SINA - FADO
Vivia com minha tia, em Long Island, na
velha casa familiar, falo em sina e fado, pois era o que se escutava em casa,
mais por causa dos meus avôs portugueses, vindos do Alentejo, meu avô me explicou
mil vezes o que era isso, Alentejo, Ribatejo, essas coisas bem portuguesas, mas
o que eu gostava mesmo, era quando ele conseguia um belo bacalhau.
Minha avó dizia logo, vou fazer como se
fazia na casa dos meus pais, dizia o nome da vila.
Realmente era de lamber os beiços, mas no
Natal, sempre fazia com mais coisas, camarões, o que meu avô conseguisse.
Minha mãe, como minha tia, tinha saído duas
mulheres bonitas, minha mãe mais, sonhava em ser atriz em Hollywood, queria ser
loira de qualquer maneira. Minha avó as
obrigava a estudar, pois não teve oportunidades, esfreguei sempre muito chão
das casas grandes dos ricos.
Minha mãe segundo minha tia, tingia os
cabelos de loiro, mas não combinava com seu tom de pele, reclamava que se fosse
loira teria oportunidades.
Minha tia Isabel, que era a mais velha, lhe
dizia que em Hollywood estava cheia de loiras burras como ela.
Esta sim estudava, queria ser alguém na
vida, embora nos escritórios nunca davam oportunidades as mulheres, minha mãe
se mandou para Los Angeles, para realizar seu sonho, voltou anos depois de
fazer muitas pontas em filmes B, ou seja de segunda.
Eu ao contrário dela, era loiro de olhos
azuis, segundo minha tia, disse que era por causa do meu pai, um ator desses
canastrões, que fazem papel de macho Alfa.
Mas tudo que fez, foi me dar seu sobrenome,
que não era o que ele usava como ator, um envelope com dinheiro, para ela
desaparecer, pois era casado com uma grande atriz.
Ela enfiou o rabo entre as pernas, voltou
para casa dos pais, a estas alturas, eles estavam velhos, ficaram
escandalizados, mas claro tinha um certidão de nascimento, nada de pai
desconhecido,
Constava como pai Arthur Smith, que bem
podia ser um nome falso, pois na América existem mil Smith, dizia o meu avô,
que era como Portugal, que Silva, Santos, além dos nomes de frutas, tudo era de
judeus conversos.
Disse a minha mãe que arrumasse um emprego,
que a boa vida dela tinha acabado.
Minha tia, lhe conseguiu um emprego de
secretária, num escritório de advogados, justo ao lado do seu.
Nem um ano depois, já namorava o dono do
mesmo, que tinha ficado viúvo, com dois filhos, se casou com ela pensando que
ia cuidar de seus filhos, deu com os burros n’agua.
Se eu não crio o meu, tampouco vou criar os
teus, mas isso tudo depois de papel passado.
Ele tinha um casal, a filha mais velha e um
garoto mais ou menos da minha idade.
Eu nem me dei conta, pois quem cuidava de
mim na verdade era minha avó Maria, bem como minha tia Isabel.
Meu avô morreu, eu tinha uns dez anos, a
velha chegou-se para mim muito séria dizendo que agora eu era o homem da casa,
que tinha que ser sério, estudar muito, para não ser como o velho que mal sabia
escrever seu nome.
Falava inglês, mas não sabia escrever, mas
tinha seu orgulho, assinava um jornal, que quem lia era eu, as vezes se sentava
na varanda, sem perceber que o mesmo estava de cabeça para baixo, eu lhe
alertava, se a fotografia que via lhe chamava atenção, pedia que eu lesse a
notícia.
Assim desde cedo passei a ser um leitor
compulsivo, ele adorava na verdade a parte policial.
Daí talvez mais tarde minha paixão pelos
livros de polícia, ou novela negra como chamavam.
Eu era jovem demais, algumas palavras não
sabia o significado, anotava, mas contava para ele de como ia a história,
depois do primeiro capitulo, fazíamos apostas de quem era o assassino.
Eu ganhava sempre, assim tinha meus
trocados, para um lanche melhor na escola.
Por sorte me destaquei logo, minha mãe a
principio dava algum dinheiro, para ajudar nas minhas despesas, mas quando
deixou de trabalhar, para ser uma madame, dizia que não lhe sobrava dinheiro.
A mesada, até morrer eram do meu avô, ele
fazia uma coisa, me dava o dinheiro, além de um papel, eu tinha que anotar em
que gastava, ele fingia ler, me perguntava cada gasto.
Assim talvez aprendi a administrar meu
dinheiro, confesso que depois que ele morreu, eu senti muito, pois quando era
pequeno, ele se mantinha afastado, mas quando comecei a ler para ele, ficava
orgulhoso disso, passava a mão pelos meus cabelos loiros crespos como o dele,
me chamava de garoto.
Comigo só falava português, assim eu saia
ganhando, na escola, eu já sabia duas línguas, aprender qualquer outra era
fácil.
Quando a velha morreu, minha tia fez uma
reforma na casa, meu quarto era o pequeno, ampliou o mesmo, colocando uma mesa
de estudos, do outro lado que era o quarto dos velhos, ela fez uma coisa,
juntou o banheiro que dava para o corredor, assim era como uma suíte, dizia
ela, também tinha um belo armário, com portas com espelhos.
A cozinha, fez uma coisa, começava a moda
das cozinhas americanas, a mesma era pequena, então, mandou tirar a parede,
dizia para que uma sala de jantar, se somos só os dois a comer.
Colocou uma bela televisão, grande para a
época, bem como duas poltronas, na verdade comíamos ali, vendo a televisão,
primeiro um jornal, depois algum filme, mas em seguida a dormir, pois tinha que
levantar cedo para trabalhar, eu para ir à escola.
Me incentivava sempre a estudar, para
conseguir uma bolsa de estudos, tua mãe nunca irá te ajudar, pagar a
universidade, dirá para que, se ela não foi a nenhuma.
Só aparecia no meu aniversário, mas muito
rapidamente, para dar algum presente idiota, falei com minha tia, para que
quero isso, mas tinha uma coisa, vinha com o preço junto.
No ano seguinte, uma semana antes minha tia
ligou para ela, sabe o valor do teu último presente, consiga em dinheiro, ele
precisa de sapatos, calças compridas pois esticou muito.
Veio muito sem graça me deu um envelope,
dizendo que os presente comprava com cartão de credito, era menos o valor, mas
comprei minha primeiras calças compridas jeans, da marca Lee, que seriam sempre
minhas preferidas.
Minha tia, lhe disse que economizasse, pois
nunca se sabia o dia de amanhã, no Natal, apareceu de surpresa, estava
chateada, tinham planejado ir a Europa, mas o marido tinha tido um enfarte,
nada grave, mas não podiam viajar, iriam a Paris, como ele tinha lhe prometido.
Depois que foi embora, minha tia soltou,
essa sempre viveu fora da realidade, nem tinha perguntado pelas minhas notas,
eu tinha conseguido uma bolsa de estudos, não para uma universidade famosa,
iria estudar direito como dizia minha tia.
As coisas no escritório que ela trabalhava,
tampouco iam bem, alguns antigos advogados tinham se aposentado, inclusive seu
chefe, os que tinham ficado no lugar, agora atendiam também os que o velho
odiava, gângster, traficantes de drogas, qualquer um podia ser atendido, ela
odiava isso.
Já estava no último ano, fui fazer estágio,
com um dos últimos sócios velhos de lá, ele batalhava contra os outros, me
dizia sempre, eles acabaram mais bandidos que os próprios.
Me formei, minha mãe não apareceu, o marido
tinha morrido, ela tinha ido de férias a Europa, como tinha sonhado.
Eu era o orador da turma, agradeci a
escola, mas a ela em especial, que me tinha incentivado todos esses anos.
Comecei a trabalhar no escritório que ela
agora era a administrativa principal, as anteriores tinham se aposentado, para
ela faltava um pouco ainda.
Eu agora trabalhava com um que basicamente
todos os clientes, eram bandidos.
A coisa torceu o rabo, quando assisti uma
reunião, em que eles falavam do inspetor que levava o caso, a esse não se pode
subornar, nem tampouco chantagear, pois leva uma vida correta, solitária mais
correta, o advogado estudava com minimizar seu depoimento.
Eu escutei tudo, era sacanagem pura, queria
destruir a credibilidade do mesmo.
Quando o vi na sala que ia ser o
julgamento, fiquei fascinado, era um homem de uns 45 anos, mas muito másculo e
bonito.
Num intervalo, ele séria o próximo a subir
para declarar, fui atrás dele no banheiro, fiz um gesto de silencio, verifiquei
que estávamos sozinhos, lhe disse como o outro o ia atacar, que ele se
prepara-se.
O tiro saiu pela culatra vamos dizer assim,
ele estava bem documentado, todos os argumentos do advogado vieram abaixo,
quando sugeriu que ele era gay, ele olhou muito sério ao mesmo, não tanto
quanto tu, não sou eu que anda com bandidos, traficantes de drogas, em festas
suspeitas.
O juiz reclamou que estavam fugindo ao
assunto, mas o mal já estava feito. O
homem que ele defendia, foi declarado culpado, com uma pena de 15 anos, sem
direito a pedir liberdade condicional.
Ele estava furioso, no escritório, falou
mil e um palavrões, como o mesmo sabia que ele o ia atacar por esse lado, um
dos sócios soltou que realmente ele tinha que parar de frequentar festas em que
rolavam drogas, sexo, etc. Todo mundo
já comenta sobre isso.
Não durou muito tempo, o mesmo morreu numa
destas festas de overdose.
O mais interessante, que o mundo é muito
pequeno, tocou justamente ao inspetor que ele tinha atacado, levar o caso. Ele apareceu no escritório, quando me viu,
disse que eu perdia o tempo ali, esse escritório já foi importante, agora ira
para o brejo, imagina a noticia que um dos sócios morreu de overdose. Agora só vão aparecer bandidos.
Já tens o curso de direito, devias era ir
para a academia de polícia, com tua experiencia em leis, sairás como inspector.
Nessa noite sentei com minha tia, esta
concordou, o escritório está afundando, cada sócio que foi saindo, vendeu as
parte, agora vão mudar o nome do mesmo, eu só fico porque me falta um ano, para
a aposentadoria, mas pode ser que entre em acordo me aposente antes.
Pedi a demissão, fui para a Escola de
Polícia, tinha sido um bom desportista na escola, bem como na universidade, eu
só não sabia era atirar, mas aprendi.
Nos exercícios que fazia, numa turma aparte
que se preparava para serem inspetores, eu me saia muito bem.
Quando terminei, nas provas finais, o
inspetor apareceu, era um dos que iam observar os alunos, logo me escolheu para
ir trabalhar com ele as práticas.
Foi o máximo, eu só não podia dizer que era
apaixonado por ele, a sua vida pessoal, ele era muito fechado.
Das práticas, passei a ser o seu ajudante,
foi quando descobri que ele vivia com outro homem, os dois eram até parecidos
fisicamente, eu os imaginava na cama, para me masturbar, na minha cabeça, era
como um choque de titãs, ele nem precisou me dizer nada, eu as vezes o ia
buscar, para irmos a alguma cena de um crime, nunca tocava em nenhum assunto
pessoal.
Nessa época minha mãe voltou a viver com
minha tia, aproveitei aluguei um apartamento pequeno perto da delegacia que
trabalhava, na verdade era um studio mínimo, um quarto, sala, banheiro, um
cozinha micro, dentro de um armário.
Minha roupa eu levava para lavar no porão do edifício, os ternos, na
lavanderia de um chines, perto dali.
Um dia cheguei, um homem totalmente
drogado, queria assaltar o local, eu cheguei por detrás, o homem quando
percebeu, já estava com algemas, o mais cômico, era que o revolver era de
brinquedo, tinha roubado de seu sobrinho.
O chinês ficou meu amigo, nesse dia não quis
cobrar, mas eu insisti em pagar, disse para ele, que poderiam pensar que ele me
subornava.
Ele foi minha primeira aventura com outro
homem, o tinham feito se casar, sem conhecer a noiva, que veio de Hong Kong,
claro não deu certo, ele tinha nascido em NYC, mas se casou para agradar aos
pais, que lhe passaram a lavanderia. Um
dia saímos para tomar uma cerveja, acabamos na cama, eu ficava alucinado, pois
ele não tinha nenhum pelo no corpo, me montava, me sentia um cavalo, entendia
que seu piru era pequeno, mas ele gostava do meu.
Mas de qualquer jeito era uma relação
complicada, ele tinha que inventar alguma desculpas, pois me via chegando do
trabalho, agora tinha um filho, me soltou que tinha feito o filho pensando em
mim. Eu ri muito, imagina se o garoto
sai loiro de olhos azuis, como vais explicar.
Ele nunca entendia meu sentido de humor,
passei a fazer outro caminho, de volta a casa, para não me cruzar com ele.
Ele foi rápido em entender, era aquela
relação, que ele chegava, me excitava, usava o que tinha vindo buscar, meu
generoso piru, se limpava, ia embora, já não tínhamos nada para falar.
A volta de minha mãe a casa, tinha gerado
problemas, cada final de semana que eu tinha livre e aparecia, tinha que
escutar as reclamações das duas. Mas a
casa na verdade era de minha tia Isabel, os velhos tinham deixado para ela, que
os cuidou até o final.
Minha mãe achava que deviam vender, comprar
um apartamento na cidade, assim talvez tivesse a oportunidade de se casar de
novo.
Eu estava sempre do lado da minha tia, ela
soltava logo, mas tua mãe sou eu.
Eu olhava firmemente sua cara, dizia, mas
quem me criou foi ela, a mãe que eu conheço é ela, a senhora bem podia ser a má
do filme que aparecia de vez em quando, com uns presentes que não serviam para
nada.
Tudo do seu marido, basicamente tinha
ficado para seus filhos, o que ela tinha era uma pensão.
Agora se contentava em se arrumar, ir a
algum baile ali perto, mas no fundo queria era caçar alguém, até que conseguiu
se casar com um velho italiano, que tinha tido vários açougues pela zona. Mas claro era tacanho.
Minha tia, deu graças a deus, se ver livre
dela. Eu quando entrava no quarto que
tinha sido meu reclamava, estava impregnado do perfume dela, que era muito
forte, Joy de Patou, tinha atendido casos de velhas que usavam o mesmo, da
porta podia sentir o cheiro, aquilo parecia uma peste.
Charles Berg, meu companheiro, ria muito,
quando da porta eu dizia, ou essa velha foi puta, ou pensou que era rica.
Normalmente se olhava as fotos da vitima
quando jovem, era todas loiras oxigenadas, muito maquiladas, tipo loira burra.
Quando contei um dia isso a minha tia, ela
se matou de rir.
Nessa época morreu seu antigo chefe, foi
interessante, o filho a avisou, ela passou os últimos dias dele, ao seu lado,
foi então que descobrir que tinham sido amantes, na época do escritório, por
isso tinha me conseguido o estágio, bem como um contrato depois. Na época ele era casado, o filho claro
sabia, não estranhou que ele deixasse dinheiro para ela, com uma carta, que
reconhecia que ela era o melhor da vida dele, a lastima que quando ficou viúvo
a pediu em casamento, a resposta o tinha surpreendido, que ela estava
acostumada à sua vida.
Eu não conhecia o filho, James, só me
encontrei com ele, no enterro, trabalhava de comprador no Macy’s.
Acabamos nos encontrando, por causa de um
crime, em plena festa num apartamento de um gay, muito rico, a policia não
deixou ninguém ir embora, foi ele quem me deu o detalhe de tudo. Que o dono do apartamento, era imensamente
rico, que adorava jovens, a maioria nem tinha ainda 18 anos. Tinha se envolvido com esse, que vivia nas
drogas, pagou para ele uma reabilitação, mas quando ele voltou já estava com
outro.
Estava totalmente drogado, tinha entrado,
ido até o dono da casa, tirou um revolver, atirou no peito do mesmo, depois
ficou ali parado.
Quando interroguei o rapaz, me deu pena,
tinha vivido num orfanato, depois tinha se prostituido nas ruas para
sobreviver, quando esse velho o tinha acolhido embaixo de suas asas, acreditou
que tinha encontrado alguém para cuidar dele.
Na verdade o homem tinha idade para ser seu avô. Imagina me colocou numa clínica para
reabilitação, quando chego aqui está com outro, diz na minha cara, que tinha um
piru maior que o meu, só isso importava a ele.
Quando ia me visitar na clínica, era o que
fazia, me arrastava para o jardim, abria a braguilha da minha calça, chupava,
dizendo que tinha saudade desse garoto.
Eu já ficava imaginando, como ia ser a vida
desse rapaz num presidio, carne fresca no pedaço, procurei ajudar, o James
ajudou, arrumou um advogado conhecido dele, muitas testemunhas, que o velho
rico, fazia muito isso, que o rapaz inclusive ainda era menor de idade.
Ele usava esses jovens como quem usa uma
trapo, depois de fuder algum tempo, os colocava na rua. Só tinha uma coisa, para conseguir o que
queria, prometia mundos e fundos.
Todos os amigos sabiam que ele fazia isso.
Por isso a pena do rapaz, foi curta, num
reformatório, aonde ele podia estudar.
Mas como sempre morreu tentando se defender
de um abuso.
Foi quando comecei a sair com o James, só
pedi uma coisa, que quando estivesse comigo, tentasse não ser tão afetado.
Mas nos separamos, queríamos coisas
diferentes, ficamos sim amigos, ele adorava minha tia, pois quando jovem ia ao
escritório do pai, se consultava com ela, pois com sua mãe, essa nunca o tinha
aceitado como gay.
Ele me dizia que o que eu sonhava como
companheiro tinha que ser outro policial, bruto como eu, o que era uma verdade,
odiava essa pseuda fragilidade, que alguns gais assumiam, gostava era de estar
com outro homem, como eu me sentia.
Mas tinha uma sina, como dizia minha tia,
atraia só homens casados, frustrados com seus casamentos, se conversavam era
sobre isso, eu não tinha experiencia, a maioria tinha inclusive filhos.
Não entendia desde o princípio, porque
tinham se casado, se escondido num armário escuro.
Nessa época, tive que acudir para ajudar
meu chefe, ele tinha me colocado como inspetor, depois que virou chefe da
delegacia. Seu companheiro, segundo
ele, estavam juntos a mais de vinte anos, um dia disse que ia embora, o famoso,
quero viver o que não vivi.
Se apaixonou em ele sendo polícia, por um
desses garotos que vendiam drogas por aí. Foi assassinado, pois o mesmo era o
garotinho de um dos traficantes.
Já não viviam juntos, eu lhe disse, não
tente tapar o sol com a peneira, pois a coisa irá a pior, mas conseguimos fazer
um enterro descente, nada de tiros para cima, nem uniformes de gala.
Só os companheiros mais chegados, da
delegacia dele, bem como nós dois.
Um deles, soltou depois, que ninguém
entendia, depois de anos, como policial exemplar, de repente sua cabeça, tinha
mudado, bebia demais, reclamava que a vida tinha passado que não tinha
aproveitado nada.
Agora, sempre o convidava para tomar uma
cerveja, me soltou que realmente ele nunca tinha aproveitado a vida, nunca
conseguiam encaixar as férias, ele sempre acabava ficando para não deixar o
outro sozinho, mas nos últimos anos, o outro quando tirava férias ia para Fire
Island, ou para San Francisco, queria aventuras gays.
Um dia, que tinha bebido muito, o levei
para minha casa, pois a sua era longe, o deitei na minha cama, ia dormir na
sala, ele me puxou para ele, foi a melhor foda da minha vida.
Porque era como eu tinha sonhado, cheia de
carinho, beijos, abraços.
Para não ficarmos na mesma delegacia, ele
sugeriu e conseguiu que eu fosse para o lugar do outro, levamos juntos uns bons
dez anos.
Nossa primeira férias, juntos, fomos para
Portugal, eu sabia de aonde tinha saído meus avôs, alugamos um carro em Lisboa,
depois de visitar tudo que se nos oferecia.
A vila era daquela que se não prestas
atenção, passas, uma rua, claro da família não existia mais ninguém, eu ria
muito, pois todos pareciam me conhecer, alguns velhos, mas muito velhos, se
lembravam dos dois, esses tiveram sorte, foram para a América. Soube então que meu avô tinha herdado terras,
que com esse dinheiro foram para lá.
A cidade mais próxima, tinha mar, ficamos
num hotel pequeno, aproveitando, estávamos acostumados com a água fria do mar
em NYC.
Eu esse tempo todo, vivi entre a casa dele
e a minha, passávamos o final de semana juntos, nunca tocávamos em nenhum caso
que estivéssemos levando, eram momentos nossos.
Ele reclamava, como eu podia gostar dele,
se já devia estar aposentado, não o fazia, porque não tinha nada o que fazer,
lhe dava medo.
Quando o chefe de policia tocava no
assunto, chegava em casa aterrado, ia para a minha, falava muito nisso, nunca
me preocupei quando isso se acabasse, não me sinto velho.
Agora cada reunião com o Chefe de Polícia,
esse tocava no assunto, pois estava ocupando o lugar de alguém que merecia uma
promoção.
Eu no momento estava com um caso complicado
entre as mãos, tráfico de jovens.
Alguém que conseguia jovens recém saídos de
algum orfanato, sem rumo, primeiro os vendiam a vários pédofilos, faziam vídeos
com os mesmo, esses depois desapareciam.
Se descobriu, porque quem se encarregava de
enterrar os mesmo, fazia no mesmo lugar, mas sem querer, iam construir um desse
shopping fora da cidade, na escavação, se descobriu uma quantidade de
esqueletos, era algo macabro, pois quem fazia isso, colocava um rosário negro,
nas mãos desse jovens.
Levei meses com o caso, além de que o
jornal falava muito, o chefe de Policia me chamou, disse que eu empregasse todo
o possível para conseguir resolver o problema.
Só dois dos rapazes estavam fichados por
prostituição, com isso descobri aonde era orfanato de aonde saiam, era sempre
do mesmo.
A mulher que o dirigia, os vendia a esse
homem, que se encarregava de tudo, o rosário, era porque era um pai de família,
muito católico, daqueles que vão a missa todos os domingos, com a família
inteira.
Quando o peguei, alegava isso, que era bom
pai, marido, avô.
Tinha vontade de dar uma surra no mesmo.
Já estávamos em julgamento, quando o
porteiro do edifício do meu amado me chamou, eu não ia lá a dias, faziam dois
meses que o chefe de Policia o tinha obrigado a se aposentar, com um bom
salário, mas se sentia inútil.
Falava com ele todos os dias, ele entendia
que eu estava num caso complicado, na verdade foi ele quem me deu a dica,
normalmente é uma pessoa que ninguém imagina capaz disso.
Foi quando descobrir o parente da diretora
do orfanato, era o próprio, ia tirar férias para passar uns dias na praia com
ele.
O porteiro disse que tinha escutado um
tiro, fui correndo, estava sentado com a televisão acessa, justamente falando
do julgamento. Só tinha um bilhete,
estava farto desse mundo tão podre. Ia
descobrir depois que ele tinha saído justamente desse orfanato, só que na época
pertencia a igreja.
Dentro de um livro, tinha uma carta para
mim. Agradecia esses anos que estivemos
juntos, mas que para ele, enfrentar a velhice, era muito duro, não estava
preparado, que sua cabeça, era jovem, o que era uma verdade.
Tinha junto a carta que deixava sobre o
suicídio, um resultado de uma prova que tinha feito, tinha um tumor na cabeça, as
possibilidades, eram de 20%, ele não queria enfrentar isso.
O enterro apesar de ser um suicídio, pelos
seus serviços, foi todo formal, seria enterrado no panteão da polícia, com
direito a todo mundo de uniforme oficial, discurso do Chefe de Polícia, que era
um bom filho da puta, pois aproveitou para se promover.
Uma semana depois me chamou, queria que eu
voltasse a antiga delegacia, agradeci, disse que tinha gente que estava
esperando uma promoção, que finalmente agora, aonde estava eu era respeitado,
que preferia ficar lá.
Estava ao mesmo tempo no meio de uma
tempestade, pois minha tia tinha morrido, me deixou a casa de herança, no
testamento, bem como dinheiro de sua conta, o que tinha recebido de seu amante,
estava tudo lá, sem mexer.
Minha mãe, armou a maior confusão, dizendo
que a casa era dela, queria o dinheiro, o seu casamento não ia bem.
Minha tia, sabia disso, se documentou,
minha mãe tinha renunciado a casa para ter dinheiro para ir para Hollywood,
tinha assinado papeis.
Só perguntei se tinha dinheiro para pagar o
advogado, exigi que pagasse o meu também, mas perdeu a causa. Do lado dela, estavam os filhos do seu
primeiro marido, que fizeram uma imagem dela impressionante, como mãe
amantíssima.
Quando fui chamado a depor, declarei, que
não conheci essa mãe amantíssima, quem tinha me criado era minha tia Isabel, que
ela tinha se casado, só aparecia no meu aniversário, com algum presente
idiota. Nunca ajudou em nada na minha
educação, no meu dia a dia.
Que quando ficou viúva, voltou para casa,
porque os filhos do marido a colocaram para fora.
Portanto não me parecia mãe amantíssima.
Que tinha infernizado a vida da minha tia,
até se casar de novo.
Estava uma fúria, se fez de vítima, dizendo
que era uma sina ser mulher, só faltou cantar um fado, daqueles bem dramáticos,
toda vestida de negro, com uma maquilagem exagerada.
Parecia uma daquelas atrizes decadentes,
com um lenço na mão, dizendo que ia ter que acabar sua vida numa residência de
pessoas de idade.
O juiz disse que sua mãe morava numa, que
se ela queria ele indicava.
Ficou um fera, sua mascara caiu, dizendo
que ainda era capaz de arrumar algum homem para se casar, se ficasse viúva.
O velho que era seu marido, pediu divorcio
em seguida, a colocando na rua.
Não podia ir para a casa da minha tia, pois
eu tinha vendido a mesma, acabou indo para uma residência que tanto falava
mal.
A diretora era minha conhecida, dizia que
ela ficava atrás de todos os viúvos que apareciam.
Um dia, fui atender um caso de ator, quando
abriu a porta, foi como me ver mais velhos.
Foi perguntando logo meu nome, quando
disse, ficou me olhando desconfiado, mas fui direto ao assunto, ele me explicou
o problema, estava sendo chantageado, por alguém com que tinha tido um
relacionamento.
Tinha saído do armário muito tarde, esse
amante tinha vídeos deles na cama.
O fiz sentar-se, perguntei aonde era a
cozinha, fui buscar um copo de água, um para ele, outro para mim.
Fui claro, isso é muito antigo, o senhor me
imagina, sou inspetor chefe, sou gay, ninguém esta mais preocupado com isso,
quantos atores já saíram do armário.
A cara dele era impressionante, eres gay?
Sim, além de ter orgulho disso, deixa de
besteira, inclusive se fosse o senhor, usava isso a seu favor, chame os
jornalistas, conte que esta sendo chantageado, quem sabe não consegues um papel
num filme ou obra de teatro fazendo o papel de um senhor gay de muito respeito.
Ele ficou rindo, eres bom como polícia.
Sabes que sou teu pai?
Sim, mas isso não importa.
Ele fez a tal entrevista, o que o
chantageava ficou em mal lençóis, ele inclusive disse que tinha descoberto que
tinha um filho que tinha renegado da sua juventude, um belo homem feito a si
mesmo, claro não disse o meu nome.
Agora me procurava, saímos para jantar,
alguns confundiam com um amante jovem, mas ele me apresentava como seu filho.
Um dia fui procurado por um advogado, os
filhos do primeiro marido da minha mãe, estavam metidos numa complicação, eu os
tinha visto com um garoto de uns 10 anos, no julgamento.
Pelo visto ela o tinha roubado num hospital
em São Francisco. Estavam os dois
arruinados, tinham tentado vender o garoto.
Perguntou se eu podia ficar com ele, até
aparecerem os pais verdadeiros.
Fiquei com pena, aceitei, nessa noite levei
um susto, o menino se meteu na minha cama, queria me agradecer, fazendo sexo.
Lhe dei uma bronca incrível.
Me contou que os dois o colocavam no meio
deles, faziam o que queriam com ele.
Falei com o tal advogado, me parecia uma
tramoia, chamei uma assistente social, que tomou rédeas imediatamente da
situação, ele passou a ir a um psicólogo, ficou lá em casa, mas tinha uma
pessoa cuidando dele.
Conversei muito com ele, até que
descobriram seus pais, estavam divorciados, o pai vivia nas drogas, a mãe tinha
se casado outra vez, tinha uma família, aceitar um filho que tinha sido
submetido ao que o rapaz tinha tido, era duro.
Descobriram examinando a casa dos dois
irmãos, que tinha vídeos deles, fazendo sexo com o garoto, que vendiam isso aos
pédofilos.
Não sabia o que fazer, conversei com meu
pai, ele disse que ficava com o garoto, era o neto que eu queria, o protegeu, o
ia levar ao psicólogo, o esperava.
Eu procurava estar mais junto o possível,
ri muito o dia que minha mãe apareceu pedindo que eu ajudasse os dois, a mandei
a merda, dei uma ordem na delegacia, que não estava permitida a entrada dessa
senhora, que se dizia minha mãe, era uma fulana.
Ser chamada de fulana, a deixou KO, a
ameacei de processar, por tentar interferir nos assuntos da polícia.
O pior é que depôs a favor deles, dizendo
que eram pessoas maravilhosas, nos jornais, diziam que tinham contratado uma
atriz decadente para depor a favor,
Acabou sem querer sendo expulsa da
residência que estava. Veio me procurar,
não sabia que eu quase nunca estava em casa, foi quando descobriu que eu ia
sempre a casa do meu pai.
Ele me contou que ela tinha ficado gravida
dele de proposito para chantageá-lo para casar com ela, tinha feito um filme
junto, que inclusive tinham cortado a parte que ela aparecia.
Que ele não tinha acreditado no assunto,
pois se falava que fazia sexo com qualquer ator ou diretor que achasse
importante. Apenas dei o nome que
usava, para que a criança não fosse considerada um bastardo, porque eu fui
filho bastardo, sei o que é isso.
Ela quando soube, quis se aproveitar, mas
cortei pelo sano, se mexes em alguma coisa, acabaras numa prisão, eres uma
fulana, minha mãe foi tia Isabel, que sempre esteve aí para mim.
Nunca mais soube dela, não me interessava,
comentei com meu pai, que era como ver sempre uma desconhecida, quer tirar
sempre partido de tudo.
Acabei indo morar com os dois, o velho Arthur
não precisava de dinheiro, sempre tinha tido medo disso, da velhice, ao
contrário dos outros atores, ele guardou para o futuro.
Agora tinha um neto, pois acabei adotando o
menino, ele adorava.
Quando me ofereceram ser chefe de polícia,
pensei muito tinha meu dinheiro aplicado, podia pagar a universidade para meu
filho.
Não aceitei, o prefeito ficou furioso, não
queria estar metido com políticos, preferi uma aposentadoria antecipada.
Fiz uma viagem com os dois a Portugal,
aonde tinha sido feliz, com o único homem que tinha amado na vida, fomos a tal
cidade perto do mar, passamos todo um verão lá.
Resolvi fazer uma coisa, pedi a cidadania portuguesa, já que meus avôs
eram dali, tinha os documentos deles.
Acabamos vivendo os três, lá, o frio no
inverno não é tão pesado, meu velho, agora um grande amigo, gosta.
Tenho um namorado da mesma idade, ele viveu
na França, para aonde emigrou jovem, teve um relacionamento largo também,
começou a vir para os verãos, quando se aposentou comprou uma casa ao lado da
minha, ficamos amigos, hoje amantes.
Meu pai já com muita idade, diz que quer se
enterrado ali.
Claro minha aposentadoria em Portugal vira
um bom dinheiro, meu menino, fala um português, excelente, ira a universidade
em Lisboa.
Mas o que mais gosto, é me sentar no final
do dia ver o pôr do sol, conversando com o Manuel, rimos muito, temos um
sentido de humor parecido.
Comentarios
Publicar un comentario