OMOKUNRIN

 

                                       

 

 

Philippe de Bragança, era uma pessoa diferente, muitos o tinham como um bom filho da puta, mas tudo porque falava diretamente o que via ou sentia.

Ele não fazia drama da sua história pessoal, pois considerava que através dela tinha conseguido coisas que de outra maneira não seria possível.

Quando tinha quatro anos, o pai o roubou de sua casa, o levando com ele para Africa, com falsos documentos, durante um tempo viveram em Namíbia, seu pai era muito misterioso com o que fazia, o deixava aos cuidados de senhoras negras, que o cuidavam como se fosse seu filho.

Depois foram para Nigeria, comprou umas terras no meio do nada, mas não as cultivava, deixava que seus empregados NEGROS, como os chamava, visto ele ser francês isso era pejorativo.   Esses na verdade plantava coisas para seu sustento, pois não os pagava, quando bebia então era pior, maltratava a todos.

A senhora que o cuidava, ele acabou chamando de mãe Marie, pois era como ela dizia que seria a tradução de seu nome.

Seu pai desaparecia por meses, ela o alimentava com o que podia, um dia ele ficou doente, ela se adentrou com ele na floresta, até o alto de uma montanha, numa cabana de pau a pique, estava um velho, impossível saber sua idade. 

Ele imediatamente o chamou de Omokunrin de Exu, não sabia quanto tempo ficou por lá, mas o que gostava mesmo era da quantidade de guerreiros que havia por ali, quando ele dizia isso, Marie, pensava que estava delirando, mas o velho dizia que não, que ele tinha a capacidade de ver os Orixás.  

Um em particular ele gostava, era um Exu jovem, falava todo o tempo com ele em Yoruba, ele entendia tudo.  Lhe perguntou o que tinha acontecido com sua mãe verdadeira, seu pai dizia que tinha morrido, mas desconfiava que não era verdade.

Uma noite o Exu Bara, o levou com ele, foram a uma cidade francesa que ele não sabia aonde era até que viu uma placa, Marseille, viu sua mãe, estava viva.

Exu Bara lhe explicou que seu pai como vingança dela o ter posto porta a fora, o tinha roubado.

Que quando iam a França, ele o usava para levar diamantes em bruto.

Quando saíram da Namíbia ele tinha feito isso, colocado um colete cheio de bolsos, aonde tinha colocado pedras, lhe ameaçou de pegar, se ele ficasse tocando as mesmas, só não tinha esses bolsos nas costa.   Quando chegaram a Paris, dois amigos de seu pai, que eram da policia os estavam esperando.   Quando chegaram em casa, que cheirava a fechado, mofo, poeira, seu pai tirou o colete que usava, bem como o dele, deu uma das pedras aos homens, pelo seu serviço.

Ele aproveitou, tirou uma para ele, achava justo, afinal ele tinha carregado esse peso, a escondeu, num rodapé.   Seu pai lhe deu uma baita surra por ter deixado como pensava a pedra cair.

Na primeira vez que foram desde a Nigeria, ele fez o mesmo, agora entendia mais o que acontecia, não saberia jamais dizer de aonde ele tirava essas pedras, fazia isso quase todos os anos.  Ele passava pelo controle sem problemas nenhum, estavam no colete, ninguém os fazia tirar a roupa.

Aguentava as surras, mas dizia que o culpado era o pai, que as tinha colocado mal, a cada vez, tirava uma pedra maior.

Agora, mal o pai desaparecia, ele entrava pela floresta, os homens nunca contava nada de sua desaparição, subia para ficar com o velho, este quando sabia que o pai ia chegar o mandava para casa, foi aprendendo com ele muitas coisas, ver nas pessoas quem eram elas, bastava ficar olhando a mesma para saber se estavam mentindo, o que guardavam de segredo.

Desta vez seu pai chegou furioso, pois tinha sido atacado por uma milicia muçulmana, tinham lhe roubado algumas pedras.   Por causa disso lhe deu uma surra, bem como em Marie.

Ele ficou furioso, já era grande, não teve conversa, quando viu a Marie jogada no chão, ele lhe dando chutes, pegou atrás da porta um porrete que ela usava para matar alguma galinha, acertou na cabeça dele que caiu no chão, ajudado por um dos homens, subiu com ela até a cabana do velho, este ficou furioso, o homem que o tinha ajudado, escapou pelo outro lado da floresta.   O velho cuidou dos dois.

Um dia teve uma conversa imensa com ele, tinha chegado a hora de parar os pés de teu pai, ele foi atrás de mais pedras, quando volte ira contigo a Paris, mostrou o que ele tinha que fazer, a delegacia que tinha que ir, o homem que tinha que procurar.

Acreditava que nesse dia tinha se apaixonado por Antonio Lima, pois ficou como que marcado na sua cabeça.

Antes ainda foi se despedir do velho, bem como da Marie, que tinha ficado com uma perna atrofiada por culpa de seu pai.

Antes de ir embora o filho da puta, abusou de duas mulheres que trabalhavam na casa, ria como um louco, dizendo que as mulheres eram para isso, principalmente as negras.

O tinha amarado na cadeira para ver como ele devia se comportar quando fosse maior.

O asco, raiva que sentia era imensa, como podia fazer isso, abusar sempre dos outros.  O escutou ainda falando com um homem, contando que desta vez tinha matado dois dos que roubavam pedras para ele, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Normalmente quando chegavam a Paris, comprava comida, depois desaparecia uns dias.

Desta vez o filho da puta contou muitas vezes suas pedras, para saber que ele não ia perder nenhuma.   Mal chegaram em casa, tirou seu colete, bem como o que ele mesmo usava, esses não estavam costurados, tinham as pedras maiores, pegou uma na primeira distração dele, a escondeu numa parte alta, perto da porta de saída de serviço.

O apartamento desta vez fedia muito, até que achou um rato morto, embaixo da pia.

Com a desculpa de ir jogar no lixo, escapou.  Passou pela delegacia aonde trabalhavam os amigos de seu pai, Exu Bara ia o guiando, quando chegaram aonde ele tinha que encontrar o homem dos seus sonhos, procurou por Antonio Lima.

Apareceu aquele homem, era mais alto do que ele imaginava, perguntou se podia falar com ele em particular.

Pelo seu sotaque, Antonio, lhe perguntou de aonde vinha da Africa?

Da Nigéria, este o levou a uma sala, se sentaram, Exu Bara se sentou em cima da mesa, contou sua história, desconfiava que seu pai o tinha roubado da casa de sua mãe, o que ele fazia, aonde tinham vivido primeiro, agora dos últimos cinco anos, neste pais.  Que ele o fazia trazer colado ao corpo um colete com diamantes em bruto.  Que o muito filho da puta, além de abusar das senhoras negras, pegava os mais jovens que trabalhavam de graça para ele.   Que o tinha escutado dizer que tinha matado dois homens que trabalhavam em algum lugar aonde tiravam diamantes das minas.

Disse aonde estava, bem como falou dos coletes, falou também dos dois policiais, que iam sempre os buscar no aeroporto, por isso tinha andado mais até esta delegacia.

Mas quem me mandou procurar?

Ora o Bara, sinalizou um ponto na mesa.

Bara?

Sim nesse momento, Exu Bara, fez um movimento, Antonio deu um salto, quase caindo da cadeira, se escutou uma gargalhada imensa como fazia o Exu.

Eu sabia quem devia procurar, ele diz que eres de inteira confiança, mas se volto agora para casa, ele me dará uma baita surra.

Mostrou o resto da última ainda marcada no seu corpo.

Antonio chamou uma policial, pediu que arrumasse comida para ele, foi falar com seu chefe, em seguida saíram muitos policiais com ele.

Mais tarde viu seu pai entrando na delegacia algemado, se via que tinha brigado com esses homens, sem querer o viu, resmungou entre dentes “OMOKURIN”.

Começaram a procurar pela sua mãe, ele se lembrou aonde seu pai guardava passaportes, documentos.  Foi com o Antonio até o apartamento, mostrou aonde estavam os documentos, outras coisas que seu pai escondia por ali.   Aproveitou, disse que ia levar roupas para poder tomar um banho, durante dois dias tinha dormido numa cela, afastada das demais.

Antonio todas as noites ia ver se tudo estava bem com ele.

Aproveitou pegou uma mochila que tinha tudo o que ele tinha, colocou as pedras escondidas, bem como a enorme da dispensa, as escondeu dentro da roupa.

Dois dias depois sua mãe apareceu na delegacia, ele tinha saído com o Antonio para comer, não podia nunca tirar os olhos dele, como que decorando cada parte de seu rosto.

Ela o abraçou chorando, o apertava muito em seus braços, junto com ela estava um homem que ele não gostou, disse que vivia com ele em Marseille, que era como se fosse seu marido.

Ele não queria deixar o Antonio, era como se fosse seu centro.

Este lhe deu seu número de telefone, qualquer coisa lhe telefonasse.

Seu pai iria a julgamento por contrabandista, nesse ponto Antonio comentou com sua mãe que ficaria poucos anos em prisão, mas se ela pusesse uma denuncia por ter levado o filho, usando nome falso, seriam mais.   O homem que estava com sua mãe, disse que era melhor não fazer isso, pois ele poderia saber aonde ela estava.

Foi com ela para Marseille, procurava se sentar o mais afastado do Pierre, não gostava dele, sua mãe percebeu.   Lhe contou que estava gravida de um filho dele.

Quando chegaram nos dias seguintes percebeu que esse nunca parava em emprego nenhum, que quem sustentava a casa era ela.

Quando nasceu seu irmão, muito diferente dele, tinha saído ao pai, que ele descobriu que era descendente de Argelinos.

Com a desculpas de ter que cuidar do filho, ficava em casa sem fazer nada, depois quando ele voltava da escola, que acompanhava com dificuldade, pois tinha tido que aprender a ler e escrever muito tarde, estava atrasado nos estudos, deixava o garoto com ele, ia beber com os amigos.

Em dois anos teve que recuperar o tempo que tinha estado sem estudar, logo estava mais forte, pois seguindo os conselhos do Antonio, com quem falava todas as semanas, fazia exercícios para poder se defender dos bullyings.

Quando falou que não aguentava mais viver ali, que se sentia excluído, pois sua mãe tinha toda a atenção dirigida ao filho. 

Antonio disse que conseguia um colégio interno para ele, uma irmã sua era a diretora, mas tinha que ser em Paris, foi até lá falar com sua mãe.

Ela a principio não entendia, ele fez uma coisa que diria depois que Exu Bara tinha soprado para ele, olhou a ficha policial do homem que vivia com sua mãe.

Ela se assustou, o deixou partir, logo em seguida colocou o mesmo para fora de sua casa.

Agora ele vivia em Paris outra vez, todas as semanas Antonio no seu dia livre, o ia buscar, contou sua história para ele, seus pais tinham vivido muitos anos na Angola, era retornados, com se dizia em Portugal, considerados como cidadãos de segunda, por isso vieram para Paris, ele bem como sua irmã tiveram que se adaptar a uma nova vida.

Um dia a queima roupa, perguntou ao Antonio se não tinha ninguém na sua vida, tinha nessas alturas 16 anos.

Que garoto enxerido, deixa de ser bisbilhoteiro, eu lá pergunto sobre tua vida particular.

Nem precisa né Antonio, porque conto tudo para ti.

Agora teria que pensar o que fazer para ir à universidade, sua mãe claro não tinha dinheiro, ia passar férias com ela, bem como natal, viu que ela estava saindo com um tipo, mal caráter como todos os outros.   Exu Bara disse que era essa sua sina, por ser bonita, mas não muito inteligente, mas que ele não podia interferir.   Seu irmão menor, era um garoto complicado, queria viver com o pai, não gostava de estudar, ao contrário dele, que adorava ler, aprender coisas.

Sua mãe lhe perguntou o que pensava fazer, ele estava interno, como se tivesse uma bolsa de estudos, mas ir à universidade, não, porque de uma certa maneira, não tinha as notas excelentes de outros alunos.

Um dia se sentou com o Antonio, foi claro com ele, durante o tempo que meu pai me obrigava a trazer as pedras, eu sempre tirava uma para mim, como pagamento pelo que fazia, pois se ele dava pedras a esses homens, eu também tinha direito, pois afinal tinha me usado.

Não sei o valor, mas talvez uma bastasse para que eu pudesse pagar a universidade.

Seu pai tinha morrido na prisão, não sabiam se a mando dos policiais que o ajudavam, ou em alguma briga entre quadrilhas.

Como herança lhe tocou o apartamento que tinha em Paris, que seguia fechado, tinha pertencido a sua avó.

Antonio disse que ia olhar, para ver se descobria algum joalheiro honesto para avaliar a pedra.

Foi com ele a dois dos que tinham selecionado, o primeiro olhou com desprezo a pedra, lhe ofereceu uma merda, pois viu que ele era muito jovem.

No outro, um velho judeu, com barbas brancas, com um Kipá na cabeça, a analisou muito, disse que dessa pedra ele poderia tirar muitas, disse quanto valia, era um absurdo de dinheiro.

Mas tem um problema, não posso pagar tudo de uma vez, o que posso fazer, é te pagar em três vezes, assim terás dinheiro como diz o Antonio para ir a Universidade.

Foram ao Banco, abriram uma conta no seu nome, ele já tinha 18 anos, depositou a primeira parte, daria para se manter por vários anos, o resto quando foi depositado, ele aplicou para um futuro.

Falou com a mãe, que tinha resolvido seu problema, iria recuperar a casa do pai, ficaria vivendo lá.  Ela ainda comentou com ele, tu tão maduro, teu irmão inconsequente, não há maneira que estude, nem que leve a vida em sério, agora deu para desaparecer, vai para a casa do pai, sei lá o que anda fazendo.

Com a ajuda do Antonio, ele reformou o apartamento do pai, não era grande, mas bastava, comprou moveis simples, arrumou a casa.   Aprendeu a cozinhar

 

 durante as férias, com receitas da mãe do Antonio.

Ele as vezes ficava para dormir, se levantava de noite para ficar olhando para ele.

Um dia resolveu enfrentar o Antonio. Lhe disse que tinha se apaixonado por ele, no dia que o velho o tinha mostrado em sua cabeça, quem devia procurar.  Sou virgem, mas te adoro, sei que tens medo, pois eres mais velho do que eu, mas espero que me dê uma chance.

Ele se matou de rir.  Um fedelho me fazendo propostas sexuais.

Mas um dia lhe deu um beijo, foi o quanto bastou, agora viviam juntos, ele seguia estudando, tinha feito medicina, mas se lembrava do velho, que ele era um médico de almas.

Se especializou em Psiquiatria, para ele de uma certa maneira era fácil, ao olha a pessoa ou dar a mão a mesma, sabia quando estava mentindo, ou o que havia realmente por detrás da sua meia verdade.

 

 

 

 

 

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