JIM TWOSEND

 

                                        

 

Mais conhecido como Jim Two, tudo por causa do seu tamanho, diziam ele valia por dois, pois tinha dois metros de altura, uma bela envergadura, entrava furioso na redação do Jornal, tinha recebido em sua casa, como ia sair na revista do próximo domingo, a reportagem que tinha escrito.

Não tinha gostado das fotos que eu tinha colocado na mesma, tinha revisado seu arquivo no jornal, para poder encaixar as fotos.

Estava em pé na frente da mesa do editor chefe, bem como diretor do Jornal, fazia sinal com o dedo, não podia imaginar o que ele estava falando, o outro só fazia sinal para ele se sentar, mas isso não era com ele.  Rasgou e jogou no lixo a reportagem.

Saiu batendo a porta, meu assistente que era mais antigo do que eu ali, disse, ele é sempre assim, ou é como ele quer, ou nada.

Ele tinha mandado para a foto de sua reportagem, amigos e companheiros de viagem, era ele no centro, de um lado minha mãe, da outra meu pai, no Vietnam.

Eu de proposito troquei, pois, depois que os tinha deixado em San Francisco, ele tinha ido pelo mundo, isso tinha magoado seu pai, já nem tanto sua mãe, que o entendia, dizia que ele era isso um urso imenso que vai pelo mundo arrastando tudo em sua volta.

Eu já o tinha visto outra vez, num restaurante vietnamita, ali perto do jornal, não era nada do outro mundo, mas podia comer.   Me lembro que fiquei deslumbrado, em ver um pouco mais a frente o homem de quem tinha escutado histórias desde minha infância.

Ele comia, balançava a cabeça, resmungava, afinal chamou o dono do restaurante, para lhe perguntar se o cozinheiro realmente era vietnamita, pois a comida era uma merda, isso tudo falando muito alto, muita gente ria, concordando com a cabeça.

Ele se levantou, jogou o dinheiro sobre a mesa, o homem foi atrás dele, dizendo que da próxima vez ia melhorar, o cozinheiro na verdade era um negro alto.

Quando voltei tempo depois, era uma senhora que cozinhava, a comida estava muito melhor, algumas coisas lembrava a comida da minha mãe.

Eu tinha escutado minha mãe me contando quando me colocava na cama, a história deles, começava com meu pai.    Jim usava um jeep que tinha roubado do exército, mandado pintar de negro, tinha um desenho em cima do capô do motor, JT, seu nome.  Assim ele escrevia os artigos, sabia agora.

Estava fazendo uma fotos, num mercado, quando se viu cercado de um grupo de homens armados, meu pai, ao contrário estava embelezado com o jeep, para sua idade era um homem pequeno como ele dizia.   Segundo ele, vivia morto de fome, estava pele e osso.

Jim veio andado de costas, lhe perguntou se sabia dirigir, em inglês, ele balançou a cabeça, que sim, na verdade era que o fazia mal, este lhe jogou as chaves, disse que ligasse o motor, de um salto, se colocou do outro lado, disse arranque.

O jeep segundo a história saiu aos saltos, depois Jim o ensinaria a dirigir direito, a partir desse dia, meu pai, era seu professor da língua, bem como seu condutor, tradutor, pau para toda obra.

Jim lhe ensinou a fazer fotografia, bem como a revelar, pois ainda não existiam as câmeras digitais.

Meu pai dizia que tinha perdido uma grande parte do encanto.

O levou ao mesmo hotel que estava, aonde tinha como uma suíte no último andar, por conta do NY Times, o gerente do hotel, tentou brecar meu pai, dizendo que se ele ia ser o motorista, tinha que dormir com os empregados.

Dizia que Jim tinha feito um escândalo desgraçado, que não permitiu de maneira nenhuma, subiu arrastando meu pai, o enfiou no banheiro, disse que tomasse um banho, conhecia alguém, isso era com ele, sempre conhecia alguém, comprou roupas para meu pai, bem como um tênis.

Quando voltou meu pai continuava embaixo do chuveiro, nunca tinha visto um, quando muito se banhava numa praça que tinha como um chafariz, na sua vila, que já não existia mais, se tomava banho no rio.   Disse que olhou o Jim, disse que era um milagre que chovesse dentro daquele lugar.

Este lhe jogou uma toalha, com o monograma do hotel, para ele se enxugar, depois o levou ao barbeiro do hotel, se sentou numa cadeira, ele adorava que lhe fizessem a barba, pois dizia que se colocava na frente do espelho, sua cabeça ia a lua.

Cortaram o cabelos do meu pai, ele escutou que a barriga dele roncava, o arrastou, isso dizia minha mãe, ele sempre arrastava as pessoas com ele.

Se sentaram numa mesa, pediu comida para os dois, estavam esfomeado, comeram sem falar durante um tempo, lhe perguntou se queria mais, mandou trazer mais um bife para meu pai, enquanto ele tirava um cigarro, fumava, o olhando comer, só disse que fizesse devagar.

Depois comeram a melhor sobremesa do lugar, meu pai contava, que a tinha comido devagar, pois nunca tinha colocado na boca uma coisa tão boa, pensava que estava no céu.

A partir desse dia, virou seu faz tudo, se Jim lhe dissesse para se atirar embaixo do jeep, com certeza o faria, dormia aos pés da cama, num colchão, pois tinha medo de cair da cama.

Depois minha mãe, contava a parte dela, eles tinha chegado a aldeia aonde ela morava, seu pai a vendia a um homem velho, tinha filhos demais, Jim quando entendeu, nessa época já falava vietnamita, para ele, sem querer remontou a época dos escravos, perguntou ao homem o que ia fazer com ela, entendeu que ele tinha um prostibulo em Saigon.

Fez uma oferta melhor ao pai da garota, assim foi aumentando o preço, fez um sinal ao meu pai para colocar o jeep em movimento.

De um salto, pegou a garota, a enfiou atrás, lhe disse que se agarrasse, jogou para o alto muito dinheiro, todo mundo avançou, ela dizia que quando viu, já estavam na estrada rumo a Saigon.

Imagina, levar essa garota para se prostituir.   Quando lhe perguntou sua idade, ela não sabia.

Ele já não morava no Hotel, o dono tinha ficado furioso, quando ele trouxe uma família que estava faminta para comer.

Que ali era um hotel de classe, ele do alto de seu tamanho, mandou o homem colocar sua classe no cu.

Alugou no alto da única loja de fotografia que tinha ali, um pequeno apartamento, assim podia usar o laboratório do mesmo, o homem um francês velho, aceitou.

Tinha uma pequena cozinha, um banheiro bom, segundo ela e meu pai, aonde se fazia a chuva, dois quartos, tinha o chão forrado de tatame.

Jim era capaz de dormir até em pé, segundo minha mãe.

Logo mandou meu pai comprar roupas para ela, uma que pelo menos pudesse ir ao mercado, ela pensou que era para dormir com ela.

Explicou que não suportava injustiça, vende-la como escrava nem pensar, não tinha idade para se prostituir.

Depois que ela tomou um banho a fez se sentar, pegou um pente imenso, ficou penteando seus cabelos largos, disse que fazia isso quando criança com sua mãe, segundo os dois ele só falava dessa mãe, se tinha família, ninguém sabia, nem se esse era seu nome verdadeiro.

Quando eu era criança, ela me fazia fazer isso, adorava, depois em pagamento me dava um beijo na cabeça, minha irmã ao contrário sempre levou os cabelos curtos.

No dia seguinte, os arrastou, foi formalmente conseguir documentos para eles.

Depois foi a embaixada americana, sabia que mais dias, menos dias, Saigon cairia, não queria estar ali para ver.

Conseguiu documentos, comprou bilhetes de avião para um voo que sairia uma semana depois, dizia ao meu pai, não quero ver a merda final, já vi demais.

Mesmo assim ele acabou ficando, por um triz, escapou num último helicóptero.

Ele tinha dado ao meu pai a direção de um conhecido dele, bem como avisado ao mesmo que recebesse seus amigos, que ele chegaria em breve.

Seu amigo era um homem poderoso em Chinatown, chefe de uma tríade, meu pai nesse momento da história interrompia dizendo que ele sempre tinha conhecidos ou amigos assim, em que ele confiava.   Prefiro confiar na palavra de um bandido, do que num político.

Quando chegou abraçou os dois, fazendo o que sempre fazia, os subia nos seu braços, minha mãe dizia que parecia uma boneca quando estava com ele.

Avisou aos dois, nada de usarem roupas do Vietnam, vivam e usem roupas daqui.

Avisou ao Jornal aonde estava, foram visitar um velho conhecido dele, que no inicio do bairro tinha uma loja de fotografia, revelou suas fotos, ajudado por meu pai.

O velho, disse que precisava de um auxiliar assim.  Acabou sendo como um avô para mim, meu pai depois levou a loja o resto da vida, nunca pagou nada a tríade, pois era como um protegido do amigo do Jim.

Talvez por culpa desse homem, segundo meu pai dizia, Jim era o repórter que era hoje, viajando pelo mundo.    Quando ele começou num jornal daqui, lhe pediram uma entrevista com o chefe de uma tríade, ele com a cara e coragem foi a Chinatown.   Ninguém queria dar entrevista a aquele americano, louco.

Esse homem, estava no cargo a pouco tempo, concordou.

Na verdade, o que fez, foi contar, uma história que os americanos tinha feito tudo para sepultar, como tinha explorado os chineses, os negros, construindo estrada de ferro.

Os chineses, foram os primeiros a formar como uma organização para combater a exploração.

Se ajudavam entre si.

Ele escreveu a reportagem, fotografou o homem, embaixo do símbolo da tríade, mas a pedido dele fez uma coisa, que sabia fazer muito bem, manipulou a fotografia, mudou a cara do homem.

Voltou a realidade, quando seu chefe parou na frente dele, ele não estava bravo contigo, mas sim porque a pouco tempo, pediu as fotos dessa época, o dono do jornal, lhe disse que não, que faziam parte do arquivo.

Sei que ele esta escrevendo um livro sobre isso.

O que mais o intrigou, como tínhamos essa foto, dos amigos dele, ele nem sabia se estavam vivos ou mortos.

Ia lhe responder, mas fiquei quieto, minha mãe, tinha morrido a quatro anos atrás, mas meu pai ainda era vivo, a um ano, tinha tido um principio de enfarte, pois o velho da tríade tinha morrido, o novo chefe queria que ele pagasse para ter a loja.

Ele disse que não, foi quando o outro o ameaçou. Lhe enfiou o revolver na boca, nisso entrou uma mulher que saiu gritando, meu velho começou a passar mal.

O jeito, o sujeito sabia da fama do meu pai, pois ele ia todas as semanas comer com o chefe antigo.

Chamou uma ambulância, pedindo desculpas, lhe disse que era novo, que tinha que se impor.

Minha irmã, trabalhava na universidade, era professora, casada com um professor também, não tinham filhos, ela não os queria, dizia que já tinha sofrido na pele, ser considerada sempre como estrangeira, quando tinha nascido lá.

Imagina a mistura dos dois, ele era irlandês, ruivo, com a pele cheia de sardas.

Tinha passado esse tempo se recuperando na casa dela, reclamava que a levava a loucura, que a comida era ruim.

Claro, minha irmã não sabia nem fazer um sanduiche.

Escutou o chefe dizendo que teria que conversar com o Jim, me deu o número de seu telefone, para marcar um encontro.   Leve todas as fotos que consiga para ele.

Depois telefonou a sua irmã, que justamente estava furiosa, que seu pai, tinha retirado a cama do quarto, colocado o colchão no chão, aonde ele gostava de dormir.

Com ela tinha que ser assim, lhe disse que o colocasse no primeiro avião para NYC, sem muitas explicações, sabia que o pai faria mil perguntas.

Diga que preciso dele.

De uma certa maneira era isso, tenho que amansar o urso.

Mais uma vez lhe veio na mente, como imaginava o Jim, esse mal sabia que tinha o mesmo nome dele, pois quando nasceu, os dois concordaram que se chamaria assim.

Sua irmã, nem tanto, tinha um nome vietnamita, que ela trocou antes de ir à universidade.

Quando ela disse que ele chegava de manhã, o colocava num voo noturno de San Francisco a NYC, lhe dei um comprimido para dormir, mas sabe como ele é.

Quando chegou no aeroporto, ele estava fresco como uma rosa, como ela costumava dizer, tinha lavado bem a cara.

Seus cabelos tão, negros, começavam a ficar brancos nas têmporas, o que lhe dava um ar diferente, sem nenhuma ruga na cara.   Ela também tinha morrido assim, apesar da doença, tinha a cara lisa.

Quando foi para o aeroporto, se lembrou a primeira vez que conversou com seus pais, o que ele queria fazer de universidade, queria estudar artes, mas não para ser pintor, sim para entender a mesma, fez ao mesmo tempo jornalismo com uma bolsa de estudos, dada pelo chefe da Tríade.

Logo ajudado por ele, foi trabalhar num dos jornais de San Francisco.

Num grande encontro de jornalistas, conheceu o que agora era o editor chefe, esse o convidou para ir para NYC.

Entendeu tempos depois, que queria alguma coisa com ele, mas era um sujeito complicado, casado com a filha do dono do jornal, com dois filhos, queria uma aventura secreta, com aquele rapaz diferente.

Viveram esse romance clandestino, mas sem querer se transformaram em amigos, era ele quem o escutava com todos seus problemas.

Atualmente vivia num apartamento que finalmente era seu.

Telefonou enquanto esperava no aeroporto para o Jim, disse que tinha as fotos que ele queria, mas marcou de comerem no restaurante vietnamita.

Ele primeiro reclamou que a comida era uma merda, lhe disse que agora quem cozinhava era a mulher do dono.

Disse a hora, mas foi categórico, não chegue atrasado, pois odeio esperar.

Viu seu pai desanimado, foi no taxi todo tempo reclamando, que como era que ele ainda não tinha carro próprio.   Ele argumento que ter um carro em NYC para que, se ele tomava o metro, descia na frente do jornal, isso bastava.

O homem do taxi, um chines, concordou, nessa cidade nunca se pode estacionar, sempre é um problema.  Para seu pai isso era uma ofensa, um chines, se intrometendo na conversa.

Entendia o que sua irmã dizia, estava virando uma pessoa complicada com a idade.

Sem querer começou a rir, se lembrando como o Jim tinha entrado na redação do jornal, com uma cara de fúria.  Mas não explicou nada.

Seu pai se meteu embaixo do chuveiro, sabia que seus banhos eram demorados, mesmo assim o apressou, pois não queria chegar tarde.

Depois o velho foi reclamando o tempo todo, de andar embaixo da terra, que desperdício, se perdia a paisagem.

Se ele não gostava nem de andar de bonde em San Francisco, nos últimos anos, tinham se mudado, de viver em Chinatown, a uma das ruas que passava o elétrico, dizia que era impossível fazer uma boa fotografia com o mesmo em movimento.

Aqui embaixo, não tem nada para se olhar, a não ser a cara das pessoas, cada uma em seu mundo particular.

Quase soltei que uma dos últimos trabalho do Jim para uma revista, era justamente isso, tinha andado de metro em muitas grandes cidade, fazendo fotografias dos passageiros.

Quando chegaram na frente do restaurante, ele começou a reclamar, deve ser uma merda, ninguém cozinhava como tua mãe, ela sim sabia fazer as coisas.

Tua irmã, nem um sanduiche sabe fazer, graças a deus não tem filhos, iam morrer de fome.

Nisso soltou uma coisa rara nele ultimamente, ia ser como quando eu era garoto, podia comer até pedras, com a fome que eu tinha.

Entraram no restaurante, Jim estava como da última vez, sentado numa mesa do fundo, perto da porta da cozinha, estava lendo alguma coisa, mas quando levantou a cabeça, viu meu pai, se levantou, como um urso, quase jogando a mesa longe.

Veio pelo corredor, gritando seu nome, velho filho da puta, porque nunca respondeste minhas cartas.

A cara de meu pai era de puro gozo, se fosse um filme desse de romance, seriam duas pessoas numa praia correndo uma para a outra.

Ele desde que tinha tido o principio de enfarte, usava um bastão, mas como dizia sua irmã, quando ninguém via andava normalmente.

Era como tinha imaginado, Jim o levantou do chão, num abraço apertado, beijando mil vezes sua cara, filho da puta, dizia um para o outro.

O restaurante inteiro tinha parado de comer, todo mundo olhava aquele homem imenso, com o outro em seus braços, finalmente me viu, colocou meu pai no chão, é esse o Jim, teu filho?

Fez a mesma coisa, abraçou, tirando-me do chão.

Quase que o envelope com as fotos, vai todo para o chão.

Garoto, coitado lhe deram meu nome, então tu és o senhor Ho, com quem vim me encontrar, te vi outro dia na redação, mas não sabia quem era.

Nos arrastou para sua mesa, sem soltar a mão do meu pai, já tinha arrumado a mesa outra vez, pois os pratos, talheres, tinham ido tudo para o chão.

Vi pela porta da cozinha que a senhora não estava ali, fui até o dono, lhe disse que se não quisesse um escândalo outra vez, agora seriam dois a reclamar.

O homem se virou sério, disse, já mandei chamar minha mulher, vivemos aqui em cima, está descendo.

Me sentei na mesa com eles, pareciam me ignorar, se virou para mim, soltou como se fosse a coisa mais normal do mundo, teu pai foi o primeiro homem que amei na minha vida, meu amigo, sabia que ele me defenderia até a morte.

Quis lhe mostrar a fotografia, ele disse que depois, quero matar a saudade de olhar o meu melhor amigo.

Os dois se olhava, de repente, falavam alguma coisa, riam, um batia nas mãos do outro, o homem que tinha chegado essa manhã de San Francisco, tinha desaparecido, estava sentado reto na cadeira, ainda não tinha largado as mãos um do outro.

O chefe veio para anotar o pedido, os dois falaram ao mesmo tempo em vietnamita, com o homem, fizeram o pedido, era como se fosse um prato, em que viam todos os manjares de lá.

Dois bastam, porque esse franguinho, come mal, olha como está magro.

Eu era alto, mas claro não chegava ao tamanho dele.

Comemos, os dois falavam sem parar em vietnamita, eu apesar de falar, estava enferrujado, ia acompanhando como podia.

Meu pai lhe contou que o velho amigo deles, o chefe da tríade tinha morrido.

Sim eu soube, mandei uma coroa de flores desde aqui.

Escrevi uma resenha na parte fúnebre, mas com seu nome verdadeiro, não o que usava na Tríade, um grande sujeito.

Perguntou por minha mãe, porque não respondeste a carta que te mandei quando ela morreu, eu estava fora do País, mas te mandei uma carta.

Era ela quem lia tuas cartas, eu nunca, me senti abandonado por ti.

Eu fui embora, pois dizia que querias ter uma família, eu sabia que ela te amava, minha vida nessa época era ir pelo mundo, não queria te arrastar de guerra em guerra.   Já estavas farto da que tinhas vivido.

Eu entendia isso, ela me garantiu que cuidaria de ti, te daria filhos.

Foi a melhor mulher do mundo, mãe como ela, nunca houve uma igual, ela foi melhor do que eu. Não queria que nossos filhos passassem o que tínhamos passado.

Sem querer interrompi, sabes, as histórias que me contava ao colocar na cama, eram sobre ti, o Jim Urso, como te chamava, eram melhores, que os contos infantis.

Minha irmã, já queria coisas que falassem em romance, queria a toda custa ser uma americana a mais, é assim até hoje.

Meu pai soltou, o coitado do marido, é quem cozinha, aprendeu a fazer comida vietnamita com tua mãe, mas ela come reclamando, que prefere uma hamburger.

Não tem filhos?

Diz que não quer que sofram o que sofremos na escola, bullying, por sermos diferentes.

Filhos da puta dos americanos, sempre com esse problema, se esquecem que eles tampouco são a origem desse pais.

Sem largar a mão que segurava a do meu pai, segurou a minha, então foste tu que montaste a reportagem, com essas fotos.

Sim.

Merda, devia ter imaginado, falou com meu pai, é um artigo que escrevi em cima do livro que estou fazendo, falando dos amigos, companheiros, que fiz durante esses anos todos indo pelo mundo, a foto de inicio sou eu no meio, vocês dois um de cada lado.

Eu pareço um urso, como ela dizia no meio dos dois, essa foto precisa de um retoque como de antigamente.

Eu lhe disse que se fosse agora, tiraria uma foto dos dois, para colocar.

Seria melhor, a maioria dos homens que me acompanharam, seja conduzindo um carro, ou mesmo traduzindo para mim, a maioria morreu.   Salvo um que é Kurdo, vive com a família em Paris, seu filho mais velho também se chama Jim.

Comemos, ele de vez em quando parava, olhava meu pai, para ver se ele comia direito, quando acabamos, ele chamou o dono, que se aproximou, esperando uma bronca.

Desta vez a comida está melhor.  Queria pagar, mas se surpreendeu pois eu tinha falado com o homem quem ele era.  Portanto não queria nos cobrar, ele soltou uma gargalhada que era um estrondo, coloque na conta do jornal.   Deu um cartão, isso vai direto para o jornal, filhos da puta é o que são.

Sempre reclamam de meus gastos, virou-se para mim, chame o filho da puta do diretor, diga que agora iremos a minha casa olhar essas fotos.

Ninguém sabia direito aonde ele morava, ia tomar a direção do metro, ele disse que nada disso, nos metemos num taxi grande, deu a direção, era relativamente perto da minha casa.

Antes de subirmos, puxou meu pai pela mão, disse venha.   Primeiro lhe mostrou um Dodge velho, pintado de preto, faltas tu dirigindo, depois, o que estava atrás, estava coberto com um plástico, puxou o mesmo, era um velho jeep, riu muito, soltou que o tinha roubado, uns soldados estavam bêbados, deitados em cima do mesmo, tirei uma foto, os deitei no chão, levei o jeep, mandei pintar de preto, com o que usávamos, lembra, mostrou as letras no capô, claro roubei as placas de outro, assim ninguém me enche o saco.

Falava tudo isso, com os braços em cima de meu pai.

Quando entramos no apartamento, fez uma coisa que eu não esperava, entraram os dois, ele fechou a porta, espere um minuto, entendi, queria beijar meu pai.

Empurrei a porta, não vou me escandalizar por isso, minha mãe me contou como viviam os dois quando os conheceu, que meu pai, dormia, fazia sexo contigo.

Que eras um mariquita.

Ficaram os dois rindo, ela nunca perdeu seu sentido de humor.

A primeira vez que me contou como ele a tinha resgatado, disse que imaginava aquele homem imenso em cima dela, a iria matar.

O apartamento era o retrato vivo desse homem, paredes brancas, com algumas lembranças de aonde ele tinha andado, uma parte da sala, era uma bancada grande, com computadores, em cima uma coleção de câmeras fotográficas, todas as que usei na vida.

Mostrou a primeira da fila, lembra-se dela. Tu a usastes muitas vezes.

Meu pai parecia outra pessoa, o sorriso estava em sua cara, estava feliz da vida.

Quando me olhava, era como me agradecesse.

Num determinado momento soltou, já posso morrer em paz. Jim lhe deu um tapa nas costas, quem vai morrer, ainda temos muito que fazer, por exemplo, cuidar do meu xará.

Depois mostrou a casa, dois quartos, simples, todos os dois só tinha tatame no chão, sigo dormindo da mesma maneira, meu velho.

Uma cozinha mínima, nunca aprendi a cozinhar, como qualquer coisa como sempre.

Disse rindo se tivesse que escrever sobre a melhor comida que tinha comido, não poderia, dizer, ia depender da fome que tinha.

Depois nos arrastou para fora, ele vivia no último andar do edifico, uma parte era uma varanda fechada, a outra estava aberta, não tinha nada.

Essa casa, é tudo que eu tenho, a comprei quando levei um tiro no quadril, fiquei um bom tempo sem poder sair de viagem.  Foi um suplício, pois não sei ficar quieto, verdade, olhou meu pai.

Sim é verdade, tens razão te culpei de ires embora, mas eu queria uma casa, uma família, isso sabia que não era possível contigo, ao mesmo tempo, queria ir contigo pelo mundo.

Fiquei todos esses anos, trabalhando na loja de fotografias, primeiro com o velho, depois ele me deixou de herança, foi o avô dos meus filhos.

Me deu a minha primeira câmera fotográfica, lhe disse eu, me obrigou a aprender primeiro na analógica, como fazer tudo, só depois me deu uma digital, que apareciam naquele momento.

Se virou para mim, faça uma foto dos dois, essa será a portada da reportagem.

Depois escreverei outra sobre esse encontro.

Ao mesmo tempo, não parava de falar, porque eu estava fechado numa redação, se não tinha vontade de ir pelo mundo.

Fiz a foto dos dois, de mãos dadas, me disse que para que saibam que sempre amei teu pai.

Depois o levantou nos seus braços, lhe deu um beijo na boca, ao mesmo tempo, meu pai, passava a mão no rosto dele.

Fiz uma foto com meu celular, ia mandar para minha irmã, claro ela ia ficar escandalizada.

Agora vá embora, amanhã eu apareço na redação, teu pai fica aqui comigo, temos muita coisa que falar.

Na hora fiquei ofendido, se eu os tinha juntado, mas ao descer no elevador, comecei a rir, sem querer tinha bancado o cupido.

Em casa, mandei a foto para minha irmã, que chamou escandalizada, sempre era assim, tudo a escandalizava.

Ela nem se lembrava mais das histórias do Jim.  Fiz uma foto dos dois, vai sair na revista no domingo, vê se compra, o artigo é interessante, pois ele começa falando justamente dos nossos pais.

Em seguida passou para o meu cunhado, sempre era assim odiava colocar o celular em viva voz, eu que lhe contasse depois outra vez para ele.

Sem querer o fato de estarem juntos, a culpa era minha, tinha sido eu que os tinha apresentado.

Ele se matou de rir, com a história, vou ter que mostrar meu sogro beijando outro homem na boca na universidade.    Escutei a voz da minha irmã, dizendo que ele não se atrevesse.

Me disse uma coisa, reserve um hotel, no final de semana vamos para aí.   Desliguei sabendo que começariam a discutir, mas que ele que era ponderado a convenceria, sempre fazia isso.

O faria no dia seguinte.

Meu pai tinha mais consideração com ele, que com minha irmã, pois ela sempre tinha sido complicada, na adolescência, minha mãe perdia a calma com ela, dizia que a ia mandar para Saigon, para ela aprender.

Mas por incrível que pareça, ela só falava vietnamita em casa, na rua jamais, hoje em dia ao contrário, era professora, bem como editora de jovens descendente de vietnamita, que apareciam nas suas aulas.

Meu pai chamou, se no dia seguinte de manhã, podia deixar na casa do Jim, sabia que eu me levantava cedo, sua maleta, precisava trocar de roupa.

Escutei a voz do Jim, dizendo por que agora está nu como veio ao mundo.

Teria que falar com o Jim, que não falasse estas coisas na frente da minha irmã, ela nunca tinha aceitado meus romances, nem quando tinha vindo para NYC, por causa do meu chefe.

Me dizia que parecia uma puta.

Mas na verdade, na época estava loucamente apaixonado por ele, aceitei tudo, era o outro em sua vida, até claro que me cansei, mas aí já tinha nome na praça.

Acho que apesar de todos os convites que tive para ir para outra redação, não tinha ido, pois sabia que o Jim trabalhava para eles.

Não se falava muito dele, os outros jornalistas tinham um certo medo de falarem dele, era o querido do dono do Jornal.

Este o tinha descoberto em Chicago, o levado para NYC, nessa época começava a guerra do Vietnam, o jornalista que estava lá morreu numa emboscada, ele se arriscou a mandar o Jim, que fazia sua primeira viagem para fora dos Estados Unidos.

Telefonei para o Peter Summer, o diretor, que perguntou aonde eu estava, lhe disse que em casa, que se preparasse, que no dia seguinte o Jim iria à redação.

Ficou nervoso em seguida, o que aconteceu?

Brincado disse que ele tinha ficado ofendido comigo, tinha uma foto que eu tinha feito no celular, não se via a cara do meu pai, de costa parecia comigo.

Isso aconteceu, mandei a foto.

Meia hora depois estava na porta do meu apartamento, furioso, como eu me atrevia a fazer isso, se eu sabia, que ele me amava.

Queria saber aonde estava o Jim?

Na sua casa, ele que aguardasse até o dia seguinte para saber.

Queria fazer sexo, mas a muito tinha perdido total interesse por ele.

O mandei para casa, com sua mulher da alta sociedade, com seus filho.

Foi embora reclamando.

Fiquei quieto em minha casa, me lembrando, quando me descobri gay, contei a minha mãe, que estava apaixonado por um companheiro, pior, ele quando estava com seu grupo, tentava me fazer bullying, mas eu tinha estado praticado Karate, boxe, um dia o joguei no chão, fui para cima dele, os amigos desapareceram, ele esperando que o pegasse, fiquei olhando nos seu olhos, aí tentou me beijar, um amigo dele viu.

No dia seguinte, já não fazia parte do grupo, bem como sofria bullying, fui o único que ficou ao seu lado, mas claro que não deu certo, ele era filho de um coronel, se confundiu, acabou entrando para o exército, embora tivesse tudo para conseguir uma bolsa de estudos para a universidade, só o faria anos depois, usando uma prótese na perna, que tinha perdido.

Ficamos sim amigos, lhe entusiasmava que eu não tivesse me rendido, que seguia em frente com meus sonhos.

Era o único que sabia da história do Jim na minha família, telefonei para ele, sabia que dormia tarde, tinha problemas para dormir, começamos a conversar, ele riu muito da história, quem diria finalmente o mito, bem como a história sai a luz.

Zack era o único a quem eu contava tudo, as aventuras de uma noite, a dificuldade de encontrar alguém, as dúvidas que me assaltavam de vez em quando, se eu não tinha me estacionado em minhas ambições de ir pelo mundo, escrevendo.

Ele tinha o mesmo problema, pois quando chegava em casa com alguma pessoa, tirava a roupa, viam que não tinha uma perna, o corpo cheio de cicatrizes, desistiam.

Ele tinha herdado só uma coisa de seu pai, uma cabana na praia, aonde íamos os dois, um lugar muito reservado, lá ele tirava a perna postiça, andava de muletas.

Conversamos, até que me bateu um sono profundo, me despedi, combinamos de jantar no dia seguinte, assim ele conheceria o Jim, meu pai ele conhecia.

Quando ele voltou sem as pernas fui o único amigo que apareceu, ia visita-lo todos os dias, dormia as vezes no hospital, se ele tinha pesadelos, eu estava ali, segurando sua mão, o interessante que com tudo isso, nunca mais tentamos nos aproximar sexualmente.

Dormi pesado, só despertei, pois tinha colocado o despertador para mais cedo, tinha que levar a bagagem de meu pai a casa do Jim.

Toquei a campainha, ele abriu com uma toalha presa nos quadris, disse que meu pai estava tomando banho, se eu queria entrar.

Me desculpei, disse que chegava antes dos outros no trabalho, para ver as fotos que tivessem chegado durante a noite.

Lhe dei as fotos que tinha trazido no dia anterior, pois as tinha levado comigo.

Vou dar uma olhada, tinha um sorriso estampado na cara, o único comentário foi, ele continua como sempre.

Fui embora, comprei um café bem grande e carregado, como gostava, além de um croissant, uma mania que tinha adquirido.

Por incrível que pareça, Peter, chegou cedo, foi direto a minha mesa, queria saber de tudo, eu disse que estava trabalhando, tinham chegado muitas fotos durante a noite, logo Jim estaria ali, eu tinha que ter o trabalho despejado.

Fui juntando as fotos, aos textos que tinham chegado, para ver o que merecia a publicação, bem como primeira página, tinha que entregar tudo mastigado na reunião mais tarde.

Estava no meu último texto, de um jornalista amigo do Peter, um completo idiota, comecei a rir sem querer, pois o mesmo tinha mandado uma foto que não correspondia ao texto, cheguei a ler o mesmo outra vez, esse sempre fazia isso, reclamava depois que nunca saia em primeira página.   Dizia que eu tinha mania com ele, pois tinha me candidatado a esse posto, mas Peter claro me queria ali, na época ainda havia algo entre nós.

Nisso entrou meu pai com o Jim, vieram diretamente a minha mesa, meu pai tinha um sorriso na cara de fazer gosto, obrigado meu filho, foi o que disse.

Viu a quantidade de papeis na minha frente, já preparaste tudo isso.

Sim, vi as fotos que chegaram à noite, já as juntei aos textos, menos a desse idiota, que sempre manda uma foto errada.

Jim meteu a mão no texto e na foto, é igual ao pai dele, um inútil, só tinha uma coisa, era bonito, abaixou a voz, foi amante do Peter.

O pai do dito cujo, as vezes vinha buscar o Peter para almoçar, sentia que ele tentava escapar.

As vezes tinha pena do Peter, era um excelente profissional, nunca entendi por que se casou com a filha do proprietário, talvez por insegurança.

Embora pelo que soubesse, ela tinha vida própria na alta sociedade de NY, vivia como um beijar flor de festa em festa, mas sempre sozinha.

Vi que Peter vinha até nós.

Quando viu meu pai, entendeu o da foto, mas claro não sabia que o mesmo era meu pai.

Se apresentou, meu pai disse que já lhe conhecia de nome, sou o pai do Jim Ho, disse como para diferenciar o Jim.

Só então se tocou que os dois estavam de mãos dadas.

Venham até a sala de reunião, me chamou para ir com as mãos.   Jim hoje estava cordial, falava com as secretárias, com o pessoal.

Quando nos sentamos, ele primeiro colocou duas fotos essas abrirão a reportagem, uma era a que eu já tinha escolhido, a outra era eles dois na sua casa.

O reencontro de um velho amigo, que me ajudou, me salvou muitas vezes no meu primeiro trabalho, no Vietnam.

A cara do Peter era ótima, pois normalmente ele falava mais alto, brigava, o menino Jim, escolheu bem as fotos para ilustrar a reportagem, fotos que o jornal se negou a me dar uma cópia para colocar no meu futuro livro, mas agora é tarde, tirei uma cópia de todas, já não preciso da benevolência do jornal.

Sem que ninguém esperasse, porque esse menino, está preso numa mesa, é o idiota do filho daquele amante teu, está num dos melhores lugares do mundo.   Além de que, cá entre nós o sujeito é um perfeito idiota, não tinha visto que ele tinha o texto nas mãos.

Foi corrigindo o mesmo, o mesmo deve estar fechado num hotel cinco estrelas, fudendo dia e noite, por conta do jornal.

Essa reportagem é uma merda.

O que é uma merda, perguntava o proprietário, que foi abraçando o Jim, ele apresentou meu pai, contou da história dos dois, sem falar em relacionamento.

O filho dele trabalha aqui com editor de imagens, claro merecia estar no mundo fazendo reportagens, mas teu genro como sempre, gosta de controlar tudo.

Estou molesto, pois pedi uma fotos antigas, para ilustrar meu novo livro, sobre as pessoas que conheci ao largo da minha carreira, me disse que o jornal se negava a fazer isso.

A cara do homem, saiu um sorriso amargo.

Quem vai editar seu livro?

Estou negociando ainda, pois ele tampouco se interessou sobre o assunto.

O tom de voz com que falou com o Peter era ótimo.

Como é que eu não sabia de nada disso, colocou a mão no ombro do Jim, esse rapaz, foi meu primeiro jornalista a ir pelo mundo, nunca pude dizer nada de seu trabalho, pois sempre foram excelente.

Claro que vamos publicar o livro, nem que eu tenha que voltar a trabalhar aqui, sorriu para meu pai dizendo, não tenho nada que fazer, a não ser aparecer de vez em quando, para arrumar a merda alheia.

O senhor é fotografo também?

Me chame de Ji Ho.     Sim aprendi com o Jim, estivemos juntos no Vietnam.

Ele bateu com a mão na testa, claro me lembro das fotos de vocês, algumas Jim dizia que eram tuas, sei da história de que ele mandou vocês, para cá, quando viu que Saigon ia cair, procurei tratar de arrumar papeis para ti e tua mulher.

Como vai ela.

Morreu a algum tempo atrás.

Virou-se para o Peter, por que nunca sei dessas coisas?

Então quer dizer que eres filho desses dois que se aventuraram a vir para cá. Eu tenho um texto com fotos que teu pai fez, no avião vindo de Saigon, Jim lhe disse que fizesse, ele entrevistou as pessoas, bem como fez fotos, o que esperavam nos Estados Unidos, se era o sonho americano.

Agora segurava meu pai pelo braço, pena que ficaste em San Francisco, escrevias muito bem, imagino agora uma reportagem, o que aconteceu com essa gente, seria interessante, verdade Jim.

Ele ignorava totalmente o Peter, os dois podiam fazer isso, como vocês queriam, autorizo imediatamente dinheiro, para isso, saiu arrastando os dois, com ele, avisou a uma secretária, que a queria na sala dele, era uma das antigas, que estava ali, talvez esperando a aposentadoria.

Da porta de sua sala, fez sinal para que eu fosse também.

Peter estava uma fúria, me culpou de o ter metido em camisa de onze varas.

Eu agora sabia o porquê, claro não ias ficar mal com teu antigo amante, toma cuidado, um dia isso vai estourar na tua cara.

O melhor foi ao entrar, ele mandou que eu fechasse a porta, virou-se para o Jim, quando vais aceitar a minha proposta de vir cuidar junto comigo dessa merda toda.

Sabia que ele sempre se referia a empresa assim.

Pensei que depois do teu problema, ias ficar quieto, mas vejo que isso é impossível.

Mas seria o melhor, posso criar um cargo acima do Peter, virou-se para meu pai, dizendo, está aqui só porque é casado com a louca da minha filha, tem duas crianças, ou melhor idiotas, que só fazem merdas, pensando que tudo é eterno.

O linguajar dele era igual ao do Jim.   Esse caiu na gargalhada, não me diga que imaginas os colocar sobre minhas ordens para que eu aplique corretivos neles.

Boa ideia, porque os dois não respeitam seus pais de maneira nenhuma.

Uma vez quando eram garotos, faltaram respeito com minha finada esposa, dei um tabefe na cara de cada um deles, minha filha como sempre ficou histérica.

Eu devia ter seguido teu conselho Jim, um filho em cada esquina, oportunidades não faltaram, a senhora que estava ali ao lado, ria.

Bom não se preocupe, ela conhece melhor minha vida, que minha própria família.

Ama esse jornal, tanto quanto eu.

Mas me conte a respeito dessa reportagem, Jim fez um sinal para mim.

O texto do Jim, chegou sem nenhuma fotografia, fui rebuscar nos arquivos analógicos, está tudo fora de lugar, uma loucura, mas encontrei, as fotos que ele menciona durante a reportagem, os que lhe ajudaram na Africa, na Arabia, na China, em sua volta ao Vietnam, essa reportagem tinha ganho um Pulitzer, o que ele tinha visto durante a guerra, com como vivia o pais hoje em dia.

Ele tinha a mania de fazer uma coisa, atrás da foto, escrevia o nome de quem acompanhava, as pessoas das mesma, assim fui seguindo o rastro.

Bom trabalho Jim Ho, vejo que tens um padrinho forte.

Não ele não está aqui por isso, o Peter não sabia que eu sabia de sua existência, na verdade me conheceu ontem, me fez sim me reencontrar com meu grande amigo.

Falaste sério a respeito dessa reportagem, do ontem e aonde estão essas pessoas agora, isso daria quase um livro.

Olhou meu pai, nos olhos, topas fazer isso comigo, saímos pelo pais, buscando essa gente, preciso de aventura você sabe, mas só o faria se fosse contigo.

Nesse momento o chefão notou que os dois estavam de mãos dadas.

Riu muito, se levantou se aproximou dos dois, eu sempre desconfiei de ti, seu grande marica, disse abraçando o Jim, lhe deu um beijo estalado na cara, o mesmo fez com meu pai.

Tens mais filhos, lhe perguntou.

Sim uma filha, é professora na universidade de San Francisco, também é editora de livros de jovens descendente dos que vieram do Vietnam, que tentam escrever.

Uau, eu teria orgulho de dois filhos assim, ao contrário só tenho essa filha, que só pensa em que roupa vai colocar na festa dessa noite.

Sou honesto me mudei de casa, não suporto essa família.

Se levantou abriu um armário, tirou uma garrafa de Whisky, é cedo ou vamos brindar por isso.

Um café ira melhor, respondeu o Jim, sabes que não bebo.

Até nisso ele é um gay de muito cuidado Ji Ho, nunca bebe em serviço, como um policial.

O conheci em Chicago, trabalhava num jornal de merda de lá, mas quando vi como escrevia, bem como suas fotos, o arrastei para cá.

Sabem de tua vida dessa época Jim?

Fecha essa boca, velha matraca, um dia contarei tudo num livro, aliás vou pedir ajuda ao Jim Ho para fazer isso.

Uau, vai ser um escândalo, vais contar todas tuas aventuras?

Não preciso, o único homem que amei nesses anos todos está aqui, fui um idiota, já disse para ele ontem, o devia ter arrastado comigo, mas ele, queria uma família, uma casa que nunca tinha tido.

Falar nisso, sabias que o nosso amigo, disse o nome real do chefe da tríade, morreu?

Esse idiota, sinalizou a direção da sala do Peter, nunca me informa direito das coisas, sabia que vinhas hoje, porque ela, sinalizou a senhora, me avisou, o viu falando com teu filho Jim Ho.

Disse para ela reservar um restaurante ali perto, aonde ele gostava de conversar, ali ninguém me escuta.

Ia escapar, disse que ia revisar o encaixe das fotos, com o texto do Jim.

Não se preocupe, eu já fiz isso, não vais escapar.

O que fazem esse final de semana, perguntou Hugh Robinson?

Tenho livre minha casa na praia, sem nenhuma festa, nem de minha filha, tampouco dos garotos.

Eu pedi desculpas, mas ia fazer uma surpresa ao meu pai, meu cunhado me disse que chegam na sexta-feira de manhã.

Não seja por isso, assim seremos mais.

Meu pai me olhou, lhe disse que depois contava.

Jim se matava de rir, eres digno do nome, gosta de fazer confusão.

Lhe disse que ia gostar do meu cunhado, pois era uma pessoa extremo oposto da minha irmã, ele é professor de literatura, tem dois livros publicados.

É vermelho, como diz meu pai, tem os cabelos vermelhos, a cara e o corpo cheio de sardas vermelhas, uma figura, minha mãe quando o conheceu disse que parecia um palito de fosforo, muito branco, com a ponta vermelha.

Fico sempre imaginando como seriam os filhos dos dois, soltou meu pai, mas ela se nega a me dar netos.

Olhei o relógio, telefonei para o meu cunhado, dizendo Diego, nunca me acostumaria, ele era filho de uma mexicana, muito branca e loira, com um irlandês, tinha herdado os cabelos dela.,

Lhe disse que tínhamos o convite do dono do jornal para o final de semana na praia, que trouxesse roupa de banho.

Brincando lhe perguntei como tinha sido o embate na noite anterior, riu dizendo um a zero, sabes que sempre ganho.   Lhe passei o celular ao meu pai, ele disse ao mesmo, não podes voltar, mandei colocar um cartaz em Chinatown, você beijando outro homem.

Meu pai adorava o humor dele, riu muito contou para o Jim.

Na verdade Chinatown, não vai ter ver muito, não penso em te largar.

Ficamos na sala de reunião, analisei com ele todo o texto, bem como o encaixe das fotos, de repente ele parou com o lápis vermelho para cima.

Acho que a ideia do velho Hugh, genial, nunca se faz isso, o pais, as vezes trás refugiados de aonde provocam guerras, mas depois é como se fossem engolidos pelo mundo.

Talvez tua irmã que lida com esses jovens possam nos ajudar, o que acha Jim Ho.

Como sempre essa cabeça é uma máquina, foi quando me dei conta, que o velho estava mais erguido, não levava a bengala com que tinha chegado, até tinha cor na cara, se via que estava feliz.

Fomos almoçar quando a secretária veio dizer que ele já estava livre.

Fazia anos que não o via tão contente, mais um pouco dá um pé na bunda do genro.

Uma vez tinha falado com o Peter, se ele não tinha medo de que o seu sogro descobrisse?

Tanto como ele sabe das aventuras da filha, ou você acha que não, meu filho pequeno tenho certeza de que não é meu, isso é um às na manga.

Ele reclamava dos filhos, mas tampouco se interessava por eles.

Desci pensando nisso no elevador, quando chegamos embaixo o chefe já estava ali.

Não vi sinal do Peter, ia perguntar, ele soltou sem mais, me livrei desse incompetente.

O mandei pegar um avião, ir até aonde está esse jornalista o colocar no olho da rua, ele pensa que não sei que teve uma aventura com o pai do mesmo. Outro incompetente.

Quando o coloquei na rua, foi ele que arrumou para este trabalhar num jornal em Washington.

Andamos um quarteirão, era um restaurante de homens de negócios, o maitre, veio pessoalmente acompanhar o senhor Hugh, puxando o saco dele, até um reservado, aqui estaremos à vontade, sem ninguém para nos espionar.

Riu muito, quando eu pedi água com gás, estava morto de sede.

Começamos a conversar, Jim disse que talvez fosse interessante, é claro se ela quisesse, ter minha irmã com consultora, pois ela lidava com jovens descendentes de vietnamitas, que escreviam, seria interessante.

Bom isso falamos com ela em East Hampton, essa casa construiu meu pai, quando se aposentou, fica meio isolada, minha filha reclama, pois os amigos não podem vir com seus iates.

Ria batendo as mãos nos joelhos, acho disse piscando o olho para mim que talvez devêssemos ir para Fire Island.

Eu entendi, mas vi que meu pai não, quando Jim falou baixinho para ele, ficou vermelho, não estava acostumado a isso.

Perdão, ele era sempre franco quando falava, sempre vivi em San Francisco, mas nunca mais tive nenhum relacionamento, o único homem que amei foi o Jim.

Se viu contando sua história de como tinha conhecido, numa rua, ele com as roupas andrajosas, quando Jim atirou as chaves para ele conduzir o Jeep.

Devias escrever sobre isso Ji Ho, até hoje quando leio o que escreveste no voo para cá, me emociono.

Podias ter-se sentado simplesmente numa poltrona, ignorar o resto do pessoal, mas de uma maneira sutil, conversaste com cada um, para saber de seus anseios, seus medos, sonhos.

Minha preocupação agora era como ia reagir minha irmã, mas meu cunhado tinha resolvido a questão, estava era curiosa para conhecer o Jim.

Quando o viu, começou a rir, eu achava que minha mãe, exagerava, mas tinha razão, tens o tamanho de um urso.

Eles ficaram na minha casa, pois no dia seguinte iriamos para a casa do Hugh, ante me chamou a sua sala, para uma conversa, Peter tinha ido resolver o problema que ele mesmo tinha criado, pelo visto, segundo o velho, o rapaz estava hospedado num hotel cinco estrelas, cheio de mordomias, sem sair do mesmo para fazer seu trabalho, por isso escrevia tantas besteiras.

Hugh, foi claro comigo, acho que é o momento de caíres fora daqui, Peter nunca vai deixar que suba dentro da empresa, tem medo, eres melhor do que ele.

Portanto minha sugestão, é, vais para San Francisco, por um tempo, conheces bem a cidade, será nosso correspondente lá, até que eu arrume outro lugar para ti.

Não quero te mandar para nenhuma guerra, vi teu trabalho de antes, trabalhas muito bem com política, pode ser que o melhor posto, seja na comunidade Europeia, pois nosso correspondente lá está a muitos anos, acomodado.

Mas o que quero, é que a cada problema que surja num estado membro, te movas para ver o que acontece, escrever sobre o assunto.

Mas o Peter vai criar problemas.

Vai nada, tenho tantos trapos sujos dele, que nem imagina, sei inclusive ele te trouxe, pois tinha uma aventura contigo, mas foste esperto, caíste fora do mesmo.

Não tocaremos no assunto, na frente de tua família, apenas diremos que estando em San Francisco, podes coordenar o que teu pai estará escrevendo.

No café da manhã do outro dia, se arrumaram para sair, meu pai e Jim iriam no carro do Hugh, na última hora convidei o Zack, pois o vi um pouco deprimido.

Fomos no Dodge do Jim, o carro funcionava de maravilha, fomos conversando, mais ou menos comentei com minha irmã a respeito do projeto que Hugh tinha oferecido ao nosso pai.

Nem sabia que ele tinha escrito um artigo a respeito.

Claro, não tínhamos nascido ainda.   Tinha rebuscado no arquivo, encontrei, tirei cópias caso fosse necessário.

Ela mergulhou num grande silencio, isso eu conhecia, era assim quando estudava ou lia algo interessante, não suportava ser interrompida.

Me surpreendi que lesse em voz alta, para o Diego, alguma frase que lhe chamava a atenção.

Nem sabia que nosso pai tinha essa faceta.   As fotos na cópia, não eram boas, teria que escavar no arquivo para encontrar as originais, ou talvez ele mesmo tivesse, pois sabia que lá em casa, ele tinha um quarto que guardava tudo.

Tinha comentado com o Zack que iria passar um tempo em San Francisco, ele pareceu não gostar muito.  

Só verbalizou que ficaria sem a proximidade de seu amigo.

Me comentou que tinha ficado arrasado, tinha conhecido um homem, numa palestra que estava dando, o mesmo o convidou para jantar, se insinuou, ele prevendo algum problema, pois era desse que cultuam o corpo, comentou que tinha um problema.

Quando chegou na casa do outro, tinha entendido que ele gostava de sado masoquismo, tinha um quarto cheio de aparelhos.

Fiquei literalmente horrorizado, pior o sujeito é um advogado famoso, descobri quando fui embora, que o mesmo inclusive é casado.

Há louco para tudo, lhe disse.

Tinha dormido lá em casa, dei meu quarto para minha irmã, nos dormimos no outro aonde tinha um sofá cama.

De madrugada, ele começou a se debater num pesadelo, segurei sua mão como sempre fazia, lhe disse baixinho ao ouvido, respire fundo.

Ele pareceu se acalmar, me levantei para tomar água, meu cunhado estava sentado na sala, tinha levado a poltrona para perto da janela, estava olhando o amanhecer.

Nesse momento o vi um pouco triste, me disse que estava pensando baixinho, na hora não entendi isso.

Sorriu, quero dizer que estou deixando meu pensamento voar.   Adorei ver teu pai, com o Jim, fazem um dupla impressionante, o mais interessante é como Jim o olha, com adoração.

Lhe contei como tinha sido o encontro dos dois no restaurante.

Todo mundo parou de comer, aquele homem imenso, levantando o outro do chão, como se fosse uma pluma, o beijando na cara toda.

Trabalhei a parte do texto que ele fala do meu pai, da minha mãe, como os dois a resgataram de ser vendida, ele nesse ponto, é conhecido por agir por impulso.

Estive buscando seus primeiros trabalhos, já era da mesma maneira.

Tem um que é de antes dele ir para o Vietnam, imagina um rapaz como ele, entrevistando uma gang do Bronx, ao mesmo tempo entrevistando os policiais da zona.

Escutou a reclamação de ambos os lados, argumentou sobre isso, colocava perguntas importantes no meio, fazia com que respondessem.

Escutei a gravação da mesma, daquelas de antigo cassete, é impressionante como ele sendo jovem se impõe.

Só um dos policiais era originário dali, inclusive tinha um irmão numa das bandas.

Ele em termos de cabeça, já era muito maduro.

Agora sei com certeza que o encontro dos dois em Saigon, foi real, a história que ele jogou as chaves do jeep, para um rapaz, que não conhecia, mas que estava ali, para lhe ajudar.

Entendo que meu pai se apaixonasse, pelo que Jim me contou, pois meu pai, jamais fala nisso, alguma coisa dizia minha mãe, que ele vivia nas rua, comendo o que encontrava, fazendo qualquer trabalho para ganhar uns trocados, que suas roupas eram trapos.

Tinha escapado de um traficante de escravos, evidentemente ele devia ser como ela de uma família grande, que vendo os mais fracos, para se livrarem de mais uma boca para se alimentar.

Era o caso dela também, hoje quando sabemos disso, ficamos escandalizados, porque não sofremos na carne nada disso, já encontramos um caminho feito, para irmos em frente.

É verdade, minha mãe, foi trazida do México, para trabalhar na casa de uns parentes, embora não fosse a típica mexicana, a queriam como empregada, mas tinham lhe prometido estudos, tudo isso ela conseguiu por conta própria, estudando de noite.

Quando conseguiu um emprego descente, foi considerada como ingrata, logo conheceu meu pai, que também vinha de uma família complicada, uma parte metida na máfia Irlandesa de NYC, enfim, duas pessoas que se amaram toda a vida.

Só me tiveram a mim, pois sabiam que não poderiam realizar o sonho deles, de que um filho fosse a universidade.    Tinham estudado os dois com dificuldades, mas lá em casa, sempre tinha livros, da biblioteca municipal, foi como aprendi a ler muito cedo, talvez por ter visto em algum filme, eles faziam uma coisa, me colocavam na cama, liam algum conto.  Os dois depois me diriam que não tiveram isso na sua infância.

Então sempre sonhei em ter filhos, mas tua irmã nem pensar, a pouco tempo um amigo adotou um menino como eu, com os cabelos vermelhos, estava num orfanato, vou a casa deles, para brincar com o garoto.

Então se deram conta que sua irmã estava ali em pé escutando, apoiada no marco da porta.

Não disse nada, os deixou sozinho, foi tomar banho, para agilizar as coisas, depois despertou o Zack, sua irmã lhe perguntou se tinha alguma coisa com ele.

Disse que não, que era seu melhor amigo.

Nunca tive nenhum soltou ela, agora me entendo melhor, trabalhando com esses jovens, todos são americanos, ao mesmo tempo não, nunca deixam que se esqueçam que são asiáticos.

Um deles, é filho de um coronel americano, com uma chinesa, de um lado a família dela nunca o aceitou, a dele tampouco, foi criado basicamente sem amigos, sofrendo bullying na escola, foi se fechando, seu único escape, foi ler e escrever, seus textos são muito fortes, pois abusaram dele várias vezes.

As vezes me assusto com seu linguajar, pois fala as coisas como são, cruas.

Eu entendo, você aprendeu a se defender, mas nas escolas femininas, a coisa vai pela crueldade de algumas, que se acham as melhores, famílias ricas, essas coisas, as crianças e na adolescência, podem ser cruéis.

Uma dessas, hoje trabalha na universidade, segue acreditando que está por cima de todo mundo, porque em sua família, está cheia de políticos, todos republicanos, agora é ela que vive isolada, ninguém a suporta.

Outro dia se lembrou da época que estudávamos juntas, quis ser simpática comigo, a mandei a merda.

Mamãe me dizia para me defender, mesmo que fosse aos socos, me contou que aonde vivia, as crianças para comer tinham que ser esperta, principalmente os mais fracos, que comiam os restos.    Na época, achei um exagero, lá em casa nunca faltou nada, mas hoje vejo que é verdade.

Depois saíram para viagem, por duas vezes surpreendeu sua irmã lendo, colocando a mão livre em cima da do Diego, ele automaticamente sorria.

Na época que o apresentou, era ele que estava interessado no Diego, primeiro pelo seu tipo, cabelos vermelhos crespos, sardas, o sorriso que estava sempre na sua cara, um sentido de humor que lhe faltava.

Quando o apresentou a ela, viu que a partir desse momento, tinha perdido a batalha, tinha que o escutar horas, falando nela, na sua inteligência, por aí vai.

Foi padrinhos deles, no casamento civil, sua irmã não queria se casar na igreja que não iam nunca, assim agradava aos familiares, aliás eram só eles na cerimônia, depois foram comer num restaurante bom, achou que ela tinha concordado, pois nossa mãe já estava mal de saúde, morreu pouco depois.

Eu fiquei com o velho, até ir para NYC, agora voltaria para lá, as vezes sentia falta de casa, não que fosse alguma coisa do outro mundo, tudo era muito simples.   O único quarto da casa que não tinha tatame era o de sua irmã, que queria uma cama como todos americanos.

Ele seguia adorando dormir no tatame, o apartamento que vivia era alugado, com tudo dentro, por isso, algumas vezes levava um susto, pois quase caia da cama.

Estava sorrindo, Zack perguntou por quê?

Lembranças meu amigo, lembranças.  

Depois lhe contaria, por duas vezes Zack tinha pegado sua mão, sempre fazia isso, como para lhe reconfortar.

Sem querer se pegou pensando, quando o tinha visto sem sua perna, o encaixe era justo um pouco abaixo do quadril, era composta de três, peças, uma ia até o que flexionava, o joelho, depois está ia até outra flexão, que era o pé.

Ele conseguia caminhar direito, mas tinha sempre um bastão, quando a coisa complicava.

Claro imaginava as pessoas, olhando o resto da perna cheia de cicatrizes feias, a outra também tinham, mas tinha conseguido lhe salvar a perna.

As pessoas como ele dizia, fodas de uma noite, da idade deles, que passavam o dia inteiro nos ginásios, fazendo exercícios, o famoso culto ao corpo, deviam ficar horrorizadas, quando na verdade, o corpo dos mesmos, eram feios, alguns pareciam sapos.

Numa festa tinha conhecido um rapaz assim, o arrastou até o banheiro, quando abaixou as calças, a camiseta modelava o tronco todo trabalhado, mas o piru, parecia de um garoto, se virou de costa, pediu que o penetrasse.

Ficou sem saber o que fazer, nada de romantismo, simplesmente sexo, pior não conseguia ficar excitado, pois sua cabeça trabalhava a mil.

O outro ofendido, subiu as calças, saiu do banheiro.   Depois iria descobrir, que o mesmo, era imensamente rico e complicado.

Não estamos livres de problemas, o famoso negócio, quem não tem problemas que atire a primeira pedra.

Finalmente chegaram, a casa era toda branca, com uma parte de floresta no fundo, realmente ali não se podia vir de barco, não tinha píer.

Hugh devia ter mandado limpar a mesma, estava impoluta.

Ele já tinha feito a distribuição dos quartos, com uma senhora que trabalhava lá. Essa disse que hora era o coquetel na varanda, bem como o almoço, que também seria lá.

Ele ficou num quarto com duas camas, com o Zack, riu dizendo assim não posso segurar tua mão.

Contou para ele a história do tatame, ele riu, uma vez quando jovem tinha dormido lá com ele, nessa época tentavam se entender, despertei sem saber aonde estava, não sentia a cama embaixo de mim, mas estavas ali, rindo de como eu fazia para me levantar.

Bons tempos amigo, bons tempos.

Tua mãe tinha preparado dois cafés da manhã, um para ti e teu pai, a moda dela, como dizias tu, outro a moda americana, para tua irmã e para mim, acabei comendo o de vocês, para saber como era.

Deixaram suas coisas, Zack colocou uma bermuda, com uma sunga por debaixo, para entrar na piscina, usava muletas que tinha trazido.

Ninguém fez nenhum comentário, Hugh era uma pessoa pratica, dei o texto original de meu pai para todos, tinha irmã tinha o seu cheio de anotações, lhe perguntei o que era?

Perguntas nada mais, todos leram em silencio, eu como ela tinha anotado perguntas, talvez, separando ideias, de coisas que já sabia.

Alguns tinha ido para cidades costeiras, para serem pescadores, inclusive conheci um rapaz, que seu pai, tinha uma frota, começou como pescador, mas ao contrário dos companheiros que bebiam, gastando dinheiro, ele economizava, ainda levava peixes pequenos que ninguém queria para vender aos vizinhos.

Tinha feito um verdadeiro exercício de memoria para se lembrar do nome do rapaz, sabia eu afinal tinha feito medicina.

Mesmo em San Francisco, existiam uma série de restaurantes, teriam que saber se os proprietários, eram dessa época.

A melhor forma, como quase todos estavam pela zona de Chinatown, era consultar a tríade.

Ela não parava de escrever, vi que olhava seu celular, ia anotando nomes, talvez de seus alunos.

Nunca tinha entendido, que depois de rejeitar tanto ser filha de vietnamitas, tivesse acabado como uma professora da língua, embora fosse especializada em várias, inclusive falava o mandarim.

Eu tinha colocado junto a cada texto, um bloco, bem como um lápis.

Meu pai tinha um sorriso na cara de fazer gosto, estava ao meu lado, lhe apertei a mão, estava cheio de orgulho, que Hugh não tivesse se esquecido de seu trabalho.

Lhe comentei das fotografias, ele rindo me disse que tinha tudo em casa, eu só mandei cópias.

Ele só me permitiu entrar uma vez no seu arquivo, quando procurei uma foto de minha mãe, para a lapida do cemitério.

Era uma dela, no dia que tinham se casado.

Jim foi quem começou a falar, quando cheguei a San Francisco, vi o texto, ele tinha feito o meu trabalho, tínhamos falado nisso antes, mas fez melhor.

Algumas vezes, quando andávamos pelo interior do pais, minha presença metia medo no pessoa, a maioria nem chegava a minha cintura, que adorava estar por perto eram os garotos, pensavam que eu era um gigante.

Eu dizia ao Ji o que gostaria de saber, ele fazia as perguntas, argumentava, escrevia, as vezes eu parecia o acompanhante, ele tirava esse mérito dos ombros, pois eu tinha feito a pergunta.

Mas a verdade, ele conhecia as pessoas, sabia que se fizesse como eu tinha falado, não responderiam, havia toda uma linguagem, para se chegar ao que queria, isso ele fazia muito bem.

Minha irmã, tomou a palavra, falando justamente do trabalho que fazia, alguns dos meus alunos, são netos desses emigrantes, seus pais, como eu, fizeram tudo para serem considerados americanos, então os valores que ensinaram aos filhos foi esse, hoje esses não sabem quem são, poderia ir conversando com eles, criar um vínculo, como forma de chegar à

família através deles.

Hugh aprovou de imediato, eu acrescentei o que tinha de informação.

Diego funcionava como uma secretária, foi anotando tudo, assim depois poderia coordenar, nisso ele era ótimo, pois como tinha escrito dois livros, sabia como fazer.

Quando nos tocamos, a senhora nos avisou que dentro de um tempo iam servir o almoço, se alguém fosse tomar banho de piscina, seria o momento.

Mas todos seguimos ali conversando.

Falei sobre os da tríade.

Eu irei até lá apresentar meus respeitos, ao novo chefe, disse o Jim.

Hugh com um sorriso na cara, quer dizer que vais participar?

Sim mas desde fora, quero ajudar meu amigo, nada mais.

Depois todos se movimentando com um coquetel de frutas na mão, Hugh se aproximou, me disse baixinho, disse que teu ajudante, ia te substituir, que ias participar do projeto.

Não, gostou, pior é que encontrou o rapaz, até a alma de drogas, teve que interna-lo, agora vão transferir o mesmo para cá.

Eu lhe disse para ficar um tempo por lá para acertar a situação, escrever o que o outro devia ter escrito, assim ele tinha tempo de pensar em sua própria vida.

Ele vai aceitar muito mal, que eu volte a dirigir o jornal, acredito, que se lançara a algum jornal da competência.

Mal sabe que penso em mudar radicalmente nosso enfoque.

Talvez consiga que o Jim, me ajude nesse projeto, seu pai seria interessante, ele entende de fotografia como ninguém.   Pensava em fazer uma secção toda virada para a internet.

Eu falei muito com o Peter sobre isso, estamos defasados, toda a competência já o faz.

Porque não vais pensando nisso.

Era meu sonho, o mundo hoje todo se movia assim, a internet começava a mandar em tudo, já não era necessário tantos correspondentes, mas sim ter ligação com os próprios jornalistas locais, havia era claro saber escolher.

O final de semana foi super produtivo, o pouco que eu tinha no apartamento, colocaria em caixas, deixaria na casa do Jim.

Basicamente embarcamos todos ao mesmo tempo, para minha surpresa Zack pediu uma excedência no trabalho que fazia, foi junto, não vou deixar essa aventura de lado, contigo vou ao inferno.

Jim me encostou na parede, não entendo, vejo como vocês se olham, a cumplicidade entre os dois, porque não estão juntos.

Eu sem querer lhe contei meu problema, nunca conseguia desligar minha cabeça, nem fazendo sexo, era necessário que tivesse muito romance no meio para que isso acontecesse.

Ora, parta daí, construa tu esse romance, com ele.

Quando contei ao Zack, ele disse que era verdade, nas vezes que tentamos fazer sexo, era como se minha cabeça estivesse em outro lugar.

Nessa noite, com a janelas abertas para a floresta, experimentamos, comecei eu a beija-lo, procurei desligar minha cabeça do projeto, só pensar nele, sem querer foi como meu corpo me comandasse, deixei tudo acontecer, chegamos juntos ao orgasmo, abraçados um ao outro nos beijando.

Ele disse ao meu ouvido, uau, finalmente fazemos sexo como devíamos ter feito a mil anos atrás.

No dia seguinte, ao ver os dois tomando café da manhã, para irmos embora, Jim ria, lhe disse que tinha seguido seus conselhos.

Talvez por isso, Zack tinha resolvido ir junto.

Ia ficar lá em casa, ele também, meu pai tinha pedido a uma vizinha que mandasse alguém limpar.

Foi como voltar ao ninho. No salão tinha uma bela foto de minha mãe, feita por meu pai. Jim ficou parado na frente dela, chorando.   Ver aquele homem com todo seu tamanho chorando era impressionante.

Se virou para mim, na minha cabeça tenho a imagem da menina, depois aqui antes de ir embora, sabia que ela faria feliz teu pai, o sonho dele, era uma família, uma casa para viver, já que não tinha tido no passado.

Meu pai o abraçou de lado, era e sempre seria como um gafanhoto, abraçando um elefante, não pude deixar de rir da ideia.

Agora uma vez por mês teria que me deslocar a NYC, para conversar particularmente com Hugh.

O projeto começou a andar, primeiro foco foram os alunos de minha irmã, depois tomamos frente eu e o velho, fomos fazendo contato, graças a influência do Hugh, conseguimos saber a lista de pessoas que tinham vindo nesse voo, em outros também.

Alguns estavam espalhados pelo pais.

Nos centramos nos que estavam ali, nas cidades costeiras vizinhas, Jim fez uma coisa considerada temerária, foi até Chinatown, pediu para falar com o novo chefe da tríade, queria render homenagem ao anterior, bem como a ele.

Segundo isso, caiu nas graças do mesmo, o velho era avô do atual.  Foram os dois uma final de dia até o cemitério, sentaram-se as sombra de um cipreste, conversaram.

Jim conseguiu uma lista de vietnamitas que viviam em Chinatown, fomos visitando um a um, entrevistando, o meu trabalho depois era selecionar cada material.

Zack, me ajudava, lia ele primeiro a história da pessoa, de aonde tinha saído, num mapa tamanho grande na sala, se colocava uma marca, como tinha sido o percurso da mesma até Saigon ou Ho Chi Minh, como minha irmã frisava sempre.

As histórias eram muitas, da antiga geração, alguns viviam de uma aposentadoria que o governo americano dava.  A segunda que tinha chegado em criança, ou nascido logo depois da chegada, era a que falava, alguns até hoje se sentiam num limbo.

Uma das historias mais interessantes, foi de uma família, pois Jim conhecia o personagem principal, já falecido, era um militar negro. Ele tinha adotado um garoto, na época o mesmo tinha uns 13 ou 15 anos, não sabia sua idade real.

Era de uma tribo que vivia quase fronteira com China, sua etnia tinha algo diferente, era quase negros, uma pele escura, os olhos negros, quando China mandou militares para doutrinar esse pessoal, ele escapou, na verdade não tinha família, quase todos tinham morrido numa catástrofe natural, ele sabia que teria que chegar mais ao sul possível.

Viajava durante a noite, estava acostumado a comer o que pudesse, principalmente o oferecido pela selva.   Dormia durante o dia em cima da árvore mais alta, em que a copa da mesma lhe protegesse.    Dali, como se visse um filme, viu barbaridades acontecer embaixo, confrontos entre americanos e vietcong, mas se resistiu, as vezes descia, recuperava uma arma de alguém abandonado por ali, foi seguindo, quase chegando, os vietcong o descobriram em cima de uma árvore, como usava o resto de um uniforme militar americano, começaram a atirar, o que chamou a atenção justamente de um comboio mecanizado, em que a maioria dos homens eram negros.

O conseguiram salvar, ele olhava assustado a aqueles homens imensos, todos negros, um deles, o levou consigo para a casa que tinha fora da base, tinha se casado com uma mulher vietnamita.

Ela tratou do garoto, o mesmo era esperto, cuidava das oficinas, principalmente dos jeep ou carros de comandantes, estes conseguiram que adotasse o garoto.

Foi aprendendo a falar inglês, o arrastava com ele para a garagem, segundo contava, o mesmo, no primeiro dia, escutou um mecânico consertando o carro, parou para escutar o ruido, foi se dirigindo de aonde procedia.

Virou o protegido desses homens a maioria negros.  Lhe conseguiam de tudo, ensinava tudo que sabiam.

O militar, quando veio embora, os trouxe, a mulher tinha parido dois garotos, além do que ele tinha adotado, que a ajudavam em todo o possível, para quem não tinha família, ele agora tinha uma que ia crescendo.

Ela, bem como ele, iam cheios de sonhos, que se desvaneceram em seguida, pois a família dele, não aceitou nenhum, tampouco recebeu o filho como devia.

Ele tinha fugido de seu pai, que era médico em San Diego, pois este queria por força que fosse ser médico.

Com eles aconteceu uma coisa interessante, de um lado os negros não os aceitavam, pois eram diferentes, de outro os brancos que os viam como negros, mesmo os vietnamitas que viviam por ali, os olhavam de esquerda.   Mas foi junto a essa comunidade que eles passaram a viver, o pai montou uma oficina mecânica, ele trabalhava lado a dado do mesmo, as pessoas ouviam falar dos milagres que esse rapaz fazia com o carro.

Ia a escola noturna, para aprender a ler e escrever direito o inglês, nunca imaginou sofrer bullying de pessoas vamos dizer adultas, em que todos queriam na verdade melhorarem suas vidas, mas graças a um professor que colocou tudo no lugar, ou os pontos nos I.

Os meninos, iam a escola que iam os outros garotos do Vietnam, claro sofriam bullying, por serem mulatos, mas aprenderam a se defender, afinal todos agora eram americanos.

Mas na adolescência, começaram a criticar o pai, o irmão mais velhos, queriam o que os garotos americanos tinha, ir à praia fazer surf, nenhum dos dois queria ser mecânicos.

Os pais se sacrificaram, para que fossem a universidade, eram bons estudantes, nada de conseguir bolsa de estudos por esporte, logo que terminaram a universidade, desapareceram no mapa, mandavam quando muito um cartão no Natal.

Os pais se conformavam desse filho que tinha ficado para trás.   Esse nunca se casou, pelos problemas de infância, tampouco era um homem alto, até mesmo hoje de longe poderia passar por um garoto.

Foi como um amor à primeira vista de meu pai, que se identificou com ele, bem como o Jim, que meu pai chamava de defensor dos fracos.

Atualmente ele vivia na velha casa familiar, o pai estava numa residência de ex-militares, a mãe tinha morrido.

No enterro desta, apareceu um dos irmãos, tinha ido a trabalho a Saigon, virou-se para o pai, dizendo que nunca deveriam ter saído de lá.

Este ficou ofendido, lhe soltou na cara, dizendo você acha que sendo filho de um militar americano teria sobrevivido.

Sem querer, sua irmã tinha desaparecido no mapa, quem sempre aparecia era o Diego, sempre tinha alguma desculpas, tinha falado na cara do meu pai, que o projeto era dele, que ela já tinha colaborado no necessário.

Pensei que sentisse ciúmes, por eu estar coordenando tudo, fui falar com ela, a coisa era outra, o Diego seguia insistindo em ter filhos, ela se negava rotundamente.

Num congresso de universidades, conheceu um professor que tinha vindo representando a de Ho Chi Minh, a convidara para ir até lá.   Quando falei com ela, estava nas vésperas de embarcar.

Diego veio falar comigo, estava arrasado, ela tinha aproveitado a ideia da viagem para pedir o divórcio.

Me contou uma história diferente, pois eu sempre sabia que a dela, por detrás tinha outra coisa.

O casal amigo dele, que tinha a guarda do garoto de cabelos vermelhos, a mulher estava gravida de gêmeos, por inseminação artificial, estavam preocupados, como iam criar mais crianças, Diego se interessou em conseguir a guarda, quando a assistente social o conheceu, riu muito, pois os dois realmente pareciam pai e filho.

Minha irmã, disse que nem pensar, se ela não queria filhos dela, imagina ter a guarda de um que ela não sabia de aonde tinha saído.

Meu pai quando soube, ficou uma fera, eu lhe disse para não se meter.

O mal dos dois, era que tinham comprado o apartamento que viviam no nome dela, está o queria fora de lá com o garoto.

Diego ficou arrasado, veio ficar lá em casa, eu adorava a inteligência do garoto, Zack também.

O projeto já estava no final, Jim dizia que teríamos que mudarmos para uma casa maior.

Eu tinha trabalhado ao mesmo todo este tempo, com a ajuda de informáticos, a construção do que seria o primeiro jornal online.

Minha vida era um inferno, pois volta e meia tinha que ir a NYC, por causa do Hugh, ele deu carta branca, teríamos que retornar, convenci o Diego, este arrumou um emprego na universidade, alugamos um apartamento no mesmo edifício do Jim.  Assim meu pai, cuidava do garoto.

Jim aceitou finalmente trabalhar no lugar do Peter, que saiu pela pressão de ter que aguentar o sogro, bem como pediu divórcio, estava vivendo com um rapaz da idade do filho dele mais velho.

Jim assumiu apesar da idade, o lugar dele, começamos a modernizar o jornal, eu cuidava da parte que seria internet, que acabaria sendo uma novidade, as noticias mal chegavam eram analisadas, publicadas em seguida, montei um grupo, para que as fotos tivessem uma relevância importante, eram elas, além do titulo que faziam as pessoas lerem a notícia.

O jornal em papel, continuava funcionando, mas claro as noticia sempre saiam depois, era um funcionamento diferente, Jim foi enxugando tudo isso, de ser um jornal imenso, agora era um jornal direto, com boa publicidade, tínhamos avançado antes dos outros.

Quando saiu primeiro como reportagem, o projeto do meu velho, era como uma reportagem em duplicata, a primeira junto com a segunda, pela primeira vez, foi para as bancas sendo cobradas, fez muito sucesso.

Hugh, resolveu publicar o projeto em forma de livro, nisso trabalhava meu pai, ia levar o Junior, como chamávamos o filho do Diego, a escola, depois se colocava a trabalhar.

Eu andava na época preocupado com o Zack, não andava bem, quando lhe enchia o saco para ir ao médico, me dizia que já tinha ido, mas seu problema era cansaço.

Um dia despertei pela manhã, ele tinha morrido durante a noite, foi uma porrada em minha cabeça, perdia o homem que amava, bem como meu melhor amigo.

Claro a família estava para isso, foi quando fiquei sabendo, o único que sabia era o Jim, ele tinha um câncer avançado, por causa da prótese da perna.  Se tivesse cuidado a tempo, teriam que cortar até a cadeira, seguiriam cortando enquanto avançasse, na carta que me deixou, dizia que já tinha sofrido demais por isso, que nem pensar, eu não sabia, mas ele tomava comprimidos para a dor, nos últimos dias já tinha se estendido pelos rins, foi como um enfarte, bem próximo a falência de órgãos.

Foi um enterro, simples, ele não queria um militar, meu consolo sem querer foi o Junior, bem como Diego, que viviam comigo.

Soubemos que minha irmã agora vivia em Ho Chi Minh, dava aulas na universidade, Jim como sempre bem relacionado, soube que claro tinha se casado com um professor respeitado, que vivia fora do mundo dos comuns mortais, que as coisas não tinha mudado tanto assim, era de uma classe mais alta, que anteriormente ela odiava.

Meu pai, coitado nunca conseguiria entender, dizia que como era possível, os dois tiveram as mesmas oportunidades, ela sempre foi assim diferente, de um lado queria ser americana de qualquer maneira, achava que as loiras, eram as americanas, um dia em sua juventude pintou os cabelos, apareceu em casa, como loira, ficava horrorosa, minha mãe ficou uma fera, quase lhe raspou a cabeça.

Ficou uma fera comigo, pois eu ri muito da sua cara.

Um dia conversando com o Diego, me contou que sabia que eu estava interessado nele, ela também, creio que foi aí que fez tudo para me cativar, como se estivesse roubando de ti essa oportunidade.   Nunca aceitou o fato de seres gay, cada vez que referia a ti como uma puta, era motivo de briga, pois te defendia, quando soube do teu pai com o Jim, soltou, que agora tinham duas putas na família.    Realmente ela esperava a oportunidade, dela dirigir o projeto, escrever ela mesma tudo, mas quando viu que não ia ser assim, se fechou mais.

O Junior foi o ponto final, um dia disse que eu não sabia lhe dar prazer, que eu fazia sexo, como se estivesse contigo.   Me ofendi é claro.

Mas hoje em dia penso, que se não tivesse sido tonto, teria ficado contigo, pois eres justamente o tipo de pessoa que me faria feliz.   Agora somos como uma família, embora como todos sentimos falta do Zack, ele com o Junior era espetacular, podia estar horas falando, me disse que era um filho assim que queria ter tido.

Pois comigo nunca falou em ter filhos, eu sempre quis, mas me preocupava o pouco tempo que me sobra para ter realmente uma família, acho que na verdade ele foi mais meu amigo do que eu, pois arrumava sempre um jeito de estar por perto de mim.

Foi ele, bem como o Jim que me fizeram superar o fato de não saber me relacionar com outra pessoa, minha cabeça é um caso sério, nunca para de funcionar, as vezes dormindo resolvo problemas que teria que fazer no dia seguinte, estou aparentemente dormindo, mas ela funciona sem parar.

Fui a um médico, disse que eu não tinha nada errado, que era normal isso.   As vezes estou morto de cansado, desmaio, principalmente depois de fazer sexo como fazíamos, cada um explorando o outro, em seguia para tudo, mas é como se fosse um computador, que colocas em parado, mas que dentro de algum momento ele volta a funcionar.

Como é isso de se explorar?

Sem querer me vi contando a ele, que os sexos rápidos que eu conseguia antes, era tipo vapt-vupt, ou seja sem romance, nada.

Jim me disse que eu o tinha que explorar, romancear, seduzir, muitos beijos, nesse momento vi que Diego estava excitado.

Só me disse que minha irmã era o famoso Vapt-vupt, nunca a vi relaxada.

Nesse momento Junior que dormia nas minhas pernas, se despertou, rindo disse que o assunto era sério, pelas nossas caras.

Meses depois aconteceu sem querer, Junior trouxe um amigo para dormir lá em casa, ele veio dormir no meu, acabamos fazendo sexo, me disse baixinho, me explore por favor.

Assim fiz, foi como uma explosão, eu com o Zack era contido, pois tinha sempre medo de o colocar com problemas com sua perna.

Mas com ele, como dizem foi a gloria, fizemos sexo na mesma noite várias vezes, ele dizia que queria ser melhor que o professor.

Agora Jim anda preocupado com meu pai, a idade, o médico diz que são os efeitos de uma infância como a que ele teve, má alimentação, que ele tinha tido subnutrição nessa época.

Quando teve outro enfarte, não resistiu, agora nos tocava apoiar o Jim, mas esse era um cavalo de batalha, enterramos meu pai, avisei minha irmã, mas disse que era impossível chegar pelas horas de voo.

Queria saber se tinha alguma herança, tirei seu cavalo da chuva, ele tinha vendido o que tinha, colocado num fideicomisso para seu neto, o Junior, sempre o tinha considerado assim.

Ele era o mais emocionado no enterro, agarrado ao Jim como sempre.

Quem morreu pouco depois, como tinha imaginado a vida inteira, foi o Hugh, tinha formado uma junta que seguiria dirigindo o jornal, com Jim a cabeça.

Só um dos netos, vamos dizer assim abriu sua cabeça, acabou a universidade, começou a trabalhar no jornal, por baixo para saber como funcionava, hoje era o braço direito do Jim, o outro tinha morrido de sobredose.

Quando encontrei com o Peter no enterro, me deu pena, estava acabado, com os cabelos brancos, junto com um rapaz, que se via que era mantido por ele, desses que passam o dia inteiro no ginásio.

Quando me viu com o Diego, com nosso filho, nos casamos assim que foi aprovada a lei, adotamos formalmente o Junior.

Nada de festas, apenas um dia fomos ao fórum fizemos todos os papeis, depois um jantar junto com o Jim.

Esse um dia, me contou como tinha conhecido o Hugh, como tinha sido sua infância.

Sua mãe era uma mulher linda, ninguém sabia de aonde tinha saído, quando chegou a NYC, pela sua estampa foi trabalhar num dos grandes armazéns, aonde acabou sendo contratada para scooter, de homens milionários, que precisavam de companhia para uma festa, ou cerimonia, em sua cabeça, descobriu é isso que eu quero.

Sem querer ficou gravida, mas conseguiu mesmo assim depois se casar, por isso Jim sempre levou esse sobrenome.

Foi viver em Chicago com esse homem, um milionário, quando tinha uns doze anos, esse homem abusou dele.   Quando reclamou com a mãe, ela levantou os ombros, pois como dizia, gozava de um situação social, que tinha sonhado a vida inteira, que ele devia colaborar, ele fugia do padrasto o mais que podia.  No verão subia para dormir no telhado, mas já era inteligente, na escola, se meteu a aprender a se defender, não lhe interessava os jogos, mas sim as lutas.

Quando tinha 16 anos, já era alto, forte, o velho conseguiu entrar no seu quarto, não teve dúvida, cortou seus ovos, levou ao quarto que a mãe dormia, deixou em cima dela.

Só tiveram tempo de levar o homem para o hospital, ele queria se divorciar, ela o ameaçou com um escândalo, sabia de suas saídas de tom com jovens.

Com isso conseguiu um apartamento para ele viver, fora dali, logo foi a universidade estudar jornalismo, com bolsa de estudos, nem tinha acabado ainda, já estava metido no melhor jornal da cidade, foi quando conheceu o Jim.

Deixou de usar o sobre nome do homem, usando só o dela, pois não tinha outro.

Queria sim comer o mundo, foi para NYC, levado pelo Hugh, a quem considerava como um pai.

Este lhe deu bons trabalhos, para se firmar no jornal.

Quando precisou, conversou com ele, o mandou para o Vietnam, foi quando conheci teu pai.

Ele para sobreviver tinha feito de tudo, inclusive se prostituido, com soldados americanos, por isso quando o ajudei, pensou que iria fazer isso.

Quando deixamos o hotel, uma noite ele veio dormir comigo, foi o melhor da minha vida, ele sabia cuidar de mim, eu com todo esse tamanho, era um tonto com respeito ao sexo, era o famoso do vapt-vupt, que vocês falam.

O amei como nenhuma outra pessoa, foi quando resgatamos tua mãe, claro como você sabe ele sonhava como todos, uma coisa diferente da minha, ter uma casa, uma família.

Acabaste sendo o filho que ele tinha sonhado ter, bem como o Junior o neto que ele queria, mesmo no final, o tentei ver ou imaginar como funcionava a cabeça da tua irmã.

Ele dizia teve uma mãe, que podia ter todos os defeitos, mas os amava de mesma maneira, mas para ela o único defeito era que sua mãe não era americana.

Agora isso, volta para o buraco de aonde saímos, dizendo que lá é melhor do que era aqui.

Queria ver se fosse uma mistura de raças, como seria aceita lá.

Ver a família que formaste com o Diego, para ele foi fantástico, a última vez que fomos a San Francisco, vendeu a casa, bem como o lugar que tinha a loja de fotografia, abriu essa conta, queria que o Jr tivesse oportunidades.

Para surpresa de todos, no ano seguinte ele entrou para a universidade, com uma nota espetacular, foi estudar jornalismo, dizia que a culpa era de todos, pois em casa os assuntos eram sempre as últimas notícias.

Nas primeiras férias já estava trabalhando no jornal, era como muitos, indo de uma lado para outro lendo as notícias, depois quando acabou, veio trabalhar comigo, aliás era melhor do que eu nesse trabalho.

Jim apesar dos seus 80 e picos, seguia trabalhando, ou melhor era assessor do neto do Hugh, para desgosto do Peter.

Eu ao contrario me aposentei, queria escrever, cuidar do Diego, viajamos muito, realizamos velhos sonhos, nunca imaginei que um amor de juventude fosse acabar assim.

As vezes me lembro do Zack, sinto saudades de meu amigo, Diego se preocupa, pois nesse dia fico triste, ele também adorava o mesmo, assim falamos dele com normalidade.

Junior chega em casa, solta logo, xi os dois estão com saudades do tio Zack.

Mudamos todos para um apartamento maior, para o Jim não ficar sozinho, mas o sem vergonha não para, logo quer saber o que eu estou escrevendo, ou o Diego, que esta já no seu vigésimo livro.

De minha irmã, nunca mais soubemos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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