RETORNADOS
No caso de meu pai, Manoel Silva Santos,
tinha nascido em Moçambique, filho de um português, com uma bela mulata,
registrada como portuguesa.
Em 1974, quando a coisa começou a feder,
como dizia meu avô, ele começou a vender tudo que tinha, transferindo o
dinheiro para Portugal, os amigos achava um absurdo, mas quando se viram
abandonados pelo governo Português, se deram conta que já era tarde, meu avô
pegou seu filho, bem como sua mulher embarcou num voo com destino a Lisboa,
levavam um pouco de roupa, mas principalmente dinheiro resto do que tinha
vendido, mas trocado por moedas portuguesas, as últimas, sabia que o dinheiro
das províncias não valiam nada em Portugal.
Primeiro ficaram na casa de uns parentes
deles, até que escutou uma das primas comentando com outra, será que esses
retornados ficarão vivendo as nossas custas.
Ele claro os levou para um hotel, mas logo
em seguida sua mulher se sentiu mal, morrendo no hospital, foi difícil
conseguir enterra-la, junto aos da família, mas ele tinha dinheiro.
Conversou com meu pai, quais as
possibilidades que tinham, uma era voltar para algum pais da Africa, que os
aceitasse, mas tudo por lá andava complicado, outra como muitos que chegaram
depois iam para Paris, ele pensou bem, lá será mais difícil nos ajustar.
Entraram num barco, que ia para o Rio de
Janeiro, numa boa cabine, foi quando os parentes descobriram que ele tinha
dinheiro.
Ah anos mandava dinheiro para Portugal,
pois queria que meu pai estudasse em Coimbra, que tinha sido seu sonho.
Mal chegaram ao Rio, se deslumbraram como
tantos outros, quando o barco entrou então na Baia de Guanabara, amor à
primeira vista.
Se instalaram numa pensão no Catete, aonde
tinham referências de uma senhora que ia no barco, lhe tinha comentado, que havia
muitos residentes portugueses, no campo de São Cristóvão, como ela explicava,
ali estava o palácio real, bem como a arquitetura das casas mais antigas eram
totalmente portuguesas.
Meu avô tinha em Moçambique uma loja de
ultramarinos, como se chamava, vendia de tudo que vinha de Portugal, bem com
verduras, legumes, frutas, no Brasil isso era mais conhecido como Quitanda, por
causa dos africanos.
Andaram os dois muito por ali, até que
encontraram uma a venda, o dono era proprietário do prédio, embaixo tinha sua
loja, em cima vivia com sua mulher.
Era um bom apartamento, o tinha reformado a
tempo por vontade dela. Como ela morreu,
ele não tinha mais ninguém no Brasil, decidiu retornar a sua vila, no Ribatejo.
Fizeram negócios, meu avô ainda tinha o
grosso do dinheiro em Lisboa, o pagou lá, assim podia tocar em frente ali.
Se mudaram rapidamente, uma coisa
interessante, era que esse homem estava eternamente de camiseta, usava
tamancos, disse ao meu avô, que com o calor era a melhor coisa.
Foram se acostumando, o homem ainda ficou
um tempo, ensinando meu avô a trabalhar.
Meu pai, com muito custo conseguiu se
matricular numa escola, para acabar seus estudos, fez um curso de
contabilidade, não pensava em fazer universidade, pois nenhuma lhe encantava.
Gostava sim de administrar a loja, fazer
mais dinheiro, isso tinha aprendido com seu pai.
Meu avô, só o conheci de criança, usava uns
bigodes daqueles com as pontas viradas, que ele cuidava com esmero, minha mãe
quando ele estava muito velho, fazia isso para ele.
Me lembro de criança, que atrás do caixa da
loja, tinha uma placa, que nada de fiado, tudo tinha que ser avista.
Levei um tempo para entender isso, quando
perguntei ao meu pai, ele soltou na minha cara que os brasileiros eram maus
pagadores, nada de vender para pagar depois, tinha que se no momento.
Se casou com a filha de uns portugueses,
que segundo todo mundo, estava sempre mal humorada, pois os pais tinha voltado
para Portugal, a deixando para trás, num casamento que ela não queria. Odiava crianças, segundo meu pai, teve seu
primeiro filho, só cinco anos depois ficou gravida outra vez. Meu pai contava que reclamava o dia inteiro
disso, assim nasceu meu irmão do meio, ela morreu no parto, ele foi um bebê
enfermiço, sempre com problemas de brônquios, asma, qualquer mudança de tempo
estava resfriado.
Meu pai ainda usava por hábito da época,
quando uma cliente, uma mulata lindíssima, disse que ele era jovem, tinha que
aproveitar a vida, essa mulher o arrastou com ela um final de semana, meu avô
ficava com os meninos.
O levou a Mangueira, lá ele conheceu minha
mãe, uma mulata diferente, tinha os cabelos claros, olhos verdes, fruto de uma
relação da minha avô com um marinheiro sabe se lá de onde.
Ele ficou louco por ela, a vendo dançar com
as outras mulheres, a que o tinha levado a apresentou era muito amiga
dela. Leontina Gomes da Silva.
Eles começaram a namorar, um ano depois a
pediu em casamento a sua mãe, essa já tinha ido até o armazém, para conhecer a
família, acabou ficando ali cuidando dos meninos.
Minha mãe tinha estudado como ele,
trabalhava numa firma de contabilidade no centro da cidade.
Quando se casaram, ela seguiu trabalhando,
o filho mais velho de meu pai, não gostou muito, mas o do meio o Nuno, adorou,
tinha quem cuidava dele, carinho, quando ficava doente, ela sempre o atendia de
noite, ficava lendo para ele, até que dormisse.
Mas não ficava grávida, foi a um pai de
santo, esse disse que não se preocupasse, que isso ia acontecer em breve, que
ela teria um garoto.
Foi quando nasci, fui a alegria da horta,
menos o meu irmão mais velho que me detestou a partir do momento que me viu. Ele levava o nome do meu pai, Manoel silva
Santos.
Ninguém sabe por que, me colocaram o nome
de Fernando Silva Santos. Meu avô podia
passar horas comigo no seu colo. Na
empresa que ela trabalhava, não gostaram muito, pois ela as vezes tinha que se
ausentar. Ora era o Nuno que estava
mal, ora por causa do meu avô.
Sua mãe dizia que não tinha idade para mais
isso.
O jeito foi ela começar a levar a
contabilidade do armazém.
Foi quando meu pai, descobriu o famoso
“Caixa 2” que todos os brasileiros sempre usavam, só registar uma parte dos
valores recebidos. Ele adorou, pois
assim podia ir investindo em outras coisas.
Minha avó, Maria Gomes da Silva, adorava
viver lá, pois tinha vivido a vida inteira na Mangueira, numa casa pequena, ao
contrário do apartamento que era imenso.
Na parte da frente, aonde tinha o quarto do meu avô, bem como um salão
grande, as janelas eram como portas, estavam o dia inteiro abertas, ela dizia
que o ar tinha que circular, só se fechava se chovia torrencialmente, coisas do
verão do Rio de Janeiro.
Mas todas os finais de semana ela subia a
Mangueira para ir ao seu pai de santo.
Meu irmão mais velho odiava estudar, mas
era obrigado, o sonho de meu pai, era que um filho fosse a universidade, pois
depois com o tempo achava que devia ter ido também, era duro com o Manoel, mas
esse tinha nascido desde já com alma brasileira, gostava do bem bom.
Já o Nuno era complicado, passava mais
tempo doente, então ir à escola, sempre perdia o ano, era fraco em tudo, ela
tinha paciência de lhe ensinar matemática, outras coisas que ele não
entendia. No verão íamos sempre fazer
pic-nic, na Quinta da Boa Vista, que estava logo ali, junto tinha o Jardim Zoológico,
aonde os dois adorávamos ir. Nuno, me
cuidava, ia me mostrando tudo, me fazia repetir até falar certo o nome dos
animais.
O Manoel, mal se aproximava de mim, não
havia jeito.
Meu pai foi comprando propriedades, já
sabiam que ele sempre investia, para o futuro dizia.
Um dia quando desceu, viu um garoto
dormindo na porta do armazém, estava faminto, era o Antonio, tinha vindo da
Bahia, atrás do pai, este tinha outra família, o colocou para fora.
Meu pai ficou com pena dele, subiu com ele
outra vez, explicou para minha mãe, ele era da mesma idade do Manoel, que o
odiou no mesmo momento, principalmente que minha mãe pegou umas roupas dele
para o Antonio.
Lhe fez tomar um banho, sentar-se na mesa
conosco para tomar café, minha avô Maria se tomou de amores por ele.
Quando minha mãe desceu para ajudar meu
pai, ele foi junto, imediatamente começou a trabalhar, minha mãe disse que não
era preciso, mas ele disse que havia que pagar o que consumia.
Ela conseguiu que ele terminasse seus
estudos, logo fez contabilidade, acabou indo fazer administração de empresas,
pois o Manoel achava uma besteira estudar.
Queria sempre escapar para ir à praia em Copacabana, lá sim existia
vida.
O Antonio foi meu primeiro amor, ele tinha
um carinho especial por mim.
Eu ao contrário do meu irmão adorava
estudar, quando minha mãe ou o Antonio ensinavam o Nuno, eu me sentava do lado
para aprender, tinha facilidade.
O Nuno morreu com quase 19 anos, tinha
passado um ano, entrando e saindo do hospital, com problemas respiratórios, o
médico dizia que os pulmões dele era como um papel, a qualquer momento podia
ser letal. Naquela época não se falava
em transplantes, então não havia jeito.
Ele morreu na mesma semana que morreu minha
avô, foram dois enterros seguidos um do outro.
Meu avô dizia que o Manoel, nunca iria em
frente, estava sempre sonhando em ser rico, mas para gastar dinheiro. Tínhamos uma mesada, inclusive o Antonio, pois
ele recebia, gastava no mesmo dia, sabia aonde meu pai guardava dinheiro, então
havia que ter cuidado.
Mal sabia que meu pai, cada vez que faltava
dinheiro, anotava no nome dele, para o futuro dizia.
Quando meu avô morreu, meu pai, começou a
usar o bigode como ele.
Nessa época um conhecido, vendia seu
negócio, tinha uma firma de estamparia, fazia rótulos, tudo que fosse possível.
Eu me interessei logo pelo negócio, meu o
comprou imediatamente no meu nome, minha mãe foi junto, fazia a parte de
contabilidade, eu primeiro entrei como um simples empregado, o dono ainda ficou
meses ensinando tudo a ela, bem como a mim.
Eu gostava porque tinha uma parte de mim
que gostava da parte artística.
Manoel, ficou louco de ciúmes, porque o pai
não montava algo para ele, mas ir no armazém trabalhar, nem pensar, o que iam
pensar dele, queria ser o chefe, dar ordens.
Nessa época, Antonio já tinha se formado,
um dia apareceu um homem que tinha uma indústria de azulejos em Quintino, no cu
do mundo.
Antonio, foi para lá como aprendiz, dizia
que a mesma era mal administrada, meu pai por insistência do Manoel
comprou. A principio ele trabalhou, mas
o Antonio nos finais de semana me contava que não sabia dar ordens.
Os dois estavam sempre discutindo, porque
ele retirava sempre dinheiro, desaparecia com seus amigos no final de semana.
Um dia apareceu com uma noiva, uma garota
da zona sul, como ele dizia. Logo estava
gravida, se casou com ela, por causa do meu pai.
Foram morar em Quintino, perto da fábrica,
Antonio que não gostava de conduzir, já vivia a muito tempo lá para não perder
tempo de ônibus.
Nessa época, por uma coisa muito americana,
começou a moda das camisetas estampadas, fui aprender como ser fazia, logo ia
pelas empresas oferecendo, fosse como propaganda, depois fui pelas boutiques da
moda.
Eles me davam a parte a ser estampadas, eu
fazia o trabalho, com mais cinco funcionários, as tintas eram caras, mas
descobri perto um homem que sabia preparar as mesmas, conversei com minha mãe,
compramos uma parte do negocio dele, passou a fazer tinta só para nós.
Aos rapazes que trabalhavam comigo, os
ensinei aos que tinham jeito a desenhar, a fazer o mais moderno possível.
Logo atendíamos as melhores boutiques da
cidade, mas o que fazia para um, não fazia para o outro. Chegou o momento que deixamos de fazer
rótulos essas coisas, ampliei tudo, com minha mãe administrando era fácil, a
coitada ainda chegava em casa dava uma olhada nos livros do velho. Esse tinha mandado construir um cofre, numa
saleta que usava, só ele e ela sabiam abrir o mesmo, assim não corriam o risco
de roubo, mas era mais por causa do Manoel, que sempre que aparecia,
desaparecia alguma coisa.
Minha mãe, morreu sendo assaltada, saindo
da loja da frente aonde vendíamos tinta, coisas para serigrafia, sempre tinha
sido confiada, como vivíamos a um quarteirão, saia com o lucro do dia, metido
numa caixa de metal, com um cadeado. Ia
para casa tranquila.
Alguém tinha descoberto isso, a assaltou,
eram dois, um ela deu com a caixa na cabeça, o outro se assustou lhe deu um
tiro, nem levou a caixa.
Ela morreu logo ali, eu corri como um
louco, mas quando chegou a ambulância estava morta.
Meu pai nunca se recuperou, seguiu
trabalhando como sempre, as mulheres se insinuavam para ele, que no fundo era
um coroa bonito, com seus bigodes retorcidos.
Nessa época a Barra da Tijuca começou a se
expandir, meu irmão Manoel, resolveu como todos os novos ricos, ir viver
lá. A fábrica dava lucros, porque o
Antonio levava a mesma, mas claro, reclamava que ele dava uma ordem, que meu mudava
tudo, mas não entendia nada.
Um dia o despediu, meu pai só descobriu
tempos depois, ele tinha ido trabalhar para a concorrência. Tinha aparecido no enterro da minha mãe,
mais magro, nervoso, conversou comigo, tinha vergonha de contar ao meu pai.
Um dia um credor apareceu no armazém, meu
pai me chamou, pois não entendia o que o sujeito queria. Este me explicou que meu irmão lhe devia a
meses uma grande quantidade de faturas.
Não havia maneira de o encontrar, bem como
de cobrar. Tinham ido ao Banco etc.
Meu pai disse que a fábrica estava em nome
do Manoel, que ele que pagasse.
Foi quando descobriu o do Antonio. Fomos falar com ele.
Este com vergonha contou que meu irmão
gastava mais do que ganhava, que enquanto esteve lá, fazia de tudo para não
faltar matéria prima. Que ele sabia eu
agora estava perdendo os clientes, pois não tinha como pagar os empregados, nem
como fabricar, que o jeito era vender.
Cada vez que ameaçava contar para o senhor,
mandava que eu calasse a boca, que eu estava ali de favor, um dia me cansei,
aceitei o convite dos que faziam a concorrência, agora, esses tinham os
clientes todos.
Que a mulher o tinha abandonado, levando o
filho deles, que ele vivia na farra na Barra da Tijuca, com seus amigos ricos,
que nunca ia a fábrica.
Meu pai pagou os salários atrasados, foi
difícil dar com o Manoel, fui com ele, até seu apartamento, ele ficou de boca
aberta, estava vazio, o homem do condomínio, disse que ele devia horrores, mas
que nunca ia lá, vivia na casa de uma amante que tinha.
Deu o endereço, porque sabia que era seu
pai.
O pegamos de ressaca, além de uma noite de
farra. Quando meu pai o chamou a ordem,
riu, estou aproveitando minha vida de solteiro outra vez.
Meu pai, deixou os credores tomarem conta
da fábrica, quem a comprou foi a empresa que trabalhava o Antonio, o
apartamento, foi para um banco aonde ele devia uma soma considerável de
dinheiro.
Meu pai, não mexeu um dedo, meses depois
quando ele apareceu, só pediu dinheiro, que era seu por direito.
Meu pai lhe soltou na cara, que direito era
esse, se nunca trabalhaste direito, teu irmão leva sua empresa, muito bem, mas
tu que tinhas uma melhor, levou tudo a merda, não te quero ver por aqui,
desapareça. Nesse momento soltou uma
coisa que ninguém sabia, que na verdade ele não era filho do meu pai, quando me
casei com tua mãe, ela já te tinha na barriga, por isso a família não a queria
levar para Portugal. Te dei um nome, um
futuro, mas cagaste nele, fora da minhas vistas.
Então entendi por que ele era desse jeito,
no fundo sabia não era filho do meu pai.
Este fez uma coisa, descobrir aonde estava
sua mulher, com o filho, comprou um apartamento, lhe dava uma mesada aos dois,
para irem levando a vida. Mas logo ela
se casou outra vez, o homem adotou seu filho.
Isso foi mais uma paulada na cabeça do
velho.
Eu fui atrás do Antonio, o convidei para
trabalhar para mim, ele voltou a viver lá em casa conosco.
Com ele podia discutir meus planos, comprei
uma fábrica que fechava ali perto, tinha pertencido a uma cadeia de boutiques,
para quem eu trabalhava fazendo estampas.
O dono, era um bom vivant, muito bonito,
uma vez me cercou para sair com ele, arrumei uma desculpas, conhecia sua fama,
festas, drogas, rock roll, com se dizia na época.
Um dia apareceu morto, devia muito
dinheiro, o banco tinha ficado com a fábrica, fui lá com Antonio, tinha conta
nessa banco, compramos a mesma, assim ninguém ia para a rua. Começamos a fabricar o que me ia bem,
camisetas, tínhamos duas linha, com uma boa malha que comprávamos no sul,
fazíamos para as boutiques, outra com malhas mais simples, fazíamos para os
políticos, para propaganda.
Lá Antonio conheceu a que seria sua mulher,
meu pai pediu se eles podiam seguir vivendo em casa, pois sobrava muito
espaço. Logo tiveram um filho que era
como um neto para ele.
Era um garoto gracioso, Antonio um pai,
para ninguém botar defeito. Sua mulher
saiu da fábrica, ajudava meu pai no armazém.
Agora no andar de cima da fábrica tinha um
grupo que desenvolvia estampas, que vendia para as boutiques, algumas me
mostravam o que iam fazer de coleção, fazíamos dentro da propostas deles, apresentávamos,
assim íamos vendendo. Antonio como
administrador era excelente.
Um dia me avisou que um armazém ao lado,
que era de outra cadeia de boutiques que se fechava, que ali eu podia
transferir a parte de estamparia, bem como era tão grande, que podia fabricar a
tinta ali mesmo.
Foi um achado, agora tinha um químico que
trabalhava para mim, ele com mais dois preparavam as tintas, ia bem, pois
vendíamos ao que estampavam roupas, diziam que era excelente pois, secavam
rápido.
Nessa época fiz minha primeira viagem, fui
a Lisboa, conhecer a terra dos meus antepassados, mas os parentes de meu pai,
não viviam mais lá, tinham emigrado para Paris.
Fazia parte da minha viagem, passei mais
tempo visitando loja de gente jovem, gostei de coisas que comprei, pensando em
fabricar, foi um roteiro interessante.
Quando voltei, mergulhei no trabalho, meu
pai me chamou a atenção, de um lado um filho que era uma merda, de outro, um
que vivia para trabalhar, quando eu ia me casar.
Não sabia responder, quase soltei, pai eu
sou gay. Mas me faltava coragem para
isso.
Conversei muito com o Antonio, tinha visto
lojas que vendiam só camisetas, calças jeans, que eram simples, paredes
brancas, ou de cor, mesas com as roupas expostas, nada mais, sem luxo nenhum,
isso era interessante numa cidade como Paris, que tudo levava a pensar em luxo.
Resolvemos abrir uma no perto do mercado de
Madureira, para ver como se saia, usávamos uma malha nem tão boa, tampouco má,
algumas senhoras sabiam costurar calças jeans, montamos uma marca, Tshirt,
funcionou, nem eram as estampas das boutiques, tampouco estavam fora de moda, os
jeans eram bons, se vendiam bem.
O comercio sempre era o mais prejudicado
com os problemas do pais, nunca se equilibravam direito, mas como
administrávamos bem o que fazíamos, não se devia dinheiro de empréstimos, nada
disso, seguíamos em frente. Logo
abrimos no lugar de uma cadeia de boutiques que fechava, uma loja na
Tijuca. Essa vendia bem, pois as
estampas eram modernas, unissex, as calças também, nada de masculino feminino.
Era normal ver um rapaz com uma camiseta
estampada de flores, uma garota, com uma estampa que sugeria algum grupo de
rock.
As lojas tinham um sistema que escutamos um
empresário falando uma vez, os negócios dele davam certo, as roupas chegavam
iam para a frente da loja, na seguinte remessa deviam estar no meio da loja, na
semana seguinte em saldos, mesmo estando em saldo, tendo preços baratos,
vendíamos bem.
O dinheiro do caixa dois, uma parte o
Antonio aprendeu a aplicar, quando chegou a época do Over Night, então ganhamos
muito dinheiro. Desde o principio ele
era meu sócio em tudo.
Nessa época meu pai, disse que estava farto
de trabalhar. Anos atrás tinha comprado
um sitio no caminho entre Rio e Teresópolis, de lá vinham as hortaliças, bem
como legumes para o armazém, quem sabia bem era a mulher do Antonio.
Fomos lá um final de semana para conhecer,
a casa grande necessitava de reformas, depois tinham casa do administrador, e
dos empregados.
Mandamos fazer uma boa reforma na casa,
arrumar banheiro, construímos uma piscina, que era alegria do pequeno.
Agora subíamos todos os finais de
semana. Meu pai, passou a viver lá, se
interessou por cuidar da terra, seguia mandando legumes para o armazém, que ele
tinha alugado.
Nessa época fui procurado pela polícia,
estavam atrás do Manoel. Foi quando
descobrir que tinha se transformado num traficante de drogas, seus clientes
estavam ali entre seus amigos da Barra da Tijuca.
Lhes fui sincero, faz anos que não sei nada
dele, nem minha família.
Num final de semana, que estávamos no
sitio, alguém tinha entrado em casa, procurando o cofre, mas só o velho sabia,
como chegar a ele, tinham destruído a casa inteira.
Quem sabia levar o velho era a mulher do
Antonio. Ela fez uma coisa, alugou
cofres no banco, uma parte do dinheiro, fez como tinha lido num livro que
falava das mulheres judias, que sempre salvavam a família, comprou diamantes,
pedras preciosas, ia guardando tudo no banco, em nome de meu pai.
Ele acabou vendendo o edifício do
armazém. Antonio comprou um apartamento
grande na Tijuca, de um conhecido que estava apertado, mas pagou o preço justo,
nos fornecia algum material, mas também tinha tentado levar a vida ao grande,
se fudeu.
Eu comprei um apartamento no Leblon, não
muito grande, tampouco na primeira linha de praia, mas para o interior, numa
rua mais tranquila.
Assim antes de ir para a fábrica, passava
por duas lojas que tínhamos em centro comercial, na fabrica a mulher do Antonio
fazia a parte do controle do dinheiro.
Seguíamos fabricando para as cadeias de
boutiques, mas jamais copiávamos seus desenhos, o nosso lema, o que era dos
clientes, não mexíamos.
Tínhamos sim uma linha da Tshirt, que
vendíamos para pequenas lojas do interior, agora eu tinha um braço direito
nisso da moda, era um rapaz que tinha estudado moda, assinei todas as revistas
de moda francesas, americanas, de lá ele tirava ideias, mas que fossem coisas
nossas.
Então no verão faturávamos muito, pois as
lojas das praias vinham comprar.
Fazíamos inclusive com estampas dos lugares
que estavam, típicas camisas, com alguma foto da cidade.
Um dia nos sentamos, as lojas sempre
reclamavam como as outras tinham, mais mercadorias, porque não fazíamos igual.
Discutimos sobre isso, no fundo achávamos que se fizéssemos de outra
maneira, era fora do proposito que tínhamos traçado.
Nessa época tinha planejado ir a NYC, para
ver como funcionavam as boutiques, lojas de lá.
O Brasil no fundo era muito americanizado,
estudava inglês, para isso, poder me comunicar sem depender de outra pessoa.
Foi quando conheci uma noite que sai com
conhecidos, um americano, Tim, esse era psicólogo em NYC, me dei bem pela
primeira vez na cama com alguém, aparentemente não era desse de uma noite.
Quando falei que pensava ir, me disse que
tinha um amigo que era diretor de uma cadeia de lojas, só vendiam básicos.
Antes de ir embora me fez um comentário,
que me balançou, que eu parecia procurar nele, uma pessoa que eu queria. Embora talvez o único elo dele com o
Antonio, fosse saber me escutar.
O rapaz que era meu braço direito, me
avisou antes de viajar que iria para Paris, tinha uma bolsa de estudos, para
Moda, não podia perder. Eu concordei.
Quando cheguei a NYC, Tim foi me buscar,
matamos a saudade, ele tinha dois dias livres, me mostrou o que podia da
cidade, me apresentou seu amigo. Falei
com o mesmo o que estava interessado. Na
segunda-feira, me mostrou uma loja deles, de cabo a rabo, alguns conceitos já
usávamos, o da mercadoria, depois como funcionavam. O que mais gostei, foi que eram famosos
pelas camisas polos de faziam, tão em moda no Brasil.
Escolhiam uma determinada gama de cores, as
arrumavam em degrade, só havia uma diferente, essa era como que feminina,
levava bordado. Me falou de uma máquina
nova, que funcionava através de um computador.
Se colocava o desenho, a maquina fazia o mesmo, assim faziam seu
logotipo, bem como camisetas com bordados, misturavam estampas com bordados,
tinham sempre alguma coisa diferente, mas de resto só vendiam dois tipos de
calças, um jeans básico, unissex, bem como um tipo que chamavam de chino. No Rio eu só conhecia uma loja que os fazia.
Me levou a fábrica, que era nos subúrbios,
me contou que as grandes empresas começavam a fabricar tudo na china, mas que
queriam preservar a fábrica. Explicou
que dava trabalho a quase um bairro inteiro.
Vi a tal maquina, me arrisquei, comprei
duas, me disseram que iam despachar por navio, que quando chegasse, os avisasse
que mandariam um instrutor para ensinar o funcionamento.
Levei amostras para poder explicar para o
pessoal, tive que voltar antes, pois Antonio me avisou que meu pai tinha caído,
estava mal no hospital. Me despedi do
Tim.
Quando cheguei, fui direto ao
hospital. O meu querido velho, estava
nas últimas, tinha momentos que pensava que estava conversando comigo, outros
gritava com o Manoel, esse bastardo vai acabar comigo.
Morreu nos braços dos dois.
Depois do enterro, sentamos com o advogado,
para a leitura de testamento, só erámos dois, o Manoel, não estava no
testamento. Deixava sua fortuna meio a
meio, para mim e para o Antonio, dizia que não poderia ter dois filhos
melhores.
Para o Antonio e sua mulher foi um baque
forte, ele deixava recomendação que aplicassem dinheiro, para o seu neto poder
ir à universidade, neste pais nunca se sabe como será o dia de amanhã.
Na primeira oportunidade, nos reunimos os
três, havia que tocar tudo em frente.
A anos sua mulher se ocupava de todo esse
patrimônio, o que estava no banco era meu, segundo o testamento, teria que ir
com ela um dia.
Depois mostrei o que tinha comprado, falei
da máquina, é uma coisa nova no mercado.
Teria agora que resolver o que fazer com a
vaga do rapaz que me ajudava em tudo, que acabou sendo uma decepção, pois ao
conversar como resto do grupo, descobri que muitas coisas que ele apresentava
como dele, tinha sido criado por outros.
Que se ele não tivesse ido embora, iriam eles. Escolhi uma das garotas, pois esta
documentava o que fazia.
Um domingo que não subi, fui a praia, vi
uma garota saindo com uma camiseta imensa, das nossas. Pedi desculpas a parei, perguntei por que
usava uma camiseta tão grande.
Me disse, que todas suas amigas usavam,
gostavam de sair da praia com uma coisa confortável, que assim se sentiam bem,
nisso chegou as amigas, todas tinham uma camiseta grande.
Falei com o grupo de criação, o verão forte
se aproximava, queria camisetas, para fazer só um tamanho grande, com estampas
de super verão.
Nesse meio tempo, chegaram as máquinas,
avisei a fábrica, me avisaram o dia que chegava o técnico, para ensinar.
Chegou, mas nunca mais voltou, fiquei
esperando um tipo desses americanos, mas ele parecia mais brasileiro do que eu.
Era um mulato claro, muito alto, com um
sorriso de lado a lado, ficou deslumbrado por tudo.
Ia leva-lo para o hotel, me sorriu com uma
boca torta que amei desde esse momento, posso ficar em tua casa se preferes.
Resolvi ir devagar, pensei, ele irá embora,
ficarei para trás.
O levei para o hotel, ele pareceu
decepcionado, mas aceitou. De noite sai
com ele para mostrar Ipanema, ele adorou.
No dia seguinte foi para a Fábrica, a
garota que era meu braço direito foi lhe ensinando como falar os termos
técnicos em português.
Eles teriam que trabalhar diretamente do
computador, ao tecido.
Nesse meio tempo, eu iria ao sul, comentei
com ele, para ver um tipo de tecido para as camisas polos, ele disse que tinha
começado nessa divisão.
Foi junto comigo, tivemos uma primeira
noite na cama. Pensei que não ia
acontecer nada, estou apaixonado desde que te vi.
Me ajudou a fazer uma seleção de cores de
tecidos, bem como depois ensinou as costureiras a prepararem as mesmas. A fábrica dos tecidos, fazia também as
barras das mangas, bem como a gola nas cores.
Lançamos em seguida em duas lojas, arrumadas por degrade. Em uma semana não tinha nenhuma, pois as
lojas que vendiam cobravam mais caro.
Logo criamos uma parede aonde eram
arrumadas por tamanho. Quando
finalmente lançamos as camisetas bordadas, as mulheres ficavam como loucas
atrás.
Na semana oficial do verão, nas vitrines
aparecia camisetas tamanho único, para a praia, foi outro sucesso, passaríamos
ter todo o verão.
Jeff Stuart foi ficando, quando a fábrica
reclamou, ele pediu demissão, perguntou se tinha trabalho para ele na fábrica,
me contou que tinha vivido a vida inteira num orfanato, não tenho família, aqui
encontrei uma, a ti e teu irmão Antonio.
Falei com Antonio e sua mulher, eles riram,
ele fica para estar contigo, mas se quer trabalhar, será bem-vindo. Logo era o manda mais na fábrica, livrando
assim Antonio desse serviço.
Agora subia menos, um dia fui com Jeff a
quadra da Mangueira, levei um susto, vi um homem igual ao Antonio, fiquei
intrigado, ele esse final de semana não tinha subido, o mesmo estava agarrado a
uma mulata.
Me aproximei, a voz não era a mesma, foi
quando me dei conta da história dele, que tinha vindo a procura do pai, que
tinha outra família.
Quando comentei com ele, soltou, isso é uma
coisa do passado, se não tivesse me repudiado, eu não teria essa família
maravilhosa que tive, tua mãe, teu pai, a ti.
Ele sempre tinha sabido que eu era apaixonado por ele. Se preocupava por mim, mas amava sua mulher.
Achava ótimo eu ter o Jeff ao meu
lado. As empresas que atendíamos, sempre
comentavam porque nunca tínhamos problemas financeiros.
Eu explicava, que todos sabíamos
administrar bem o que tínhamos, não nos interessava expandir vender uma série
de mercadorias, que teríamos que mandar fabricar fora, o nosso era vender um
básico nada mais, fabricado por nós mesmo.
Nem nos piores momentos de crise do pais,
tínhamos problemas. Se as vendas caiam,
abaixávamos um pouco o preço, fazíamos saldos, mas nunca deixávamos de vender.
Quando finalmente resolvi ir ao banco com
minha cunhada, eu a tratava assim, levei um susto, duas caixas grandes, eram só
para mim. Uma estava cheia de dólares,
que o velho trocava sempre, sempre valiam mais que o dinheiro do Brasil. Também tinham saquinhos de diamantes de
muitos anos atrás. Pensei nesse
momento, estou milionário.
Mas fiz uma coisa, que sempre era a
preocupação do meu pai, a universidade.
Pensei muito, tínhamos muitos empregados,
que a família trabalhava ali na fábrica, num espaço ao lado, aonde existia um
estacionamento, pois o proprietário tinha demolido o edifício que caia, mas não
sabia o que fazer, o comprei, montei ali uma creche para as senhoras que tinham
filhos pequenos, bem como uma clínica, contratei médicos, enfermeiros, para
atender o pessoal, só não faziam operações complicadas.
Minha cunhada diria sempre, se fosse o tal
Manoel, que não conheci direito, teria gastado tudo.
Eu sabia que ele estava preso, mas nunca
fui atrás dele.
Montei também uma bolsa de estudos para os
filhos dos funcionários que quisessem ir à universidade, com o nome do meu
pai. Assim as pessoas que estavam ali,
sabiam que as protegíamos.
Um dia um sujeito me abordou quando
chegava, me disse que o que acontecia ali, que os empregados não queriam se
filiar a nenhum sindicato.
Eu, pergunte a eles.
Dois anos depois fiz uma coisa, nunca teria
filhos, portanto, não precisava de tanto dinheiro, resolvi que 10% das minhas
ações eram deles, no final de cada semestre, fazia-se um balanço do mesmo, 10%
dos lucros iam repartido para eles.
Eles mesmo quando alguém fazia corpo molhe chamavam a atenção, tinham
que produzir igual.
Podíamos ter aberto lojas nas outras
capitais, mas muita gente comprava de nós, para que fazer competência, se isso,
geravam mais gente, mais gastos, menos lucros. O nosso era só o Rio de Janeiro.
Fazem 15 anos que Jeff esta comigo, nunca
imaginei que isso fosse acontecer, ele não tem nada a ver com o Antonio, são
diferente em tudo, eu esperei tanto por alguém, finalmente tenho.
Vendemos o sítio, compramos uma casa perto
de Parati, grande para caber toda a família, o filho do Antonio, tem agora 4
garotos, ele é médico, somos os tios que os mimam.
Um deles, se interessa pela fábrica, lá
existe já uma terceira geração trabalhando, bem como muitos que usaram a bolsa
de estudos para alguma universidade.
Todos os anos, fazemos uma grande festa com
o pessoal da fábrica, eles adora, pois nos tratam como se fossem de suas
famílias.
Soube anos depois, que o Manoel, saiu da
prisão, mas não se emendou, logo estava dentro outra vez. Graças a deus nunca nos procurou.
Meu pai tinha me contado, que sua mãe lhe
explicou antes de se casar que tinha sido uma noite com um tipo com muita
lábia, que era um dos piores empregados de seu pai. O velho dizia sempre, quem sai aos seus não
degenera.
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