizia que eram como peixes na água.

Mas gostavam mesmo, apesar de mesmo no verão a água ser fria, tomar banho no Rio, se divertiam horrores.

Eu me divertia conversando com o Smith, um dia que fomos de acampar com os garotos na floresta, dividimos a tenda maior, nesse dia rolou entre os dois sexo, nunca mais nos separamos, um ano depois vivíamos juntos, ele me disse ao ver minha preocupação, das pessoas falarem, depois alguma noticia nova, se esqueceram da gente, seguiram como se não passasse nada.

Foi verdade, mesmo seus avôs encararam perfeitamente, os meninos riram muito, dizendo agora somos irmãos.

Minha avô ficou com o motel, arrumou uns homens, reformou inteiro o mesmo, fazendo uma grande limpeza, contratou duas mulheres, para virem limpar todos os dias pela manhã os quartos, um cozinheiro para fazer o café da manhã, comida não serviam.

Meu avô a ajudava no que fosse necessário, encantado de ir de compras com seu 4X4, gigante como ele chamava o jeep.

As vezes se juntava com o xerife, com os garotos iam pescar mais acima.  Esse num verão levou todos a conhecerem a famosa cachoeira que todos falavam. Era fantástico, vinha de uma altura impressionante, nesse lugar a água era quente, ninguém sabia por quê.

Os meninos deliravam quando viam algum peixe cair de tanta altura, os conseguiam pegar com as mãos, como se esses ficassem tontos.

De uma certa maneira se pareciam irmãos, iam a classe juntos, estudavam juntos, tudo faziam juntos, a primeira bicicleta, os primeiros jogos de internet, competiam entre sim, mas sem nunca brigarem.

Meus avôs morreram um em seguida do outro, um dia Maya não despertou, era a hora que normalmente ia ao motel, meu avô estranhou, já estava na cozinha fazendo café, ela morreu dormindo.  Ele se fechou, só sorria as vezes com os garotos.   Ficaram impressionados com o numero de amigas que tinha feito.  Seu enterro foi superconcorrido.  Meses depois foi ele, mas justos depois da morte dela, ele foi a um advogado.  Quando morreu, foi que descobriu que mal usavam o dinheiro de NYC, que ele teria que resolver os problemas da casa, da loja, do pequeno hotel.

Colocou tudo a venda, assim seria mais fácil.

Foram os quatro, os meninos soltaram logo que preferiam o rio do que esse mar tão grande, ali sabemos o que é nosso. Aqui nem peixe deve ter.

Estavam naquela idade, que achavam que os pais não entendiam.   Foram comprar as coisas de eletrônicas que eles queriam. Fizeram passeios, Smith nunca tinha saído da vila.

Mas quando voltaram, sentiram os quatro realmente que voltavam para casa.

Nesse dia, tinham pescado já quase de noite, um peixe grande.   Ele preparou a churrasqueia, entre ele e Smith limparam o peixe, fizeram ali a luz da lua, sentados numa mesa que agora tinham fora para comer no verão.

Realmente eram uma família.  O Doutor Philips raramente aparecia na clínica, quando morreu, levaram um dia para saber, quem o encontrou foi a senhora que limpava sua casa.

Tinha morrido sentado na frente da televisão, com várias latas de cerveja do lado.

Smith dizia que assim morriam os homens da montanha.

O dinheiro que NYC, foi colocado numa conta, para os dois meninos, que já estavam quase na época de decidirem o que fazer.

Os viam discutindo, mas nunca interferiam.

Os dois resolveram fazer medicina, mas antes de irem, conversaram com os pais, tinham um relacionamento a muitos anos, os dois sabiam mas não tinha interferido.

Queriam viver fora da Universidade, para assim poderem seguir suas vidas.

Eram excelente alunos, os dois se graduaram anos depois com louvor, se especializaram justamente nos problemas fizeram um estágio num hospital das montanhas do Canadá, que tinham basicamente os mesmos problemas dali, mas voltaram para casa.

Ele e Smith agora procuravam viajar, viver o que não tinham vivido na sua juventude, um sabia dos sonhos do outro, então surpreendiam o outro com um bilhete de avião, bem como férias nos lugares que sonhavam conhecer.   Iam tranquilos pois sabiam que os dois cuidavam da clínica.

Na vila falavam deles, porque as velhas, sempre os queriam casar.

Os quatro se casaram em San Francisco, depois tiveram que fazer uma festa na vila, o pessoal se divertiu muito, o casamento de 4 homens barbados, pois todos usavam barbas.

Dizem que isso fomentou que muita gente finalmente saísse do armário por ali, sem ter que fugir para uma cidade maior.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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