PERDIDO
Vinha da
apresentação da sua tese, que tinha demorado muito para terminar, tinha sido
duramente criticado, teve que aceitar que tinha ficado literalmente
perdido. Foi inclusive buscar num dicionário
as palavras que tinha lhe acusado.
Um dizia que era
Imoral, outro, Amoral, politicamente incorreto, por aí vai, ele não entendia,
sua tese se baseava em que não se deve ficar julgando as pessoas pelos atos
passados.
Ele chegou à
conclusão de que a banca eram os politicamente corretos, que faziam tudo que a
sociedade mandava, mas ao mesmo tempo eram críticos com os demais. Isso ele tinha perdido a muito tempo, por
justamente saber quem era, as coisas que tinha feito para chegar até aqui. Se
perguntava as vezes se faria tudo outra vez?
Como bom sacana
que era, se lembrou de uma música “voltaria a fazer tudo outra vez, se preciso
fosse meu amor”, nem sabia quem tinha escrito a letra dessa música, mas achava
que estava certo. A única pessoa da
banca que não falou nada, foi justamente a professora que tinha orientado a
tese. Ela mesma o tinha avisado, se
vais por esse caminho, será difícil publicar.
Ficou com aquele
esqueleto de tese em suas mãos, resolveu botar os nomes em tudo. Falava da vida como ela era, se tomou a
peito, semanas depois tinha uma história baseada justamente nisso.
Marcou com a
professora, ele nunca tinha tido interesse em ser doutor em filosofia, achava
que ficar pensando na vida, ou filosofando não levava a nada.
Ela o abraçou, eu
te avisei desses hipócritas, caíram de pau em cima de mim, por escolher um
aluno como tu.
Pois, não estou
preocupado, não me encaixo em nada do que falaram, isso de ser amoral, imoral,
todas essas coisas não é comigo, depois ser politicamente correto, é muito
chato, olha a cara deles, tens razão a hipocrisia define muito bem tudo isso.
Mas na minha
santa loucura, tornei a escrever, dando nome aos bois, mas de outra maneira,
escrevi um romance, coloquei coisas da minha vida, que realmente estão fora de
qualquer código de ética, mas tratava de sobreviver, ou era isso, ou me fudia.
Ela riu, sempre
gostei desse teu linguajar tão honesto no fundo. Vou ler, prometo.
Uma semana
depois, sai de uma aula na escola que estava destinado, batalhava para fazer
com que os alunos se interessassem no assunto.
Era muito difícil, alguns perguntava, isso nos servirá no futuro. Ele só podia responder, depende do futuro
que escolhas.
Ela o avisou que
tinha lido, gostei imenso, mandei para um editor amigo meu, acaba de me chamar,
quer falar contigo.
Respirou fundo,
com vontade de se beliscar. Um dos
alunos que ia ao seu lado, riram do gesto.
Que isso
professor?
Para saber se é
verdade o que acabo de escutar.
Mas voltando ao
que me perguntaste, o melhor para responder a isso, é saber como vais traçar
teu futuro.
Era um dos seus
melhores alunos, com perguntas agudas sempre.
Isso tá difícil,
só poderei ir a Universidade se ganhou uma bolsa de estudos, mas claro, tenho
um problema, sou bom em muitas coisas, mas na puta matemática, me lasco.
Eu te entendo,
daqui um dia usaremos o celular, para calcular um mais um, eu também nunca
gostei da matemática, mas olhe, conheci um professor, que nesse ponto dizia que
nem sempre a culpa era do aluno, mas sim do professor, que entendia do assunto,
mas não sabia ensinar. Vou ver se ele
pode te dar uma mão, já que está aposentado.
Riu depois,
Jacques o ia mandar a merda primeiro.
Mas era uma verdade, ele o tinha feito entender a matemática. Era apaixonado por um método de ensino
verdadeiro, criticava sempre os outros professores, por não serem apaixonados pelo
que ensinavam. A maioria queria chegar
ao final do mês, receber seu salário, sobreviver um ano letivo, quem sabe o
futuro.
Hoje em dia
quando falava em “futuro” com os alunos, era como estivesse falando grego,
chegou uma vez a colocar a palavra no quadro, desde o grego, latim, francês,
inglês, todas as línguas que podia imaginar.
Essa era a grande
incógnita dos jovens, o que ia ser no futuro.
Sabia que a maioria por ser um bairro de classe média baixa, não iriam a
lugar nenhum, tentariam arrumar um emprego, antes mesmo de acabarem o curso,
desistiriam sem sequer se questionar.
Lhe dava mais
pena era das meninas, algumas eram realmente inteligente, mas eram filhas de
emigrantes, semi analfabetos. Sua
família era assim, seus pais tinham vindo do Marrocos, para melhorar suas
vidas, sabiam quando muito escrever seus nomes, ele mais tarde ensinou sua mãe
a ler, escrever em francês, enquanto seu pai fingia ler o jornal em árabe.
Queria que ele
crescesse rapidamente para o colocar a trabalhar, para aliviar o custo daquela
casa, isso que sua mãe, fazia faxinas, normalmente comentava como conseguiam os
que tinham dois ou mais filhos. Ele era
filho único, por isso seria cobrado de fazer alguma coisa.
Muitos dos seus
colegas de infância, ou estavam trabalhando ou vendendo drogas, pelos becos do
bairro.
Ele preferia dar
uma volta imensa, para chegar à escola. Foi quando na escola chegou Jacques,
ele era honesto, quando lhe perguntou se gostava de matemática, disse
rapidamente não entendo nada que ensinam, sei o básico para fazer uma conta.
Assim foi com
todo mundo, mas ele disse que com ele era diferente, a matemática ia ser
divertida, criava jogos, questionava tudo, fazia que todos participassem, o
ensinou a usar isso em todas as matérias.
Tens que pensar que as vezes estudar é absolutamente chato.
Principalmente se não sabes se no futuro usarás isso para sobreviver. Anotem eu nunca disse viver, mas sim
sobreviver, pois é isso que fazemos.
Alguns
professores não gostavam do método dele, nem de sua maneira de pensar.
Todos iam
formalmente as aulas, ele ia de camiseta, calças jeans, tênis, seus cabelos crespos
imensos, soltos, alguns poderiam chamar de juba leonina.
Ele foi um dos
primeiros a entender o conceito disso.
Jacques num contrassenso, dava também aula de filosofia. Entrou no seu primeiro dia na aula, falando
alto, como se ali não estivesse nenhum aluno, “para que vou estudar filosofia,
se não tenho dinheiro para comer”, isso ele fazia milhões de frases, para o uso
da filosofia. Todo mundo estava
assustado, de aonde saiu esse louco, era o que estava na cara de alguns.
De repente parou
na frente dos alunos, soltou, eu vou ensinar a vocês a pensar. Pois filosofia é
isso, pensar, os que tiverem preguiça simplesmente vão sobreviver, carregando
pedras, vamos parar para analisar este ato.
Para carregar
pedras, é preciso de jeito, quantas maneiras posso carregar pedra, começou a
perguntar um a um, como o faria.
Até que eu lhe
respondi, primeiro procuraria na obra um carrinho para colocar as pedras para
facilitar levar muitas ao mesmo tempo.
Ele deu uma
palmada na minha mesa, que me assustei.
É isso, usar a cabeça para resolver um problema, não deixar que nada
interfira nisso.
Foi com ele que
aprendi a pensar que moral, imoral, amoral, politicamente correto, tudo era uma
bazofia de quem não tinha o que fazer, que vivia em berço de ouro, querendo que
os outros obedecessem sem pestanejar.
Em vez de
telefonar para o editor, primeiro telefonei para ele. Sabia que estava em Paris, outra vez, tinha
passado um tempo no campo, recuperando de uma grave operação.
Não posso dizer
nada da alegria de escuta-lo, pois ele foi a primeira paixão da minha vida,
embora eu nunca tivesse verbalizado isso.
Era meu espelho, queria ser como ele.
Quando viu que
era eu, largou de uma vez, boa coisa não deve ser para estar me chamando, mas
te digo, se queres algo, terás que chupar meu caralho.
Essa era a
linguagem que usávamos entre os dois.
Ok, minha única
pergunta senhor é se está limpo, pois sei que vossa excelência não tem hábitos
muitos saudáveis.
Isso era para lhe
provocar, pois um dia chegou na aula, foi passando entre as carteiras, dizendo
quem devia usar desodorante ou tomar um banho como deve ser.
Imagina, todos
ali eram filhos de emigrantes, gente que tomava quando muito um banho a semana,
que usava uma bacia, para lavar os sovacos, a cara. A não ser os que eram mulçumanos que se
lavavam para as orações. Mas a grande
maioria tinha mandado a fé para a casa do caralho.
Ele fez uma coisa
que a principio riamos, fingiu que estava tirando a roupa, que tomava um banho
como devia ser. Desde lavar os cabelos, lavar
a cara, ouvidos, foi descendo, disse como os meninos devia lavar o piru, a
meninas seu órgão feminino, a bunda, as pernas os pés. Só então estaríamos limpos.
Na aula seguinte,
cada mesa tinha uma embalagem de sabonete.
Disse que sua irmã tinha uma fábrica ali em Marseille. A preocupação de todo mundo foi sentir o
cheiro.
Na semana
seguinte, fez o mesmo caminho, em dois parou, perguntou se tinham tirado o
sabonete da embalagem pelo menos. Os
chamou de fedorentos, na outra semana, entregou a todo mundo pequenas
embalagens de xampu, foi um deus nos acudam, pois eram diferentes um do outro,
descobrimos depois que ele na verdade comprava o que estava em promoção numa
loja ali perto.
Quando falamos
que era mentira a história de sua irmã, ele disse veja, não foi politicamente
correto, mas atingiu seu objetivo. A
maioria, a não ser os fedorentos, usaram, perguntou se tinham gostado. Com o xampu, foi o mesmo, foi cheirando a
cabeça de todo mundo. Elogiando como a
pessoa estava bem. Isso era outra coisa,
todos os professores, nos tratavam de garotos, mas ele nos tratava de igual
para igual, vocês tem que pensar que são pessoas. As pessoas pensam, agem, comentem erros,
acertos, enfim sobrevivem ao que o pão duro que o mundo lhes dá.
Só de pensar
nisso, me dei conta que tinha que mudar minha maneira de dar aulas, os alunos
que tinha, eram netos de emigrantes, seus pais se tinham sobrevivido ou não
davam um duro, não queriam que fossem como eles se sentiam perdedores.
Viu que eu estava
mudo do outro lado, ficou preocupado, nada demais, preciso que olhes um texto
meu, que querem editar. Sabia que ele
tinha dois livros editados, não preciso dizer que devorei os dois. O primeiro era meu livro de cabeceira, de
como um jovem filho de emigrantes turcos, tinha descoberto que tinha cabeça,
saber como usa-la era o principal.
Nisso tínhamos
algum parecido. Nenhum dos dois
seguíamos nenhuma religião.
Marcamos de
encontrar perto de sua casa. Já algum
tempo ele vivia no final de Marais, junto a uma praça muito bonita. Quando vendeu o armazém de seu pai, bem como
o edifício inteiro, que ele nem sabia que pertencia a família, pois sempre
viveram com o justo. Sempre entenderia
que isso era o que pensavam os emigrantes, fazer um pé de meia, para o futuro,
mas não usufruíam o presente.
Estava pensando
nisso quando chegou ao bar que tinham marcado.
Ele estava igual, agora com mais pelos brancos em sua juba.
Se abraçaram,
acabaram ficando amigos ao longo dos anos, Jamil o consultava para mil coisas,
não tinha falado da tese com ele, pois estava fora.
Comentou da tese,
ele só balançava a cabeça, bando de idiotas.
Uma vez o tinham
convidado para dar aulas na universidade, mas dizia que preferia dar aulas nas
bases.
Estas estupendo
foi o que disse o olhando com amor, nunca tinha podido amar ninguém pois seguia
querendo a ele.
Tu sempre
encontras uma maneira de me encabular.
Lerei o livro com
muito gosto, sabe que gosto como escreves.
Falou do aluno,
perguntou se podia ajuda-lo, ele precisa ganhar uma bolsa de estudos para
seguir em frente.
Tu sempre como
eu, defensor dos que tem futuro. Haja
visto que te defendi inclusive de teus pais, o velho pensava que eu queria
fornicar contigo, foi o que me disse na época.
Sei o quanto é difícil isso, algumas vezes me acusaram de abusar de
alunos, pois os defendia, ensinava como deviam ser, verdade.
Ele tinha sido
um, o professor de outra matéria, o viu ensinando matemática, para que ele
fosse bem na prova, como estavam inclinados juntos, o mesmo que eram um ex-seminarista
reprimido, ficou depois impressionado com o Jamil depois defendendo Jacques,
como podia pensar isso do único professor nessa merda de escola, que realmente
se preocupa com o futuro dos alunos.
Ficou de dedo na cara do professor, que devia dar aulas de ciências, que
nem sabes o que es. Um idiota que pensou
que deus ia te salvar de ser gay, agora estas perdido.
Anos depois o viu
saindo de uma discoteca gay, abraçado a um jovem. Parou na frente dele, vê como não me
enganei. Ficou sem graça, foi embora.
Houve um
movimento na escola, quem foi transferido foi o seminarista, depois que um
aluno se atreveu a dizer que ele tinha segurado seu pau no banheiro. Verdade ou não meteu o rabo entre as pernas,
foi embora.
Quando ele
conseguiu entrar para a Universidade, Jacques argumentou com ele, se era isso
que ele queria, ser futuramente um professor.
Tenho um exemplo
a seguir. Vivia ainda hoje no
apartamento que tinha sido de seus pais, que tinham retornado ao Marrocos.
Ele quando podia
ia visita-los, mas se sentia perdido ali, não encaixava mais nessa sociedade,
esse era o problema de muitos filhos de emigrantes, as vezes não encaixavam
aonde estavam, mas tampouco encaixavam na terra de aonde tinham saído.
Ok, me mande
procurar, mas avise, que não gosto de perder tempo.
Ele perguntou
como se tinha recuperado de sua operação complicada. Um dia tinha desmaiado em classe, para
descobrir que tinha um problema de coração.
Optou depois da operação ir ficar na casa de uma irmã de sua mãe.
A principio foi
bem, mas depois em semanas tinha me arrumando uma porção de solteironas para me
casar. Dizendo que eu precisava de uma
mulher para me cuidar.
Por isso ninguém
me encontrou, fui ficar na casa que um amigo me emprestou, em Saint-Malo, aí
sim consegui me recuperar, escrevi um novo livro, que agora estou revisando.
Se me tivesses
permitido eu teria cuidado de ti.
Não esperava a
resposta que ele deu, eu estaria mais apaixonado por ti, do que sempre estive.
Ficou parado, deu
uma bofetada na própria cara. Eu sempre
pensei que não passava de um aluno, você sempre foi, minha grande paixão, por
isso meu pai pensava que tínhamos algo, pois eu estava sempre falando em ti.
Mas nunca tive
coragem de me declarar, não me davas margem, depois daquela confusão com o
seminarista, me fechei na minha concha.
Jacques segurou
sua mão, então gostas de mim?
Sempre, nunca
consegui ter ninguém por isso, não eram como tu.
Ficaram como dois
tontos, de mãos dadas, Jacques riu, menos mal que esse bar é gay.
Tens certeza de
que isso o que queres, eu me senti muito sozinho esse tempo todo em Saint-Malo,
pensava muito em ti, o orgulho que tinha de ti, meu melhor aluno, amigo. Sem querer algumas vezes trocamos carinho,
mas não me atrevia ir adiante, por ser mais velho que você.
Agora te digo,
pode ir em frente, embora seja uma pessoa imatura sexualmente vamos dizer
assim. Sonhei tantas vezes fazer sexo
contigo, que as vezes me confundia.
Voltaram andando
até a casa dele, ali perto, esperou rindo, acabou dizendo não me convidas para
subir.
Ele era muito
mais alto que Jacques, quando entraram o abraçou, levantando do chão. O apertou
contra seu peito como tinha sonhado mil vezes.
O beijou na boca, o gosto era como imaginava, Jacques estava sempre com
algum caramelo de menta na boca.
Despertou no dia
seguinte com um sentimento fantástico, nunca tinha se sentido assim, virou-se
para o lado, lá estava Jacques lhe olhando.
Ficaram rindo um
para o outro. Sempre tinha imaginado que ele era carinhoso, mas ele superava
isso.
Depois de fazerem
sexo outra vez, foram tomar café num bistrô ali perto. Riam muito, não pensavam esconder que estavam
apaixonado. Os tempos tinham mudado, Jacques
só reclamava do tempo perdido.
Conversou sobre
aonde estava trabalhando agora, estava de supervisor, num departamento que
nunca tinha funcionado direito. Um
departamento criado por políticos, em que bons professores eram treinados para
ensinar outros no dia da dia das escolas, principalmente as conflitivas.
Mas como sempre
eram funcionários públicos, não tiram a bunda da cadeira, se limitam a preparar
formulários que creem que os professores vão entender.
Comentou com ele
da sua escola, é muito parecida com a que te conheci.
Precisa realmente
reformular esses professores, alguns estão à beira da aposentadoria, perderam
totalmente o pique. Eu luto como um
louco, tento aplicar o que aprendi contigo, mas a maioria, desistira antes.
Ontem me lembrei
como fazias para os motivar.
Todos os alunos,
esbarram em matemática, o professor, é inteligente para ele, mas não tem o
mínimo de empatia com os alunos. Coloca os problemas, mas não sabe explicar o
que significam. Eu mesmo vi, alguns,
como esse aluno que te falei, ficarem desesperados para entender o que o filho
da puta fala.
Me atrevi, tentar
conversar com ele, mas é um sujeito cheio de problemas, creio que dá aulas para
sobreviver, mas não gosta disso.
Me dê seu nome,
vou estudar seu dossier.
Passaram o final
de semana juntos, se sentia totalmente relaxado com ele.
O duro para o
Jacques era que tinha que usar um relógio, que lhe avisava de que tinha que
tomar suas medicações.
Só se viram na
segunda-feira pela noite. Estava
ansioso, para falar com ele.
Estava começando
a aplicar tudo que tinha aprendido com ele para motivar os alunos.
Fiz num caderno,
anotações de tudo como falavas, explicavas.
Embora seja uma geração diferente, os mesmos têm acesso a coisas que não
tínhamos, celulares, internet. Mas mesmo assim os pais trabalham como loucos,
se sentem ao mesmo tempo abandonados.
E como ter tudo e
não ter nada ao mesmo tempo. Estão todo
o tempo falando entre eles.
Use isso nas
aulas, dramatize isso, coloque um na frente do outro, diga que imaginem que
estão conversando por WhatsApp, com seus códigos e tudo o mais.
Mande outros dois
gravarem o que estão falando, depois entre os quatro debatam se falaram
realmente alguma coisa que os possa ajudar no futuro.
Mas condicione a
uma coisa, o respeito.
No dia seguinte o
acompanhou a sua escola, ia com o dossier do professor de matemática, já tinha
comunicado ao diretor da escola, a partir do seu departamento, que iria de
visita.
Entrou
tranquilamente na sala do professor que ensinava um teorema.
O deixou dar a
aula, embora estivesse nervoso em ser observado. Realmente não tinha empatia nenhuma com os
alunos.
Lhe perguntou se
a seguinte aula, seria sobre o mesmo teorema. Este respondeu que sim.
Então darei eu a
aula, observe para depois conversarmos, não pretendo ser mais ou melhor que
você, apenas são maneiras de se fazer entender.
O professor se
sentou no final da sala. Os alunos
estranharam aquele homem que parecia ter uma juba de leão, um sorriso na cara,
quando o outro estava sempre com a mesma fechada.
Ele começou
dizendo que alguns pensavam que ele era louco, mas isso já se veria.
Colocou só o
inicio do teorema no quadro, não fez como o outro que tinha colocado inteiro.
Começou
perguntando o que lhes parecia cada símbolo.
Quando algum respondia certo, ia até o aluno, apertava a mão. Bom já temos o conceito como ponto de
partida.
Sabemos o que
significa cada símbolo, colocou os mesmo do outro lado do quadro, fazendo que
os alunos repetissem o significado, o valor numérico de cada letra.
Depois foi
desenvolvendo o teorema, fazia que os que tinham entendido o princípio,
participassem, explicassem com a sua linguagem, como entendiam o
desenvolvimento, justo ao final, tocou a sineta de final da aula, ninguém se
levantou, queriam terminar, ele fez dois deles debaterem como devia ser o final
do teorema. Um era o aluno que Jamil.
Agora para a
próxima aula, sugiram que pensem exatamente em que podemos usar esse teorema,
ou se o mesmo é uma besteira, mas de qualquer maneira tem que fundamentar isso.
Nenhum tinha se
preocupado com o professor no final da classe.
Este se levantou,
como se tivesse uma pedra nas costas.
Foram os dois
para uma sala, para conversar.
O outro riu, se
tivesses sido meu professor, eu hoje seria um brilhante matemático, adoro a
matéria, mas não sei explicar como chego a essas conclusões.
Me fale de ti
antes de mais nada.
O outro abriu
para ele, o que era raro a maioria, não gostava de falar no assunto.
Podes te salvar,
te falta uma coisa simples, empatia.
Tens que pensar, vens de outro mundo, o deles é diferente, tem acesso a
coisas que eu não tinha, nem tu na tua juventude.
Começou a
trabalhar com ele, o assunto da próxima aula.
Lhe deu uma dica, que devia mudar seu comportamento. Até mesmo tua maneira de te vestir, tente ser
o mais próximo deles possível.
Esteve duas
semanas trabalhando com este professor. O mais interessante, que isso provocou
que outros professores ao verem o resultado, vieram pedir ajuda, ele conseguiu
que mais dois do seu departamento viessem ajudar.
Mas foi esperto,
escolheu os que mais se aproximavam dele na maneira de pensar.
No final do
semestre as notas eram mais altas.
O diretor do
departamento finalmente entendeu que não estava fazendo absolutamente nada.
Os colocou todos
baixo a supervisão do Jacques, alguns não gostaram, pediram transferência para
outro lugar. Em breve ele conseguia que
o departamento funcionasse como apoio das escolas. Realmente as necessitadas, era dos bairros
problemáticos.
O tema que ele
batia sempre é, se conseguimos direcionar, um aluno a carreira universitária,
já temos feito algo, mas temos que pensar que podemos conseguir mais.
O relacionamento
deles era fantástico, tinha conseguido fazer uma coisa, animado pelo Jacques,
além de ajudado por ele, revisar sua tese completamente, fazendo da mesma um
engana bobo.
Quando sua
orientadora leu de novo a mesma, se reuniu com ele, se matava de rir, quero
apresentar de novo o trabalho, ele inclusive tinha trocado de nome, mas no
fundo era a mesma coisa, mas de outro ângulo.
A banca inteira
aplaudiu, ele tinha vontade de gritar, idiotas, falar tudo que pensava, mas a
orientadora, bem como o Jacques lhe disseram, sabes disso, mas eles não,
futuramente poderás ser um deles, então poderás discutir isso cara a cara com
alguns deles.
O mais crítico a
ele, teve que abandonar sua cadeira na universidade, a professora indicou ao
Jamil para o cargo.
O contrataram,
porque os outros professores, concordaram plenamente, inclusive falavam que
tinham sido eles que lhe indicaram o caminho certo do trabalho.
Mal começou a dar
aulas, se lastimava de ter que abandonar a escola que trabalhava, mas era seu
sonho.
Tomou uma
decisão, baseado no seu trabalho, no que tinha recuperado de como ensinava o
François, batalhava para que os alunos se esforçassem. Alguns estavam ali, porque não sabiam o que
queriam do futuro, outros porque pensavam numa carreira pública, sem esforço,
mas tinha alunos, inclusive o rapaz que ele de uma certa maneira tinha ajudado,
que queriam saber mais e mais.
Usou isso como
uma base, dava aulas, como que para esse pequeno grupo, os outros finalmente
reclamaram. Ele passou a ofensiva, mas
o comportamento de vocês é que é nulo.
Foi dando
exemplos, na aula seguinte encurralava um deles, perguntando sua opinião, como
pensava resolver a questão, o obrigava de uma certa maneira a pensar, encontrar
soluções, em pouco tempo tinha os alunos participando totalmente.
O chefe de
departamento o elogiou, o nível de seus alunos era altos, para serem de
primeiro ano. Um que dava aula no
segundo, reclamava que tinha herdado os alunos do professor anterior, só
faltavam dormir na aula.
Jamil o convidou
para assistir uma das suas aulas, talvez seja você que necessite mudar tua
maneira de trabalhar, não fique ofendido comigo por esse comentário, mas eu
muitas vezes tive que mudar minha maneira de pensar com relação aos alunos. Foi meio vaselina com o outro professor.
Este depois de
muito hesitar, foi assistir uma de suas aulas, era justamente oposta a tudo
como ele trabalhava, tinha sido da banca do Jamil, um dos que tinham lhe
criticado.
Se esbarrou com
um professor, que basicamente se vestia igual aos mesmos, falava a linguagem
que eles falavam. Por um acaso a aula
se tratava de linguagem. Ele tinha
aproveitado o exercício do François sobre o WhatsApp, pois todos seus alunos,
passavam o tempo todo, fora das aulas se falando assim.
Vamos fazer um
exercício muito simples. O quanto a
linguagem de hoje, foi reformulada.
Primeiro tivemos
a onda dos E-mails, hoje quase ninguém o usa mais. Essa era a mais parecida a escrever uma carta
a um amigo. Em seguida tivemos como
auge, segue hoje em dia, do Facebook, os fake, agora a linguagem quase abreviada
do WhatsApp, além dos símbolos todos usados.
Colocou dois dos
melhores alunos, frente a frente, fez de uma maneira que todos conectassem com
os dois, inclusive ele, bem como o professor presente.
Tudo que vocês
falarem saberemos. Quero que um explique ao outro, um problema de sua
comunidade, falem livremente, sem se preocuparem com palavrões, ok.
Depois de algum
tempo, disse a todos que interferissem na conversa dos dois, tudo virou uma
loucura, ele mesmo tinha que usar sua mente para acompanhar tudo.
Quando chegaram
ao final do exercício, foi perguntando a cada um, o que tinha lhe incomodado em
tudo isso, o que achava certo ou errado.
O mais logico foi
seu aluno preferido. Deixamos de sermos
racionais, como tudo é muito rápido, não digo a emoção, é como se o instinto
nos obrigasse a pensar muito rapidamente, nem sempre o que falamos retrata à
nossa maneira de pensar, mas queremos de qualquer maneira interferir. As vezes transformamos o que o outro diz, de
uma maneira que não é verdade, com isso chegamos ao Fake, é como as fofocas que
as mulheres faziam antigamente, uma historia começava de uma maneira, cada uma
ia acrescentado alguma coisa, no final a história não passa de uma mentira,
transformada em verdade.
O outro
professor, veio lhe apertar a mão, gostei, sei que terei dificuldade para
adaptar isso, mas tentarei.
Acabou sendo
comentário geral numa reunião de professores, os que estavam perto de uma
aposentadoria que tinha sonhado a anos, não estavam dispostos a mudar sua
maneira de ensinar.
Eu acho que cada
um tem o livre aldebrio, de escolher como trabalhar, com isso conseguiu que os
velhos ficassem contente.
Mas no semestre
seguinte, a maioria ficou sem alunos, os que queriam um diploma, que faziam o
mínimo em classe, ficaram com esses.
Os que mudaram a
maneira de dar aulas, tinham mais alunos.
Agora esse grupo
se reunia, para como estudar a matéria, aplicar exercícios.
Logo ele era
coordenador desse grupo, basicamente mão direita do diretor de departamento.
Ria muito
conversando com o Jacques sobre isso.
Tiveste mais
coragem do que eu, eu preferi dar aulas nas escolas secundárias, para não ter
que brigar com esses velhos.
Eu não briguei
com nenhum, apenas, trabalhei à minha maneira.
Dois gestões
depois ele foi eleito pelos colegas, diretor de departamento, trabalhava mais,
mas seguia dando aulas.
A maioria dos
velhos, pediu a pré-aposentadoria que tinha direito, tirando um ano sabático,
emendando com a aposentadoria. Para
escolher os novos professores, fizeram uma banca, para examinar a cada
candidato.
Jacques se
inscreveu. Ele se matou de rir,
comentou com os outros professores, eu aprendi tudo isso dele, foi meu
professor, me ensinou a pensar em como dar aulas.
Era a realização
de um sonho oculto do Jacques, mas andava distraído, ele preocupado com ele,
afinal confessou que tinha ido ao médico, sua operação, o tempo que lhe tinha
dado de vida, chegava ao fim, tinha o coração, segundo os médicos, como uma
folha de papel, seu nome na lista de transplante era muito ao final, bem como a
possibilidade de rejeição alta.
Dias antes de
assumir seu trabalho na universidade, morreu dormindo.
Ele ao longo dos
anos de convivência, tinha anotado cada ideia, cada exercício que o Jacques
fazia com os professores, conseguiu com a ajuda da universidade, publicar o
mesmo.
Para sua
surpresa, na lista dos candidatos a ocupar seu lugar, estava seu aluno
preferido.
Disse aos outros
professores, que se encontrava numa situação complicada, esse rapaz, foi meu
aluno preferido em secundária, bem como em sua época universitária, sua
graduação foi exemplar, por isso prefiro que vocês o entrevistem.
Todos o
aprovaram.
Um dia numa
reunião de professores, notou que Jean-Paul Hassan, o olhava de maneira
diferente, os outros professores tinham rido muito com seu nome, ele explicou
que seu pai queria que o filho fosse aceito como francês, mas se esqueceu que
seu sobrenome não podia ser diferente.
Estava em seu
gabinete, fazendo anotações para uma aula, quando Jean-Paul, pediu para falar
com ele. Primeiro lamentou não ter ido
ao enterro do Jacques, mas só soube depois.
Não se preocupe,
seu enterro foi como ele queria, muito simples, não tinha religião, então,
escolheu, estava em seu testamento, sempre tinha gostado da maneira mulçumana
de ser enterrado, envolvido em um lençol, bem como gostava, achava bonito, pelo
som o Kadish.
Foi mais ou menos
assim, com seus amigos mais próximos, ele pediu ser enterrado em Saint-Malo,
aonde tinha passado sua recuperação, se apaixonou pelo lugar.
Os amigos
conseguiram realizar seu sonho.
Vais sentir muita
falta dele, verdade.
Olha, realizei o
sonho da minha vida, foi o único homem que amei, imagina uma pessoa com normas
árabes desde criança, se apaixonar pelo homem que lhe mostrou o caminho a
seguir, não podia pedir mais, quando nos reencontramos, um dos motivos era
justamente que te ensinasse matemática, ele fez melhor, ensinou ao teu
professor a ensinar.
Para mim tudo
mudou, esses anos todos, convivendo com ele, cresci, como pessoa, me incentivou
a realizar meu sonho de ser professor da universidade.
Enfim com o
passar do tempo, erámos amigos, ele já não podia fazer sexo, pois podia morrer
assim, embora dissesse que não se importava, desde que fosse comigo.
Bom Prof. Jamil,
sem querer me vejo repetindo tua trajetória, adoro o senhor desde que me ajudou
a ir em frente, os anos de universidade foram maravilhosos, pois podia falar
qualquer coisa com o senhor.
Se puder me dar a
oportunidade de te amar, eu adoraria isso.
Ficou olhando
para ele, sempre tinha se sentido atraído, por ele, talvez porque se visse
refletido nele. Hoje era um professor
moderno, que os alunos adoravam conversar, discutir coisas.
Iremos nos
conhecendo pessoalmente se queres.
Não queria
confundir as coisas, o amor que tinha por Jacques era uma coisa única.
Mas sentiu que
com o tempo talvez pudesse sentir o mesmo por Jean-Paul. O mais interessante ele era o único que o
chamava de Hassan.
Um dia numa festa
de professores, saíram conversando, a caminho de casa, lhe perguntou se agora
morava por ali.
Não estou só te
acompanhando, pois não quero perder esse momento magico.
Foi um
relacionamento que agora durava mais de 15 anos. Viviam juntos, não se
escondiam de nada, se podia dizer que eram felizes, menos quando começavam a
discutir qualquer ideia, as vezes tinham ideias diferentes.
Hassan se
colocava numa postura, que cada vez tinham mais alunos, vindos de uma 3 ou 4
gerações de imigrantes, que tinham que se adaptar a eles.
Ele acabava
concordando, se esquecia que era descendente de emigrantes.
Mas entre ele no
mais ia tudo bem.
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