JIM TWOSEND
Mais conhecido como Jim Two, tudo por causa
do seu tamanho, diziam ele valia por dois, pois tinha dois metros de altura,
uma bela envergadura, entrava furioso na redação do Jornal, tinha recebido em
sua casa, como ia sair na revista do próximo domingo, a reportagem que tinha
escrito.
Não tinha gostado das fotos que eu tinha
colocado na mesma, tinha revisado seu arquivo no jornal, para poder encaixar as
fotos.
Estava em pé na frente da mesa do editor
chefe, bem como diretor do Jornal, fazia sinal com o dedo, não podia imaginar o
que ele estava falando, o outro só fazia sinal para ele se sentar, mas isso não
era com ele. Rasgou e jogou no lixo a
reportagem.
Saiu batendo a porta, meu assistente que
era mais antigo do que eu ali, disse, ele é sempre assim, ou é como ele quer,
ou nada.
Ele tinha mandado para a foto de sua
reportagem, amigos e companheiros de viagem, era ele no centro, de um lado
minha mãe, da outra meu pai, no Vietnam.
Eu de proposito troquei, pois, depois que
os tinha deixado em San Francisco, ele tinha ido pelo mundo, isso tinha magoado
seu pai, já nem tanto sua mãe, que o entendia, dizia que ele era isso um urso
imenso que vai pelo mundo arrastando tudo em sua volta.
Eu já o tinha visto outra vez, num
restaurante vietnamita, ali perto do jornal, não era nada do outro mundo, mas
podia comer. Me lembro que fiquei
deslumbrado, em ver um pouco mais a frente o homem de quem tinha escutado
histórias desde minha infância.
Ele comia, balançava a cabeça, resmungava,
afinal chamou o dono do restaurante, para lhe perguntar se o cozinheiro
realmente era vietnamita, pois a comida era uma merda, isso tudo falando muito
alto, muita gente ria, concordando com a cabeça.
Ele se levantou, jogou o dinheiro sobre a
mesa, o homem foi atrás dele, dizendo que da próxima vez ia melhorar, o
cozinheiro na verdade era um negro alto.
Quando voltei tempo depois, era uma senhora
que cozinhava, a comida estava muito melhor, algumas coisas lembrava a comida
da minha mãe.
Eu tinha escutado minha mãe me contando
quando me colocava na cama, a história deles, começava com meu pai. Jim usava um jeep que tinha roubado do
exército, mandado pintar de negro, tinha um desenho em cima do capô do motor, JT,
seu nome. Assim ele escrevia os artigos,
sabia agora.
Estava fazendo uma fotos, num mercado,
quando se viu cercado de um grupo de homens armados, meu pai, ao contrário
estava embelezado com o jeep, para sua idade era um homem pequeno como ele
dizia. Segundo ele, vivia morto de
fome, estava pele e osso.
Jim veio andado de costas, lhe perguntou se
sabia dirigir, em inglês, ele balançou a cabeça, que sim, na verdade era que o
fazia mal, este lhe jogou as chaves, disse que ligasse o motor, de um salto, se
colocou do outro lado, disse arranque.
O jeep segundo a história saiu aos saltos,
depois Jim o ensinaria a dirigir direito, a partir desse dia, meu pai, era seu
professor da língua, bem como seu condutor, tradutor, pau para toda obra.
Jim lhe ensinou a fazer fotografia, bem
como a revelar, pois ainda não existiam as câmeras digitais.
Meu pai dizia que tinha perdido uma grande
parte do encanto.
O levou ao mesmo hotel que estava, aonde
tinha como uma suíte no último andar, por conta do NY Times, o gerente do
hotel, tentou brecar meu pai, dizendo que se ele ia ser o motorista, tinha que
dormir com os empregados.
Dizia que Jim tinha feito um escândalo
desgraçado, que não permitiu de maneira nenhuma, subiu arrastando meu pai, o
enfiou no banheiro, disse que tomasse um banho, conhecia alguém, isso era com
ele, sempre conhecia alguém, comprou roupas para meu pai, bem como um tênis.
Quando voltou meu pai continuava embaixo do
chuveiro, nunca tinha visto um, quando muito se banhava numa praça que tinha
como um chafariz, na sua vila, que já não existia mais, se tomava banho no
rio. Disse que olhou o Jim, disse que
era um milagre que chovesse dentro daquele lugar.
Este lhe jogou uma toalha, com o monograma
do hotel, para ele se enxugar, depois o levou ao barbeiro do hotel, se sentou
numa cadeira, ele adorava que lhe fizessem a barba, pois dizia que se colocava
na frente do espelho, sua cabeça ia a lua.
Cortaram o cabelos do meu pai, ele escutou
que a barriga dele roncava, o arrastou, isso dizia minha mãe, ele sempre
arrastava as pessoas com ele.
Se sentaram numa mesa, pediu comida para os
dois, estavam esfomeado, comeram sem falar durante um tempo, lhe perguntou se
queria mais, mandou trazer mais um bife para meu pai, enquanto ele tirava um
cigarro, fumava, o olhando comer, só disse que fizesse devagar.
Depois comeram a melhor sobremesa do lugar,
meu pai contava, que a tinha comido devagar, pois nunca tinha colocado na boca
uma coisa tão boa, pensava que estava no céu.
A partir desse dia, virou seu faz tudo, se
Jim lhe dissesse para se atirar embaixo do jeep, com certeza o faria, dormia
aos pés da cama, num colchão, pois tinha medo de cair da cama.
Depois minha mãe, contava a parte dela,
eles tinha chegado a aldeia aonde ela morava, seu pai a vendia a um homem
velho, tinha filhos demais, Jim quando entendeu, nessa época já falava
vietnamita, para ele, sem querer remontou a época dos escravos, perguntou ao
homem o que ia fazer com ela, entendeu que ele tinha um prostibulo em Saigon.
Fez uma oferta melhor ao pai da garota, assim
foi aumentando o preço, fez um sinal ao meu pai para colocar o jeep em
movimento.
De um salto, pegou a garota, a enfiou
atrás, lhe disse que se agarrasse, jogou para o alto muito dinheiro, todo mundo
avançou, ela dizia que quando viu, já estavam na estrada rumo a Saigon.
Imagina, levar essa garota para se
prostituir. Quando lhe perguntou sua
idade, ela não sabia.
Ele já não morava no Hotel, o dono tinha
ficado furioso, quando ele trouxe uma família que estava faminta para comer.
Que ali era um hotel de classe, ele do alto
de seu tamanho, mandou o homem colocar sua classe no cu.
Alugou no alto da única loja de fotografia
que tinha ali, um pequeno apartamento, assim podia usar o laboratório do mesmo,
o homem um francês velho, aceitou.
Tinha uma pequena cozinha, um banheiro bom,
segundo ela e meu pai, aonde se fazia a chuva, dois quartos, tinha o chão
forrado de tatame.
Jim era capaz de dormir até em pé, segundo
minha mãe.
Logo mandou meu pai comprar roupas para
ela, uma que pelo menos pudesse ir ao mercado, ela pensou que era para dormir
com ela.
Explicou que não suportava injustiça, vende-la
como escrava nem pensar, não tinha idade para se prostituir.
Depois que ela tomou um banho a fez se
sentar, pegou um pente imenso, ficou penteando seus cabelos largos, disse que
fazia isso quando criança com sua mãe, segundo os dois ele só falava dessa mãe,
se tinha família, ninguém sabia, nem se esse era seu nome verdadeiro.
Quando eu era criança, ela me fazia fazer
isso, adorava, depois em pagamento me dava um beijo na cabeça, minha irmã ao
contrário sempre levou os cabelos curtos.
No dia seguinte, os arrastou, foi
formalmente conseguir documentos para eles.
Depois foi a embaixada americana, sabia que
mais dias, menos dias, Saigon cairia, não queria estar ali para ver.
Conseguiu documentos, comprou bilhetes de
avião para um voo que sairia uma semana depois, dizia ao meu pai, não quero ver
a merda final, já vi demais.
Mesmo assim ele acabou ficando, por um
triz, escapou num último helicóptero.
Ele tinha dado ao meu pai a direção de um
conhecido dele, bem como avisado ao mesmo que recebesse seus amigos, que ele
chegaria em breve.
Seu amigo era um homem poderoso em
Chinatown, chefe de uma tríade, meu pai nesse momento da história interrompia
dizendo que ele sempre tinha conhecidos ou amigos assim, em que ele
confiava. Prefiro confiar na palavra de
um bandido, do que num político.
Quando chegou abraçou os dois, fazendo o
que sempre fazia, os subia nos seu braços, minha mãe dizia que parecia uma
boneca quando estava com ele.
Avisou aos dois, nada de usarem roupas do
Vietnam, vivam e usem roupas daqui.
Avisou ao Jornal aonde estava, foram
visitar um velho conhecido dele, que no inicio do bairro tinha uma loja de
fotografia, revelou suas fotos, ajudado por meu pai.
O velho, disse que precisava de um auxiliar
assim. Acabou sendo como um avô para
mim, meu pai depois levou a loja o resto da vida, nunca pagou nada a tríade,
pois era como um protegido do amigo do Jim.
Talvez por culpa desse homem, segundo meu
pai dizia, Jim era o repórter que era hoje, viajando pelo mundo. Quando ele começou num jornal daqui, lhe
pediram uma entrevista com o chefe de uma tríade, ele com a cara e coragem foi
a Chinatown. Ninguém queria dar
entrevista a aquele americano, louco.
Esse homem, estava no cargo a pouco tempo, concordou.
Na verdade, o que fez, foi contar, uma
história que os americanos tinha feito tudo para sepultar, como tinha explorado
os chineses, os negros, construindo estrada de ferro.
Os chineses, foram os primeiros a formar
como uma organização para combater a exploração.
Se ajudavam entre si.
Ele escreveu a reportagem, fotografou o
homem, embaixo do símbolo da tríade, mas a pedido dele fez uma coisa, que sabia
fazer muito bem, manipulou a fotografia, mudou a cara do homem.
Voltou a realidade, quando seu chefe parou
na frente dele, ele não estava bravo contigo, mas sim porque a pouco tempo,
pediu as fotos dessa época, o dono do jornal, lhe disse que não, que faziam
parte do arquivo.
Sei que ele esta escrevendo um livro sobre
isso.
O que mais o intrigou, como tínhamos essa
foto, dos amigos dele, ele nem sabia se estavam vivos ou mortos.
Ia lhe responder, mas fiquei quieto, minha
mãe, tinha morrido a quatro anos atrás, mas meu pai ainda era vivo, a um ano,
tinha tido um principio de enfarte, pois o velho da tríade tinha morrido, o
novo chefe queria que ele pagasse para ter a loja.
Ele disse que não, foi quando o outro o
ameaçou. Lhe enfiou o revolver na boca, nisso entrou uma mulher que saiu
gritando, meu velho começou a passar mal.
O jeito, o sujeito sabia da fama do meu
pai, pois ele ia todas as semanas comer com o chefe antigo.
Chamou uma ambulância, pedindo desculpas,
lhe disse que era novo, que tinha que se impor.
Minha irmã, trabalhava na universidade, era
professora, casada com um professor também, não tinham filhos, ela não os
queria, dizia que já tinha sofrido na pele, ser considerada sempre como
estrangeira, quando tinha nascido lá.
Imagina a mistura dos dois, ele era
irlandês, ruivo, com a pele cheia de sardas.
Tinha passado esse tempo se recuperando na
casa dela, reclamava que a levava a loucura, que a comida era ruim.
Claro, minha irmã não sabia nem fazer um
sanduiche.
Escutou o chefe dizendo que teria que conversar
com o Jim, me deu o número de seu telefone, para marcar um encontro. Leve todas as fotos que consiga para ele.
Depois telefonou a sua irmã, que justamente
estava furiosa, que seu pai, tinha retirado a cama do quarto, colocado o
colchão no chão, aonde ele gostava de dormir.
Com ela tinha que ser assim, lhe disse que
o colocasse no primeiro avião para NYC, sem muitas explicações, sabia que o pai
faria mil perguntas.
Diga que preciso dele.
De uma certa maneira era isso, tenho que
amansar o urso.
Mais uma vez lhe veio na mente, como
imaginava o Jim, esse mal sabia que tinha o mesmo nome dele, pois quando
nasceu, os dois concordaram que se chamaria assim.
Sua irmã, nem tanto, tinha um nome
vietnamita, que ela trocou antes de ir à universidade.
Quando ela disse que ele chegava de manhã,
o colocava num voo noturno de San Francisco a NYC, lhe dei um comprimido para
dormir, mas sabe como ele é.
Quando chegou no aeroporto, ele estava
fresco como uma rosa, como ela costumava dizer, tinha lavado bem a cara.
Seus cabelos tão, negros, começavam a ficar
brancos nas têmporas, o que lhe dava um ar diferente, sem nenhuma ruga na
cara. Ela também tinha morrido assim,
apesar da doença, tinha a cara lisa.
Quando foi para o aeroporto, se lembrou a
primeira vez que conversou com seus pais, o que ele queria fazer de
universidade, queria estudar artes, mas não para ser pintor, sim para entender
a mesma, fez ao mesmo tempo jornalismo com uma bolsa de estudos, dada pelo chefe
da Tríade.
Logo ajudado por ele, foi trabalhar num dos
jornais de San Francisco.
Num grande encontro de jornalistas,
conheceu o que agora era o editor chefe, esse o convidou para ir para NYC.
Entendeu tempos depois, que queria alguma
coisa com ele, mas era um sujeito complicado, casado com a filha do dono do
jornal, com dois filhos, queria uma aventura secreta, com aquele rapaz
diferente.
Viveram esse romance clandestino, mas sem
querer se transformaram em amigos, era ele quem o escutava com todos seus
problemas.
Atualmente vivia num apartamento que
finalmente era seu.
Telefonou enquanto esperava no aeroporto
para o Jim, disse que tinha as fotos que ele queria, mas marcou de comerem no
restaurante vietnamita.
Ele primeiro reclamou que a comida era uma
merda, lhe disse que agora quem cozinhava era a mulher do dono.
Disse a hora, mas foi categórico, não
chegue atrasado, pois odeio esperar.
Viu seu pai desanimado, foi no taxi todo
tempo reclamando, que como era que ele ainda não tinha carro próprio. Ele argumento que ter um carro em NYC para
que, se ele tomava o metro, descia na frente do jornal, isso bastava.
O homem do taxi, um chines, concordou,
nessa cidade nunca se pode estacionar, sempre é um problema. Para seu pai isso era uma ofensa, um chines,
se intrometendo na conversa.
Entendia o que sua irmã dizia, estava
virando uma pessoa complicada com a idade.
Sem querer começou a rir, se lembrando como
o Jim tinha entrado na redação do jornal, com uma cara de fúria. Mas não explicou nada.
Seu pai se meteu embaixo do chuveiro, sabia
que seus banhos eram demorados, mesmo assim o apressou, pois não queria chegar
tarde.
Depois o velho foi reclamando o tempo todo,
de andar embaixo da terra, que desperdício, se perdia a paisagem.
Se ele não gostava nem de andar de bonde em
San Francisco, nos últimos anos, tinham se mudado, de viver em Chinatown, a uma
das ruas que passava o elétrico, dizia que era impossível fazer uma boa
fotografia com o mesmo em movimento.
Aqui embaixo, não tem nada para se olhar, a
não ser a cara das pessoas, cada uma em seu mundo particular.
Quase soltei que uma dos últimos trabalho
do Jim para uma revista, era justamente isso, tinha andado de metro em muitas
grandes cidade, fazendo fotografias dos passageiros.
Quando chegaram na frente do restaurante,
ele começou a reclamar, deve ser uma merda, ninguém cozinhava como tua mãe, ela
sim sabia fazer as coisas.
Tua irmã, nem um sanduiche sabe fazer,
graças a deus não tem filhos, iam morrer de fome.
Nisso soltou uma coisa rara nele
ultimamente, ia ser como quando eu era garoto, podia comer até pedras, com a
fome que eu tinha.
Entraram no restaurante, Jim estava como da
última vez, sentado numa mesa do fundo, perto da porta da cozinha, estava lendo
alguma coisa, mas quando levantou a cabeça, viu meu pai, se levantou, como um
urso, quase jogando a mesa longe.
Veio pelo corredor, gritando seu nome,
velho filho da puta, porque nunca respondeste minhas cartas.
A cara de meu pai era de puro gozo, se
fosse um filme desse de romance, seriam duas pessoas numa praia correndo uma
para a outra.
Ele desde que tinha tido o principio de
enfarte, usava um bastão, mas como dizia sua irmã, quando ninguém via andava
normalmente.
Era como tinha imaginado, Jim o levantou do
chão, num abraço apertado, beijando mil vezes sua cara, filho da puta, dizia um
para o outro.
O restaurante inteiro tinha parado de
comer, todo mundo olhava aquele homem imenso, com o outro em seus braços,
finalmente me viu, colocou meu pai no chão, é esse o Jim, teu filho?
Fez a mesma coisa, abraçou, tirando-me do
chão.
Quase que o envelope com as fotos, vai todo
para o chão.
Garoto, coitado lhe deram meu nome, então
tu és o senhor Ho, com quem vim me encontrar, te vi outro dia na redação, mas
não sabia quem era.
Nos arrastou para sua mesa, sem soltar a
mão do meu pai, já tinha arrumado a mesa outra vez, pois os pratos, talheres,
tinham ido tudo para o chão.
Vi pela porta da cozinha que a senhora não
estava ali, fui até o dono, lhe disse que se não quisesse um escândalo outra
vez, agora seriam dois a reclamar.
O homem se virou sério, disse, já mandei
chamar minha mulher, vivemos aqui em cima, está descendo.
Me sentei na mesa com eles, pareciam me
ignorar, se virou para mim, soltou como se fosse a coisa mais normal do mundo,
teu pai foi o primeiro homem que amei na minha vida, meu amigo, sabia que ele me
defenderia até a morte.
Quis lhe mostrar a fotografia, ele disse
que depois, quero matar a saudade de olhar o meu melhor amigo.
Os dois se olhava, de repente, falavam
alguma coisa, riam, um batia nas mãos do outro, o homem que tinha chegado essa
manhã de San Francisco, tinha desaparecido, estava sentado reto na cadeira,
ainda não tinha largado as mãos um do outro.
O chefe veio para anotar o pedido, os dois
falaram ao mesmo tempo em vietnamita, com o homem, fizeram o pedido, era como
se fosse um prato, em que viam todos os manjares de lá.
Dois bastam, porque esse franguinho, come
mal, olha como está magro.
Eu era alto, mas claro não chegava ao
tamanho dele.
Comemos, os dois falavam sem parar em
vietnamita, eu apesar de falar, estava enferrujado, ia acompanhando como podia.
Meu pai lhe contou que o velho amigo deles,
o chefe da tríade tinha morrido.
Sim eu soube, mandei uma coroa de flores
desde aqui.
Escrevi uma resenha na parte fúnebre, mas
com seu nome verdadeiro, não o que usava na Tríade, um grande sujeito.
Perguntou por minha mãe, porque não
respondeste a carta que te mandei quando ela morreu, eu estava fora do País,
mas te mandei uma carta.
Era ela quem lia tuas cartas, eu nunca, me
senti abandonado por ti.
Eu fui embora, pois dizia que querias ter
uma família, eu sabia que ela te amava, minha vida nessa época era ir pelo
mundo, não queria te arrastar de guerra em guerra. Já estavas farto da que tinhas vivido.
Eu entendia isso, ela me garantiu que
cuidaria de ti, te daria filhos.
Foi a melhor mulher do mundo, mãe como ela,
nunca houve uma igual, ela foi melhor do que eu. Não queria que nossos filhos
passassem o que tínhamos passado.
Sem querer interrompi, sabes, as histórias
que me contava ao colocar na cama, eram sobre ti, o Jim Urso, como te chamava,
eram melhores, que os contos infantis.
Minha irmã, já queria coisas que falassem
em romance, queria a toda custa ser uma americana a mais, é assim até hoje.
Meu pai soltou, o coitado do marido, é quem
cozinha, aprendeu a fazer comida vietnamita com tua mãe, mas ela come
reclamando, que prefere uma hamburger.
Não tem filhos?
Diz que não quer que sofram o que sofremos
na escola, bullying, por sermos diferentes.
Filhos da puta dos americanos, sempre com
esse problema, se esquecem que eles tampouco são a origem desse pais.
Sem largar a mão que segurava a do meu pai,
segurou a minha, então foste tu que montaste a reportagem, com essas fotos.
Sim.
Merda, devia ter imaginado, falou com meu
pai, é um artigo que escrevi em cima do livro que estou fazendo, falando dos
amigos, companheiros, que fiz durante esses anos todos indo pelo mundo, a foto
de inicio sou eu no meio, vocês dois um de cada lado.
Eu pareço um urso, como ela dizia no meio
dos dois, essa foto precisa de um retoque como de antigamente.
Eu lhe disse que se fosse agora, tiraria
uma foto dos dois, para colocar.
Seria melhor, a maioria dos homens que me
acompanharam, seja conduzindo um carro, ou mesmo traduzindo para mim, a maioria
morreu. Salvo um que é Kurdo, vive com
a família em Paris, seu filho mais velho também se chama Jim.
Comemos, ele de vez em quando parava,
olhava meu pai, para ver se ele comia direito, quando acabamos, ele chamou o
dono, que se aproximou, esperando uma bronca.
Desta vez a comida está melhor. Queria pagar, mas se surpreendeu pois eu
tinha falado com o homem quem ele era.
Portanto não queria nos cobrar, ele soltou uma gargalhada que era um
estrondo, coloque na conta do jornal.
Deu um cartão, isso vai direto para o jornal, filhos da puta é o que
são.
Sempre reclamam de meus gastos, virou-se
para mim, chame o filho da puta do diretor, diga que agora iremos a minha casa
olhar essas fotos.
Ninguém sabia direito aonde ele morava, ia
tomar a direção do metro, ele disse que nada disso, nos metemos num taxi
grande, deu a direção, era relativamente perto da minha casa.
Antes de subirmos, puxou meu pai pela mão,
disse venha. Primeiro lhe mostrou um
Dodge velho, pintado de preto, faltas tu dirigindo, depois, o que estava atrás,
estava coberto com um plástico, puxou o mesmo, era um velho jeep, riu muito,
soltou que o tinha roubado, uns soldados estavam bêbados, deitados em cima do
mesmo, tirei uma foto, os deitei no chão, levei o jeep, mandei pintar de preto,
com o que usávamos, lembra, mostrou as letras no capô, claro roubei as placas
de outro, assim ninguém me enche o saco.
Falava tudo isso, com os braços em cima de
meu pai.
Quando entramos no apartamento, fez uma
coisa que eu não esperava, entraram os dois, ele fechou a porta, espere um
minuto, entendi, queria beijar meu pai.
Empurrei a porta, não vou me escandalizar
por isso, minha mãe me contou como viviam os dois quando os conheceu, que meu
pai, dormia, fazia sexo contigo.
Que eras um mariquita.
Ficaram os dois rindo, ela nunca perdeu seu
sentido de humor.
A primeira vez que me contou como ele a
tinha resgatado, disse que imaginava aquele homem imenso em cima dela, a iria
matar.
O apartamento era o retrato vivo desse
homem, paredes brancas, com algumas lembranças de aonde ele tinha andado, uma
parte da sala, era uma bancada grande, com computadores, em cima uma coleção de
câmeras fotográficas, todas as que usei na vida.
Mostrou a primeira da fila, lembra-se dela.
Tu a usastes muitas vezes.
Meu pai parecia outra pessoa, o sorriso
estava em sua cara, estava feliz da vida.
Quando me olhava, era como me agradecesse.
Num determinado momento soltou, já posso
morrer em paz. Jim lhe deu um tapa nas costas, quem vai morrer, ainda temos
muito que fazer, por exemplo, cuidar do meu xará.
Depois mostrou a casa, dois quartos,
simples, todos os dois só tinha tatame no chão, sigo dormindo da mesma maneira,
meu velho.
Uma cozinha mínima, nunca aprendi a
cozinhar, como qualquer coisa como sempre.
Disse rindo se tivesse que escrever sobre a
melhor comida que tinha comido, não poderia, dizer, ia depender da fome que
tinha.
Depois nos arrastou para fora, ele vivia no
último andar do edifico, uma parte era uma varanda fechada, a outra estava
aberta, não tinha nada.
Essa casa, é tudo que eu tenho, a comprei
quando levei um tiro no quadril, fiquei um bom tempo sem poder sair de
viagem. Foi um suplício, pois não sei
ficar quieto, verdade, olhou meu pai.
Sim é verdade, tens razão te culpei de ires
embora, mas eu queria uma casa, uma família, isso sabia que não era possível
contigo, ao mesmo tempo, queria ir contigo pelo mundo.
Fiquei todos esses anos, trabalhando na
loja de fotografias, primeiro com o velho, depois ele me deixou de herança, foi
o avô dos meus filhos.
Me deu a minha primeira câmera fotográfica,
lhe disse eu, me obrigou a aprender primeiro na analógica, como fazer tudo, só
depois me deu uma digital, que apareciam naquele momento.
Se virou para mim, faça uma foto dos dois,
essa será a portada da reportagem.
Depois escreverei outra sobre esse
encontro.
Ao mesmo tempo, não parava de falar, porque
eu estava fechado numa redação, se não tinha vontade de ir pelo mundo.
Fiz a foto dos dois, de mãos dadas, me
disse que para que saibam que sempre amei teu pai.
Depois o levantou nos seus braços, lhe deu
um beijo na boca, ao mesmo tempo, meu pai, passava a mão no rosto dele.
Fiz uma foto com meu celular, ia mandar
para minha irmã, claro ela ia ficar escandalizada.
Agora vá embora, amanhã eu apareço na
redação, teu pai fica aqui comigo, temos muita coisa que falar.
Na hora fiquei ofendido, se eu os tinha
juntado, mas ao descer no elevador, comecei a rir, sem querer tinha bancado o
cupido.
Em casa, mandei a foto para minha irmã, que
chamou escandalizada, sempre era assim, tudo a escandalizava.
Ela nem se lembrava mais das histórias do
Jim. Fiz uma foto dos dois, vai sair na
revista no domingo, vê se compra, o artigo é interessante, pois ele começa
falando justamente dos nossos pais.
Em seguida passou para o meu cunhado,
sempre era assim odiava colocar o celular em viva voz, eu que lhe contasse
depois outra vez para ele.
Sem querer o fato de estarem juntos, a
culpa era minha, tinha sido eu que os tinha apresentado.
Ele se matou de rir, com a história, vou
ter que mostrar meu sogro beijando outro homem na boca na universidade. Escutei a voz da minha irmã, dizendo que
ele não se atrevesse.
Me disse uma coisa, reserve um hotel, no
final de semana vamos para aí.
Desliguei sabendo que começariam a discutir, mas que ele que era
ponderado a convenceria, sempre fazia isso.
O faria no dia seguinte.
Meu pai tinha mais consideração com ele,
que com minha irmã, pois ela sempre tinha sido complicada, na adolescência,
minha mãe perdia a calma com ela, dizia que a ia mandar para Saigon, para ela
aprender.
Mas por incrível que pareça, ela só falava
vietnamita em casa, na rua jamais, hoje em dia ao contrário, era professora,
bem como editora de jovens descendente de vietnamita, que apareciam nas suas
aulas.
Meu pai chamou, se no dia seguinte de
manhã, podia deixar na casa do Jim, sabia que eu me levantava cedo, sua maleta,
precisava trocar de roupa.
Escutei a voz do Jim, dizendo por que agora
está nu como veio ao mundo.
Teria que falar com o Jim, que não falasse
estas coisas na frente da minha irmã, ela nunca tinha aceitado meus romances,
nem quando tinha vindo para NYC, por causa do meu chefe.
Me dizia que parecia uma puta.
Mas na verdade, na época estava loucamente
apaixonado por ele, aceitei tudo, era o outro em sua vida, até claro que me
cansei, mas aí já tinha nome na praça.
Acho que apesar de todos os convites que
tive para ir para outra redação, não tinha ido, pois sabia que o Jim trabalhava
para eles.
Não se falava muito dele, os outros
jornalistas tinham um certo medo de falarem dele, era o querido do dono do
Jornal.
Este o tinha descoberto em Chicago, o
levado para NYC, nessa época começava a guerra do Vietnam, o jornalista que
estava lá morreu numa emboscada, ele se arriscou a mandar o Jim, que fazia sua
primeira viagem para fora dos Estados Unidos.
Telefonei para o Peter Summer, o diretor,
que perguntou aonde eu estava, lhe disse que em casa, que se preparasse, que no
dia seguinte o Jim iria à redação.
Ficou nervoso em seguida, o que aconteceu?
Brincado disse que ele tinha ficado
ofendido comigo, tinha uma foto que eu tinha feito no celular, não se via a
cara do meu pai, de costa parecia comigo.
Isso aconteceu, mandei a foto.
Meia hora depois estava na porta do meu
apartamento, furioso, como eu me atrevia a fazer isso, se eu sabia, que ele me
amava.
Queria saber aonde estava o Jim?
Na sua casa, ele que aguardasse até o dia
seguinte para saber.
Queria fazer sexo, mas a muito tinha
perdido total interesse por ele.
O mandei para casa, com sua mulher da alta
sociedade, com seus filho.
Foi embora reclamando.
Fiquei quieto em minha casa, me lembrando,
quando me descobri gay, contei a minha mãe, que estava apaixonado por um
companheiro, pior, ele quando estava com seu grupo, tentava me fazer bullying,
mas eu tinha estado praticado Karate, boxe, um dia o joguei no chão, fui para
cima dele, os amigos desapareceram, ele esperando que o pegasse, fiquei olhando
nos seu olhos, aí tentou me beijar, um amigo dele viu.
No dia seguinte, já não fazia parte do
grupo, bem como sofria bullying, fui o único que ficou ao seu lado, mas claro
que não deu certo, ele era filho de um coronel, se confundiu, acabou entrando
para o exército, embora tivesse tudo para conseguir uma bolsa de estudos para a
universidade, só o faria anos depois, usando uma prótese na perna, que tinha
perdido.
Ficamos sim amigos, lhe entusiasmava que eu
não tivesse me rendido, que seguia em frente com meus sonhos.
Era o único que sabia da história do Jim na
minha família, telefonei para ele, sabia que dormia tarde, tinha problemas para
dormir, começamos a conversar, ele riu muito da história, quem diria finalmente
o mito, bem como a história sai a luz.
Zack era o único a quem eu contava tudo, as
aventuras de uma noite, a dificuldade de encontrar alguém, as dúvidas que me
assaltavam de vez em quando, se eu não tinha me estacionado em minhas ambições
de ir pelo mundo, escrevendo.
Ele tinha o mesmo problema, pois quando
chegava em casa com alguma pessoa, tirava a roupa, viam que não tinha uma
perna, o corpo cheio de cicatrizes, desistiam.
Ele tinha herdado só uma coisa de seu pai,
uma cabana na praia, aonde íamos os dois, um lugar muito reservado, lá ele
tirava a perna postiça, andava de muletas.
Conversamos, até que me bateu um sono
profundo, me despedi, combinamos de jantar no dia seguinte, assim ele
conheceria o Jim, meu pai ele conhecia.
Quando ele voltou sem as pernas fui o único
amigo que apareceu, ia visita-lo todos os dias, dormia as vezes no hospital, se
ele tinha pesadelos, eu estava ali, segurando sua mão, o interessante que com
tudo isso, nunca mais tentamos nos aproximar sexualmente.
Dormi pesado, só despertei, pois tinha
colocado o despertador para mais cedo, tinha que levar a bagagem de meu pai a
casa do Jim.
Toquei a campainha, ele abriu com uma
toalha presa nos quadris, disse que meu pai estava tomando banho, se eu queria
entrar.
Me desculpei, disse que chegava antes dos
outros no trabalho, para ver as fotos que tivessem chegado durante a noite.
Lhe dei as fotos que tinha trazido no dia
anterior, pois as tinha levado comigo.
Vou dar uma olhada, tinha um sorriso
estampado na cara, o único comentário foi, ele continua como sempre.
Fui embora, comprei um café bem grande e
carregado, como gostava, além de um croissant, uma mania que tinha adquirido.
Por incrível que pareça, Peter, chegou
cedo, foi direto a minha mesa, queria saber de tudo, eu disse que estava
trabalhando, tinham chegado muitas fotos durante a noite, logo Jim estaria ali,
eu tinha que ter o trabalho despejado.
Fui juntando as fotos, aos textos que
tinham chegado, para ver o que merecia a publicação, bem como primeira página,
tinha que entregar tudo mastigado na reunião mais tarde.
Estava no meu último texto, de um
jornalista amigo do Peter, um completo idiota, comecei a rir sem querer, pois o
mesmo tinha mandado uma foto que não correspondia ao texto, cheguei a ler o
mesmo outra vez, esse sempre fazia isso, reclamava depois que nunca saia em
primeira página. Dizia que eu tinha
mania com ele, pois tinha me candidatado a esse posto, mas Peter claro me
queria ali, na época ainda havia algo entre nós.
Nisso entrou meu pai com o Jim, vieram
diretamente a minha mesa, meu pai tinha um sorriso na cara de fazer gosto, obrigado
meu filho, foi o que disse.
Viu a quantidade de papeis na minha frente,
já preparaste tudo isso.
Sim, vi as fotos que chegaram à noite, já
as juntei aos textos, menos a desse idiota, que sempre manda uma foto errada.
Jim meteu a mão no texto e na foto, é igual
ao pai dele, um inútil, só tinha uma coisa, era bonito, abaixou a voz, foi
amante do Peter.
O pai do dito cujo, as vezes vinha buscar o
Peter para almoçar, sentia que ele tentava escapar.
As vezes tinha pena do Peter, era um
excelente profissional, nunca entendi por que se casou com a filha do
proprietário, talvez por insegurança.
Embora pelo que soubesse, ela tinha vida
própria na alta sociedade de NY, vivia como um beijar flor de festa em festa,
mas sempre sozinha.
Vi que Peter vinha até nós.
Quando viu meu pai, entendeu o da foto, mas
claro não sabia que o mesmo era meu pai.
Se apresentou, meu pai disse que já lhe
conhecia de nome, sou o pai do Jim Ho, disse como para diferenciar o Jim.
Só então se tocou que os dois estavam de
mãos dadas.
Venham até a sala de reunião, me chamou
para ir com as mãos. Jim hoje estava
cordial, falava com as secretárias, com o pessoal.
Quando nos sentamos, ele primeiro colocou duas
fotos essas abrirão a reportagem, uma era a que eu já tinha escolhido, a outra
era eles dois na sua casa.
O reencontro de um velho amigo, que me
ajudou, me salvou muitas vezes no meu primeiro trabalho, no Vietnam.
A cara do Peter era ótima, pois normalmente
ele falava mais alto, brigava, o menino Jim, escolheu bem as fotos para
ilustrar a reportagem, fotos que o jornal se negou a me dar uma cópia para
colocar no meu futuro livro, mas agora é tarde, tirei uma cópia de todas, já
não preciso da benevolência do jornal.
Sem que ninguém esperasse, porque esse
menino, está preso numa mesa, é o idiota do filho daquele amante teu, está num
dos melhores lugares do mundo. Além de
que, cá entre nós o sujeito é um perfeito idiota, não tinha visto que ele tinha
o texto nas mãos.
Foi corrigindo o mesmo, o mesmo deve estar
fechado num hotel cinco estrelas, fudendo dia e noite, por conta do jornal.
Essa reportagem é uma merda.
O que é uma merda, perguntava o proprietário,
que foi abraçando o Jim, ele apresentou meu pai, contou da história dos dois,
sem falar em relacionamento.
O filho dele trabalha aqui com editor de
imagens, claro merecia estar no mundo fazendo reportagens, mas teu genro como
sempre, gosta de controlar tudo.
Estou molesto, pois pedi uma fotos antigas,
para ilustrar meu novo livro, sobre as pessoas que conheci ao largo da minha
carreira, me disse que o jornal se negava a fazer isso.
A cara do homem, saiu um sorriso amargo.
Quem vai editar seu livro?
Estou negociando ainda, pois ele tampouco
se interessou sobre o assunto.
O tom de voz com que falou com o Peter era
ótimo.
Como é que eu não sabia de nada disso,
colocou a mão no ombro do Jim, esse rapaz, foi meu primeiro jornalista a ir
pelo mundo, nunca pude dizer nada de seu trabalho, pois sempre foram excelente.
Claro que vamos publicar o livro, nem que
eu tenha que voltar a trabalhar aqui, sorriu para meu pai dizendo, não tenho
nada que fazer, a não ser aparecer de vez em quando, para arrumar a merda
alheia.
O senhor é fotografo também?
Me chame de Ji Ho. Sim aprendi com o Jim, estivemos juntos no
Vietnam.
Ele bateu com a mão na testa, claro me
lembro das fotos de vocês, algumas Jim dizia que eram tuas, sei da história de
que ele mandou vocês, para cá, quando viu que Saigon ia cair, procurei tratar
de arrumar papeis para ti e tua mulher.
Como vai ela.
Morreu a algum tempo atrás.
Virou-se para o Peter, por que nunca sei
dessas coisas?
Então quer dizer que eres filho desses dois
que se aventuraram a vir para cá. Eu tenho um texto com fotos que teu pai fez,
no avião vindo de Saigon, Jim lhe disse que fizesse, ele entrevistou as
pessoas, bem como fez fotos, o que esperavam nos Estados Unidos, se era o sonho
americano.
Agora segurava meu pai pelo braço, pena que
ficaste em San Francisco, escrevias muito bem, imagino agora uma reportagem, o
que aconteceu com essa gente, seria interessante, verdade Jim.
Ele ignorava totalmente o Peter, os dois
podiam fazer isso, como vocês queriam, autorizo imediatamente dinheiro, para
isso, saiu arrastando os dois, com ele, avisou a uma secretária, que a queria
na sala dele, era uma das antigas, que estava ali, talvez esperando a
aposentadoria.
Da porta de sua sala, fez sinal para que eu
fosse também.
Peter estava uma fúria, me culpou de o ter
metido em camisa de onze varas.
Eu agora sabia o porquê, claro não ias
ficar mal com teu antigo amante, toma cuidado, um dia isso vai estourar na tua
cara.
O melhor foi ao entrar, ele mandou que eu
fechasse a porta, virou-se para o Jim, quando vais aceitar a minha proposta de
vir cuidar junto comigo dessa merda toda.
Sabia que ele sempre se referia a empresa
assim.
Pensei que depois do teu problema, ias
ficar quieto, mas vejo que isso é impossível.
Mas seria o melhor, posso criar um cargo
acima do Peter, virou-se para meu pai, dizendo, está aqui só porque é casado
com a louca da minha filha, tem duas crianças, ou melhor idiotas, que só fazem
merdas, pensando que tudo é eterno.
O linguajar dele era igual ao do Jim. Esse caiu na gargalhada, não me diga que
imaginas os colocar sobre minhas ordens para que eu aplique corretivos neles.
Boa ideia, porque os dois não respeitam
seus pais de maneira nenhuma.
Uma vez quando eram garotos, faltaram
respeito com minha finada esposa, dei um tabefe na cara de cada um deles, minha
filha como sempre ficou histérica.
Eu devia ter seguido teu conselho Jim, um
filho em cada esquina, oportunidades não faltaram, a senhora que estava ali ao
lado, ria.
Bom não se preocupe, ela conhece melhor
minha vida, que minha própria família.
Ama esse jornal, tanto quanto eu.
Mas me conte a respeito dessa reportagem,
Jim fez um sinal para mim.
O texto do Jim, chegou sem nenhuma
fotografia, fui rebuscar nos arquivos analógicos, está tudo fora de lugar, uma
loucura, mas encontrei, as fotos que ele menciona durante a reportagem, os que
lhe ajudaram na Africa, na Arabia, na China, em sua volta ao Vietnam, essa
reportagem tinha ganho um Pulitzer, o que ele tinha visto durante a guerra, com
como vivia o pais hoje em dia.
Ele tinha a mania de fazer uma coisa, atrás
da foto, escrevia o nome de quem acompanhava, as pessoas das mesma, assim fui
seguindo o rastro.
Bom trabalho Jim Ho, vejo que tens um
padrinho forte.
Não ele não está aqui por isso, o Peter não
sabia que eu sabia de sua existência, na verdade me conheceu ontem, me fez sim
me reencontrar com meu grande amigo.
Falaste sério a respeito dessa reportagem,
do ontem e aonde estão essas pessoas agora, isso daria quase um livro.
Olhou meu pai, nos olhos, topas fazer isso
comigo, saímos pelo pais, buscando essa gente, preciso de aventura você sabe,
mas só o faria se fosse contigo.
Nesse momento o chefão notou que os dois
estavam de mãos dadas.
Riu muito, se levantou se aproximou dos
dois, eu sempre desconfiei de ti, seu grande marica, disse abraçando o Jim, lhe
deu um beijo estalado na cara, o mesmo fez com meu pai.
Tens mais filhos, lhe perguntou.
Sim uma filha, é professora na universidade
de San Francisco, também é editora de livros de jovens descendente dos que
vieram do Vietnam, que tentam escrever.
Uau, eu teria orgulho de dois filhos assim,
ao contrário só tenho essa filha, que só pensa em que roupa vai colocar na
festa dessa noite.
Sou honesto me mudei de casa, não suporto
essa família.
Se levantou abriu um armário, tirou uma
garrafa de Whisky, é cedo ou vamos brindar por isso.
Um café ira melhor, respondeu o Jim, sabes
que não bebo.
Até nisso ele é um gay de muito cuidado Ji
Ho, nunca bebe em serviço, como um policial.
O conheci em Chicago, trabalhava num jornal
de merda de lá, mas quando vi como escrevia, bem como suas fotos, o arrastei
para cá.
Sabem de tua vida dessa época Jim?
Fecha essa boca, velha matraca, um dia
contarei tudo num livro, aliás vou pedir ajuda ao Jim Ho para fazer isso.
Uau, vai ser um escândalo, vais contar
todas tuas aventuras?
Não preciso, o único homem que amei nesses
anos todos está aqui, fui um idiota, já disse para ele ontem, o devia ter
arrastado comigo, mas ele, queria uma família, uma casa que nunca tinha tido.
Falar nisso, sabias que o nosso amigo,
disse o nome real do chefe da tríade, morreu?
Esse idiota, sinalizou a direção da sala do
Peter, nunca me informa direito das coisas, sabia que vinhas hoje, porque ela,
sinalizou a senhora, me avisou, o viu falando com teu filho Jim Ho.
Disse para ela reservar um restaurante ali
perto, aonde ele gostava de conversar, ali ninguém me escuta.
Ia escapar, disse que ia revisar o encaixe
das fotos, com o texto do Jim.
Não se preocupe, eu já fiz isso, não vais
escapar.
O que fazem esse final de semana, perguntou
Hugh Robinson?
Tenho livre minha casa na praia, sem
nenhuma festa, nem de minha filha, tampouco dos garotos.
Eu pedi desculpas, mas ia fazer uma
surpresa ao meu pai, meu cunhado me disse que chegam na sexta-feira de manhã.
Não seja por isso, assim seremos mais.
Meu pai me olhou, lhe disse que depois
contava.
Jim se matava de rir, eres digno do nome,
gosta de fazer confusão.
Lhe disse que ia gostar do meu cunhado,
pois era uma pessoa extremo oposto da minha irmã, ele é professor de
literatura, tem dois livros publicados.
É vermelho, como diz meu pai, tem os
cabelos vermelhos, a cara e o corpo cheio de sardas vermelhas, uma figura,
minha mãe quando o conheceu disse que parecia um palito de fosforo, muito
branco, com a ponta vermelha.
Fico sempre imaginando como seriam os
filhos dos dois, soltou meu pai, mas ela se nega a me dar netos.
Olhei o relógio, telefonei para o meu
cunhado, dizendo Diego, nunca me acostumaria, ele era filho de uma mexicana,
muito branca e loira, com um irlandês, tinha herdado os cabelos dela.,
Lhe disse que tínhamos o convite do dono do
jornal para o final de semana na praia, que trouxesse roupa de banho.
Brincando lhe perguntei como tinha sido o
embate na noite anterior, riu dizendo um a zero, sabes que sempre ganho. Lhe passei o celular ao meu pai, ele disse
ao mesmo, não podes voltar, mandei colocar um cartaz em Chinatown, você
beijando outro homem.
Meu pai adorava o humor dele, riu muito
contou para o Jim.
Na verdade Chinatown, não vai ter ver
muito, não penso em te largar.
Ficamos na sala de reunião, analisei com
ele todo o texto, bem como o encaixe das fotos, de repente ele parou com o
lápis vermelho para cima.
Acho que a ideia do velho Hugh, genial,
nunca se faz isso, o pais, as vezes trás refugiados de aonde provocam guerras,
mas depois é como se fossem engolidos pelo mundo.
Talvez tua irmã que lida com esses jovens
possam nos ajudar, o que acha Jim Ho.
Como sempre essa cabeça é uma máquina, foi
quando me dei conta, que o velho estava mais erguido, não levava a bengala com
que tinha chegado, até tinha cor na cara, se via que estava feliz.
Fomos almoçar quando a secretária veio
dizer que ele já estava livre.
Fazia anos que não o via tão contente, mais
um pouco dá um pé na bunda do genro.
Uma vez tinha falado com o Peter, se ele
não tinha medo de que o seu sogro descobrisse?
Tanto como ele sabe das aventuras da filha,
ou você acha que não, meu filho pequeno tenho certeza de que não é meu, isso é
um às na manga.
Ele reclamava dos filhos, mas tampouco se
interessava por eles.
Desci pensando nisso no elevador, quando
chegamos embaixo o chefe já estava ali.
Não vi sinal do Peter, ia perguntar, ele
soltou sem mais, me livrei desse incompetente.
O mandei pegar um avião, ir até aonde está
esse jornalista o colocar no olho da rua, ele pensa que não sei que teve uma
aventura com o pai do mesmo. Outro incompetente.
Quando o coloquei na rua, foi ele que
arrumou para este trabalhar num jornal em Washington.
Andamos um quarteirão, era um restaurante
de homens de negócios, o maitre, veio pessoalmente acompanhar o senhor Hugh,
puxando o saco dele, até um reservado, aqui estaremos à vontade, sem ninguém
para nos espionar.
Riu muito, quando eu pedi água com gás,
estava morto de sede.
Começamos a conversar, Jim disse que talvez
fosse interessante, é claro se ela quisesse, ter minha irmã com consultora,
pois ela lidava com jovens descendentes de vietnamitas, que escreviam, seria
interessante.
Bom isso falamos com ela em East Hampton,
essa casa construiu meu pai, quando se aposentou, fica meio isolada, minha
filha reclama, pois os amigos não podem vir com seus iates.
Ria batendo as mãos nos joelhos, acho disse
piscando o olho para mim que talvez devêssemos ir para Fire Island.
Eu entendi, mas vi que meu pai não, quando
Jim falou baixinho para ele, ficou vermelho, não estava acostumado a isso.
Perdão, ele era sempre franco quando
falava, sempre vivi em San Francisco, mas nunca mais tive nenhum
relacionamento, o único homem que amei foi o Jim.
Se viu contando sua história de como tinha
conhecido, numa rua, ele com as roupas andrajosas, quando Jim atirou as chaves
para ele conduzir o Jeep.
Devias escrever sobre isso Ji Ho, até hoje
quando leio o que escreveste no voo para cá, me emociono.
Podias ter-se sentado simplesmente numa
poltrona, ignorar o resto do pessoal, mas de uma maneira sutil, conversaste com
cada um, para saber de seus anseios, seus medos, sonhos.
Minha preocupação agora era como ia reagir
minha irmã, mas meu cunhado tinha resolvido a questão, estava era curiosa para
conhecer o Jim.
Quando o viu, começou a rir, eu achava que
minha mãe, exagerava, mas tinha razão, tens o tamanho de um urso.
Eles ficaram na minha casa, pois no dia
seguinte iriamos para a casa do Hugh, ante me chamou a sua sala, para uma
conversa, Peter tinha ido resolver o problema que ele mesmo tinha criado, pelo
visto, segundo o velho, o rapaz estava hospedado num hotel cinco estrelas,
cheio de mordomias, sem sair do mesmo para fazer seu trabalho, por isso
escrevia tantas besteiras.
Hugh, foi claro comigo, acho que é o
momento de caíres fora daqui, Peter nunca vai deixar que suba dentro da
empresa, tem medo, eres melhor do que ele.
Portanto minha sugestão, é, vais para San
Francisco, por um tempo, conheces bem a cidade, será nosso correspondente lá,
até que eu arrume outro lugar para ti.
Não quero te mandar para nenhuma guerra, vi
teu trabalho de antes, trabalhas muito bem com política, pode ser que o melhor
posto, seja na comunidade Europeia, pois nosso correspondente lá está a muitos
anos, acomodado.
Mas o que quero, é que a cada problema que
surja num estado membro, te movas para ver o que acontece, escrever sobre o
assunto.
Mas o Peter vai criar problemas.
Vai nada, tenho tantos trapos sujos dele,
que nem imagina, sei inclusive ele te trouxe, pois tinha uma aventura contigo,
mas foste esperto, caíste fora do mesmo.
Não tocaremos no assunto, na frente de tua
família, apenas diremos que estando em San Francisco, podes coordenar o que teu
pai estará escrevendo.
No café da manhã do outro dia, se arrumaram
para sair, meu pai e Jim iriam no carro do Hugh, na última hora convidei o Zack,
pois o vi um pouco deprimido.
Fomos no Dodge do Jim, o carro funcionava
de maravilha, fomos conversando, mais ou menos comentei com minha irmã a
respeito do projeto que Hugh tinha oferecido ao nosso pai.
Nem sabia que ele tinha escrito um artigo a
respeito.
Claro, não tínhamos nascido ainda. Tinha rebuscado no arquivo, encontrei, tirei
cópias caso fosse necessário.
Ela mergulhou num grande silencio, isso eu
conhecia, era assim quando estudava ou lia algo interessante, não suportava ser
interrompida.
Me surpreendi que lesse em voz alta, para o
Diego, alguma frase que lhe chamava a atenção.
Nem sabia que nosso pai tinha essa
faceta. As fotos na cópia, não eram
boas, teria que escavar no arquivo para encontrar as originais, ou talvez ele
mesmo tivesse, pois sabia que lá em casa, ele tinha um quarto que guardava
tudo.
Tinha comentado com o Zack que iria passar
um tempo em San Francisco, ele pareceu não gostar muito.
Só verbalizou que ficaria sem a proximidade
de seu amigo.
Me comentou que tinha ficado arrasado,
tinha conhecido um homem, numa palestra que estava dando, o mesmo o convidou
para jantar, se insinuou, ele prevendo algum problema, pois era desse que
cultuam o corpo, comentou que tinha um problema.
Quando chegou na casa do outro, tinha
entendido que ele gostava de sado masoquismo, tinha um quarto cheio de
aparelhos.
Fiquei literalmente horrorizado, pior o
sujeito é um advogado famoso, descobri quando fui embora, que o mesmo inclusive
é casado.
Há louco para tudo, lhe disse.
Tinha dormido lá em casa, dei meu quarto
para minha irmã, nos dormimos no outro aonde tinha um sofá cama.
De madrugada, ele começou a se debater num
pesadelo, segurei sua mão como sempre fazia, lhe disse baixinho ao ouvido,
respire fundo.
Ele pareceu se acalmar, me levantei para
tomar água, meu cunhado estava sentado na sala, tinha levado a poltrona para
perto da janela, estava olhando o amanhecer.
Nesse momento o vi um pouco triste, me
disse que estava pensando baixinho, na hora não entendi isso.
Sorriu, quero dizer que estou deixando meu
pensamento voar. Adorei ver teu pai,
com o Jim, fazem um dupla impressionante, o mais interessante é como Jim o
olha, com adoração.
Lhe contei como tinha sido o encontro dos
dois no restaurante.
Todo mundo parou de comer, aquele homem
imenso, levantando o outro do chão, como se fosse uma pluma, o beijando na cara
toda.
Trabalhei a parte do texto que ele fala do
meu pai, da minha mãe, como os dois a resgataram de ser vendida, ele nesse
ponto, é conhecido por agir por impulso.
Estive buscando seus primeiros trabalhos,
já era da mesma maneira.
Tem um que é de antes dele ir para o
Vietnam, imagina um rapaz como ele, entrevistando uma gang do Bronx, ao mesmo
tempo entrevistando os policiais da zona.
Escutou a reclamação de ambos os lados,
argumentou sobre isso, colocava perguntas importantes no meio, fazia com que
respondessem.
Escutei a gravação da mesma, daquelas de
antigo cassete, é impressionante como ele sendo jovem se impõe.
Só um dos policiais era originário dali,
inclusive tinha um irmão numa das bandas.
Ele em termos de cabeça, já era muito
maduro.
Agora sei com certeza que o encontro dos
dois em Saigon, foi real, a história que ele jogou as chaves do jeep, para um
rapaz, que não conhecia, mas que estava ali, para lhe ajudar.
Entendo que meu pai se apaixonasse, pelo
que Jim me contou, pois meu pai, jamais fala nisso, alguma coisa dizia minha
mãe, que ele vivia nas rua, comendo o que encontrava, fazendo qualquer trabalho
para ganhar uns trocados, que suas roupas eram trapos.
Tinha escapado de um traficante de escravos,
evidentemente ele devia ser como ela de uma família grande, que vendo os mais
fracos, para se livrarem de mais uma boca para se alimentar.
Era o caso dela também, hoje quando sabemos
disso, ficamos escandalizados, porque não sofremos na carne nada disso, já
encontramos um caminho feito, para irmos em frente.
É verdade, minha mãe, foi trazida do
México, para trabalhar na casa de uns parentes, embora não fosse a típica
mexicana, a queriam como empregada, mas tinham lhe prometido estudos, tudo isso
ela conseguiu por conta própria, estudando de noite.
Quando conseguiu um emprego descente, foi
considerada como ingrata, logo conheceu meu pai, que também vinha de uma
família complicada, uma parte metida na máfia Irlandesa de NYC, enfim, duas
pessoas que se amaram toda a vida.
Só me tiveram a mim, pois sabiam que não
poderiam realizar o sonho deles, de que um filho fosse a universidade. Tinham estudado os dois com dificuldades,
mas lá em casa, sempre tinha livros, da biblioteca municipal, foi como aprendi
a ler muito cedo, talvez por ter visto em algum filme, eles faziam uma coisa,
me colocavam na cama, liam algum conto.
Os dois depois me diriam que não tiveram isso na sua infância.
Então sempre sonhei em ter filhos, mas tua
irmã nem pensar, a pouco tempo um amigo adotou um menino como eu, com os
cabelos vermelhos, estava num orfanato, vou a casa deles, para brincar com o
garoto.
Então se deram conta que sua irmã estava
ali em pé escutando, apoiada no marco da porta.
Não disse nada, os deixou sozinho, foi
tomar banho, para agilizar as coisas, depois despertou o Zack, sua irmã lhe
perguntou se tinha alguma coisa com ele.
Disse que não, que era seu melhor amigo.
Nunca tive nenhum soltou ela, agora me
entendo melhor, trabalhando com esses jovens, todos são americanos, ao mesmo
tempo não, nunca deixam que se esqueçam que são asiáticos.
Um deles, é filho de um coronel americano,
com uma chinesa, de um lado a família dela nunca o aceitou, a dele tampouco,
foi criado basicamente sem amigos, sofrendo bullying na escola, foi se
fechando, seu único escape, foi ler e escrever, seus textos são muito fortes,
pois abusaram dele várias vezes.
As vezes me assusto com seu linguajar, pois
fala as coisas como são, cruas.
Eu entendo, você aprendeu a se defender,
mas nas escolas femininas, a coisa vai pela crueldade de algumas, que se acham
as melhores, famílias ricas, essas coisas, as crianças e na adolescência, podem
ser cruéis.
Uma dessas, hoje trabalha na universidade,
segue acreditando que está por cima de todo mundo, porque em sua família, está
cheia de políticos, todos republicanos, agora é ela que vive isolada, ninguém a
suporta.
Outro dia se lembrou da época que
estudávamos juntas, quis ser simpática comigo, a mandei a merda.
Mamãe me dizia para me defender, mesmo que
fosse aos socos, me contou que aonde vivia, as crianças para comer tinham que
ser esperta, principalmente os mais fracos, que comiam os restos. Na época, achei um exagero, lá em casa
nunca faltou nada, mas hoje vejo que é verdade.
Depois saíram para viagem, por duas vezes
surpreendeu sua irmã lendo, colocando a mão livre em cima da do Diego, ele
automaticamente sorria.
Na época que o apresentou, era ele que
estava interessado no Diego, primeiro pelo seu tipo, cabelos vermelhos crespos,
sardas, o sorriso que estava sempre na sua cara, um sentido de humor que lhe
faltava.
Quando o apresentou a ela, viu que a partir
desse momento, tinha perdido a batalha, tinha que o escutar horas, falando
nela, na sua inteligência, por aí vai.
Foi padrinhos deles, no casamento civil,
sua irmã não queria se casar na igreja que não iam nunca, assim agradava aos
familiares, aliás eram só eles na cerimônia, depois foram comer num restaurante
bom, achou que ela tinha concordado, pois nossa mãe já estava mal de saúde,
morreu pouco depois.
Eu fiquei com o velho, até ir para NYC,
agora voltaria para lá, as vezes sentia falta de casa, não que fosse alguma
coisa do outro mundo, tudo era muito simples.
O único quarto da casa que não tinha tatame era o de sua irmã, que
queria uma cama como todos americanos.
Ele seguia adorando dormir no tatame, o
apartamento que vivia era alugado, com tudo dentro, por isso, algumas vezes
levava um susto, pois quase caia da cama.
Estava sorrindo, Zack perguntou por quê?
Lembranças meu amigo, lembranças.
Depois lhe contaria, por duas vezes Zack
tinha pegado sua mão, sempre fazia isso, como para lhe reconfortar.
Sem querer se pegou pensando, quando o
tinha visto sem sua perna, o encaixe era justo um pouco abaixo do quadril, era
composta de três, peças, uma ia até o que flexionava, o joelho, depois está ia
até outra flexão, que era o pé.
Ele conseguia caminhar direito, mas tinha
sempre um bastão, quando a coisa complicava.
Claro imaginava as pessoas, olhando o resto
da perna cheia de cicatrizes feias, a outra também tinham, mas tinha conseguido
lhe salvar a perna.
As pessoas como ele dizia, fodas de uma
noite, da idade deles, que passavam o dia inteiro nos ginásios, fazendo exercícios,
o famoso culto ao corpo, deviam ficar horrorizadas, quando na verdade, o corpo
dos mesmos, eram feios, alguns pareciam sapos.
Numa festa tinha conhecido um rapaz assim,
o arrastou até o banheiro, quando abaixou as calças, a camiseta modelava o
tronco todo trabalhado, mas o piru, parecia de um garoto, se virou de costa,
pediu que o penetrasse.
Ficou sem saber o que fazer, nada de
romantismo, simplesmente sexo, pior não conseguia ficar excitado, pois sua
cabeça trabalhava a mil.
O outro ofendido, subiu as calças, saiu do
banheiro. Depois iria descobrir, que o
mesmo, era imensamente rico e complicado.
Não estamos livres de problemas, o famoso
negócio, quem não tem problemas que atire a primeira pedra.
Finalmente chegaram, a casa era toda
branca, com uma parte de floresta no fundo, realmente ali não se podia vir de
barco, não tinha píer.
Hugh devia ter mandado limpar a mesma,
estava impoluta.
Ele já tinha feito a distribuição dos
quartos, com uma senhora que trabalhava lá. Essa disse que hora era o coquetel
na varanda, bem como o almoço, que também seria lá.
Ele ficou num quarto com duas camas, com o
Zack, riu dizendo assim não posso segurar tua mão.
Contou para ele a história do tatame, ele
riu, uma vez quando jovem tinha dormido lá com ele, nessa época tentavam se
entender, despertei sem saber aonde estava, não sentia a cama embaixo de mim,
mas estavas ali, rindo de como eu fazia para me levantar.
Bons tempos amigo, bons tempos.
Tua mãe tinha preparado dois cafés da
manhã, um para ti e teu pai, a moda dela, como dizias tu, outro a moda
americana, para tua irmã e para mim, acabei comendo o de vocês, para saber como
era.
Deixaram suas coisas, Zack colocou uma
bermuda, com uma sunga por debaixo, para entrar na piscina, usava muletas que
tinha trazido.
Ninguém fez nenhum comentário, Hugh era uma
pessoa pratica, dei o texto original de meu pai para todos, tinha irmã tinha o
seu cheio de anotações, lhe perguntei o que era?
Perguntas nada mais, todos leram em
silencio, eu como ela tinha anotado perguntas, talvez, separando ideias, de
coisas que já sabia.
Alguns tinha ido para cidades costeiras, para
serem pescadores, inclusive conheci um rapaz, que seu pai, tinha uma frota,
começou como pescador, mas ao contrário dos companheiros que bebiam, gastando
dinheiro, ele economizava, ainda levava peixes pequenos que ninguém queria para
vender aos vizinhos.
Tinha feito um verdadeiro exercício de
memoria para se lembrar do nome do rapaz, sabia eu afinal tinha feito medicina.
Mesmo em San Francisco, existiam uma série
de restaurantes, teriam que saber se os proprietários, eram dessa época.
A melhor forma, como quase todos estavam
pela zona de Chinatown, era consultar a tríade.
Ela não parava de escrever, vi que olhava
seu celular, ia anotando nomes, talvez de seus alunos.
Nunca tinha entendido, que depois de
rejeitar tanto ser filha de vietnamitas, tivesse acabado como uma professora da
língua, embora fosse especializada em várias, inclusive falava o mandarim.
Eu tinha colocado junto a cada texto, um
bloco, bem como um lápis.
Meu pai tinha um sorriso na cara de fazer
gosto, estava ao meu lado, lhe apertei a mão, estava cheio de orgulho, que Hugh
não tivesse se esquecido de seu trabalho.
Lhe comentei das fotografias, ele rindo me
disse que tinha tudo em casa, eu só mandei cópias.
Ele só me permitiu entrar uma vez no seu
arquivo, quando procurei uma foto de minha mãe, para a lapida do cemitério.
Era uma dela, no dia que tinham se casado.
Jim foi quem começou a falar, quando
cheguei a San Francisco, vi o texto, ele tinha feito o meu trabalho, tínhamos
falado nisso antes, mas fez melhor.
Algumas vezes, quando andávamos pelo
interior do pais, minha presença metia medo no pessoa, a maioria nem chegava a
minha cintura, que adorava estar por perto eram os garotos, pensavam que eu era
um gigante.
Eu dizia ao Ji o que gostaria de saber, ele
fazia as perguntas, argumentava, escrevia, as vezes eu parecia o acompanhante,
ele tirava esse mérito dos ombros, pois eu tinha feito a pergunta.
Mas a verdade, ele conhecia as pessoas,
sabia que se fizesse como eu tinha falado, não responderiam, havia toda uma
linguagem, para se chegar ao que queria, isso ele fazia muito bem.
Minha irmã, tomou a palavra, falando
justamente do trabalho que fazia, alguns dos meus alunos, são netos desses
emigrantes, seus pais, como eu, fizeram tudo para serem considerados
americanos, então os valores que ensinaram aos filhos foi esse, hoje esses não
sabem quem são, poderia ir conversando com eles, criar um vínculo, como forma
de chegar à
família através deles.
Hugh aprovou de imediato, eu acrescentei o
que tinha de informação.
Diego funcionava como uma secretária, foi
anotando tudo, assim depois poderia coordenar, nisso ele era ótimo, pois como
tinha escrito dois livros, sabia como fazer.
Quando nos tocamos, a senhora nos avisou
que dentro de um tempo iam servir o almoço, se alguém fosse tomar banho de
piscina, seria o momento.
Mas todos seguimos ali conversando.
Falei sobre os da tríade.
Eu irei até lá apresentar meus respeitos,
ao novo chefe, disse o Jim.
Hugh com um sorriso na cara, quer dizer que
vais participar?
Sim mas desde fora, quero ajudar meu amigo,
nada mais.
Depois todos se movimentando com um
coquetel de frutas na mão, Hugh se aproximou, me disse baixinho, disse que teu
ajudante, ia te substituir, que ias participar do projeto.
Não, gostou, pior é que encontrou o rapaz,
até a alma de drogas, teve que interna-lo, agora vão transferir o mesmo para
cá.
Eu lhe disse para ficar um tempo por lá
para acertar a situação, escrever o que o outro devia ter escrito, assim ele
tinha tempo de pensar em sua própria vida.
Ele vai aceitar muito mal, que eu volte a
dirigir o jornal, acredito, que se lançara a algum jornal da competência.
Mal sabe que penso em mudar radicalmente
nosso enfoque.
Talvez consiga que o Jim, me ajude nesse
projeto, seu pai seria interessante, ele entende de fotografia como
ninguém. Pensava em fazer uma secção
toda virada para a internet.
Eu falei muito com o Peter sobre isso,
estamos defasados, toda a competência já o faz.
Porque não vais pensando nisso.
Era meu sonho, o mundo hoje todo se movia
assim, a internet começava a mandar em tudo, já não era necessário tantos
correspondentes, mas sim ter ligação com os próprios jornalistas locais, havia
era claro saber escolher.
O final de semana foi super produtivo, o
pouco que eu tinha no apartamento, colocaria em caixas, deixaria na casa do
Jim.
Basicamente embarcamos todos ao mesmo
tempo, para minha surpresa Zack pediu uma excedência no trabalho que fazia, foi
junto, não vou deixar essa aventura de lado, contigo vou ao inferno.
Jim me encostou na parede, não entendo,
vejo como vocês se olham, a cumplicidade entre os dois, porque não estão
juntos.
Eu sem querer lhe contei meu problema,
nunca conseguia desligar minha cabeça, nem fazendo sexo, era necessário que
tivesse muito romance no meio para que isso acontecesse.
Ora, parta daí, construa tu esse romance,
com ele.
Quando contei ao Zack, ele disse que era
verdade, nas vezes que tentamos fazer sexo, era como se minha cabeça estivesse
em outro lugar.
Nessa noite, com a janelas abertas para a
floresta, experimentamos, comecei eu a beija-lo, procurei desligar minha cabeça
do projeto, só pensar nele, sem querer foi como meu corpo me comandasse, deixei
tudo acontecer, chegamos juntos ao orgasmo, abraçados um ao outro nos beijando.
Ele disse ao meu ouvido, uau, finalmente
fazemos sexo como devíamos ter feito a mil anos atrás.
No dia seguinte, ao ver os dois tomando
café da manhã, para irmos embora, Jim ria, lhe disse que tinha seguido seus
conselhos.
Talvez por isso, Zack tinha resolvido ir
junto.
Ia ficar lá em casa, ele também, meu pai
tinha pedido a uma vizinha que mandasse alguém limpar.
Foi como voltar ao ninho. No salão tinha
uma bela foto de minha mãe, feita por meu pai. Jim ficou parado na frente dela,
chorando. Ver aquele homem com todo seu
tamanho chorando era impressionante.
Se virou para mim, na minha cabeça tenho a
imagem da menina, depois aqui antes de ir embora, sabia que ela faria feliz teu
pai, o sonho dele, era uma família, uma casa para viver, já que não tinha tido
no passado.
Meu pai o abraçou de lado, era e sempre
seria como um gafanhoto, abraçando um elefante, não pude deixar de rir da
ideia.
Agora uma vez por mês teria que me deslocar
a NYC, para conversar particularmente com Hugh.
O projeto começou a andar, primeiro foco
foram os alunos de minha irmã, depois tomamos frente eu e o velho, fomos
fazendo contato, graças a influência do Hugh, conseguimos saber a lista de
pessoas que tinham vindo nesse voo, em outros também.
Alguns estavam espalhados pelo pais.
Nos centramos nos que estavam ali, nas
cidades costeiras vizinhas, Jim fez uma coisa considerada temerária, foi até
Chinatown, pediu para falar com o novo chefe da tríade, queria render homenagem
ao anterior, bem como a ele.
Segundo isso, caiu nas graças do mesmo, o
velho era avô do atual. Foram os dois
uma final de dia até o cemitério, sentaram-se as sombra de um cipreste,
conversaram.
Jim conseguiu uma lista de vietnamitas que
viviam em Chinatown, fomos visitando um a um, entrevistando, o meu trabalho
depois era selecionar cada material.
Zack, me ajudava, lia ele primeiro a
história da pessoa, de aonde tinha saído, num mapa tamanho grande na sala, se
colocava uma marca, como tinha sido o percurso da mesma até Saigon ou Ho Chi
Minh, como minha irmã frisava sempre.
As histórias eram muitas, da antiga
geração, alguns viviam de uma aposentadoria que o governo americano dava. A segunda que tinha chegado em criança, ou
nascido logo depois da chegada, era a que falava, alguns até hoje se sentiam
num limbo.
Uma das historias mais interessantes, foi
de uma família, pois Jim conhecia o personagem principal, já falecido, era um militar
negro. Ele tinha adotado um garoto, na época o mesmo tinha uns 13 ou 15 anos,
não sabia sua idade real.
Era de uma tribo que vivia quase fronteira
com China, sua etnia tinha algo diferente, era quase negros, uma pele escura, os
olhos negros, quando China mandou militares para doutrinar esse pessoal, ele
escapou, na verdade não tinha família, quase todos tinham morrido numa
catástrofe natural, ele sabia que teria que chegar mais ao sul possível.
Viajava durante a noite, estava acostumado
a comer o que pudesse, principalmente o oferecido pela selva. Dormia durante o dia em cima da árvore mais
alta, em que a copa da mesma lhe protegesse.
Dali, como se visse um filme, viu barbaridades acontecer embaixo,
confrontos entre americanos e vietcong, mas se resistiu, as vezes descia,
recuperava uma arma de alguém abandonado por ali, foi seguindo, quase chegando,
os vietcong o descobriram em cima de uma árvore, como usava o resto de um
uniforme militar americano, começaram a atirar, o que chamou a atenção
justamente de um comboio mecanizado, em que a maioria dos homens eram negros.
O conseguiram salvar, ele olhava assustado
a aqueles homens imensos, todos negros, um deles, o levou consigo para a casa
que tinha fora da base, tinha se casado com uma mulher vietnamita.
Ela tratou do garoto, o mesmo era esperto,
cuidava das oficinas, principalmente dos jeep ou carros de comandantes, estes
conseguiram que adotasse o garoto.
Foi aprendendo a falar inglês, o arrastava
com ele para a garagem, segundo contava, o mesmo, no primeiro dia, escutou um
mecânico consertando o carro, parou para escutar o ruido, foi se dirigindo de
aonde procedia.
Virou o protegido desses homens a maioria
negros. Lhe conseguiam de tudo, ensinava
tudo que sabiam.
O militar, quando veio embora, os trouxe, a
mulher tinha parido dois garotos, além do que ele tinha adotado, que a ajudavam
em todo o possível, para quem não tinha família, ele agora tinha uma que ia
crescendo.
Ela, bem como ele, iam cheios de sonhos,
que se desvaneceram em seguida, pois a família dele, não aceitou nenhum,
tampouco recebeu o filho como devia.
Ele tinha fugido de seu pai, que era médico
em San Diego, pois este queria por força que fosse ser médico.
Com eles aconteceu uma coisa interessante,
de um lado os negros não os aceitavam, pois eram diferentes, de outro os
brancos que os viam como negros, mesmo os vietnamitas que viviam por ali, os
olhavam de esquerda. Mas foi junto a
essa comunidade que eles passaram a viver, o pai montou uma oficina mecânica,
ele trabalhava lado a dado do mesmo, as pessoas ouviam falar dos milagres que
esse rapaz fazia com o carro.
Ia a escola noturna, para aprender a ler e
escrever direito o inglês, nunca imaginou sofrer bullying de pessoas vamos
dizer adultas, em que todos queriam na verdade melhorarem suas vidas, mas
graças a um professor que colocou tudo no lugar, ou os pontos nos I.
Os meninos, iam a escola que iam os outros
garotos do Vietnam, claro sofriam bullying, por serem mulatos, mas aprenderam a
se defender, afinal todos agora eram americanos.
Mas na adolescência, começaram a criticar o
pai, o irmão mais velhos, queriam o que os garotos americanos tinha, ir à praia
fazer surf, nenhum dos dois queria ser mecânicos.
Os pais se sacrificaram, para que fossem a
universidade, eram bons estudantes, nada de conseguir bolsa de estudos por
esporte, logo que terminaram a universidade, desapareceram no mapa, mandavam
quando muito um cartão no Natal.
Os pais se conformavam desse filho que
tinha ficado para trás. Esse nunca se
casou, pelos problemas de infância, tampouco era um homem alto, até mesmo hoje
de longe poderia passar por um garoto.
Foi como um amor à primeira vista de meu
pai, que se identificou com ele, bem como o Jim, que meu pai chamava de
defensor dos fracos.
Atualmente ele vivia na velha casa
familiar, o pai estava numa residência de ex-militares, a mãe tinha morrido.
No enterro desta, apareceu um dos irmãos,
tinha ido a trabalho a Saigon, virou-se para o pai, dizendo que nunca deveriam
ter saído de lá.
Este ficou ofendido, lhe soltou na cara,
dizendo você acha que sendo filho de um militar americano teria sobrevivido.
Sem querer, sua irmã tinha desaparecido no
mapa, quem sempre aparecia era o Diego, sempre tinha alguma desculpas, tinha
falado na cara do meu pai, que o projeto era dele, que ela já tinha colaborado
no necessário.
Pensei que sentisse ciúmes, por eu estar
coordenando tudo, fui falar com ela, a coisa era outra, o Diego seguia
insistindo em ter filhos, ela se negava rotundamente.
Num congresso de universidades, conheceu um
professor que tinha vindo representando a de Ho Chi Minh, a convidara para ir
até lá. Quando falei com ela, estava
nas vésperas de embarcar.
Diego veio falar comigo, estava arrasado,
ela tinha aproveitado a ideia da viagem para pedir o divórcio.
Me contou uma história diferente, pois eu
sempre sabia que a dela, por detrás tinha outra coisa.
O casal amigo dele, que tinha a guarda do
garoto de cabelos vermelhos, a mulher estava gravida de gêmeos, por inseminação
artificial, estavam preocupados, como iam criar mais crianças, Diego se
interessou em conseguir a guarda, quando a assistente social o conheceu, riu
muito, pois os dois realmente pareciam pai e filho.
Minha irmã, disse que nem pensar, se ela
não queria filhos dela, imagina ter a guarda de um que ela não sabia de aonde
tinha saído.
Meu pai quando soube, ficou uma fera, eu
lhe disse para não se meter.
O mal dos dois, era que tinham comprado o
apartamento que viviam no nome dela, está o queria fora de lá com o garoto.
Diego ficou arrasado, veio ficar lá em
casa, eu adorava a inteligência do garoto, Zack também.
O projeto já estava no final, Jim dizia que
teríamos que mudarmos para uma casa maior.
Eu tinha trabalhado ao mesmo todo este
tempo, com a ajuda de informáticos, a construção do que seria o primeiro jornal
online.
Minha vida era um inferno, pois volta e
meia tinha que ir a NYC, por causa do Hugh, ele deu carta branca, teríamos que
retornar, convenci o Diego, este arrumou um emprego na universidade, alugamos
um apartamento no mesmo edifício do Jim.
Assim meu pai, cuidava do garoto.
Jim aceitou finalmente trabalhar no lugar
do Peter, que saiu pela pressão de ter que aguentar o sogro, bem como pediu
divórcio, estava vivendo com um rapaz da idade do filho dele mais velho.
Jim assumiu apesar da idade, o lugar dele,
começamos a modernizar o jornal, eu cuidava da parte que seria internet, que
acabaria sendo uma novidade, as noticias mal chegavam eram analisadas,
publicadas em seguida, montei um grupo, para que as fotos tivessem uma
relevância importante, eram elas, além do titulo que faziam as pessoas lerem a
notícia.
O jornal em papel, continuava funcionando,
mas claro as noticia sempre saiam depois, era um funcionamento diferente, Jim
foi enxugando tudo isso, de ser um jornal imenso, agora era um jornal direto,
com boa publicidade, tínhamos avançado antes dos outros.
Quando saiu primeiro como reportagem, o
projeto do meu velho, era como uma reportagem em duplicata, a primeira junto
com a segunda, pela primeira vez, foi para as bancas sendo cobradas, fez muito
sucesso.
Hugh, resolveu publicar o projeto em forma
de livro, nisso trabalhava meu pai, ia levar o Junior, como chamávamos o filho
do Diego, a escola, depois se colocava a trabalhar.
Eu andava na época preocupado com o Zack,
não andava bem, quando lhe enchia o saco para ir ao médico, me dizia que já
tinha ido, mas seu problema era cansaço.
Um dia despertei pela manhã, ele tinha
morrido durante a noite, foi uma porrada em minha cabeça, perdia o homem que
amava, bem como meu melhor amigo.
Claro a família estava para isso, foi
quando fiquei sabendo, o único que sabia era o Jim, ele tinha um câncer
avançado, por causa da prótese da perna.
Se tivesse cuidado a tempo, teriam que cortar até a cadeira, seguiriam
cortando enquanto avançasse, na carta que me deixou, dizia que já tinha sofrido
demais por isso, que nem pensar, eu não sabia, mas ele tomava comprimidos para
a dor, nos últimos dias já tinha se estendido pelos rins, foi como um enfarte,
bem próximo a falência de órgãos.
Foi um enterro, simples, ele não queria um
militar, meu consolo sem querer foi o Junior, bem como Diego, que viviam
comigo.
Soubemos que minha irmã agora vivia em Ho
Chi Minh, dava aulas na universidade, Jim como sempre bem relacionado, soube
que claro tinha se casado com um professor respeitado, que vivia fora do mundo
dos comuns mortais, que as coisas não tinha mudado tanto assim, era de uma
classe mais alta, que anteriormente ela odiava.
Meu pai, coitado nunca conseguiria
entender, dizia que como era possível, os dois tiveram as mesmas oportunidades,
ela sempre foi assim diferente, de um lado queria ser americana de qualquer
maneira, achava que as loiras, eram as americanas, um dia em sua juventude
pintou os cabelos, apareceu em casa, como loira, ficava horrorosa, minha mãe
ficou uma fera, quase lhe raspou a cabeça.
Ficou uma fera comigo, pois eu ri muito da
sua cara.
Um dia conversando com o Diego, me contou
que sabia que eu estava interessado nele, ela também, creio que foi aí que fez
tudo para me cativar, como se estivesse roubando de ti essa oportunidade. Nunca aceitou o fato de seres gay, cada vez
que referia a ti como uma puta, era motivo de briga, pois te defendia, quando
soube do teu pai com o Jim, soltou, que agora tinham duas putas na
família. Realmente ela esperava a
oportunidade, dela dirigir o projeto, escrever ela mesma tudo, mas quando viu
que não ia ser assim, se fechou mais.
O Junior foi o ponto final, um dia disse
que eu não sabia lhe dar prazer, que eu fazia sexo, como se estivesse
contigo. Me ofendi é claro.
Mas hoje em dia penso, que se não tivesse
sido tonto, teria ficado contigo, pois eres justamente o tipo de pessoa que me
faria feliz. Agora somos como uma
família, embora como todos sentimos falta do Zack, ele com o Junior era
espetacular, podia estar horas falando, me disse que era um filho assim que
queria ter tido.
Pois comigo nunca falou em ter filhos, eu
sempre quis, mas me preocupava o pouco tempo que me sobra para ter realmente
uma família, acho que na verdade ele foi mais meu amigo do que eu, pois arrumava
sempre um jeito de estar por perto de mim.
Foi ele, bem como o Jim que me fizeram
superar o fato de não saber me relacionar com outra pessoa, minha cabeça é um caso
sério, nunca para de funcionar, as vezes dormindo resolvo problemas que teria
que fazer no dia seguinte, estou aparentemente dormindo, mas ela funciona sem
parar.
Fui a um médico, disse que eu não tinha
nada errado, que era normal isso. As
vezes estou morto de cansado, desmaio, principalmente depois de fazer sexo como
fazíamos, cada um explorando o outro, em seguia para tudo, mas é como se fosse
um computador, que colocas em parado, mas que dentro de algum momento ele volta
a funcionar.
Como é isso de se explorar?
Sem querer me vi contando a ele, que os
sexos rápidos que eu conseguia antes, era tipo vapt-vupt, ou seja sem romance,
nada.
Jim me disse que eu o tinha que explorar,
romancear, seduzir, muitos beijos, nesse momento vi que Diego estava excitado.
Só me disse que minha irmã era o famoso Vapt-vupt,
nunca a vi relaxada.
Nesse momento Junior que dormia nas minhas
pernas, se despertou, rindo disse que o assunto era sério, pelas nossas caras.
Meses depois aconteceu sem querer, Junior
trouxe um amigo para dormir lá em casa, ele veio dormir no meu, acabamos
fazendo sexo, me disse baixinho, me explore por favor.
Assim fiz, foi como uma explosão, eu com o
Zack era contido, pois tinha sempre medo de o colocar com problemas com sua
perna.
Mas com ele, como dizem foi a gloria,
fizemos sexo na mesma noite várias vezes, ele dizia que queria ser melhor que o
professor.
Agora Jim anda preocupado com meu pai, a
idade, o médico diz que são os efeitos de uma infância como a que ele teve, má
alimentação, que ele tinha tido subnutrição nessa época.
Quando teve outro enfarte, não resistiu, agora
nos tocava apoiar o Jim, mas esse era um cavalo de batalha, enterramos meu pai,
avisei minha irmã, mas disse que era impossível chegar pelas horas de voo.
Queria saber se tinha alguma herança, tirei
seu cavalo da chuva, ele tinha vendido o que tinha, colocado num fideicomisso
para seu neto, o Junior, sempre o tinha considerado assim.
Ele era o mais emocionado no enterro,
agarrado ao Jim como sempre.
Quem morreu pouco depois, como tinha
imaginado a vida inteira, foi o Hugh, tinha formado uma junta que seguiria
dirigindo o jornal, com Jim a cabeça.
Só um dos netos, vamos dizer assim abriu
sua cabeça, acabou a universidade, começou a trabalhar no jornal, por baixo
para saber como funcionava, hoje era o braço direito do Jim, o outro tinha
morrido de sobredose.
Quando encontrei com o Peter no enterro, me
deu pena, estava acabado, com os cabelos brancos, junto com um rapaz, que se
via que era mantido por ele, desses que passam o dia inteiro no ginásio.
Quando me viu com o Diego, com nosso filho,
nos casamos assim que foi aprovada a lei, adotamos formalmente o Junior.
Nada de festas, apenas um dia fomos ao
fórum fizemos todos os papeis, depois um jantar junto com o Jim.
Esse um dia, me contou como tinha conhecido
o Hugh, como tinha sido sua infância.
Sua mãe era uma mulher linda, ninguém sabia
de aonde tinha saído, quando chegou a NYC, pela sua estampa foi trabalhar num
dos grandes armazéns, aonde acabou sendo contratada para scooter, de homens
milionários, que precisavam de companhia para uma festa, ou cerimonia, em sua
cabeça, descobriu é isso que eu quero.
Sem querer ficou gravida, mas conseguiu
mesmo assim depois se casar, por isso Jim sempre levou esse sobrenome.
Foi viver em Chicago com esse homem, um
milionário, quando tinha uns doze anos, esse homem abusou dele. Quando reclamou com a mãe, ela levantou os
ombros, pois como dizia, gozava de um situação social, que tinha sonhado a vida
inteira, que ele devia colaborar, ele fugia do padrasto o mais que podia. No verão subia para dormir no telhado, mas já
era inteligente, na escola, se meteu a aprender a se defender, não lhe
interessava os jogos, mas sim as lutas.
Quando tinha 16 anos, já era alto, forte, o
velho conseguiu entrar no seu quarto, não teve dúvida, cortou seus ovos, levou
ao quarto que a mãe dormia, deixou em cima dela.
Só tiveram tempo de levar o homem para o
hospital, ele queria se divorciar, ela o ameaçou com um escândalo, sabia de
suas saídas de tom com jovens.
Com isso conseguiu um apartamento para ele
viver, fora dali, logo foi a universidade estudar jornalismo, com bolsa de estudos,
nem tinha acabado ainda, já estava metido no melhor jornal da cidade, foi
quando conheceu o Jim.
Deixou de usar o sobre nome do homem,
usando só o dela, pois não tinha outro.
Queria sim comer o mundo, foi para NYC,
levado pelo Hugh, a quem considerava como um pai.
Este lhe deu bons trabalhos, para se firmar
no jornal.
Quando precisou, conversou com ele, o
mandou para o Vietnam, foi quando conheci teu pai.
Ele para sobreviver tinha feito de tudo,
inclusive se prostituido, com soldados americanos, por isso quando o ajudei,
pensou que iria fazer isso.
Quando deixamos o hotel, uma noite ele veio
dormir comigo, foi o melhor da minha vida, ele sabia cuidar de mim, eu com todo
esse tamanho, era um tonto com respeito ao sexo, era o famoso do vapt-vupt, que
vocês falam.
O amei como nenhuma outra pessoa, foi
quando resgatamos tua mãe, claro como você sabe ele sonhava como todos, uma
coisa diferente da minha, ter uma casa, uma família.
Acabaste sendo o filho que ele tinha
sonhado ter, bem como o Junior o neto que ele queria, mesmo no final, o tentei
ver ou imaginar como funcionava a cabeça da tua irmã.
Ele dizia teve uma mãe, que podia ter todos
os defeitos, mas os amava de mesma maneira, mas para ela o único defeito era
que sua mãe não era americana.
Agora isso, volta para o buraco de aonde
saímos, dizendo que lá é melhor do que era aqui.
Queria ver se fosse uma mistura de raças,
como seria aceita lá.
Ver a família que formaste com o Diego,
para ele foi fantástico, a última vez que fomos a San Francisco, vendeu a casa,
bem como o lugar que tinha a loja de fotografia, abriu essa conta, queria que o
Jr tivesse oportunidades.
Para surpresa de todos, no ano seguinte ele
entrou para a universidade, com uma nota espetacular, foi estudar jornalismo,
dizia que a culpa era de todos, pois em casa os assuntos eram sempre as últimas
notícias.
Nas primeiras férias já estava trabalhando
no jornal, era como muitos, indo de uma lado para outro lendo as notícias, depois
quando acabou, veio trabalhar comigo, aliás era melhor do que eu nesse
trabalho.
Jim apesar dos seus 80 e picos, seguia
trabalhando, ou melhor era assessor do neto do Hugh, para desgosto do Peter.
Eu ao contrario me aposentei, queria
escrever, cuidar do Diego, viajamos muito, realizamos velhos sonhos, nunca
imaginei que um amor de juventude fosse acabar assim.
As vezes me lembro do Zack, sinto saudades
de meu amigo, Diego se preocupa, pois nesse dia fico triste, ele também adorava
o mesmo, assim falamos dele com normalidade.
Junior chega em casa, solta logo, xi os
dois estão com saudades do tio Zack.
Mudamos todos para um apartamento maior, para
o Jim não ficar sozinho, mas o sem vergonha não para, logo quer saber o que eu
estou escrevendo, ou o Diego, que esta já no seu vigésimo livro.
De minha irmã, nunca mais soubemos.
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