SWALLOW

 


Vinha engolindo em seco a vida inteira, tragando tudo o que sua família o fazia engolir, seu orgulho de homem sério.   Desde que ele tinha memoria tinha sido assim, seus irmãos mais velhos lhe pegava, seu pai e sua mãe ignoravam, a única pessoa que saia em sua defesa era sua irmã, Beth.

Tinha sido ela que ao saber que ele ia para um colégio interno, protestou que ele era ainda muito pequeno para isso, lhe levava 8 anos de diferença, levou uma bofetada na cara de seu pai, por ousar desafia-lo.

Era a única que lhe escrevia, tinha suas cartas todas guardadas, era seu único consolo, um garoto de 8 anos, indo para um colégio interno, com uma estrutura rígida, pior do outro lado do atlântico.   Quem o levou foi um monge amigo de seu pai.  Nessa época, nem tinha noção de aonde realmente estava.

Metade dos alunos, eram de família rica, o resto de famílias com dinheiro, além de importantes.

Morria de inveja deles, que iam para casa, nos seus aniversários, Natal, nas férias.  Ele ao contrário ficava.  Com o tempo passou a gostar disso, pois o colégio ficava silencioso, ele podia desfrutar da biblioteca sozinho, escolher os livros que queria ler.

Tinha pouco contato com o mundo exterior, as vezes tinha pesadelo, eram lembranças vagas, dele em pequeno, alguém o levando pela mão, o deixando na mansão familiar.

Um dia, quando tinha uns 16 anos, o mesmo monge que o tinha levado, o avisou, amanhã voltas comigo para Inglaterra, apronte tua maleta.

Ele quase riu, que maleta, se tudo o que tinha era o uniforme do colégio, roupas interior marcadas com seu nome, que ele mesmo tinha que fazer.

Pegou em cima do armário, uma maleta velha que estava ali desde sempre, enfiou o que tinha no armário, seu único luxo, duas livretas aonde anotava seus pensamentos.

Mas só de pensar em rever sua família, lhe dava escalafrios.

Quando veio, tinha sido de navio, agora voltavam de avião. Pelo menos era mais rápido.

O monge o levou até a velha mansão, cada vez mais descuidada.

A única que lhe fez festa foi sua irmã, soube então que sua mãe tinha morrido, bem como os dois irmãos mais velhos.   Tinha ido a guerra, não tinha retornado.

Ela o levou até a imensa biblioteca, aonde estava seu pai, com uma cara amarga de toda a vida, com o monge.   Ele tinha sido um dos melhores alunos da escola, suas notas eram altas.

Mas seu pai, ao invés de perguntar como ia, fazer algum carinho, só lhe disse na cara, se sonhas em ir à universidade, esse sonho se acabou.

Mais tarde viu que sua irmã, falava baixinho com alguém por telefone, estava indo em direção ao seu quarto que continuava o mesmo.  A cama agora era pequena para ele, teria que dormir atravessado, ou colocar o colchão no chão para dormir.

De manhã, acordou com uma discussão imensa na biblioteca, sua irmã lhe fez sinal que não devia se aproximar, o levou para a cozinha, aonde ela mesma preparou o café.

Lhe disse sem nenhuma emoção na voz, acabou-se ter empregados, o velho perdeu tudo, com a morte dos meninos, ela sempre se referia aos irmãos assim, o velho ficou perdido, foi vendendo tudo, só sobrou essa merda de casa, bem como uns poucos acres de terra, o resto foi para a merda.   Era raro a escutar dizer um palavrão.

Agora usava os cabelos, como sua mãe, presos num coque.

Os gritos eram muitos, só escutava uma voz potente dizendo que seu pai era um ladrão, que ele não perdia por esperar, que o tinha roubado várias vezes.

Entrou um homem alto no cozinha, sua irmã soltou olhando para ele, este é o tio Oscar, deves ir com ele.

O homem se aproximou, fez um gesto que ele nunca se esqueceria, passou a mão pelos seus cabelos o despenteando.

Subiu com sua irmã, fechou a maleta, agora era tão alto como ela, esta o abraçou, lhe disse ao ouvido, confie nele, pelo menos é melhor que nosso pai.

Quando ele saiu, este já estava dentro do carro, um jaguar que brilhava ao sol. Quando ela o beijou, viu que seu pai olhava com cara de ódio, da janela da biblioteca.

Já não voltaria mais a esta casa.

Tio Oscar lhe pediu perdão por muitas coisas, me desculpe, não falo muito quando estou conduzindo.

Assim foi, mas de vez em quando passava a mão por cima da sua, como um gesto de carinho.

Quando chegaram a Londres, se dirigiu a uma zona residencial, que ele depois sempre ligaria, com uma classe de pessoa, entrou por uma entrada especial, deixou o carro na garagem.

A casa, parecia um museu, isso ele se lembrava de ter ido a um com a escola.

Essa era a casa da família em Londres, me tocou como herança, meu irmão mais velho herdou as terras, a mansão familiar, resta pouco já disso tudo.

O levou para cima, disse que ele podia escolher o quarto que quisesse.  Olhou todos, achou horrível, todos tinham papel de parede cheio de flores, escolheu um que tinha desenhos geométricos.

Eu também odeio tudo isso, mas passo pouco tempo aqui.

Depois se sentou com ele na biblioteca, desculpe ser assim tão seco, mas é minha maneira de ser.  Eu trabalho no Foreign Office, por isso vivo viajando pelo mundo, no momento, tenho que embarcar para Australia, para resolver problemas lá.

Tens poucas opções para seguir em frente no momento, meu irmão gastou todo o dinheiro que estava destinado a ires para Oxford, ou qualquer universidade.

Tens o exército, aonde morreram os dois filhos dele, ou entrar para uma academia de polícia, ou então um emprego no comercio.

Ele nem pensou duas vezes, prefiro entrar para a polícia, nada de exército.  Se lembrou de um dos monges que era contra as guerras, sempre falava nelas, lhe faltava um braço, que ele tinha perdido na guerra.

Perfeito, amanhã, vamos te inscrever na academia de polícia, durante esse período, viveras lá, mas vamos abrir uma conta num banco, assim deposito todos os meses, dinheiro para que possas ir vivendo.

Saíram para comer, o que se tornaria um hábito quando ele estava na cidade.  Podia passar uns seis meses ou até um ano, sem que voltasse a saber dele.

Quando acabou a academia, fez uma prova, foi chamado para trabalhar na Scotland Yard, aceitou, com o dinheiro que tinha guardado alugou um pequeno apartamento, o mínimo, comparado com a casa de seu tio, ele lhe perguntou se queria viver lá.  Disse que estava acostumado desde o internato, a viver com pouco, que isso o fazia se sentir seguro.

Começou como um dos mais jovens da Scotland Yard, seu primeiro trabalho, era quase um office boy, levar papeis, depois, ajudava nas pesquisas que os inspectores precisavam.

Ele era exato no que fazia, tinha uma letra legível, não como as do inspectores, mas depois de um tempo entendia o que escreviam com pressa.

Pesquisava tudo que queriam.   Um dos inspetores, era o único que elogiava seu trabalho, dizia tens futuro.  Quando o companheiro deste se aposentou, começou a trabalhar com ele, foi como ir a uma escola de alto grau. Lhe ensinou a observar tudo, ao chegar a uma cena de um crime, parar para vestir um protetor de sapatos, colocar as luvas, tirar o bloco de anotações, anotar tudo que via de diferente, a mínima coisa.

O chefe diria depois que não sabia qual dos dois era o mais preciso nos seus relatórios, este o fazia fazer um relatório, depois comparavam um com o outro.

As outras duplas eram diferentes, só um deles anotava, fazia o relatório, era como se fosse empregado do outro.   No caso deles, isso era diferente, se sentavam depois numa sala, um passava o relatório que tinha feito para o outro, para ver o que um tinha visto a mais.

Por isso segundo o chefe, eles era a melhor dupla que tinha.  Essa mania de analisar tudo, quando recebiam as provas do legista, das provas de balas e analise de drogas.

Tornavam a se sentar, para procurar alguma coisa que tivesse passado desapercebida.

Agora passado dez anos, ele estava com 31, seu parceiro se aposentava, dizia que não sabia ainda o que ia fazer, tinha herdado uma casa, na praia de Brighton, disse que talvez recuperasse um hábito de criança, ir pescar nas rochas.

Não estava contente em ter que fazer isso, mas entendia que com os anos, era mais lento, se tinham que correr atrás de um bandido, tinha que ser ele, pois este se cansava fácil, dizia que era muita cerveja tomada no final do dia.

Peter ao contrário não bebia, não gostava do sabor de nenhuma delas.

Estava sentado em sua mesa, com um dos últimos relatórios que tinham feito em conjunto, quando foi chamado pelo chefe de polícia.

Foi imaginando que lhe diria que tinha que escolher um companheiro.   Isso ia ser muito difícil, foi repassando em sua cabeça todos os novatos que tinham no momento.  Nenhum lhe dizia nada, eram todos imaturos, sempre com os modernos celulares na mão.   O seu já era antigo, na verdade, a não ser o número de sua irmã, com quem falava uma vez por semana, o de seu tio que sempre dizia que não estava operativo, não tinha muita gente para chamar.

Diziam que ele era um lobo solitário, de uma certa maneira isso era certo, de todas as pessoas que tinha tentado se aproximar, fosse homem ou mulher, logo perdia o interesse.

Se era para uma noite de sexo, ficava louco que a pessoa fosse embora em seguida, se fazia entender que queria ficar para dormir, ele soltava logo que se levantava muito cedo, para ir trabalhar.

Na verdade de manhã se levantava muito cedo para correr, um hábito antigo, não tinha tempo para estar nos ginásios, tão em moda hoje em dia, saia para correr, depois tomava um banho, seu armário era parco, trajes de verão, trajes de inverno, tudo para ir trabalhar.

Levava tudo para uma tinturaria ali perto de seu apartamento, só meias e cuecas que lavava no banheiro, o resto ia tudo para lá.

No momento de uma certa maneira estava cansado, como despedida, tinham passado quase um ano a caça de um pédofilo, que matava depois as crianças que raptava.

Sem querer foi uma observação sua que levou o caso ao final, era um bairro de gente humilde, todos sempre tinham muitos filhos.  Os meninos iam a escola, depois jogavam bola num terreno baldio em frente as casas todas iguais.

Tinha visitado cada uma, só uma o dono lhes pediu nada mais ao entrar que não fizesse muito ruido, pois sua mãe vivia na cama.

Este tinha um quarto de frente para esse terreno baldio, desconfiou dele desde o princípio, mas levava uma vida cheia de regras e horários.

Foi o que o fez ficar atento.  Ele discutia com seu mentor isso, um assassino em série, sempre tinha métodos e rotinas.

Mas foi um garoto curioso que lhe deu a dica.  Se entras pelo beco, tem um muro alto, ao contrário das outras casas, ele tem uma saleta, com um circuito fechado de vídeo.

Esperaram que o outro saísse de casa para as compras, ele pulou o muro, entrou pela cozinha, no tal circuito fechado, se via uma criança presa numa parede por correntes.

Filho da puta, pensou, avisou seu companheiro.         Ficarei dentro da casa, tu vens atrás dele quando volte do mercado.

Assim fizeram, ele fez um escândalo imenso, já tinha subido, sabia que não existia mãe nenhuma no andar de cima.

Levava no cinturão um molho de chaves, até descobrirem a que abria a porta para baixo, foi difícil, eram muitas.

Quando chegou a ambulância, para levar o garoto que estava totalmente desnutrido, coberto de sangue, aonde ele tinha o sistema, descobriram uma quantidade de vídeos, que ele gravava, tudo.

Foi o que o condenou.

Seu parceiro, disse que este último trabalho, o tinha deixado enojado do ser humano, por isso, finalmente aceitava a aposentadoria.

Bateu, entrou na sala do chefe, que estava com um outro inspector.

Temos um problema gordo, a quanto tempo não sabes de teu tio?

A última vez que o vi, fazem quase dois anos, ele disse que ia para as colônias, nunca dizia muito bem aonde ia.

Bom, aconteceu alguma coisa, um desses ladrões de meia tigela, entrou por detrás, conseguiu romper o vidro, abrir a porta traseira.  Imaginou que nessa casa não havia movimento nenhum, andou pelo que parece perguntando aos vizinhos, estes disseram que o senhor passava muito tempo fora.   O coitado levou um susto de fazer gosto, entrou, ao chegar à biblioteca, encontrou teu tio sentado, vestido de militar, morto.   Segundo a perícia, está morto, devem fazer mais de um ano, pois está como que mumificado, o que assustou o ladrão, os vizinhos escutaram o barulho dele tentando sair, chamaram a polícia.

Não puderam entrar pela frente, pois o correio era deixado, foi caindo no chão, o que impedia abrir a porta.   Tiveram que fazer o mesmo que o ladrão, entrar por detrás, retirar uma quantidade imensa de cartas, jornais, tudo que estava acumulado na porta da frente, para entrarem.

Vou até lá com vocês.

Ele de uma certa maneira sentia muito, mas cada vez se encontrava menos com o tio.  No carro foi se lembrando da última vez, o achou mais pálido, magro, os cabelos todos brancos.

Como sempre saíram para jantar no mesmo restaurante que ele ia sempre que estava em Londres, disse que já estava farto do seu trabalho.

Nunca tive vida própria, sou pau para toda a obra, falava várias línguas, dialetos, principalmente o árabe, motivo pelo qual sempre estava em algum pais do oriente médio.

Quando chegaram, como sempre havia uma pequena multidão ali, esperando alguma coisa.

Não havia cheiro, achou estranho o ver sentado na sua poltrona preferida, vestido de militar, cheio de condecorações, um dos braços estava caído ao lado, com um revolver no chão.

Acreditamos que ele se suicidou.   Ele achou estranho, pois estava do lado direito, sabia que ele era canhoto, comentou isso com o inspetor.

Havia um lenço ali no chão, segundo o legista, tinha apesar de fraco, como que se fosse alguma coisa que lhe chamava atenção, o levaremos para examinar.

O tiro deve ter tido uma trajetória diferente.

Notou que os botões da camisa, não estavam como devia ser, creio que ou o vestiram, ou foi obrigado, fazendo errado de propósito.

Ficou com pena dele, viveu sozinho a vida inteira, morreu sozinho.

Foi difícil colocar o cadáver na maca, pois a carne a muito tinha desaparecido.

Subiu com o outro inspector, sabia aonde estava as chaves do quarto, que ele escondia, não sabia por quê.

Quando abriram a porta do quarto, levaram uma surpresa, tudo estava em seu lugar. Em cima do escritório, tinha outro revolver.

Comentou com o inspector, esse era o seu, acredito que o outro não, mas com ele tudo isso era possível.

Em cima da mesa, tinha um maço de cartas dirigida a ele, um bilhete dizendo que era para seu filho, mas o nome era o seu.   Um número de telefone, com um nome, advogado Maurice.

O inspector imediatamente chamou o mesmo.

Ele começou a olhar as fotos que estavam ali, uma em especial lhe chamou a atenção, era o tio muito jovem, no deserto, abraçado a uma mulher, ela levava as roupas tradicionais árabes.

Sentiu um aperto no coração, intuía que era sua mãe.

Só não entendia ele o chamar de seu filho.

Quando o advogado chegou, disse que tinha suas últimas vontades, era ser cremado, levado para Israel, que deviam ir ao deserto, soltar suas cinzas, para que ele pudesse se reencontrar com sua mulher.

Ele era teu pai, não dizia nada, pois achava que como pensava que seu irmão te tinha criado como filho, isso faria uma imensa confusão.

Nem tua irmã, ou prima sabe.

Os dois estão citados para leitura de testamento.

Agora as coisas faziam sentido.   O chefe de policia que tinha escutado isso, disse que o sabia também, foi ele quem me pediu que te olhasse por ti, cada vez que estava na cidade, um dia almoçávamos juntos, o colocava a par dos teus avanços.

Ele ficou olhando pela janela do quarto, tiveram que antes abrir, cada janela tinha outra por dentro como uma segurança.

Ele por fora era a paz absoluta, mas por dentro, fervia de ódio de quem pensava que era seu pai.

O chefe perguntou se queria que o avisasse?

Não eu vou até lá para contar, inclusive o coloque na lista de suspeitos.

Não sei se sabes, mas teu tio, ou teu pai, trabalhava para o Foreign Office, mas também para o MI5, por isso passava tanto tempo fora do pais, o quiseram para trabalhar interno, mas ele odiava essa possibilidade.

Perguntou se podia ficar com as cartas, afinal estavam dirigidas a ele.

Sim, se encontras algum motivo para esclarecer tudo isso, nos avisa.

Estava completamente desencaixado com tudo isso.  Achava estranho o comportamento dele, mas daí ser seu pai?

Tomou um taxi, foi até seu apartamento, apesar de já ter tomado um banho, como estava totalmente estressado, tomou outro, ficando com a cabeça embaixo do chuveiro, podia chamar, mas preferia ir enfrentar o que pensava que era seu pai.

Se vestiu como fazia quando estava de folga, calças jeans, um camiseta de cola alta, um casaco de couro negro, sua roupa preferida.

Desceu a garagem, a muitos anos tinha ali o carro do tio, seu pai, fez ele a correção mental, lhe tinha dado de presente, dizendo que ele quando estava em Londres, usava taxi.

O carro estava como novo, o motor era revisado sempre por um mecânico, que ele tinha ajudado num caso complicado.

Tomou rumo para sair da cidade, quando entrou na estrada secundária, deixou sua cabeça vagar retrocedendo no tempo.  Agora entendia muita coisa, o porquê os irmãos as vezes o chamavam de bastardo, a maneira gélida da que pensava que era sua mãe, mesmo a do que pensava que era seu pai.

Sabia que Oscar, tinha ajudado a sobrinha a conseguir um empréstimo, para transformar a mansão num hotel de luxo, desses rural.

Que seu pai tinha feito o maior escândalo com isso, mas que os dois agora viviam na casa que estava na entrada, que antigamente era a casa do administrador.   Sua irmã, não o queria na mansão, pois era mal educado com os hospedes.

Ela o tratava duramente, afinal ele tinha perdido toda a fortuna da família, em jogo, nos seus vícios com cavalos de corrida.

Sempre foi um filho da puta, pensou, uma vez disse a sua irmã, que ela o devia colocar numa residência de pessoas de idade.   Ela tentou, mas não o quiseram pelo seu mal humor.

Quando estava para chegar, parou o carro, disse que precisava falar com ela.

Estou na mansão.

Ele disse que era urgente. Te espero na tua casa.

Respirou fundo, pensou esse filho da puta, vai escutar uma quantas verdades.

Quando chegou, ele tinha uma forma sempre de se controlar, respirou fundo.

Quando se sentaram no pequeno salão, o velho sarcástico como sempre, lhe disse, a que devia a honra da tua visita.

Venho comunicar a morte de meu pai.   Ficou esperando a reação do outro.

Este só respondeu, já vai tarde, finalmente me livro dele.

Quem reagiu foi sua irmã.

De que pai falas. O nosso está aqui.

Tio Oscar era meu pai verdadeiro, verdade filho da puta?

Esse riu, fez menção de se levantar para sair, ele de um salto o empurrou de novo para o sofá.

Não passas finalmente disso mesmo, por que nunca me falaram?

Ele respirou fundo, abaixou a cabeça, soltou.

Um dia ele apareceu aqui, estava destinado em Israel, começava a guerra para formar o estado Judeu, ele tinha se casado com uma árabe, dessas que vivia no deserto do Sinai.

Ela morreu num atentado em Jerusalém, ele te trouxe, temia por ti.

Combinou comigo depositar dinheiro sempre para tua manutenção, bem como dinheiro para um dia ires à universidade.

Mas para mim, minha mulher, eras um bastardo, tínhamos um nome, ele ter se casado com uma árabe, era o fim.   Por isso sempre te escondemos.

Quando descobriu que o dinheiro que mandava para ti, eu gastava em outra coisa fez um escândalo, por isso te mandei para os Estados Unidos, ele não podia te encontrar.

Lhe disse só que estavas vivo e protegido, sempre o odiei, por ser o mais inteligente, ele devia ter herdado a mansão, mas como estava no exército, meu pai elegeu a mim.

Sempre te odiei, a ele desde pequeno, depois se intrometeu, deu dinheiro a minha filha para transformar a mansão num hotel.

Como sempre cospes no prato que te dá de comer.  Desta vez, acabou, amanhã mesmo vais para uma residência, perdi minha juventude, minha vida cuidando de ti.  Mal agradecido.

Não contem comigo, para ir ao enterro desse desgraçado, disse por último, enquanto os dois saiam para o campo.

As vezes soltou ela, tenho vontade de mata-lo, mas como todo bicho ruim o filho da puta não morre.

A última, aprontou com um hospede do hotel, que tirou um livro da estante para ler, se atreveu sentar-se na poltrona que ele considera sua. Só faltou dar uma surra no hospede.

Sempre foi assim, o único certo é ele.

Agora entendo por que sempre te tratou mal, mas se não fosse o Tio Oscar, já estaríamos na rua da amargura a muito tempo.  Quando reformei a mansão, foi ele quem conseguiu o empréstimo, bem como me ajudou.

O mais interessante é descobrir que tive meu verdadeiro pai perto de mim, mas ele cada vez mais estava fora.  Tanto que ninguém desconfiou que estava morto dentro da casa a mais de um ano.

Eu só ia lá quando ele estava, como gostava de tudo no seu lugar, dizia que era um coisa de velho.    Mas creio que foi assassinado, porque o revolver, estava do lado direito.

Ele era canhoto, vamos ver o que diz a autopsia, assim que souber alguma coisa, te aviso, o advogado te chamara, para a leitura do testamento.

Estava a meio caminho, quando foi avisado pelo seu chefe que o MI5, tomava conta do caso, acham que o descobriram em sua última movimentação, no Irã, por causa de algo a ver com a política atômica de lá.

Quando chegou em casa, falou com o advogado, passou o número novo do celular de sua irmã, a seguiria considerando assim.

Saiu para comer alguma coisa, estava irritado, na verdade beliscou, o dono do restaurante perguntou se a comida não estava boa, ele se desculpou disse que na verdade não tinha fome.

O homem embrulhou para ele levar.

Colocou na geladeira, se sentou numa velha poltrona de couro, o único luxo que tinha, colocou o maço de cartas nas suas pernas.

Quando desamarrou, viu que estava por ordem cronológica, a primeira estava aberta, dentro tinha um bilhete, estas cartas recuperei da maioria da casa do meu irmão.   O advogado te dará uma chave de um cofre no banco, aonde estão os meus diários.  Estas cartas foram escritas, até o nosso reencontro, peço perdão de ter-te colocado em tal situação.

As primeiras cartas ele devia ser criança, falava da sua mãe, como a tinha conhecido, dizia que queria que ele não perdesse suas raízes.

Parou para pensar, na verdade sou a pessoa mais sem raízes que existe, tirando meu emprego, não tenho nada.

Falava como a tinha conhecido, a paixão que tinha tido por ela, tinha 17 anos, seu pai a vendeu porque já tinha filhas demais.   Mas me casei com ela, nada mais conseguir documentos, primeiro na embaixada inglesa, o que causou um certo escândalo, depois pelo rito mulçumano como devia ser para ela.

Quando descobri que estava gravida de ti, fiquei como um bobo, embora eu fosse jovem demais, tinha na época 21 anos, já era pai.

Quando ela morreu num atentado, tive que te trazer para Inglaterra, corrias perigo lá, a eminência de uma guerra era muito grande.  Foi quando comecei a trabalhar para o Foreign, mais tarde para o MI5, pois falava árabe perfeitamente, passei anos sem poder vir te ver, mas escrevia sempre.

Todas essas cartas falam desse período, a maioria foi aberta, censurada, tornaram a fechar, muitas coisas vão te parecer sem sentido, mas no banco entenderás pelos meus diários.

Leu todas, era o que ele gostaria de ter lido quando criança, realmente algumas estavam censuradas, mas não importava, sabia que a sua maneira ele o amava.

Agora pelo menos tinha um foto de sua mãe, vestida a maneira árabe do deserto, outra em trajes civis em Jerusalém.

Agora podia entender a cor de sua pele, bem como dos seus olhos, eram parecidos com ela.

Numa das cartas contava como tinha sido o enterro dela, que ele a levou junto aos seus no deserto, o quanto tinha sido difícil, mas era o sonho dela.

Um dia quero estar com ela, outra vez, nunca mais amarei ninguém.

Noutra ele comentava como ela reclamava que ele era parco em carinho, disse que não tinha tido na infância, que não sabia demonstrar carinho.   Um defeito que tenho.

Foi avisado da cerimônia, do enterro dele.  Estavam alguns chefões do MI5, bem do outro trabalho, todos vieram falar com ele.

Depois o chefe de policia o levou a parte, na hora que levaram para cremar.

Realmente foi assassinado, não sabemos ainda por quem.  Lhe enforcaram, para depois dar o tiro, o devem ter vestido depois.

A pessoa ou pessoas, não sabiam que ele era canhoto, boa observação tua.

Mas tem um detalhe, ele tinha se aposentado a uma semana, tinha um tumor imenso no pulmão, não teria vivido mais tempo, talvez por isso temos a sensação de que não lutou.

Creio que a única coisa que saiu errada, foi que imaginou que entrariam na casa antes.  Mas esse hábito dele de estar tanto tempo fora, não ajudou.

Tome o tempo que necessites para tudo isso.  Seu velho companheiro estava lá, venha um dia a minha casa, temos que conversar.    

Sua irmã também estava presente, foram os dois depois de comer, ao advogado.

Este leu o testamento.  Que deixava para ela a parte dele na mansão, que tinha investido na reforma, por ela, não pelo irmão.

Depois a casa de Londres, bem como um apartamento em Paris, para ele, além de dinheiro no banco, bem como o que tivesse nas duas caixas fortes do banco.

Pedia para ele levar suas cinzas para o deserto do Sinai, que infelizmente a tribo de sua mãe, estava a muito tempo dispersa, ele mesmo tinha tentado ter contato, mas tinham se espalhado.

Já não me lembro aonde deixaram as cinzas, não importa se a soltas no deserto, a encontrarei.

Aproveite a vida, não faça como eu, desperdicei a minha, não convivi suficiente contigo.

Sua irmã, foi embora, se despediu dele, dizendo o que necessites.

Ele quase disse que necessitava se encontrar.

Foi ao banco com o advogado, levou um susto, com o dinheiro que tinha na conta de seu pai, agora podia dizer seu pai, em vez de seu tio.

Para o Maurice, o advogado, achava como ele trabalhava para o governo, além de estar fora do pais, devia gastar pouco, pois tudo devia correr por conta da empresa.

Mesmo assim ele tinha dois trabalhos, devia ganhar dos dois.

Pediu um extrato, para analisar as contas.

Depois desceu com a chave que agora era sua para ver os cofres, porque não era um só.

Mais uma surpresa, em um estavam os diários, no outro, documentos com uma carta em cima, mais dinheiro embaixo.

Na carta dizia que tinha se aposentado a muito tempo, mas não sabia não fazer nada, que dava assessoria aos países árabes, com relação ao comercio com Inglaterra, principalmente relativo ao petróleo, por isso tem tanto dinheiro na conta.

Os diários tinha a época anotada na capa.  Levou dois, assim iria lendo com calma, pois não sabia se tinha alguma coisa secreta.

Tinha que pensar no relativo à casa, podia vende-la, ou mesmo reformar ir viver lá.

Embora a achasse grande.   Como estava fechada a tanto tempo, podia continuar mais um tempo assim.

Foi para casa, se sentou calmamente na sua poltrona, se colocou a pensar no assunto, se alguém o tinha assassinado, devia ter relação ao que ele fazia agora, assessoria aos países árabes.

Teria que ir até a casa para ver se encontrava alguma coisa relativa a isso.

Telefonou ao inspector que tinha começado a investigação, este disse que não tinha encontrado nada entre os papeis, o que trouxemos o MI5 levou tudo.

Mas não revisamos os livros, só trouxemos o que estava em cima da mesa, nos arquivos.

Ele não usava laptop pelo visto, pois não encontramos nada relativo a isso.

Mas pela autopsia, acreditamos que tenha sido assassinado.

Como e porque, ele sabia que o MI5 nunca diria nada a ele.

Tratariam tudo como máximo segredo, afinal ele era um do quadro.

Tirou o primeiro, olhou como ele escrevia, de uma certa maneira era como ele, a letra era perfeitamente legível.   Olhou a data, ele nem tinha nascido ainda.

Foi lendo, um relato de um rapaz com 17 anos, que não tinha ido a guerra, servia na antiga Palestina, ocupada por ingleses, que controlavam a zona.

Seu primeiro contato com um mundo completamente diferente do seu, estavam começando a chegar judeus vindo dos campos de concentração.   Mas falava principalmente do tempo que passava perto do deserto do Sinai, das tribos que ainda viviam como nômades, estava aprendendo árabe e hebreu, há que entender o que falam, achando que não sei nada, ficarei sempre quieto para escutar, aprender, a ler nas entrelinhas.

Fala do primeiro contato com a tribo de sua mãe, como ele tinha ficado deslumbrado com a beleza dela.

Das noites que dorme no deserto, olhando as estrelas, sonhando com um novo mundo.

Há um detalhe que lhe chama a atenção, comenta que escutou numa reunião de seus superiores, que o momento que saiam dali, o que vai acontecer.

Ele começa a fazer contato, por saber hebreu, com os dois grupos que querem a independência da futura Israel.

Ganha a confiança dos dois, o mesmo faz com os palestinos, que pensam que serão roubados.

Como é moreno, se veste a maneira árabe, para ir aos café, escutar as conversas.

Acompanha as construções dos Kibutz, achando que de um lado é a recuperação das pessoas que sofreram tanto, ao mesmo tempo, alguns estão cheio de fanáticos.

Analisa isso, que os que comandam lhe parecem sempre pessoas mais fanáticas.

Sabe que existe um exército sendo construído nas sombras, recebem dinheiro da comunidade judia americana.

Fala do primeiro contato do MI5 com ele, já sabem que fala árabe e hebreu, como dá a baixa no exército, passa a trabalhar na embaixada, com isso viaja a Jordânia, Síria, Líbano, para ver como se movem os grupos do outro lado.   Inclusive fala de um tempo que passa na embaixada do Egito, aonde vai fazendo contato.

Sabe que os governos desses países não querem os judeus ali, os movimentos de exército.

Faz boas amizades em todos esses âmbitos.

Para seus superiores, ele é como um peixe em águas estranhas, mas dentro delas ele se apanha.

Faz um mesmo comentário que depois verá que se repete muito.   Alguns antigos do MI5 e do Foreign não gostam como ele trabalha, ainda pensam como colonizadores, ele toca sempre nisso.

No segundo fala da ajuda que tem da tribo de sua mãe, finalmente se casam, contra a vontade de seus superiores, mas ele diz que assim tem um contato maior com as tribos espalhadas que começam a se unir contra um inimigo comum, Israel.

Seu sogro é uma figura importante nisso tudo.

Vivem em Jerusalém, ele insiste que ela se comporte como uma pessoa ocidental, ela já fala inglês corretamente, se veste de maneira ocidental.   Não podemos chamar a atenção.

Quando descobre que esta gravida, fica primeiro assustado, acha que não tem estofo para ser pai, principalmente que não sabe demonstrar carinho, como ela sempre lhe reclama.

Tenta explicar a ela, que na sua família, isso nunca existiu.  Que ele tinha se livrado das garras de seu pai, entrando para o exército, que não manter contato com a família por isso.

Esse diário termina quando fala do atentado em que ela morre.

Agora temos atentados dos dois lados, os ingleses estão fartos, o exercito está sendo retirado lentamente, os conflitos aumentam.

O medo por seu filho, seu sogro quer o garoto do lado dele no deserto, mas sabe que isso significaria a morte dele, coisa que vem vendo todos os dias.

Para um povo que sofreu, como os judeus, agora eles são os carrascos, não se importam que morram crianças, nas coisas que fazem.

Depois de muito pensar, leva o filho para a mansão familiar, fala muito com o irmão, não entra em detalhe que trabalha para o MI5, apenas diz que trabalha na embaixada.

O outro já começa a gastar o dinheiro da família, esse não tem cabeça para os negócios.

Vai dormir pensando nisso tudo.

No dia seguinte pela manhã muito cedo, vai a casa do tio, examina bem o escritório, ao lado tem um desses em que existe uma tampa que desliza, não encontra nada, até que move a última gaveta, só sai com muita força, tem um envelope preso embaixo, enfia no bolso do casaco, para ler na sua casa.

Examina de novo a biblioteca, nisso chega alguém do MI5, este pergunta se encontrou alguma coisa que pode ajudar.

Nada, ou limparam isso tudo, mas não achei nada.  Na biblioteca, tem muitos livros em árabe, outros em hebreu, nada lhe chama muita a atenção, tampouco quer fazer isso na frente do agente.

Dali vai ao Banco, leva os dois diários que já leu, ainda existem cinco, aproveita para abrir o envelope.

Vê que é um relatório sobre um alto cargo do governo que faz negócios por baixo do pano com o Irã, pode ser a chave de tudo.

Tira uma cópia, para passar para o inspector que ele conhece.

O relatório detalha depósitos em Luxemburgo, em outros lugares, sempre em nome do mesmo ministro.

Retira mais três diários, pois necessita entender as coisas.

Telefona para o inspector que está na rua, marcam num restaurante, ele faz como sempre, se senta nas mesas no final do mesmo, ao lado da porta da cozinha, assim tem como escapar.

Quando este chega, está furioso, porque o MI5 reclama de ter o encontrado na casa.

O argumento que a casa agora é sua, não satisfaz, porque seguem se encontrar nada.

Estão buscando isso, passa ao inspector.

Esse ao terminar, só diz caramba, dali vão os dois falarem com o chefe, pode ser o motivo.

Agora sabem que pode ter sido o próprio MI5 está metido no caso.

Este vai falar com o ministro da justiça, que é inimigo do outro ministro, este reclama o caso para a Scotland Yard, o MI5 mentiu dizendo que ele era um agente na ativa.

Vira uma grande confusão, o primeiro-ministro ao saber da história demite o que está fazendo merda.

Será muito difícil provar tudo isso.

Ele resolve fazer uma coisa, tirar umas férias, largas, para pensar em tudo isso.

Esta lendo o último diário, nota eu na capa, existe um vulto, quando consegue retirar o mesmo, ri, é um mapa, aonde está a família de sua mãe.

Vivem como o pai detalha, ou mal vivem na faixa de gaza.

Ele vai para Israel, com a urna com as cinzas do pai, vai a embaixada, se identifica, pede autorização para deixar suas cinzas no deserto do Sinai.

Precisa ir com pés de plumas, pois sabe que qualquer movimento em falso, irão lhe atrapalhar.

Ele menciona como fazer contato, com quem falar, tudo isso tem que ser com calma. É como se o tivesse orientado.

Sabe que no momento que entre num avião o MI5 o estará vigiando, o mesmo, acontecerá em Israel.   Escolhe a data mais propicia, aonde vai existir em Tel Aviv uma manifestação pelos direitos gays.

Não se hospeda em Jerusalém, mas sim em Tel Aviv.  Percebe que no primeiro dia já do hotel, que revisam suas coisas, os idiotas não sabem que ele é policial.

Não leva nada por escrito, esta tudo na sua cabeça.

Nos restaurantes, sempre faz o mesmo, senta-se numa mesa aos fundos, assim pode vigiar quem o vigiava.

Decide escandalizar, arruma um namorado na praia, sabe que o rapaz é palestino.

Se beijam em público, vê a cara de desagrado do que está lhe seguindo.  Lhe pede que o ajude, lhe dá um numero de telefone, o que ele deve dizer, nada mais.

Diga filho da Nabila, nada mais.

Sabe que eles sabem de sua existência.

No outro dia esta na praia com o namorado, quando aparecem um grupo, sentam-se relativamente perto, um deles diz o nome de sua mãe, ele faz sim com a cabeça.  A primeira coordenada era que tinha que sair do hotel, estava vigiado, foi para o subúrbio, para a casa do rapaz.   Lá finalmente conversou com um deles, disse que na verdade não tinha nada com o rapaz, só o tinha beijado para chamar atenção.

Duas noites depois o vieram buscar pela traseira, saiu pela casa de outra pessoa, no banco detrás do carro, deitado.

Nem soube como atravessaram a fronteira, conheceu o irmão pequeno de sua mãe, disse o que tinha vindo fazer, depois uma irmã, que quando ela se casou devia ter 3 anos de idade, erámos muitos, hoje resta poucos da família.

Foi esta que o levou aonde estava sua mãe, havia uma foto dela, numa estaca de madeira, quem colocou foi teu pai.   Ele a adorava.

Sim me contou isso.   Se abriu com a mulher contando que durante muito tempo, pensou que seu pai era seu tio.

Ela reuniu sua família inteira, ele pensou em dar dinheiro a ela, mas disse que se ele fizesse isso os chefes iriam pegar esse dinheiro para comprar armas.

Mostrou duas crianças pequenas, são meus netos, não conheceram nem seu pai, nem sua mãe, ela morreu durante o parto, por ter sido soterrada.   Eles nasceram de cesárea.

Ele perguntou se ela os queria dar, os levaria com ele, para terem um futuro.

Ficou olhando para ele, muito séria, tens certeza disso.

Saiu com ela, para andar entre as ruinas da vila que vivia, contou que com o dinheiro que seu pai tinha lhe deixado, podia deixar de ser polícia, assim posso me dedicar a ter uma família, mostrou uma foto da casa do pai.   Eles poderiam estar bem.

Marcaram para dentro de dois, dias, ela estaria com eles em Jerusalém, fariam os papeis, depois ele iria a embaixada para os registrar como seus filhos, tirar passaporte.  Se despediu de todos emocionado, sabia que tinha uma família.

Dois dias depois como combinado, recebeu uma chamada, dizendo aonde devia ir.

Tinha contratado um advogado, através do Maurice. Fizeram todos os tramites, quando ele foi a embaixada apareceram homens do MI5, que queriam saber aonde tinha estado.

Visitando minha família, ou vocês não sabem que sou metade palestino.  Dali mesmo telefonou para seu chefe que moveu seus contatos, logo tinha os papeis.

Perguntou ao Hamid, se ele queria ir com ele.

Só nos beijamos, eu poderia ser um estorvo para ti.

Nada disso, eu gostaria, pense, tire seus papeis.  O coitado tinha sido interrogado sobre o relacionamento dos dois.

Pela primeira vez ele gostava de alguém, tinha se arriscado por ele.

Este disse que queria terminar o ano da universidade, entraria em contato.

Ele colocou os nomes de seus pais nas crianças, Oscar e Nabila.

Quando chegou a Londres, viu que tinha recado de sua irmã, seu tio, ou antigo pai, tinha morrido na residência, brigando com outro residente.

Disse a ela o que tinha feito, agora tenho que conseguir uma pessoa para cuidar deles, vou reformar a casa, para cuidar deles.

Ela contou que tinha tido uma proposta de compra do hotel, estou pensando em viver em Londres.   Ele disse que a casa era grande.

Foi o que fez, colocou a casa em obras, primeiro pediu as contas do emprego, tinha dinheiro de sobra para viver.   Iria sim estudar, queria aprender a falar árabe, que os garotos não perdessem suas raízes como ele.

Esses agora eram apegados a ele, adorava os colocar na cama, descobriu isso, que sempre tinha querido ser pai, talvez para dar o amor que nunca tinha recebido.

Descobriram na reforma, que havia um sótão na casa, foi interessante, estava cheio de coisas antigas, nem seu tio tinha usado essa parte.

Incluiu na reforma, criou um quarto grande, aonde ele podia estudar, trabalhar.

O MI5 nunca mais o incomodou, sabia que ele tinha bons contatos.

O que incomodou alguns conhecidos, ele que tinha estudado em colégio de monges, não suportava as missas, se converteu em mulçumano, seguia todos os preceitos, queria que os meninos, tivesse isso com educação.

Em casa com eles, só falava árabe, sua irmã depois de vender a hotel/mansão, veio viver ali, adorava os meninos.

Ela mesma começou com o mesmo professor a aprender o árabe.

Ele tinha seus meios para mandar noticias para a avô deles, mandava foto deles, escrevia dizendo que já falavam árabe com ele.   Os colocou numa escola laica, ele mesmo os levava, ia buscar.

Seu antigo companheiro vinha sempre lhe visitar, no verão se hospedavam em sua casa.

Tiveste sorte com tua herança, poder reencontrar com teu passado.  As crianças o chamava de avô, ele se derretia todo.

Quando fizeram cinco anos, os levou a palestina, foi com sua irmã, bem como o seu amigo.

Procurou por Hamid, mas não o encontrou.

O mais interessante que conheceu na praia, um homem de sua idade, era rabino em NYC, disse que se sentia perdido, começaram a conversar, o outro tinha vindo exatamente fazer o que ele tinha feito, buscar seu passado.

Contou para ele, como tinha sido, enterrar seu pai ao lado da mulher que ele tinha amado tanto.

Ficaram amigos, mais tarde começaram a namorar.

Apareceu por Londres, tinha deixado sua religião, vinha fazer um curso na universidade, de línguas mortas, ficou na casa dele, dali não saiu mais.

Ele ensinava os meninos a falar hebreu, era uma família unida.

A cada cinco anos, ia com os meninos até lá.   Uma dia vendo um noticiário, viu que tinham arrasado a vila, demorou muito tempo para saber se resultava algum parente vivo.

Nunca mais voltou.    Os meninos, foram criados abertamente.

Oscar realizou um sonho que seu pai tinha tido de jovem, ir estudar em Oxford.  Nabila se formou em medicina.

Ele seguia feliz com seu companheiro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Comentarios

Entradas populares de este blog

BOUT DU CHEMIN

JIM TWOSEND

SÓ DEUS SABE