P.Q.P. COMO É DIFICIL

 

                                         

 

Puta que pariu como é difícil aguentar a família, foi o que pensou entrando para a sala aonde iam ler o testamento de seu tio.

O tinha como um pai, pois não tinha conhecido o seu.  Por sorte, não tinha escolhido seu escritório de advocacia para fazer o testamento.

Na sua cabeça, ele já tinha feito muito por ele, tinha pagado seu curso de advogado, numa das melhores universidades do pais.   Ele ao mesmo tempo, trabalhando de noite, tinha feito literatura, sua grande paixão.

Sua mãe Nádia Stein, o tinha tido contra a vontade do pai, mas seu irmão a ajudou, inclusive os levou para viver com ele.

O tio Henry tinha como que duas casas, numa morava a que era sua mulher, coisas de casamento arrumado por seu pai, na outra ele passava a maior parte do tempo, pois era mais perto ao escritório que tinha herdado.   Nunca tinha suportado estar junto com ela, nem com os filhos.

Era como se os três formassem outra família, nunca criticou sua irmã, a ajudou sim a terminar a universidade, lhe arrumou um emprego no consulado francês, ela era muito boa em se tratando de línguas.

Quando ele tinha uns 13 anos, sua mãe se casou, com um adido cultural, a única coisa era que esse homem não suportava crianças, ele ficou vivendo com o tio, os dois se davam muito bem, talvez por isso, os primos o odiavam, o chamando sempre de bastardo.

Seu tio não se preocupava muito com eles, sua mulher era imensamente rica, até o dia que ele resolveu se divorciar, eram casados com separação de bens, deixou para ela o vasto apartamento que ficava na parte mais nobre do Central Park.

Ele é o tio, viviam no outro lado, ia a mesma escola que os primos, mas ao contrário deles, se destacava nos estudos, só não era bom nos esportes, não fazia parte de seus interesses, amava sim os livros, que o ajudavam a evadir-se.   Nunca tinha entendido sua mãe, ela tinha refeito sua vida como se nada tivesse acontecido, acreditava mesmo, que no momento que o seu futuro marido lhe disse que não queria seu filho junto, não se importou muito.

Ele aprendeu a amar e respeitar seu tio, o acompanhava a sinagoga, seguiam no apartamento uma estrita forma de viver de judeus.

Nas férias estagiava sempre no escritório de seu tio, desde as funções mais simples, mas no momento que terminou a universidade, se especializou em contratos, um de seus companheiros de estudos, seu pai tinha uma editora, fez estagio nela também, para saber como funcionava os contratos dos escritores.

Agora tinha muitos escritores, como clientes.

Quando terminou os estudos, com a desculpa de que deveria ter outra experiencia, foi trabalhar num escritório menor que de seu tio.

Alugou um apartamento pequeno, para ele, com a desculpa que precisava de um lugar para trabalhar, no apartamento do tio, este usava a biblioteca, ali sempre tinha algum amigo, ou cliente que o vinha consultar, então teve como desculpa isso, precisava de um canto seu.

Mas todos os dias religiosamente passava antes de ir para casa, para ver o tio, quando este ficou doente, ajudava o enfermeiro a fazer sua higiene, o colocava na cama.

Este lhe perguntava sobre o dia, como ia as coisas dos contratos.

Um dia chegou lá, encontrou justamente o advogado, com um tabelião.   Seu tio o fez sentar-se com eles, disse que se deixava alguma coisa no seu testamento para ele, teria problemas com os filhos, por isso, tinha passado o apartamento para seu nome, bem como uma conta no banco, na verdade, seria a parte que lhe tocava a sua mãe na herança.   Riu amargamente, depois que se casou, se esqueceu dos dois, por isso, nada mais justo que seja para ti.

Ele replicou que já tinha feito muito por ele, tinha uma posição estável no escritório que estava, era sócio Junior, estava para subir novamente, pois um dos antigos se aposentava.

Use esse dinheiro para se tornar sócio de direito.

Esqueceu totalmente dessa história, seu tio ainda durou muitos meses, nesse meio tempo, tinha escutado o rumor da venda de seu escritório, mas eram apenas rumores.

Sua mulher morreu antes dele, os filhos se enfrentaram numa verdadeira batalha, pelo apartamento dela, tiveram que o vender para dividir o dinheiro.  

Nesse dia seu tio, riu quando soube da história, imagina quando souberem do meu testamento.

Ele com muito custo, convenceu o tio, pois sabia como ele era, que fizesse um fideicomisso para os netos, o mais velho tinha dois filhos, que estudavam internos, era casado com uma judia, dessas da alta sociedade, o outro ninguém sabia por que, pois havia um rumor que era gay, se casou com uma beldade que começava a fazer sucesso nos musicais, era uma mulher ridícula, dessas que se levantam já maquilada.    Esse era o filho que as vezes trazia seu pequeno, para visitar seu avô.   Tinha o mesmo nome dele.

O garoto, parecia um boneco, estava sempre como incomodo nas roupas que lhe tocavam usar, o velho o primeiro que fazia era desmanchar sua gravata borboleta, dizia uma criança não deve andar assim, tirava sua camisa de dentro das calças, lhe tirava os sapatos, dizia para subir na sua cama.

O menino ria muito, o pai ficava escandalizado, ele logo arrumava um jeito de pedir para o filho ir buscar algo na rua.

Se virava para ele, sempre podes contar com o Andrew, ele é de fiar.

O garoto o olhava, sorria, isso eu sei, ele não é como esses outros da família.

Depois do enterro, que o menino, na hora que ele rezava o Kadish, veio se colocar ao seu lado, lhe segurando a mão, lhe disse baixinho, não sei rezar, mas estou contigo.

Foi duro se concentrar, pois tinha vontade de rir.   O menino estava vestido de negro, com gravata borboleta, fez o que seu tio faria, a retirou.

Viu que do outro lado a mulher de seu primo o olhava, soltando faíscas.

Só se voltaram a ver, uns dias depois quando era a leitura do testamento.

Mal se sentou o Henry neto, veio se sentar com ele, disse baixinho, a coisa vai ficar feia hoje, sonhei com o avô, ele ria aquelas gargalhadas imensas que tinha.

O tabelião, com o advogado ao lado, o que ele achou estranho, um juiz, que era amigo de seu tio.

Quando já estavam todos sentados, ele se sentou o mais atrás possível, com o menino ao seu lado.

Antes de mais nada, para que entendam esse testamento, o senhor Henry, fez teste de ADN, com os filhos, resulta que nenhum dos dois é seu filho.

Mas seguindo o pedido de seu sobrinho Andrew, criou um fideicomisso, para os netos irem a universidade.

O silencio era brutal, os primos e suas mulheres olharam para trás, mas não era com ele.

Todos sabem que ele já tinha vendido sua parte no escritório familiar, visto que nenhum filho, estudou ou é advogado.   Esse dinheiro, já foi doado todo a sinagogas mais pobres da cidade, como um fundo para ajudar filhos de judeus a irem à universidade.  Como foi feito em vida, não podem ser reclamados.   O dinheiro do fideicomisso, é a soma dos valores que tinha em dois bancos, nunca poderá ser tocado pelos pais, mas sim serão geridos, pelo senhor Juiz, mencionou o nome do homem.

Ele deu um suspiro imenso, imaginou que seu tio escolheria a ele, imaginava o que seria lidar com os primos.

Como os dois não são, seus filhos, ficam totalmente deserdados, haja visto já receberam a herança de sua mãe.

Uma secretária, entregou a cada um, envelopes com os testes de ADN.

A cara das esposas, era impressionante.

O mais velho, perguntou se podiam embargar esse testamento?

Não, porque tudo isso já foi feito a muito tempo.

O apartamento que ele vivia?

Ah, esse apartamento, na verdade era herança que ele compartia com sua irmã, nem está em seu nome.

Ou seja não tinham direito a nada.

Ele sabia que o primo mais velho, estava arruinado, aliás os dois nunca tinham trabalhado, viviam a sombra da mãe.   Também tinha se casado com separação de bens, sua mulher se levantou, saindo da sala.  Ele ficou ali plantado, sem se mover, o outro, sua mulher discutia com ele.

O garoto, soltou, vai sobrar para mim.

Tirou do bolso, um cartão, com o número de seu celular, particular, qualquer coisa me chama, gostava do jeito do garoto.

Quando todos saíram, o advogado que era seu conhecido, lhe entregou um envelope, os documentos do apartamento, foi duro convencer tua mãe a aceitar, mas teu tio tinha algum argumento que a fez recapacitar.

Tem uma carta junto com os documentos, para o senhor.

O juiz, soltou, o pior tocou a mim, se não fosse meu amigo, mandava tomar no cu, aguentar essa família, vai ser uma coisa.  

Bendita hora que o convenceste de fazer o fideicomisso, pois senão esses garotos pouco iam ter de futuro.

O teu primo mais velho, é viciado como sua mãe em jogo, deve muito dinheiro, toda a herança dela, já foi para o buraco.    O outro ainda trabalha, mas claro não ganha muito, é professor de literatura na universidade, não numa das melhores.

Em seguida entrou uma secretária, para dizer que a mulher do mais velho, tinha dado entrada num pedido de divórcio, segundo disse bem alto para que o outro escutasse, ela não estava disposta a ficar pagando dividas de jogo do marido.

Ele quando abriu o envelope no seu escritório, viu que ali estava a documentação, do apartamento, assinada pela sua mãe, talvez o motivo dela não ter vindo ao enterro do irmão.

A muito tempo vivia em Paris, num belo apartamento.

O mais interessante foi a carta, que tinha outra documentação, uma conta num banco, com a autorização para que ele transferisse a mesma para seu nome, bem como no mesmo banco uma caixa forte, com um aviso, vais precisar do que está aí, para realizar teu sonho.

Por causa do seu trabalho, tinha um bom contato com editoras, tinha se especializado tanto, que os escritores, sempre procuravam por ele.

Junto tinha um anexo, o último extrato do banco, sobre o dinheiro aplicado, soltou espontaneamente um assovio, era muito dinheiro.   Na carta o tio agradecia, ele ter sido o filho que ele sempre quis, sempre soube que os que levam meu nome, não eram meus filhos.

Te chamavam de bastardo, mas eles sim eram.  Fazia uma gozação, que o segundo filho, tinha nascido como Jesus dos católicos, pela graça do divino espirito santo, já que não fazia sexo com a mulher.

Tentou falar com sua mãe, mas o mordomo disse que estavam fora do pais, que anotaria o recado que ele tinha chamado, o senhor estava trabalhando em algum consulado, pelo mundo.

Achou aquilo pomposo demais, imaginou que ela estaria justo ao lado, dizendo isso.

Só respondeu, dizendo que quando ela tivesse vontade o chamasse.

Não moveu nenhuma ficha, encarregou o senhor que vivia com seu tio, que fizesse uma reforma no apartamento, este lhe comentou que o filho mais velho, tinha estado lá, tinha levado dois quadros.

Da próxima vez, chame a polícia, é uma invasão de domicilio.  Os quadros não deviam valer muito, pois seu tio, não era um amante da arte, com certeza era presente de alguém.

Avisou ao porteiro do edifício que não devia permitir nenhum dos primos de subir ao apartamento, que agora era dele.

O primo apareceu em seu escritório, muito nervoso, os quadros, realmente não valiam nada, só tinham tamanho.  Queria dinheiro para pagar suas dívidas.

Ele tinha sido avisado que sua mulher tinha conseguido o divórcio, por isso, quem tinha relacionamento com o juiz era ela, não ele.

Não posso fazer nada, além de que sou um simples funcionário aqui do escritório, não tenho dinheiro para te emprestar.

Procure um trabalho.

Mas se não sei fazer nada.

Eu se fosse tu, ia para Las Vegas, trabalhe num casino, já que gosta tanto de jogar.

Aonde crês que devo todo esse dinheiro, é mais fácil que me matem.

Meses depois, apareceu seu outro primo, sua mulher tinha se divorciado dele, estava vivendo em Los Angeles, com um produtor de cinema, tinha deixado o garoto com ele.

Mas precisava conversar com ele fora dali.

Saíram, foram se sentar no Central Park, ela me deu a guarda do Henry, mas estou doente, queria saber se algo me acontecesse, se podias cuidar dele.

Desde que me dê sua guarda, mas o que te passa.

Tenho Aids, só descobri a pouco tempo, um dos motivos que ela conseguiu o divórcio, sempre tive uma vida dupla, mas agora mal posso manter o apartamento que tenho, o resto do dinheiro vai para meu tratamento.

Ficou com pena do sujeito, tanto tempo escondido dentro do armário, agora isso, acreditava que tinha se contagiado em alguma sauna, sem saber direito com quem tinha feito sexo.

Porque não levas o Henry para minha casa, passei a viver no apartamento que tinham os dois, teu pai e minha mãe, lhe tocava a ela, mas abriu mão para mim.

O menino, entrou, parou na porta, olhou todas as paredes pintadas de branco, sem os velhos papeis de parede, colocou a mão na cintura, sim senhor ficou outra coisa.

Disse para ele escolher um quarto para ele, no que era do seu tio, instalou seu primo, estava de licença da universidade, o acompanhou ao médico, para saber como podia realmente ajuda-lo.

O médico disse que ele estava num estágio muito adiantado, pois não tinha se tratado quando devia.

Falou com o Juiz, esse os aconselhou, que lhe desse a guarda do Henry, bem como em adoção.

Assim fizeram, a mãe foi comunicada, mas como nunca poderia colocar a mão no dinheiro, assinou concordando.

Ele cuidou do primo até o final, agora levava o Henry com ele a sinagoga, o ia ensinando, mas lhe dizia, nunca leve muito a sério tudo isso, eu gosto como vês de ir num momento que não tenha ninguém, gosto da paz do recinto, mas encontraria a mesma numa igreja católica, ou numa mesquita, as cerimonias são pomposas demais.

Quando o primo morreu, ele tinha preparado o Henry, para rezar o Kadish para o pai, o garoto agora estava feliz, não vestia mais as roupas que odiava segundo ele, me sentia um boneco desses idiotas.   Até sofria bullying na escola por causa disso.

O levou a academia aonde ia, tinha um professor de boxe, que ensinava os garotos, disse que tinha aprendido a se defender na escola, depois na universidade lutando boxe.

Acreditava que tinha o mesmo sentimento que seu tio tinha por ele.

O velho realmente era sábio, me preparou para receber seu neto.

Quando Henry fez 15 anos, nas férias foram a Israel, passearam por todos os lugares interessantes, fez contato com editoras de lá.

Uma delas, se interessou por ele, sabia que era um experto em contratos.

Mas ele soltou que gostaria mesmo era de trabalhar como editor, tinha estagiado quando saiu da universidade em uma, quando mencionou o nome, o dono disse que era de um parente dele.

Pediu informação, quando lhe contatou ele disse que estava em Petra com seu sobrinho, que logo estariam de novo em Tel Aviv.

Os dois andaram pela Jordânia, visitando os lugares interessantes.

Quando voltaram a Tel Aviv, foi conversar com o homem, este lhe fez uma proposta de ele trabalhar com jovens autores, se isso lhe interessava.

Falou com o dono do escritório que trabalhava, foi a NYC, mas antes se sentou com o Henry, para saber o que ele pensava a respeito.   Ele disse que gostaria de estudar lá, assim aprenderia outra língua, como o senhor, sei que estudaste hebreu na universidade.

Sim mas terei que fazer um curso mais profundo.

Transferiu uma soma de dinheiro para um banco de lá, assim poderiam alugar um apartamento, para os dois, levou os papeis do Henry da escola,

Ele a princípio estudaria numa escola que as classes eram em inglês, enquanto estudaria Hebreu mais profundamente.

Voltaram por Paris, soube que sua mãe estava lá.  A recepção não podia ser mais fria, lhe disse que se queria usar o apartamento de NYC, estava a sua disposição.

O que ela lhe cobrou era se seu irmão não tinha deixado nada de dinheiro.

Quem lhe respondeu foi o Henry, se ele não deixou nada para os filhos, tudo foi para obras de caridade, ligadas a sinagogas mais pobres.

Deixou um fideicomisso com o dinheiro que tinha no banco, que é administrado por um juiz, para os netos, isso porque seu filho lhe sugeriu fazer, porque senão tampouco teríamos como ir à universidade.

Quando soube que ele iriam viver uma temporada em Tel Aviv, disse que tinha vivido lá, uma larga temporada com seu marido.   Lhes deu alguns contatos que tinha com o pessoal de artes da universidade.

Foi claro com ela, eu não passei aqui, para pedir nada, mas sim ver a mãe que desapareceu, quando eu era um garoto, da qual nunca mais soube.

Ela ficou parada olhando para ele, respirou fundo, te ver sempre, me fazia lembrar do erro que cometi de jovem, teu tio não entendia isso, mas sem querer estraguei meu futuro.

Embora saiba que a culpa não foi tua, mas sim minha, era complicado, nunca entendi por que ele se realizava sendo teu tio e pai ao mesmo tempo.  

Esclareceu para ela, que os dois filhos que ele tinha, não eram seus, sim somente da sua mulher com alguém que ele não sabia.    Eles nunca se comportaram como filho dele, só estavam interessados no dinheiro que ele poderia ter.

Meu pai, explicou o Henry, era o único dos dois que trabalhava, vivia escondido num armário, com sua homossexualidade, acabou mal, se não fosse o Andrew, eu estaria literalmente fudido, pois minha mãe também se mandou quando soube que ele nunca herdaria nenhuma fortuna.

Ficaram de se falar, até para abraça-los ela era desajeitada.

Tinha lhes dado o endereço de uma imobiliária, de uma amiga sua, esta conseguiu um bom apartamento para eles.

Antes de tudo, os dois entraram em cursos de hebreu, claro que em diferentes níveis.

Começou a trabalhar com os escritores que lhe tinha passado para ler.

Tinham mudado coisas no apartamento, para que ele pudesse trabalhar em paz em casa.

Logo seu trabalho dava resultados, os primeiros, era interessante pois apresentaram texto em inglês.  Lendo os textos, entendeu, que eram de judeus que sentiam perdidos nos Estados Unidos, segunda ou terceira geração de emigrantes que tinham perdido o elo com a religião.

Um deles se tinha adaptado muito bem, analisava o relacionamento em seu livro, entre judeus de várias partes do mundo, mas brancos, com os etíopes, mesmo alguns vindos do Marrocos, que tinham se misturado com negros.

Mas tudo isso sobre um prisma de uma história de um relacionamento.

Quando o conheceu, ficou rindo, pois tinha imaginado encontrar um homem branco, deu de cara com um negro.

Este lhe explicou que seus antepassados, eram escravos, que o dono deles, era um judeu, que tinha escapado de Portugal, das famosas conversões ao catolicismo.

Que tinha se casado com uma antepassada dele, daí ele ser negro, ele no fundo foi talvez o único branco, pois depois relativamente todos foram casado com negros.

Disse que toda sua família sempre tinha seguido os preceitos judeus, mas que em NYC, as sinagogas não gostavam muito.   Vim umas férias para cá, trabalhava num bom hospital lá, justo um dia passeando pela cidade, vi um atentado, corri para socorrer as pessoas, enquanto se esperava ambulâncias, me identifiquei, segui trabalhando, acabei em urgências no hospital, acabei ficando aqui.

Depois num almoço, ao se falar em nível familiar, ele tinha confundido o Henry, como filho dele.

Teve que lhe explicar que era filho de um primo, mas que esse tinha morrido, como sua mãe não se interessava por ele, o adotei, o mesmo se passou comigo.   

Contou do encontro com a mãe, de ter sido criado por seu tio, que o considerava um filho.

Então sem fazer comparação, pois adoro o Henry desde que era um garoto, já era super inteligente, ele não encaixava na família paterna.

Foi a melhor coisa que me aconteceu.  Claro, em virtude disso, lhe perguntou se tinha família ali.

Não o que resta da minha família, está em New Orleans, aqui conheci um Falasha, um negro etíope, mas esse estava escondido no fundo de um armário complicado, vivemos algum tempo juntos, mas nunca conheci sua família, me tinha a aparte como um amante, até que o casaram com uma parente distante.

Eu optei por viver a minha vida, escrever que era um sonho de juventude.

Estou escrevendo um livro agora, sobre essa experiencia, de uma pessoa que é obrigada por muitos motivos a se esconder, quero ver como sai a história.

Entre os dois nasceu um relacionamento de amizade, se encontravam sempre para conversar, um dia Henry disse na cara deles, que deviam experimentar aprofundar isso.

Anos depois, viviam felizes juntos, tinham ido inclusive duas vezes a NYC, para resolverem o problema da liberação do dinheiro do Henry do fideicomisso, como ele estudava em Israel, de uma certa maneira era muito dinheiro.   Ele ajudou justamente um Falasha que tinha conhecido no seu curso final, ajudado por Abe Moshe, esse disse que tinha conseguido uma bolsa de estudos para o rapaz.  Este ficou feliz, iam agora juntos a universidade.

Um belo exemplo me dá teu filho, ajudar alguém.   Logo ele também estava ajudando um rapaz que queria fazer medicina, era filho de um Falasha com uma norueguesa, negro com os olhos azuis.

Assim foram levando a vida, as vezes falava com sua mãe, a via cada vez mais despistadas, foi uma vez a Paris, ia para a feira de Frankfurt, de livros, resolveu ir visita-la.

Estava viúva, rica, mas sozinha, perguntou se queria ir com ele a Tel Aviv.  

Disse que não, que gostava do imenso apartamento que vivia, já sabia que ele vivia com Abe, tinha aprendido a falar com ele sem problemas, li seu livro, o primeiro que editaste, acho que ele tem razão, muitos judeus como nós que vieram da Europa, tem preconceitos de cor, melhor não atrapalhar a vida de vocês.

Ele ficou surpreso, dela deixar uma boa herança para ele, quando vieram os três ao seu enterro.

Resolveu aplicar, não pensava em voltar a américa, embora tivesse convites, da editora que tinha trabalhado, mas gostava de sua vida ali, era diferente do que tinha vivido.  Frequentavam uma sinagoga de gente jovem, depois de conversarem muito, comprou uma casa perto de uma praia, ficava perto para o Abe ir ao novo hospital que trabalhava, o Raphael Hospital, como da universidade.

Ele durante a semana trabalhava vários dias em casa, só ia a central da editora, para atender algum escritor.

Quando Henry terminou a universidade, logo estava trabalhando com jovens em preparação para entrar na universidade, ia bem, tanto que lhe ofereceram trabalho na universidade.

Se casaria anos depois com uma jovem Falasha, dizia que na família faltava cor.

Quando se deu conta, tinha uma família imensa, não só do Henry, mas também de escritores que tinha ajudado, que foram se agrupando em volta deles.

Abe, já tinha escrito vários livros, alentado por ele, escreveu um contando a saga de sua família, uma parte saindo da Africa, outra de Portugal.

Para isso, tiveram que viajar muitas vezes até New Orleans, para conversar, entrevistar pessoas, que vinha dessa linhagem.   Ficava surpreso, que a maioria nem tinha noção do passado, estavam preocupados em sobreviver, sem laços com esse passado tão rico.

Estiveram em Portugal pesquisando na Torre do Tombo, sobre esse período da história do pais, dos judeus conversos.

Os filhos do Henry, eram como sua mãe, magros por natureza, mas fortes, um dos seus prazeres era os levar a escola, depois ir buscar, encaixava no seu dia a dia, quando Abe estava livre, o acompanhava, quando perguntavam a eles, diziam que eram seus avôs.

Um deles era terrivelmente agarrado a ele, dizia que um dia seria escritor como o Abe.

Fizeram uma viagem a Etiópia, que foi muito interessante, na universidade, conversou com muitos jovens que queriam ser escritores.

Logo estava lançando os livros destes, alguns que tinham uma ascendência judia, conseguiu que fossem para lá.

Era um pais controvertido, uma mistura de religiões, complicadas.

Em algumas regiões, ainda existia grupos de judeus, muito escondidos, para poderem viver lá.

Ao mesmo tempo, não entendia a veneração dos mesmo com a rainha de Sabá, que tinha tido filhos de Salomão, conforme a lenda, nesse caso muitos seriam considerados judeus, mas os guardas dessa história, diziam que não.

Apesar de terem conversado com muita gente, inclusive com rabinos, dos que viviam em Israel, bem como alguns da Etiópia.

Pela primeira vez, se atrevia a escrever um livro, o Abe escreveu como um negro via isso, ele como um judeu branco.   Se sentavam para escrever, depois um passava para o outro o que tinha feito, o mais agarrado com eles, ficava sentado escutando, viam o garoto escrevendo, um dia pediram para o Henry Junior, mostrar o que escrevia.

Ficaram os dois de boca aberta, pois ele tinha na época 14 anos, tinha absorvido o que cada um falava, como tinha ido com eles na viagem, era como ele via tudo isso.

Um dia na escola houve um debate, sobre a verdadeira história, ou mito da Rainha de Saba, ficaram impressionados, pois ele tinha pesquisado inclusive na Bíblia, tinha conversado com o Rabino da sinagoga que frequentavam, que o levou para falar com um erudito sobre o assunto.

O diretor da escola, os convocou, se sentaram os três, no palco, um branco com os cabelos cacheados mistura de branco e negro, um negro com os cabelos todos brancos, e aquele garoto que mais parecia uma mistura dos dois.  Na plateia, estavam o Henry de mãos dada com sua esposa, orgulhosos do filho.

Ele pensou, bendita hora que meu tio me adotou como seu filho, olha a família que criei.

Nunca mais tinha sabido dos filhos do outro primo, sabia que este tinha sido assassinado por ter-se metido com a máfia chinesa, em questão de jogos, mas dos filhos não sabia nada.

Quando vendeu o apartamento em NYC, tinha investido esse dinheiro em parte para dar bolsas de estudos, para estudantes que ele mesmo analisava o potencial, alguns acabaram como que fazendo parte de sua larga família.

Chegou à conclusão, que família era a que se constrói, não a que te toca por nascimento.

Ele chegava a conclusão que bendita hora que sua mãe o abandonou para trás, seu tio, foi o melhor pai do mundo, depois o que poderia ser considerado maldade dele com seus pretensos, filho, tinha sem querer lhe dado um filho maravilhoso, pois seus sentimentos com relação ao Henry era assim.

Depois o Abe, as pessoas que foi trabalhando com ele, lançando no mundo, algumas ficavam como amigos mais próximos, estavam sempre o procurando para trocar ideias, isso ele gostava, sabia que o sistema americano, nunca ia lhe permitir viver isso.    Era aqui te pego, aqui te mato.

Alguns escritores, tinha visto seus trabalhos serem transformados em livro.

Quando saiu o que tinham escrito os dois, fizeram um pacote, eram três livros numa caixa, o que ele tinha escrito, o do Abe e no meio o de Henry Junior.

Esse dizia rindo, que tinha começado bem, tinha dois professores, contava ao pai, que o que mais gostava, era de se sentar vendo os dois discutindo algum assunto.

A sensação é que dentro de segundos, um tirara um revolver para matar o outro, mas chegam sempre a um consenso, firmado com um belo beijo.

 

 

    

 

 

 

 

 

 

 

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