MOSQUITO

 

                                     

 

Seu nome era Boris da Silva, mais conhecido como Bob Mosquito, coisas de criança, quando garoto era muito magro, grande, tinha uns músculos em contrapartida poderosos, sua mãe dizia que era magro de subir correndo o morro em que viviam. 

Moravam numa casa, no Morro de São Carlos, ali no Estácio, viviam no mais alto, não que a vista fosse fantástica, mas quando ela comprou o barraco, era aonde podia comprar.

Ela dava um duro desgraçado numa fábrica ali mesmo no morro, costurava, no carnaval faziam fantasias para a Escola de Samba do Estácio.   Era o jeito para equilibrar a balança.  Ele era fruto de sua relação com um marinheiro russo que tinha descido na Praça Mauá, foi com os amigos num ensaio na antiga quadra do Estácio.   Ela estava sambando como louca, para se esquecer de seus problemas, quando viu aquele homem alto, magro, cabelos loiros, olhos azuis quase transparente, que a olhava de boca aberta.

Foi um amor a primeira vista, ele não voltou para o Barco, foi aprendendo aos poucos falar português, trabalhava de eletricista nas construções, um belo dia, parou na frente da casa deles um carro negro, o levaram, vivia sem licença no Brasil, mas antes conseguiu vê-la, lhe deu um dinheiro que ela não sabia como ele tinha arranjado, para comprar um barraco para ela, para mim.   Eu tinha uns três anos na época, durante um tempo, escrevia, num mal português, dava notícias, tinha estado preso, estava tentando juntar dinheiro para vir para o Brasil.

Mas nunca apareceu.   Ela como boa filha de Xangô, seguiu em frente, um pai de santo que vivia por ali, disse que ele tinha vindo somente para isso, para ter um filho.

Ele segundo ela, se parecia a ele, magro, alto demais para sua idade, olhos azuis, cabelos crespos loiros, que com muito sol, ficavam amarelo.    Anos depois ela teve uma filha de uma aventura, para descobrir depois que o sujeito era casado, que vivia no Morro do Alemão, mas tocava na bateria da escola.

Ele foi crescendo, tinha dois amigos, um era o Bebeto, mais tarde se transformou em policial, o outro era o Rizado, pois tinha os cabelos muito crespos.   Os três foram juntos a escola, ele queria ser alguém, sua mãe, vivia falando na sua orelha, nada de andar com os da drogas, que tinham um ponto ali perto.  Nada de ficar jogando bola com esses dois desocupados, enquanto não estou, faça algo.   Aprendeu a cozinhar com ela, assim quando chegava a comida estava pronta, quando acabou a escola, viu que não tinha chance nenhuma para fazer uma universidade, o mais próximo que chegou foi, ser limpador da Faculdade de Medicina, no Fundão, saia de casa as cinco da manhã, descia até o Viaduto Paulo de Frontin, pegava um ônibus que a estas horas vinha cheio de gente que ia trabalhar no aeroporto, fazendo o mesmo que ele.   Normalmente ia em pé, mas encontrava um jeito de se encostar numa lateral, para ir fazendo um cochilo até chegar.     Limpava todos os corredores, as salas de aula, depois se preparava para seu segundo trabalho, era ajudante de um dos professores de medicina, era na aula de dissecação de cadáveres.   A ele não lhe incomodava, nesse trabalho não parava ninguém, mas a ele, era como outro qualquer, dizia ao professor, que esses não incomodavam ninguém.

Retirava da piscina de formol os cadáveres, para os alunos prestarem atenção no que o professor Martin, esse ia explicando, com os anos, ele mesmo poderia dar essa aula, pois sabia toda a sequência das aulas.    Os cadáveres, tinham uma numeração, ele levava com sua letra redonda, de bom aluno, as anotações, sabia como tinha morrido cada um.   Se tinha sido câncer, cirrose hepática, coração.   Estava tudo ali anotado.

Depois como cada aluno tinha uma parte para dissecar, ele prestava atenção, as vezes ficava furioso quando algum deles não tinha respeito com a pessoa morta.

Comentava com o professor, esses se esquecem que algum dia podem estar aqui.

As vezes assistia as aulas de um outro professor, que explicava como funcionava, quando os cadáveres eram enterrados.  Tinha poucos alunos, era um curso de extensão para médicos legista, prestava uma atenção louca, na explicação que ele dava, como era o processo depois de enterrado, moscas, larvas, tudo isso.

Quando criança tinha o hábito de ir para o final da morro, aonde na época existia um bosque, era louco pelos besouros, todos os animais pequenos que descobria.

Uma vez encontrou uma carcaça de um cachorro, em que as larvas e as moscas, consumiam.

Enquanto os outros saíram correndo, ele se agachou, ficou prestando atenção.  Claro que se tivesse tido oportunidade, teria feito medicina.

Um dia o professor deu uma prova, passou por ele, estendeu uma folha, sorriu, experimente, tirou a nota máxima, ficou super feliz.

Um pouco depois disso, perdeu sua mãe, ela voltava do trabalho, quando começou um tiroteio entre traficantes, por mais que tentasse se esconder, levou um tiro, ele diria depois a sua irmã, simplesmente isso, um tiro, porque esses idiotas querem ser machos.

Nessa época a irmã tinha uns 16 anos, era má estudante, ocupou o lugar de sua mãe na fábrica, logo se juntou com um bom sem vergonha, um dia apareceu na sua casa, com um garoto com dois anos.   Pediu se podia ficar.

Afinal era sua irmã, mas ela não colaborava com nada, sua preocupação, era o samba, todo dinheiro que ganhava era para isso, uma roupa nova, sapatos altos, inclusive era má funcionária.

O garoto, ele quando ficou maior, o meteu na escola, começou a economizar, para ver se o mesmo seguia em frente, mas nada ele tinha que estar em cima, reclamava com ela, que levantava os ombros.

Ele tinha vários causos, a contar, os professores o incentivavam, às vezes, tirava um cadáver da piscina de formol, o professor lhe perguntava de que tinha morrido, ele rapidamente, buscava a causa.  Analisava o corpo de uma certa maneira sem o tocar, lia o relatório que acompanha o número do cadáver, mas analisava, desde a sola dos pês, as mãos, as unhas, ia dizendo como era a pessoa, que vivia na rua, era um indigente, ia anotando tudo, devia ter trabalhado na construção, pelo estado das unhas da mão, então com as luvas cirúrgicas, ia apalpando o mesmo, para ver a musculação.   Quando entravam os alunos, ele se colocava de lado, com um bloco que o professor lhe tinha dado, ia anotando tudo.

As observações que ele tinha feito antes, o professor perguntava aos alunos, mas eram poucos que acertavam.    O professor dizia que era seu melhor aluno.

O professor e ele um dia examinaram um cadáver, que não se sabia o nome, nem profissão, tinha dois tiros no peito.   Ele ficou olhando para o mesmo, disse para o professor, esse homem esteve metido nas drogas, bem como no tráfico da mesma, o tinha reconhecido do morro.

Mas não disse nada, pela aparência do corpo o mesmo nunca tinha trabalhado duro. Havia sim a marca de um anel, no dedo que indicava casamento.   Ele sabia que sua mulher já estava com outro, para que complicar a vida dos outros.

Quando abriram o cadáver, dava para ver os órgãos, prejudicados pelos excessos.  Ele gostava mesmo, quando abriam a cabeça, alguns alunos ficavam enojados, mas se esqueciam que todos eram iguais, claro com o tempo algum que outro cérebro estava feito uma massa fedorenta.

Mas ele ficava como um louco, anotando tudo que o professor dizia.

Teve um ano que foi literalmente confuso, seu sobrinho já tinha 16 anos, tinha que trabalhar mais, se o queria ajudar.  Mas o sem vergonha, era mal estudante.

Agora ele trabalhava o dobro, saia da universidade, ia limpar cozinha de restaurantes no centro da cidade.  Chegava em casa morto de cansado, tinha que preparar comida para o dia seguinte.

Sua irmã escaqueava, o garoto nem pensar.

Um dia ao subir o morro, viu o sobrinho, com um dos capangas do Rizado, pegou o outro entregando papeletas para o sobrinho vender.  Pegou o mesmo pelo colarinho, fez o sobrinho devolver tudo, disse ao ouvido do capanga, tu avisa o Rizado, que se vejo meu sobrinho metido com vocês, vou contar para todo mundo, que comi muito seu cu, quando era garoto.

O outro saiu assustado, como aquele homem magro, podia ter essa força toda.

Levou o sobrinho para casa, lhe deu uma surra de fazer gosto, se te pego outra vez fazendo isso, será pior.   Já que não queres trabalhar, vou te arrumar um emprego na universidade.

O sem vergonha, tinha que limpar os banheiros, se levantava resmungando, ia todo o caminho reclamando, da vida.    Um dia o pegou no corredor, vendendo papeletas para os estudantes, nesse dia, avisou ao restaurante que limpava que tinha um problema.

Voltou com seu sobrinho para casa, o mesmo capanga, esperava pelo seu dinheiro, lhe deu uma surra de fazer gosto, eu avisei, diga ao Rizado que espere por mim.

Entrou em casa, fez o sobrinho ficar nu, lhe deu uma surra de fazer gosto, sua irmã, entrou defendendo o filho, ele o arrastou nu, pelos becos, até aonde ficava a casa que vivia o Rizado com seus capangas, entrou arrastando seu sobrinho.   Ele acha que tu és o maior, mal sabe que deste o cu para meio morro, que não passas de um galinha, só porque tens um revolver, acha que é machão, mas comi muito teu cu.

Os capangas estava de boca aberta, nunca se aproxime de minha casa, lhe deu um murro, jogando o outro do outro lado da sala.

Fique aqui com teu mestre disse ao sobrinho, não se atreva a aparecer por minha casa.

Quando voltou sua irmã arrumou a maior confusão, ele simplesmente, colocou toda a roupa dos dois, numas bolsas de super mercado, aqui não pinta nada, esta casa é minha, a sustento eu, se defendes teu filho, é porque nunca se incomodou que ele vendesse drogas.  A colocou para fora de casa, nesse dia, colocou uma tranca que nunca tinha usado, mas quem o fazia era sua mãe.

No outro dia, saiu por detrás.   Quando voltou, trocou a fechadura da porta.

Uma vizinha veio lhe criticar, olhou na cara dela muito sério, lhe perguntou se comia na sua mesa, se lhe pedia dinheiro emprestado.

Não, respondeu ela.

Então não me encha o saco.

Trabalhou esses dias de mal humor, agora havia uma turma, dois eram filhinhos de papai, um deles cada vez que colocavam um cadáver sobre a mesa, seu comentário era sobre o tamanho do caralho.  Debochava o tempo todo dos cadáveres, uma falta de respeito segundo ele.

Estava farto do sujeito, nunca sabia responder a nada, o professor disse que esse seria um daqueles médicos, que o pai, arrumaria um emprego fixo num hospital, os clientes que se danassem.

Numa outra classe o mesmo, ele como quem não quer nada, estendeu o pé, o sujeito ia distraído, tropeçou, caiu na piscina de formol.

Os outros riram dele, gritava como uma garota assustada.

Até que ele estendeu a mão o tirando dali.

No dia seguinte apareceu com o pai, um deputado, pela cara se via que era um sem vergonha, foi logo dizendo as palavras magicas, de todos os brasileiros que se acham importante.

O senhor sabe quem sou, falou para o professor.

Não sei, nem me interessa, o senhor esta interrompendo a minha aula, o homem tanto fez, que ele soltou, seu filho já está reprovado nessa matéria, é um idiota renomado, tenho pena de quem seja seu cliente no futuro.

O homem gritava muito, quando passou por ele, fez a mesma coisa, estendeu o pé, o homem caiu na piscina.

Vê o senhor nem presta atenção por aonde anda, o mesmo gritava como um louco, entraram na sala dois ajudantes do mesmo, mais pareciam capangas.

O retiraram do poço.

Foram reclamar com o reitor, esse se lembrava dele, quando estudava, era um péssimo aluno, por isso tinha entrado para a política, o colocou para correr.

Pela primeira vez na sua vida, imaginou se vingando desse tipo de gente.

A sua primeira vítima, foi o capanga do Rizado, o encontrou num beco uma noite, este o ameaçou com um revolver.  Lhe deu uma surra de fazer gosto. O arrastou até sua casa, o colocou em cima da mesa, ali tinha coisas que ele tinha tirado da universidade.

Pegou uma agulha e linha, estendeu o saco do mesmo, colocou toda a droga que tinha nos bolsos ali, costurou o mesmo, esticando tudo que podia, enfiou o piru para dentro, como tinha visto o professor fazer.

Pegou uma cenoura, enfiou nu cu do mesmo, com delicadeza, costurou a boca do mesmo, com um dos pacotes com cocaína, de madrugada quando saiu, o deixou dentro de um saco na frente da delegacia do morro.

Foi trabalhar tranquilamente.   Quando voltou, havia a maior confusão, Rizado tinha pensado que quem tinha feito isso, tinha sido o outro traficante.   Estavam brigando entre eles.

Viu no meio de seus homens seu sobrinho, pensou, esse realmente escolheu o caminho errado.

Como as vezes limpava a farmácia do hospital, foi trazendo coisas, anestesia, seringas, coisas assim.

Agora como era só para ele, trabalhava só no hospital.

Passou a prestar atenção nos traficantes do outro lado.  Viu um sujeito que era metido a machão, um dia o seguiu de noite, estava todo vestido de negro, fez a mesma coisa que tinha feito com o outro, mas desta vez, o levou mais para perto da casa do Rizado.

Foi outra vez a maior confusão.

Ia provocando os dois grupos, a policia não sabia o que fazer, desconfiavam dele, o Bebeto veio falar com ele.

Foi claro, achas eu vou me meter com essa gente, tenho mais que fazer, dando um duro desgraçado, tu quando entraste para a polícia, conseguiu um emprego estável, como eu, mas sou limpador da universidade, assisto aulas de dissecação de cadáveres.

Ele nas ultimas aulas, com o professor, sobre mosquitos, larvas, colocou tudo dentro de um tubo, levou com ele.

Agora quando pegava um traficante, além de costurar as mãos dos sujeito, segurando seu próprio caralho, enfiava no cu do mesmo, umas larvas, depois costurava, os deixava abandonados, sempre do lado contrário ao outro.

Alguns morriam depois, pois as larvas os ia devorando por dentro.

Bebeto voltou a falar com ele, estão limpando o morro dos traficantes, todo mundo tem medo.

Não podia chegar perto do Rizado, mas o vigiava, agora seu principal capanga era seu sobrinho.   Um dia os viu fazendo sexo, ele dando o rabo para seu sobrinho.

Esperou uma nova oportunidade, fotografou os dois com uma câmera emprestada pelo professor.  Mandou fazer copias, mandou para todo mundo do morro, inclusive para o outro traficante.   Os dois tiveram que se mandar dali.

Só ficou um traficante, o Bebeto, ria muito, nos dois comíamos esse sem vergonha, nunca queria nada com nada.  Pelo menos agora só temos um, que esse salvador da pátria consiga se livrar dele também.

Bebeto, cá entre nós, virão sempre outros, cai um, se levanta outro.

Era uma verdade, nunca ia adiantar nada.

Lhe surgiu uma oportunidade, estudou como um louco para o vestibular de medicina, conseguiu passar entre os 10 primeiros, os professores lhe elogiavam por isso.

Seria o mais velho da turma, mas não se incomodava, queria ser alguém.  Continuava se levantando as cinco da manhã, limpava os corredores da universidade, depois ia assistir as aulas, as duas que ele sempre tinha acompanhado, tirou as notas máximas, o professor lhe disse que ele seria um excelente médico legista.   A maioria que fazia o curso, depois iriam para o interior, ali no Rio ou mesmo em São Paulo, ele conseguiria um bom emprego.

A vaca torceu o rabo, quando chegou a época das práticas, conseguiu um lugar no próprio hospital da universidade.   Mas claro com os horários não podia trabalhar.

Tinha economizado tanto, que conseguiu tirar um ano sabático no trabalho, assim fez as práticas, pensava no que tinha falado o professor.

Se candidatou, com sua experiencia, bem como recomendação do professor, conseguiu uma vaga no Rio mesmo.   Logo se destacou, pois examinava em profundidade os casos, seus relatórios eram minuciosos.  Seus colegas falavam dele pelas costas, mas nenhum realmente sabia tanto quanto ele.

Ficou finalmente fixo no cargo, com isso, com um salário que ele nunca poderia ter na universidade, conseguiu, alugar um apartamento pequeno para ele, no centro da cidade.

Era mais fácil para ele se mover. Quando deixou o emprego na universidade, os dois professores disseram que iam sentir falta dele.

Seguiu em frente, Bebeto quando se viam, ou vinha porque estava acompanhando algum caso, encontravam um tempo para tomar uma cerveja.

Este lhe dizia que ele precisava ter uma família.

Mas isso para ele era uma palavra tabu, tinha o exemplo de ter tentado ajudar sua irmã, bem como o sobrinho.  Sabia pelo Bebeto que este vivia agora na Rocinha, era de um grupo de traficantes de drogas, sua irmã, nunca mais soube dela.

Nunca tinha tido tempo para se apaixonar por ninguém, tinha uma meta na cabeça, agora que a tinha alcançado, sentia um pouco de vazio.

Seu professor de anatomia, com quem tinha aprendido tanto, lhe perguntou se queria ser seu assistente, queria ter mais tempo para fazer um trabalho a parte, aceitou, teria que conjugar os horários.

Com este agora, conversava muito, um dia se encontraram na cidade, foram tomar uma cerveja, conversaram, sem querer este tocou no assunto de relacionamento.

Tens que aproveitar mais a vida, sair de noite, fazer algo nos teus momentos livres, lhe explicou que sempre tinha sido só, lutando para conseguir o que sonhava.

Mas para ele existia uma dificuldade, confiar em alguém, agora tinha relacionamentos ou aventuras como chamava de uma noite, mas para se sentir vivo, mas era sempre uma coisa unilateral, queriam o que tinha no meio das pernas, usufruíam, iam embora, ele queria outra coisa.

Seu amigo dizia que ele era tão fechado, talvez por isso as pessoas não investiam nele.

Numa reunião de professores da universidade, conheceu um professor que substituía outro que se aposentava.   De uma certa maneira se sentiu atraído, mas quando se conheceram melhor, sem querer descobriu que o outro, adorava conquistar, para depois deixar a outra pessoa sozinha.

Quando se aproximou dele, já sabia de tudo isso.   Era um homem muito bonito, de família rica, se dedicava a ensinar, porque tinha horror a atender as pessoas, ver os problemas que estas tinham, reconhecia isso, errei de profissão.

Mesmo como professor era muito criticado, a principio tentou seduzi-lo, quando viu que por aí não chegava a lugar nenhum, o encostou na parede, por assim dizer.

Tirou o corpo fora rapidamente, não estava interessado, ao mesmo tempo, fisicamente o outro o atraia.

Numa festa de final de ano, o outro pensou que ele tinha bebido demais, pois sempre tinha um copo na mão, não percebeu que quando lhe dava uma taça de champagne, ele deixava a outra em algum lugar, se insinuou totalmente para uma noite de sexo.

Resolveu ver até aonde ia o outro, este o levou para seu apartamento no Leblon, muito bem montado, nada a ver com o seu, que era a coisa mais simples do mundo.

Realmente o outro fazia um sexo fantástico, mas quando começava a falar, se transformava numa pessoa fútil.

Ficou com medo de ficar preso a essa atração sexual, esse ano tinha conseguido encaixar as férias da universidade, com a de legista.

Tinha suas economias, resolveu fazer uma viagem, pensou ir para alguma praia no norte do pais, mas depois pensou, praia por praia, fico aqui.

Resolveu fazer uma viagem, que tinha escutado um dos professores comentando, conhecer Portugal, pelo menos não teria problemas de língua.

Começou por Lisboa, depois foi a Coimbra, finalmente o Porto, mas tudo devagar, conhecendo a cidade, desfrutando.  Quando voltou a Lisboa, num café conheceu um homem da sua idade, riu muito, pois o mesmo tampouco era português, sim emigrante, vinha da Africa.  Atualmente era professor de escola primaria, nunca tinha conversado tanto com alguém.

Este foi honesto, sai de uma relação complicada, sabia que ele iria embora, dentro de uma semana, mas saiu para mostrar a Lisboa que os turistas não viam.

Se davam bem em todos os aspectos, ficou com pena de ter que voltar, sabia agora que era possível, encontrar uma pessoa como ele gostava.

Só foi encontrar na verdade um companheiro, quando estava para fazer cinquenta anos, um da sua idade, tinha comprado um apartamento melhor em Botafogo, perto da estação do Metro, o apartamento precisava de uma reforma, lhe indicaram um arquiteto que tinha uma empresa especializada.

O apartamento era relativamente o dobro do seu, ele queria ter uma biblioteca, estava cansando das pilhas de livros pelo chão.  
Conversou com o mesmo, tinha se sentido atraído desde o primeiro momento, disse como queria transformar o apartamento, queria juntar um dos quartos a sala, para fazer um lugar para trabalhar, estudar, um hábito que não tinha perdido.  Agora o via sempre, pois ia ver as obras, até que este o convidou um dia para tomar alguma coisa.

Ria depois dizendo que ele nunca avançava, que estava farto de esperar algo.  Eres o tipo de pessoa que me atrai, não só fisicamente, mas por ser tão sério.

Quando foram para a cama, lhe avisou, não espere muito, apesar do meu tamanho, tenho um sexo um tanto pequeno.  

Mas ao contrário se divertiam muito um com o outro, quando viu estava em cheio dentro de um relacionamento, não viviam juntos, mas passavam o final de semana que ele estava livre, saindo, iam ao cinema, teatro, coisas que ele nunca tinha feito.

O apartamento do Suarez, todos o conheciam pelo sobrenome, era antigo, tinha pertencido a sua família, era enorme.

Quando o convidou para ir viver com ele, disse que ia pensar, mas acabavam era no seu mesmo, Suarez, dizia que ali se sentia de maravilha.

Depois de vários anos juntos, foi que resolveram experimentar a viver juntos, riam muito, pois tinham hábitos completamente diferentes um do outro, mas respeitavam isso.

Dez anos depois quando ele se aposentou, saíram os dois de férias, foram a Paris, nunca tinha se divertido tanto.

Quando voltou se encontrou com o Bebeto, agora era delegado de polícia, comentou que seu sobrinho, agora era um dos chefe do tráfico, lhe mostrou uma foto, parecia mais velho do que ele, este ainda comentou, que só no Brasil para ser assim, traficava, mas ao mesmo tempo era um viciado.

Ele seguia trabalhando de legista, só tinha se aposentado da universidade, um dia, lhe tocou um cadáver, que tinha sido encontrado no lixo, deu de cara com seu sobrinho.

Que o tivessem matado, não fazia diferença nenhuma, ao examinar todo o corpo, este na verdade tinha seus dias contados, com um câncer do tamanho de uma bola no estomago.

Ficou chateado, contou para o Suarez, como tinha se sentido, isso era o esteio do relacionamento dos dois, poderem falar de tudo, embora, viessem de classe social diferentes, se entendiam.

Um cliente ofereceu para o Suarez, para fazer uma obra, em forma de pagamento uma casa em Arraial do Cabo.  Os dois se apaixonaram pela mesma, ficava de frente para o mar, foram arrumando a mesma, passavam todos os finais de semana lá.  No verão tirava férias para ficarem mais tempo.

Um dia passaram a viver lá, se aposentou finalmente de tudo, tinham uma vida perfeita, foram levando até a velhice, quando via o Bebeto dizia que finalmente tinha encontrado sua meia laranja.   Este quando conheceu o Suarez, lhe disse na cara, pena que esta contigo, senão ia avançar o sinal, este aposentado, além de viúvo, agora assumia sua homossexualidade.

Um final de semana foi passar com eles, enquanto Suarez tinha ido fazer compras, comentou, com ele, eu sempre fui apaixonado por ti, mas escolhi uma vida que não incluía isso.

Meus filhos têm suas vidas, um vive no norte do País, o outro nos Estados Unidos, mais sozinho impossível.

Cada vez mais, estava com eles, quando Suarez ficou doente, o ajudou a cuidar dele, até que chegou o momento de ter que voltar ao Rio, porque este tinha que tomar quimioterapia, seguir um tratamento.    Infelizmente chegou um momento que desistiu.

Seu enterro, foi uma coisa simples, o enterrou junto aos seus.

Pensava em voltar para Arraial do Cabo, pois tinha recebido como herança dele, o resto foi para a família.

Bebeto estava com ele, com o tempo chegaram ao sexo, os dois riam, pois quando era jovens faziam sexo os dois escondidos, com o Rizado, eles só o comiam, mas quando estavam os dois, tinham uma espécie de romance.

Acabaram assumindo isso, quando o filho que vivia no norte veio resolver negócios o Rio, deu de cara que o pai tinha assumido sua homossexualidade, não gostou da história, foi tomar satisfação do pai.

Bebeto escancarou, dediquei minha vida, a trabalhar como um louco, para que você e seu irmão não tivessem a vida que eu tive de criança, vivendo numa favela.

Um belo dia, cada um foi cuidar da sua vida, se eu não telefono, não sei nada de vocês, teu irmão não o vejo a anos, tem uma família, sua mulher me manda cada Natal uma foto deles, nunca conheci meus netos, tampouco me convidam para ir passar um tempo para conhece-los, você é o mesmo, por isso, simplesmente te mando a merda.

Com isso, eles estavam mais juntos que nunca.

Um dia riram ao chegar à conclusão, que deviam ter seguido seu romance na época, quem sabe aonde teriam chegado.

 

 

 

 

  

 

 

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