TATUAGEM
Para todo mundo, era um homem simples, nada
mais, sua maneira de vestir, durante muito tempo tinha usado terno, gravata,
sapatos sempre brilhando de graxa, vestido normal, sua cara que querubim
destoava completamente. Quando falava,
nada podia imaginar que aquela voz grave podia se modular.
Tinha chegado ao Rio de Janeiro com a ideia
de se liberar, do ranço da cidade pequena do interior de Minas Gerais. Logo procurou adaptar sua maneira de falar
aos cariocas, isso sabia a perfeição, pois prestava atenção como se falava em
sua volta.
Quase por milagre conseguiu um emprego bom,
afinal era engenheiro de minas, formado em Belo Horizonte, que apesar de ser
uma capital, não era tão aberta como imaginava.
Conseguiu um pequeno apartamento no centro
da cidade, aonde ainda havia um certo rebuliço de gays, lesbianas, travestis,
nenhum desses era seu caso, sempre tinha se sentido uma mulher, passado dois
anos, conheceu numa associação de transexuais, um orientador, um psicólogo, que
foi lhe ajudando.
Sabia que o processo era largo, na única
vez que foi passar o Natal com sua família, se imaginou contando o que estava
fazendo, mas ao ouvir comentários de suas irmãs, de sua mãe, sobre um vizinho
que aos 40 anos tinha saído do armário, com mulher dois filhos, isso acontecia
muito nas cidades do interior. Tudo que
sentiu foi pena do sujeito, imaginou as olhadas de soslaio que lhe soltaria as
pessoas, os comentários maldosos, assim se esqueciam do seu próprios rabos
presos.
Na universidade, tinha conhecido um sujeito
que criticava todos que eram gays, mas um dia o pegaram chupando o pau de outro
no banheiro, seu machismo foi para a casa do caralho, anos depois o encontrou,
como uma louca, tinha virado travesti pelas noites do Rio de Janeiro, fez como
se não o conhecesse, ficou com pena dele.
Cada um tinha seu caminho, isso ele tinha
certeza, bem como um preço a pagar por tudo.
Mas ao ser um único homem numa família de
seis mulheres, era complicado, desde garoto tinha vontade de colocar os
vestidos das irmãs, ao contrário delas, ele era bonito, com uma cara angelical,
já elas tinha saído ao seu pai, descendente de árabes, cabelos negros, nariz em
forma de gancho, todas tinham se casado mal, com os únicos que se atreviam a se
casar com as filhas do seu Ismael.
Um deles dizia que tinha se casado com um
dragão, pois além de feia, era mandona, dura, mal-humorada, essa era sua irmã
mais velha.
Levou dois anos para se transformar, sair
do casulo, ganhar vida, por sorte não era necessário fazer nenhuma cirurgia
estética na cara.
Fez a operação, antes saiu de férias,
sentou-se com seu chefe, confessou a ele o que ia fazer, sabia que o mesmo era
gay, muito discreto.
Esse disse que sem problemas, claro teria
que aguentar a brincadeiras pesadas dos seus companheiros, talvez quando volte
eu tenha sido transferido para um departamento mais acima, me procure, pois
gostaria de seguir trabalhando contigo.
Ficou mais tranquilo, na véspera da
operação, já no hospital, o psicólogo da associação lhe visitou, bem como um
rapaz que tinha já feito a alguns anos.
Se sentiu protegido, sabia que a
recuperação era dolorosa, mas os dois estiveram ali ao seu lado para lhe dar
coragem.
O médico que o operou, era um sujeito
bonito, lhe disse, agora só tens que deixar os cabelos crescer, fazer um corte
moderno, ir a vida.
Mas não foi tão fácil assim, havia em seu
interior uma parte de conservador, de sobrevivente, escolheu roupas sérias para
voltar ao trabalho, no dia que se apresentou soube que o chefe já não estava
ali, foi até seu departamento, este nem o reconheceu. Soltou ficaste uma mulher bonita, estou
precisando de um braço direito para trabalhar comigo.
A amizade entre os dois se consolidou,
saiam para tomar alguma cerveja, ele nunca ultrapassava, pois tomava
medicamentos fortes. Começo a se vestir
melhor, um tipo de traje feminino, casacos com bom corte, usava agora um corte
de cabelo, estilo Chanel que lhe favorecia.
Sempre falavam em romances, Lucas, seu
chefe, estava sempre trocando de namorados, dizia que nunca encontrava uma
pessoa como ele gostava, com quem pudesse conversar a sério, que todos queriam
um romance de uma noite, ir a discotecas, coisas assim.
Quando vieste trabalhar comigo, apesar de
te ver sempre tão fechado, não eras afeminado, imaginei um dia te abordar, mas
nunca gostei de ter relacionamento com quem trabalhava.
Apesar da transformação, não tinha
acontecido nada ainda com ele, estava no duro processo de trocar seu nome, sua
família quando soube finalmente o baniu, lhe pediram que trocasse de sobrenome.
Ele se riu, como se esse sobrenome fosse
importante, eram Silva Santos, nada mais corriqueiro.
Finalmente saíram os papeis, passava a se
chamar de Hélio, a Helena Silva Santos, na hora erraram, puseram Helena Santos
Silva, lhe deu igual.
Claro que havia comentários, no trabalho,
sempre haveria, alguns que ela conhecia, agora lhe viravam a cara.
Um dia estavam num bar nas calçadas de
Copacabana, quando um homem com uma câmera fotográfica, lhe pediu licença para
fazer uma foto, sou caçador de manequins.
Lhe deu seu cartão, era um francês de
férias por ali.
Lhe perguntou se com a cara bonita que
tinha, engoles a câmera, porque não tentava outra carreira.
Replicou dizendo que já não era jovem para
isso, o homem se surpreendeu que falasse francês tão fluido.
Comentou que essa língua era sua paixão.
Tens uma voz diferente, como se tivesses
fumado a vida inteira.
Riu, quase lhe explicou quem era. O que lhe impressionava do homem, era que
tinha os braços cheios de tatuagens, bem como o que aparecia a partir da gola
da camiseta. Tinha uma boca
tremendamente sexi.
Luca lhe chamou pelo celular, para dizer
que tinha mudado de planos, Dominic lhe perguntou se queria jantar com
ele. Não conhecia muito a cidade, tinha
vindo fazer uma reportagem, podias me ajudar no final de semana, tenho que fazer
uma reportagem muito cedo, na hora que o Cristo Redentor não tenha muita gente,
pois é obra de um francês.
Conversaram sobre isso, quando saíram do
restaurante foram caminhando pelo calçadão, Dominic foi direto, fazia tempo que
não interessava por ninguém, sai malparado do meu último relacionamento.
Resolveu esclarecer a situação, explicou o
que era, este a escutou sem pestanejar, como se fosse a coisa mais normal deste
mundo. Ao final riu, dizendo, pois eu
era uma mulher que se transformou em homem, te entendo.
Acabaram na cama, tinha conversado mil
vezes com o psicólogo sobre isso, como iria se sentir na cama, se nunca tinha
feito sexo.
Mas foi interessante, os dois se
exploraram, até terem um orgasmo fantástico.
No dia seguinte, ele lhe ajudou a escolher
a roupa, lhe deu um texto para decorar.
Fez duas leituras, já estava em sua cabeça, pois tinha uma memória
estupenda. Ainda corrigiu as informações
do texto de como chegar lá, seja de carro ou com o bondinho.
Foi o que fizeram, Dominic apresentou um
passe especial, subiram os dois num bondinho só para eles.
Lá em cima, fez o texto como ele pediu, depois
foi mostrando tudo que se via desde ali, ele ia gravando tudo, o Maracanã, a
ponte Rio Niterói, as praias, a Lagoa Rodrigo de Freitas, do outro lado ainda
Gávea, a Rocinha. Lhe perguntou por que
não fazia agora ao contrário, iriam ao Pão de Açúcar, de lá filmariam ao
contrário.
Foi o que fizeram, depois almoçando, na
praia, comentou com ele que havia lugares maravilhosos para conhecer, eu fui
conhecendo aos poucos, me informava, ia sozinha a todos esses lugares.
No domingo foram ao Parque Lage, contou sua
história, como ele tinha alugado um carro, foram até a barra da tijuca, depois
fizeram um largo passeio pela praia, comeram numa barraca logo ali.
Foram nadar, Dominic, disse que os homens a
devoravam.
Deixa disso, eu nunca percebo nada, era uma
verdade, na sua transformação, com os hormonas todos que tinha tomado, tinha um
corpo de fazer inveja a qualquer um.
Nessa noite, percorrendo o corpo do
Dominic, cantou a música de Chico Buarque, Tatuagem, gostava disso, sentir o
contato da pele dele, branca, contra a sua, com esse mundo de tatuagens que
cobriam tudo.
Dominic ainda ficaria uma semana, na
segunda-feira, como não tinha nada importante, avisou ao Lucas que ia faltar,
foi com ele pelo centro da cidade, mostrando tudo que conhecia, as Igreja, a
Catedral, a Candelária, a Fundação França-Brasil, ali do outro lado, explicou
sua história, depois foram pelo interior, o levou a parte mais antiga,
terminando na Biblioteca maravilhosa, que ele disse que pertencia a uma
fundação portuguesa.
Na terça feira, foi trabalhar, Dominic
estava hospedado agora na sua casa, quando chegava este tinha preparado alguma
comida francesa, com o que encontrava nos supermercados.
Durante o dia, tinha ido editando o que
tinha filmado, creio que teremos que passar isso aos capítulos na televisão,
pois acabei tendo muito material.
Não se cansavam um do outro, Dominic, ele
percebeu tinha ciúmes, pois os homens a olhavam muito. Agora quando saiam de noite usava roupas
mais atrevidas.
Tinha se colocado para fora. Este quando conheceu o Lucas, ficou com
ciúmes, pois viu que entre os dois havia uma conexão antiga.
Lucas no dia seguinte lhe disse que tomasse
cuidado pois era um homem ciumento.
Sim ele me contou que por causa disso,
tinha tido problemas anteriormente.
Dominic tinha um amigo cineasta, com quem
falava sempre, comentou do seu romance, este disse que ia começar um filme
sobre o assunto.
Se largou de Paris, para fazer um teste com
Helena, ela ao principio não queria fazer, tinha feito os vídeos, mais por
causa do Dominic.
O cineasta era um homem impressionante,
dois metros de altura, cabelos compridos loiros, olhos azuis como água, uma
barba interessante, bem cuidada, se vestia bem.
Raoul de Saint-Clair, era conhecido, nos
dias antes dele chegar, Dominic, conseguiu na internet os dois filmes que ele
tinha feito anteriormente. O primeiro
era sobre uma família argelina, que tinha dificuldades de adaptação, que os
filhos mais jovens se adaptavam, mas os pais não, o confronto sobre isso.
O segundo, segundo o Dominic, era um pouco autobiográfico,
a saída do armário do Raoul por causa de um trauma de um abuso na sua infância.
Este lhe trouxe o texto, era a história de
uma amiga dele, que tinha se transformado, mas que a família tinha perseguido,
inclusive conseguido assassina-la.
O começo do texto era amargo, era o
personagem conversando com o psicólogo, sobre todo o processo de fazer uma
transformação as escondidas.
Leia simplesmente o texto. Mas ela tinha lido duas vezes o mesmo, já
estava no seu interior.
Falou o texto com voz rouca que segundo o
Dominic o excitavam, sem olhar para a câmera, disse que imaginava a cena, num
dia de uma chuva torrencial, o personagem dizia que era assim que se sentia, chorando
torrencialmente, mas que na verdade estava seca de tanto ter chorado na vida
por causa de sua família.
Que merecia poder viver sua vida em paz,
mas que lhe perseguiam, quando conseguia um emprego, mandavam cartas anônimas a
empresa, falando quem ele era, acabava sem emprego.
Raoul ficou impressionado, pois tinha feito
de duas maneiras, uma com ela parada falando o texto, a outra, como o dia
estava nublado, com a cabeça quase encostada no vidro da janela, da maneira
como falava, se imaginava a chuva lá fora.
Depois o viu conversando com Dominic, como
poderiam fazer, ao final com ela. Lhe
perguntou se podia ir a Paris, para fazer o filme que esse poderia durar dois
meses de filmagem, embora a maior parte fosse em interior, de um grande
apartamento montado num studio.
Falou com Lucas, tinha medo de se arriscar. Ele a incentivou, se não se arrisca, nunca
saberás, se ele acha que podes, é que podes.
Dominic, ao mesmo tempo que estava
entusiasmado que fosse com ele para Paris, sentia ciúmes, pelo fato dela fazer
um filme, estar com um homem tão cativante como o Raoul.
Acabou indo, se depois não desse certo,
voltaria para o Brasil.
Teve um mês de adaptação, de ensaio com os
outros atores, inclusive com o que seria seu amante no filme.
O documentário do Dominic fez sucesso,
principalmente segundo ele, os do projeto gostavam como ele apresentavam
simplesmente tudo, falando com voz pausada, tudo que viam.
Ele conseguiu que lhe pagassem como uma jornalista,
isso vinha bem, do filme tinha feito um contrato, Dominic tinha revisado o
mesmo por estar acostumado, brigou muito por tudo, era uma bom dinheiro.
O que não gostava era que aparecia nas
filmagens de repente como esperando a encontrar em alguma coisa errada.
Um dia ficou chateada, se sentia vigiada, o
que era pior que viver escondida, comentou com ele, tiveram uma conversa séria,
lhe aconselhou a procurar o psicólogo que o tinha acompanhado em sua
transformação.
Sem querer ficou sabendo que quando ainda
era homem tinha tido uma aventura com Raoul, achou interessante, sempre fomos
amigos, mas quando começamos a fazer sexo, ela era ciumenta, quando me disse
que queria virar homem, entendi, pois na cama se comportava como tal.
Mas sempre foi ciumento em tudo, inclusive
das minhas amizades.
Quando viram o filme já montando, conversou
com Raoul, duas cenas ele faria de novo, comentou porque, esse é o teu ponto de
vista, mas uma pessoa transexual, se sentiria assim, havia uma mulher de uns
cinquenta anos, que acompanhava tudo, disse que concordava, tinha sido uma das
primeiras transexual da França, tinha ajudado a personagem, ela não se
comportaria assim, amava a liberdade que tinha conseguido com sua
transformação, não estava preocupada com isso que queres transmitir, que
necessitava de um homem para ir em frente.
A maioria dos homens, não aguentaria o que
se aguenta antes, durante e depois de uma operação dessa natureza.
Therese D’Santis, era uma mulher de armas a
tomar, não era bonita, mas sim tinha classe, tinha se casado com um homem rico,
depois de sua transformação, agora era viúva, liderava o movimento dos Trans de
Paris.
Refizeram as cenas, ao mesmo tempo, um
outro cineasta lhe apresentou um texto, complicado, pediu um favor a Therese,
se podia ler com ela o texto, tinha algumas coisas que não gostava, era uma
forma muito machista de ver uma mulher diferente.
No caso, não era uma mulher transexual, mas
uma mulher que luta para se libertar do corset da sua família muito
tradicional.
As duas depois conversaram com o diretor,
com o roteirista, que agradeceu esse toque de visão diferente.
Chamou o Lucas, para dizer que em seguida
faria um outro filme.
Dois anos depois, vários filmes, ninguém
comentava se ela era ou não Transexual, era simplesmente Helena Santos Silva,
pensavam que era alguma descendente de emigrantes portugueses, ela nunca
desmentia.
Os ciúmes do Dominic, era insuportável,
quando tinha chegado a Paris, este tinha sugerido, terem uma conta conjunta,
mas se negou, sempre tinha sido independente, como homem, mais ainda como
mulher.
Seu último ataque de ciúmes, tinha sido,
porque tinha visto o ensaio com outro ator, de um beijo na boca, Dominic não se
conteve, soltou que o outro estava beijando um transexual. Este lhe respondeu que beijava muito bem,
melhor que sua mulher.
Arrumou suas coisas, Dominic tinha ido
fazer uma reportagem em Londres, depois da bronca toda que tinham tido.
Therese, lhe conseguiu um pequeno
apartamento, que era o que necessitava no momento, deixou uma larga carta ao
Dominic, agradecia tudo, mas não aguentava mais.
Esse quando voltou, acabou de cagar tudo,
pois falou para todo mundo que Helena era uma transexual. Um jornalista, lhe respondeu na cara, que
ele também era, qual era o problema, isso hoje em dia era uma coisa normal.
Nunca mais se cruzaram, embora tivesse sido
convidada para apresentar um programa na mesma estação que trabalhava o
Dominic, não aceitou.
Agora vivia justo ao lado de Therese, era
sua melhor amiga, pois lhe entendia.
Esteve lhe ajudando a revisar um texto da
mesma, que queria transformar em roteiro de cinema, contando toda sua
trajetória.
Raoul se interessou em dirigir, Therese
faria o roteiro do filme, ela seria a atriz principal, numa entrevista lhe
perguntaram se não se cansava de personagens complicados.
Sua resposta fez sucesso, da maneira como
falas, parece que todo ser humano vive numa eterna vida de foram felizes,
comeram perdizes. Nada disso, as
famílias, as pessoas todas tem problemas, nem sempre são fáceis de superar. Hoje em dia vemos os jovens de uma certa
maneira amadurecendo mais cedo do que deviam, recebem informações de todos os
lados, não é fácil manejar isso, nós que já passamos por muita coisa, sabemos o
quanto é difícil manejar a vida. Não
sabemos como será o futuro desses jovens, se daqui a alguns anos, a palavra
amor, ou te quero, serão como um ponto, uma virgula, sem significarem nada.
Se os vínculos familiares ainda existiram.
Raoul que estava escrevendo um roteiro
sobre isso, pediu ajuda para ele, apesar de me considerar jovem, olha, as
novidades do mundo, por mais que seja gerido por políticos velhos, nos escorrem
como areia entre os dedos. De uma certa
maneira, se os jovens realmente lessem os jornais todos os dias, estariam
perdidos, pois cada um desses políticos, querem fazer valer suas vontades,
pensamentos, maneiras de ver a vida, que não concordam com nada disso, como
será o futuro deles.
Entre eles aconteceu algo, mas resolveram
seguir como amigos, Raoul se sentia atraído por homens complicados, voltar a
ter sexo com uma mulher lhe confundia.
Escreveram o roteiro, revisaram com Therese
que tinha uma visão do mundo interessante, resolveram incluir um personagem
jovem que se sente uma mulher, nenhum jovem ator se interessavam, ela
apresentou um jovem lindíssimo que ia ao seu grupo de trabalho.
Seus filmes faziam sucesso, nunca tinha
feito uma comédia, não gostava, algumas vezes, lhe ofereciam papeis, em
comedias, gozando justamente isso as transformações, nunca aceitava.
Talvez por ser uma pessoa que pensava no
amanhã, não precisava de muito para viver, quando ia alguma estreia, usava
roupas emprestada de algum costureiro, mas nem pensava em comprar, pois nunca
usaria isso no seu dia a dia. Adorava
roupas confortáveis, no inverno, nada que pesasse.
Estava cada vez mais ligada a Therese, a
ajudava no que podia.
Um dia está lhe pediu que conversasse com
um homem de sua mesma idade, que se sentia confuso.
Levou uma surpresa, o homem era alto,
forte, estava todo vestido de couro, disse que era por ser um sábado, que
durante a semana andava de terno e gravata, estendeu a mão se apresentando
Joseph Turbou
De uma certa maneira era como ela, falava
pausado, olhando nos olhos, tinha a cara muito masculina. Começou contando que em sua família só havia
homens, que quando nasceu sua mãe esperava ardentemente uma menina, que a
partir disso o vestia de garota, quando o resto da família não estava, mas com
certa idade passou a se negar, entrou em choque com ela, que se
desequilibrou. Seu pai primeiro ficou
furioso, mas depois amava e entendia sua mulher.
Convence-la não foi fácil, ele ficou
marcado com isso, se olhava no espelho não sabia quem era, se fechou em si
mesmo, procurou se dirigir ao outro lado, quando fez 18 anos, ao contrario dos
irmãos entrou para o exército para superar seus traumas, viu muita coisa,
esteve anos destinado no Mali, era um desastre com as mulheres. Nas suas férias em Paris, experimentava os
homens, novo desastre.
Num gesto instintivo Helena, passou a mão
pelo seu rosto, entre eles aconteceu algo, mas contou para ele que era
transexual, que gostaria de ir com calma, gostavam das mesmas coisas, no dia
seguinte saíram para jantar, conversaram sobre tudo que gostavam.
Tranquilidade, ler, escutar música, quando
finalmente fizeram sexo, o foi guiando, realmente ele parecia uma criança,
apesar de todo seu tamanho. Teve um
orgasmo antes do tempo como ele dizia, mas ela disse que era porque estava
nervoso, conversaram, retornaram a busca de seus corpos.
Ao final ele gemia de prazer, bem como ela.
Vê tudo é uma questão de como, se vais com
uma puta, ela quer realizar o seu serviço rápido, se é com um homem de uma
noite, é quase a mesma coisa.
Mas se encontra a parceira ou parceiro que
tenha que conquistar, é diferente.
Agora quase o ano depois, viviam juntos,
era seu parceiro ideal.
Num festival no Brasil, iam apresentar um
filme que ela participava, foram convidados, era no Rio Grande do Sul, agora
depois de tantos anos, falando somente o francês, algumas palavras pronunciava
diferente.
Depois foram para o Rio de Janeiro, aonde
esteve com o Luca, continuava sozinho, o convidou para ir a França, nas
próximas férias.
Vê te incentivei em ir em frente, mas eu
mesmo tive medo das minhas opções.
Agora cada vez mais escrevia textos com
Therese, entre um filme e outro, se surpreendeu um dia que lhe chamaram para fazer
papel de mãe de um adolescente em transformação, riu muito, realmente o tempo
passou, seus primeiros cabelos brancos apareciam.
Joseph ria, dizendo que o tempo tinha
passado para os dois, mas cada vez mais estavam unidos, quando lhe perguntavam
sobre isso, respondia, é que os dois temos tatuagens demais no nosso corpo,
isso nos uniu.
Nenhum dos dois tinham tatuagens, Helena se
referia as cicatrizes.
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