NÃO MAIS QUE UM DIA

 

                                      

Nada tinha mudado muito, tudo parecia parado no tempo, tinha vindo de avião até a capital, depois não houve outra maneira, um ônibus, não muito limpo, até a cidade mais próxima, essa também estava caindo aos pedaços, andou pela rua principal, aonde se lembrava de vir com sua mãe fazer compras de coisas para casa, roupas, nada, tudo parecia uma cidade fantasma.

Algumas lojas antigas, tinham um tapume na frente, quando perguntou num bar, que só tinham dois clientes na barra, se alguém o podia levar até a vila, olharam para ele como se falasse um absurdo.

Isso dá não saber dirigir pensou, se o soubesse teria alugado um carro.

Antes foi falar com o velho advogado de seus pais, este o olhou da cabeça aos pés, dizendo ao final que ele era muito parecido com sua mãe.

Foi uma beleza quando jovem, podia ter sido o que quisesse, ninguém entendeu quando se casou com esse idiota, me desculpe o termo, mas era teu pai.

Quase riu na verdade, sabia que o mesmo não era seu pai verdadeiro, tampouco, tinha sido um pai para ele, ao contrário, mas bem um tirano.

Fazia mais ou menos uns 35 ou 40 anos que tinha ido embora, na surdina da madrugada, quando passavam caminhões na estrada mais próxima, que na verdade ligava uma cidade a capital.

Tinha vindo por esse lado, pois tinha que se apresentar ao advogado.

Te entrego o testamento, é mais fácil que ler inteiro para ti.

Na parte de cima, tinha um clip, com uma carta.

Depois terás que ir à cidade mais próxima do outro lado, diziam assim, porque a mesma ficava em outro estado, ir ao banco, apresentar o testamento, para poder aceder as contas de tua mãe.

Ela administrou tudo até morrer.   Na fazenda hoje em dia, só vive um velho, creio que o conhecestes Tobias, um mexicano, que trabalhava para o pai de tua mãe.

Perguntou ao advogado, como fazia para ir até lá, o sorriso dele, era de tristeza, eu estava esperando a tua chegada, vou para a outra cidade maior, para viver numa residência de velhos, aqui não tenho mais nenhum cliente, olhe como está esta sala, havia poeira por todos os lados, meus filhos se foram pelo mundo, mal sei deles, então é a única solução.

Não estou te recriminando por ter ido embora, pois sei como era tua vida na fazenda, tua mãe te incentivou a isso.

Creio que ela quando era jovem, também teria ido embora, mas teu avô queria um herdeiro para a fazenda, a obrigou a casar-se com esse idiota.

A história não era bem assim ele sabia, mas ela sempre tinha deixado que se falasse dessa maneira, pois assim se eximia de dar explicações.

Muita água tinha passado por baixo da ponte em sua vida, essa era a verdade, mas para que contar, nem seria motivo de fofocas, pelo visto as velhas que falavam de sua mãe, já deviam estar sete palmos baixo terra.

O jeito era ir caminhando, menos mal que pensando nisso, só tinha trazido uma mochila, com duas mudas de roupas, seus documentos.

Se trouxesse as roupas que usava, seria um escândalo com certeza, pois sempre tinha sido um homem moderno.

Quando a uns anos atrás tinha voltado aos Estados Unidos, escreveu uma carta a sua mãe, para dizer que estava em NYC, outra vez, com seu endereço.

Começaram então uma troca de cartas, como não se falassem a muitos anos, o que era uma verdade, enquanto o homem que parecia ser seu pai, foi vivo, eles não se escreveram, pois sabia que ele queimaria as cartas.

Um bom filho da puta, embora levasse o sobrenome dele.

Se levantou, tinha quase dois metros de altura, pernas longas, um corpo de fazer inveja a muitos jovens, cabelos compridos, com muitos fios brancos, que se misturavam com o loiro, menos mal que tinha trazido roupas práticas, estava agora com um tênis próprios para caminhadas, como as que fazia ao largo do Central Park, quando voltou de Paris, já era impossível alugar algum apartamento como antigamente no Village, Soho, Little Itália, lhe orientaram a buscar pelos lados do Harlen que estava todo recondicionado.

Conseguiu um segundo andar, inteiro numa casa que tinha sido totalmente restaurada, estava a venda, ele mostrou interesse.   Dois meses depois quando chegou a autorização para usar seu dinheiro da Europa, comprou, inclusive por bom preço.

A mobília era pouca, depois de anos vivendo em Paris, num apartamento abarrotado de coisas antigas, queria isso, simplicidade.

Tinha estado vivendo 20 anos com a mesma pessoa, a sorte sua foi que a uns dez anos, quando saíram os matrimônios gays, eles primeiro fizeram um contrato, estava acostumado com Jean-Paul, tudo dele era assim, de uma certa maneira isso tinha lhe valido, quando o mataram.

Com a idade, a cinco anos depois de terem feito isso, ele queria fazer sexo com todos os jovens que via pela frente, como se isso o fosse fazer recuperar sua juventude.

Ele que não topou conviver com isso, foi a luta, alugou um pequeno apartamento perto de aonde trabalhava, por detrás do Panthéon, quase não o via, de uma maneira gostou, pois seus amigos, na verdade era os dele, assim pode passar a desfrutar da convivência de colegas do colégio que trabalhava.

Riu imaginando a cena, ele tinha sido famoso em sua época, um manequim requisitado pelos maiores costureiros franceses, bem como europeus, tinha sido capa de revista, mil entrevistas, até que foi viver com Jean-Paul, pode finalmente fazer uma coisa que ansiava, estudar como sempre tinha querido.

Se lembrava como hoje, quando se inscreveu num curso de francês, para emigrantes, pois falar ele falava, mas saber escrever na língua não.

Depois, se matriculou num curso, noturno para pessoas de idade, foi assim que foi parar na universidade, justamente na Sorbonne, muitos dizia que ele tinha entrado por causa do Jean-Paul, mas não era certo, tinha inclusive feito com bolsa de estudo.

Era sempre o mais velho das turmas, não se incomodava, muitos o reconheciam, principalmente os professores, mas ele ignorava isso.

Jean-Paul, claro reclamava que não lhe dava tanta atenção, que não ia com ele as festas dos amigos ricos, mas alegava que tinha que estudar, como lhe dizer que estava farto disso, que queria aproveitar recuperar parte de sua vida.

Talvez isso também tenha ajudado ao Jean-Paul, com suas aventuras, o sexo entre eles tinha morrido a muito tempo.  Já não era a paixão de antes, ele depois de um problema que tinha tido, só queria ser passivo.  

Fechou os olhos, se lembrava desse pedaço da estrada, ali tinha uma árvore imensa, gostava de sentar-se a sua sombra.

O velho sempre o tinha maltratado, era muito mais velho que sua mãe, odiava criança, mas isso era uma exigência de seu avô, queria um neto.

Sua mãe era uma mulher especial, quando ele nasceu, ela o criou como uma galinha com seus pintinhos, embaixo de suas asas, dizia na cara do velho, que seu filho não seria como os demais dali.

Ele sempre resmungava alguma coisa, só muitos anos depois entendeu o que era, “claro é filho de sabe se lá de quem”.

Juntou isso ao que falavam na escola, principalmente as mães dos outros alunos.  Ali só havia os primeiros anos.

Depois que acabou esse período, teve que trabalhar no campo com os outros homens.

Isso fez que seu corpo se desenvolvesse, bem como com seus cabelos compridos loiros, queimados do sol, fosse um tipo impressionante.

Um dia o velho o pegou com um desses homens que contratava para a colheita, estavam os dois no celeiro, com as calças abaixadas, ele metendo no cu do outro.

Fez um escândalo de fazer gosto.

Sua mãe não disse nada, no dia seguinte foi na velha caminhonete a cidade do outro lado, sempre diziam assim, era outro estado.

Voltou, o chamou a parte, lhe deu uma mochila, estava pesada a mesma, essa madrugada, sais para a estrada, é final de semana, passam muitos caminhões, foi falando isso, colocando duas calças jeans, camisetas, um camisa de lã de quadros, um tênis, quando chegue a estrada, para saber se foi tudo bem, deixe essas botas na árvore grande.

Nesse dia foi dormir mais cedo, pois o velho sequer olhava para ele, era como se não existisse mais.  Ela o chamou, falando no seu ouvido, é a hora, esta dormindo como um porco como sempre, de longe se escutava o mesmo roncando.

Ele não ia permitir que ele fosse embora, apesar de tudo, era mão de obra barata.

Ela o levou até a porta, com uma vela na mão, disse faça tua vida, o mais longe possível daqui.

Tinha estudado com ele antes do jantar qual rumo tomar.

Ele iria em direção a Chicago, foi o que fez, colocou a mochila nas costa a beijou, saiu andando para a estrada, estava acostumado, gostava de andar para pensar.

Chegou à estrada umas duas horas depois, andou mais um pouco em direção ao outro lado, num posto de gasolina, aonde estavam parados caminhões, perguntou se alguém ia para Chicago, pois ônibus só daqui a alguns dias.

Um tipo até bonito, jovem, disse que ia, mas que seu caminhão era apertado.

Aceitou o oferecimento, se estenderam as mãos, o outro falava pelos dois, basicamente contou sua vida, vivia fazendo esse caminho, estavam na fronteira de Montana, com Dakota do Norte.

Imagina pelo menos uma vez por mês venho desde Seattle aonde vivo, vou até Chicago, levando a mesma coisa.

De vez em quando olhava para ele, de noite depois de pararem num posto de gasolina, sugeriu dividirem um quarto no motel, ali aonde estavam, no meio do nada.

Ele queria tomar um banho, aceitou, tinha tirado um pouco de dinheiro da mochila, nem sabia quanto tinha dentro, o outro entrou antes para tomar banho, saiu com uma toalha na cintura, entendeu a jogada, não tinha vivência de muitas coisas, isso aprenderia depois.

Entrou para tomar banho, nunca tinha usado um chuveiro, nem sabia como ligar, pediu ao sujeito que lhe ensinasse, esse tirou a toalha, dizendo que era para não molhar, lhe ensinou, como também lhe ensinou a fazer outro tipo de sexo.

Mas quando viu seu corpo, já estava de pau duro, se ajoelhou, colocou o seu na boca, foi o que imaginei, com esse tamanho, tinhas que ter um proporcional.

Depois foi o máximo, ele disse que não tinha experiencia, o outro disse que não se preocupasse, que lhe ensinava.   Pela primeira vez beijava outro homem, com o da fazenda só o penetrava nada mais.

Ele ficou como louco, pois a primeira vez se masturbaram, mas da segunda, o homem sentou-se em cima do seu instrumento, como passaria a chamar o seu piru.

A cara de êxtase do mesmo foi ótima, ele ficou como louco, pois ver que o outro estava assim se excitou mais ainda, fez tudo para controlar o máximo, até que o mesmo pediu por favor.

Dormiram agarrados, isso ele nunca tinha feito na vida.

De manhã, já eram mais íntimos, tomaram um bom café da manhã, quando foi pagar, o outro disse, estarás indo em busca de uma nova vida, poupe teu dinheiro, pagou.

Ao meio-dia o sujeito estava impaciente, pararam numa lateral da estrada, fizeram sexo de novo na cabine do caminhão, nessa noite novamente, no dia seguinte estariam na entrada de Chicago.

O outro sugeriu, dizendo que não o podia levar aonde ia deixar a carga, que o esperasse no posto de gasolina, assim dormiriam a última noite.

Esse sujeito já está pensando em me controlar.

Mal o sujeito partiu para ir entregar a carga, passou um ônibus, ele leu Chicago, quando desceram algumas pessoas, ele subiu, pagou o bilhete, foi para a cidade, ficou de boca aberta, nunca tinha visto uma cidade tão grande.

Nesse dia deixou de usar a bota, tinha se esquecido do detalhe que sua mãe tinha lhe pedido para deixar na árvore, colocou seus tênis, camiseta, estava num hotel perto da estação de ônibus, saiu andando pelo centro da cidade.

Ficou parado na frente de um armazém desses que só vendem moda, viu um senhor montando uma vitrine, ficou ali olhando, achou super interessante.

O homem saiu para ver como tinha ficado, o que achas perguntou para ele?

Nunca tinha visto isso, é perfeito.

Estas procurando emprego?

Sim, soltou sem pensar.

Estou contratando aprendizes, disse um valor.

Foi honesto com o homem, não tenho ideia desse valor, o senhor me desculpe, venho do interior.

Isso se nota, mas com o tempo, mudaras em tudo.

Foi seu primeiro amigo, John não só lhe arrumou um quarto para viver, não muito longe dali, como começou a lhe ensinar tudo de moda.  Aprendeu rápido como vestir um manequim, conforme a estação do ano, como montar uma história para atrair o cliente.

Lhe dava revistas para levar para casa, olhava de cabo a rabo, de uma certa maneira foi lhe educando como se vestir, o que combinava com ele.

Um dia estava na loja um fotografo, que fazia um catalogo, para mandar para as cidades do interior, John recebia as mercadorias, montava as fotos, o sujeito fazia as mesmas.

Sugeriu ao homem que invés de contratar um, que ele possasse para as fotos, o muito sem vergonha, lhe tinha dado ultimamente revistas de roupas masculinas, tinha lhe dito, preste atenção, como esses rapazes posam para as fotos.

Então foi fácil, ele chamou uma garota da loja, que lhe fizesse uma maquilagem leve, depois ele aprenderia, ele mesmo se preparava.

O fotografo, era uma figura, muito branco, com os cabelos tão loiros que pareciam brancos, era descendente de russos, Boris se apresentou.

Quando viu como ele ficava nas fotos, comentou com o John, o rapaz engole a câmera fotográfica.

Possou basicamente para tudo, desde macacão para trabalhar no campo, camisas de quadros com calças jeans, chapéu, botas, parecia estar em casa.

Ficaram montando o catalogo uma semana.

Um dia os dois o convidaram para sair, ele acabou na cama com o Boris, esse sabia das coisas.

Inclusive lhe ensinou a usar camisinha, para se proteger, hoje em dia tem que ser assim.

Ele nesse ponto era inocente, John as vezes lhe perguntava se ele era cego?

Por que lhe dizia?

Esses homens e mulheres, te devorando.

Realmente ele não percebia, tinha sua atenção voltada em aprender uma profissão.

O dinheiro que sua mãe tinha colocado na mochila, quando recebeu o primeiro salário, o colocou junto no banco.

Era econômico, usava só o necessário, na loja, usava um uniforme de empregado, assim economizava.

John as vezes o fazia provar certas roupas, disse depois que foi assim que viu que ele podia ser o manequim do catalogo.

Sabia que sua mãe receberia um, mas que acabava jogado por ali, ou usado para acender o foto do fogão a lenha, para fazer pão.

Assim ela saberá de mim pensou.

Boris, ainda lhe fez umas quantas fotos, que sabia que não eram para o catalogo, com roupas de marcas, com roupa de banho, sem camisa, lhe disse como fazer.

Ao final lhe perguntou se não queria ir para NYC, tinha dormido vários dias com ele.

Mas falou antes com o John.

Esse riu, para o que você acha que eu te estava preparando, mas foi lhe dizendo como tinha que proceder, cuidado o Boris é boa gente, mas vai querer uma porcentagem do que ganhes, tampouco fiques vivendo com ele, alugue um quarto para ti, arrume um emprego até as coisas deslancharem, vai por mim, senão vais parecer um gigolo.

Teve que lhe explicar o que era.

Lhe deu uma carta de recomendação para um amigo que era chefe no Bloomingdale’s. Agradeceu muito tudo que tinha lhe ensinado, além o ter avisado como ir em frente.

Foi o que fez, foi de carro com o Boris, que se espantou que ele não tinha uma bagagem grande. Tinha ido ao banco, para saber como transferir o seu dinheiro para lá.

Boris falava muito, foi contando toda sua vida para ele, não poderás ficar em minha casa, pois vivo com um homem a muito tempo.   Mas lhe arrumarei um quarto.

Deu graças a Deus por isso, assim não estaria preso a ele.

Era relativamente perto do seu apartamento, mas ele logo descobriu como ir a loja do amigo do John, foi até lá, se apresentou ao homem, que o contratou em seguida, aqui algum ficam a vida inteira, os bonitos como tu, pouco tempo.

Boris quando soube que ele estava trabalhando, não gostou muito, mas antes de começarem a trabalhar, foi posar para ele, uma reportagem da Vogue, de roupas do Calvin Klein, que ele conhecia da loja.

Fez tudo como ele dizia para fazer, estava ali, uma representante da Vogue, uma mulher com uns cabelos fantásticos crespos, muito alta, antes de acabarem, lhe disse, quando eu sair, venha comigo.

Ela tinha vários ajudantes, mal acabou de posar com a última roupa, limpou a cara da pouca maquilagem que tinha, ela fez um sinal, se vestiu, foi atrás dela, dizendo ao Boris que já voltava, nunca mais posou para ele.

Ela o arrastou, para um studio de um fotografo, um dos mais famosos da cidade, ligado a uma agência de manequins.  

Quando lhe perguntou se ele era ligado a uma agência, disse que de uma certa maneira era bom, a mulher lhe ensinou como cobrar, por exemplo, Boris ia lhe pagar uma merda pelo dia que tinha ficado posando.

Ela foi com ele depois a uma agência, em seguida gostou da mulher que seria sua representante.

No dia seguinte, voltou a se encontrar com a senhora da Vogue que o levou para posar uma coleção de um costureiro francês, mandarei as fotos para ele, como sempre faço.

Depois de uma semana, viu que a coisa ia em sério, foi a loja, pediu desculpas para o senhor, esse riu, vi que tinhas estampas demais, falei com o John que nem ias esquentar lugar aqui.

Contou para o mesmo o que tinha acontecido.

Fazes bem, Boris te abriu a porta, mas com certeza embolsou metade do que a Vogue ia te pagar.

Era uma verdade, ficou uma fera, quando descobriu que ele estava posando para outros, fui eu que te descobrir.

Mas nem por isso, eres meu dono, tinha escutado um manequim falar isso com um fotografo.

Ao contrário dos outros manequins, ele alugou um apartamento maior, mas nem por isso pretensioso.   No qual viveria até ir para a Europa.

Fez desfiles de moda, participou de toda uma temporada em NYC, cada cachê que ganhava ia direto para o Banco, quando queriam lhe pagar com roupa, educadamente, que ele precisava de dinheiro, roupa ele não comia.

Chegava com uma roupa simples, para que os mesmo vissem sua transformação, aprendeu com uma mulher na Saks da quinta avenida, como se maquilar, o que destacar.

Nada de uma coisa pesada.

Um dia um dos fotógrafos, lhe disse que tinha convite para uma festa, deves aparecer, mas foi super simpático, mas cuidado, lá pelas tantas vai rolar drogas, é hora de ir embora.

O Dan, era simpático com ele, tinha posado para ele já umas quantas vezes, via que o olhava de maneira diferente.

Lhe emprestou uma roupa que estava ali no studio para ir, isso esqueceram aqui.

Marcou com ele, perto de sua casa, foram andando conversando, estou fazendo isso, porque me pediram, alguém te viu numa foto, é uma festa de gays ricos, mas te aviso, isso seria o inicio para passar de mão em mão.

Nem pensar nisso, só vou para cama com quem eu quero.

Tinha aprendido a lição com o Boris, isso de em seguida pertencer a pessoa.

O outro ficou rindo, sei que tens uma educação, já te vi falando com as pessoas, o pessoal quando chegas te adora, pois falas com todos, não como a maioria que já acha que é famoso.

Era uma verdade, sua mãe sempre dizia que com educação conseguiria tudo.

Chegaram à festa, era um apartamento com uma varanda incrível, as vistas impressionantes.

Dan o foi apresentando a outros manequins, pessoas com quem ele tinha cruzado nos studios, mas que nem por isso eram educados.

O dono da casa o recebeu com dois beijos, era um tipo entre 45 a 50 anos, muito bem vestido, vi uma foto tua, gosto porque eres natural.

O foi apresentando para uns mais jovens, outros mais velhos, riu quando se lembrou do John dizendo que ele nem percebia quando estava o olhando, ou devorando com os olhos como ele dizia.

Sorria para todos, era educado, brindava com eles, molhava a boca com o champagne que rolava ali, não gostava do sabor, fingia que bebia.

Dan lá pelas tantas lhe fez um sinal, o apresentou a um homem super elegante, disse que o mesmo tinha uma das melhores boutiques da cidade, quando quiseres uma roupa especial, fale com ele, o homem lhe deu um cartão, ele pediu desculpas, mas não tinha nenhum.

O homem olhava para ele, como se estivesse nu.

Logo em seguida, Dan lhe disse me siga como se fosses ao banheiro, ele estava louco para dar uma mijada, quando abriu a porta, estava um senhor maior, chupando o pau de um dos manequins que estava cheirando ao mesmo tempo cocaína.

Saíram pela cozinha.

Foram andando pela rua, que tal me sai, Dan?

Muito bem, mesmo o homem que te apresentei, tem essa loja frequentada pela maioria dos homens que estavam aqui, mas o faz para distrai-se é podre de rico.

Estas sugerindo que eu durma com ele?

Não, mas o mesmo tem um círculo de amigos impressionante.

Olha Dan, acabo de ver um dos manequins no banheiro cheirando cocaína, ao mesmo tempo um velho lhe chupando o caralho.    Sinto muito, mas isso não vai comigo, gosto de poder escolher com quem vou para a cama.   Era mais fácil ir contigo, que com qualquer um deles.

Sou muito pé no chão.

Viu que o Dan, estava excitado, quando chegaram a frente do apartamento dele, o convidou para subir.

Ele parou, segurou Dan que era mais baixo do que ele, com as duas mãos, nos ombros, se isso não for interferir no nosso relacionamento comercial, vou, pois eres uma das pessoas que respeito.

Foi uma barbaridade, adorou fazer sexo com ele.

Quando estava livre, chamava o Dan, esse o foi educando de outra maneira, lhe levava ao teatro, cinema, a livrarias, sugeria livros que estava no momento de moda, depois sentavam-se para jantar, comentavam a respeito, ele as vezes não tinha vergonha de dizer a ele, isso eu não entendi, podes me explicar.

Um dia o levou a ver uma peça de Bertold Brecht, ele ficou sem entender muita coisa, comentou com ele.

Dan pacientemente lhe explicou que era outro tipo de teatro, menos americano, a maioria dos espetáculos são para divertir, esse é para pensar.

No dia seguinte lhe deu de presente um livro, o texto do espetáculo.

Ele voltou duas vezes para ver de novo.

Num dos dias encontrou com o dono da festa, esse riu, dizendo, nunca imaginei que ia te encontrar nesse tipo de espetáculo, ficou desarmado, quando ele disse, que era a terceira vez que via, porque queria entender profundamente do texto.  Mostrou para ele o mesmo, cheio de coisas escritas na lateral com sua letra infantil.

O outro ficou surpreso, pois não negava que tinha poucos estudos.

Dan depois comentou isso com ele, que o mesmo tinha lhe chamado, surpreso, que ele era diferente, os convidava para um jantar em sua casa, em petit comité.

Ficou sem saber, foi claro com o Dan, ele me convidou depois para tomar um drink, eu lhe disse que não bebia, que odiava gente bêbada.

Me sugeriu ir a sua casa, lhe disse que tinha que me levantar cedo, pois tinha que provar as roupas de um desfile, o que era verdade.

O que ele gosta de ti, é que eres educado.

Não quero que isso interfira na nossa relação, Dan, gosto de estar contigo.

Dan, ria, sou muito mais velho que você, além de que, nem sou bonito.

Isso não importa, pois na cama contigo, me sinto relaxado, as vezes Dan ficava louco, pois eram capaz de fazerem sexo várias vezes, principalmente se era um final de semana.

Foram ao tal jantar, no primeiro momento que um deles se insinuou, colocou a mão em cima da do Dan, que estava sentado ao seu lado.

Foi o quanto bastou, mas ninguém se insinuou, a conversa era justamente sobre o espetáculo, o dono da casa, perguntou a ele, que tinha visto três vezes, além de ler o texto, o que pensava.

É uma maneira diferente de ver a vida, principalmente porque a educação dos personagens é outra.  Foi falando o que pensava a respeito.

Um deles lhe perguntou sobre um espetáculo, que tinha ido com o Dan.

Sim gostei, é um espetáculo, para relaxar, o outro para pensar.  Duas formas diferentes de fazer teatro.

O mesmo ria, porque era justamente ficou sabendo nesse momento, diretor do espetáculo americano.

Espere, perguntou ao dono da casa, aonde tinha o texto que tinha levado para ele dar uma olhada, esse ficou vermelho, dizendo que nem tinha aberto ainda o envelope, que estava em cima da mesa do escritório.

Este trouxe, marcou um dos personagens, perguntou se ele podia ler para ele.

Leu, isso ele fazia bem, todos os livros que o Dan dava para ele, lia a maioria em voz alta, para se fixar no que lia. Anotava as palavras que não conhecia para ler num dicionário que tinha comprado numa livraria de segunda mão.

De repente parou, não entendo essa palavra aqui, não encaixa na história, é como se o personagem de repente se quisesse fazer de importante.

Porra, finalmente alguém entende o que eu sempre digo, os escritores, tem essa mania, colocar na boca de um personagem uma palavra que o publico ou vai rir, por achar uma merda, ou não entender.

Amanhã, tens um tempo livre, lhe perguntou, tenho um ensaio, esse personagem não encontrei ninguém ainda que o fizesse bem.

Ele então se levantou, disse ao Dan, vou para casa, para ler o resto do texto, para poder fazer direito.

Dan foi com ele, o ajudou a entender o espetáculo.

Era um personagem gay, mas fechado em si mesmo, nada de frescura, um homem sério, por isso a palavra não encaixava no texto, ficou como um louco procurando o que diria no lugar.

No dia seguinte, Dan o acompanhou, levou uma câmera, de vídeo, queria registrar o que ele fazia.

Tinha uma certa olheira, o diretor lhe perguntou se tinha lido muito o texto.

Sim, queria entender esse homem, disse o que pensava do personagem, ele não precisa de frescuras, trejeitos, ou qualquer nuance para dizer que é gay.   Em sua cabeça, ele é pronto, por isso aquela palavra não encaixa.

O colocou em cena, com outro ator, falando o texto, ele tinha lido tantas vezes que o fazia sem pensar.   O outro ainda ensaiava com o texto.

Usou outras duas palavras diferentes, o diretor, disse que era isso, o personagem sabia quem era, não precisava de artifícios.

O contratou, ele chamou sua agente, lhe contou de sua nova aventura, ela foi correndo para lá ler o contrato, lhe lembrou que ele tinha um contrato, para dentro de uma semana, na famosa semana da moda de NYC.   Estarás muito ocupado.

O diretor do espetáculo disse que esperava, iria afinando os outros atores.

Se sentia à vontade no palco, sua representação foi falada, saiu nos jornais, nas revistas para as quais tinha posado.   Mas seguiu fazendo fotos com o Dan, eram amigos acima de tudo.

A Vogue o contratou para fazer fotos na Semana da Moda de Paris, ele foi junto, logo posava, participou de vários desfiles, a principio lhe dava medo ter que falar em francês, claro todos sabiam que era americano, falavam com ele em inglês.

Mas logo aprendeu a falar algumas palavras, se metia a ler os jornais.

Quando de uma agência o chamaram, Dan respondeu que era a melhor da Europa, o levou e apresentou a todos os fotógrafos que ele conhecia.

Logo posava para todo mundo, aprendeu a falar direito, mas a ler, mas a escrever não.

O convidavam para festas, fazia o de sempre, com um copo de champagne, o deixava que o apresentassem para todos mundo, depois encontrava um jeito de escapar.

Dan tinha que voltar, se sentaram os dois, nunca deixariam de ser amigos, agora te toca seguir em frente meu garoto.   Nessa alturas ele não tinha nem 25 anos, fez de tudo, inclusive cinema.

Numa ida a Itália, para desfilar e fotografar para uma firma da moda, foi quando conheceu Jean-Paul, que estava em Milão, como adido cultural.

Se apaixonaram ao momento, foi uma coisa fulminante.

Ainda ficou uns dias em Milão, por culpa dele, mas tinha compromissos, disse que tinha que voltar a Paris, tinha o contrato de um filme.

Trocaram o número de celular, ele sabia que Jean-Paul, era alguém com família importante, pois um conhecido lhe disse que tinha caçado um peixe gordo.

Mais bem fui caçado, pois estou apaixonado, lhe respondeu.

Ele era considerado uma avis rara, pois não levava a vida como os outros manequins, nem aos aspirantes ao cinema, era muito sério.

Um mês depois, estava fazendo uma cena em um Boulevard deu de cara com Jean-Paul, se desconcertou, teve que fazer a cena outra vez.

Quando acabaram as filmagens do dia, Jean-Paul o levou para sua casa.  Era um belo apartamento, numa zona chic da cidade.

Quando viu, basicamente vivia com ele, este renunciou a uma nova embaixada, para trabalhar em Paris, ele seguiu sua carreira no cinema, quando era entrevistado, falava em sério do filme, nunca falava de sua vida pessoal.   Ainda pensava se fosse nos Estados Unidos, todos saberiam de mim.

Seguia com o hábito, semanalmente mandava uma carta para sua mãe, uma caixa postal do outro lado, sempre seria assim, a cidade do outro lado.

Quando pararam de o chamar para fazer desfiles, pois claro, dava mais valor ao seu trabalho no cinema, começou a estudar, fez tudo na surdina, até que se formou na Sorbonne, em literatura comparada.  Ao mesmo tempo sempre em contato com o Dan, pedia algum livro que não conseguia.  Este quando vinha, tinha sempre um dia, para estarem juntos.

Jean-Paul, perguntava, o que ele via naquele homem baixinho, magro, sem graça nenhuma.

Tu o respeita, é o meu melhor amigo.  As vezes quando estavam livres, conversavam por telefone, o podia fazer escondido, mas o fazia na cara do Jean-Paul.

Uma vez voltou a NYC, para o lançamento de um filme, lá ele tinha deixado de existir, Dan coordenou uma festa, com seu velho conhecido o diretor de teatro.

Jean-Paul se corroía de ciúmes, porque não era o centro de atenções que ele estava acostumado a ser nessas festas.

Saiu uma bela reportagem sobre ele, posou para a Vogue, quando reencontrou a mulher que o tinha ajudado tanto, só se viam quando ela ia a Paris para a Semana da Moda, mas ele já não participava.

Deu uma entrevista a revista, sabia que sua mãe com certeza saberia.

Recebeu uma carta dela, quando voltou, dizendo que tinha adorado ler a entrevista, que ele tinha realizado o sonho dela em ir pelo mundo.

Contava da morte do velho, o mandei enterrar junto a sua família, junto a nossa não quero.

Ele quando contava ao Jean-Paul de aonde era, ele parecia não se interessar.

Foi quando acabaram se separando, pois ele queria aventuras, um dia chegou em casa, encontrou Jean com um jovem na cama, podia ser avô do rapaz.

Nesse dia, arrumou suas coisas, foi para um hotel, sempre se perguntava, porque era assim, parecia que os homens precisavam sempre dessas aventuras, escutava os amigos dele falando, todos pareciam querer isso, como se pudessem como vampiros, chupar o sangue desses jovens, ficarem com menos idade.

Em seguida arrumou um pequeno apartamento, ainda tinha uns meses, para acabar sua pós-graduação, quando isso aconteceu, estava se preparando para ir embora, quando a polícia bateu em seu apartamento.

Levou um susto, Jean tinha sido assassinado por um prostituto, ao parecer tinham consumido muita drogas, levou um susto, nunca tinha visto ele fazer isso.

Mas um amigo do Jean confirmou, com esses jovens ele tomava drogas, ninguém sabia direito porque, mas todos os dias ia para cama com algum deles.

Ao parecer o jovem não estava acostumado com drogas, pois o encontraram sentado ao lado da cama, com uma navalha nas mãos.

Ficou com pena, devia ter a idade, que tinha quando saiu de casa.  Ainda pensou tive sorte em pensar em trabalhar, lutar por uma vida.

O escândalo, sem querer o ligava ao Jean, afinal tinham se casado.  Quando leram o seu testamento, o apartamento era da família dele, mas para ele, deixava uma caixa no banco, bem como muito dinheiro.   O mesmo a tempos tinha recebido uma herança grande de um tio dele.

Viu que ali estava acabado, ele que pensava encontrar algum emprego em uma escola, foi tudo a merda, falou com o Dan, esse disse para ele voltar para casa.

Foi o que fez, foi dar uma olhada na tal caixa do banco, havia mais dinheiro, além de joias de grande valor.  Como a maior parte eram femininas, ele chamou a irmã do Jean, com quem mais se dava, fez questão de entregar.   Ela disse que valiam muito, era da mulher de seu tio.

Mas tu tens filhas, elas poderão usar.

Ela foi honesta com ele, dois colares, tinham diamantes que valiam uma fortuna, foi com ele a uma joalheria para avaliar.   O dono comprou os mesmo por uma fortuna, depositaria esse dinheiro na sua conta.

Mas ele ao longo dos anos, vivendo com o Jean, tampouco se preocupava com dinheiro, usava o mínimo do seu, o que tinha economizado esses anos todos.

Do banco assim que ele tivesse em NYC, lhe transferiam.

Foi quando comprou o apartamento no Harlem.

O melhor foi recuperar a amizade do Dan, seguia se escrevendo com sua mãe, está um dia perguntou quando ia vê-la, ele agora trabalhava numa escola ali do bairro, dando classes de francês e literatura francesa aos mais adiantados.

Lhe respondeu que assim que tivesse férias da escola, iria até lá.    Quase dias depois recebeu uma chamada do advogado, dizendo que ela tinha morrido, que a tinham levado ao outro lado, esperando que ele viesse ao enterro.

Mas que passasse por lá antes.

Foi o que tinha acabado de fazer, já estava quase perto, menos mal pensou que a casa da fazenda, ficava no início, de uma certa maneira era fácil de chegar.  Tinha caminhado uns trinta quilômetros.

Viu o velho Tobias, sentado na varanda da casa, tudo precisava de uma bela reforma, as janelas estavam quebradas, afinal era uma casa de madeira.

O velho quando o viu, se levantou, ficou vendo se aproximar, foi andando devagar até ele, a idade devia pesar, o abraçou, dizendo como estou encolhendo, pois o abraçou pela cintura.

Venha, descansar, me conte tudo.

Sentaram-se na varanda, no velho telefone da casa, Tobias, chamou o xerife da cidade do outro lado, que ficou de vir no dia seguinte logo cedo, para tratarem do enterro.

Ele tomou um banho no velho chuveiro, o banheiro lhe dava a sensação que estava para cair.

Esta casa está um perigo Tobias.

Este lhe contou que dois dias antes tinha levado o rebanho de cavalos para o pasto de cima.

Mas sozinho?

Não chamei dois garotos do outro lado, que vieram, lá em cima não se precisa de ninguém cuidando.

O pasto de cima, era uma coisa que remontava a muitos anos antes mesmos de sua família viver ali, essas terras seus antepassados, tinham comprado uma parte de uma comunidade de índios que viviam numa reserva perto.

Sua mãe como seu avô, queria ser cremada, assim suas cinzas irão para o lugar que eu deixei a dele.

Seu avô ele não sabia por que nunca deixava ir la em cima, ia com o Tobias.

Falou como tinha visto a cidade deste lado.

Ele riu, enquanto a do outro lado prosperou, essa foi a merda, sempre comandada por uns idiotas, da família do famigerado teu pai.

Depois consertou, agora ele já sabia que o mesmo não era seu pai, tinha se casado com sua mãe gravida.

O melhor segundo Tobias, foi a fera que ficou, quando descobriu que não tinha direito a nada, na morte de teu avô, um dos motivos que tua mãe te mandou embora.

Como sabia que serias o herdeiro, pensou que ele te mataria, bem como a ela.

Mas no dia que desapareceste, ele queria ir atrás de ti, sentado na mesa não parava de falar, o que faria contigo.

Nunca a vi, como naquele dia, estava com aquela faca, que usava para cortar o assado, bateu com a mesma na mesa, desperta homem, aqui não eres ninguém, nem nunca será.  Essa fazenda jamais será tua.  Ele tinha descoberto que teu avô tinha usado um truque, o tinha feito assinar um documento, em que renunciava a qualquer direito a herança da família.

Nesse dia quase teve um enfarte, foi para a cidade, tomou um porre, o primeiro que comentou alguma coisa, pois nessas alturas todo mundo já sabia, caiu dando murros, dormiu na velha cadeia, quando voltou, ela tinha preparado um quarto para ele, me fez colocar uma trave na porta de seu quarto, aonde escrevi, proibida a entrada.

Ele foi reclamar, ela soltou na cara dele, roncas demais, aqui, eres um simples empregado, dê graças a deus, não te mandar dormir aonde dormem os que vem trabalhar na temporada.

A partir desse dia, ele se sentava na mesa, de cabeça baixa.

Quando ele morreu, ela mandou o corpo para sua família, ficaram furiosos, porque ela sequer foi ao enterro.  Uns quantos apareceram perguntando se não tinham direito a herança dele.

Que herança lhes perguntou?

Ele aqui era um simples empregado, lhes deu o cartão do advogado, que teve que explicar, que ela nunca tinha usado o nome dele, tu tampouco.  Teu sobrenome é do teu avô.

Por isso faziam bullying contigo na escola, não levavas o nome dele.

Mas ela jamais mencionou quem era teu pai, esses anos agora só os dois, um dia me soltou, que nem sabia por que aquele homem tinha se interessado nela.   Era um desses que vinham do exercito para comprar cavalos, hoje não fazem mais isso.   Nunca soube o nome real do mesmo, se ela sabia ficou quieta.

Teu avô a estava obrigando a se casar com esse que depois poderia ser teu pai, mas ele era muito mais velho do que ela.

Depois mostrou o quarto dela, tinha uma mesa, cheia de revistas, com fotografias dele, inclusive por cima essa da entrevista quando voltou aos Estados Unidos.

As francesas, ele mandava para a caixa Postal, aqui continua igual, os carteiros acham longe.

Ainda vou ao outro lado na velha caminhonete, mas a mesma tem dia que é impossível andar.

Ele riu, pois é me lembro que querias me ensinar a guiar, o velho não deixou.

Acho que tinha medo de que roubasses, a mesma para fugir.

Dormiu essa noite no seu velho quarto, cheirava a mofo, mas aguentou, abriu a janela, de madrugado com sempre choveu, tinha goteiras no quarto.  No dia seguinte, descobriu que basicamente na casa inteira.   Agora a luz da manhã, começou a andar por ela inteira, a pior era a cozinha, perguntou ao Tobias, porque a casa estava assim.

Ela dizia que quando você chegasse, resolveria, se ele vende tudo, não creio que queira ficar aqui, então para que arrumar.

Desde um ponto de vista ela tinha razão, ele tinha vindo para seu enterro, agora não sabia o que fazer.

Estavam tomando café, quando escutaram um jeep subindo a estrada, que pelo visto estava mal também.

Deve ser o xerife, ele vinha sempre conversar com tua mãe, ela adorava mostrar as revistas que aparecias, dizia cheia de orgulho, esse é meu filho, nem sei como um homem tão bonito, pode sair de uma mulher tão feia como eu.

Foram os dois receber o xerife, ficou impressionado com o mesmo, ou era mestiço, ou um índio real.   Alto como ele, só que moreno, cabelos escorridos, presos num rabo de cavalo, olhos negros, achou que estava de boca aberta, tinha alguns fios de cabelo branco nos seus cabelos.

Ah, o famoso filho veio afinal.

Temos tua mãe esperando para um oficio, depois ser cremada.

Me dê tempo só de trocar de roupa, estou com esta desde ontem.

Tobias, foi servindo café, parecia saber como o outro gostava.

Na hora de irem para a outra cidade, disse a Tobias que viesse junto, tinham que comprar um carro novo para a fazenda.

O xerife, fez algumas perguntas, por aonde ele tinha vindo, contou a besteira que tinha feito, achei mais fácil, já que tinha que falar com o advogado, ir pelo outro lado, se referia ao lado de aonde tinha saído, ali isso sempre lhe fazia confusão.

O levaram aonde estava sua mãe, agora ali relaxada na morte, até que tinha ficado uma velha bonita.  Apareceu o homem da funerária, ela tinha deixado tudo encomendado, inclusive eles tinham a roupa com a que queria ser cremada.

Liberaram o corpo, no dia seguinte fariam o oficio.   O xerife informou que ela mesma tinha preparado tudo, não haverá claro muita gente, a maioria serão os curiosos, pois aqui as notícias voam.

Dali foram ao banco, apresentou os documentos ao diretor, ficou de boca aberta com o valor que existia ali, anos seguidos só depositando, alguma que outra despesa.

Perguntou ao homem se podiam comprar um carro?

Claro que sim, vou mandar preparar um cartão de crédito com limite aberto, sua mãe nunca aceitou nada disso, dizia para que se ia esquecer o código, essas coisas.

O último valor era alto, ele perguntou ao Tobias, o que era?

Ela vendeu uma grande parte da manada, disse que iam ficar velhos se não vendesse, que depois ninguém queria, apareceu um homem, imagina esses cavalos eram todos chucros, nunca tinha sido domados, o mesmo fornece cavalos para rodeios, levou tudo, o resto como te disse subi para o pasto de cima.

O xerife soltou, sempre escuto falar nesse pasto, mas nunca subi.

O senhor imagina que ele subiu esses cavalos com dois garotos que contratou.

O teu salário como te pagava?

Esta tudo aqui no banco, salvo as compras de supermercado que fazíamos quando vinhamos, o resto nunca gastei.

Virou-se para o gerente do banco, o senhor tem ideia de quanto ganharia se vendesse tudo?

Ele disse um valor bárbaro, são muitas terras, olhe tirou um papel da gaveta, ela disse que o senhor poderia perguntar isso, essa avaliação ela mandou fazer antes de morrer.

Puta merda, não ia dizer que nem tinha tocado no dinheiro do Jean-Paul, tinha usado suas economias para comprar o apartamento do Harlem.

Perguntou ao diretor do banco se conhecia alguém que fazia obras.

Ele indicou um, o xerife atrás dele, balançou a cabeça.

Venha te levo a um lugar, para dares uma olhada, tem carros novos, mas eu recomendo um de segunda mão, forte, pois essa estrada está uma merda.

Quando saíram, ele disse que o diretor tinha lhe dado o nome de um parente seu, é daqueles que começa várias obras ao mesmo tempo, não é de fiar, sempre recebo reclamações a respeito.

Mas o rapaz de aonde vamos ver os carros, tem na sua família gente que trabalha com obras.

O mesmo estava incomodo no terno que usava, riu muito, o xerife foi lhe retirando a gravata, deixa de besteira homem, se isso é para impressionar os brancos, estás errado, o que vale é o teu serviço.

O senhor Joel, quer comprar um carro para a fazenda.

A caminhonete foi para o brejo Tobias, perguntou o mesmo.   Riu dizendo ao Joel, que quando começou eu consertava a mesma para tua mãe, lhe dizia que devia mandar para a sucata, pois estava boa para isso, cheia de ferrugem.

Por mais que o Tobias a guardasse no celeiro não tinha jeito, no inverno, nunca funcionou direito, eu dizia a ela, que um dia os ia encontrar mortos os dois congelados, na estrada.

Andaram por ali, mas viu que o Tobias, estava era olhando um Jeep, como o do xerife, mas tipo caminhonete.

Gostas desta meu velho?

Sim, mas tem que ser como esta, para poder levar coisas de um lado para o outro.

Experimenta, o rapaz lhe deu as chaves, de uma volta no quarteirão.

Quando ele saiu o xerife perguntou se ele não sabia conduzir, pois vi um filme que fazias isso.

Riu, era um filme, não sei conduzir, quando o Tobias quis me ensinar o marido da minha mãe, não deixou.

Eu quando fui embora andei até a estrada, para conseguir que um caminhão me levasse até Chicago, aonde comecei minha vida, trabalhando num dos maiores armazém de moda de lá.

Foi lá que me descobriram.

Eu ria muito, o Tobias, dizia que era a hora do sacrifício, quando ela começava a me mostrar as revistas que aparecias.   Uma vez passou um filme aqui, em que fazias o papel principal, a fui buscar e depois levar, trouxe os dois para te verem.

Nesse dia fiquei com a mão doendo, soltou o Tobias descendo do Jeep, me apertou tanto a mão que cheguei a reclamar.

Nessa noite a escutei chorar em seu quarto.

Bom vamos ao que interessa, quanto custa esse jeep, mas tem que ser em nome do Tobias, pois não tenho carta de condutor.

O velho ficou todo cheio, sorria.

Sempre sonhei em ter um, depois pela convivência com tua mãe, pensei, para que, morrerei em seguida.

Nada disso, preciso de ti.

Perguntou ao homem se ele conhecia alguém para obras?

Bom posso falar com meu pai e meu irmão mais velho, eu fui o único que escapou da construção, a minha vida sempre foram os carros.

Aproveitou que estava ali, comentou chamou o Dan, que perguntou aonde estava, tinha ido a sua casa, ninguém atendia, tua vizinha disse que te viu sair depressa com uma mochila.

Ele disse, estou preparando o enterro da minha mãe.

Porra se tivesses dito, iria contigo, estou sem fazer nada. O xerife lhe informou para aonde tinha que tomar um avião, a cidade não tem aeroporto, mando alguém lhe buscar.

Irei para o La Guardia agora mesmo, arrumarei uma bolsa de viagem.

Depois os dois perguntaram ao mesmo tempo quem era o Dan?

Meu melhor e grande amigo, foi ele quem me lançou internacionalmente, inclusive no teatro e no cinema, ele me convenceu de voltar para cá quando fiquei viúvo.

Foste casado, lhe perguntou o xerife.

Ele como se nada, disse que sim, com um francês, por isso fiquei tanto tempo por lá. Depois te conto a história.

Num momento duvidou que tivesse feito bem, mas depois pensou, eu sou assim, foda-se.

Precisava comprar roupas, viu que o velho também, o da loja de carros, deu uns documentos provisórios para o Tobias, tinha uma garantia de vários anos.

Qualquer problema, velho traz que eu conserto grátis.

Tobias, o ameaçava com o dedo, como se faz com uma criança.

Agradeceram ao xerife, este tinha dado o seu número de telefone para o Dan, mandarei buscar.

Pararam num desses armazéns na saída da cidade, que tem de tudo, comprou umas botas que não tinha, além de camisetas, calças jeans, inclusive camisa de lã, para ele e Tobias, esse reclamava, mas estava com uma camiseta cheia de remendos, tenho muitas camisetas velhas.

Nada disso.

No dia seguinte voltaram, encontrou o Dan conversando com o xerife, aí ele ficou sabendo o nome do outro, Sam Worth.

Foram a cerimônia, realmente como o xerife tinha falado, tinha algumas velhas, que estavam ali para ocupar o tempo, essas vão a todos os enterros.

Uma moça se aproximou, sou a jornalista da cidade, escrevo sobre arte, em geral, podias me dar uma entrevista qualquer dia desses?

Sim, quando queria venha até a fazenda.

Teriam que voltar para buscar as cinzas, foram almoçar, antes de irem para casa, Dan quando viu tanta comida, era um restaurante mexicano, assim vou engordar.

Que nada gente ruim não engorda, sempre estas igual de magro, creio que passas fome.

Quando chegaram na fazenda, viu que tinha uma caminhonete, parada em frente a mesma, ah, o pai do rapaz, deve ter vindo ver a casa.

Este estava andando por ela, com um outro, que era a cópia do outro, um pouco mais velho talvez.

Riu, pois o senhor ia dizendo o que devia anotar, claro, estava a casa cheia de panelas velhas para conter a agua.

Vou ser honesto com o senhor, faria uma coisa, o melhor, e tirar o teto inteiro, fazer tudo novo, porque algumas vigas estão más.

Posso arrumar as duas casas de empregados, enquanto isso, o senhor decide. Mas temos que fazer isso antes do inverno.

Ele viu um papel em cima da mesa, desenhou a varanda, desse lado o senhor a poderia fazer fechada, com uma coisa como esse da cozinha que esquenta.

Este está para jogar fora, colocaríamos dois, tenho que vir de manhã para revisar as duas casas que disse, que são as mais próximas, arrumaríamos essas primeiro.

Em seguida começaríamos a obra, ah, meu nome é Miguel Cervantes.

Ele riu, como o de Quixote, de Cervantes.

Sim esse mesmo, a cozinha eu a faria toda nova moderna, os moveis, a maioria está para ser jogada fora, estão podres cheias de bichos.

Ele entendia.

Voltariam no dia seguinte, para olhar o resto de manhã, inclusive o celeiro.

O garoto vai gastar muito dinheiro.

Tobias, vieste o que tem no banco, posso construir inclusive uma casa nova.

Depois que falou nisso, ficou matutando, nada realmente o prendia em NYC, podia viver ali, não pensava mais em fazer cinema, aqui seria como começar de novo.

Riu muito, teve que explicar aos dois, agora só poderei fazer filmes de cowboy, que nunca fiz.

Dan estava apaixonado pela paisagem.

O senhor não viu o pasto de cima, é um lugar muito bonito.

Não conte nada ao Dan, senão não vai te dar sossego.

Adorava ter o velho amigo ali, o agradeceu muito, ficou sentado com ele na varanda.

Esse ria, o xerife te devora com os olhos.

Dan, tudo o que quero é me encontrar comigo mesmo, paz, esse anos com o Jean-Paul, foram bons, mas o final foi uma merda, quero tranquilidade, vou me instalar primeiro.

Terei que chamar a diretora, menos mal que meu contrato terminava agora, tenho que avisar que não renovo.

Depois irei a NYC, colocarei minha casa a venda, mas isso pode esperar.

A vizinha tem chaves, ficou de abrir para mim de vez em quando.

Foi anotando isso, tudo que tinha que fazer, uma mania que tinha.

Tomaram uma sopa, depois ficaram os três sentados na varanda, Tobias, insistia chamar Dan de senhor.

Pare com isso, sou velho mas nem tanto.

Por um momento, eles escutavam o silencio.

A cabeça dele estava a mil, pensando em tudo que tinha que fazer pela frente.

Ali lhe faltavam vacas, precisava depois de tudo pronto, ter gente para trabalhar, quem sabe um casal, para a mulher cuidar da cozinha, na sua cabeça, se lembrou de uma mesa imensa que tinha visto na loja, perfeita para a cozinha.

Terei que aprender a conduzir, foi o que surgiu na sua cabeça.

Quando foram dormir, pois estavam ali cabeceando, Dan dormiu no quarto que era da sua mãe.

De manhã se espreguiçava, dizendo que nunca tinha dormido tão bem na vida, só levei um susto, por despertar, não saber aonde estava.

Estavam tomando café, quando chegou o Miguel, com muitos homens em várias caminhonetes.

Mandou cada um verificar uma coisa, um que fosse olhar o telhado do celeiro, ver as frestas, ia dizendo anote tudo.

Outros dois as casas que tinha falado, uma o telhado estava no chão.

Tobias ria, dizendo tua mãe sonhava com isso, que chegasses, fizesse tudo isso.

Depois o Tobias preparou comida para todo mundo.

Miguel disse que normalmente traziam uma pessoa para cozinhar.

Montaremos barracas, para os primeiros dias, até termos tudo com telhado novo.

Depois se sentaram para fazer contas.

Mais ou menos o valor, ele disse que queria uma coisa, que a casa tivesse dois banheiros, um outro na entrada da cozinha, quando os homens viessem comer.

Ele foi anotando tudo isso.   A cozinha vamos fazer uma grande moderna, sem querer tinha uma foto da do seu apartamento.

No meu apartamento, mandei fazer isso, creio que podíamos encontrar alguma coisa igual aqui.

Outra coisa, troque todo o assoalho da varanda, por madeira nova, se levantou, passei a noite sonhando com isso, disse aonde queria fechar, era uma parte que ficava ligada a sala.

Outra coisa, a luz daqui é muito fraca, isso precisa ser arrumado.

Tens tratores?

Posso conseguir.

Arrume antes de mais nada essa estrada, pois está uma merda.

Como queres que te pague?

Fazemos o seguinte, conforme for terminando as coisas, vou dizendo quanto custa, vamos abatendo.

Apertaram as mãos.

Dan, ria, esse é o meu garoto, sempre foi assim uma pessoa decidida.

As vezes o pegava contando histórias dele para o Tobias.

Até o velho Tobias parecia ter remoçado.

No dia seguinte despertaram com caminhões chegando, além de um trator, que arrumou uma parte do pasto para fazerem a cozinha, bem como algumas tendas, assim que o celeiro estivesse pronto podiam ficar lá.

A primeira casa, era a que tinha caído o telhado, os homens já estavam tirando tudo, era a antiga casa de um casal que tinha trabalhado anos ali com sua mãe, tinha dois quartos, uma sala, uma pequena varanda, ali talvez ficasse eles.

Dan nem falava em ir embora, prestava atenção em tudo.

Tobias subiu, trouxe uns quantos cavalos, ele o ajudou a passar graxa nas celas que estavam no celeiro, quando olhou para o lado, o Dan olhava, fazia igual.

Quem diria um homem de cidade fazendo essas coisas.

 Lhe perguntou se tinha andado a cavalo alguma vez.

Ele disse que sim, mas que fazia séculos.   Vá te acostumando, pois depois só andaremos assim, falava num futuro, Dan sorria, graças a Deus não dizes, bom já cumpriste com a obrigação, até logo, adeus.

Dan eres o único amigo que eu tenho, como podes pensar isso.

Ou viveras aqui, ou quem sabe largas temporadas.

Já verei, como tempo decido.

O homem que cozinhava era relativamente jovem, contou que tinha tido um acidente numa obra, que gostava disso de cozinhar, aqui eu sou o rei.

Era um descendente de mexicanos, tinha olhos verdes, era no fundo bonito, viu que o Dan se interessava pelo mesmo.

Foram comer todos com eles, elogiaram a comida, estava muito bom.

Dan ria a não mais poder, ele tinha o habito de ir comer num restaurante perto de sua casa, de judeus, comida Kasher, por isso nunca engordas.

O rapaz disse que sabia fazer algumas coisas de comida judia, porque seu pai, era judeu, minha mãe, é mexicana, mas o velho era judeu.

Entraram em rotina, o xerife apareceu várias vezes, Dan soltava que no fundo era para ver seu futuro namorado.

Dan já andava bem a cavalo.

Um dia saiu para dar uma volta, com o Sam, ele disse que ele montava bem.

Claro andei a cavalo toda minha juventude, foi como pegar um ponto de partida nada mais.

Na França não andava a cavalo?

Só uma vez fiz um filme que tinha uma cena assim.

Lhe perguntou se podia fazer uma pergunta indiscreta?

Claro, pode perguntar, mas lembre-se eu falo sem problema nenhum das coisas.

Me fale de quem ficaste viúvo.

Sem problema nenhum lhe contou do Jean-Paul, do que tinha acontecido, imagina que sai daqui sem acabar os estudos, um dia pensei por que não retornar.   Ele adorava a alta sociedade aonde tinha sido criado, eu ao contrário me aborrecia.  Falava e lia francês, mas não sabia escrever, parti daí, até chegar à universidade.

Ele entrou naquela fase, como muitos amigos dele, que achavam que fazer sexo com um jovem, recuperavam essa famigerada juventude.

Um dia voltei da universidade tarde, o encontrei na cama, com um rapaz, que podia ser seu neto, queria que me unisse a eles.  Fui embora.

Nem me lembrava que quando saiu o casamento gay, tínhamos nos casado.  Depois fui buscar minhas coisas, lhe disse que seguiria estudando, aluguei um apartamento, segui fazendo minha pós-graduação, até que vieram me avisar que o tinham assassinado.

Levei foi um choque em ver que andava nas drogas com esses jovens, o rapaz, ninguém sabia de aonde tinha vindo.   Para que falassem mal de mim, paguei um advogado para o defender.

Pois se via que o mesmo se prostituia, por não ter como viver.

Obrigado por confiar em mim.

Depois disso, sou honesto, nunca mais estive com ninguém, na minha juventude tive um romance com o Dan, principalmente porque ele é uma pessoa fantástica. Mas é o meu melhor amigo hoje em dia.

Não sou de aventuras, ele me ensinou bem, aceitava os convites para festas de milionários, que querem um namorado bonito, pergunta a ele como fazia.

Mas sem querer de uma delas, saiu minha primeira oportunidade para fazer teatro.

Agora sou eu que te pergunto, sabes se na cidade, tem alguma escola precisando de um professor de francês, ou de literatura, pois queria continuar dando aulas.

Vou me informar, disse o Sam rindo, até eu quero aprender falar francês.

Ele brincando, soltou, para o que?   Dizer mon Amour.

Talvez, por que não.

As vezes aparecia na hora que sabiam que iam comer, esse rapaz, cozinha de maravilha, tem uma história trágica, menos mal que Miguel, o contratou.

Sentado na varanda pensava, que coisa estranha, pensei em chegar aqui, partir em seguida, “não mais que um dia”, mas parece que fico.

Analisava as possibilidades, as obras tinham andado num ritmo excelente, metade da casa já estava pronta, a varanda parecia outra, tinha subido com o Tobias para levar as cinzas de sua mãe, era um lugar especial, dali se via todo o vale, estava também a urna do meu avô, segundo Tobias, ele tinha feito desenterrar os ossos de minha avô, para serem cremados, estavam ali também.  

Espero um dia meu garoto que as minhas esteja aqui também, eles foram a minha família toda a vida.   Conheci teu avô do outro lado, nem sei direito como vim para lá, meus pais viviam de rodeio em rodeio, como teu padrasto, ele odiava crianças, quando pode, achou que eu tinha idade para me virar, me mandou fazer alguma coisa, quando voltei, não estavam mais.

Acredito que nunca mais tenham vindo em rodeios por aqui, com medo que eu aparecesse.

Por sorte no dia seguinte, caia um temporal desgraçado, teu avô passou com a caminhonete, me viu embaixo da chuva, me trouxe para cá, nunca mais sai daqui.   Talvez tenha sido o filho que ele queria, o acompanhava a principio como uma sombra, tinha medo de ficar para trás.

Me tratou sempre bem, inclusive me deixou algo de dinheiro se eu quisesse comprar terras.

Numa das feiras agrícolas, comprei um garanhão, que tinha um problema na pata, o curei, agora esta lá em cima, com um bando de éguas, seus potros são os melhores, rápidos.

A última vez, precisei de ajuda desses garotos para os separarem, pois daqui a pouco iam começar como sempre a brigarem com o pai.

O que eu gosto do pasto de cima, é isso, é tão grande, pouca gente sabe que existe, assim eles podem formar seus grupos, sem problemas.

Nesse ponto alto, se tinha uma vista fantástica, iria trazer o Dan, ele tinha ido até NYC, ia buscar material para trabalhar.

Tinha pensado em alugar seu apartamento, mas lhe dava medo, pois nunca se sabia a quem, Dan iria conversar com a vizinha, bem como lhe dar dinheiro para limpar o meu.

Iria trazer algumas coisas de inverno para mim.

O Sam seguia aparecendo sempre, podia conversar horas com ele, tinha conseguido a informação que eu lhe pedi, fui falar com a diretora da escola, que ficou surpresa, tinha sido uma companheira minha de infância.

Nem sabia que estavas vivo, mostrei meu curriculum, inclusive das classes que dava na Escola em NYC, ela gostou, me convidou para a próxima reunião de pais de alunos, bem como professores.

Consegui o lugar, teria duas turmas, uma de francês, outra de literatura.

Fui olhar a biblioteca, para ver como estavam de livros, era muito pobre.

Telefonei para o Dan em NYC, fiz uma lista, disse aonde ir, que comprasse, despachasse para a escola, livros em francês, inglês, literatura inglesa, enfim um bom surtido para começar.

Achei estranho no dia seguinte que ele foi, o cozinheiro não estava ali, tinha agora a mulher do Miguel.

Ele foi com o senhor Dan, pois este quer voltar de carro, os dois se dão bem, assim Nico, conhece uma cidade grande.

Miguel, se sentou me contou sua história, era seu sobrinho, o mais frágil entre os irmãos, o pai lhe pegava, por isso, minha mulher o trouxe para viver conosco, um dia me contou que estava apaixonado por um dos homens com quem trabalhava nas obras, viveram juntos um tempo, até que o outro arrumou um que apareceu aqui.

Numa briga com o Nico, o empurrou na obra, ele caiu de costas, por sorte, não morreu, mas agora tem um problema, não pode levantar peso, fazer trabalho complicados, mas tem bom gosto o garoto.

Aprendeu a cozinhar com minha mulher, aliás cozinha melhor do que ela.   Dá um duro desgraçado, como agora, fazendo o café da manhã, o pão é ele quem faz, a comida do pessoal.

Eu gosto dele como meu filho, quando conheceu o senhor Dan, ficou fascinado, um homem com a vivência dele, se interessar por ele.  Está apaixonado, embora saiba que o senhor Dan é mais velho do que ele.

É uma pessoa de inteira confiança, meu melhor amigo, contou ao Miguel, como o tinha conhecido, o que tinha feito por ele.

Fico mais tranquilo, minha mulher só tem medo de que Nico se deslumbre pela cidade grande, queira ficar lá.

Na véspera de saírem, Dan se matava de rir, pois pensou o mesmo, que Nico talvez quisesse ficar lá.   Desde ontem tem a sua bagagem pronta, esta louco para voltar, o levei aos restaurantes, nada desse que vão as bichas ricas, mas sim, aonde se come bem.

Alguns eu conhecia a chefe, lhe mostrava a cozinha.

Mas gostamos mesmo de estar juntos, é uma nova vida começando para mim.

Iremos devagar com o meu carro, vai carregado, algumas coisas que pediste estou levando eu mesmo.

Chegaram cinco dias depois, Dan parecia mais jovem, tinha um sorriso de lado a lado permanente.

Combinou com ele, que assim que tivesse descansado, ele trazia material, para montar um laboratório, queria fazer fotos analógicas, como quando tinha começado.

Nico, estava feliz, isso deixou seus tios mais tranquilos.

A cozinha da casa, foi ele quem organizou, um dia foi com Dan até a cidade, comprou tudo que achava necessário, além de novo para a cozinha da casa.

Agora dormiam juntos sem se preocupar com ninguém.

Depois Dan me contaria a versão do Nico da história de sua vida.

O celeiro tinha ficado pronto, estava bom para receber as éguas que iam parir no inverno.

No pasto de cima, tinha uma coisa diferente, seu próprio ecossistema, quase não nevava, os cavalos tinha lugares para se abrigarem.

Antes de começar a nevar, subiria, já tinham falado como Sam, ele os apresentou a uma serie de jovens cowboys, mas Tobias foi atrás dos garotos que o tinham ajudado.

Estavam ganhando mal, aonde estavam, eu lhe dei carta branca para os contratarem, eles ficariam na casa menor, tínhamos pensado na outra ter uma família, mas claro como o Nico ficava como cozinheiro, cuidando da casa, acabamos contratado mais dois cowboys.

Comeriam todos na grande cozinha, tinha sido aumentada, para ficar como o Nico queria.

Tobias estava louco para subir, começar a separar os cavalos, haveria uma feira antes do inverno, ele queria levar os melhores para vender, eu o considerava como sempre o administrador da fazenda.

Quando subimos, Dan levou em dois cavalos mais velhos, tudo que queria para trabalhar, ficou nessa parte, aonde se tinha uma vista geral.

A partir daí, podia fotografar de tudo.  Levamos duas semanas lá em cima, Nico tinha ido junto, os homens montaram tendas, Sam pediu férias, para ir junto, por nada do mundo perderia isso, tua mãe falava tanto nesse lugar que sonhava com ele.

Ele compartia tenda comigo, as vezes de manhã me olhava, eu lhe sorria, um dia de noite lhe dei um beijo prolongado, nessa noite dormimos juntos.

Era todo um espetáculo, ver Tobias, junto com os dois garotos, pareciam que os cavalos os conheciam, iam separando o que deviam descer, os outros dois, os levavam para um cercado que tínhamos feito fora dali.

Depois o que deu trabalho, foi separar as éguas que estavam para parir.

Tinha um potro que não deixava de seguir o Sam, claro esse sempre tinha um troço de cenoura nos bolsos.    Lhe dei o mesmo de presente.

Esse ele mesmo levou para o cercado.

Descemos a primeira leva, com as éguas, a maioria já indo para o celeiro, aonde iriam parir.

Dan tinha ficado lá em cima, como um louco, fazendo fotos, quando voltamos, teve um dia que tinha caído um puto temporal, ele me disse depois que tinha feito no meio disso tudo umas fotos incríveis, ousei descer, fazer fotos no meio deles.

Claro os cavalos já conheciam seu cheiro.

Quando finalmentes descemos, me disse a parte, quando eu morra, também quero minhas cinzas aqui.

Achei ótimo o Sam ainda ficar uns dias, dormíamos juntos, fazer sexo com ele, era como uma batalha, eu adorava, ia descobrindo seu corpo liso, cheio de músculos, quase nenhum pelo.

Me disse que tinha se apaixonado por mim, pelas revistas, mas quando me viu pessoalmente, queria me beijar.

Teria agora que decidir.   Quem tomou a iniciativa foi o Tobias, pois pediu ajuda a ele, com a administração, ajudar a selecionar os cavalos para venda.

Eu ria, o sem vergonha esta preparando terreno, para o Sam ficar aqui.

Antes da feira ele foi um dia a cidade, avisou ao seu superior, que iria mandar alguém para lá.

Mas precisava que ele ficasse durante a feira, pois era uma época confusa.

Alugamos um espaço para apresentar os cavalos, bem como caminhões, para os levar, menos mal que a estrada agora era boa.

Sam me ensinou a dirigir, pois agora eu teria que ir três vezes por semana a cidade, dar aulas.

De tarde me sentava, no velho escritório de minha mãe, preparando aulas.

Sam se matava de rir, dizia que eu ficava sexi com os óculos pendurados no nariz.

Ele se sentava na mesa ao lado, anotando as despesas.

Tinha feito com o Tobias, toda a administração, dos gastos das obras da fazenda.

Tobias, dizia que para o ano, devíamos pensar em construir um outro celeiro, mais grande, usar esse para comprar tratores, o que temos esta velho, um desses modernos, que já embalam o feno, pronto para guardar, assim eles poderiam ficar guardado na parte de cima do celeiro.

O tempo voou, a única surpresa da feira, além de termos vendido todos os cavalos, foi um garoto que os pais abandonaram lá.

Tobias se tomou de amores com o garoto.  Dizia que era como ele, aparentemente frágil, mas teria forças, estava mal alimentado.

Tobias não o podia adotar, por causa da idade, o jeito foi o Sam resolver isso, ficando ele responsável pelo garoto, que acabou virando nosso filho.

Seu prato sempre era caprichado, Nico o tratava como seu filho também.

Dan estava todo o tempo fechado em seu laboratório, as vezes ao meio-dia Nico tinha que ir chama-lo, vinha com os olhos brilhando, eu lhe cobrava, quando ia nos mostrar seu trabalho.

Os da escola, ficaram como loucos, quando chegaram caixas e caixas de livros, para a biblioteca.

Quando comecei a dar aulas, a princípios os garotos, estranharam, pois eu usava um método todo meu.   Impunha respeito, falava com todos eles pelo nome.

No dia que eu dava literatura, depois me reunia com eles, na biblioteca, tirando duvidas deles, das palavras, os ensinei a usarem um bom dicionário, para isso.

Os que a principio não gostavam começaram a tirar notas mais altas.

Quando acabou o semestre, a diretora, elogiou meu trabalho, esses meninos nunca tiraram notas tão altas.

Quando me dei conta, os anos tinham passado, Tobias já devia estar fazendo mais de 100 anos, mas ele mesmo não sabia sua idade.

Agora ficava sentado na varanda, nosso filho, lhe demos o nome de meu avô, Joseph Paster, era quem levava o Tobias para todos os lados, as vezes o colocava na cama, ficava ali escutando as histórias que ele gostava de contar dos cavalos.

Ensinava a ele todos os truques que usava para maneja-los.

Os dois rapazes que tinham ficado, os que eram como afilhados do Tobias, viviam juntos, de vez em quando brigavam como todos os casais.

Corriam para conversar com o Dan.

O dia que este apresentou as fotos, a fez, como tinha montado, um livro, o primeiro que viu foi o Tobias em particular.

Eu o escutava falando, explicando coisas para o Dan, tudo que ele falou, posteriormente seria o texto do livro.

Era todo em branco e negro, só cavalos, algumas fotos dos garotos, comandando os cavalos, uma minha em cima do meu, com meus cabelos largos, soltos ao vento.

Sam soltou que queria uma para o nosso quarto.

Dan fez uma dos dois sentados numa roca, sem roupas, para nosso quarto.

Rimos muito.

Ele mesmo foi levar o trabalho todo para NYC, para mandar imprimir.

Faria com isso uma exposição na galeria de um amigo, como uma despedida.

Nessa época um dia Tobias não despertou, foi interessante a quantidade de gente que apareceu no enterro, depois subimos com suas cinzas para deixar juntos ao que ele falava sua família.

Depois fomos para NYC, para a inauguração da exposição do Dan.  Ficamos na minha casa.

A vizinha riu, saiu daqui sozinho, volta com filho e tudo.

Mas o ruido da cidade, me atordoava, no segundo dia, disse ao Sam que estava louco para voltar.

Ele ria muito, para aonde?

Para o nosso ninho.

Meu filho Joseph, a principio se deslumbrou, mas depois reclamava da confusão.

Os livros do Dan, venderam como água, ele perguntou se eu me incomodava dele construir uma cabana lá para ele morar.  Queria ter seu studio, bem como um ninho, como eu chamava com o amor de sua velhice.

Despachou tudo que tinha na seu apartamento, mandou os livros todos de sua biblioteca, para a escola aonde eu dava aulas, uma doação de peso.

Eu também tive uns dias para fazer isso, comprar coisas para lá.

Sam dizia, que era muito dinheiro.   Lhe mostrei o que tinha no banco em NYC, tenho que gastar isso em algo produtivo.

Ele quando voltamos assumiu definitivamente a administração da fazenda, só posso dizer que foi quando me dei conta, que minha escolha tinha sido acertada, tinha ido para ficar só um dia, ou talvez dois, já estava a anos.

Seguimos o trabalho, cavalos, pasto de cima.

Os dois rapazes, agora fazia uma parte do trabalho do Tobias com eles, os tinha preparado bem, o Joseph, se encaixava perfeitamente nisso.

Já tinha meu herdeiro.

Quando Joseph teve idade, ia a escola todos os dias, comigo, eu esperava até o final das aulas para traze-lo de volta.

A diretora foi me dando cargos de importância, de como ensinar os outros professores, alguns se desmotivavam, eu os colocava para frente.

Dois anos depois adotamos novamente um garoto, que o pai tinha morrido no rodeio, vinha só com esse homem, não sabia explicar se tinha mãe.

Joseph o acolheu sobre suas asas.

Fomos levando a vida, eu sentia uma paz incrível, vendo minha família.

 

 

 

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