MOSQUITO
Seu nome era Boris da Silva, mais conhecido
como Bob Mosquito, coisas de criança, quando garoto era muito magro, grande,
tinha uns músculos em contrapartida poderosos, sua mãe dizia que era magro de
subir correndo o morro em que viviam.
Moravam numa casa, no Morro de São Carlos,
ali no Estácio, viviam no mais alto, não que a vista fosse fantástica, mas
quando ela comprou o barraco, era aonde podia comprar.
Ela dava um duro desgraçado numa fábrica
ali mesmo no morro, costurava, no carnaval faziam fantasias para a Escola de
Samba do Estácio. Era o jeito para
equilibrar a balança. Ele era fruto de
sua relação com um marinheiro russo que tinha descido na Praça Mauá, foi com os
amigos num ensaio na antiga quadra do Estácio.
Ela estava sambando como louca, para se esquecer de seus problemas, quando
viu aquele homem alto, magro, cabelos loiros, olhos azuis quase transparente,
que a olhava de boca aberta.
Foi um amor a primeira vista, ele não
voltou para o Barco, foi aprendendo aos poucos falar português, trabalhava de
eletricista nas construções, um belo dia, parou na frente da casa deles um
carro negro, o levaram, vivia sem licença no Brasil, mas antes conseguiu vê-la,
lhe deu um dinheiro que ela não sabia como ele tinha arranjado, para comprar um
barraco para ela, para mim. Eu tinha
uns três anos na época, durante um tempo, escrevia, num mal português, dava
notícias, tinha estado preso, estava tentando juntar dinheiro para vir para o
Brasil.
Mas nunca apareceu. Ela como boa filha de Xangô, seguiu em
frente, um pai de santo que vivia por ali, disse que ele tinha vindo somente
para isso, para ter um filho.
Ele segundo ela, se parecia a ele, magro,
alto demais para sua idade, olhos azuis, cabelos crespos loiros, que com muito
sol, ficavam amarelo. Anos depois ela
teve uma filha de uma aventura, para descobrir depois que o sujeito era casado,
que vivia no Morro do Alemão, mas tocava na bateria da escola.
Ele foi crescendo, tinha dois amigos, um
era o Bebeto, mais tarde se transformou em policial, o outro era o Rizado, pois
tinha os cabelos muito crespos. Os três
foram juntos a escola, ele queria ser alguém, sua mãe, vivia falando na sua
orelha, nada de andar com os da drogas, que tinham um ponto ali perto. Nada de ficar jogando bola com esses dois
desocupados, enquanto não estou, faça algo.
Aprendeu a cozinhar com ela, assim quando chegava a comida estava
pronta, quando acabou a escola, viu que não tinha chance nenhuma para fazer uma
universidade, o mais próximo que chegou foi, ser limpador da Faculdade de
Medicina, no Fundão, saia de casa as cinco da manhã, descia até o Viaduto Paulo
de Frontin, pegava um ônibus que a estas horas vinha cheio de gente que ia
trabalhar no aeroporto, fazendo o mesmo que ele. Normalmente ia em pé, mas encontrava um
jeito de se encostar numa lateral, para ir fazendo um cochilo até chegar. Limpava todos os corredores, as salas de
aula, depois se preparava para seu segundo trabalho, era ajudante de um dos
professores de medicina, era na aula de dissecação de cadáveres. A ele não lhe incomodava, nesse trabalho não
parava ninguém, mas a ele, era como outro qualquer, dizia ao professor, que
esses não incomodavam ninguém.
Retirava da piscina de formol os cadáveres,
para os alunos prestarem atenção no que o professor Martin, esse ia explicando,
com os anos, ele mesmo poderia dar essa aula, pois sabia toda a sequência das
aulas. Os cadáveres, tinham uma
numeração, ele levava com sua letra redonda, de bom aluno, as anotações, sabia como
tinha morrido cada um. Se tinha sido
câncer, cirrose hepática, coração.
Estava tudo ali anotado.
Depois como cada aluno tinha uma parte para
dissecar, ele prestava atenção, as vezes ficava furioso quando algum deles não
tinha respeito com a pessoa morta.
Comentava com o professor, esses se
esquecem que algum dia podem estar aqui.
As vezes assistia as aulas de um outro
professor, que explicava como funcionava, quando os cadáveres eram
enterrados. Tinha poucos alunos, era um
curso de extensão para médicos legista, prestava uma atenção louca, na
explicação que ele dava, como era o processo depois de enterrado, moscas,
larvas, tudo isso.
Quando criança tinha o hábito de ir para o
final da morro, aonde na época existia um bosque, era louco pelos besouros,
todos os animais pequenos que descobria.
Uma vez encontrou uma carcaça de um
cachorro, em que as larvas e as moscas, consumiam.
Enquanto os outros saíram correndo, ele se
agachou, ficou prestando atenção. Claro
que se tivesse tido oportunidade, teria feito medicina.
Um dia o professor deu uma prova, passou
por ele, estendeu uma folha, sorriu, experimente, tirou a nota máxima, ficou
super feliz.
Um pouco depois disso, perdeu sua mãe, ela
voltava do trabalho, quando começou um tiroteio entre traficantes, por mais que
tentasse se esconder, levou um tiro, ele diria depois a sua irmã, simplesmente
isso, um tiro, porque esses idiotas querem ser machos.
Nessa época a irmã tinha uns 16 anos, era
má estudante, ocupou o lugar de sua mãe na fábrica, logo se juntou com um bom
sem vergonha, um dia apareceu na sua casa, com um garoto com dois anos. Pediu se podia ficar.
Afinal era sua irmã, mas ela não colaborava
com nada, sua preocupação, era o samba, todo dinheiro que ganhava era para
isso, uma roupa nova, sapatos altos, inclusive era má funcionária.
O garoto, ele quando ficou maior, o meteu
na escola, começou a economizar, para ver se o mesmo seguia em frente, mas nada
ele tinha que estar em cima, reclamava com ela, que levantava os ombros.
Ele tinha vários causos, a contar, os
professores o incentivavam, às vezes, tirava um cadáver da piscina de formol, o
professor lhe perguntava de que tinha morrido, ele rapidamente, buscava a
causa. Analisava o corpo de uma certa
maneira sem o tocar, lia o relatório que acompanha o número do cadáver, mas
analisava, desde a sola dos pês, as mãos, as unhas, ia dizendo como era a
pessoa, que vivia na rua, era um indigente, ia anotando tudo, devia ter
trabalhado na construção, pelo estado das unhas da mão, então com as luvas
cirúrgicas, ia apalpando o mesmo, para ver a musculação. Quando entravam os alunos, ele se colocava
de lado, com um bloco que o professor lhe tinha dado, ia anotando tudo.
As observações que ele tinha feito antes, o
professor perguntava aos alunos, mas eram poucos que acertavam. O professor dizia que era seu melhor aluno.
O professor e ele um dia examinaram um
cadáver, que não se sabia o nome, nem profissão, tinha dois tiros no
peito. Ele ficou olhando para o mesmo,
disse para o professor, esse homem esteve metido nas drogas, bem como no
tráfico da mesma, o tinha reconhecido do morro.
Mas não disse nada, pela aparência do corpo
o mesmo nunca tinha trabalhado duro. Havia sim a marca de um anel, no dedo que
indicava casamento. Ele sabia que sua
mulher já estava com outro, para que complicar a vida dos outros.
Quando abriram o cadáver, dava para ver os
órgãos, prejudicados pelos excessos. Ele
gostava mesmo, quando abriam a cabeça, alguns alunos ficavam enojados, mas se
esqueciam que todos eram iguais, claro com o tempo algum que outro cérebro
estava feito uma massa fedorenta.
Mas ele ficava como um louco, anotando tudo
que o professor dizia.
Teve um ano que foi literalmente confuso,
seu sobrinho já tinha 16 anos, tinha que trabalhar mais, se o queria
ajudar. Mas o sem vergonha, era mal
estudante.
Agora ele trabalhava o dobro, saia da
universidade, ia limpar cozinha de restaurantes no centro da cidade. Chegava em casa morto de cansado, tinha que
preparar comida para o dia seguinte.
Sua irmã escaqueava, o garoto nem pensar.
Um dia ao subir o morro, viu o sobrinho,
com um dos capangas do Rizado, pegou o outro entregando papeletas para o
sobrinho vender. Pegou o mesmo pelo
colarinho, fez o sobrinho devolver tudo, disse ao ouvido do capanga, tu avisa o
Rizado, que se vejo meu sobrinho metido com vocês, vou contar para todo mundo,
que comi muito seu cu, quando era garoto.
O outro saiu assustado, como aquele homem
magro, podia ter essa força toda.
Levou o sobrinho para casa, lhe deu uma
surra de fazer gosto, se te pego outra vez fazendo isso, será pior. Já que não queres trabalhar, vou te arrumar
um emprego na universidade.
O sem vergonha, tinha que limpar os
banheiros, se levantava resmungando, ia todo o caminho reclamando, da
vida. Um dia o pegou no corredor,
vendendo papeletas para os estudantes, nesse dia, avisou ao restaurante que
limpava que tinha um problema.
Voltou com seu sobrinho para casa, o mesmo
capanga, esperava pelo seu dinheiro, lhe deu uma surra de fazer gosto, eu
avisei, diga ao Rizado que espere por mim.
Entrou em casa, fez o sobrinho ficar nu,
lhe deu uma surra de fazer gosto, sua irmã, entrou defendendo o filho, ele o
arrastou nu, pelos becos, até aonde ficava a casa que vivia o Rizado com seus
capangas, entrou arrastando seu sobrinho.
Ele acha que tu és o maior, mal sabe que deste o cu para meio morro, que
não passas de um galinha, só porque tens um revolver, acha que é machão, mas
comi muito teu cu.
Os capangas estava de boca aberta, nunca se
aproxime de minha casa, lhe deu um murro, jogando o outro do outro lado da
sala.
Fique aqui com teu mestre disse ao
sobrinho, não se atreva a aparecer por minha casa.
Quando voltou sua irmã arrumou a maior
confusão, ele simplesmente, colocou toda a roupa dos dois, numas bolsas de
super mercado, aqui não pinta nada, esta casa é minha, a sustento eu, se
defendes teu filho, é porque nunca se incomodou que ele vendesse drogas. A colocou para fora de casa, nesse dia,
colocou uma tranca que nunca tinha usado, mas quem o fazia era sua mãe.
No outro dia, saiu por detrás. Quando voltou, trocou a fechadura da porta.
Uma vizinha veio lhe criticar, olhou na
cara dela muito sério, lhe perguntou se comia na sua mesa, se lhe pedia
dinheiro emprestado.
Não, respondeu ela.
Então não me encha o saco.
Trabalhou esses dias de mal humor, agora
havia uma turma, dois eram filhinhos de papai, um deles cada vez que colocavam
um cadáver sobre a mesa, seu comentário era sobre o tamanho do caralho. Debochava o tempo todo dos cadáveres, uma
falta de respeito segundo ele.
Estava farto do sujeito, nunca sabia
responder a nada, o professor disse que esse seria um daqueles médicos, que o
pai, arrumaria um emprego fixo num hospital, os clientes que se danassem.
Numa outra classe o mesmo, ele como quem
não quer nada, estendeu o pé, o sujeito ia distraído, tropeçou, caiu na piscina
de formol.
Os outros riram dele, gritava como uma
garota assustada.
Até que ele estendeu a mão o tirando dali.
No dia seguinte apareceu com o pai, um
deputado, pela cara se via que era um sem vergonha, foi logo dizendo as
palavras magicas, de todos os brasileiros que se acham importante.
O senhor sabe quem sou, falou para o
professor.
Não sei, nem me interessa, o senhor esta
interrompendo a minha aula, o homem tanto fez, que ele soltou, seu filho já
está reprovado nessa matéria, é um idiota renomado, tenho pena de quem seja seu
cliente no futuro.
O homem gritava muito, quando passou por
ele, fez a mesma coisa, estendeu o pé, o homem caiu na piscina.
Vê o senhor nem presta atenção por aonde
anda, o mesmo gritava como um louco, entraram na sala dois ajudantes do mesmo,
mais pareciam capangas.
O retiraram do poço.
Foram reclamar com o reitor, esse se
lembrava dele, quando estudava, era um péssimo aluno, por isso tinha entrado
para a política, o colocou para correr.
Pela primeira vez na sua vida, imaginou se
vingando desse tipo de gente.
A sua primeira vítima, foi o capanga do
Rizado, o encontrou num beco uma noite, este o ameaçou com um revolver. Lhe deu uma surra de fazer gosto. O arrastou
até sua casa, o colocou em cima da mesa, ali tinha coisas que ele tinha tirado
da universidade.
Pegou uma agulha e linha, estendeu o saco
do mesmo, colocou toda a droga que tinha nos bolsos ali, costurou o mesmo,
esticando tudo que podia, enfiou o piru para dentro, como tinha visto o
professor fazer.
Pegou uma cenoura, enfiou nu cu do mesmo,
com delicadeza, costurou a boca do mesmo, com um dos pacotes com cocaína, de
madrugada quando saiu, o deixou dentro de um saco na frente da delegacia do
morro.
Foi trabalhar tranquilamente. Quando voltou, havia a maior confusão,
Rizado tinha pensado que quem tinha feito isso, tinha sido o outro
traficante. Estavam brigando entre eles.
Viu no meio de seus homens seu sobrinho,
pensou, esse realmente escolheu o caminho errado.
Como as vezes limpava a farmácia do
hospital, foi trazendo coisas, anestesia, seringas, coisas assim.
Agora como era só para ele, trabalhava só
no hospital.
Passou a prestar atenção nos traficantes do
outro lado. Viu um sujeito que era
metido a machão, um dia o seguiu de noite, estava todo vestido de negro, fez a
mesma coisa que tinha feito com o outro, mas desta vez, o levou mais para perto
da casa do Rizado.
Foi outra vez a maior confusão.
Ia provocando os dois grupos, a policia não
sabia o que fazer, desconfiavam dele, o Bebeto veio falar com ele.
Foi claro, achas eu vou me meter com essa
gente, tenho mais que fazer, dando um duro desgraçado, tu quando entraste para
a polícia, conseguiu um emprego estável, como eu, mas sou limpador da
universidade, assisto aulas de dissecação de cadáveres.
Ele nas ultimas aulas, com o professor,
sobre mosquitos, larvas, colocou tudo dentro de um tubo, levou com ele.
Agora quando pegava um traficante, além de
costurar as mãos dos sujeito, segurando seu próprio caralho, enfiava no cu do
mesmo, umas larvas, depois costurava, os deixava abandonados, sempre do lado
contrário ao outro.
Alguns morriam depois, pois as larvas os ia
devorando por dentro.
Bebeto voltou a falar com ele, estão
limpando o morro dos traficantes, todo mundo tem medo.
Não podia chegar perto do Rizado, mas o
vigiava, agora seu principal capanga era seu sobrinho. Um dia os viu fazendo sexo, ele dando o rabo
para seu sobrinho.
Esperou uma nova oportunidade, fotografou
os dois com uma câmera emprestada pelo professor. Mandou fazer copias, mandou para todo mundo
do morro, inclusive para o outro traficante.
Os dois tiveram que se mandar dali.
Só ficou um traficante, o Bebeto, ria
muito, nos dois comíamos esse sem vergonha, nunca queria nada com nada. Pelo menos agora só temos um, que esse
salvador da pátria consiga se livrar dele também.
Bebeto, cá entre nós, virão sempre outros, cai
um, se levanta outro.
Era uma verdade, nunca ia adiantar nada.
Lhe surgiu uma oportunidade, estudou como
um louco para o vestibular de medicina, conseguiu passar entre os 10 primeiros,
os professores lhe elogiavam por isso.
Seria o mais velho da turma, mas não se
incomodava, queria ser alguém.
Continuava se levantando as cinco da manhã, limpava os corredores da
universidade, depois ia assistir as aulas, as duas que ele sempre tinha
acompanhado, tirou as notas máximas, o professor lhe disse que ele seria um
excelente médico legista. A maioria que
fazia o curso, depois iriam para o interior, ali no Rio ou mesmo em São Paulo,
ele conseguiria um bom emprego.
A vaca torceu o rabo, quando chegou a época
das práticas, conseguiu um lugar no próprio hospital da universidade. Mas claro com os horários não podia
trabalhar.
Tinha economizado tanto, que conseguiu
tirar um ano sabático no trabalho, assim fez as práticas, pensava no que tinha
falado o professor.
Se candidatou, com sua experiencia, bem
como recomendação do professor, conseguiu uma vaga no Rio mesmo. Logo se destacou, pois examinava em
profundidade os casos, seus relatórios eram minuciosos. Seus colegas falavam dele pelas costas, mas
nenhum realmente sabia tanto quanto ele.
Ficou finalmente fixo no cargo, com isso,
com um salário que ele nunca poderia ter na universidade, conseguiu, alugar um
apartamento pequeno para ele, no centro da cidade.
Era mais fácil para ele se mover. Quando
deixou o emprego na universidade, os dois professores disseram que iam sentir
falta dele.
Seguiu em frente, Bebeto quando se viam, ou
vinha porque estava acompanhando algum caso, encontravam um tempo para tomar
uma cerveja.
Este lhe dizia que ele precisava ter uma
família.
Mas isso para ele era uma palavra tabu,
tinha o exemplo de ter tentado ajudar sua irmã, bem como o sobrinho. Sabia pelo Bebeto que este vivia agora na
Rocinha, era de um grupo de traficantes de drogas, sua irmã, nunca mais soube
dela.
Nunca tinha tido tempo para se apaixonar
por ninguém, tinha uma meta na cabeça, agora que a tinha alcançado, sentia um
pouco de vazio.
Seu professor de anatomia, com quem tinha
aprendido tanto, lhe perguntou se queria ser seu assistente, queria ter mais
tempo para fazer um trabalho a parte, aceitou, teria que conjugar os horários.
Com este agora, conversava muito, um dia se
encontraram na cidade, foram tomar uma cerveja, conversaram, sem querer este
tocou no assunto de relacionamento.
Tens que aproveitar mais a vida, sair de
noite, fazer algo nos teus momentos livres, lhe explicou que sempre tinha sido
só, lutando para conseguir o que sonhava.
Mas para ele existia uma dificuldade,
confiar em alguém, agora tinha relacionamentos ou aventuras como chamava de uma
noite, mas para se sentir vivo, mas era sempre uma coisa unilateral, queriam o
que tinha no meio das pernas, usufruíam, iam embora, ele queria outra coisa.
Seu amigo dizia que ele era tão fechado,
talvez por isso as pessoas não investiam nele.
Numa reunião de professores da
universidade, conheceu um professor que substituía outro que se
aposentava. De uma certa maneira se
sentiu atraído, mas quando se conheceram melhor, sem querer descobriu que o
outro, adorava conquistar, para depois deixar a outra pessoa sozinha.
Quando se aproximou dele, já sabia de tudo
isso. Era um homem muito bonito, de
família rica, se dedicava a ensinar, porque tinha horror a atender as pessoas,
ver os problemas que estas tinham, reconhecia isso, errei de profissão.
Mesmo como professor era muito criticado, a
principio tentou seduzi-lo, quando viu que por aí não chegava a lugar nenhum, o
encostou na parede, por assim dizer.
Tirou o corpo fora rapidamente, não estava
interessado, ao mesmo tempo, fisicamente o outro o atraia.
Numa festa de final de ano, o outro pensou
que ele tinha bebido demais, pois sempre tinha um copo na mão, não percebeu que
quando lhe dava uma taça de champagne, ele deixava a outra em algum lugar, se
insinuou totalmente para uma noite de sexo.
Resolveu ver até aonde ia o outro, este o
levou para seu apartamento no Leblon, muito bem montado, nada a ver com o seu,
que era a coisa mais simples do mundo.
Realmente o outro fazia um sexo fantástico,
mas quando começava a falar, se transformava numa pessoa fútil.
Ficou com medo de ficar preso a essa
atração sexual, esse ano tinha conseguido encaixar as férias da universidade,
com a de legista.
Tinha suas economias, resolveu fazer uma
viagem, pensou ir para alguma praia no norte do pais, mas depois pensou, praia
por praia, fico aqui.
Resolveu fazer uma viagem, que tinha
escutado um dos professores comentando, conhecer Portugal, pelo menos não teria
problemas de língua.
Começou por Lisboa, depois foi a Coimbra,
finalmente o Porto, mas tudo devagar, conhecendo a cidade, desfrutando. Quando voltou a Lisboa, num café conheceu um
homem da sua idade, riu muito, pois o mesmo tampouco era português, sim
emigrante, vinha da Africa. Atualmente
era professor de escola primaria, nunca tinha conversado tanto com alguém.
Este foi honesto, sai de uma relação
complicada, sabia que ele iria embora, dentro de uma semana, mas saiu para
mostrar a Lisboa que os turistas não viam.
Se davam bem em todos os aspectos, ficou
com pena de ter que voltar, sabia agora que era possível, encontrar uma pessoa
como ele gostava.
Só foi encontrar na verdade um companheiro,
quando estava para fazer cinquenta anos, um da sua idade, tinha comprado um
apartamento melhor em Botafogo, perto da estação do Metro, o apartamento
precisava de uma reforma, lhe indicaram um arquiteto que tinha uma empresa
especializada.
O apartamento era relativamente o dobro do
seu, ele queria ter uma biblioteca, estava cansando das pilhas de livros pelo
chão.
Conversou com o mesmo, tinha se sentido atraído desde o primeiro momento, disse
como queria transformar o apartamento, queria juntar um dos quartos a sala,
para fazer um lugar para trabalhar, estudar, um hábito que não tinha
perdido. Agora o via sempre, pois ia ver
as obras, até que este o convidou um dia para tomar alguma coisa.
Ria depois dizendo que ele nunca avançava,
que estava farto de esperar algo. Eres o
tipo de pessoa que me atrai, não só fisicamente, mas por ser tão sério.
Quando foram para a cama, lhe avisou, não
espere muito, apesar do meu tamanho, tenho um sexo um tanto pequeno.
Mas ao contrário se divertiam muito um com
o outro, quando viu estava em cheio dentro de um relacionamento, não viviam
juntos, mas passavam o final de semana que ele estava livre, saindo, iam ao
cinema, teatro, coisas que ele nunca tinha feito.
O apartamento do Suarez, todos o conheciam
pelo sobrenome, era antigo, tinha pertencido a sua família, era enorme.
Quando o convidou para ir viver com ele,
disse que ia pensar, mas acabavam era no seu mesmo, Suarez, dizia que ali se
sentia de maravilha.
Depois de vários anos juntos, foi que
resolveram experimentar a viver juntos, riam muito, pois tinham hábitos
completamente diferentes um do outro, mas respeitavam isso.
Dez anos depois quando ele se aposentou,
saíram os dois de férias, foram a Paris, nunca tinha se divertido tanto.
Quando voltou se encontrou com o Bebeto,
agora era delegado de polícia, comentou que seu sobrinho, agora era um dos
chefe do tráfico, lhe mostrou uma foto, parecia mais velho do que ele, este
ainda comentou, que só no Brasil para ser assim, traficava, mas ao mesmo tempo
era um viciado.
Ele seguia trabalhando de legista, só tinha
se aposentado da universidade, um dia, lhe tocou um cadáver, que tinha sido
encontrado no lixo, deu de cara com seu sobrinho.
Que o tivessem matado, não fazia diferença
nenhuma, ao examinar todo o corpo, este na verdade tinha seus dias contados,
com um câncer do tamanho de uma bola no estomago.
Ficou chateado, contou para o Suarez, como
tinha se sentido, isso era o esteio do relacionamento dos dois, poderem falar
de tudo, embora, viessem de classe social diferentes, se entendiam.
Um cliente ofereceu para o Suarez, para
fazer uma obra, em forma de pagamento uma casa em Arraial do Cabo. Os dois se apaixonaram pela mesma, ficava de
frente para o mar, foram arrumando a mesma, passavam todos os finais de semana
lá. No verão tirava férias para ficarem
mais tempo.
Um dia passaram a viver lá, se aposentou
finalmente de tudo, tinham uma vida perfeita, foram levando até a velhice,
quando via o Bebeto dizia que finalmente tinha encontrado sua meia
laranja. Este quando conheceu o Suarez,
lhe disse na cara, pena que esta contigo, senão ia avançar o sinal, este
aposentado, além de viúvo, agora assumia sua homossexualidade.
Um final de semana foi passar com eles,
enquanto Suarez tinha ido fazer compras, comentou, com ele, eu sempre fui
apaixonado por ti, mas escolhi uma vida que não incluía isso.
Meus filhos têm suas vidas, um vive no
norte do País, o outro nos Estados Unidos, mais sozinho impossível.
Cada vez mais, estava com eles, quando
Suarez ficou doente, o ajudou a cuidar dele, até que chegou o momento de ter
que voltar ao Rio, porque este tinha que tomar quimioterapia, seguir um
tratamento. Infelizmente chegou um
momento que desistiu.
Seu enterro, foi uma coisa simples, o
enterrou junto aos seus.
Pensava em voltar para Arraial do Cabo,
pois tinha recebido como herança dele, o resto foi para a família.
Bebeto estava com ele, com o tempo chegaram
ao sexo, os dois riam, pois quando era jovens faziam sexo os dois escondidos,
com o Rizado, eles só o comiam, mas quando estavam os dois, tinham uma espécie
de romance.
Acabaram assumindo isso, quando o filho que
vivia no norte veio resolver negócios o Rio, deu de cara que o pai tinha
assumido sua homossexualidade, não gostou da história, foi tomar satisfação do
pai.
Bebeto escancarou, dediquei minha vida, a
trabalhar como um louco, para que você e seu irmão não tivessem a vida que eu
tive de criança, vivendo numa favela.
Um belo dia, cada um foi cuidar da sua
vida, se eu não telefono, não sei nada de vocês, teu irmão não o vejo a anos,
tem uma família, sua mulher me manda cada Natal uma foto deles, nunca conheci
meus netos, tampouco me convidam para ir passar um tempo para conhece-los, você
é o mesmo, por isso, simplesmente te mando a merda.
Com isso, eles estavam mais juntos que
nunca.
Um dia riram ao chegar à conclusão, que
deviam ter seguido seu romance na época, quem sabe aonde teriam chegado.
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