ANGER

 

                                    

 

Além de um nome estranho, Anger Broadsmith, era uma mistura de raças, seu pai era filho de irlandeses, cabelos vermelhos, o corpo cheio de sardas, olhos verdes claros, sua mãe era uma japonesa, a conheceu lá, quando trabalhava como polícia militar na embaixada.

Um dia foi apartar uma briga num bar de Tokyo, entre soldados, levou uma facada, uma linda mulher o socorreu, o levando para o hospital, foi todos os dias visita-lo.

Ele era para ficar um ano lá, ficou três, voltou comigo, ela tinha morrido durante o parto.

A anos ele tinha conhecido o único familiar que ela tinha, um monge, que vivia num monastério num lugar difícil de chegar, pois estava no alto de uma montanha.

Estava de férias, ficou lá um mês, Takarashi, disse que ele tinha uma facilidade incrível para aprender lutas marciais, que fazia ali, além de concentração.   Ele parecia ter encontrado seu lugar especial.

Foi obrigado a voltar, para dar baixa no exército, depois conseguiu um visto indefinido, uma coisa difícil em se tratando de Japão, ficou lá até eu ter idade para ir à escola.

Nesse tempo ele se desenvolveu, meu tio se matava de rir, pois eu me colocava junto com os outros monges na hora de fazer exercícios, os imitava em tudo.

Um dia aprendi, como subir numa parede, sem fazer ruido.  Ele ficou de boca aberta, pois a metade dos homens caiam, a partir desse momento, passei a receber treinamento especial dele, principalmente de noite.

Dizia, tens que passar desapercebido, para fazer isso, ele o fazia com uma facilidade tremenda, fui aprendendo.  Bem como com um simples, gestos jogar uma pessoa longe.

Meu pai adorava, mas claro pensou muito, teve conversas incríveis com meu tio.

Um dia esse o levou a um lugar que nunca tinha ido, fui junto, seguimos subindo a montanha, por um caminho que só podia passar uma pessoa, até chegarmos a um mosteiro, pequeno, no alto da montanha, nunca se via o mesmo, pois estava sempre cercado de uma bruma permanente, como dizia meu tio, fora das vistas do mundo real.

Fomos recebidos, por um grupo de velhos monges, seria difícil precisar a idade deles, nos levaram a um que estava sentado em posição de lotus, na frente de um buda gigantesco, totalmente negro, pelos incensos, acendidos em sua base.

Ele fez um sinal para mim, quando me aproximei, com um gesto seu, me vi no ar, deitado, fui sendo elevado, até chegar à cabeça do buda, ali me deixaram, anos atrás anos, tentei me lembrar do que tinha acontecido.

Segundo meu pai, o velho disse que minha missão, não era lá, mas sim nos Estados Unidos, que eu sempre lutaria contra as forças do mal, bem como ele.

Anos depois eu voltaria a subir, pois com a idade, meu tio Takarashi passou a viver lá em cima.

A última vez que fui, ele ocupava o lugar desse homem, me disse que um dia me tocaria o mesmo.

Voltamos para os Estados Unidos, meu pai que não tinha parente nenhum, resolveu viver em San Francisco, pois a colônia Japonesa e chinesa lá era maior.

Tivemos uma conversa como ele chamava de homem para homem, nunca deves usar tudo que sabes para não chamar a atenção, anos durante toda minha juventude essa era o mantra, que me fazia.

Mas não ficamos lá, ele já era da polícia, foi mandado para Los Angeles, nunca soube por que me senti chegando em casa.

Quando fui a escola, claro o pessoal fazia bullying comigo, mas os ignorava, a não ser quando me agrediam.  Os maiores que faziam isso, nunca entenderam, que mesmo eu não os tendo aparentemente tocado, acabavam sempre no chão.

Nesse ano, no segundo semestre, veio transferido de algum lugar, um garoto, era gordo, usava óculos, as suas roupas, pareciam estar sempre sujas, descobriria depois que sua mãe não as lavava.

Foi o mesmo que chamar atenção de todos os que faziam bullying, eu o observei, o tinham colocado ao meu lado nas aulas, vi que o mesmo era na verdade muito inteligente, principalmente em matemática, que eu odiava.

No recreio o coitado ficava olhando os outros comerem, ele nunca tinha nada.  Nessa hora o maior dos abusadores, sempre, jogava alguma coisa em cima dele.

Um dia perdi a paciência, pois ele não se defendia, quando me coloquei ao seu lado, esse garoto era muito mais alto e aparentemente forte do que eu.  Foi parar em cima de uma árvore.

Gritava que não sabia descer, eu peguei a mão do meu novo amigo, disse meu nome Anger, ele riu, passou a me chamar de Angel, pois o tinha defendido.

Um dia o levei a minha casa, pois na saída não tinha ninguém o esperando, vivíamos quase ao lado da escola.   Ele chegou perguntou se podia usar o banheiro, quando vi estava como um louco embaixo do chuveiro.  Aproveitei, lavei suas roupas, pois na época tínhamos uma das primeiras lavadoras e secadoras lançadas, meu pai achava mais fácil assim.

Era uma tarefa que me tocava a mim, quando saiu do chuveiro, me disse não pude resistir, nesse momento, entendi por que usava camisas de manga comprida, tinha marcas no braços, como se alguém o pegasse.

Enquanto comíamos um imenso sanduiche que tinha feito para os dois, me contou que seus pais sonhavam em ser estrelas de Hollywood, mas só conseguiam pontas, aparecer no meio da multidão, quando não conseguia nada, descarregava sua frustração nele.

Mas tua mãe, não te defende?

Não, fica olhando, com um sorriso idiota na cara.

Ele pensou, deve estar é drogada, seu pai tinha falado nisso com ele.

Nesse momento chegou seu pai, Tom ficou assustado, começou a gaguejar, como eu o tinha visto fazer nas aulas, quando um professor perguntou alguma coisa para ele.

Contei ao meu pai o que tinha acontecido, este passou a mão pela sua cabeça, nessa época era inspetor de polícia, pegou seus braços, começou a examinar.

Num determinado lugar, viu que Tom sentia dor.

Suas roupas estavam secas, mandou que vestisse, mas de uma maneira que Tom não se assustasse, telefonou para alguém que nos iria encontrar no hospital.

A reconheci imediatamente, era uma mulher que era amiga dele, entenderia nesse momento que era assistente social.

Fizeram uma placa no braço dele, tinha um osso fora de lugar, que estava se calcificando errado.  Arrumaram isso, engessaram seu braço, com muito cuidado Deborah, a amiga de meu pai, perguntou aonde era sua casa.   Ele só sabia ir a partir da escola.

Voltamos até lá, não havia ninguém o esperando, eu o segui acompanhado pela Deborah, ele só sabia ir andando, meu pai foi de carro.

Era um edifício em ruinas, por isso ele tomou banho lá em casa pensei, não deve ter água.

Subimos, no segundo andar, o elevador tinha uma placa dizendo que não funcionava.

Quando chegamos ele bateu na porta, abriu uma mulher muito bonita, extremamente pintada, que o puxou para dentro pelas orelhas, o chamando de bastardo, aonde estavas escondido, ao mesmo tempo o examinava com o braço engessado, perguntou em que ele tinha se metido.

Meu pai empurrou a porta, mostrou sua placa, a mulher ficou histérica, o que foi que esse idiota fez.

Nesse momento saiu de um dos quartos, um homem, muito bonito, mas com cara de idiota.

A primeira coisa que fez, foi dar um cascudo no Tom.

Idiota já te disse para não se meter em brigas.

Nesse momento a Deborah, tomou a palavras, segundo o atestado médico, ele não esteve metido em nenhuma briga, mas sim foi sacudido, apanhou de vocês.

Claro é muito idiota, merece, nos dois damos um duro desgraçado, para conseguir algum papel em Hollywood, mas esse idiota, só consegue ir à escola.  Na idade dele, eu já trabalhava no campo com meu pai.

Algo mexeu com ele, deu um murro no peito do Tom, imbecil.

Que levou um maior foi ele, pois foi cair longe.

O lugar era uma verdadeira pocilga, Deborah disse ao Tom, arrume tuas coisas, vou te levar para um lugar decente.

A mulher se encostou na porta dizendo, que coisas, ele só tem mais uma camiseta, uma calça velha.   Temos que pensar em nós que futuramente seremos estrelas de Hollywood.

Meu pai se aproximou, viu que ela tinha marcas de injeções no braço, fez a mesma coisa no pai.

Andavam sim nas drogas.

Puxou o sujeito pelo colarinho, lhe perguntou se queria dar seu filho em adoção?

Quem iria fazer esse favor para mim?

Eu o adoto, mas com papel passado, saiu arrastando os dois, os levou diante de um juiz, que lhe devia favores, Deborah ria, dizendo que gostaria que todos seus casos se resolvessem assim.

Foi assim que ganhei um irmão.

A partir desse dia, Tom mudou de nome, passou a ser Thomas Broadsmith.

Compartíamos quarto, estudávamos juntos, ir à escola, passou a ser agradável, ninguém mexeu mais com ele, ou comigo.

No ano seguinte não pudemos ir ao Japão, aproveitei para lhe ensinar a falar, escreve na minha língua natal.

No seguinte fomos, ele se deslumbrou, quando chegamos ao Monastério, meu tio o recebeu como um a mais, mas ele sempre seria um básico, já sabia se defender, porque eu o ensinei,

Mas teve que ficar com meu pai embaixo quando subi, para ver o grande mestre.

Perdi a conta dos dias que fiquei lá em cima.

Quando desci, ele me abraçava, dizia que tinha sentido minha falta.

Nos anos seguinte, talvez pela alimentação, em casa comíamos a comida japonesa, emagreceu, começou a esticar, ficou mais alto do que eu, cada vez se parecia mais ao meu pai.

Se estávamos os três, muita gente pensava que ele era o filho, eu o adotado.

Nunca nos importou isso, pois para todos os efeitos erámos irmãos.

Na hora que chegou a decisão de ir a universidade, ele já sabia o que queria, ser professor de matemática, podia fazer qualquer curso na área, mas foi estudar a mais difícil, matemática pura, com uma bolsa de estudos, que raramente alguém conseguia.

Meu pai, ficou super orgulhoso.  Eu ao contrário, poderia ter ido estudar línguas, mas resolvi depois de muito pensar, de conversar com os dois, fazer um curso extra no Japão, pois a língua tinha variantes, bem como escrituras.

Mas passava a maior parte do tempo no mosteiro de cima.

Quando voltei, me inscrevi na academia de polícia, fui ser policial como meu pai.

Nunca usava na frente de ninguém os truques que sabia, fui subindo, acabei como meu pai, inspetor de polícia.   A ele faltava pouco tempo para se aposentar, queria passar uma larga temporada no Japão.

Eu nas minhas férias estava lá novamente, Tom fazia práticas numa universidade ligada ao MIT, o velho, seguia trabalhando.

Um dia Tom me mandou uma mensagem, tinham tentado matar o velho, que eu devia voltar.

Ele tinha prendido um desses loucos, que vão para a guerra, depois querem matar todos os emigrantes possíveis, nesse caso, as vítimas foram uma família inteira.   O muito idiota tinha filmado tudo, no final passeando enrolado numa bandeira americana, falando que chegaria o dia, que o pais se livraria desses invasores.

O mais interessante era que o mesmo era filho de emigrantes poloneses, seus pais ainda falavam com sotaque, mas o mesmo se achava acima do bem e do mal.  No seu julgamento ainda soltou, que agora entendia, que devia ter começado pela sua casa, pois sua família era invasora, ele não, pois tinha nascido lá.

Quando foi confrontado que a família que ele tinha matado, todos tinha nascido em solo americano, ele soltou que seguiam sendo escuros.

Havia inclusive que limpar o pais dos negros.

Quando meu pai ia saído do julgamento, com o fiscal do lado, viu um reflexo de uma arma, só teve tempo de empurrar o mesmo para o lado, acabou ele levando o tiro.

Esse exército nacional, tinha uns quantos atiradores de elite.

Tomei o primeiro avião, cheguei exausto a Los Angeles, nunca saia direto do monastério de cima, aonde o silencio era fundamental.  Ia era estranhando isso.

Consegui ainda pegar meu pai com vida, sorriu feliz, estava te esperando meu filho.

Seu enterro, havia uma multidão de gente que ele tinha ajudado, bem como os amigos que lhe renderam tributo.

Em seguida, conversei com o FBI, tinham localizado o lugar aonde estavam esse grupo, tinha um perigo em invadir, pois no local havia famílias inteiras, mulheres, crianças.

Me mostraram a foto do que tinha atirado, o tiro era para o Fiscal, que era negro.

Esse veio falar comigo, pois o que meu pai tinha prendido, quase se livra, por um problema de processo.

Disse ao Tom que ainda estava de férias, que ia fazer uma viagem, ele nunca perguntava nada.

Fui até perto do lugar que estava esse acampamento, depois embrenhei na floresta que estava justo ao lado.

Na primeira noite, matei um que estava de guarda, consegui através dele saber aonde estava escondido o que tinha atirado.

Fiquei no escuro esperando, quando ele saiu para mijar, o primeiro que perdeu foi justamente o piru, depois rapidamente o deixei cortado em pedaços.

Só foram descobrir no dia seguinte, quando umas mulheres foram estender roupa.

Foi um escândalo imenso, saíram pela floresta procurando quem tinha feito isso, mas eu já estava dentro.

Tinha me escondido no teto, aonde faziam as reuniões, descobri quem tinha dado a ordem, ele foi o seguinte, em seguida foram os que comandavam.

Se jactavam de serem perigosos, pelas guerras aonde tinham estado.

No meio dessa confusão toda, com as pessoas, querendo escapar, fui embora.

O FBI, falou muito, pois não tinha enviado ninguém, não havia no local, nenhum sistema de vídeo, portanto nada de gravações.

Se falou muito, eu voltei ao meu trabalho, como se nada.

Tomava muito cuidado, para não me sobressair nos casos que levava, mas era cuidadoso, em examinar os locais, quando ia investigar um crime.

Tom veio falar comigo, ele sabia que tinha sido eu, em vingança a nosso pai, mas nunca comentava nada comigo.

O tinha convidado para trabalhar na Nasa, tinha ido até lá, aquilo parece um campo de concentração, pois creio que até um peido registram.

Nessa época ele estava namorando uma garota que tinha conhecido no MIT, ao mesmo tempo tinha recebido um convite para dar aulas em várias universidade.

Resolveu ficar mesmo na de Los Angeles.

Lhes cedi a casa em que vivíamos, pois na verdade só usava nosso antigo quarto, o resto da casa era imenso para mim.

Me mudei para um apartamento perto, um studio, perfeito no meu caso, mas nos finais de semana ia sempre comer com eles.

Ele tinha encontrado sua alma gêmea.   Um dia me procurou nervoso, tinha reconhecido sua mãe na rua, se prostituindo, fui com ele olhar, o pior era seu pai, explorava um grupo de garotas, mais do mesmo, pensavam que indo para Hollywood, encontrariam a fama.

Mal sabiam que a maioria dos filmes hoje em dia se faziam em outros lugares, principalmente NYC.    Ali quando muito se filmavam séries, mas claro eles as abordava, mal saiam dos ônibus, o fui seguindo para ver como fazia, as levava para um edifício em ruina, dizendo que cuidaria delas, logo estavam nas drogas.    Era um gigolo a toda regra.

Perguntei a ele que queria que fizesse, mas antes fui pesquisar mais a respeito, tinha pensado em delatar a área da policia que cuidava dessa parte.

Quase cai do cavalo, ele tinha um sócio nisso, que fazia vista gorda, um dos piores que tinham ido a academia comigo.

Se liquidasse, tinha que fazer o mesmo que o outro.

Um dia entrei nessa casa, usando meu sistema de nunca ser descoberto, vi sua mãe se injetando entre os dedos do pé, assim era difícil descobrir.

Estava velha, mas comandava todas as garotas, com falsas ilusões.

Era ela que no fundo levava as garotas para a rua, um dia tive que rir, escondido observava que ele chegava num território que era de outro proxeneta, brigava como uma fera com a outra mulher.

Mas antes me sentei com o Tom, sua mulher estava gravida, tinha medo de se encontrar com seus pais verdadeiros.

Teu pai verdadeiro, era o nosso pai, bem como tua família sou eu, tua mulher.

Lhe disse que iria uns dias a Washington, fazer um trabalho.

Me escondi, um dia me vesti de mulher, me coloquei de tal maneira, que sua mãe que estava totalmente drogada, tinha que passar por mim, para me expulsar, o fez com uma navalha nas mãos, a mesma que cortou seu pescoço.

Depois tomei conta do policial, esse foi encontrado, como era os assassinados pela máfia, com a língua cortada, bem como o piru na boca, amarrado numa pedra, jogado no Rio Santa Ana, que desagua na praia.

Continuava seguindo seu pai, as notícias não tinha saído no jornal, a não ser do policial, do qual Tom não sabia nada.   Sua mãe, era uma puta a mais na cidade, nunca saia em primeira página.

Voltei da minha viagem, por azar dele, saiu uma matéria no jornal, falando de sua carreira universitária.

Vi que seu pai, iria tentar se aproximar, a primeira noite livre que tinha, livrei o mundo de um sujeito que vivia de explorar os outros, mas fiz uma coisa, não queria que saísse nos jornais, troquei seus documentos, por de um morto, que estava na morgue.

Assim Tom não ficou sabendo de nada.

As garotas, os serviços sociais, conseguiu que a maioria voltasse de aonde tivesse saído, mas vá entender a mente humana, a maioria acreditava piamente que seu proxeneta ia conseguir um lugar para elas no cinema.

Por sorte Tom recebeu um convite para ir trabalhar durante um tempo na Sorbonne em Paris, seu filho já tinha nascido, levava o nome de nosso pai.

Foi só o primeiro, teriam vários, eu brincava com ele que não via televisão.

Fui seguindo minha vida, todas as férias, ia para o Japão, passava dois dias no mosteiro de baixo, como me purificando, agora meu tio, estava no de cima, subia, para estar com ele.

Desta vez, aprendi uma coisa, me livrar de tudo que tinha feito, como deixar uma carga pesada.

Me avisou que dentro de um ano, eu deveria voltar definitivamente, desta vez me contou uma coisa que não esperava.

Que meu pai, depois que minha mãe tinha morrido, tinha pedido ajuda, pois seu filho, tinha algum problema que os médicos não podiam curar.

Chegou justo no momento que alguém abandonava um bebê, nas portas do monastério, tu, o outro morreu, tu passaste a ser seu filho.

Ele nunca tinha verbalizado nada, mas não me importou nada, sempre tinha me sentido seu filho, o queria com toda minha alma, inclusive o tinha compartido com o Tom.

Me preparei a consciência, pedi demissão da polícia, fui passar um tempo com meu irmão, conversei muito com ele, contei essa parte que tinha descoberto a pouco tempo.

Ele fez uma coisa que me surpreendeu, aceitou um convite para dar aulas na Universidade de Tokyo, como falava japonês, foi fácil, não queria ficar muito longe de mim.

A cada férias subia com os garotos, ou os levava para aprenderem comigo como levar essa vida, se defenderem.   Sua mulher a principio não queria, mas não sei os argumentos que ele usou, aceitou.

Segundo me diria depois, os meninos, voltavam mais doceis, obedientes do que eram antes.

Agora eles tinham uma menina.   Essa não podia me ver que abria os braços para que eu a pegasse.

Já não me vestia como os demais, mas sim roupas do mosteiro, as pessoas, principalmente as mais velhas se curvavam quando eu passava.

Os da Yakuza, me respeitavam.

No lugar aonde moravam, havia perto uma família da Yakuza, o marido caiu em desgraça, apareceu morto.   A mulher procurou Tom, este a levou até o mosteiro, o deixaram comigo.

Virou o filho que eu nunca tinha tido, o fui treinando, ensinando, a ler, escrever, depois os mais velhos se encarregaram de sua educação, mas os exercícios fazia comigo.

Me disse um dia, que eu era o pai perfeito, pois estava sempre atento, do seu pai verdadeiro, se lembrava, que nem chegava perto dele.

Quando chegou a época de ir a escola, antes da universidade, o levei a Tokyo, Tom conseguiu que ele fizesse as provas, para ser aceito, quando disse ao professor que tinha estudado no mosteiro, lhe deram a prova mais difícil, se saiu com louvor.

Passou a viver com a família do Tom, que para uma família japonesa, era grande demais, ele agora era vice reitor da universidade.

Eu ria com ele quando via as fotos, dos professores, ele se destacava, seu filho mais velho dizia, que nem que ele fizesse uma operação nos olhos, para ficarem puxados, iria enganar, era branco demais, além de ter altura superior.

Seus filhos quando eu vinha, me arrastavam ao Dojo, aonde iam, queriam lutar comigo, mostrar o que tinha aprendido, para o professor era uma honra.

Eu ao contrário me divertia, adorava fazer os exercícios com o que considerava meu filho.

Agora subia cada vez mais, meu tio, era o sacerdote supremo, me dizia que me tocaria um dia subir para começar meu aprendizado.

Eu ficava triste, isso significava que veria menos minha família, bem como meu filho.

Quando falei com Tom, ele me disse que tinha um convite para voltar para o MIT, sua mulher sentia falta dos Estados Unidos, pois no momento que eu subisse, nunca mais poderia sair do mosteiro, como meu tio.

Fiz um largo passeio com meu filho, ele era o melhor aluno de matemática, do Tom, o aconselhei ir, que ele viesse nas suas férias.

O senhor acha que me permitirão subir?

Nunca deixes de treinar.   Isso era como falar, eres jogador de futebol, nunca deixes a bola de lado.   Isso eles e os filhos do meu irmão faziam todos os dias.

Fui com eles, fazendo a minha última viagem ao pais que tinha vivido tanto tempo.

Depois que se instalaram, andei pela cidade, a procura de um Dojo aonde eles pudessem treinar.   Demorei mais achei.

O tempo que pude estar lá, íamos todos os dias treinar, tinha orgulho do meu filho, pois ele se sobressaia, além de um alto poder de concentração, era perfeito, ficou como ajudante do dono do local.

As primeiras férias que veio, eu ainda estava no mosteiro de baixo, foi um prazer imenso, veio com seus primos.  Ficava imaginando o Tom ter que pagar a viagem de todos eles, mas se esforçavam o máximo para isso.

Da ultima vez, para minha surpresa, meu filho, trouxe minha sobrinha, disse que ela era melhor que os outros, consegui uma licença especial para ela.

Realmente era impressionante seu trabalho, absorvia tudo, como uma esponja, um dia fiz um teste com os três, sobre subirem uma parede somente a partir de um movimento.

Ela era a melhor deles todos.  Recebi um recado, devia subir só levando meu filho, bem como a ela.

Foi uma surpresa geral para todos os outros monges.

Foi um tempo espantoso, eu como sempre lá em cima, perdia a noção de tempo, era como se ele não existisse.   

Meu tio me explicou, que na verdade os dois deveriam ser meus filhos, que tinham chegado por outros caminhos.

Os treinei pessoalmente sob a supervisão dele, todo esse tempo.  Ao descermos, meu filho fez um comentário, o mesmo que eu tinha feito a primeira vez. Que as nuvens ali pareciam eternas, pois nem se moviam com o vento.

Essa é a proteção do mosteiro de cima, a não ser os monges, ninguém sabe que existe.

Me despedi deles todos que voltavam para casa, agora eles sabiam novos exercícios, para ensinar a uns quantos protegidos.

Eu voltei para o de cima, nunca mais sai de lá, ficava sempre esperando ansioso, quando eles viessem.

Já tinha me aberto a certos dons, sabia quando eles chegavam, meu tio que estava cego, como todos os que chegavam a esse cargo, ria, dizendo que eu tinha melhorado muito, mas que me faltava muito ainda para aprender.

No primeiro ano, subiram os dois, era impressionante a ligação que tinham entre si, tiveram uma conversa larga com meu tio.  Nunca soube o que era.

No ano seguinte, subiram os outros também, tinha alcançado um nível melhor, meu filho me contou que tinham ficado com ciúmes da irmão subir, eu usei isso como argumento, para serem melhores.

Me mostravam fotos do meu irmão, diziam o senhor continua jovem, mas ele fica cada vez mais velho.

Era uma verdade, quem visse meu tio, diria o mesmo, não tinha nenhuma arruga na cara, não se podia falar de cabelos brancos, pois todos o levávamos raspado.

Eles agora entre eles, tinham seu próprio Dojo, pois o professor tinha morrido, meu filho era o professor, mas não descuidava, estava fazendo uma pós-graduação em matemática pura.

Os outros sobrinhos, iam escolhendo carreiras, iam se movendo.

Quando meu irmão ficou viúvo, veio me ver, ficou vários dias no mosteiro de baixo, até poder subir.

Me disse que ali estava em paz, ia se aposentar, queria saber se podia entrar para o Mosteiro de baixo?

Claro, assim podemos nos ver.

Foi o que ele fez.

Agora as vezes fazia de mensageiro, subia, passava dias ali comigo, podias falar horas, desde matemática, até dos seus netos espalhados pelo mundo.

Meu tio sempre o recebia para uma visita privada, foi quando soubemos que meu filho tinha se casado com minha sobrinha.   Que vinham em breve, para o bebe nascer no mosteiro de baixo, será no futuro um grande monge, é a reencarnação do fundador desse lugar.

O que mais me gostou, foi que levava meu nome, agora os dois vinham sempre, pois no debaixo estava Tom, que babava como eu dizia com o neto.

O melhor foi o dia que o pequeno subiu pela primeira vez, foi olhando tudo, como se tivesse voltado para casa.

Com cinco anos de idade, fazia exercícios de alguém que teria passado a vinda inteira para aprender, os monges ficavam como louco com ele.

Nunca mais desci, a não ser em sonhos, para saber como ia minha família.

Os dois vieram viver na cidade próxima ao Mosteiro, subiam sempre que podiam.

Eu as vezes me surpreendia, pois meu neto Anger subia sozinho, pelo caminho estreito.

O primeiro que fazia era ir se prostar diante de meu tio, só depois vinha falar comigo, me mostra o que tinha aprendido.

Meu tio, me dizia, ele é mais poderoso, do que pude ser um dia, o mesmo contigo.

Um dia conversando com Tom, ele me soltou, sei que me livraste de meus pais pela segunda vez, mas nunca soube como.

Nunca entendi como pude nascer desses dois, viviam uma realidade a parte, se tivesse seguido com eles, com certeza estaria morto.

Teu tio, sempre diz, que graças a ti, tive outra vida, aliás te devo várias, meus filhos, netos.

Ele ficava todo bobo, quando aparecia algum de seus filhos, com a família.   Todos sempre só tinham filhos, que treinavam todos os dias.

Suas mulheres nunca subiam, não entendia, como a cunhada sim podia subir, elas não.

Nenhuma se interessava por nada que fizessem.   Eram mulheres simples, normais.

Quando meu tio morreu, fiquei surpreso, pois era como se a cegueira que tinha, fosse se apossando de mim, o acompanhei até o momento de seu último suspiro, depois fui com o monge o levar aonde descansaria para a eternidade, era mais acima, um salão imenso dentro da montanha, as nuvens pareciam penetrar ali.  Estavam todos como mumificados.

Eu subi, pois tinha sido eleito o novo monge chefe.   O que um dia meu filho me pegou rindo, foi que entendi finalmente para que servia essa película que tinha sobre os olhos.

Via o interior da pessoa, como ela era, tudo.

O meu neto, quando vinha, se jogava nos meus braços, depois de me fazer uma reverencia.

Me contava tudo, um dia soltou, nem posso mentir, pois o senhor com essa membrana sabe se estou falando a verdade ou não.

Quando meu irmão Tom morreu, eu desci, para oficializar tudo, ali estavam todos seus filhos e netos, suas mulheres pela primeira vez foram aceitas na cerimônia.   Olhavam espantadas, quando eu caminhava com a maior naturalidade do mundo, segurava a mão de cada uma, respondia à pergunta que tinham calada dentro dela, ninguém escutava nada, pois podia falar na cabeça delas.

Foi uma bela cerimonia, depois em família contei a todos, como Tom tinha se transformado em meu irmão.

Segui sabendo da vida deles, até que não quantos anos depois meu neto veio ficar comigo no mosteiro de cima.

Ele seria meu substituto, mas na verdade não tinha nada para ensinar para ele.

Um dia sonhei com o largo caminho que tinha percorrido, consegui ver meu pai, me aceitando como seu filho, quando o seu morreu, nunca tinha nenhum outro amor na minha vida que não fosse meu pai.

Ele as vezes já velho me perguntava pelas relações carnais, alguns colegas da polícia me chamavam de eunuco, mas na verdade sabia que tinha outro destino.

Me lembrei do dia que ficamos sabendo do meu filho, minha sobrinha, agora os via em sonhos, era impressionante o relacionamento deles, só tinham tido esse filho, um entendia o outro com um simples olhar, os outros diziam que falavam pouco, as se entendiam perfeitamente.

Agora viviam no mosteiro de baixo, numa parte especial feita para eles.

Os dois ensinavam os alunos, eram perfeitos nisso.

Volta e meia, alguém deixava uma criança na porta do mosteiro, eles exerciam de pais para essas crianças, inclusive davam nomes e sobrenomes.

Eu agora sabia que essas crianças, eram reencarnações de antigos monges, que tinham essa maneira de voltarem ao mundo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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