KAMAL
Tinha acabado de abrir a porta, quando seu
celular, começou a vibrar, o tinha sempre sem som, para não incomodar os
outros, chegava da escola que dava aulas no subúrbio, ninguém entendia isso,
para um formado em Oxford Cum Laude, parecia uma coisa sem sentido.
Mas na sua cabeça, tudo fazia sentido, alguns
diziam que ele dava aulas no subúrbio, para poder ter ideias para seus livros,
mas não era verdade, mesmos seus companheiros, que a princípio o recebiam mal,
agora entendiam como ele trabalhava.
Ensinar Shakespeare a esse grupo de jovens,
filhos de emigrantes de todos os lugares em que a colônia britânica um dia teve
controle, a muitos parecia uma loucura, mas não como ele fazia, além claro de utilizar
“Mil e uma noites”, contos árabes os mesmo escritos em Farsi, como ele tinha
estudado.
Seu trabalho de graduação, tinha sido
justamente sobre duas coisas, as obras de Shakespeare, e os contos de Mil e uma
noites. Na hora sua proposta não
impressionou ninguém, até sua mãe lhe fez um comentário, aonde ele queria parar
com isso.
Levou mais de dois anos escrevendo a tese,
para isso, foi a Inglaterra profunda, mesmo depois ao Irã, para o interior,
aonde se falava ainda o Farsi, depois foi ver seu pai em Istambul.
Olhou o celular do bolso, viu que era uma
chamada de Kaleb, seu irmão por parte de pai. Isso era raro, pois se tinham
falado a uma semana.
Levou um susto, ele lhe avisou, que o pai
tinha sido assassinado, que no momento estavam fazendo a autopsia. Seu Pai Kamal, como ele, era comissário da
polícia de Istambul, muito bem relacionado.
Segundo seu irmão lhe contou, tinha caído numa emboscada, acreditavam
que ele estava ajudando um fiscal, contra a corrupção. Ele mesmo tinha sido investigado, quando
descobriram aonde morava, mas o apartamento fazia parte do dote de sua segunda
esposa, a mãe de Kaleb.
Sabia que seu pai, era famoso, por ser um
homem reto.
Sua mãe, era inglesa, estava estudando na
universidade de Istambul, fazendo uma pesquisa, para sua graduação em
Oxford. Seu pai atendeu uma chamada de
um assassinato, era dela, tinha chegado aos dormitórios que usavam vários
estudantes ingleses, ela tinha encontrado o corpo de uma companheira, que usava
o quarto ao lado do seu, a porta estava aberta, foi fazer um comentário, viu o
corpo.
Chamou imediatamente a polícia, foi seu pai
que atendeu a chamada.
Foi assim que se conheceram, era um homem
diferente vindo do interior, mesmo o rosto, nem parecia de um turco, tinha a
pele muito morena, um nariz, que parecia cortado a faca, uma boca sensual,
olhos muito negros.
Ela ao contrário, muito branca, cheia de
sardas, olhos azuis, cabelos loiros, os dois eram altos, por isso talvez quando
nasci se espantaram, era branco, com cabelos negros, o nariz posteriormente
seria como o dele, mas um detalhe, meus olhos são azuis quase transparente, por
isso sou obrigado, quando estou na rua, usar óculos de sol, mesmo que o tempo
esteja nublado.
Além claro de ser obrigado todos os anos a
fazer um exame de vista.
Escutei todo que meu irmão me falou, lhe
disse que meu filho Paul, estava para chegar da escola, que iria em seguida ao
aeroporto, graças a deus a dois dias tinha acabado os exames do semestres, já
tinha corrigido todos, podia pedir licença na escola, falaria imediatamente com
a diretora.
Foi o que fiz em seguida, ao mesmo tempo
que arrumava minha maleta, sabia que Paul, era especial nisso, quando chegasse,
ia fuçar a minha, arrumando novamente, fui só separando as roupas.
Quando ele chegou, lhe disse que seu avô
tinha morrido, não falei em assassinato.
Ele se abraçou a mim, eu tinha sorte de
tê-lo como filho, pois sempre tinha sido amoroso.
O tinha adotado, era filho de uma aluna,
que alguém da família tinha abusado, tinha só 14 anos, a ajudei, fiquei com a
criança. Todo mundo dizia que era muito
parecido comigo, a única diferença eram seus olhos negros como carvão.
Chamei um taxi, fomos para o aeroporto, a
última vez que tinha visto meu pai, bem como meu irmão, tinha sido justamente
no enterro de minha mãe, ela era professora num colégio para mulheres, em
Oxford, por isso não entendia minha escolha, para trabalhar no subúrbio.
Tinha ficado viúva de seu segundo
matrimônio a dois anos atrás.
Sem querer fui lembrando disso, meus pais
se casaram numa cerimônia mista em Istambul, pois ela estava grávida. Depois
que nasci, ele esperava que ela ficasse em casa, mas que nada, foi emendando um
curso atrás do outro na universidade, um dia disse que isso não funcionava,
resolveram se separar. Lá fui eu a
tiracolo, para Londres, aonde vivia a mãe dela, uma excelente professora da
universidade de Londres.
Quando anos depois resolveu se casar com um
professor, que tinha sido seu orientador de tese, fiquei para trás, pois ele
detestava crianças, dizia que não podia imaginar uma criança correndo pela
casa, aonde cada coisa, jamais mudava de lugar.
Fiquei com minha avô, a quem devo
demasiadas coisas. Adorava chegar em
casa, depois das aulas, aonde eu passava o dia inteiro, ela me esperava para
tomar um chá, nos sentávamos na biblioteca, queria saber do meu dia. Me escutava com suma atenção.
Se matava de rir comigo, quando lhe contava
que os professores eram relativamente tontos, pois o que eles ensinavam eu já
sabia. Mas só me deixou andar mais dois
cursos, depois que fiz os testes relativos, me avisou, vais estar com gente
mais velha que tu, te farão bullying, por isso tens que aprender a te defender.
Nessa época cresci muito, já tinha quase a
altura de hoje, mas era magro, mas havia algo que fazia as pessoas não se
aproximarem de mim, quando tirava o óculos, meus olhos quase brancos assustavam
os outros, alguns diziam que eu parecia um bruxo, disso eu me aproveitava.
O bullying era mais porque, eles sendo mais
velhos do que eu, as melhores notas eram as minhas, isso que eu não estudava
demais, ia sim atrás da minha grande paixão as bibliotecas, além de fazer aulas
de árabe, não queria perder o contato com meu pai.
A principio ele vinha todos os anos, nas
suas férias, que tentava fazer encaixar com meu aniversário, ficava num hotel
pequeno, perto da casa de minha avó, quando se casou novamente, sentou-se
comigo, me explicou que teríamos que encontrar outra maneira de nos comunicar,
pois ele teria uma nova família, com seu salário, vir todos os anos, eram
complicado.
Me escrevia quase todas as semanas, mas em
árabe, para que eu não esquecesse das minhas origens, quando nasceu Kaleb, me
mandou um foto dele, depois a cada dois ou três anos, vinha com a família. Ria dizendo que tinha que economizar muito
para isso, aproveitar alguma oferta em classe turística. Me escrevia perguntando o que eu queria de
presente, eu sempre pedia algum livro.
Quando comecei a estudar Farsi, lhe pedi
que procurasse no Grande Bazar, aonde ao lado tinha lojas de livros antigos,
algum que fosse nessa língua, hoje só usada basicamente no Iran.
O primeiro foi justamente Mil e uma noites. Eu devorei, analisava cada conto, com
profundidade.
Adorava me encontrar com meu irmão, como eu
era o mais velho, me seguia por todos os lados, como uma sombra.
Apesar da nossa diferença de idade, tinha
paciência de me sentar com ele, conversar, contar histórias, ele ficava lá em
casa, dormia no meu quarto.
Chamava minha avó, em árabe, ela adorava,
mandava a empregava preparar todos os doces que ele gostava, ele trazia também
coisas para ela.
Quando sua mãe morreu, ele tinha uns dez
anos, foi uma coisa traumática, num atentado terrorista, meu pai o mandou para
passar as férias mais compridas comigo.
Nessa época minha mãe também tinha ficado
viúva, mas se negava a sair de Oxford, aonde tinha feito sua vida.
Logo chegou minha época de ir à
universidade, o queria fazer em Londres mesmo, mas ela insistiu que eu fizesse
em Oxford. Como pagaria ela, fiz uma
coisa, consegui um quarto fora da universidade, mas na sexta-feira,
desaparecia, para voltar para casa, tomava o trem, ia passar o final de semana
com minha avó.
Ela achava isso demais, eu na verdade
comecei a fazer minha tese, antes de acabar a universidade. Primeiro me aprofundei em Shakespeare, o
analisei de todas as formas possíveis, foi na verdade ela quem me deu a chave
para abrir para o que eu queria, dizia que nada mais atual, bastava comparar o
que se passava na política atual, na família real, para encaixar as historias
que ele contava.
Depois comecei a pensar o mesmo a respeito
de Mil e uma noites, pois o mundo não mudava, o Oriente Médio, tampouco, analisava
isso, meu pai me mandava todas as semanas jornais de lá, eu lia tudo, ela se
matava de rir, pois dizia que eu estava entre os dois países, mas entendia que
meu pai queria que eu não perdesse minhas raízes.
Minha mãe quando descobriu, pois me pegou
num restaurante lendo um jornal que ele tinha me mandado, apesar de atrasado,
era interessante. Me sinalizou, que nas
outras mesas, as pessoas liam os ingleses, que eu destoava lendo um jornal
turco.
Fiquei olhando para ela, a provoquei
falando em árabe com ela, agora a cada encontro a obrigava falar nessa língua,
ela tinha ido com o tempo, por falta de uso, se esquecendo do que tinha
aprendido lá.
Na verdade, quando acabei a universidade,
nos afastamos muito, pois logo em seguida minha avó morreu, ela nunca esperava
o que sua mãe fez, me deixou a casa, bem como todas suas economias, se comparo,
senti mais a morte de minha avó, que a sua.
Com o dinheiro, pude ir ao Iran para
estudar mais profundamente o Farsi, as pessoas riam, pois para que eu precisava
disso.
Depois passei um tempo em Istambul, com meu
pai e meu irmão, agora um adolescente, rebelde segundo meu pai, mas eu o
entendia, de um lado, ele passava o dia inteiro fechado num colégio particular,
meu pai quando chegava em casa, vinha cansado, não lhe dava atenção, pois
estava com algum caso complicado.
Agora era com ele, com quem me
correspondia, apesar do mundo ter evoluído, podias falar pelo celular, sempre
nos comunicamos bem, escrevendo.
Ele queria como eu fazer literatura,
estudava inglês na escola, eu ia lhe mandando os livros, que já tinha lido, ou
se ele me pedia algum, eu lia antes, ia inserindo no meio, minhas observações,
então tínhamos assunto.
Quando eu adotei o Paul, minha mãe ficou
uma fera, disse que eu já tinha idade para estar casado a muito tempo, mas que
eu nunca comentava nenhum relacionamento com ela, era uma verdade, mas como
dizer que eu nunca passava da foda de uma noite, que não me apaixonava.
Me jogou na cara, que eu não sabia quem era
o pai da criança, usou mil e um argumentos, mas já era tarde, como nunca tinha
participado da minha vida desde criança, para mim o que ela pensava e nada era
a mesma coisa. Eu pensei sim, como
minha avó receberia essa criança, isso era o que me importava. Me lembrei como ela fazia, saia para ir as
compras, comprava caramelos, a cada criança que encontrava, ia dando um, sem se
importar, com cor ou credo dos pais.
Falava com todo mundo, até aprendeu comigo, falar com o dono do pequeno
supermercado perto de casa, que era árabe, o cumprimentava em sua língua. Por isso minha mãe se surpreendeu no seu
enterro, que houvesse tanta gente, de todas as raças, a maioria eram vizinhos
nossos.
Dizia que eu devia vender a casa, pois o
bairro já não era o mesmo, tinha se diversificado muito.
Mal sabia que eu adorava isso, ter gente
com quem conversar.
Quando sai pela primeira vez, com meu filho
nos braços, todos paravam para falar comigo, fazer um agrado, principalmente
que contratei uma senhora turca para cuidar dele, lhe disse que só falasse com
ele, na nossa língua, assim ele aprenderia desde o berço minha língua de
origem.
Telefonei do aeroporto para o Kaleb,
dizendo a hora que íamos chegar, Paul estava chateado, pois adorava o avô, me
soltou sentado ao meu lado, que sentia não ter conversado mais com ele, mas
claro se o Paul estava junto, era com ele que se entendia.
Chegamos com bom tempo, apesar do vento
frio, no carro o Paul, foi comentando o que tinha acontecido, ou pelo menos o
que ele sabia, muita coisa ainda estava para vir a luz.
Meu pai, junto com o fiscal, tinham sofrido
um atentado, a mais de dois anos, que estavam os dois trabalhando juntos.
Paul só adiantou que o caixão ia estar
fechado, pois se tinha destruído muito os dois corpos.
Chegamos à casa deles, ficava perto do
Torre Gálata, tinha a mesma vista espetacular que se tinha de lá, era um duplex
relativamente grande, para duas pessoas, mas tinha sido da família da sua mãe,
do andar de cima, tinha uma varanda que pegava todo o panorama de Istambul, meu
pai tinha seguido uma sugestão que lhe dei, colocar um fecho na mesma, para
poder se disfrutar mesmo no inverno.
Eu ficaria no seu quarto, no outro,
ficariam os dois, das vezes anteriores, um tinha que dormir no sofá do andar de
baixo.
Desde que tínhamos desembarcado, Paul
estava toda hora abraçando o Kaleb, até mesmo tinha chorado no seu ombro.
Kaleb me disse que iria sentir a falta do
pai, pois além de tudo, se bem que por causa dele, tinha se transformado num
amigo. Isso tinha sido um toque que ele
tinha dado ao pai, quando Kaleb era um adolescente, se batiam de frente. Como seu pai não teve que aguentar a sua,
imaginava que ele tinha sido sempre um garoto sem problema, o que não era
verdade, mas entendia os outros jovens, por ter convivido com eles na escola,
tinha perdido uma parte de sua juventude, pois tinha entrado para a
universidade cedo demais. Lhe faltava nessa época, malícia, teve que
amadurecer na porrada, sabia que não podia se fechar, isso sua avó dizia para
ele, entraste muito cedo, os que estão lá, só estão pensando em sexo, drogas e
rock roll.
Era uma verdade, ele não encaixava nas
festas que davam, por isso preferia morar fora da universidade, assim podia
fazer sua vida. Sem querer formou um
grupo, com justamente os que eram colocados a parte, por serem de outra
raça. Esses nunca entendia seu nome,
como podia se chamar Kamal Mactosh, sua mãe, quando voltaram queria trocar seu
nome, mas sua avó, não permitiu, disse que assim ele perderia os laços com sua
pátria verdadeira.
Na verdade ele sempre ficava no meio das
brigas das duas, pois sua avó o entendia melhor que ela, que queria que ele
fosse um inglês totalmente.
Estava parado olhando para o panorama,
imaginando se ele tivesse permanecido lá, como seria, hoje um homem de 30 anos,
o que poderia ter sido.
Seu irmão se chegou a ele, o abraçado de
lado, em que estas pensando?
Comentou justamente o que pensava.
Bom, certamente serias um professor da
universidade, ou estaria trabalhando lá no cu do mundo em alguma escola rural.
Mais fácil essa segunda, eu até tentei dar
classes na universidade, mas claro os alunos a maioria de classe rica, quando
me viam entrar na classe, essa mistura de raça, despois nunca entendi por que
queriam entender o Farsi, se jamais se moveriam para ir ao Iran.
Dessa turma só tinha um que destoava, pois
tinha vindo como eu, muito jovem para Inglaterra, tinha perdido suas raízes,
pois seu pai seguia no Iran, sua mãe era inglesa, se negava a falar em outro
idioma, então comigo, falava horrores.
No final do ano, já tinha conseguido o
posto de professor, tinha passado com as melhores notas, podia escolher aonde
queria dar aulas, escolhi aonde tivesse maior concentração de emigrantes com
raízes árabes.
Quando contei o que ia fazer no final do
semestre, nenhum outro aluno, ou professor da universidade entendeu. Deixar o que tinha, para ir ensinar no
subúrbio, estava era louco.
Foi difícil desde o primeiro dia, cheguei,
a diretora me esperava, não entendia, que com as melhores notas eu quisesse
estar ali, poderia ter escolhido qualquer escola pública.
Depois me levou a sala dos professores, me
apresentou aos outros, já era voz corrente que eu tinha escolhido essa
escola. Todos queriam passar um período
ali, depois conseguirem uma transferência para outra escola.
No primeiro dia, entrei, a turma estava
fazendo a maior baderna, fiquei parado, sem me mover, tirei os óculos, os
alunos foram se acalmando, só quando pararam, me olhavam espantado, aquele
homem moreno, alto, com os cabelos como que Black Power, com aquele olhar
sério, esses olhos que pareciam de filme de terror.
Me apresentei, disse que como eles, eu era
metade árabe, outra parte inglês, mas tudo isso falando em árabe, disse que
minhas aulas seriam nessa língua.
Estavam pasmos, fiz a chamada, em pé,
perguntando a cada um suas raízes, dois deles eram do Iran, com eles falei em
Farsi, não sabiam falar nessa língua.
Só um aluno era descendente de japoneses,
quando falou, riu, vou aprender outra língua, para assim poder falar com esses
loucos.
Um dia a diretora, ficou ao lado da porta
escutando, minha sala, eu estava lendo para eles, um trecho de uma obra de
Shakespeare em árabe, não sei como meu pai tinha conseguido isso para mim. O rapaz descendente de japonês, um dia me
perguntou se existia essas obras na língua de sua família. Procurei para ele, ficou super feliz,
quando lhe entreguei.
Um dia comentei com eles, como Akira
Kurosawa tinha adaptado para o Japão, as obras do mestre inglês.
Eu trazia filmes de minha coleção
particular, discutíamos tudo. Até os
mais complicados, escutavam tudo, ou eram obrigados a escutar, pois os outros
mandavam os mesmo calarem a boca.
A diretora, no final do ano, me elogiou na
frente de todo mundo. Eu só ri, dizendo
que fazia isso para me apanhar.
Um dia li um dos contos de Mil e uma
Noites, comecei a colocar no quadro o quanto se parecia com Sonhos de uma noite
de verão. Fiz os alunos estudarem as
duas coisas ao mesmo tempo.
Analisamos cada ideia que ia surgindo.
No exames depois disso, a maioria escreveu
coisas interessantes.
Quando meu pai veio, com o Kaleb, os levei
até lá, o Paul nesse dia faltou as aulas, para ir também, se sentiu em casa,
vendo todos falarem árabe na aula.
Eu batia sempre na mesma tecla, que não
deveriam ter vergonha de suas raízes.
Quando apresentei meu pai, dizendo que ele
era um comissário em Istambul, fizeram mil perguntas, a maioria não sabia nada
de como era viver lá.
Ele foi experto, passou as respostas para o
Kaleb, ele comentou como era ser jovem hoje em dia num pais que tinha uma
tradição, ao mesmo tempo que se abria ao ocidente, o choque entre estas duas
coisas.
Os alunos estavam alucinados, já tinham
feito na época as provas finais, pediram ao Kaleb se ele podia vir no dia
seguinte, fizeram um debate com ele, gravaram tudo, acabou no Youtube.
A diretora, ficou feliz da vida, eres um
dos poucos que consegue se comunicar com eles.
No período seguinte, vários professores,
foram transferidos, para outras escolas, melhores ou piores, eu a ajudei a
encontrar mais professores que tinham raízes árabes. Mas o interessante era que a maioria não
queria ir para lá, alguns inclusive tinha saído desse bairro.
Com muita sorte, conseguimos dois,
conversamos, lhes disse como dava aula, como cativava os alunos.
Quando me ofereceram para mudar de escola,
eu disse que não me interessava, o sujeito que veio me entrevistar, disse que
não entendia.
Claro era um inglês, por mais que eu
explicasse, que procurava que esses garotos, tivessem uma vida melhor, que
entendesse que o inglês era o que falavam nas ruas, mas em casa, falavam a
língua de onde eram originários seus pais.
Um dia um aluno, depois que viu, meu pai e
meu irmão, trouxe o avô dele, para conversar com a turma, era um velho
professor de Istambul, mas que para sobreviver em Londres, tinha tido mil
ofícios, para tocar a família para frente.
Com os alunos, fiz um questionário, para
que ele pudesse explicar, bem como eles entenderem, muitos as vezes alegavam
que seus pais nunca tinham consultado se eles queriam ir para lá.
A turma que finalizava esse ano, era
justamente a que tinha conversado com meu irmão, eu estava feliz, pois dois
tinham conseguido uma bolsa para Oxford, outros quatro para a universidade de
Londres. Isso era uma grande vitória
segundo a diretora, quando antes não iam nenhum, pois a maioria nem chegava ao
final do curso.
De tarde fomos conversar com o chefe de meu
pai, esse nos deu os pêsames, explicou o que poderia ter acontecido. Disse que o que ele fazia com o fiscal, tinha
provocado mil ressentimentos, estamos tentando chegar a quem fez isso.
No dia seguinte teriam uma cerimonia de
enterro dos dois, com honras do governo, viria alguém do mesmo para assistir.
Nessa noite, depois do jantar, escutei Paul
conversando com o Kaleb, se era muito difícil ele conseguir fazer universidade
lá.
Se gostas de estudar bem, mas se só queres
um diploma, não creio que valha a pena, pois, seria menos importante que um
feito na Inglaterra.
O enterro, foi uma coisa que não gostou a
nenhum de nós, pois era como uma grande farsa política, com discursos, estas
besteiras todas.
As pessoas vinham falar com Kaleb, mas como
estávamos ao seu lado, nos apresentava, como filho e neto de meu pai Kamal.
Apertavam as mãos nos examinando, eu claro
sempre atrás do meus óculos escuros, analisava o quanto estavam sendo
hipócritas.
No fundo os três tínhamos o mesmo
sentimento, loucos para escapar dali.
Quando íamos saindo, esbarramos, com o chefe de departamento da
universidade, ou seja o chefe do Kaleb.
Ele ficou segurando minha mão, perguntou se
eu era o irmão que dava aulas em Londres, em Árabe e Farsi.
Podias vir a universidade, para falar disso
com os alunos, muitos não entendem o quanto é importante valorizar nossa
língua.
Kaleb ia organizar, pois o semestre
terminava em uma semana.
Foi interessante, as perguntas algumas
vezes eram ingênuas. Quando descobriram
que eu dava classes numa escola no subúrbio, Kaleb tinha comentado que poderia
estar dando aulas na universidade, mas preferia isso.
Tive que explicar, que esses alunos, eram
menos privilegiados, pois os professores que iam para lá, tampouco eram os
melhores em suas áreas, tinha que aceitar ir, porque suas notas não eram boas.
Um rapaz, contou que tinha vindo do
interior, se volto de aonde sai, terei que dar aulas numa escola de chão
batido, em que a maioria dos alunos, assiste aulas sentados no chão.
Le deixei como pergunta, se eles mereciam
menos que as escolas com mais privilégios.
Não sabia, mas o reitor e o chefe do
departamento, estavam assistindo esse debate, bem como alguns professores.
Lhes expliquei a partir daí, como fazia
para motivar os alunos, quando encontrava um artigo no jornal, ou mesmo alguma
coisa que poderia dizer que era como feita por um personagem de Shakespeare, os
fazia analisar a notícia, até encontrar com algum personagem do escritor tão
famoso.
Que fazia a mesma coisa, usando os jornais
que me chegavam claro atrasados, para colocar uma visão dos países orientais,
que tampouco escapavam de estereótipos.
Me convidaram para dar aulas lá, Paul e
Kaleb ficaram contentes, eu disse que precisava ver como faria com minha escola
em Londres.
Claro podia pedir uma excedência, ia
depender realmente se Paul queria estudar lá.
Quando conversei essa noite com os dois,
estavam mais entusiasmado do que eu.
O mais interessante, no dia seguinte me
chamaram da universidade, para um encontro com vários professores que eram escritores.
Lá fui eu outra vez, o primeiro que me fez
uma pergunta em inglês, respondi em turco, porque me fazia a pergunta em
inglês, expliquei inclusive que dava classe em árabe de uma maneira geral,
inclusive tinha meus dias de Farsi, pois tinha alunos, que vinham do Iran.
Quase todos conheciam minha teses, sobre
esse confronto, entre Shakespeare e Mil e uma noites. Falei sobre isso, inclusive, contei que por
causa do aluno descendente de japonês, tinha incluído a adaptação de muitas
coisas por Kurosawa.
As perguntas e claro, caíram sobre os
escritores turcos, quais eu conhecia, lhe contei que tinha uma ampla
biblioteca, como fazia com meu irmão, eu lia os livros de autores ingleses que
lhe interessavam, fazia meus comentários, numa folha a parte, jamais nos
livros, mandava para ele, ele fazia a mesma coisa, comigo, algumas vezes,
víamos de maneira diferente isso.
Comentei que uma vez, quis levar um
escritor inglês, que meu irmão tinha uma visão do mesmo diferente da minha, a
resposta do mesmo, foi um jarro de água fria na minha cabeça, se esses seus
alunos, iam realmente ler, comprar seus livros, o pior se iam entender.
Os alunos, tiveram acesso ao seu livro,
depois os comentávamos em classe, nunca era muito favorável, pois ele tinha uma
ideia dos orientais diferente, comentava os personagens, árabes, mesmo
chineses, como se todos fosse uma máfia.
Convidei um professor da universidade para
assistir um debate entre duas turmas, cada um falando como tinha visto o livro.
Reclamavam justo do fato do mesmo escrever
sobre os emigrantes, sem nunca ter conversado com nenhum, as ideias eram
preconceituosas.
O professor, já tinha feito uma crítica
para o Times, voltou a escrever, agora com outra visão, acabou com o livro,
chamando o escritor de muitas coisas.
Realmente é muito fácil criticar um
escritor ou um livro, a partir de que se ele tem ou não uma vivência do
assunto.
Claro queriam saber dos escritores
contemporâneos turcos o que mais gostava.
Eu respondi, de uma maneira diferente,
contei quando apresentei minha tese, comparando um dos maiores escritores da
língua inglesa, com contos árabes, alguns diziam que eu estava louco, outros
gostavam, mas a maioria não tinha entendido nada.
Acabei aceitando o convite, fomos os três a
Londres, eu e meu filho, para conseguir os papeis, além é claro, fechar a casa.
Deixei a senhora que tinha cuidado do meu
filho, cuidando da mesma.
Riam muito, pois ia ganhar na universidade,
transformando em Libras, o que eu ganhava na escola.
Mas tinha uma vantagem, tinha a casa do meu
irmão para viver.
O problema sabia, seria a adaptação, tinham
aceitado o Paul na universidade, inclusive ia ser meu aluno, o que não me
facilitava.
Tinha que separar a minha cabeça por
camadas, pois entre os alunos, a maioria eram filhos de uma classe mais
privilegiada, outros vinham do interior, ou tinham bolsa de estudos, esses eram
os mais interessados.
Inclusive me pediram para dar aulas de
formação dos que queriam ser professores, inclusive descobri no segundo dia de
aula, dois alunos do Iran, mas claro, eram de famílias ricas.
De uma certa maneira me decepcionava, pois
me consideravam como um inglês, tinham sugerido que eu desse aulas nessa
língua, para os ajudar.
Me neguei rotundamente, lhes expliquei que
dava aula até a pouco tempo para filhos de emigrantes, que estavam perdendo
suas raízes.
A maioria não entendia disso, até me
menosprezavam, quando queria ter aulas, pensavam que eu era um inglês que vinha
de Oxford, ou de outra universidade importante.
Claro havia toda uma imagem construída, não
só pelo cinema, mas também pela imaginação, pelas histórias que se contavam,
alguns inclusive pensavam que Shakespeare tinha estudado lá.
Quando lhes expliquei que nada disso era
verdade, se decepcionavam.
O pior foi um dia que ia entrando na sala
dos professores, dois comentavam, o que tinham escutado de alguns alunos, esse
inglês, nos está fazendo perder tempo.
Os interrompi, perguntei quem eram os
alunos, quando mencionaram os mesmo, ri, mostrei o último testes destes, eram
filhos de famílias ricas, posavam de play boys, mas escreviam mal, mostrei os
erros de ortografia.
Nunca nada é o que parece, os reprovei, os
pais reclamaram, que isso não se fazia ali.
Os chamei a cada um, mostrei os testes dos
filhos, que escreviam mal o árabe, que seus trabalhos eram medíocres. Me escutaram em silencio, mas não gostaram
do que eu falei, fizeram pressão é claro.
Foi chamado pelo reitor, fui claro, eu tinha aceitado o convite dele,
mas minha maneira de dar aulas, que tanto os tinha cativado, agora era um
problema.
Eu mesmo tinha mais dificuldades de
adaptação que o Paul, esse claro lhe chamavam de inglês, mas de fato ele era,
tinha tirado as notas mais altas nos cursos que fazia.
Caiu na asneira de comentar com um
professor, que dava as aulas em inglês, que cometia erros de pronuncia, o mesmo
ficou ofendido.
Ou seja, não estávamos bem ali, eu tinha
colocado em minha cabeça que esse retorno, me levaria as minhas origens, mas
isso não era verdade.
Tinha uma postura diferente dos outros
professores, esses achavam que eu tinha privilégios, que ganhava mais do que
eles, o que não era verdade.
No final do semestre, sentamos e
conversamos muito com o Kaleb, que a coisa não ia bem, não estávamos nos
adaptando, era como se com o retorno, nos tivesse colocado numa posição
diferente do que imaginávamos.
Ele ao contrário, queria fazer uma
pós-graduação, em Londres, conversamos muito sobre isso, numa das minha últimas
aulas, comentei isso com os alunos, falei mais do que me dizia meu aluno que
era japonês, que ele nunca ousaria a voltar para o Japão, pois seria
considerado um emigrante de segunda, que nunca teria boas oportunidades.
De uma certa maneira, creio que isso
acontece com os emigrantes, estão sempre fazendo o trabalho que os outros não
querem.
Falei com um amigo de minha avó, que
conseguiu para o Kaleb, uma bolsa de estudos, para fazer sua graduação, na
universidade de Londres, embora ele sonhasse em fazer em Oxford.
Ao contrário de nos dois, ele queria passar
por um inglês, mas claro se esquecia que a aparência era tudo na sociedade
fechada de Oxford.
Esteve lá fazendo um trabalho, voltou até
ofendido, ninguém se aproximava dele, a não ser estudantes árabes.
Eu voltei a dar aulas na mesma escola de
sempre, embora, tivessem me oferecido outros lugares. O mais interessante, o professor que tinha me
substituído, estava desesperado, imaginando que eu nunca voltaria, que ele
teria que ficar ali muito tempo, o fato que valeu para recuperar meu trabalho.
Me dei conta que realmente minha escolha
estava acertada, pois ali me sentia melhor.
Infelizmente, estava perdendo gradualmente
a visão, que de uma certa maneira era complicado, algumas coisas como fazia por
instinto, funcionava, mas se tinha que ler alguma coisa em letra pequena, já
não o fazia a não ser com uma lupa nas mãos.
Kaleb tinha voltado para Istambul, um pouco
frustrado, pois tinha imaginado que iria fazer sucesso com seu trabalho, mas
claro não foi assim, recuperou seu posto na universidade, as cartas agora, eram
cada vez com mais distância, mas quando escutou falar que eu estava perdendo a
visão, perguntou por que eu não ia para lá, que me cuidaria.
Paul nessa época estava já casado, em breve
seria pai.
Mas me preparei a consciência, me
aposentei, por já não ter possibilidades, alguns me gozavam, pois era com um
salário de professor de secundária, se fosse da universidade, seria mais alto,
mas isso não me importava, necessitava o mínimo para viver.
Deixei sim a casa da minha avó para meu
filho, pois eles precisavam de uma casa grande, eu aluguei um apartamento quase
ao lado, mas menor, para somente uma pessoa.
Tinha uma senhora turca, que vinha cuidar
da casa, um dos quartos montei um lugar para trabalhar, comecei a escrever
sobre o que pensava.
Inclusive me analisava na minha postura,
tinha um capitulo largo, que comentava, que apesar de amar meu pais de origem,
lá era tratado como um estrangeiro, aonde vivia de uma certa maneira era um
professor turco que queria ser inglês.
Tudo era de uma certa maneira
controvertido.
Paul, se casou com uma antiga aluna minha,
que os pais eram Etíopes, meus netos tinham um aspecto incrível.
Eu adorava quando Paul os trazia para me
visitar, ele chegou a ter quatro filhos, uma vez se sentou comigo na minha
pequena biblioteca, me perguntou claramente se eu nunca tinha amado alguém?
Pois ao longo desse tempo todo, nunca me
tinha visto com uma aventura, ou mesmo um namoro mais consolidado.
Os poucos relacionamentos que tinha tido
mais largos, para estas pessoas, parecia que eu não tinha ambições, segundo
algumas eu devia estar em Oxford, ou mesmo em qualquer universidade.
Quando lhes tentava explicar que essa era
minha ambição, trabalhar com jovens que pouco tinham oportunidades, que seu
caminho era mais largo que uma pessoa nascida na classe média inglesa, não
entendiam.
Depois tinha um detalhe, tinha me
acostumado com a solidão, desde jovem, sentia sim até hoje da minha avó, que
tinha sido fantástica comigo.
Com o Kaleb, foi como se a frustração dele,
foi se afastando, inclusive do Paul que o adorava, que nunca entendeu bem o
porquê.
Agora escrevia mais, artigos para revistas
escolares, levava uma vida tranquila, tinha realizado meu sonho, de poder
aplicar minhas ideias, o que para mim era o máximo.
Numa das últimas conversas com Kaleb, ele
soltou que nunca tinha entendido meus sonhos, tinha tentado aceitar minha
maneira de viver, inclusive tinha tentado pensar igual, mas tinha chegado à
conclusão, que minha escolha, tinha me dado ao final da vida, uma forma de
viver pobre.
Para o padrão que ele tinha em Istambul, eu
era um simples professor de emigrantes, nada mais que isso, claro com o tempo,
esqueceram do meu sistema de ensino.
Mesmo hoje, apesar de que escrevi tudo,
usei o exemplo das minha aulas, o quanto os alunos tinham aproveitado, mas
claro, quando estas de lado, deixas de existir.
Dos meus alunos todos, só um voltou para
dar aulas nos subúrbios, esse vinha sempre me visitar, trocar ideias comigo,
diziam que os que tinham conseguido fazer universidade, poucos queriam
retornar, mesmo sua família nunca o entendia.
O imaginavam dando aulas numa boa escola.
Com ele, discutia ideias, de como melhorar
tudo.
A mulher do Paul, as vezes vinha trazer os
garotos, não gostava que eu falasse em árabe com eles, pior se falava hebreu.
Um dia Paul, apareceu chateado em minha
casa, nunca tinha comentado com ela, que ele era meu filho sim, mas adotado.
Como explicar de aonde tinha saído, isso
era pior que ser emigrante, eu só sabia de sua mãe, que anos depois apareceu
para o conhecer melhor, nunca tinha escondido dele, quem era, nem porque o
tinha deixado para trás. Ela tinha
somente 14 anos, de uma certa maneira, tinha chegado a alguma coisa, trabalhava
de secretária numa grande corporação árabe, nunca se casou, ou teve família,
agora vinha sempre a minha casa, para conviver com os netos.
Não frequentava a casa dele, pois não se
dava bem com a nora.
Quando Paul se divorciou, ficou muito
chateado, pois tinha criado uma fantasia que seria eterno, mas ainda pude o
ajudar a pensar nisso.
Sua mulher tinha conhecido um professor de
Oxford, durante um curso que tinha feito por lá, tinha uma aparência exótica,
mas deixou os filhos para ele, sua mãe veio o ajudar a cuidar das crianças,
tudo que não pode dar a ele, agora dava aos netos.
Eu conversava muito com meu filho, de uma
certa maneira seus filhos eram uma mistura de raças, o que iria provocar uma
adolescência complicada.
Mas eu os escutava, tentava os orientar,
por sorte entenderam, agora os vejo indo a universidade, dois estão em Oxford,
só o pequeno, mais agarrado ao pai e a mim, estuda em Londres.
Com ele conversa sobre Shakespeare, ri
muito quando me lê uma notícia de jornal, lhe digo que parece com alguma de
suas obras, mostro o raciocínio, dos personagens, temos largos papos sobre
isso. Paul quando está participa, se
sente frustrado hoje em dia, pois trabalha na universidade, reclama sempre dos
alunos, mas quando estamos nessas largas conversas fica feliz. O seu pequeno, que leva o meu nome, Kamal, é
o único que segundo ele se parece fisicamente comigo, ele sente que os outros,
vão se afastando gradualmente dele.
Querem outra vida, quando o escuto falar
nisso, me lembro de minha mãe, que criou um mundo totalmente a parte em sua
vida em Oxford, em seu segundo matrimonio, nunca fui a sua casa, me encontrava
com ela e restaurantes, nunca tinha convivido com seu marido, nem mesmo antes
de morrer.
Mas ela tinha escolhido essa vida, aliás
como dizia minha avó, cada um tem direito a escolher sua maneira de viver, mas
claro tudo tem preço, no final de sua vida, dizia que sua filha era para ela
uma completa desconhecida.
Confesso que sinto falta das cartas do meu
pai, do meu irmão, mas fazer o que?
Paul ainda foi visitar seu tio Kaleb,
levando seu filho pequeno, se surpreendeu que o mesmo soubesse cada lugar da
cidade, pelo que eu tinha contado, quando perguntou ao Paul, por que eu não
tinha ido?
Este lhe respondeu, que estava
completamente cego, que tinha problemas para andar pelas ruas.
Ficou impressionado, quando viu que meu
neto, me escrevia, quem ia ler isso para mim?
Paul lhe comentou do aluno, que hoje dava
aulas aonde tinha saído, que sempre estava em minha casa, que esse lia o que o
filho escrevia em árabe.
Um dia conversando com meu neto, se
surpreendeu, do que eu tinha falado do Palacio Topkapi, meu avô, descrevia cada
instancia, que quando o visito agora, sou capaz de ver o que ele viu sempre. Saber disso é um consolo, saber que mesmo
cego, consigo cativar numa conversa.
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