DOVER

 

                                                 

 

Por mais que tentasse escapar, sempre voltava a Dover, mais uma vez vinha por motivos nunca agradáveis, mas como dizia Max, havia que seguir em frente.

Desta vez trazia seu corpo para enterrar no mausoléu familiar, justamente nesse lugar o tinha conhecido a vinte cinco anos atrás, ele tinha vindo para preparar o funeral de seu pai, eu estava ali limpando, arrumando o mesmo, pensou que eu trabalhasse no cemitério.

Quando me virei, me levantei, fiquei olhando para ele com cara de bobo, nunca tinha visto um homem tão atrativo, estavam surgindo seus primeiros cabelos brancos nas têmporas.

Repetiu de novo a pergunta, se eu trabalhava ali?

Não, sou jardineiro do senhor que vai ser enterrado, como nunca confio que estará tudo limpo, pois vinha sempre com ele aqui, trazer flores para as tumbas.  Realmente seu pai sempre vinha trazer as flores que eu coletava no jardim, apesar do magnifico jardim que tinha, não gostava de flores dentro de casa, dizia que as preferia ver no jardim.  No verão, adorava se sentar nos dias sem chuvas, para tomar o café da manhã justamente na varanda que dava para o jardim.

Não lia jornais, isso só mais tarde, desfrutava das vistas como dizia ele. Depois se levantava fazia um passeio pelo jardim, com mais idade o levava pelo braço, na verdade ele passava os seus pelos meus, íamos andando, conversando sobre as plantas, as vezes ia comigo até o invernadeiro, para olhar o que eu tinha plantado, já pensando aonde colocar no jardim.

Depois fazia isso com ele em cadeira de rodas, nessas alturas, ele já não ia mais para Londres, tinha visto fotos do Max, mas em garoto e jovem, o achava bonito, mas o ver ali na minha frente me fez ficar com as pernas bambas.

Ele perguntou se eu estava bem.

Sim, para cortar isso, comecei a comentar o que tinha preparado para o enterro, já tinha separado flores do invernadeiro, que ele gostava muito, para ornamentar a sala aonde seria feita a cerimônia.   Tinha deixado com o advogado ordens para não ser feito em nenhuma igreja, ele nunca ia a nenhuma.

Max me disse que sabia que eu já trabalhava ali a muito tempo.

Sim é verdade, seu pai me contratou quando eu tinha 13 anos, era aprendiz do jardineiro anterior, que se aposentou, mas ele me preparou a consciência, por ser jovem, me ensinou a trabalhar no invernadeiro durante o inverno, para depois desenhar sempre um novo jardim.

Gosto muito desse último, o vi, nada mais ao chegar.

Normalmente Max vinha nos finais de semana, quando não trabalhava, eram justamente os dias que eu tinha de folga.

Anos depois quando contei a ele como tinha sido minha infância, ele se estremecia só de pensar, me contou que ele ao contrário tinha tido um pai amoroso, apesar de ter sido criado sem mãe, esta se divorciou, indo viver nos Estados Unidos, nunca a via.

No meu caso foi diferente, vivíamos na parte mais pobre de Dover, meu pai era um alcoólatra, agressivo, trabalhava na estiva no porto, por isso tinha uma força impressionante.

Nunca dava um tostão em casa, minha mãe se virava para nos sustentar, limpava casas, edifícios, nunca tinha hora para terminar.

Eu era o mais velho dos sobreviventes, depois de mim tinha duas irmãs, por último Jerry, que minha mãe pensou que não ia sobreviver como os outros antes dele, nasceu antes do tempo, por culpa de uma surra do meu pai.   Ele fazia esses absurdos, depois desaparecia.

Eu tinha ordem quando ele chegava assim, de me fechar no sótão com as meninas, que tremiam de medo.

Com o tempo, passou a me pegar, ia para a escola de camisa de manga comprida, para esconder as manchas rojas que ele deixava.   Mas com doze anos, passei a treinar luta livre, aprendi a me defender.  Com treze anos, já estava forte, pois trabalhava num armazém descarregando caminhões, era alto, não aparentava a idade que tinha.

Ele chegou em casa, bêbado como uma gamba, começou a gritar, a bater na minha mãe, o agarrei por detrás, com uma faca no seu pescoço, depois lhe dei a maior surra, o joguei porta afora, que ele só aparecesse quando estivesse sóbrio.

Levou meses desaparecido, quando apareceu, foi outra vez bêbado, agora tinha medo de mim, o fiz dormir na parte detrás de casa.

Reclamava sempre da comida, quando estava, mas não dava nem uma moeda para ajudar na compra de alimentos, tudo vinha da minha mãe e de mim.   As meninas tinham verdadeiro pavor dele, talvez por isso quando se fizeram maior, uma se casou rapidamente, mudando para a Irlanda, a outra foi ser professora no outro lado do pais.

Nessas alturas eu já trabalhava a tempo com o jardineiro, ele me ensinou tudo, fiquei no seu lugar, ia logo cedo para a casa do Pai do Max, na parte da tarde, cuidava de outro jardim, ou no verão, limpava piscina, que agora estavam de moda, nas grandes casas.

Finalmente comprei uma vespa para me mover, tinha um sonho, de poder ir à universidade, lia sobre os cursos de paisagística, economizava cada tostão que podia, mas na verdade tinha noção que só ganhando uma bolsa de estudos, assim mesmo teria que encaixar com algum trabalho, mas isso não me assustava.

Foi nessa época que conheci o Max, ele ficou um tempo, tinha tirado umas férias prolongadas, para resolver os problemas das propriedades do pai.   A muito anos, tinham as terras da família alugada, como Max não gostava disso, era professor da universidade de Londres, tinha estudado como todos os de grandes famílias em Oxford, podia ter ficado lá, mas dizia que odiava ter vivido lá.

Ele pegou a mania do pai, se sentava na varanda, olhando os papeis, ao mesmo tempo, sentia o olhar dele em cima de mim.   Sem querer eu ficava excitado, mas procurava ficar de costa para ele, para que não notasse.

As vezes me oferecia café, puxava conversa, foi quando falei do meu sonho de estudar, será difícil, mas vou batalhar.  Terei agora as últimas provas, se tiro boas notas, conseguirei a bolsa de estudos.

As vezes aparecia no invernadeiro, ficava me vendo trabalhar, percebia que eu ficava nervoso, um dia me perguntou diretamente, porque eu ficava nervoso, se estava acostumado que seu pai me olhasse. 

Disse que olhei para ele, como um cão sem dono, não sabia me explicar.

Foi direto até ao meu lado, levantou minha cabeça, me beijou na boca.  Sem me dar conta correspondi, queria muito mais.

Ele se separou, disse que era muito velho para mim, na época tinha quase quarenta e cinco anos.

Eu disse que não me importava.

Me avisou que nessa tarde iria para Londres, pedir uma excedência, pois tinha que resolver muitas coisas ali, meu pai se relaxou, deixou tudo nas mãos dos advogados, a maioria dos contratos está vencido, tenho que analisar um por um, odeio esse tipo de trabalho, mas há que se fazer, vou tentar vender a maioria, para não ter mais dor de cabeça.

Colocou as mãos sobre meus ombros, me espere que eu volto, aí vamos conversar.

Tive que fazer um esforço tremendo, para me concentrar em estudar para as provas finais.

Tinha um amigo que competia comigo, Thomas Sayer, este tinha o mesmo problema que eu, um pai, bruto como uma niveladora, com punhos de aço como costumava alardear.

Tinha sido campeão de box, vivia bêbado como o meu, os dois trabalhavam no cais.  Sua mãe felizmente só tinha tido a ele, mesmo assim, como a minha dava um duro danado para levar o filho em frente.

Mas Thomas, tinha pensado em entrar para o Exército, me dizia, se entro para a guarda da rainha, poderei seguir estudando, talvez direito, para depois ir para a polícia.

Tivemos como amigos, aquele famoso descobrimento sexual juntos, ele se matava de rir, dizia que eu era muito ingênuo, além de romântico, pois adorava beijar.   Ele não, queria logo me meter a mão.   Mas na verdade nunca chegamos as vias de fato.

Quando ganhei a bolsa de estudos, ele decididamente foi para o exército, sua mãe pode diminuir o ritmo, agora ganhava só para ela.

Eu tinha que me preocupar com minha mãe, bem como meus irmãos, das meninas, só a que acabou como professora gostava de estudar, a outra dizia que para que, se ia acabar casando, cuidando de casa, de crianças, que ela detestava.  Tinha sim que escolher um bom marido, que cuidasse dela.

Já o Jerry, ah, esse sonhava alto, queria ser médico, adorava cuidar de algum animal, ferido que encontrava na rua, por mais que lhe dissesse que não havia dinheiro para mais um na casa, aparecia, era capaz de compartir com um cachorro, a comida que lhe tocava.

Esse era o meu problema, em Dover não tinha como estudar o que queria, depois como ia fazer, com os jardins que cuidava.

Max ao contrário do que tinha falado, demorou para voltar, acabei deixando de lado pensar tanto nele, tinha tanta coisa para resolver, que não podia imaginar um romance com o patrão, nunca daria certo.

Mas quando voltou, foi logo falar comigo, era final de verão, época de retirar os bulbos da terra, para levar para o invernadeiro, tinha um mapa do jardim, sabia aonde tinha plantado cada coisa, assim era fácil separar os bulbos.  O outono ali passava rápido, pois em seguida o frio seria demais para as flores.   Tinha também que podar todas as roseiras, para que florescem na primavera.   Tinha muito trabalho, ele levava uma cadeira dessas que se fecham, sentava-se por ali, ia comentando como tinha sido em Londres.

Eu temia que ele me contasse alguma aventura.    Um dia tomei coragem lhe perguntei se não tinha ninguém em sua vida.

Tive um romance frustrado, uma merda, demorei cinco anos tentando que desse certo, mas foi tudo a merda, esse é meu medo, ele era mais velho do que eu, queria coisas que eu não tinha como lhe dar, tampouco queria, gostava de um sexo mais violento, que detesto.

Depois disso, preferi viver sozinho, não me sobra muito tempo, era isso que resolvia em Londres, talvez para me sentir seguro, dava demasiadas aulas, não me sobrava tempo.

Agora tenho dinheiro suficiente para levar uma vida mais relaxada.

Me perguntou se eu tinha algum namorado, isso tudo conversávamos tranquilamente, ele me transmitia isso, me deixava relaxado, pois sabia que falava comigo como qualquer pessoa, nada de patrão, empregado.

Lhe contei de Thomas, mas nunca tivemos um sexo verdadeiro, fomos amigos, que trocam um beijo, um abraço, falamos muito de nossos sonhos, pois ele vem de uma família como a minha, complicada.   Foi quando lhe contei de meu pai, dos problemas que tinha pela frente, ou ia a universidade, ou ficava para cuidar dos meus irmãos.

Um dia me pediu para arrumar um problema no banheiro, quando me dei, conta, estava tirando a minha roupa, foi um pulo para tudo.

Lhe avisei que não tinha experiência, mas foi uma coisa fantástica, ele disse que gostava disso, de ter romance no meio do sexo. Nesse dia quase dormi lá com ele.

Minha mãe desconfiou, mas me disse uma coisa muito importante, que a vida era minha, que eu sempre tinha mostrado a ela, que a sabia administrar, se era isso que me fazia feliz, que fosse em frente.

Max mexeu com seus conhecimentos, me conseguiu uma bolsa de estudos bem valorada, fui as entrevistas, me sai bem, logo me concederam essa também, assim podia estudar além de ajudar minha família.

Me ofereceu para viver em seu apartamento de Londres, foi franco, não quero me separar de ti, foi o começo de um relacionamento que durou 25 anos, os últimos anos, ele sobreviveu a um câncer, a uma série de problemas.

Nessas alturas, minhas irmãs tinham ido embora, Jerry estudava em Londres, medicina, tinha conseguido uma bolsa de estudos por suas excelentes notas, vivia conosco.

Eu paguei todos os impostos atrasados da casa, minha mãe a vendeu, dizem que quando meu pai apareceu, um policial, o levou, aproveitou para entregar os documentos do divorcio que ele tinha assinado bêbado.    Mas nunca soube que ela vivia do outro lado da cidade, na casa da irmã, que tinha ficado viúva.    A convidamos para vir ver em Londres, mas disse que nem pensar, queria aproveitar os últimos anos de sua vida, tranquila.

Na verdade já tinha feito muito por todos.

Nessa época, voltava de entregar uma proposta de um trabalho, ia bem no que fazia, programava jardins para grandes mansões, ou edifícios modernos.

Vinha pela rua, quando senti puxarem minha calça, olhei para baixo, era um garoto, de uns três anos, que me estendeu a mão pedindo dinheiro, eu sempre tive a mania de andar com moedas soltas no bolso, para um café, ou coisa assim.   Enfiei a mão no bolso, lhe estendi, fiquei parado o vendo se afastar, o pobre ia se coçando, devia lhe faltar um bom banho. Não tinha me dito nem uma palavra, foi quando o vi entregar as moedas a um homem, que ia levantar a mão para ele, corri, segurei a mão do homem, lhe dizendo, nem se atreva seu sem vergonha, bater nesse garoto.

Passava um carro de policia o chamei, o homem estava assustado, pelo meu tamanho, sou muito forte, por causa do meu trabalho.    O garoto me olhava sorrindo, tinha entendido que o tinha salvado.  Com a policia ali, descobrimos, uma mulher jogada logo atrás desse homem, totalmente drogada.

Fui até a delegacia apresentar queixa, Max dizia que eu adorava uma confusão.

O garoto, foi o tempo todo segurando minha mão.   O homem acabou confessando, que não era seu filho, tampouco da mulher, o tinham encontrado sozinho num edifício cheio de ocupas.

Logo apareceu uma senhora do serviço social, por um acaso a conhecia, tinha feito os jardins de um juiz, ela era assistente dele.

A consegui convencer, que o garoto precisava de um banho urgente.  Foi franca comigo, o garoto iria para um orfanato, já que não eram os pais dele.

Posso pedir a guarda dele, sabia que estava sendo precipitado, mas de pensar nesse garoto pequeno, num orfanato me deixava nervoso.

Ela perguntou ao garoto se queria ficar comigo, ele balançou a cabeça dizendo que sim. Eu estava desesperado para que ele se parasse de coçar.   Ela conseguiu lhe dar um banho, sai correndo, para comprar uma roupa para ele, me disse o tamanho, comprei inclusive um abrigo de plumas pois fazia frio.   Quando voltei ela tinha raspado a cabeça dele, disse que estava cheia de piolhos.   Mas quando tinha tirado a roupa, na mesma estava o nome dele, bem como a idade.

Parecia ter uns três anos, mas na verdade tinha seis.  Pegou o papel da mão dela, colocou outra vez na roupa nova, fez uma coisa que depois faria sempre, cheirou a roupa nova, depois cheirou a minha, riu.

Fomos ao juiz, que como me conhecia, autorizou que eu ficasse com a guarda, eles iriam procurar pelo nome, se tinha algum parente.

Tomei um taxi, fomos para casa, para ele, devia parecer imensa.  O levei para a cozinha, sabia que Max, estaria no quarto, pois tinha tomado quimioterapia no dia anterior, isso o deixava cansado, cheio de dores.

Lhe preparei um café com leite, fiz um sanduiche, que ele ia devorando, disse que comesse devagar, que lhe faria outro, comeu os dois.

Depois o arrastei comigo, para o andar de cima, venha conhecer meu amigo.

Abri as cortinas do quarto, ele viu o Max em cima da cama, lhe disse que ele estava doente, ele subiu sozinho, pegou a mão dele, ficou alisando, este foi abrindo os olhos, quando deu com o garoto, se sentou na cama.

Talvez seja nosso filho lhe disse, lhe contei a história, ele ria até, com isso o menino também ria, talvez sem entender.  O abraçou, ficou com ele ali, o menino se relaxou.

Mostrou o papel com seu nome, Richard Bale.

Max se levantou animado, vou tomar um banho, o quarto tinha um banheiro a mais, ele entrou embaixo do chuveiro, o garoto foi atrás tirou a roupa, fez sinal que queria também, adorou a água quente, eu fiquei ali sentando olhando, os dois, se divertiam.

Me assombrei vendo o Max se sentar num banco, com o garoto lavando a cabeça dele, que estava como ele sem cabelos.

Ele se matava de rir, nem parecia o homem que quando sai de casa estava desanimado.

Desceram os dois para tomar café, aproveitei para marcar hora com um médico que a assistente social tinha me falado.

Seria naquele mesmo dia.  Saímos os três, Max queria lhe comprar roupas, fomos ao comercio mais próximo, tive que controlar, pois ele já queria comprar muita roupa, lhe disse com calma.

Compramos roupa interior, que ele adorou escolher cheia de desenhos, uns tênis mais quentes para o inverno, camisetas de manga comprida, as calças compridas ele adorou.

Quando voltamos para casa, ele ia no meio, segurando a mão dos dois.

Fomos de tarde ao médico, lhe fizeram um exame completo, o mesmo só de olhar, e comparar a idade, disse que ele poderia ter um problema de desnutrição complicado, que teríamos que acompanhar tudo.

Mas de qualquer maneira os exames nos diriam.

Quando sai, a assistente social, perguntou se podia ir até lá em casa, para não ficar falando por telefone.

Quando chegamos ela já estava lá.

Examinou a casa, lhe mostramos um quarto pegado ao nosso, que poderia ser dele.

 Nos sentamos no salão tomando chá, ela disse que tinham encontrado os que seriam como avôs dele, duas pessoas de idade, contou a história, duas pessoas que tinham aproveitado bem a vida, que tinha adotado a mãe dele, para que os cuidasse na velhice, lhe deram escola, etc.

Mas se meteu com quem não devia, um dia apareceu gravida, eles que nunca tinham suportado crianças, a tinham adotado maior, para não terem o problema de cuidar, acabaram depois do parto a colocando na rua, mas não queriam o garoto.

Os fiz assinar um documento, abrindo mão da guarda do garoto.

Rick, como o passamos a chamar, agora só dependia do juiz, ela estaria acompanhando o caso.

Ela entraria em contato com o médico, para ir acompanhando o crescimento dele.

Em um ano, o adotamos, Max disse que o melhor era que fosse eu, pois ele já estava velho, tinha medo de morrer.

Depois diria que eu sem querer tinha realizado um sonho dele, ter um filho.

A primeira vez que fomos a Dover, trouxe minha mãe e minha tia, para conhecer o Rick, ela ficou como louca por ele, disse uma coisa, que eu não sabia, em casa não tínhamos fotografias, que era parecido comigo em criança.

Ajudou a arrumar um quarto para ele, o jardim estava meio abandonado, fui para o invernadeiro, com ele atrás de mim, fui contando para ele, que essa era minha profissão, desenhava jardins.

Quando tinha que me ausentar, o Max, ria dizendo para ele, vamos aproveitar fazer tudo que ele diz que não, pois ele tinha uma dieta balanceada, mas já estava crescendo normalmente.

Tinha mudado o nome dele para Richard Bale Sherader, meu sobrenome, quando lhe perguntavam, ele omitia o Bale, só Richard Sherader, ria, eu que em criança nunca tinha visto desenhos animados na televisão, agora me sentava com ele, vendo velhos filmes de Tom e Jerry, ou qualquer outro que ele gostasse.  Logo entrou para a escola.

Agora com quase onze anos, vinhamos trazer o corpo do Max, para colocar no Mausoléu da família, ele fez a mesma coisa, pediu que simplesmente fizéssemos isso, nada de cerimonias, missas, não gostava, quando muito tua mãe, foi tudo que pediu.

Tínhamos nos registrado como um casal, depois nos casamos, assim eu era seu herdeiro, mas o dinheiro que tinha no Banco ele tinha colocado numa conta, para no futuro Rick poder ir à universidade.

Na viagem, Rick foi sentado ao meu lado, quando sem querer eu parava para chorar um pouco, ele me consolava.   Me dei conta, que não podia fazer isso na frente dele, ele também tinha perdido uma pessoa que adorava.

Segundo o médico, quando ele entrou nas nossas vidas, de uma certa maneira Max, estava entregando os pontos, o Rick o fez levantar a cabeça e lutar contra o câncer.

Acabou morrendo de outra coisa, uma parada cardíaca durante a noite.

Fizemos suas vontades, como não tinha nenhum projeto em seguida, tinha sim fazer o que ele tinha feito, analisar toda sua herança.   Ele na verdade, quando recebeu a do pai, basicamente tinha liquidado quase todas as terras, ficando só a casa de Londres, bem como a de Dover.

Eu poderia viver tranquilamente do dinheiro que tinha, um projeto meu, hoje em dia valia muito.

Minha mãe achava que a vida em Dover era melhor para ele, pois podia ir a uma escola boa ali perto. 

No Natal pela primeira vez, nos reunimos, não todos, porque minha irmã seguia vivendo na Irlanda, já em seu segundo matrimonio sem filhos, não os queria, essa não veio, veio minha outra irmã que seguia solteira, não estou louca para me meter num casamento.

Jerry, ao contrário, tinha passado muito tempo trabalhando na Africa do Sul, voltou casado com uma mulher que era uma mistura de negros com indianos, tinha uma pele incrível, bem como uns cabelos larguíssimos negros, era médica como ele, tinham dois filhos nascido lá.

Vieram para nos visitar.   Ficaram todos na casa, contratei duas senhoras para cuidarem da casa, cheia de gente.

Minha mãe assim teve a oportunidade antes de morrer, de ver seus netos, os filhos mais chegados a ela.

Jerry mesmo tempo um convite para trabalhar em Londres, voltou para a Africa do Sul, disse que tinha a vida deles lá, que gostava do clima de lá.  Ficamos de ir um dia visita-los.

A vida dá muitas voltas, eu agora tinha meu jardim como um lugar que os clientes pudessem ver o que eu fazia, uma parte tinha um jardim japonês, de outro lado, jardim decorados, recuperei totalmente o invernadeiro, o que me dava imenso prazer, era que o Rick me ajudava no mesmo, aprendia tudo de primeira mão.

Já entendia como funcionava tudo, dependendo da época, o que plantar, que bulbo retirar depois de ter saído as flores. 

Nas férias fizemos juntos uma viagem, visitando todos os jardins botânicos, da Europa, queria poder fazer coisas mais tropicais, mas claro o clima nunca ajudava.

Com o tempo, primeiro fiz o projeto para uma família riquíssima, quando já estava tudo encomendado, se divorciaram, resolvi montar o projeto, aonde era a varanda da nossa casa em Dover, assim era como ter um imenso viveiro tropical na própria varanda.

Os clientes que apareciam no inverno, adoravam, imagina uma coisa tropical, fora frio e neve.

Logo me saíram mais pedidos disso, para grandes mansões.

Trabalhava em ritmo lento, pois adorava desfrutar de meu filho.

Um dia me chamaram na escola, ele tinha brigado com outros garotos, na verdade tinha ajudado outro garoto a se defender de um grupo.

O diretor estava orgulhoso, gosto quando meus alunos, defendem os outros.

Entendi quando vi o garoto, eram como seus primos da Africa do Sul, a surpresa foi quando apareceu o pai, era o Thomas, agora era inspetor chefe de Polícia da cidade.

Me contou num almoço lá em casa, com os meninos brincando, que tinha feito o que tinha se proposto, só não tinha sido guarda da Rainha.   Vivi em muitos lugares, me casei, nasceu o garoto, resolvi voltar para cá, aceitei um convite para isso.

Mas minha mulher nunca gostou daqui, conheceu um americano, pediu o divórcio, o tipo muito rico, não queria um filho diferente, fiquei com ele.

Começarmos a passar o fim de semana juntos, pelos meninos, um dia Thomas me disse que nunca tinha esquecido de mim.   Minha frustração sempre foi nunca termos terminado o que começávamos, acabamos na cama, agora somos uma família, estamos contentes, os meninos se dão bem.

Meus projetos seguem em frente, o próximo, será fora, na França, para instalar tudo no castelo aonde vamos, nos ofereceram acomodações, tiramos férias vamos todos.

Com direito a uma escapada a Disney Paris.

Vai sempre valer a pena, nunca claro me esquecerei de Max, ele foi o amor da minha vida, o Thomas da minha juventude, agora da idade mais avançada, queremos ver os garotos crescerem terem um futuro.

 

 

 

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