OUTWORN

 

                                                     

 

Saia de mais uma reunião exausto, estavam filmando o último capítulo da temporada, não só ele, mas os atores, o pessoal técnico, já estava louco pelos seis meses de férias.

Ele tinha um trunfo na manga, mas só ia contar na segunda-feira, depois da última cena filmada.

Estava a caminho do escritório de seu novo advogado, este teria uma batalha pela frente dura.

Nunca tinha se sentido como agora, a sensação que tinha, era de um limão amargo, sendo espremido até o bagaço.

O advogado o recebeu de braços abertos, afinal ele era o criador, roteirista, além de um dos produtores da série, que estava em sua 15ª temporada, considerada uma das mais antigas, ainda com sucesso, com imenso número de seguidores.

Se sentou com o homem, lhe perguntou se estava disposto a lutar uma batalha complicada.

Foi lhe falando, meu contrato com meu agente venceu a dois anos, o mesmo acontece com a produção da série, vou deixar a mesma, ao mesmo tempo, embora falte pelo menos cinco livros aonde está baseada a mesma, quero proibir que aproveitem disso, os títulos não foram vendidos, pois sou eu mesmo que escrevo o roteiro.  Quero que tudo seja bloqueado, pois estou cansado, necessito de descanso.

Ele tinha feito nessa última temporada, o que levou muitos seguidores a reclamarem, vinha matando a cada capitulo, um personagem importante, a discussão desse último capitulo era sobre isso, matava o personagem do detetive, o segundo da série, o primeiro personagem era um detetive forense, a cena final é justamente ele fazendo a autopsia do amigo.  Relembrando desde quando tinham se conhecido.

O advogado estava de boca aberta, soltou que ele era um seguidor da mesma, admiro sua maneira de manter sempre acessa a chama dos personagens.

Contou para ele, que na temporada passada, tinha conseguido a pedido do ator principal, que estava exausto, que ele ficasse doente, para o mesmo poder participar de um filme, preciso deixar de lado o personagem, está me matando.

Na época pensaram em substituí-lo, mas seria difícil, visto o mesmo ser muito querido do público, entre os dois tinham combinado mais uma temporada.

Era o único que sabia do desfecho final.

Durante a filmagem desse filme, houve muito trabalho, inclusive o ator lhe pediu para ajuda-lo, pois tinha tantos maneirismo do personagem, que lhe resultava difícil, fazer um personagem diferente.

Lhe aconselhou, além de acompanhar a filmagem, ensaiar com ele, tinham ficado amigos durante esses anos todos.   Lhe disse como tinha que andar o personagem do filme, os gestos de braços, a maneira de falar, etc.   Lhe disse para torcer um pouco a boca, quando sorrisse.

Foi o que salvou o amigo, pois estava imaginando que o comparassem com o outro personagem.

Ele mesmo tinha pesadelos com o personagem, pois as vezes, apesar da história estar baseada nos livros que tinha escrito, tinha que mudar, atualizar muita coisa, colocar na boca do personagem textos que não estavam.

Tudo tinha nascido de uma brincadeira dele, com o seu namorado da época.

Se chamava Reynaldo Santos Smith, mais conhecido como Rey Smith, filho de uma cubana, com um irlandês, os dois eram médicos conhecidos, ele tinha optado por estudar literatura, além de ter feito um curso de escritura.

Já seu amigo Romero Brito, era filho de um brasileiro de Boston, casado com uma portuguesa, os dois eram uma bela mistura.

Tinham se conhecido por um assassinato, ele vivia num dos edifícios em Brooklyn Heights, que ficava de frente para Manhattan, que tinha comprado com o lucro de seus dois primeiros livros, que não tinham nada a ver com a série.

Dava aulas na Long Island University, relativamente perto de sua casa, podia ir caminhando todos os dias.   Tirando os turistas, havia um relativo silencio que ele adorava, para poder trabalhar em paz, o importante do apartamento, era que estava voltado justamente para isso, seu trabalho, a única coisa diferente era a pequena cozinha, pouco usada, bem como seu quarto, o resto, estava todo voltado ao seu trabalho.   O quarto que ficava de frente para o Rio East, era seu escritório, depois o salão não passava de outro local de trabalho, a parede que ia desde a entrada até a varanda fechada, era uma imensa estante cheia de livros até o teto, além claro de livros em pilhas pelo chão, era um compulsivo nisso.   Embora enquanto escrevesse, nunca lia nada fora do que estava na sua cabeça.    Tinha uma imensa mesa de madeira que ele tinha mandado fazer, de restos de madeira de construção, com uma tampa de vidro, aonde estavam aos livros de consulta que usava no momento.

Estava trabalhando, quando escutou uma discussão impressionante, pois a estante de livros abafava o ruido do apartamento vizinho, de repente escutou um tiro, bem como mais dois ou três seguidos, saiu no corredor, quando escutou mais uns quantos, ao momento que um dos livros da estante caia no chão.

Chamou imediatamente a polícia, deu o endereço, ainda perguntou se devia ir até lá, o que lhe responderam que podia ser perigoso, que ficasse em casa, já falariam com ele.

Tudo que escutava agora era o silencio, no que foi pegar o livro no chão, viu que o mesmo tinha uma bala presa na lombada. O deixou no mesmo lugar.

Voltou ao seu trabalho, escutou o ruido do carro de polícia, depois novamente o silencio, voltou ao que estava fazendo, preparar uma prova de literatura aos seus alunos.  Nesse semestre tinham estudados vários autores contemporâneos, além de lidar com a preguiça normal dos jovens em se aprofundarem muito no que liam, a maioria ele achava que estava fazendo esse curso, para serem meros professores, pois poucos realmente escreviam bem.

Estava absorto no que fazia, que se esqueceu como sempre de tudo em sua volta, levou um susto quando a campainha da porta tocou.

Olhou pelo visor, viu que alguém mostrava uma placa da polícia, quando abriu a porta, viu um homem alto, moreno, com os cabelos negros crespos, com uns olhos impressionante, o sorriso era perfeito, numa boca carnuda, no mesmo instante ele imaginou beijando a mesma.

Se apresentou como Romero Brito, inspetor de uma delegacia ali do Brooklyn, ele mal prestou a atenção, estava com o olhar fixo em sua boca.

Ele disse que sim que ele tinha chamado, o convidou a entrar, um dos tiros atravessou a parede, ficou incrustado num livro. 

Romero, ficou de boca aberta, com a estante de livros, a mesa cheia de livros imensos, alguns emprestados da universidade.

Lhe explicou que era escritor, que ali era seu lugar de trabalho, bem como vivia ali.

Caramba, tenho inveja de ti, vivo num apartamento pequeno, gosto imensamente de ler, qual o livro seu mais conhecido.

Ele disse o nome, tinha sido publicado no ano anterior, inclusive ganhou um prêmio literário com o mesmo, comentou ainda que era professor da universidade ali perto.

Me conta o que o senhor escutou.

Nada de senhor, pode me chamar de Rey Smith, meu nome é Reynaldo Santos Smith, mas todos me conhecem por Rey.

Lhe contou o que tinha escutado, achei estranho, pois com essa barreira da estante de livros, nunca escuto nada, mas era altíssima, com muitos gritos, depois os tiros, fez um esforço de memória, dizendo a quantidade deles, inclusive um dos últimos que atirou o livro no chão, teria que olhar como atravessou a parede.

Lhe perguntou aonde estava, ele foi até o corredor, mostrou aonde tinha ficado parado.

Este chamou um dos forense para recolher o livro, bem como ver a que altura a bala tinha furado a parede, para localizar a mesma do outro lado.

Perguntou se ele conhecia os vizinhos?

Na verdade não, me cruzei com uma mulher, mas creio que era quem vinha fazer limpeza, pois isso foi duas vezes, quando saia para a universidade, normalmente saio as 10:30 para poder ir caminhando tranquilamente.

Quem vivia realmente no apartamento, não tenho ideia.

Bom temos duas pessoas mortas, com muitos tiros, acreditamos pela aparência que sejam russos.

Sim no edifício, tem uns quantos russos, pois ao cruzar para sair, esbarro em algumas mulheres com crianças, falando em russo.

Posso voltar a falar contigo, lhe perguntou?

Quando queira, salvo pela manhã, que estou na universidade, estou sempre aqui, tenho uma rotina chata.

Era uma verdade, nos dias que ia a universidade, nem tomava café da manhã no apartamento, mas sim no caminho, sempre no mesmo lugar, pois faziam forte como ele gostava, nada daquelas jarras cheias de café que ficam o dia inteiro se esquentando, comia alguma coisa, na volta para casa, salvo nos dias que atendia os alunos, parava para comer num restaurante judeu ali perto, ou comprava alguma coisa num supermercado, normalmente comprava coisas para fazer um sanduiche de noite, que não lhe incomodasse muito.

Ali no apartamento não tinham nem rádio, tampouco televisão, nunca via. Preferia ler um livro, ou estar trabalhando.

Seus pais sempre tinham reclamado disso.   Na casa deles, quando comiam ou tomava o café da manhã, se não estavam de plantão no hospital, a televisão e a rádio estavam acessos ao mesmo tempo, talvez por isso ali não tinha nada disso.

Viviam num belo apartamento no Soho, tinham restaurado o mesmo, quando o compraram.

Primeiro ele teve um apartamento minúsculo, perto da universidade, para dizer que saia de casa, tinha feito a mesma com bolsa de estudos, os pais ajudavam a pagar esse apartamento.

O deles não era longe, mas nessa época ele já tinha mania de silencio.

Viveu lá até seu segundo livro fazer sucesso, assim pode comprar este.

Se viu contando tudo isso ao Romero Brito, ao acompanha-lo até a porta.

Este confessou que tinha lido seu último livro, tenho algumas anotações sobre o mesmo, uma mania que eu tenho.

Ao lhe apertar a mão, para se despedir, não se soltaram de imediato, ficaram se olhando na cara.  Até que um forense lhe chamou, tinha localizado por aonde tinha passado a bala que estava no livro.

Voltarei a falar consigo.

Foi difícil se centrar no que estava fazendo, parecia ver a boca do Romero todo o tempo.

Achou raro, pois não era assim, a muitos anos, depois de um romance frustrado na universidade com um professor, tinha aventuras esporádicas.   Nunca se interessava muito pelas pessoas.

Bom esse nunca mais vai aparecer aqui.

Acabou de montar a prova, riu sozinho, uma coisa normal nele, sempre pensava depois se alguém o visse fazer isso, iria pensar que estava louco, ficar rindo dentro de casa, sozinho.

Mas achava normal, a risada era mais até de maldade, pois tinha preparado a prova para a sua pior turma, só dois ou três dali, teriam futuro, o resto nem sabia o que fazia ali.

Depois voltou a uma parte de seu trabalho que amava, revisar o texto que estava escrevendo, pegou o que tinha escrito no dia anterior de noite, sempre os imprimia, depois fazia esse trabalho, revisava, corrigia ortografia, riscava coisas que estavam a mais, corrigia no computador, ao contrário de muita gente, ele ainda usava um computador a antiga, com torre e tudo.    Mas tinha um disco duro externo, aonde guardava uma cópia.

Se esqueceu da vida, só tinha se levantado para preparar um sanduiche, depois de novo ao trabalho, comendo ao mesmo tempo.

Quando escutou a campainha da porta, já nem se lembrava do Romero Brito.

Lá estava ele, sorrindo, com seu livro na mão, soltou logo de cara, eu disse que ia voltar.

O convidou para entrar, se desculpou de só ter uma poltrona, o mandou sentar-se, foi buscar sua cadeira giratória no escritório.

Não perguntou nada do que tinha acontecido no apartamento vizinho, pois sabia que existia o segredo de sumário ou como se chamasse isso.

Romero lhe passou o livro, eu tenho essa feia mania de escrever nas laterais, as vezes são coisas que penso sobre o assunto, outras ideias.

Contou que ele era filho de um brasileiro, com uma portuguesa, que tinha sido criado em Boston, se viu ele mesmo contando como eram seus pais, os dois tomam café da manhã, almoçam, jantam falando sobre casos de medicina.  Trabalham no mesmo hospital, mas em lugares diferentes.

Os dois tinham uma coisa em comum, eram filhos únicos.

Meus pais ainda vivem em Boston, aonde tem um restaurante de comida portuguesa, são bem conhecidos em sua comunidade.

Por que viraste policial?

Talvez porque não tinha muita oportunidade, cheguei a estudar direito, mas só me serviu para ter um trabalho melhor na polícia.

Tive um problema lá, por isso me transferi para cá.  Trabalhei em vários bairros pesados da cidade, mas agora estou como se diz, num lugar mais tranquilo.

Quando se deram conta, estavam tirando a roupa um do outro, com urgência, fizeram sexo, se encaixando perfeitamente um no outro.

A partir desse dia, a não ser quando estava no turno da noite, o Romero, vinha dormir com ele, no primeiro domingo que tinha combinado de ir almoçar com seus pais, o levou com ele.

Em sua cabeça, tinha encontrado o homem de sua vida, pois se entendiam bem, uma coisa rara nele, estavam sempre conversando, trocando ideias.

Tinha feito uma coisa, que nunca fazia com ninguém o deixou ler o livro que estava escrevendo, Romero riu muito quando chegou um dia, o viu corrigindo um texto.

Brincando disse que pela maneira que escrevia, devia escrever um livro de detetive ou policial, mas uma coisa meio negra.

Ele respondeu que gostava, mas nunca tinha pensado nisso, se lembrou de um professor que considerava esse tipo de literatura como de segunda.

Pois te desafio a escrever alguma coisa no gênero, que seja ao mesmo tempo complicado de resolver.

Estava de férias na universidade, Romero ao contrário só teria uma semana pois estava resolvendo um caso complicado.

Mesmo sem ele nunca ter contado a história dos vizinhos, começou a imaginar, mas transferiu a história para a Brighton, aonde havia muitos russos como residentes.

Criou a partir disso, um personagem, um policial, duro na queda, aliado ao um médico forense, o personagem principal era o médico, esse não suportavam pacientes vivos, dizia sempre que os mortos não reclamava, nem iam ao médico para inventar alguma doença que não tinham, tampouco, quando descobria que o sujeito tinha um câncer, não tinha que aguentar dar explicações sobre o tipo, como tratar, nem sentir compaixão pela pessoa, se tinha pouco tempo de vida.

Eram duas pessoas com famílias distintas, os dois divorciados. Mas se entendiam na hora de trabalhar.

Foi a casa de seus pais, conversou com eles, o apresentaram a um amigo que era médico forense, esse lhe recomendou uma série de livros, bem como marcou de assistir aulas dele de medicina forense.

Na surdina, agora escrevia durante o dia, deixava as noites para estar com o Romero, cada vez gostava mais dele.   Num final de semana foram a Boston, para ele conhecer seus pais, o pai brasileiro, era metido a machão, Romero lhe explicou isso, bem como lhe avisou que os dois quando estavam em casa, só falavam português, por isso não estranhe.

Foram de trem, para aproveitar a viagem.

Romero, lhe perguntou por que estava fazendo tanto mistério a respeito do novo livro.

Já verás.

Realmente o pai, o tratou educadamente, mas com distância, já a mãe dele, o recebeu efusivamente, num momento a sos, lhe disse que ficava contente, pois pelo menos sabia que o filho não estava sozinho na grande cidade.

No dia que vinham embora, viu que Romero saia com o pai, para o jardim da casa, de como discutiam.

Esses dois são sempre assim, com certeza seu pai, está lhe cobrando porque não se casa, que tenha filhos, que quer alguém para levar seu nome adiante, essas besteiras de pai.

Eu sei o que meu filho é, o aceito como tal, estou contente que tenha te conhecido.

No trem o Romero vinha quieto, depois soltou, essas conversas com meu pai, sempre acabam mal, ele acha que tudo tem que ser à sua maneira.   Um dos motivos por que fui embora, pois quando descobriu que eu tinha na época um romance com outro homem, fez um escândalo, imenso, pior, sem querer contou a um amigo, que o filho trabalhava na mesma delegacia, este contou para todo mundo que eu era gay, um dos motivos para ter problemas lá.

Por isso fui embora daqui.

Duas semanas depois, deu o texto para o Romero ler, me desafiaste a escrever um livro policial, leia, depois me dê seu palpite.

Romero o leu de uma tacada só, tinha o final de semana livre, não desgrudou do texto, só para darem um passeio pelo parque em frente do edifício.

Mas o fez em silencio, como ruminando alguma coisa, já tinha aprendido a respeitar isso, pois ele mesmo as vezes ficava assim.   Uma das coisas segundo Romero deles se darem bem, era isso, respeitarem o silencio do outro.

Finalmente lhe devolveu o texto, tinha marcado duas páginas, dois detalhes do comportamento de um investigador, só para enriquecer o personagem, de resto, não te tornaste cansativo nas observações do forense, pois alguns normalmente usam um palavreado que ninguém entende, mas encontraste uma maneira de usar, que o outro personagem sempre corta, pedido para trocar em miúdos, ou numa linguagem humana.

Quando mostrou o texto mais enxuto ao seu editor, viu que ele colocava de lado, ao comentar eu era uma novela policial, com certeza daria para um dos ajudantes ler.

Se não te interessa, levarei a outra editora, não tinham um contrato desses fechados, ele ia por livre, nada de ter obrigação de escrever um livro por ano.

Tenho um especialista aqui nessa área, o chamou, lhe passou o texto, apresentou o mesmo.

Dois dias depois o homem telefonou, disse que tinha devorado o texto, que queria falar com ele.

Comentou com o Romero, esse vai como o outro, tentar que eu firme um contrato, para ter um livro por ano, odeio essa obrigação, por isso muitos escritores se perdem, a obrigação é uma merda.

Foi o que aconteceu, ele se negou a assinar, bem como quando o outro sugeriu, que poderia negociar a história para um filme, ele disse que não, só eu posso decidir isso, não ia contar que tudo tinha nascido de um desafio.

Saiu com isso na cabeça, a palavra desafio, com somente essa palavra, começou a escrever uma outra história, sobre um desafio, entre os dois personagens.

Romero, ria muito dizendo que queria a metade do dinheiro que ele ia ganhar, pois tudo tinha nascido desse desafio dele escrever uma novela negra.

Essa nova história era mais fechada que a outra, como se o médico forense, duvidasse de um suicídio, enquanto o inspetor, acreditava piamente que era um suicídio.

Meses depois quando deu o texto para o Romero, tinha voltado a escrever no horário antigo, pois tinha retomado as aulas na universidade, então seu trabalho ficava mais lento, pois tinha menos tempo.

Quando o primeiro livro saiu, ele levou antes do lançamento dois para seus pais, pois sabiam que liam assim, cada um com uma cópia do livro.

Num almoço em sua casa, com o Romero junto, foi incrível o que aconteceu, sua mãe tinha adorado o livro, já seu pai tinha gostado, mas não que ele escrevesse esse tipo de livro.

A quem dedicas o livro perguntou seu pai, só tem duas iniciais, R.B.

Ele disse que ao Romero, pois ele me desafiou a escrever uma história assim.

Seu pai ainda perguntou se Romero, contava os crimes que estava investigando?

Nunca comenta nada, ele quer paz quando chega em casa.

Agora viviam juntos, o que para ele as vezes era estranho, pois estava tão acostumado a viver sozinho, que escutar Romero tomando banho, cantando alguma música brasileira, ou que quando despertasse de noite com alguma ideia na cabeça, se ia levantar, o outro o agarrava para voltar para a cama.   Mas entendia o que ele fazia, depois de um beijo o deixava ir.

Mas também nos dias que ele não estava de noite por estar trabalhando, sentia falta dele na casa, na cama, até ele cantando no chuveiro.

Falavam de tudo abertamente, era a primeira vez na vida que gostava de alguém.

O livro quando lançado, fez um sucesso impressionante, foi direto para uma segunda edição, depois terceira, daí por diante, nas entrevistas, lhe perguntavam se já tinha outro em andamento, ria, pois sempre perguntavam isso.

Quando se deu conta, já estava no quinto livro, algumas vezes perguntava ao Romero, como era o procedimento de um inspetor, para poder incluir isso no personagem.

Agora lia desses jornais, que quando se espremem jorram sangue, lia tudo sobre as colunas policiais, para encontrar outras ideias.

Mal o quinto livro foi lançado, ele já estava no sexto, lhe chamaram desde Los Angeles, para falar com ele, tinha uma produtora interessada em transformar em uma série as histórias, já o tinham consultado uma vez, para fazer um filme sobre a primeira história.

Falou com o Romero, perguntou o que ele achava.

Acho que vou me aposentar, viver as tuas custas, pois vais ficar rico, quero a minha parte, serei um gigolo, mas bom de cama. 

Realmente entre eles a cama era uma coisa importante.   Se Romero vinha dormir em casa a semana inteira, tinham festa como ele dizia.

O viu anotando uma coisa, lhe perguntou o que era, vou te dever mais dinheiro, queria uma ideia para partir para a próxima história, será sobre um gigolo.

Romero ria como um louco, o arrastou para a cama, vais ver o que faz um gigolo, para atender um cliente.

Romero não podia ir com ele a Los Angeles, pois estava no meio de uma investigação importante.

Ele foi, tinha agora um agente, para o acompanhar, mas fixou bem as bases, só aceitaria, se ele mesmo escrevesse os roteiros, tinha feito um curso sobre isso, releu o primeiro texto, criou os diálogos na sua cabeça como ele imaginava, estava tudo ali.

Os produtores não queriam isso, foi a primeira coisa contra.  A segunda, ele disse que queria ele mesmo escolher os atores principais, pois tinha uma ideia concebida na cabeça.

O Circuito era muito fechado, lhes interessava o texto, nada mais.

Voltou como tinha ido, mas na verdade não se incomodou.  Uma outra produtora, lhe chamou, ele disse que não iria a Los Angeles para isso, que se quisessem conversar, que viessem a NYC, além de que mandou por escrito sua proposta.

Para sua surpresa vieram, concordaram com tudo, lhes mostrou o roteiro do primeiro livro, já feito em diálogos.

Um que seria o primeiro diretor, o leu, telefonou, perguntando se podia falar com ele, queria dar uma sugestão.

Foi um encontro agradável, mais ainda porque Romero estava em casa, queria que ele só fizesse uma entrada dos dois personagens.   Mas lhe mostrou que essa já existia, o levou até a página indicada.

Romero disse que desculpa era só para ligar com ele.

Realmente depois quando começaram as filmagens tentou, mas ele disse que nem pensar, além de que o sujeito não lhe atraia.

Agora tinha que, transformar em uma série todo um livro, criar alguns outros personagens para sustentar a história, levou seis meses mergulhado nisso.

Romero quando chegava lia o que ele tinha escrito, teremos que comprar uma televisão só para ver isso.

Eu estou louco para dar entrevista aos jornais, televisão, para dizer que durmo com o escritor, como ele gosta de pegar na minha caneta para escrever.

Riam muito dessas coisas.

Agora ele sentia saudade disso, mas ao mesmo tempo lembrava, que tudo isso tinha feito que o relacionamento dos dois fosse a merda.

Claro a série foi transferida para Los Angeles, a história passou a ser lá, então ele tinha que trabalhar o dobro, na primeira temporada, levou quase um ano, para funcionar tudo, escolher os atores, o elenco, as primeiras gravações, ele escapava para NYC, quando podia, morria de saudades do Romero, o pouco tempo que tinha se dedicava totalmente a ele.

Quando acabou tudo isso, voltou para casa, a série estreou, foi um sucesso, já se falava da segunda temporada, ele já estava escrevendo, agora tinha que pensar em Los Angeles, as vezes não funcionava, pois tinha mania de ir ao endereço que mencionava, desde longe não podia.

Depois claro estava o período que reescrevia tudo, pois imaginava a cena, ensaiava com os atores, pois queria uma linguagem mais direta.

No terceiro ano, ele se tornou um dos produtores, pois assim ganhava mais dinheiro, mal tinha tempo para usar o que já tinha ganho, precisava sim de um lugar para viver quando estivesse lá.   Foi quando comprou uma casa em Venice Beach, mas conhecido como Venice Canals, o ator principal, conversava com o outro, sobre um antigo ator de cinema, que tinha morrido, que tinha passado seus últimos anos sozinho numa casa ali, os herdeiros queriam vender.

Foi com ele até lá, a casa estava cheia de merdas, mas gostou, pois era confortável além de pouco ruido.   A reformou inteira, colocando janelas novas, banheiro moderno, a cozinha pequena também, pois imaginava que quando o Romero viesse, lhe gostaria cozinhar.

Ele veio duas vezes, pois cada vez ele podia se mover menos a NYC.  Dá ultima vez, foi uma merda, veio para lhe falar, que tinha conhecido outra pessoa, que não aguentava ficar tanto tempo longe dele, nem vou mais a tua casa, voltei a viver sozinho outra vez, pois se vou lá sinto tua falta, pelo menos quero tentar outro relacionamento.

Foi uma porrada na sua cabeça, deixou seu apartamento fechado em NYC, só foi lá transferiu alguns livros, mandou fazer para a casa nova, uma estante como sempre, mas agora mais para livros de consulta.

Falava com os pais, por telefone todas as semanas, eles vieram duas vezes para estar com ele, logo depois da ruptura.   Sua mãe não entendia, tinha procurado pelo Romero, para entender, ele se mostrou um homem como sempre pensei, veio conversou comigo, explicando os motivos, os dois estão, cada um do outro lado do pais, não sei se sabes, mas ele tentou transferência para estar, mas não conseguiu.

Apesar de tudo, se falavam duas vezes por semana, era um hábito que tinham.

O novo relacionamento dele, não durou nem um ano, disse que por azar ficava procurando no outro a ele.  Depois passaram a se falar uma vez ao mês para saber como andavam as coisas.

Ele agora tinha alguma aventura, mas claro nunca dava certo pelo mesmo motivo, ele queria o Romero, procurava homens inclusive parecido.

Se sentia agora que tinha tomado essa decisão tantos anos depois, exausto, não só fisicamente, mas em todos os aspectos, tinha feito um check up, o médico recomendou que ele diminuísse seu trabalho, se não tomas cuidado, serás um forte candidato ao enfarte.

Assinou os papeis, para o advogado resolver as coisas em seu nome, foi para casa, pegou uma bolsa que já tinha pronta, foi para o aeroporto, deixou as chaves com uma vizinha, que viria abrir de vez em quando as janela para entrar o ar.

Ultimamente saia pela noite, andando pela praia, para pensar na sua vida, de um simples desafio, tinha virado sua vida de cabeça para baixo, ganhou sim muito dinheiro, não só como roteirista, mas como produtor, além dos outros livros que tinha escrito em cima do mesmo personagem.

O ator lhe tinha dado graças a deus, ter feito isso, pois estava farto do personagem, a gente se acomoda, já sabemos como o mesmo pensa, se comporta, então vira tudo uma rotina, é pior que ficar fazendo teatro muito tempo, repetindo o mesmo texto sem parar.

Ele já no avião ia pensando nisso, essa sensação de vazio, de exaustão sobre o mesmo trabalho uma e outra vez, o personagem já tinha vida própria, agora o via chato.

Procurava nunca repetir mesmas frases, consultava os roteiros antigos, para saber se ele não tinha já usado algum termo.   Tinha virado uma neurose em sua cabeça.

Finalmente conseguiu dormir, porque o voo era largo, poucas pessoas iam saber que ia no voo, primeiro porque seus documentos eram de Reynaldo Santos Smith.

Só tinha avisado seus pais, que agora aposentados, viviam em uma casa na praia, para baixo de NYC, mas iria primeiro para seu apartamento.

A primeira coisa que fez, foi abrir as janelas, para entrar o ar, estava a muito tempo fechado, o homem que cuidava do edifício, ia uma ou duas vezes por semana abrir, mas não queria que ninguém soubesse que ele estava ali, queria decidir o que ia fazer agora.

O caminho do aeroporto até sua casa, lhe pareceu um tormento, pelo ruido dos carros, mas se vivi aqui e suportei, é sinal que posso aguentar, pensou.

Ficou um largo tempo, esperando o dia amanhecer sobre a cidade, não tinha sono.

Logo de manhã telefonou para o Romero, para avisar de que estava na cidade.  Lhe contou o que tinha feito.

Homem, soltou ele, finalmente, sem querer me sinto culpado disso, fui eu quem te lançou o desafio.

Mas não foste o culpado de eu ter seguido a diante, estou literalmente exausto, precisando me distrair, férias tudo isso.

Porque não vens comigo, embarco dentro de dois dias para o Rio de Janeiro, vou finalmente conhecer a cidade de aonde saiu meu pai, o ano passado fui a Portugal, ver a terra aonde nasceu minha mãe, esse ano toca o Brasil.

Tai, boa ideia, estas trabalhando?

Sabia que por causa de um tiro, Romero, estava fazendo serviço interno, além de estar esperando por isso, uma aposentadoria antecipada.

Amanhã vou ver meus pais, porque não vamos juntos.

Ia adorar tomar um banho nessa água fria do mar, mais tarde passo, para te ver.

Entre eles essa sintonia, nunca tinha morrido.   Quando Romero foi ferido, sua mãe lhe avisou, ele correu para lá, tinha ido esperando o pior.   Este tinha rido muito da cara dele.

Foi quando começou a montar tudo em sua cabeça, tinha perdido por causa do seu trabalho o homem que tinha amado, nunca tinha tido outro igual.

Passou umas noites com ele no hospital, quando tudo estava mais calmo, dormia segurando sua mão, ainda tinham o hábito de quando se encontravam, dar um beijo na boca.

Saiu comprou alguma coisas no supermercado, assim não precisava sair de casa, no que voltou, caiu sentado na poltrona, fazia tanto tempo que não tinha tempo para isso, não fazer nada.

Dormiu pesado, despertou horas mais tarde com a campainha, era o Romero, se abraçou a ele, ficou com a cabeça no seu ombro, como gostava de fazer.

Depois sentado, quando ele passou a viver ali com ele, compraram outra poltrona, ficaram conversando, ele contando como tinha resolvido as coisas, comecei a temporada, matando todos os personagens secundários importantes, um a um, até no último capítulo, chegar a vez do inspetor.   Na verdade a temporada mal tinha começado a passar na televisão, o último premio é que o médico forense tem que fazer a autopsia do amigo, outro que está farto de fazer o mesmo personagem.

E os últimos livros?

Bom eu sou dono deles, não sou obrigado a transformar o mesmo em série, meu contrato já acabou faz tempo, não podem me obrigar, como tampouco fazer com outro nome, é minha propriedade, não vou autorizar.

Quero sim saber dessa tua viagem a Portugal, agora ao Brasil.

Sabe nunca entendi meu pai, nem minha mãe, trabalharam a vida inteira como mouros, como ela dizia, juntaram dinheiro para uma velhice cômoda, mas nada disso aconteceu, ele morreu primeiro, ela logo em seguida, o dinheiro ficou para mim.  Vendi a casa, bem como o restaurante, não me interessava em absoluto.

Coloquei o dinheiro para render, fui a Portugal, quando era criança, ela vivia falando da vila que tinha saído, perto do Porto, continua igual, parece uma lembrança de um presépio, quando vês em criança, o mesmo ano traz ano não muda.

Já meu pai, é mais complicado, pois ele viveu até ter uns 16 ou 17 anos, num orfanato, nunca falava nisso, só encontrei depois de sua morte nos seus registros, qual era, aonde estava.

Vou mais é na verdade para conhecer o Rio de Janeiro, que evidentemente não deve ser o mesmo que era na idade dele.

Vais atrás de aventuras com algum brasileiro.

Vamos ser honestos, os dois tivemos o melhor romance do mundo, as vezes ainda me pego falando contigo, não irei em busca de aventuras desse tipo.   Não quero, como tu me acostumei a viver sozinho, quando isso aperta, te telefono, embora as vezes os dois fazemos isso ao mesmo tempo.    Penso, vou chamar o Rey, nisso toca o telefone, eres tu.

Estavam conversando de mãos dadas como sempre, se deram um beijo, o fogo deles nunca tinha apagado totalmente, dormiram juntos abraçados.

Vou contigo se aceitas minha companhia, disse no café da manhã, só quero ver meus velhos, para contar minha decisão.

Estou livre, alugamos um carro, e vamos.

Sua mãe foi a única que falou, já não era sem tempo, esse trabalho deve ser infernal, para deixar alguém exausto como estas.

Quando disse que ia ao Rio de Janeiro com o Romero, ela ficou contente.

Não o perca mais de vista foi o que lhe disse, quando foram a cozinha fazer um café.

Saíram mais tarde para jantar, depois dormiram no quarto de sempre, os dois agarrados um ao outro, não tinham ainda se atrevido a fazer sexo, de uma certa maneira tinham medo.

Quando voltaram foram a agência de viagem, fez o Romero mudar de lugar no avião, afinal eu tenho dinheiro que nunca usei, vamos de primeira classe ou executiva, afinal são muitas horas de voo.  Reservaram um bom hotel na praia de Copacabana, que era o que o pai dele sempre falava.

Lá compraria roupas de verão, só de pensar em sair do inverno de NYC, isso valia a pena.

Os dois tinham cartão de credito, bem como se informaram como trocar dinheiro.  O rapaz da agencia fez duas recomendações, faço isso, porque aconteceu comigo.

Uma, peguem um taxi, dentro do aeroporto, tem um sistema, digam o hotel, pagas ali mesmo, se o taxista resolve fazer um passeio pela cidade, não tem problema, já está pago.

Outra cuidado, com o conto boa noite cinderela, lhe explicou rindo muito, eu me engracei com um mulato, o levei para dormir comigo, acordei, sem dinheiro, me levou até os sapatos.

Não se preocupe, vamos os dois juntos.

Na noite anterior, ao se deitarem agarrados, conversando, o sexo surgiu sem mais, como sempre, foi bom demais, os dois ficaram rindo, precisamos recuperar o tempo perdido.

Já estavam no aeroporto, quando o advogado lhe chamou, contando do escândalo que tinha acontecido, quiseram usar prerrogativas do último contrato, mas como já está vencido, não vale nada, irão entrar na justiça, mas ao saberem que o ator, tampouco quer seguir fazendo, ficaram a ver navios.

Teu agente, ficou furioso, claro perde o dinheiro que ganha fácil, ficou todo o tempo falando dos livros que ainda não foram usados, quando lhe disse que proibias o uso dos mesmos, ficou uma fera.   Mas viaje tranquilo, qualquer coisa, mando um correio para o teu celular.

Chegaram de manhã no Rio de Janeiro, o avião fez uma volta por cima da cidade, foi genial, os dois queriam olhar tudo como criança.

Depois o taxista, fez um passeio mais largo, para eles irem conhecendo uma parte da cidade, na frente do hotel, os ajudou a tirar as maletas, chamou um homem que estava ali, lhes apresentou, Newton Silva, ele faz passeios pela cidade, pode os levar pelos lugares turísticos.

O primeiro que o Romero queria fazer era visitar o lugar que o pai tinha vivido.

No primeiro dia, tudo que fizeram foi passear por Copacabana, só entendiam que eles eram gringos, porque falavam inglês, mas fisicamente, eram iguais as pessoas dali, uma mistura de raças.

Foi muito interessante a visita ao orfanato, meu pai deve ter sido o mais branquinho daqui, pois a maioria eram negros.

Um dos meninos se aproximou deles, perguntando que língua estranha era essa que falavam, ele se apaixonou pelo garoto em seguida, saíram com uma das freiras, compraram muitas coisas que os meninos precisavam.   Esse em particular pediu uma coisa diferente, um livro para estudar a língua deles.

Pena que vocês vão embora, pois senão podiam adotar esse garoto.  É muito inteligente.

Se a senhora encontrar uma maneira, eu o adoto, disse o Romero.

Disse o hotel que estava, se ela precisava de informação, lhe deu todo seu registro policial, como contatar o consulado, perguntou se a serie passava na televisão de lá.  Ela não sabia.

Esse homem o Rey, escreveu todos os livros, bem como escreveu a adaptação da mesma, vou pedir no hotel que gravem para a senhora ver, os pais dele são médicos.

No hotel mandou gravar a serie inteira, colocou num envelope, com o nome de Rey Smith, ou Reynaldo Santos Smith.   Ela telefonou para o hotel de noite, disse que a televisão de lá não servia para isso.   Com o rapaz do hotel, compraram uma compatível a levaram para ela.

O garoto, ficou como louco, você escreve histórias, ele no seu português macarrônico, lhe explicou como tinha nascido a mesma, ele me desafiou escreveu um livro, eu fiz, virou esta série de televisão.   O mais divertido era os dois falando com o garoto.

Conversaram com o amigo do Taxista, esse conseguiu um ônibus, convenceram a freira a levar os meninos para um dia na praia.  Fizeram uma reserva num restaurante, uma churrascaria.

Os meninos se divertiram muito, o que não saia do lado deles, disse que deviam ser parentes, pois se chamava Moises Santos, riram muito.  Pois ele lhe perguntou se nunca tinha vindo ao Brasil, assim poderia ter sido pai dele.

Quando voltaram para o orfanato, todos vieram um a um lhe agradecer.

A freira lhe disse que o que eles podiam fazer, era irem ao consulado, ver se conseguiam agenciar a adoção.

Lhes tocou uma senhora, que ria muito, não perco nenhum capitulo, estamos aqui na segunda temporada.   Não ia contar para ela, que a séria agora terminava.

Ela mexeu os seus pauzinhos, acelerando a adoção do garoto, mesmo assim ficaram quase dois meses, por lá, quando disse a sua mãe que ia levar seu neto, a escutou chorando no telefone, seu pai nervoso, pois vê-la chorar era raro.

Iam agora todo os fins de tarde ao orfanato, ele inventava histórias, contada no seu mal português, aos garotos.   Aos invés de fazerem como todos os turistas, gays, que saiam em busca de sexo, sonhavam com o futuro.

Temos que contar para ele, que vamos viver os três juntos.

Isso é verdade, não penso em me separar mais de ti.  Estavam sempre abraçados, de mãos dadas, como querendo recuperar o tempo perdido.

Quando finalmente tiveram os documentos, inclusive um passaporte americano, compraram um bilhete para o garoto, agora iriam no centro do avião, para darem um apoio ao mesmo.

Mas antes, foram com as freiras, no furgão do Newton, ao centro da cidade no Saara, comprar roupas para todos os garotos de lá, tênis, meias, cuecas, tudo que eles necessitavam.

Da mesma maneira, foram um dia a um grande supermercado, compraram coisas básicas que não se estragavam para alimentar os meninos, combinaram com elas, que eles sempre mandariam dinheiro.

Moises estava louco, mas basicamente ficou até o dia de ir embora no orfanato, tenho meus amigos aqui, assim aproveito, pois ficarei muito tempo sem vê-los.

No avião ele se sentou no meio, na hora que o mesmo levantou voo, segurou a mão dos dois, depois lhe contou que a freira lhe tinha explicado, que os dois viviam juntos, terei dois pais em vez de um, verdade.

Sim, filho, verdade.

Tinha comprado roupa de frio para ele, que desceu do avião só com roupas novas, quando sentiu o frio, soltou, tô fudido, virarei picolé.

Riram muito, no dia seguinte, os levaram para conhecer seus avôs, foram para passar dois dias, ficaram uma semana.

Quando voltaram, Romero já estava aposentado, falou com o advogado, para saber se estava tudo bem.

Resolveram só divulgar a notícia, quando a serie estivesse para acabar.

A única coisa que o Moises reclamava, era do frio, foram mais uma vez visitar seus pais, lhe disseram que talvez fossem viver em sua casa em Los Angeles, por causa do frio.

Isso não vale, teremos que nos mudar, não queremos ficar longe do nosso neto.

Primeiro foram eles, riram muito com o Moises, pois este soltou logo ao descer do avião, isso está melhor, não faz tanto frio.

Quando viu a casa, ele riu, sempre sonhei em viver num lugar assim, na praia disse que os três tinham que aprender a fazer surf.

O problema se resolveu fácil, a senhora que tinha cuidado da casa para ele, disse que vendia a sua, pois iria viver com uma irmã numa residência de pessoas de idade, não posso mais viver sozinha.

Convidou os pais para virem, as casas era uma ao lado da outra, tirariam a divisória, para ficarem juntas.  Seus pais pareceram rejuvenescer, com o Moises, como a outra casa tinha dois quartos, montaram o dele lá, mas ele logo de manhã corria para a casa dos pais.  Abria a porta, se ainda estavam na cama, se jogava em cima deles.

Sua mãe lhe ensinava inglês, arrumaram uma professora, para lhe ajudar a adaptar-se, logo foi ao colégio.

A única vez que foram chamados ao colégio, foi porque ele tinha se adaptado tanto, que se aborrecia nas aulas, queriam lhe fazer um teste para adianta-lo.

Logo estava num curso mais acima.

No inverno seguinte, alugaram um apartamento no Rio, foram passar as férias lá, levou seus pais com eles.

No dia que foram ao orfanato, ele tinha levado todas as roupas que já não lhe serviam para os outros garotos.

Seus pais, tinham aprendido com ele, falar em português, fizeram como da outra vez uma saída com os meninos todos.

Tinha um com dois anos de idade, o encontramos como sempre na porta, nem tem nome, o registramos com Rey, pensando no senhor.

Sua mãe ficou louca com o garoto, aproveitaram examinavam todos os meninos, coletaram sangue para fazerem exames, afinal somos médicos.

De novo procuraram a senhora, adotaram o pequeno, tinha um pouco de desnutrição, acreditamos que a mãe vivia nas ruas, pois tinha a cabeça cheia de piolhos.

O Moises, morria de amores pelo novo irmão.  Foi quem disse, porque não o levamos conosco, os outros são muitos mais velhos do que ele, quando for maior o ensino a fazer surf.

Romero se apaixonou pelo Rey, era como se tivesse transformado num grande paizão.

Seus pais viveram quase até os 95 anos, ainda foram a formatura do Moises na universidade, mandaram para o orfanato, uma foto deles em sua graduação, agora iria estudar medicina.

Já o Rey, gostava mesmo era de ler, tinha aprendido inglês, muito fácil. Era agarrado ao Romero, que soltava pena que meus pais, não puderam conhecer os netos.

Ele seguia escrevendo, mas agora sem pressa, nunca mais retomou o personagem que o tinha ficado famoso, criou uma história sobre o Rio de Janeiro, que fez sucesso.  Quando quiseram comprar a mesma para transformar num filme, a vendeu sim, mas que todo o dinheiro fosse para o orfanato.   Foram em pessoa levar, o Moises, agora era um homem alto, segundo as freiras, tinha ficado lindo.

Já o Ray, não era muito alto, mas tinha coisas que eram do Romero, jeito de conversar, de falar.

Dizia que ia ser escritor como seu pai, mas lhe faltavam tempo ainda para isso.

Eles já não tinham idade para adotar mais nenhum garoto, agora seriam quando muito avôs.

Mas nunca mais pensaram em se separar.   Finalmente ele era completamente feliz, afinal tinha uma família, que nunca tinha sonhado ter, mas era a melhor obra que tinha feito, dizia para sua velha mãe.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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