ANYTHINGS

 

 

 


 

Hoje passado os anos se dava conta que poderia ter sido muitas coisas na vida, tinha ido sim na rabeira do mais fácil, quando comentava isso com seu filho, que era duro na queda, tinha se feito a si mesmo, lutando contra tudo e contra todos. 

Quando chegava alguém, lhe dizendo que admirava sua carreira, ele dizia que admirava seu filho um batalhador desde pequeno.

Ele ao contrário tinha tido fácil, era alto, bonito, na época com uma cabeleira incrível tão de moda, um corpo impressionante, as garotas na escola corriam atrás dele, ele por preguiça, corria delas.

Tinha seu lugar preferido, enquanto todos iam a praia do lago, mais perto da cidade, ele preferia ir na mais longe que não ia ninguém.   Ali ficava treinando vários estilos de natação, se sentia um peixe dentro d’agua, pois esse era seu elemento.

Ficava ali até tarde, evitando voltar para casa, no verão, algumas vezes levava na sua bicicleta, uma manta, estendia sobre uma pedra, dormia ali olhando as estrelas no céu.   Levava um sanduiche para manter a barriga quieta, aí se levantava de manhã, mergulhava por um bom tempo na água fria, até despertar completamente.

Se vestia, ia para a escola, se tinha aulas de línguas, nem levava livros, nem material, para ele era fácil, já falava duas línguas diferentes do inglês, francês de sua mãe, alemão de seu pai.

Quando discutiam, cada um falava na sua própria língua, era como estar numa torre de Babel.

Atualmente as discussões era cada vez mais frequentes, ele não parava em trabalho nenhum, ela sustentava a classe com seu salário de professora na escola.

Ele como filho único, era uma mistura dos dois, mas tinha uma coisa, odiava discussões.

Tinha dormido na beira do rio, parou no mercadinho ao lado do posto de gasolina, para comprar um sanduiche que eram fantásticos, com o pão recém-saído, quente, cheio de manteiga que ele adorava.

Estava ali sacudindo seus cabelos ainda molhado, quando viu um homem parado com uma máquina fotográfica, fazendo fotos dele, não entendeu, foi em direção ao mesmo, esse antes que ele chegasse perto, estendeu um cartão, tinha um nome Robert Straus, agente de modelos.

Elogiou a sua cara, bem como seu porte ao andar.

Se quiseres pode ir longe, eu vou estar no motel, sinalizou do lado do posto de gasolina, meu carro está com problemas, se quiseres posso fazer uma coleção de fotos tuas.

Ele riu, eu modelo, era a única coisa que nunca tinha pensado em ser.

Na verdade na noite anterior, estava pensando nisso, estava no seu último ano na escola, atrasado porque tinha passado um ano mudando de cidade em cidade, até sua mãe encontrar emprego.   Mas nunca chorava o leite derramado, precisava do diploma se queria ir à universidade, suas notas eram altas, mas claro, era como se ele não fosse dali.  Tinha escutado um professor dizendo, creio que temos que premiar os que são da cidade, esse garoto apareceu do nada, se damos uma das duas bolsas de estudos que podemos conseguir, um daqui sairia perdendo.  O professor de atletismo soltou, se tivéssemos competição de natação, ele poderia ter conseguido uma bolsa de estudo nessa área, mas agora é tarde.

Disse para o homem que ia pensar.

Qual o teu nome?

Tod Andreus, montou na bicicleta, seguiu seu caminho, quando chegou na escola, viu um carro de polícia, viu sua mãe sair com o policial, tudo que pensou foi, o que o velho aprontou dessa vez.  Ela o abraçou chorando.   O policial explicou, tinha ido cobrar um trabalho que tinha feito no campo, o dono da plantação pagou a metade, porque disse que era preguiçoso.  Ele deu uma surra no homem, pois era uma mentira.   O mesmo estava no hospital.

Não tem jeito meu filho, esqueça da universidade, agora terei que pagar um advogado, para ver se consigo que o tirem dali.

Voltou para a escola, fez os últimos exames, sabia que por mais que tivesse nota, não lhe tocaria ter uma bolsa de estudos, sua mãe se referia se ele ganhasse uma, ela poderia lhe dar dinheiro para aguentar um ano no máximo, isso se não fosse para alguma cidade grande.

Ele vinha voltando para casa, pensando, como iria fazer.

Viu o homem na varanda do motel, se aproximou, pediu que ele falasse mais no assunto.

Esse lhe contou que tinha uma agência de publicidade, que tinha modelos para fotos, ou mesmo alguns tinham alcançado o cinema, que ele tinha tipo, aqui não posso revelar as fotos, mas a câmera te ama.

Ele precisava desesperadamente de uma oportunidade, bom vou tomar um banho no lago, sabia que ir para casa era besteira, lá estaria sua mãe, se lamuriando da vida.

Foram andando até sua praia preferida, não tinha viva alma ali, explicou que ali era seu lugar magico.

Mal foi chegando, tirou seu macacão jeans, a camiseta, a cueca, ficou completamente nu, se jogou na água, ficou ali nadando vários estilos, viu que o homem não parava de fazer fotos, ira trocando os carreteis sem parar.

Esse cara deve ter feito fotos minhas nu, vai me vender ao melhor postor.

Foi saindo da água, ele não parava. Nada de fotos nu.

Abriu a máquina, tirou o carretel, o mesmo fez com o que estava na bolsa, retirou tudo jogou no lago.

Estas fazendo fotos desde que me viste, sem pedir se pode.  Isso não está direito.

Muitos dariam a vida por isso.

Me importa uma merda, minha vida está presa nesse lugar.

Tenho um amigo diretor de cinema, que adoraria ver você fazer esses exercícios na água.

Estavam na época dourada dos filmes feitos em piscina, com a grande estrela, Esther Willians, que tudo sempre se passava em volta das piscinas, musicais sem pretensões, mas nos tempos difíceis era o que o povo queria.

Essa noite falo com ele, se quiseres, podes vir comigo para fazer um teste.

Ele continuava ali em pé na frente do homem, sem saber muito por que, já tinha uma certa experiencia em sexo, viu que o homem não tirava o olho do seu piru.  O levantou, abaixou as calças dele, o virou de costas, fez sexo com ele ali em pé na praia, o homem gemia baixinho, pedindo mais.

Depois se jogou na água outra vez para se limpar.   Tinha feito sexo com outro garoto, na cidade anterior que tinham vivido.   O mesmo era mais velho, logo entrou para o exército.

Talvez tinha sido um dos poucos amigos que tinha feito, pois nunca paravam mais de um ano nas cidade, pois logo seu pai nunca conseguia emprego, aparecia outra na sua cabeça.

Agora queria ver como seria, ele na cadeia, como passaria sua mãe, quando chegou em casa, ela estava sentada na varanda, não disse uma palavra.

Se sentou na escada de madeira da mesma.   Ela comentou que as coisas tinham que mudar, não iras a universidade, tens que arrumar algum emprego por aqui, até conseguir tira-lo da cadeia.

Os empregos que poderia conseguir seriam no supermercado dali, no posto de gasolina, fora isso teria que trabalhar no campo, de sol a sol.

Nessa noite, arrumou sua mochila, com as poucas roupas boas que tinha, ia aceitar a proposta do Robert Straus.

No dia seguinte, ficou na estrada lhe esperando, quando ele saiu do posto de gasolina, com seu carro, fez um sinal de stop.  Este parou com um sorriso imenso na cara.

Dois dias depois estavam em Los Angeles, eu teria que voltar a cidade aonde fui, pois jogastes fora os carreteis das fotos que fiz, horríveis por sinal.

Tinha falado com seu amigo diretor, ele precisava de uma pessoa que fizesse uma certa competência com as nadadoras, era uma história idiota, uma sereia que sai da água, se transforma numa garota normal, ao mesmo tempo o Deus das águas manda um sereio traze-la de volta a casa, afinal era sua filha.

Ele faria esse papel, não tinha que dizer nenhuma palavra.

No começo do filme, ele aparece com a atriz, nadando pelo mar, que não passava de uma imensa piscina de studio, ela olha para longe, nada em direção à praia.

Quando sai da água, num truque daqueles de Hollywood, vê uma roupa, se veste. A ele toca ir contar ao Deus que sua filha escapou, como castigo manda busca-la, mas ele não a encontra, o trecho todo do filme passa, em festas com Rock Roll, os jovens se divertindo, quando ele a encontra ao final, ela esta beijado o namorado, estão a volta da piscina, sem querer alguém esbarra neles, ela cai na água, se transformando em sereia, um escândalo como nos filmes daquela época, correria, gritos, para eles ela virou um monstro, ele a resgata, a leva para o mar, a cena final, é ele olhando de longe a praia, com raiva provocando uma onda imensa, já que a mulher que ama morreu, a onda pega de surpresa os que estão na praia.

O filme acaba aí.

De um certo prisma, o mesmo é uma merda da época, porque a estrela principal, não era Esther Willians.

Mas claro ele chamou atenção, pela sua postura, bem como beleza, realmente cada vez que aparecia seminu, a câmera passeia pela sua cara, por seu corpo.

Lhe pagaram o que ganharia um ator sem nome, que durante o filme inteiro não diz uma palavra.

Straus, o tinha colocado com uma velha atriz alemã, que o treinou a falar bem o texto, como se sentar numa mesa elegante, a tomar um drink, a fumar, embora ele odiasse.

A coisa era fazer bem essas, coisas, com ela estudava textos para contracenar.

Foi quando lhe surgiu um filme que depois faria um imenso sucesso, ele não era o papel principal, mas aparecia no filme inteiro.  Quando fez o teste de voz, o aprovaram, tinha uma voz clara ao dizer o texto, sempre o tinha na ponta da língua.   O ator principal, era um velho ator, a história era pai e filho levando um rebanho, no Texas.

Lhe perguntaram se sabia montar a cavalo, o tinha feito desde criança, conforme o lugar que tivesse vivido.

Sé fizeram uma coisa, mudaram seu nome, passou a ser Andreus Marckus. Queriam que assinassem um contrato por vários filmes.  Straus que funcionava como seu agente, disse que nem pensar, pois ficaria preso ao studio, pode te obrigar a fazer filmes de merdas, como o anterior.

Ele vivia na casa do Straus, aonde tinha uma piscina, chegava em casa, se jogava na mesma, tinha um quarto só para ele, mas as vezes dormia com ele.   O homem que era muito mais velho estava apaixonado por ele.

Fez o filme, se saia bem nas cenas, o ator principal que odiava repetir gravações, por causa de algum ator que não soubesse o texto, o elogiavam pois ele sempre tinha o seu na ponta da língua.

Fizeram boa camaradagem durante o filme, em seguida, o velho como o chamava, ia fazer outro filme, passado em Sonora no Mexico, a luta de um fazendeiro americano, com um bando mexicano, inventaram para ele, o papel de filho do mesmo.

Chegaram a fazer ao longo dos anos, muitos filhos juntos.

O último tinha sido um ano antes do velho morrer, de uma peça de teatro que tinham feito em NYC com muito sucesso, o velho numa cadeira de rodas, um filho que o odeia, tendo que cuidar do pai.  Ele tinha interpretado, usando como se tivesse que voltar atrás para cuidar do pai bêbado, morrendo.

Os dois ganharam prêmios na época.

Logo quando lançavam o filme, apareciam jovens que queriam se estrelas de cinema, para acompanha-lo, ele achava um saco.

Anos depois contracenou com uma atriz que acabou sendo sua melhor amiga.  Tinha esta história que durante a filmagem divulgavam que ele tinha um romance com a atriz principal, ele achava uma merda isso, nunca respondia a essas perguntas.

Estava aprendendo a dirigir sua própria vida, Straus estava passando um mal momento, tinha tido um enfarte, estava no hospital.

Vinha do mesmo, tinha esquecido seu texto nos camarins, quando passou, encontrou a atriz, jogando paciência com uma garrafa de whisky ao lado.

Diziam que ela era uma estrela, mas estava ali, com sua cabeleira espalhada nos ombros, com uma cara triste.

Perguntou se tudo estava bem, esqueci o texto vim buscar para ensaiar para amanhã.

Ela o convidou para um copo, disse que estava tentando afogar suas magoas, tinha chegado aonde queria, mas os jornais as revistas não lhe permitiam levar uma vida simples, tampouco os studios, pois ela tinha um contrato, tinha que fazer o que eles queriam.

Se sentou no chão na frente dela, disse que ele só assinava pelo filme, tinha aprendido isso, depois me oferecem mil merdas, teria que fazer.   Assim vou por livre, mas cada vez, tentam que eu firme um contrato, meu agente lê o mesmo, o passa para um advogado, assim não fico preso.

Ela ao contrario dele tinha vindo do teatro, lhe perguntou se tinha feito alguma vez, ele riu, disse que tinha feito duas vezes na escola, uma peça em francês, conseguia se lembrar o texto, falou o mesmo, ela riu muito, não entendi merda nenhuma.

Disse que numa outra como sabia falar alemão fazia um pequeno papel de um soldado alemão.

Nunca me esqueço o texto, no meio dos ensaios o garoto que fazia o papel principal nunca se lembrava do mesmo, acabei fazendo o papel dele, bem como do soldado.

O pessoal ria, porque sabiam que era eu, fiz isso querendo ter amigos na escola, mas foi ao contrário, nunca fui popular.

Ela comentou que tinha visto os dois filmes que ele tinha feito com o velho, não ficas nada a dever a ele, nas cenas que contracenam.

Bom na verdade, ele me ensinou como eu deveria fazer as cenas, é uma excelente pessoa.

Não foste com ele para cama?

Como, jamais, ele sempre se comportou bem comigo.   Straus tinha feito a mesma pergunta.

Ele é gay, lhe perguntou?

Dizem que sim, teve um casamento desgraçado, levou tempo para se livrar da mulher, nunca mais se ouviu falar de romance nenhum, ele é outro que adora fazer teatro.

Ficaram conversando, quando viram era de manhã, ele foi se preparar para mais um dia de filmagem, tinha conversado sobre a cena, era complicada, ele devia estar arrasado por algum motivo, antes de entrar em cena, soube que Straus tinha morrido durante a noite, por uma repetição do enfarte.

Então fazer a cena foi fácil, estava realmente arrasado, não poderia dizer que o amava, mas tinha sido seu mentor durante todo esse tempo, cuidado de sua carreira, tinha feito por ele mais que seu pai.

No enterro, estava arrasado, quando um advogado veio falar com ele. Deveria ir ao seu escritório no dia seguinte.

Foi, imaginando que este lhe pediria sair da casa do Straus, este lhe tinha ensinado a economizar seu salário, investir, dizia, que muitos atores pecavam por isso, faziam sucesso, comprava um carro imenso, para se exibir, gastavam dinheiro a rodo com mulheres famosas, na final acabavam sozinhos, sem um puto.

Mas não, ele lhe deixava a casa, bem como um dinheiro que tinha investido, bem como uma carta, pelo visto escrita no momento que descobriu que tinha problemas de coração.

Na mesma dizia que ele tinha sido o melhor que lhe tinha acontecido, eu quando te vi, me apaixonei ao minuto, quando te vi saindo da água, era como se um deus saísse para me abraçar, quando fizeste sexo comigo, com a simplicidade que sempre fizeste, minha paixão aumentou, nunca me importei se me amavas ou não, em minhas crises de ciúmes, te imaginava indo embora, mas ao contrário, ias trabalhar, voltavas para casa, para tua piscina, era um deleite para meus olhos te ver dando braçadas como se tivesse brincando, algumas vezes, saia da água todo molhado, me levantavas no colo, fazíamos sexo.  Obrigado por me fazer feliz nestes últimos anos de minha vida.

O que te deixo, será na verdade, que foste um aluno avantajado, aprendeste a investir o dinheiro que ganhas, serás alguém com a cabeça bem sentada.

Nesse dia sentou-se com sua amiga, lhe contou tudo, como tinham se conhecido, ela bebia, mas ele não, o escutou tudo o que tinha para dizer, era com se colocasse para fora, uma emoção grande.

Antes de ele ir embora, passou um texto para ele, me convidaram para fazer esse papel na Broadway, eu disse que o faria, se fizesses o outro papel.   Leia, seria um prazer trabalhar contigo.

Lhe contou que sua experiencia vinha somente de teatro de escola, que não sabia se podia ou não ser bom no palco. 

Pelos teus filmes, diria que sim.

Começou a ensaiar com ela, fazendo anotações, no texto, quando ela perguntou por quê?

Porque ninguém fala assim na vida real, parece uma impostura.

Ela sabiamente mandou o texto de volta, com as correções dele.  O autor ficou furioso, era um sujeito emproado, se achava o rei, porque uma peça anterior, tinha feito sucesso.  Mas como queria que ela fizesse o papel principal, aceitou fazer as revisões.

Quando acabaram o filme que estavam fazendo, embarcaram para NYC, ele fechou a casa que tinha herdado, transferiu uma parte de seu dinheiro para lá.

Quando chegaram, tinham lhe reservado um hotel importante, dormiu uma noite, no dia seguinte perguntou quem pagava por isso.  A resposta o deixou furioso.

Ele pagaria, fechou a conta do hotel, procurou um apartamento pequeno, bem ao seu gosto, não ia gastar uma fortuna, por um hotel, quando iria somente dormir lá.

O diretor se assustou com ele, pois já trazia o texto basicamente decorado, sem que lhe dissesse nada, começou a mover-se no palco, conforme a marcação do texto.  Alguma coisa não funcionava, até que o diretor lhe disse que tinha sido escrita para um palco enorme.

Foi fácil trabalhar com ele, ela ainda tinha que trabalhar com o texto na mão, depois com uma pessoa lhe corrigindo, ele disse que não precisava, sabia o texto dele e dela, a corrigia quando errava alguma coisa, mas não de uma maneira pretenciosa.

Se sentaram um dia para rebater o texto inteiro, o faziam como amigos.  Ao terminarem, ela disse que queria lhe apresentar uma pessoa.

Surgiu da penumbra do teatro, um homem mais ou menos da idade do Peter Straus.  Era um professor de linguística.    Era francês, mas levava décadas nos Estados Unidos.

Pierre L’Endour, se interessou por ele imediatamente, começou a trabalhar as palavras, seus significados com os dois. 

No dia seguinte quando ensaiavam o diretor disse que tinha alguma coisa diferente, agora sabemos o significado do texto.

Era um embate furioso entre duas pessoas, que não tinha conseguido equilibrar seu matrimonio.

Ficaram seis meses em cartaz, ela não gostava de temporadas largas, pois se cansava do texto.

Ele ao contrário tinha se apaixonado pelo palco.  Sempre tinham os bajuladores, pessoas que queriam aparecer ao lado dos atores, ele descobriu uma saída a parte do teatro, pagava a um dos funcionários, para o deixar sair por ali.

Passaram a lhe chamar de fantasma do teatro, pois acabada a função ele desaparecia.  Ia correndo a casa do Pierre, o amava com fúria, com a energia que lhe sobrava do teatro.

Mas estava sempre reclamando que sentia falta da piscina, uma vez pensou em se banhar no Rio Hudson, mas foi desaconselhado, olha a sujeira que tem.

Até que descobriu um ginásio, aonde tinha piscina, saia de manhã da casa do Pierre, ou da sua casa, ficava horas nadando, especializando seu Crown.  As vezes se esquecia do mundo.

Depois ia almoçar com sua companheira, depois ao seu apartamento, estavam estudando um texto novo, um filme ali mesmo na cidade.

O primeiro que ele fez, foi anotar todas as referencias que dizia o filme, ruas, bairros, andava por ali, para ver como viviam as pessoas, começou a fazer anotações no texto.

Ela se matava de rir com ele, com essa sua mania.   Foram falar com o diretor, ele devolveu o texto cheio de anotações, depois de perguntar se seria filmado num studio, ou nas ruas.

Inclusive sugeria lugares mais em acorde com o texto.

Mas o principal, era que os personagens na verdade não casavam com as pessoas que viviam no bairro.   Perguntou se o roteirista conhecia o bairro.

Deus me livre, respondeu ele.

O arrastou com ele, com o texto na mão, foi mostrando as pessoas, que mais ou menos correspondiam aos personagens, depois fez o mesmo com o diretor.

O roteirista esteve quase um mês retocando tudo, inclusive tinha pensado em levar o texto para um bairro mais fino, mas não encaixava com a problemática da história.

Era um homem de uma certa maneira sem formação, que perdia os empregos, com a mesma facilidade que levantava o copo.

Se baseou em seu pai para fazer o papel, seu pai era como ele grande, mas encurvado, como se cada coisa que não dava certo fizesse que seus ombros caíssem mais.  Tinha um ricto amargo na boca quando falava do que tinha acontecido.   Uma vez, apareceu em casa com os punhos sangrando, de ter surrado um chefe que lhe maltratava segundo ele.

Na texto, havia duas histórias, a que ele contava, a real, que ele não encaixava na sociedade.

Os dois se transformaram radicalmente para fazer o papel, um maquilador, lhe preparou, ele olhou sua cara no espelho, pensou em seu pai, começou a fazer uma série de correções, lhe faltavam arrugas, pediu que ele fizesse uma foto, assim poderia repetir nos dias seguintes, mas mesmo assim fazia correções.

Ela foi a mesma coisa, sem querer lhe soltou que se baseava em sua mãe, ao final os dois derrotados, com duas opções, ou aguentarem pelos filhos o resto de suas vidas amargas, ou fugirem.

Ele acabou como motorista de ônibus, conversando amavelmente com as pessoas, tinha encontrado um mundo seu, ela amargada limpando chão das grandes casas.

Há um desequilíbrio impressionante entre os dois personagens.

Ao final, com uma caracterização impressionante, estão os dois velhos, abandonados pelos filhos por quem se sacrificaram.

Quando viram o copião do filme, ele jurou que nunca mais faria isso, pois era um desastre emocional.   Seguia vendo seu pai em cada cena do filme.

Procurou um advogado, deu a localização da cidade, queria saber se ainda eram vivos.

O filme foi indicado aos Oscar, mas ele se mostrou imutável a respeito, discutiu muito com sua amiga, isso de prêmios para ele era uma besteira, pois o importante era trabalhar.

Seguia com sua rotina diária.  Pierre lhe avisou que iria voltar para França, tinha um convite para trabalhar na Sorbonne, bem como tinha desenvolvido um método, baseado nele e em sua amiga para como trabalhar a palavra.

Num primeiro momento, ficou furioso, mas depois entendeu, ele nunca tinha lhe dito que gostava dele, não sabia se expressar nesse sentido, fazia isso no cinema, no teatro, mas na vida real, sempre lhe parecia falso.

Estava chateado com o assunto, lhe chamaram para fazer uma peça de teatro, sua amiga estaria em Hollywood, fazendo um filme.   Nos ensaios conheceu uma das moças com que ia trabalhar, se interessou por ela, era jovem, muito bonita, as vezes supérflua, mas de fácil trato.

Nunca sabia o texto, ele tinha paciência de lhe explicar.    Um dia apareceu em seu camarim, tinha brigado com seu namorado.  Um dos produtores do espetáculo.

No que a foi consolar, sem querer começaram a fazer sexo, isso durou um mês, um dia a viu preocupado, logo no início, tinha lhe rompido a camisinha, não estava acostumado a usar, pois com Robert, nem com Pierre usava.

Estava furiosa, vinha do médico, estava gravida, não queria ter a criança, ele sim queria um filho, sempre tinha gostado de criança.

Fizeram um acordo, ele ficaria com a criança, desde que ela desistisse da maternidade, levaria o nome dos dois, mas o verdadeiro.

Por sorte a peça, as mulheres usavam vestidos amplos pela época. 

Segundo a crítica, só ele brilhava no espetáculo, os outros pareciam marionetas em função de como ele dizia o texto, que a ele se via brilhar pelo uso da palavra, quando lhe perguntavam dizia que era porque as amavas, as estudava a exaustão, a namorada achava isso uma grande besteira, queria sim ser artista de filmes, o teatro para ela era chato.

Ele alugou um apartamento maior, para que ela pudesse ter o filho ali, não queria ir para uma clínica. Combinou com seu médico, uma cesária, mas que estivesse presente um cirurgião estético.     Acabou tendo que ir para um hospital, pois nas vésperas a coisa se complicou, foi tudo como ela queria, quando trouxeram a criança, ela sequer o correu nos braços, mandou que a enfermeira desse para ele, afinal ele era o pai.

Depois dos papeis combinado, ela lhe pediu dinheiro para ir para Los Angeles, ele deu, mas lhe disse, nunca mais quero te ver, tinha ficado horrorizado com a forma que tratou o filho.

Ele ao contrário, ficou ainda um tempo em NYC, contratou uma senhora mexicana para cuidar do garoto, quando ele estivesse no teatro.

Era impressionante, o garoto ficava agarrado a ele, desde o momento que ele chegava em casa, às vezes, dormia com ele na mesma cama, embora tivesse medo de o machucar dormindo.

O levava para o teatro, se a senhora o levasse para o camarim, abria um berreiro incrível.  O jeito era ele ficar na coxia, escutando a voz do pai.

Quando o levou ao médico para revisão, o médico disse que pelas provas desconfiava que ele pudesse ser autista.   Ele se informou a respeito, conforme o menino ia crescendo, ele aceitava fazer filmes, desde que fossem rodados na cidade, fora era complicado se separar dos filmes.

Maria Gutierres ia as filmagens, as vezes o ajudava com o texto, mas fazia isso, com o garoto nos braços, ela arrumou um jeito como faziam as mulheres nas colheitas, para ele ter o garoto nos seus braços.   Suas brincadeiras com ele, eram formar palavras com cubos de letras, falar com ele, articulando bem as palavras, com os anos o ensinou a falar direito, a olhar as pessoas, pois ele sempre fugia ao primeiro contato, tinha uma paciência imensa com ele.

Tinha alguns relacionamentos de uma noite, quando sentia uma certa necessidade ou a pessoa o atraia.

Não permitia nunca que fotografassem o garoto, queria manter sua intimidade a toda custa.

Tinha lhe colocado o nome do seu primeiro amor, Robert, mas o chamava carinhosamente de Rob.

Ensaiava os textos com ele lhe olhando.   As vezes o garoto respondia o que o personagem perguntava, lhe dava um beijo por isso.

Quando ficou maior ele tinha poucas possibilidades de acompanhar uma escola normal, por isso arrumou uma professora para lhe ensinar o básico, mas demorou a conseguir, pois precisava de uma que entendesse como funcionava a cabeça dele.

Para alguns diretores, ele continuava sendo um ator fantástico, nunca chegava atrasado, tinha sempre o texto na ponta da língua, entendia o personagem, estudava o mesmo, depois debatia como diretor o enfoque que esse queria dar.

Sua amiga vinha sempre a NYC, adorava o Rob, que por milagre era agarrado a ela.

Essa estranhava, pois nunca queria ter sido mãe, mas gostava do garoto.

Ele tinha um bom nome na Broadway pelos seus contínuos trabalho, mas a ela tinham quase esquecido, pelo tempo passado em Los Angeles.

Ela se ressentia disso, mas ele entendia, lhe dizia sempre, achas que quando morremos, vão se lembras da gente, talvez nossa geração sim, mas a seguinte já terá nos esquecido.

Ela dizia que ele era demasiado pé no chão.

Resolveram montar uma peça alemã, muito complicada, a tiveram que trabalhar muito pois o tradutor tinha feito uma tradução literal, a coisa não funcionava, não tinha perdido o contato com Pierre, falou com ele, este lhe indicou um professor alemão da universidade.

Este ao contrário conhecia o texto com profundidade.   Trabalhou com eles, duramente.

A peça foi um sucesso. Ninguém escutava mas via seu filho lhe aplaudindo, um dia lhe disse que ele tinha errado uma palavra do texto.  Disse qual, do momento tal. Ele tinha realmente mudado a palavra.

Em seguida ela foi para Paris, fazer um filme indicada pelo Pierre.

Ele resolveu montar um outro texto “Esperando a Godot” de Samuel Becket, ensaiava com o filho presente, entre eles havia uma afinidade, Rob agora tinha 12 anos, mas entendia o texto como ninguém.

Estava esperando a produção conseguir um ator, quando o diretor se matava de rir, quando seu filho entrava fazendo o outro personagem.   O garoto se modificava totalmente, parecia um adulto, tinha uma voz firme, dura, uma vez por semana o faziam em francês, ficou observando esperando que o Rob fizesse algo diferente, mas falava o texto como ninguém.

Pierre veio ver, quando soube que o Rob era considerado autista, não acreditou, pois segundo ele, nunca tinha visto ninguém entender a palavra como ele.

Claro esta acostumado comigo, a ensaiar, a me acompanhar em tudo.

Pierre ficou impressionado, como os dois conversavam, nem pareciam pai e filho, sim dois amigos íntimos.

Falou com amigos em Paris, depois da temporada, levaram o espetáculo para Paris, tiraram uma semana, para passearem.  De uma certa maneira Robert parecia mais adulto que alguns garotos da sua idade, não lhe interessavam os jogos que esses faziam, nem tampouco os livros infantis.

Na estreia, nem sabia que o autor, estava no meio do público.

Foi uma ovação total, ele tinha ensinado ao filho, como se comportar no final, coloque a mão em cima do coração, dizendo que agradece do fundo de tua alma.

Um dia Rob começou a questionar o que era a alma, tinha discussão, de horas sobre o assunto.  

Estavam num café justamente discutindo o assunto, quando um homem sentado ao lado, se intrometeu.   Começou a falar o sentido que tinha para ele, a cara do Rob era de compreensão total, depois começou a conversar com o homem, sobre suas origens.

O homem se apresentou, sou Jean Genet, os tinha visto no teatro, nunca imaginei que fosses tão jovem.  Acabaram almoçando juntos, ele ficou de ir mais uma vez ao teatro, queria levar seus livros, seus textos de teatro.

Pierre quando soube se matou de rir, é um homem complicado, mas seus textos são duros.

De noite saíram os quatros para jantar.

Rob, tinha passado a mão em um livro, pegou um guardanapo começou a escrever ao mesmo tempo, Jean se levantou, trouxe uma toalha de papel imensa, a dobrou várias vezes, até terem o tamanho de uma folha A4, recortou para ele, ele seguiu escrevendo.

Mal tocou a comida, todos tentavam levar a conversa com naturalidade, Jean estava morto de curiosidade.

Ao final lia com uma rapidez impressionante, se virou para o pai, acabo de encontrar um texto que vai fazer o senhor ser realmente um grande ator.

Era uma novela, Milagre da Rosa, um texto passado numa cela.   Deu uma mordida num troço de pão, começou a discutir com Jean, como ele via cada cena do livro.

Este estava com a boca aberta, afinal Rob tinha pouca idade para entender.

Ele parou, disse ao Jean, tu estiveste numa prisão, eu nasci em uma, por sorte tenho um pai que me entendeu, me amou desde o momento que nasci, me ajudou com a palavra, a me comunicar com o mundo, senão estaria como muito autistas, preso em mim mesmo.

Jean não sabia desse problema dele, o abraçou com lagrimas nos olhos.

Ele mesmo dirigiu o espetáculo, foi montado num dos pequenos teatros de Paris, um dia Pierre convidou dois críticos de arte, que ficaram sentados no escuro do teatro.  Uma discussão sobre uma palavra do texto, batalhavam para exprimir a emoção.

Um dos críticos, dizia como um homem bonito como o Andreus, ia representar esse homem baixinho, feio, calvo.

Nesse momento, pararam a discussão, começaram a ensaiar o texto, ele nem sabia de aonde tirava esse personagem, tinha conversado tanto com Jean, sobre toda sua vida, que o entendia, ficou surpreso, que seu filho lhe dissesse, que o devia abraçar um dia, ficar parado com ele em seus braços, sentir tudo que o outro sentia, fizeram esse exercício várias vezes.

As palavras era o mais forte disso, ele se expressava com o corpo, com a palavra, quando terminaram um dos críticos, aplaudiu.

Vai ser um grande espetáculo, o outro tinha reticencias ainda com a historia da diferença de altura, ele ser bonito.

Nas vésperas da estreia, ele saiu, disse ao Rob, já volto senhor diretor.

Quando voltou tinha a cabeça raspada, bem como tinha estado horas diante do espelho, com maquilagem que tinha conseguido numa loja, uma foto do Jean ao lado.

Quando começou o ensaio, geral, acenderam as luzes, Jean disse que podia se sentir no palco.

Ele fez o texto inteiro, sem parar, as vezes arranhando as paredes, outras demonstrando ansiedade por escutar uma voz.

Quando terminou, Jean, estava as lagrimas, me entendeste.

A crítica estava receosa, um ator de cinema e teatro americano, entender um dos autores mais complicados da França, como era possível.

O teatro estava lotado no dia da estreia, ninguém tinha visto mais o Andreus durante esse dois dias, quando acendeu um foco em cima do personagem, o publico fez menção de aplaudir, mas aguentou firme as duas horas de basicamente monologo.

Aplaudiram em pé, ele chamou seu filho, bem como Jean para os aplausos, meu filho escolheu o texto, entendeu Jean como ninguém, segurou o rosto do Jean com as duas mãos, lhe deu um beijo.

Depois os três se abraçaram.

Rapidamente alguém queria levar ao cinema, mas ele viu os filmes do diretor, conversou com os dois, para facilitar, Jean negou a venda dos direitos.

Foram ficando, Rob estava lendo, trabalhando com Jean, as criadas, pensava que um elenco masculino, podia fazer a diferença.

Um dia, Rob desapareceu depois de uma conversa, com Jean, os dois sumiram, foram aparecer no dia seguinte.  Tinha pedido ao Jean, que lhe mostrasse as cloacas das perversões das pessoas, voltava com uma livreta cheia de coisas escritas.

Ele mesmo tinha desenvolvido uma maneira de escrever, que ajudava a sua memória.

Andreus ficou assustado, quando o Jean na maior simplicidade do mundo lhe contou o que tinham feito.  Fomos pelo submundo de Paris, ele conversando com as pessoas, algumas o queria para fazer sexo, ele dizia que para ele isso não era importante, conversava, para entender as pessoas.

Jean confessou ao Andreus, que pela primeira vez, lidava com uma pessoa que lhe entendia, as vezes faço um gesto, não preciso falar, ele me entende, se não fosse por outras diferenças me apaixonaria por ele.

Um mês depois, apresentou a eles, um texto, escrito sobre isso, tinha uma cópia para cada um.

Cada palavra, ou sentimento está aí dentro do texto.

Jean de certa maneira se via no texto, era como se Rob tivesse entrado dentro dele, para analisar cada sentimento, de uma pessoa que busca nesse submundo, uma maneira de se entender, Andreus estava comocionado, com o texto, pois refletia, coisas que ele não tinha entendido de si mesmo, com relação ao Robert, ao próprio Pierre, se viu verbalizando ali diante de todos, o que tinha acontecido no lago, quando sai nu d’água, vi que aquele homem me devorava não só com a máquina fotográfica, mas com os olhos arregalados, que não resisti, retirei toda sua roupa o possui, queria ser como ele, queria entrar pela sua pele.

Mal viu que o filho anotava isso.  

Pierre sorriu, isso fizeste comigo, parecias um vampiro, chegavas ainda do teatro com toda energia a flor da pele, não conseguia negar que me possuíste, mas nunca perguntaste nenhuma vez se eu queria fazer o mesmo contigo.

Isso era uma verdade, tinha um bloqueio a respeito.  Amava o corpo da outra pessoa, mas não permitia que amassem o seu.

Talvez seja um falho que eu tenha que deixar um dia acontecer.

Ficas sempre preocupado comigo, sei que só tens aventura de uma noite, tens medo de que alguém rompa esse relacionamento que temos.

Jean aplaudia, estamos fazendo um catarse sobre isso.

Nessa noite foram assistir um concerto de Jazz, num dos bares, que segundo o Jean, era de aonde partia para o submundo.

Se sentiu atraído pela música, porque sentia na pele uma nova sensação, um dos músicos não tirava o olho dele.  Era um negro tão alto quanto ele, se aproximou, se apresentou Ambrose White, ria como se tivesse feito uma brincadeira com seu próprio nome, pois era negro ao extremo.

Quando se tocaram houve uma troca de energia entre eles. Quando vi na plateia o homem que conheci através do cinema, tinha visto inclusive o primeiro filme dele na televisão.

Sentou-se no intervalo para conversar, Jean notou imediatamente a atração entre os dois, diria depois que era uma coisa animal.

Andreus quando se deu conta, estava na cama com o Ambrose, nunca tinha se sentido assim, corria uma eletricidade entre eles, se deixou penetrar, como penetrou, pensou, finalmente pertenço completamente a uma pessoa.

Foram de viagem com o Ambrose, depois do último espetáculo da peça, os críticos diziam que esperavam que ele montasse a mesma na Broadway, ele tinha dúvidas.

Ambrose, era professor de música em NYC, tinha visto seus espetáculos.  Não conseguiam se largar.   Era divorciado, tinha um filho um ano mais novo que Rob.

Quando disse que tinha que voltar, ele ficou sem ar.

Se viu confessando ao seu filho, que não podia imaginar viver sem o Ambrose.  A única resposta do Rob foi, tá na hora de voltar para casa.

Jean, iria passar uma temporada no Marrocos na casa de um amigo. Não queria vir com eles, Rob estava traduzindo a peça, embora achasse difícil algum produtor acreditar nela já podia escutar as perguntas, porque uma coisa tão estrangeira.

Mesmo assim levou a cabo uma adaptação, conseguiram um pequeno teatro, não estava feita para uma plateia imensa, como só havia um ator em cena o custo era barato.

No fundo foi uma produção deles mesmos.

Ambrose tinha visto em Paris, disse que tinha ficado arrepiado com a transformação dele em cena. 

Quando estreou, foi um sucesso de público, mas nem tanto de crítica, uma das coisas era que podia ser um dramaturgo americano.  No fundo os americanos, apesar de ter livros editados lá, Jean Genet era um belo desconhecido.

Acabou que Andreus, ganhou um premio Tony com o espetáculo.

Sua amiga farta outra vez dos papeis que lhe ofereciam em Hollywood, veio ver a peça, ficou elétrica, queria fazer algo assim.  Olhava para seu sobrinho como chamava Rob, já grande, falando como uma pessoa entrosada do mundo da arte, a enchia de orgulho.

Ele mostrou a tradução que tinha feito de “O Balcão” de Jean Genet, que já tinham montado em vários lugares do mundo, o único necessário era mudar o conteúdo, pois normalmente era montado num teatro circular, ou de arena, isso era difícil na Broadway.

Vamos procurar um lugar off Broadway, talvez consigamos alguma coisa.

Foi uma montagem lenta, um trabalho como os dois gostavam, ela via seu amigo feliz com o Ambrose, o filho deste se dava bem com o Rob, estudava física nuclear, embora não fosse um assunto que Rob gostava, conversavam sobre ele.

Ela dizia ao Andrews, que se ele não tomasse cuidado, roubava Ambrose dele.

Finalmente encontraram um armazém imenso no Brooklyn, um arquiteto, seguindo o desenho do Rob, montou a plateia, ninguém tinha visto Rob em Jeremy traçando a ideia, ou melhor dizendo a concepção do cenário, figurinos, se metendo em cheio na produção.

Ambrose montou uma música acidental para o espetáculo.

Escreveram várias vezes ao Jean, o jeito de provoca-lo, foi ser convidado para dar palestras na universidade sobre seus livros.

Ele trabalhou lado a lado com os dois rapazes, dizia que se sentia rejuvenescido, ele um escritor maldito, tendo jovens para escuta-lo.

Na universidade, suas palestras era olhadas com receio por parte de alguns professores, mas a maioria chamava sua presença um sopro de ar fresco.   Levava com eles, seus dois cupinchas como chamava o Rob e o Jeremy.    Algumas vezes cedia a palavra ao Rob, que tinha o dom de poder explicar aos outros jovens o conceito desse tipo de teatro, mais participativo, pois a plateia estava colada com o cenário a metros dos atores, que tinham que ter uma interpretação, movimentada, pois não estavam falando com a famosa quarta parede, sim com o público que o rodeava.

Foi um sucesso, mas logo Jean dizia que tinha que voltar ao Marrocos aonde tinha deixado seu namorado.   Um dia saiu só com os dois, para um passeio a beira rio.  Olho os dois nos olhos, dizendo não percam tempo, o que vocês tem entre mãos, é precioso, não tinham se dado conta que as vezes conversavam de mãos dada.  

Rob saiu do quarto no dia seguinte rindo, foi a cozinha buscar duas taças de café.  Quem o viu foi Ambrose, o seguiu, viu que seu filho estava na cama dele.

Andreus, riu muito, vão pensar que induzimos que nossos filhos tenham uma relação.

Ambrose conversou com Jeremy, pois lhe preocupava que abandonasse a Universidade, este lhe respondeu que tinha encontrado finalmente uma coisa que gostava.   Estudo física, porque faz minha cabeça funcionar, como nunca senti a atração que o senhor tem pela música, tinha que explorar outro extremo.

Mas ao conhecer o mundo do Rob, fiquei deslumbrado, usar a cabeça para fazer as pessoas imaginarem coisas, a criar em cima de uma ideia, conviver com Jean, um homem que veio do nada, me fez sentir-me vivo pela primeira vez.

Os dois já estavam trabalhando em cima de um peça que já tinha sido montada em teatro normal, outra obra do teatro do absurdo, Seis personagens em Busca de um Autor, tinham devorado os dois tudo sobre isso.   Leram tudo de Pirandelo, para entender o autor do texto.

Nisso os dois eram iguais, quando comparavam suas anotações, as vezes caiam na gargalhada.

Desta vez quando anunciaram que iam montar este espetáculo, conseguiram produtores externos, duas velhas glorias da Broadway se atreviam mudar seu estilo de representação, isso era estimulante.

Os dois recebiam propostas de cinema, agora também de novos diretores, com textos modernos, entre um intervalo e outro, fizeram um dos primeiros filmes independentes como se chamava.

Era um trabalho, segundo eles duro, já nada impedia o Andreus de desafiar seu próprio corpo para fazer alguma coisa totalmente contrária ao belo homem que era.

Os dois riam, diziam que com estes trabalhos, era capaz de nunca os chamarem para fazerem papeis de velhos no cinema, tampouco no teatro.

A montagem foi bem recebida, a queriam levar a outras grandes cidades, o problema era a concepção que tinham feito, os teatros todos eram tradicionais, com a quarta boca, ou boca de cena, eles gostavam de um teatro de arena.

Foi quando montaram as Criadas, em seguida, depois obras de Bertold Brecht, Mãe coragem, Andreus dirigiu sua amiga de alma, ela dizia que já podia morrer tranquila, tinha feito o que pensavam em teatro.

Os dois fizeram o cenário, figurinos, Ambrose uma música incidental para dar clima ao espetáculo.  Tiveram durantes meses o teatro lotado.

Parecia que ela estava prevendo, um dia acabou o espetáculo, colocou a mão no peito para agradecer, caiu fulminada por um enfarte.

Já era tarde para socorro.

Andreus ficou abalado com isso, estava escrevendo sua biografia ele mesmo, incitado por ela que tinha escrito a sua, mas não terminou.

Os dois falavam muito um do outro, citando sempre sua eterna amizade, cumplicidade no cinema no teatro.  Tinha sido os companheiros perfeitos.

Todo mundo estranhava, o fato deles nunca terem tido um romance, ele não tinha como explicar, o que ela gostava dos homens, era uma coisa sutil, nunca ficava com ninguém, ou não queria ninguém em sua vida, amava nesse particular como dizia, chegar a sua casa, encontrar a solidão.

Ela deixou toda sua fortuna, para os dois, seguirem fazendo seus trabalhos.

Rob escreveu sua primeira peça de teatro, quando escutavam falar dela, diziam que esse jovem não tinha vivência para escrever sobre o assunto.   Era na verdade um monologo, ele juntou as conversas que tinha tido com Jean Genet, o que escutava seu pai falando, mesmo um largo papo que tinha tido com a avô do Jeremy, claro também sobre sua querida tia, era como uma homenagem a ela.    Em cena, o cenário era simples, uma mulher imensa, cheia de roupas, que vai como que fazendo um strip-tease, tirando as capas de sua vivencias.

Quando Andreus leu o texto, chorou muito, entendia tudo que seu filho falava, ele mesmo muitas vezes tinha se sentido assim.

Disse ao filho, como minha grande amiga, quero fechar o circulo do teatro com chave de ouro, quero fazer esse texto, afinal pode ser tanto um homem como uma mulher, ele queria viver agora em paz com o homem que o fazia feliz.

Escolheram o teatro aonde já tinham trabalhado por ser pequeno, o cenário tinha sido um largo debate entre os dois.  Ambrose ajudava o Andreus com o texto, pela primeira vez se envolvia assim no teatro, depois diria que tinha sido uma experiencia única.

As pessoas quando viam os dois juntos, dois monumentos de homem, agora no que se considerava terceira idade.  Dois homens que a sua maneira tinham sido homem lindos, continuavam como isso.

Andreus deixou os cabelos crescerem, foram a bancos de roupas usadas, ele foram colocando uma em cima da outra, ele levaria uma hora para se preparar antes do espetáculo.

Ficou chateado quando soube que Jean tinha morrido, aliás ficaram todos, tinham perdido um grande amigo.  Ele seria enterrado em Larache, no Marrocos aonde dizia ter sido feliz.

Como ele dizia ao Ambrose, estamos na idade que os amigos, conhecidos vão desaparecendo, temos que entender, nos preparar para isso.  Viviam os quatro no mesmo apartamento, cuidando um do outro. Jeremy tinha se formado a anos com louvor, mas nunca fez nada relativamente a física.   Seu negocio era fazer teatro ao lado do seu companheiro.

Com os anos, qualquer indicio que Rob fosse autista, a montagem do espetáculo foi dolorosa, ele aproveitou isso, como lhe tocava ir se lembrando do passado, para ir escrevendo, quando tinha conhecido o Albert, contou toda sua vida ao Ambrose, era como ir se livrando de uma carga emocional, guardada no fundo de sua mente.

Ninguém esperava o tipo de teatro intimista, aquela pessoa imensa, que ia aos poucos se despojando de tudo, até ficar somente um homem nu em cena, a plateia delirava.

A crítica elogiava o texto, quando ganhou o prêmio da crítica, ele fez um discurso, ao entregar o prêmio ao seu filho.

Pela primeira vez, tocava no assunto de ter sido seu filho que o tinha feito trocar tudo na sua vida, desde se abrir ao homem que amava, de trabalhar textos de Jean Genet, de outros autores, tirar o ranço de só trabalhar em dramas que no fundo fazia como um exercício, mas fazer sua primeira peça de teatro, que me tirou de dentro emoções guardadas ao longo dos anos, te agradeço filho, entregou o prêmio, por um momento pareceu ver a mãe de seu filho, mas talvez tenha sido um lapso de tempo.

Quando lhe perguntaram qual o trabalho seguinte, disse que ia de férias com o Ambrose.

Mentira, não conseguia ficar quieto, os meninos tinham conhecido um jovem dramaturgo, estavam estudando seu texto para montar.

Seguiriam assim até o final, um dia sonhou que estava no lago, com Robert, ele sorrindo, ou o ver sair nu do mesmo, num momento parou o movimento, foi ai que começou tudo, sorriu, dormindo, não despertou mais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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