DISCÓRDIA

 

                                       

 

Estava sentado na frente do tumulo de seu pai, o grande John Macnamara, como diziam os amigos, além de todos os policiais que tinham trabalhado com ele.  Era grande sim, com quase dois metros de altura, com a idade tinha ficado com um corpo forte, mas fazia exercícios, como dizia o médico, tinha era morrido de um enfarte fulminante.

Agora ele sabia por que, depois do enterro com todas as honras possíveis, ficou ali sentado, nunca tinha suportado essas festas familiares, depois de um enterro, era uma verdadeira festa, os irlandeses que eram ruidosos, pior.

Seu pai, tinha-lhe confessado uma vez que odiava isso, apesar de ser grande, com uma voz poderosa, era um homem que falava normal, nunca gritava ou fazia escândalos.

Agora entendia por que o pai tinha tido o enfarte, ele imaginou a cena, o atual chefe de polícia, lhe contando o que se passava com seu outro filho.

O filho da puta do James, não tinha dado a cara no enterro, sabia que isso seria uma das conversas favoritas durante a festa, tinha falado com sua tia, que para ele, era como sua mãe, pois tinha criado os dois, que não ia suportar.   Ela disse, estou acostumada com a minha família, se passam muito, solto um bom grito, acabo com a fofoca.

Ele no fundo estava pasmo, tinha se encarado com o irmão no velório, jamais poderia entende-lo.

Jogou na sua cara, uma série de coisas, que no momento não lhe fazia sentido.

Os dois tinham sido adotados ao mesmo tempo por seu pai, a freira do orfanato, o tinha chamado primeiro, porque além de conhecido, estavam na lista de espera a tempo, sua mulher não queria um garoto de mais idade, porque queria um bebe.

Tinha tido uma série de abortos, o médico disse que não deveria tentar mais, nem com as novas técnicas modernas, uma nova gravidez, poderia matá-la.

Eles correram os dois quando a freira chamou, ele tinha acabado de ser nomeado chefe de polícia de NYC, embora tivesse vivido toda sua vida em Long Island, aonde tinha sido chefe da delegacia perto de sua casa, ele gostava porque podia ir andando para a mesma.

Tinha nascido, sido criado na mesma casa.  Como era o filho mais velho de 9 irmãos, todos homens, herdou a mesma, cada um que foi se casando, foi buscando uma casa para viver, todos tinham pelo menos 4 filhos, eles nenhum.

Os dois tinha chegado ao mesmo dia no orfanato, com diferença de horas, Frank chegou antes, mas não parou de chorar, quando chegou o outro, lhe puseram ao seu lado, no mesmo instante parou de chorar, os dois surpreendiam a freira, pois estavam de mãos dadas.

Quando John chegou com sua mulher Christina, de origem italiana, os dois ficaram surpreso, pois tinham dois para escolherem.  Um era muito branco, loiro, olhos azuis, como o John, o outro era moreno, olhos negros, pele um pouco mais escura.

Mas no momento que pegavam um o outro chorava, riram muito com isso.

Desde que chegaram é assim, não podem ser separados, mas temos certeza de que não são irmãos, pois chegaram em hora diferente, mesmo as roupas de um é melhor que a do outro.

John num rompante, olhando a mulher, sempre quis ter muitos filhos, mas foi impossível, posso adotar os dois?

A freira disse que podia conseguir a guarda dos dois, havia uma data limite, caso as mães originais voltassem a aparecer.

Quando estava com os dois em cada braço John mudava, sua cara se relaxava, ficava sorrindo como um bobo, sua mulher ficou cismando, como daria conta dos dois.

Ele logo soltou, que pediria a sua única irmã, a mais velha, filha do primeiro casamento de seu pai, que tinha se casado com um militar, tinha tido sua lua de mel, ele foi para o front, nunca voltou, morreu em combate.

Vivia com os pais do John, ele falou com ela, pelo telefone da mesa da freira, esse disse que ia arrumar suas maletas.

No fundo foi ela a mãe dos dois.

Ficaram dois anos guarda, como exigido, depois conseguiram a adoção, mas a coisa não funcionou, Christina, pediu o divórcio, sentia muito, mas não se sentia mãe dos dois, aliás isso a deprimia muito, o fato de não ser capaz de gerar filhos.

Para John foi um deus nos acuda, ficava ele com dois garotos, Marie sua irmã, lhe disse, que sem problemas, quem vinha criando os dois era ela, quando estas, tua mulher ajuda, mas na tua ausência, nem se aproxima dos garotos.  

Ele quando chegava em casa, mal a beijava, se jogava no chão com os dois, para brincar.

Os levantava sempre do chão, até o teto, pois sabia que os dois adoravam, ele mal entrava na sala, agora que andavam, corriam para se agarrar nas suas calças.

Faziam verdadeira competição para ver quem chegava primeiro, sabiam a hora que ele estaria em casa, ficavam esperando.

John se conformou, nunca mais voltou a pensar em casamento, tinha suas aventuras, não escondia de ninguém, mas nunca pensou em se casar outra vez.

Ao contrário da maioria dos pais, adorava leva-los de compra, Marie os trazia, iam segurando cada um sua mão de um lado, os deixava escolherem as roupa, mas não que fossem a mesma, Frank escolhia sempre as mais coloridas, já James as mais sérias, um corria com o outro dentro da loja de um amigo do John que dizia, que se fossem seus filhos estariam brigando pelas mais caras, eles não, se fixava um teto de gasto, disso não passavam.

Foram logo a escola, iam bem preparados, Marie os tinha ensinado a ler e escrever, ela dizia que ele tinha sorte, os dois eram inteligentes.

Quando alguém tentava fazer bullying com um deles o outro defendia, saiam na porrada, se riam depois, diziam que seu pai lhes ensinava boxe.  Depois no instituto, os dois gostavam de esporte, mas nada de futebol, Frank adorava correr, James ficava em segundo ou terceiro lugar, mas no basquete era melhor, sempre tinha sido assim.

Os dois escolheram ir para a escola da polícia para orgulho do pai, foi quando a coisa começou a ficar diferente, por imposição da direção, ficavam em quartos separados, cada um com companheiro diferente.   James se juntava sempre com os mais complicados, os que gostavam de farra.

Frank era ao contrário, levava a sério o que fazia, tinha as melhores notas.

Quando terminaram o curso, voltaram para casa, agora era esperar para aonde o chamavam, estranhou porque James, queria um quarto só para ele.  Ia para NYC, se encontrar com seus amigos, mas nunca o chamava.

O chamaram primeiro, como tinha as melhores notas, ele podia escolher.  Para surpresa geral, escolheu ficar na delegacia de Long Island, aonde o pai tinha sido chefe, mas sem favoritismo, já o James, lhe mandaram para o outro lado da cidade, com essa desculpa ele saiu de casa.

Aparecia aos sábados, mas sempre com pressa, beijava a tia, ao pai, contava uma série de vantagens, dois anos depois apareceu com um bom carro, disse que tinha comprado com suas economias, se vestia diferente, de vir todos os sábados, passou a vir a cada quinze dias, depois uma vez por mês, finalmente, em Ação de Graças, Natal.

Nunca comentavam entre eles o que faziam.

Frank tinha ficado magoado com esse afastamento, quando comentava com o pai, esse dizia que era natural, tenho 8 irmãos, me vês apegado a eles?

Era verdade, quando muito ia as festas, das quais não podia escapar, logo encontrava uma desculpa, ou mandava o chofer que o levava o chamar daqui 15 minutos, tinha alguma coisa para escapar da confusão da família.

Quem ficava sempre era sua tia, depois rindo dizia, se me perguntas o que falaram não, sei, só posso dizer o que comi, adorava uma boa comida da família.

As vezes escutava comentários da delegacia do irmão, lá a coisa não era boa, ficou com medo de falar disso com o pai, afinal, ele era chefe de polícia, devia saber.

Logo foi promovido a inspetor, de uma das melhores delegacias de NYC, Marie montou uma comida especial, o irmão, soltou que ele tinha sido promovido porque era um puxa saco.

Seu pai, cortou pelo raiz, nada disso, foi escolhido por uma junta, por ter sido o policial que mais resolveu caso o ano passado.

O mesmo não posso falar de ti, todos teus casos estão em abertos, parece que na delegacia que estás, ninguém trabalha muito.

Ficou uma fera, como podia dizer isso, se a eles só tocava lidar com traficantes, gangs de bairro, que mais queria.

Quando te entrevistaram para sair de lá, não aceitaste, mas tampouco deste nenhuma satisfação.

Frank, ficava quieto, tentava puxar conversa com o irmão, mas logo se cansava das lorotas que ele contava, das muitas namoradas, do carro novo que tinha, ainda por cima gozava que ele ainda vivesse na casa do pai, que atravessasse todos os dias de ferry, quando podia ir no carro oficial.

Ele não dizia nada, sabia que se fosse no carro oficial, iam comentar, ele odiava isso.

Tinha um companheiro que era como ele, filho adotivo, os dois falavam pouco, quando examinavam a cena de um crime, um simplesmente olhava para o outro, chamando a atenção para algum detalhe.

Uma lastima que antes de John se aposentar, foram separados, cada um para uma diferente, mas como chefe de inspetores.  Ele apesar de jovem, se saia bem, pois levava as coisas extremamente a sério.  Tinha agora uma companheira, pois odiava ficar na delegacia, resolvia os problemas, atendia os casos, como qualquer outro detetive.

O irmão, cada vez menos dava as caras, sabia que ele tinha um grupo na mesma delegacia de sempre, falavam que recebiam subornos, etc.

Um dia encontrou com o irmão no meio de uma cena de um crime, lhe perguntou o que fazia ali, não era sua jurisdição, ele lhe disse que o homem assassinado, era chefe de uma gang, lá pros lados de sua delegacia, alguém o tinha chamado.

Fez tudo para dificultar a captura do que tinha matado, quando o prenderam, o sujeito na maior cara de pau, falou do seu irmão, dizendo que era seu protegido.

Fez que não escutava, se documentou, mandou o sujeito para a prisão, a papelada para o fiscal.

Nesse dia quando vinha caminhando para casa, encontrou com seu irmão lhe esperando um quarteirão antes, apoiado num puto carro, desses que valem uma fortuna.

Mal falou com ele, foi direto ao assunto, queria que ele facilitasse a liberação do outro.

Sinto muito, mas já está na prisão, os papeis com o fiscal, tinha mandado o mesmo para o fiscal mais duro da cidade.

Quando disse o nome, ficou um fera, é um bom filho da puta, como podes fazer isso, começou a falar bem do bandido.

Espera, eres um policial, defendendo um assassino, chefe de gang, traficante de drogas, não me digas que estas no meio disso tudo.

James, o pegou desprevenido pela gola do casaco, sempre serás o filhinho preferido do chefe de polícia, verdade, o senhor perfeito.

Todo mundo fala de ti, nunca tens um romance, eres gay por um acaso?

Olhou nos olhos do irmão, era para ele um perfeito desconhecido o que estava ali, com as duas mãos se livrou dele.

Não tenho que responder a um desconhecido, vou fazer de conta que me encontrei com um desconhecido na rua, que me pediu para fazer uma coisa errada, mas me nego a fazer coisas fora da lei, me importa uma merda se esse filho da puta era teu protegido.

Lhe perguntou se ia até em casa, para pelo menos beijar a tia, ou falar com o pai.

Ele entrou no carro, arrancando marcando o chão com os pneus.

Foi daí até o parque, sabia que essa hora, o pai estaria sentado ali, olhando as crianças brincarem, quando ele chegava, dizia que agora estava reduzido a isso, ser guarda de parque, mas o fazia rindo, a criançada, vinha correndo falar com ele.   Todos o conheciam, pois tinha visto a maioria dos pais dessas crianças crescerem.

Nesse dia, sentou-se ao seu lado, adoraria colocar a cabeça nos seus ombros chorar, aonde estava o irmão que ele conhecia desde bebê, aonde esse tinha se perdido.

Mas não falou nada com o pai, no dia seguinte tinha livre, era seu dia de levar a tia a um desses centro comerciais, para irem fazer as compras da semana.

Ela soltou que uma vizinha tinha comentado que tinha visto os dois, como James tinha agido com ele.

Sabia que se falasse com ela, não contaria nada ao irmão.

Lhe contou o que tinha acontecido, desde que o tinha encontrado na cena do crime, que este tinha feito tudo para atrapalhar ele e sua companheira.   Ainda por cima me chamou de gay, pois parece para todo mundo, já que não falo nunca dos meus relacionamentos, é isso que sou.

Ela pediu para se sentarem numa dessas lanchonetes do centro comercial.   Ficaram sentados perto da janela, ela olhando para fora.

Vou falar contigo uma coisa, mas quero que tampouco diga nada a ele, ou ao teu pai.

Comecei a observar o ciúmes que ele tinha de ti, quando vocês chegaram a adolescência, sem querer teu pai te dava mais atenção, pois tiravas as melhores notas, mesmo da vez que inventaste que estava mal para competir, que ele ganhou, primeiro teu pai perguntou como estava, para depois se alegra que ele tivesse ganho a corrida pela primeira vez.

Ele colocou a medalha na gaveta, está até hoje no mesmo lugar.   Depois disso, ficava observando tudo, com o fazias ou deixava de fazer.

O peguei várias vezes, te imitando falar de alguma coisa com teu pai.

Quando resolveste ir para a escola da polícia, teu pai queria que ele pelo menos fizesse outra coisa, até sugeriu que fosse ao contrário, que tu fizesse outra coisa, já que tinhas nota para entrar para a universidade, mas não, querias ser policial.

Teu pai depois me contava os teus logros na escola, mas nunca falava dos deles, um dia lhe chamei a atenção sobre isso.

Me disse que teu irmão, não era igual a ti, me mostrou a mão, me disse, minha irmã, os criaste igual, sem olhar para um melhor que o outro, mas eles são diferentes, embora estivesse quando bebês de mãos dadas sempre, não eram irmãos.

Quando garotos, Frank era quem chegava primeiro, para que eu o levantasse no ar, mas as vezes fazia que não via, pois a cara do James era de derrota, então esperava por ele o incentivava, sei que mesmo agora, as regras da escola, exige que se são irmãos ou parentes, que não devem compartir quarto, assim se relacionam com outras pessoas.

Segundo um professor que é meu amigo, o Frank está sempre estudando, quando tem livre, vem para casa nos ver, já o James, cai na farra com os amigos.

Seguia mostrando os dedos para mim, ainda soltou, só espero que não se meta em merdas, o que sempre pode acontecer.

Disse uma coisa, que ficou na cabeça, a freira tinha mostrado as fraldas que os dois tinham chegado no orfanato, as tuas eram de boa aparência, de alguém de família, mas as do James, eram trapos.     Os genes minha irmã, sempre saem a toma.

Na hora fiquei horrorizada, mas passei a observar mais teu irmão, enquanto tu trazes sempre um presente de Natal, prático, coisas que estou realmente precisando, ele me trás um perfume, que nunca irei usar, mas de marca, uma vez cheguei a ir olhar o preço numa loja.

Ainda pensei, será que roubou ou realmente comprou.

Para teu pai traz sempre uma gravata, das mais caras, que teu pai, para não causar desfeita, usa na vez seguinte que ele vem, mas depois enfia no armário, não usa nunca mais.

Sabia que a tia ia sempre a igreja, soltou rezo por ele, embora sinta que estou perdendo meu tempo, esse ano passado não apareceu pelo Natal, disse que tinha lhe caído para trabalhar, teu pai que não é nenhum tonto, se informou.  Soube que ele tinha ido com os amigos jogar em Las Vegas, a convite de alguém.   Mas tampouco ligou para felicitar, ou desejar pelo menos um bom final de ano, quando teus tios perguntaram, respondeu que estava trabalhando.

Dos teus tios, dois são chefes de polícia, os dois vieram falar comigo, não se atrevem a falar com o irmão, dizem que James esta indo pelo caminho errado, se devem fazer alguma coisa.

Lhes disse que não deviam se meter, mas um deles, sim foi falar com teu irmão, depois me telefonou, irritado, disse que lhe soltou na cara, que não era da sua família, que não se metesse aonde não era chamado, essa família que todos vivem se metendo na vida dos outros.

Eu imaginei que isso ia acontecer.

Por isso meu filho, vamos deixar as coisas correrem, se der merda, vamos fazer o possível para que o cheiro não seja nauseabundo, que não atinja a velhice de seu pai.

Mas sem querer atingiu, o velho foi chamado a central, aonde o chefe de polícia por cortesia, sempre tinham sido amigos, lhe contou o que passava, que James, estava preso, com quase toda a delegacia aonde trabalhavam, a muito tempo a DEA e o FBI, tinham introduzido nessa delegacia observadores, que se infiltraram no seu grupo, agora estourou tudo.   Não posso fazer nada.

Seu pai começou a passar mal ali, mesmo, dali foi direto para o hospital.  Não se recuperou, quando abriu os olhos, estavam os dois, ele e sua tia, só lhe pediu para cuidar de sua tia, ela foi a mãe de vocês, quanto ao teu irmão, um conselho, esqueça dele, foi um erro de cálculo.

Na hora ele não entendeu, o velho morreu nessa noite, com outro enfarte.

O chefe de polícia, deu uma ordem para trazerem seu irmão ao velório, estava cheio de gente da policia ali, mandou evacuar a sala que estava o féretro, para ficaram só os dois irmãos.

A cara do James, era espantosa, não se atrevia a se aproximar do caixão, como se temesse que o velho se levantasse, para lhe chamar a atenção.

Frank, só lhe disse, deves estar contente, ele teve o primeiro enfarte, ao saber que estavas em prisão, me disse o chefe de polícia.

Nesse momento, ficou pasmo, o homem que se virou para ele, tinha uma máscara de ódio na cara.   Sempre foste o preferido dele, o que chegava primeiro para que ele te levantasse, a quem ele elogiava a cada medalha ou taça que ganhavas, passava a mão pela tua cabeça, sempre olhou mais por ti que por mim.   Inclusive queria que eu fosse advogado, para poderes brilhar na polícia, para ser como ele.  Até fisicamente vocês são parecidos, se nos colocam lado a lado, saberão que o filho dele eres tu.   Durante anos, desconfiei que na verdade eras filho dele, inclusive quando saiu a prova de ADN, mandei fazer uma dos dois, mas infelizmente não eras seu filho, fiquei contente, pois assim tinha um inimigo, sem uma vitória a mais do que eu.

Depois podendo escolher qualquer boa delegacia, escolheste ficar apesar de tuas notas, aqui no bairro, para que todos soubessem que eras o melhor, filho do querido, velho e enorme chefe.

Agora eres chefe de um grupo, para isso ou deste o cu para alguém de cima, ou puxaste muito o saco.

Sempre desconfiei de ti, nunca tens uma namorada, ou apresenta a mesma, não te enganes, nossas mães verdadeiras, eram putas baratas, a minha pelo menos, pois sei que eu cheguei enrolado em trapos, mas tu já eras privilegiado, elas ainda tinham os dois panos, originais, em nossa documentação.

A freira, quando ele nos adotou, andou fazendo sindicância se alguém tinha visto que nos tinha levado, a tua te levou num carro de gente rica, a minha desceu de um ônibus, com uma trouxa, me largou ali.

Estava com a boca aberta, nunca na sua cabeça tinha imaginado fazer isso, ir até o orfanato para saber dessas coisas.   Para ele, seu pai era o John, a mãe amantíssima, tia Marie, nem se lembrava da outra, apesar de que John tinha no seu quarto na mesa de cabeceira, a foto dos dois juntos.

Por sorte nesse momento, os policiais entraram novamente, levando seu irmão.

Podes ficar com ele todo para ti, nunca chegaras a nada, sempre serás como ele um pobre policial.

Depois tia Marie, sentou-se com ele, com as mãos em cima da sua, não disse nem uma palavra, tinha escutado tudo, ninguém tinha visto que estava na sala.

Quando reabriram a mesma outra vez, para as pessoas que vinham render pleisia ao seu pai, foram para outra sala, nem sabia quem estava falando com ele, tinha como um bloqueio na cabeça.

Ela esse tempo todo não disse nada.   Ele só lhe falou da tal história da prova de ADN.

Não seja por isso Christina, também pensou o mesmo, pois eras muito parecido fisicamente com ele, pensou que ele tinha uma amante, que a freira tinha combinado isso com ele.

Mesmo assim, nunca foi capaz de dar amor a nenhum dos dois, na verdade o preferido dela era o James, pois era o que se parecia com ela, moreno, cabelos e olhos negros.

Durante muito tempo, não soube nada dela, um dia a encontrei por um acaso no centro comercial, se casou novamente com um italiano, que já vinha com 4 filhos, se os visse juntos, pareciam realmente filhos dela, estava feliz.

Me disse uma coisa, que ficou guardada na minha cabeça, nunca me atrevi a dizer ao teu pai, como ela podia gostar de duas crianças, que não sabia de aonde tinham saído.

No dia seguinte no enterro, viu que ela aparecia, com um homem com cara de italiano, beijou sua tia, o abraçou dizendo sinto muito.

Depois da missa, todos foram para a casa da família, ele tinha ficado ali.

Perguntava ao pai, o que ele ia fazer agora.

Sentiu uma mão no seu ombro, era sua companheira, se sentou ao seu lado, ela agora devia saber de tudo.   Mas não disse uma palavra, só venha, vamos para tua casa, senão tua tia, ficará preocupada.

Christina, estava lá, o apresentou ao marido, ele o conhecia, tinha um açougue no centro de Long Island, mostrou uma foto das 4 filhas que tinha, eram parecidas com o pai, todas feias, nenhuma era bonita como ela.

Sem saber por que ele lhe disse, que o velho ainda tinha na sua mesa de cabeceira, a foto dos dois juntos, não sabia de aonde era.   Subiu com ela, mostrou a foto.

Ela riu, foi durante a nossa lua de mel, quis me levar a Itália, a terra dos meus antepassados, para ele isso era importante.

Vejo que sempre foste o filho que ele queria, já sei do James, ele foi adotado de lambuja, pois não soltavas a mão dele.

Vá em frente, como dizia teu pai, temos que seguir em frente, veja ele podia ter-se casado de novo, mas nunca o fez, quando o consultei depois dos anos que levei em tratamento, tinha recebido o pedido do meu marido, me disse que sim, pois era uma excelente pessoa, que eu teria as filhas que queria.  Parece que nos meus abortos, os fetos todos eram mulheres.

Eu realmente queria muito ter uma filha, nunca pensei em um filho, pensava assim, se for mulher, será uma mulher forte, dura, ira a universidade, será alguém.

Depois foi embora, com seu marido, lhe deu um cartão com um endereço, que fosse, levasse tia Marie, para jantar.

Sua tia nunca tinha falado mal dela a vida inteira, sempre a tinha defendido diante de toda família.

Quando finalmente a família foi embora, por sorte os obrigou a levarem toda a comida que tinha sobrado, como vez as mulheres, limparem tudo, se sentaram os dois no salão, como costumavam fazer, soltou um suspiro, agora temos que seguir em frente, em homenagem ao teu pai.

Fui a muitos enterros de seus homens, com ele, sempre dizia isso as viúvas, agora toca seguir em frente, oferecia ajuda a todas elas.

Dois dias depois foram procurados por um advogado, disse que tinham que ir a leitura do testamento, o homem entregou um envelope para ele.

Enfiou no bolso, o acompanhou até a porta, de noite em seu quarto, riu era igual como tinha sido sempre, a outra cama, a do James seguia ali,

Imagino quando leres essa carta, vais me chamar de velho John, o malandro.   Talvez sim, eu sempre acompanhei os erros do teu irmão, por duas vezes o tentei fazer entrar na linha reta, me olhou dizendo que para isso já tinha um filho, que agradecia o que lhe tinha dado, mas a vida era dele.

Sabia das coisas erradas, pensava um dia isso acabara em merda, mais dia menos dia.

Há questão de duas semanas, o diretor do FBI que eu conhecia, me chamou, marcamos de nos encontrar, me mostrou provas que vinham juntando, inclusive acusam teu irmão de ter matado quem o desafiava.   Sem querer me lembrei um dia tua mãe Christina, que me disse que vocês eram tão diferentes, como da água para o vinho.  Que ela quando olhava o James ficava nervosa, pois via nele um futuro negro.   Um dos motivos que foi embora, não era capaz de gostar dele.   Dizia que tinha uma aura negra.

Mas na verdade, talvez eu tenha sido o culpado, quando te vi, me apaixonei, eras o filho que eu tinha sonhado, até parecias comigo.

Mas não soltavas a mão dele, gritavas, já nem era choro, gritavas.

Um dia, a muitos anos atrás, fui a uma cartomante, que estávamos vigiando, a velha sabia que a polícia estava atrás dela.   Me fez sentar, me falou que tentavas proteger teu irmão, por uma dívida de vidas passadas.    Que a mãe dele ainda era viva, por isso quando ele foi a Las Vegas me preocupei, pois sabia quem era, a mulher de um mafioso, o teve numa aventura, antes de se juntar a esse homem.

No final da carta, verás o nome dela, se for o caso, se ele se meter em confusão, fale com ela.

Quando falei com ela, me contou a verdade, falou do trapo que o tinha enrolado, inclusive da hora que o tinha deixado no orfanato.

Me mostrou uma foto, era o James perfeitamente, o pai dele, um bandido que matava para ganhar a vida.   Morreu da mesma maneira, seu marido o mandou matar, a perdoou, pois tinham outros filhos.    Agora ela é a chefa, pois ele já morreu, vive num belo hotel em Las Vegas, que é seu, pode ser que procure ajudar o filho, lhe contratando um bom advogado.

Mas não se meta, porque se lês isso, é que ele já estará muito fudido.

Mas lembre-se de uma coisa, sempre te amei, quero que vás em frente.  Sei que eres diferente dos outros homens, não tenha vergonha de amar ninguém.

Sei do romance que tinhas com o que foi teu companheiro, querendo te proteger os separei de proposito, mas sei que ainda se veem.

Era uma verdade, cada um distante do outro, atualmente Robert, estava vivendo em outra cidade, tinha se casado, tinha filhos, mas assim mesmo tinha vindo ao enterro de seu pai.

Tinham se abraçado, quase o beijou na boca, para saber se era a mesma que tinha amado tanto.

Agora poderia dizer ao James, sou gay e daí, mas nunca matei ninguém.

Era uma verdade em seu expediente, dizia isso, tinha resolvido os casos, sem nunca dar um tiro, isso que ele era um campeão.

Depois deu a carta para a tia ler, ela sim sabia do Robert.

Lhe perguntou se devia fazer contato com a mãe do James?

Consulte com teu travesseiro, sou honesta de dizer que isso me dá um certo medo, de como ele vai reagir, em saber que é uma mulher rica, mas que o colocou num orfanato.

Conhecia o chefe da prisão que ele estava aguardando julgamento, esse lhe disse que tinha aparecido uma mulher muito pintada, se via que tinha uma peruca, acompanhada de um advogado, que seu irmão tinha feito o maior escândalo, gritando com a mulher a chamando de puta.   Foi difícil o controlar, depois provocou uma briga com outro que estava por ali, também recebendo visitas, como se esse tivesse visto algo demais.

Foram precisos, uns quantos homens para o controlar, está na solitária por causa disso.

Foi a leitura de testamento com sua tia, disseram ao advogado que seu irmão estava na solitária que não poderia vir.

A casa, deveria ir agora para seu irmão, que tinha muitos filhos e netos, deixava para a irmã uma quantia em dinheiro, para ela ir para a casa de maiores, como tinham conversado.

Para ele, deixava uma caixa no banco, bem como uma quantia em dinheiro, a mesma quantia para o James.

Pediu uma cópia, quem sabe o James precisava desse dinheiro para contratar um advogado.

Quando finalmente conseguiu falar com ele, sua companheira o levou até a prisão, melhor ir acompanhado.

A primeira coisa que o James disse, se tinha ido ali, para rir dele.

Fez que ignorava a visita da sua mãe.   Nada disso, vim aqui, trazer uma cópia do testamento do velho, explicou o da casa, a tradição da família irlandesa, já que nenhum dos dois tinha filhos, o deixava para o irmão que mais tinha filhos e netos.

Tia Marie, vai para onde?

Ela já tinha resolvido a tempo, ir viver numa residência de pessoas de idade, aonde já tem algumas amigas, levará os moveis de seu quarto, esta semana faremos o translado.

E tu?

Bom estou procurando um apartamento, nada do outro mundo, já sabes como sou, algo que me lembre nosso quarto, levarei minhas poucas coisas que estão lá, nunca fui de juntar muitas coisas.

Se quiseres podes ficar no meu.

Ele agradeceu, sei aonde moravas, uma vez te segui até lá, não faz o meu gênero, sabes disso.

Estavam conversando calmamente.    James pediu desculpas por tudo, agora sei quem sou, finalmente a puta que era minha mãe, não sei como apareceu, me disse que sempre tinha me seguido, depois que nosso pai, foi falar com ela.   Trouxe um desses advogados que só defende a Máfia, mas já estou de merda até o pescoço.

Se despediram colocando a mão no vidro como qualquer um que vai falar com um prisioneiro, faça como o velho dizia siga em frente, tu estavas certo.

Te chamava de viado, pois tinha inveja do teu romance com o Robert, eu sabia, seguia os dois, o duro era que achava errado te desejar, mas isso tinha feito desde garoto, as vezes queria te beijar, para saber por que nosso pai te preferia.  Uma vez quando éramos adolescente, queria fazer sexo contigo no banheiro depois de um treinamento, foi falar antes com um padre, que disse que era pecado, por isso quando fomos para a escola de polícia, adorei estar longe de ti.

Mas claro, fui distorcendo tudo, por isso te peço perdão.

Não tenho que te perdoar, só quero que saias daí, virei sempre te ver, eres meu irmão.

Ele foi transferido para trabalhar em analisar casos especiais, não resolvidos, na central de polícia, pela primeira vez gostava do trabalho, pois sua companheira tinha ido junto, os dois analisavam tudo, refaziam todo o processo, desde o ponto zero.

Ia todos os meses visitar seu irmão, nos sábados, se não estava fazendo nada, ia ver a tia, levava doces que elas e suas amigas gostavam, as vezes até jogava bridge com elas, nunca tinha sido bom, elas ganhavam é claro.

Seu irmão foi a julgamento, condenado e claro, mas nunca puderam provar nada dos assassinatos.

Viu que na plateia do julgamento, sua mãe, estava sentada muito atrás, para que não a visse, vestida discretamente.

Na saída se aproximou dele, perguntou se podiam conversar.

Foram até um café ali perto, seguidos é claro por um carro negro.

Lhe disse que tinha tentado o visitar na prisão, mas ele se negava a recebe-la.  Não lhe contei nada de seu pai, pois isso seria pior.

Teu pai entendeu, sei que deu uma família aos dois.

Para mim posso dizer, foi o melhor pai do mundo.  Nunca me interessei como o James em saber quem eram meus pais, eu já tinha o meu.

Como vai ser agora.

Bom se ele se comporta, poderá sair em dez anos, senão terá que cumprir a pena máxima.

Como ele pagou o advogado?

Ah esse é muito bom, um velho amigo meu, não cobrou nada, devia favores ao meu pai.

Meu pai lhe deixou algum dinheiro, como a mim, de herança.

Quase contou a ela, que na caixa forte que tinha de seu pai, tinha estava ali, uma certidão de nascimento que depois tinham entregado no orfanato, o nome de sua mãe, uma artista famosa de Hollywood, mas com uma vida muito complicada.   Bonita sim, mas não muito inteligente, tinha todo um resumem de sua vida, seus casamentos, as pessoas com quem tinha estado envolvida, tinha morrido de overdose, numa festa em sua própria casa.

O velho tinha falado com ela, mas se negou a reconhecer algo, disse que essa certidão de nascimento era um erro que tinha cometido, o entregando a freira.

Nessa caixa, também tinha ações do governo, o velho dizia que era para ele comprar um apartamento, no bilhete dizia, sei que compraras um ao contrário do teu irmão, muito simples, um lugar para viver tranquilamente.

Quando foi ao presido, mostrou para ele, o que tinha descoberto, nunca me interessei em saber, podia ter ficado sem essa, para mim ele e tia Marie eram meus pais.

Quando eu dizia isso aos amigos na escola, riam de mim, pois não podiam ser meus pais, pois eram irmãos.

Eu tinha que corrigir que era filho adotivo, nunca tive vergonha disso.

Agora saber que era filho de uma mulher vaidosa, que nunca me quis, tampouco me incomoda, nem sei quem é, poderia agora procurar seus filmes, mas isso não vai resolver nada.

Mostrei esse carta para nossa mãe postiça, vou sempre que posso comer na sua casa, as filhas são feias como o pai, mas ela adora, sempre quis ter filhas não filhos, disse que se fossem filhos entrariam para a polícia, isso a faria sofrer.

Agora sei que esteve anos com depressão, por não conseguir ser mãe de nós dois, lhe digo que tia Marie, o foi sem querer, a melhor mãe do mundo.  

A vida as vezes é uma merda, eu nunca me preocupei com isso, nem quando a Christina foi embora, pois tia Marie, já exercia o papel de mãe conosco.

Para ela éramos seus filhos, isso bastava.

Vais sempre vê-la?

Ela e suas amigas, perco sempre no jogo, tu sabes que nunca gostei de jogar, embora sejam moedas pequenas, as velhas ficam felizes em me limpar como dizem.

Mas levo doces que elas adoram, me contam coisas de seu passado.   Nunca soube realmente, mas eram companheiras desde criança, quando se casaram cada uma foi para um lado, agora estão juntas de novo.

Antes de ir embora, James, sempre lhe dizia que tinha que arrumar um namorado, não podes ficar sozinho.   Um dia rindo, disse que agora tinha um companheiro de cela, que era um bombom, gosto do rapaz, cuido dele.

Não fez nenhum comentário, sabia como era a vida ali.

Finalmente conheceu alguém, um advogado, que os ajudou num processo que estava parado.

Começaram a sair, lhe interessava, pensava que ele era muito tranquilo, mas quando foram para a cama, o mesmo era um furacão.   Estavam juntos já a muito tempo, ele inclusive ajudou o James, no seu processo de liberdade condicional, mas James a cagou antes.

Alguém tinha atacado seu companheiro de cela, ele quase matou o que tinha feito isso.

Mais um tempo na solitária.

Tinha ido ao enterro de sua tia, a dias atrás, foi comovedor, pois as velhas faziam uma aposta de quem seria a seguinte, na despedida, lhe diziam para aparecer.

Agora quando ia, levava o Jack, esse se matava de rir, pois adorava jogar o Bridge, o fazia antes com sua mãe, mas o aconselhou nunca ganhar delas, isso as deixava feliz.

Ele ria dizendo, que isso era mais a parte mais difícil, perder, quando sabia que podia ganhar.

Agora dez anos depois, James saia da prisão, o iria buscar, tinha pedido as chaves de seu apartamento para seu advogado, mandou limpar o mesmo, nunca tinha entrado, ficou pasmo, era o típico apartamento de um novo rico.

Ele vivia num maior agora, que o Jack vivia com ele. Estavam analisando se deviam ou não adotar uma criança.

Ver o irmão sair da prisão, era uma coisa totalmente diferente, cheio de músculos, tatuagens, os cabelos raspados.  De um carro negro, saiu um homem, lhe entregou um envelope.

Ele enfiou no bolso.

No carro soltou, era o advogado de minha mãe, nos últimos tempos ela vinha me visitar, um dia lhe perguntei por que usava perucas, quando tirou, estava como eu, careca, tinha câncer, morreu a poucos meses, o homem diz, que olhasse dentro do envelope, tem a direção de um advogado daqui, que esse dinheiro que me deixa, é para melhorar a minha vida.

Mas o rapaz que viveu comigo aqui, dentro já saiu, vamos viver juntos, não no meu apartamento, vou colocá-lo a venda, não sei o valor disso, mas iremos embora daqui, para começar a vida em outro lugar.

Quando chegaram ao seu apartamento o outro estava lá, se o colocasse ao seu lado, poderia dizer, é o meu filho James.   Agora entendia, tinha transferido para o outro, o amor que dizia sentir por ele.

Antes de ir embora, foi com o rapaz ao apartamento dos dois.

Se despediu, vamos tentar a vida em outro lugar, é melhor que não saibas aonde, podes querer me procurar, mas eu preciso cortar o vínculo com o passado.

Dois anos depois se aposentou, o Jack também, se mandaram da cidade, primeiro, pensou em ir viver em Long Island, estiveram inclusive olhando casas, mas acabaram optando para ir morar perto de Boston, na praia.

Saiam para caminhar todos os dias, se ocupavam.  Jack dava aulas noturnas a pessoas que não tinham tido oportunidades, emigrantes.

Ele as vezes ajudava o xerife resolver algum caso, mas nada de se envolver demais.

Reclamava sempre de não ter tido coragem de ter adotado alguma criança, agora já estava velho demais.

 

 

 

 

 

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