NÃO MAIS QUE UM DIA
Nada tinha mudado muito, tudo
parecia parado no tempo, tinha vindo de avião até a capital, depois não houve
outra maneira, um ônibus, não muito limpo, até a cidade mais próxima, essa
também estava caindo aos pedaços, andou pela rua principal, aonde se lembrava
de vir com sua mãe fazer compras de coisas para casa, roupas, nada, tudo
parecia uma cidade fantasma.
Algumas lojas antigas, tinham um tapume na
frente, quando perguntou num bar, que só tinham dois clientes na barra, se
alguém o podia levar até a vila, olharam para ele como se falasse um absurdo.
Isso dá não saber dirigir pensou, se o
soubesse teria alugado um carro.
Antes foi falar com o velho advogado de
seus pais, este o olhou da cabeça aos pés, dizendo ao final que ele era muito
parecido com sua mãe.
Foi uma beleza quando jovem, podia ter sido
o que quisesse, ninguém entendeu quando se casou com esse idiota, me desculpe o
termo, mas era teu pai.
Quase riu na verdade, sabia que o mesmo não
era seu pai verdadeiro, tampouco, tinha sido um pai para ele, ao contrário, mas
bem um tirano.
Fazia mais ou menos uns 35 ou 40 anos que
tinha ido embora, na surdina da madrugada, quando passavam caminhões na estrada
mais próxima, que na verdade ligava uma cidade a capital.
Tinha vindo por esse lado, pois tinha que
se apresentar ao advogado.
Te entrego o testamento, é mais fácil que
ler inteiro para ti.
Na parte de cima, tinha um clip, com uma
carta.
Depois terás que ir à cidade mais próxima
do outro lado, diziam assim, porque a mesma ficava em outro estado, ir ao
banco, apresentar o testamento, para poder aceder as contas de tua mãe.
Ela administrou tudo até morrer. Na fazenda hoje em dia, só vive um velho,
creio que o conhecestes Tobias, um mexicano, que trabalhava para o pai de tua
mãe.
Perguntou ao advogado, como fazia para ir
até lá, o sorriso dele, era de tristeza, eu estava esperando a tua chegada, vou
para a outra cidade maior, para viver numa residência de velhos, aqui não tenho
mais nenhum cliente, olhe como está esta sala, havia poeira por todos os lados,
meus filhos se foram pelo mundo, mal sei deles, então é a única solução.
Não estou te recriminando por ter ido
embora, pois sei como era tua vida na fazenda, tua mãe te incentivou a isso.
Creio que ela quando era jovem, também
teria ido embora, mas teu avô queria um herdeiro para a fazenda, a obrigou a
casar-se com esse idiota.
A história não era bem assim ele sabia, mas
ela sempre tinha deixado que se falasse dessa maneira, pois assim se eximia de
dar explicações.
Muita água tinha passado por baixo da ponte
em sua vida, essa era a verdade, mas para que contar, nem seria motivo de
fofocas, pelo visto as velhas que falavam de sua mãe, já deviam estar sete
palmos baixo terra.
O jeito era ir caminhando, menos mal que
pensando nisso, só tinha trazido uma mochila, com duas mudas de roupas, seus
documentos.
Se trouxesse as roupas que usava, seria um
escândalo com certeza, pois sempre tinha sido um homem moderno.
Quando a uns anos atrás tinha voltado aos
Estados Unidos, escreveu uma carta a sua mãe, para dizer que estava em NYC,
outra vez, com seu endereço.
Começaram então uma troca de cartas, como
não se falassem a muitos anos, o que era uma verdade, enquanto o homem que
parecia ser seu pai, foi vivo, eles não se escreveram, pois sabia que ele
queimaria as cartas.
Um bom filho da puta, embora levasse o
sobrenome dele.
Se levantou, tinha quase dois metros de
altura, pernas longas, um corpo de fazer inveja a muitos jovens, cabelos
compridos, com muitos fios brancos, que se misturavam com o loiro, menos mal
que tinha trazido roupas práticas, estava agora com um tênis próprios para
caminhadas, como as que fazia ao largo do Central Park, quando voltou de Paris,
já era impossível alugar algum apartamento como antigamente no Village, Soho, Little
Itália, lhe orientaram a buscar pelos lados do Harlen que estava todo
recondicionado.
Conseguiu um segundo andar, inteiro numa
casa que tinha sido totalmente restaurada, estava a venda, ele mostrou
interesse. Dois meses depois quando
chegou a autorização para usar seu dinheiro da Europa, comprou, inclusive por
bom preço.
A mobília era pouca, depois de anos vivendo
em Paris, num apartamento abarrotado de coisas antigas, queria isso,
simplicidade.
Tinha estado vivendo 20 anos com a mesma
pessoa, a sorte sua foi que a uns dez anos, quando saíram os matrimônios gays,
eles primeiro fizeram um contrato, estava acostumado com Jean-Paul, tudo dele
era assim, de uma certa maneira isso tinha lhe valido, quando o mataram.
Com a idade, a cinco anos depois de terem
feito isso, ele queria fazer sexo com todos os jovens que via pela frente, como
se isso o fosse fazer recuperar sua juventude.
Ele que não topou conviver com isso, foi a
luta, alugou um pequeno apartamento perto de aonde trabalhava, por detrás do
Panthéon, quase não o via, de uma maneira gostou, pois seus amigos, na verdade
era os dele, assim pode passar a desfrutar da convivência de colegas do colégio
que trabalhava.
Riu imaginando a cena, ele tinha sido
famoso em sua época, um manequim requisitado pelos maiores costureiros
franceses, bem como europeus, tinha sido capa de revista, mil entrevistas, até
que foi viver com Jean-Paul, pode finalmente fazer uma coisa que ansiava,
estudar como sempre tinha querido.
Se lembrava como hoje, quando se inscreveu
num curso de francês, para emigrantes, pois falar ele falava, mas saber
escrever na língua não.
Depois, se matriculou num curso, noturno
para pessoas de idade, foi assim que foi parar na universidade, justamente na
Sorbonne, muitos dizia que ele tinha entrado por causa do Jean-Paul, mas não
era certo, tinha inclusive feito com bolsa de estudo.
Era sempre o mais velho das turmas, não se
incomodava, muitos o reconheciam, principalmente os professores, mas ele
ignorava isso.
Jean-Paul, claro reclamava que não lhe dava
tanta atenção, que não ia com ele as festas dos amigos ricos, mas alegava que
tinha que estudar, como lhe dizer que estava farto disso, que queria aproveitar
recuperar parte de sua vida.
Talvez isso também tenha ajudado ao
Jean-Paul, com suas aventuras, o sexo entre eles tinha morrido a muito
tempo. Já não era a paixão de antes, ele
depois de um problema que tinha tido, só queria ser passivo.
Fechou os olhos, se lembrava desse pedaço
da estrada, ali tinha uma árvore imensa, gostava de sentar-se a sua sombra.
O velho sempre o tinha maltratado, era
muito mais velho que sua mãe, odiava criança, mas isso era uma exigência de seu
avô, queria um neto.
Sua mãe era uma mulher especial, quando ele
nasceu, ela o criou como uma galinha com seus pintinhos, embaixo de suas asas,
dizia na cara do velho, que seu filho não seria como os demais dali.
Ele sempre resmungava alguma coisa, só
muitos anos depois entendeu o que era, “claro é filho de sabe se lá de quem”.
Juntou isso ao que falavam na escola,
principalmente as mães dos outros alunos.
Ali só havia os primeiros anos.
Depois que acabou esse período, teve que
trabalhar no campo com os outros homens.
Isso fez que seu corpo se desenvolvesse,
bem como com seus cabelos compridos loiros, queimados do sol, fosse um tipo
impressionante.
Um dia o velho o pegou com um desses homens
que contratava para a colheita, estavam os dois no celeiro, com as calças
abaixadas, ele metendo no cu do outro.
Fez um escândalo de fazer gosto.
Sua mãe não disse nada, no dia seguinte foi
na velha caminhonete a cidade do outro lado, sempre diziam assim, era outro
estado.
Voltou, o chamou a parte, lhe deu uma
mochila, estava pesada a mesma, essa madrugada, sais para a estrada, é final de
semana, passam muitos caminhões, foi falando isso, colocando duas calças jeans,
camisetas, um camisa de lã de quadros, um tênis, quando chegue a estrada, para
saber se foi tudo bem, deixe essas botas na árvore grande.
Nesse dia foi dormir mais cedo, pois o
velho sequer olhava para ele, era como se não existisse mais. Ela o chamou, falando no seu ouvido, é a
hora, esta dormindo como um porco como sempre, de longe se escutava o mesmo
roncando.
Ele não ia permitir que ele fosse embora,
apesar de tudo, era mão de obra barata.
Ela o levou até a porta, com uma vela na
mão, disse faça tua vida, o mais longe possível daqui.
Tinha estudado com ele antes do jantar qual
rumo tomar.
Ele iria em direção a Chicago, foi o que
fez, colocou a mochila nas costa a beijou, saiu andando para a estrada, estava
acostumado, gostava de andar para pensar.
Chegou à estrada umas duas horas depois,
andou mais um pouco em direção ao outro lado, num posto de gasolina, aonde
estavam parados caminhões, perguntou se alguém ia para Chicago, pois ônibus só
daqui a alguns dias.
Um tipo até bonito, jovem, disse que ia,
mas que seu caminhão era apertado.
Aceitou o oferecimento, se estenderam as
mãos, o outro falava pelos dois, basicamente contou sua vida, vivia fazendo esse
caminho, estavam na fronteira de Montana, com Dakota do Norte.
Imagina pelo menos uma vez por mês venho
desde Seattle aonde vivo, vou até Chicago, levando a mesma coisa.
De vez em quando olhava para ele, de noite
depois de pararem num posto de gasolina, sugeriu dividirem um quarto no motel, ali
aonde estavam, no meio do nada.
Ele queria tomar um banho, aceitou, tinha
tirado um pouco de dinheiro da mochila, nem sabia quanto tinha dentro, o outro
entrou antes para tomar banho, saiu com uma toalha na cintura, entendeu a
jogada, não tinha vivência de muitas coisas, isso aprenderia depois.
Entrou para tomar banho, nunca tinha usado
um chuveiro, nem sabia como ligar, pediu ao sujeito que lhe ensinasse, esse
tirou a toalha, dizendo que era para não molhar, lhe ensinou, como também lhe
ensinou a fazer outro tipo de sexo.
Mas quando viu seu corpo, já estava de pau
duro, se ajoelhou, colocou o seu na boca, foi o que imaginei, com esse tamanho,
tinhas que ter um proporcional.
Depois foi o máximo, ele disse que não
tinha experiencia, o outro disse que não se preocupasse, que lhe ensinava. Pela primeira vez beijava outro homem, com o
da fazenda só o penetrava nada mais.
Ele ficou como louco, pois a primeira vez
se masturbaram, mas da segunda, o homem sentou-se em cima do seu instrumento,
como passaria a chamar o seu piru.
A cara de êxtase do mesmo foi ótima, ele
ficou como louco, pois ver que o outro estava assim se excitou mais ainda, fez
tudo para controlar o máximo, até que o mesmo pediu por favor.
Dormiram agarrados, isso ele nunca tinha
feito na vida.
De manhã, já eram mais íntimos, tomaram um
bom café da manhã, quando foi pagar, o outro disse, estarás indo em busca de
uma nova vida, poupe teu dinheiro, pagou.
Ao meio-dia o sujeito estava impaciente,
pararam numa lateral da estrada, fizeram sexo de novo na cabine do caminhão,
nessa noite novamente, no dia seguinte estariam na entrada de Chicago.
O outro sugeriu, dizendo que não o podia
levar aonde ia deixar a carga, que o esperasse no posto de gasolina, assim
dormiriam a última noite.
Esse sujeito já está pensando em me
controlar.
Mal o sujeito partiu para ir entregar a
carga, passou um ônibus, ele leu Chicago, quando desceram algumas pessoas, ele
subiu, pagou o bilhete, foi para a cidade, ficou de boca aberta, nunca tinha
visto uma cidade tão grande.
Nesse dia deixou de usar a bota, tinha se
esquecido do detalhe que sua mãe tinha lhe pedido para deixar na árvore,
colocou seus tênis, camiseta, estava num hotel perto da estação de ônibus, saiu
andando pelo centro da cidade.
Ficou parado na frente de um armazém desses
que só vendem moda, viu um senhor montando uma vitrine, ficou ali olhando,
achou super interessante.
O homem saiu para ver como tinha ficado, o
que achas perguntou para ele?
Nunca tinha visto isso, é perfeito.
Estas procurando emprego?
Sim, soltou sem pensar.
Estou contratando aprendizes, disse um
valor.
Foi honesto com o homem, não tenho ideia
desse valor, o senhor me desculpe, venho do interior.
Isso se nota, mas com o tempo, mudaras em
tudo.
Foi seu primeiro amigo, John não só lhe
arrumou um quarto para viver, não muito longe dali, como começou a lhe ensinar
tudo de moda. Aprendeu rápido como
vestir um manequim, conforme a estação do ano, como montar uma história para
atrair o cliente.
Lhe dava revistas para levar para casa,
olhava de cabo a rabo, de uma certa maneira foi lhe educando como se vestir, o
que combinava com ele.
Um dia estava na loja um fotografo, que
fazia um catalogo, para mandar para as cidades do interior, John recebia as
mercadorias, montava as fotos, o sujeito fazia as mesmas.
Sugeriu ao homem que invés de contratar um,
que ele possasse para as fotos, o muito sem vergonha, lhe tinha dado
ultimamente revistas de roupas masculinas, tinha lhe dito, preste atenção, como
esses rapazes posam para as fotos.
Então foi fácil, ele chamou uma garota da
loja, que lhe fizesse uma maquilagem leve, depois ele aprenderia, ele mesmo se
preparava.
O fotografo, era uma figura, muito branco,
com os cabelos tão loiros que pareciam brancos, era descendente de russos,
Boris se apresentou.
Quando viu como ele ficava nas fotos,
comentou com o John, o rapaz engole a câmera fotográfica.
Possou basicamente para tudo, desde macacão
para trabalhar no campo, camisas de quadros com calças jeans, chapéu, botas,
parecia estar em casa.
Ficaram montando o catalogo uma semana.
Um dia os dois o convidaram para sair, ele
acabou na cama com o Boris, esse sabia das coisas.
Inclusive lhe ensinou a usar camisinha,
para se proteger, hoje em dia tem que ser assim.
Ele nesse ponto era inocente, John as vezes
lhe perguntava se ele era cego?
Por que lhe dizia?
Esses homens e mulheres, te devorando.
Realmente ele não percebia, tinha sua
atenção voltada em aprender uma profissão.
O dinheiro que sua mãe tinha colocado na
mochila, quando recebeu o primeiro salário, o colocou junto no banco.
Era econômico, usava só o necessário, na
loja, usava um uniforme de empregado, assim economizava.
John as vezes o fazia provar certas roupas,
disse depois que foi assim que viu que ele podia ser o manequim do catalogo.
Sabia que sua mãe receberia um, mas que
acabava jogado por ali, ou usado para acender o foto do fogão a lenha, para
fazer pão.
Assim ela saberá de mim pensou.
Boris, ainda lhe fez umas quantas fotos,
que sabia que não eram para o catalogo, com roupas de marcas, com roupa de
banho, sem camisa, lhe disse como fazer.
Ao final lhe perguntou se não queria ir
para NYC, tinha dormido vários dias com ele.
Mas falou antes com o John.
Esse riu, para o que você acha que eu te
estava preparando, mas foi lhe dizendo como tinha que proceder, cuidado o Boris
é boa gente, mas vai querer uma porcentagem do que ganhes, tampouco fiques
vivendo com ele, alugue um quarto para ti, arrume um emprego até as coisas deslancharem,
vai por mim, senão vais parecer um gigolo.
Teve que lhe explicar o que era.
Lhe deu uma carta de recomendação para um
amigo que era chefe no Bloomingdale’s. Agradeceu muito tudo que tinha lhe
ensinado, além o ter avisado como ir em frente.
Foi o que fez, foi de carro com o Boris,
que se espantou que ele não tinha uma bagagem grande. Tinha ido ao banco, para
saber como transferir o seu dinheiro para lá.
Boris falava muito, foi contando toda sua
vida para ele, não poderás ficar em minha casa, pois vivo com um homem a muito
tempo. Mas lhe arrumarei um quarto.
Deu graças a Deus por isso, assim não
estaria preso a ele.
Era relativamente perto do seu apartamento,
mas ele logo descobriu como ir a loja do amigo do John, foi até lá, se
apresentou ao homem, que o contratou em seguida, aqui algum ficam a vida
inteira, os bonitos como tu, pouco tempo.
Boris quando soube que ele estava
trabalhando, não gostou muito, mas antes de começarem a trabalhar, foi posar
para ele, uma reportagem da Vogue, de roupas do Calvin Klein, que ele conhecia
da loja.
Fez tudo como ele dizia para fazer, estava
ali, uma representante da Vogue, uma mulher com uns cabelos fantásticos
crespos, muito alta, antes de acabarem, lhe disse, quando eu sair, venha
comigo.
Ela tinha vários ajudantes, mal acabou de
posar com a última roupa, limpou a cara da pouca maquilagem que tinha, ela fez
um sinal, se vestiu, foi atrás dela, dizendo ao Boris que já voltava, nunca
mais posou para ele.
Ela o arrastou, para um studio de um
fotografo, um dos mais famosos da cidade, ligado a uma agência de
manequins.
Quando lhe perguntou se ele era ligado a
uma agência, disse que de uma certa maneira era bom, a mulher lhe ensinou como
cobrar, por exemplo, Boris ia lhe pagar uma merda pelo dia que tinha ficado
posando.
Ela foi com ele depois a uma agência, em
seguida gostou da mulher que seria sua representante.
No dia seguinte, voltou a se encontrar com
a senhora da Vogue que o levou para posar uma coleção de um costureiro francês,
mandarei as fotos para ele, como sempre faço.
Depois de uma semana, viu que a coisa ia em
sério, foi a loja, pediu desculpas para o senhor, esse riu, vi que tinhas
estampas demais, falei com o John que nem ias esquentar lugar aqui.
Contou para o mesmo o que tinha acontecido.
Fazes bem, Boris te abriu a porta, mas com
certeza embolsou metade do que a Vogue ia te pagar.
Era uma verdade, ficou uma fera, quando
descobriu que ele estava posando para outros, fui eu que te descobrir.
Mas nem por isso, eres meu dono, tinha
escutado um manequim falar isso com um fotografo.
Ao contrário dos outros manequins, ele
alugou um apartamento maior, mas nem por isso pretensioso. No qual viveria até ir para a Europa.
Fez desfiles de moda, participou de toda
uma temporada em NYC, cada cachê que ganhava ia direto para o Banco, quando
queriam lhe pagar com roupa, educadamente, que ele precisava de dinheiro, roupa
ele não comia.
Chegava com uma roupa simples, para que os
mesmo vissem sua transformação, aprendeu com uma mulher na Saks da quinta
avenida, como se maquilar, o que destacar.
Nada de uma coisa pesada.
Um dia um dos fotógrafos, lhe disse que
tinha convite para uma festa, deves aparecer, mas foi super simpático, mas
cuidado, lá pelas tantas vai rolar drogas, é hora de ir embora.
O Dan, era simpático com ele, tinha posado
para ele já umas quantas vezes, via que o olhava de maneira diferente.
Lhe emprestou uma roupa que estava ali no
studio para ir, isso esqueceram aqui.
Marcou com ele, perto de sua casa, foram
andando conversando, estou fazendo isso, porque me pediram, alguém te viu numa
foto, é uma festa de gays ricos, mas te aviso, isso seria o inicio para passar
de mão em mão.
Nem pensar nisso, só vou para cama com quem
eu quero.
Tinha aprendido a lição com o Boris, isso
de em seguida pertencer a pessoa.
O outro ficou rindo, sei que tens uma
educação, já te vi falando com as pessoas, o pessoal quando chegas te adora,
pois falas com todos, não como a maioria que já acha que é famoso.
Era uma verdade, sua mãe sempre dizia que
com educação conseguiria tudo.
Chegaram à festa, era um apartamento com
uma varanda incrível, as vistas impressionantes.
Dan o foi apresentando a outros manequins,
pessoas com quem ele tinha cruzado nos studios, mas que nem por isso eram
educados.
O dono da casa o recebeu com dois beijos,
era um tipo entre 45 a 50 anos, muito bem vestido, vi uma foto tua, gosto
porque eres natural.
O foi apresentando para uns mais jovens,
outros mais velhos, riu quando se lembrou do John dizendo que ele nem percebia
quando estava o olhando, ou devorando com os olhos como ele dizia.
Sorria para todos, era educado, brindava
com eles, molhava a boca com o champagne que rolava ali, não gostava do sabor,
fingia que bebia.
Dan lá pelas tantas lhe fez um sinal, o
apresentou a um homem super elegante, disse que o mesmo tinha uma das melhores
boutiques da cidade, quando quiseres uma roupa especial, fale com ele, o homem
lhe deu um cartão, ele pediu desculpas, mas não tinha nenhum.
O homem olhava para ele, como se estivesse
nu.
Logo em seguida, Dan lhe disse me siga como
se fosses ao banheiro, ele estava louco para dar uma mijada, quando abriu a
porta, estava um senhor maior, chupando o pau de um dos manequins que estava
cheirando ao mesmo tempo cocaína.
Saíram pela cozinha.
Foram andando pela rua, que tal me sai,
Dan?
Muito bem, mesmo o homem que te apresentei,
tem essa loja frequentada pela maioria dos homens que estavam aqui, mas o faz
para distrai-se é podre de rico.
Estas sugerindo que eu durma com ele?
Não, mas o mesmo tem um círculo de amigos
impressionante.
Olha Dan, acabo de ver um dos manequins no
banheiro cheirando cocaína, ao mesmo tempo um velho lhe chupando o caralho. Sinto muito, mas isso não vai comigo, gosto
de poder escolher com quem vou para a cama.
Era mais fácil ir contigo, que com qualquer um deles.
Sou muito pé no chão.
Viu que o Dan, estava excitado, quando
chegaram a frente do apartamento dele, o convidou para subir.
Ele parou, segurou Dan que era mais baixo
do que ele, com as duas mãos, nos ombros, se isso não for interferir no nosso
relacionamento comercial, vou, pois eres uma das pessoas que respeito.
Foi uma barbaridade, adorou fazer sexo com
ele.
Quando estava livre, chamava o Dan, esse o
foi educando de outra maneira, lhe levava ao teatro, cinema, a livrarias,
sugeria livros que estava no momento de moda, depois sentavam-se para jantar,
comentavam a respeito, ele as vezes não tinha vergonha de dizer a ele, isso eu
não entendi, podes me explicar.
Um dia o levou a ver uma peça de Bertold
Brecht, ele ficou sem entender muita coisa, comentou com ele.
Dan pacientemente lhe explicou que era
outro tipo de teatro, menos americano, a maioria dos espetáculos são para
divertir, esse é para pensar.
No dia seguinte lhe deu de presente um
livro, o texto do espetáculo.
Ele voltou duas vezes para ver de novo.
Num dos dias encontrou com o dono da festa,
esse riu, dizendo, nunca imaginei que ia te encontrar nesse tipo de espetáculo,
ficou desarmado, quando ele disse, que era a terceira vez que via, porque
queria entender profundamente do texto.
Mostrou para ele o mesmo, cheio de coisas escritas na lateral com sua
letra infantil.
O outro ficou surpreso, pois não negava que
tinha poucos estudos.
Dan depois comentou isso com ele, que o
mesmo tinha lhe chamado, surpreso, que ele era diferente, os convidava para um
jantar em sua casa, em petit comité.
Ficou sem saber, foi claro com o Dan, ele
me convidou depois para tomar um drink, eu lhe disse que não bebia, que odiava
gente bêbada.
Me sugeriu ir a sua casa, lhe disse que
tinha que me levantar cedo, pois tinha que provar as roupas de um desfile, o
que era verdade.
O que ele gosta de ti, é que eres educado.
Não quero que isso interfira na nossa
relação, Dan, gosto de estar contigo.
Dan, ria, sou muito mais velho que você,
além de que, nem sou bonito.
Isso não importa, pois na cama contigo, me
sinto relaxado, as vezes Dan ficava louco, pois eram capaz de fazerem sexo
várias vezes, principalmente se era um final de semana.
Foram ao tal jantar, no primeiro momento
que um deles se insinuou, colocou a mão em cima da do Dan, que estava sentado
ao seu lado.
Foi o quanto bastou, mas ninguém se
insinuou, a conversa era justamente sobre o espetáculo, o dono da casa,
perguntou a ele, que tinha visto três vezes, além de ler o texto, o que
pensava.
É uma maneira diferente de ver a vida,
principalmente porque a educação dos personagens é outra. Foi falando o que pensava a respeito.
Um deles lhe perguntou sobre um espetáculo,
que tinha ido com o Dan.
Sim gostei, é um espetáculo, para relaxar,
o outro para pensar. Duas formas
diferentes de fazer teatro.
O mesmo ria, porque era justamente ficou
sabendo nesse momento, diretor do espetáculo americano.
Espere, perguntou ao dono da casa, aonde
tinha o texto que tinha levado para ele dar uma olhada, esse ficou vermelho,
dizendo que nem tinha aberto ainda o envelope, que estava em cima da mesa do
escritório.
Este trouxe, marcou um dos personagens, perguntou
se ele podia ler para ele.
Leu, isso ele fazia bem, todos os livros
que o Dan dava para ele, lia a maioria em voz alta, para se fixar no que lia. Anotava
as palavras que não conhecia para ler num dicionário que tinha comprado numa
livraria de segunda mão.
De repente parou, não entendo essa palavra
aqui, não encaixa na história, é como se o personagem de repente se quisesse
fazer de importante.
Porra, finalmente alguém entende o que eu
sempre digo, os escritores, tem essa mania, colocar na boca de um personagem
uma palavra que o publico ou vai rir, por achar uma merda, ou não entender.
Amanhã, tens um tempo livre, lhe perguntou,
tenho um ensaio, esse personagem não encontrei ninguém ainda que o fizesse bem.
Ele então se levantou, disse ao Dan, vou
para casa, para ler o resto do texto, para poder fazer direito.
Dan foi com ele, o ajudou a entender o
espetáculo.
Era um personagem gay, mas fechado em si
mesmo, nada de frescura, um homem sério, por isso a palavra não encaixava no
texto, ficou como um louco procurando o que diria no lugar.
No dia seguinte, Dan o acompanhou, levou
uma câmera, de vídeo, queria registrar o que ele fazia.
Tinha uma certa olheira, o diretor lhe
perguntou se tinha lido muito o texto.
Sim, queria entender esse homem, disse o
que pensava do personagem, ele não precisa de frescuras, trejeitos, ou qualquer
nuance para dizer que é gay. Em sua
cabeça, ele é pronto, por isso aquela palavra não encaixa.
O colocou em cena, com outro ator, falando
o texto, ele tinha lido tantas vezes que o fazia sem pensar. O outro ainda ensaiava com o texto.
Usou outras duas palavras diferentes, o
diretor, disse que era isso, o personagem sabia quem era, não precisava de
artifícios.
O contratou, ele chamou sua agente, lhe
contou de sua nova aventura, ela foi correndo para lá ler o contrato, lhe
lembrou que ele tinha um contrato, para dentro de uma semana, na famosa semana
da moda de NYC. Estarás muito ocupado.
O diretor do espetáculo disse que esperava,
iria afinando os outros atores.
Se sentia à vontade no palco, sua
representação foi falada, saiu nos jornais, nas revistas para as quais tinha
posado. Mas seguiu fazendo fotos com o
Dan, eram amigos acima de tudo.
A Vogue o contratou para fazer fotos na
Semana da Moda de Paris, ele foi junto, logo posava, participou de vários
desfiles, a principio lhe dava medo ter que falar em francês, claro todos
sabiam que era americano, falavam com ele em inglês.
Mas logo aprendeu a falar algumas palavras,
se metia a ler os jornais.
Quando de uma agência o chamaram, Dan
respondeu que era a melhor da Europa, o levou e apresentou a todos os
fotógrafos que ele conhecia.
Logo posava para todo mundo, aprendeu a
falar direito, mas a ler, mas a escrever não.
O convidavam para festas, fazia o de
sempre, com um copo de champagne, o deixava que o apresentassem para todos
mundo, depois encontrava um jeito de escapar.
Dan tinha que voltar, se sentaram os dois,
nunca deixariam de ser amigos, agora te toca seguir em frente meu garoto. Nessa alturas ele não tinha nem 25 anos, fez
de tudo, inclusive cinema.
Numa ida a Itália, para desfilar e
fotografar para uma firma da moda, foi quando conheceu Jean-Paul, que estava em
Milão, como adido cultural.
Se apaixonaram ao momento, foi uma coisa
fulminante.
Ainda ficou uns dias em Milão, por culpa
dele, mas tinha compromissos, disse que tinha que voltar a Paris, tinha o
contrato de um filme.
Trocaram o número de celular, ele sabia que
Jean-Paul, era alguém com família importante, pois um conhecido lhe disse que
tinha caçado um peixe gordo.
Mais bem fui caçado, pois estou apaixonado,
lhe respondeu.
Ele era considerado uma avis rara, pois não
levava a vida como os outros manequins, nem aos aspirantes ao cinema, era muito
sério.
Um mês depois, estava fazendo uma cena em
um Boulevard deu de cara com Jean-Paul, se desconcertou, teve que fazer a cena
outra vez.
Quando acabaram as filmagens do dia,
Jean-Paul o levou para sua casa. Era um
belo apartamento, numa zona chic da cidade.
Quando viu, basicamente vivia com ele, este
renunciou a uma nova embaixada, para trabalhar em Paris, ele seguiu sua
carreira no cinema, quando era entrevistado, falava em sério do filme, nunca
falava de sua vida pessoal. Ainda
pensava se fosse nos Estados Unidos, todos saberiam de mim.
Seguia com o hábito, semanalmente mandava
uma carta para sua mãe, uma caixa postal do outro lado, sempre seria assim, a
cidade do outro lado.
Quando pararam de o chamar para fazer
desfiles, pois claro, dava mais valor ao seu trabalho no cinema, começou a
estudar, fez tudo na surdina, até que se formou na Sorbonne, em literatura
comparada. Ao mesmo tempo sempre em
contato com o Dan, pedia algum livro que não conseguia. Este quando vinha, tinha sempre um dia, para
estarem juntos.
Jean-Paul, perguntava, o que ele via
naquele homem baixinho, magro, sem graça nenhuma.
Tu o respeita, é o meu melhor amigo. As vezes quando estavam livres, conversavam
por telefone, o podia fazer escondido, mas o fazia na cara do Jean-Paul.
Uma vez voltou a NYC, para o lançamento de
um filme, lá ele tinha deixado de existir, Dan coordenou uma festa, com seu
velho conhecido o diretor de teatro.
Jean-Paul se corroía de ciúmes, porque não
era o centro de atenções que ele estava acostumado a ser nessas festas.
Saiu uma bela reportagem sobre ele, posou
para a Vogue, quando reencontrou a mulher que o tinha ajudado tanto, só se viam
quando ela ia a Paris para a Semana da Moda, mas ele já não participava.
Deu uma entrevista a revista, sabia que sua
mãe com certeza saberia.
Recebeu uma carta dela, quando voltou,
dizendo que tinha adorado ler a entrevista, que ele tinha realizado o sonho
dela em ir pelo mundo.
Contava da morte do velho, o mandei
enterrar junto a sua família, junto a nossa não quero.
Ele quando contava ao Jean-Paul de aonde
era, ele parecia não se interessar.
Foi quando acabaram se separando, pois ele
queria aventuras, um dia chegou em casa, encontrou Jean com um jovem na cama,
podia ser avô do rapaz.
Nesse dia, arrumou suas coisas, foi para um
hotel, sempre se perguntava, porque era assim, parecia que os homens precisavam
sempre dessas aventuras, escutava os amigos dele falando, todos pareciam querer
isso, como se pudessem como vampiros, chupar o sangue desses jovens, ficarem
com menos idade.
Em seguida arrumou um pequeno apartamento,
ainda tinha uns meses, para acabar sua pós-graduação, quando isso aconteceu,
estava se preparando para ir embora, quando a polícia bateu em seu apartamento.
Levou um susto, Jean tinha sido assassinado
por um prostituto, ao parecer tinham consumido muita drogas, levou um susto,
nunca tinha visto ele fazer isso.
Mas um amigo do Jean confirmou, com esses
jovens ele tomava drogas, ninguém sabia direito porque, mas todos os dias ia
para cama com algum deles.
Ao parecer o jovem não estava acostumado
com drogas, pois o encontraram sentado ao lado da cama, com uma navalha nas
mãos.
Ficou com pena, devia ter a idade, que
tinha quando saiu de casa. Ainda pensou
tive sorte em pensar em trabalhar, lutar por uma vida.
O escândalo, sem querer o ligava ao Jean,
afinal tinham se casado. Quando leram o
seu testamento, o apartamento era da família dele, mas para ele, deixava uma
caixa no banco, bem como muito dinheiro.
O mesmo a tempos tinha recebido uma herança grande de um tio dele.
Viu que ali estava acabado, ele que pensava
encontrar algum emprego em uma escola, foi tudo a merda, falou com o Dan, esse
disse para ele voltar para casa.
Foi o que fez, foi dar uma olhada na tal
caixa do banco, havia mais dinheiro, além de joias de grande valor. Como a maior parte eram femininas, ele chamou
a irmã do Jean, com quem mais se dava, fez questão de entregar. Ela disse que valiam muito, era da mulher de
seu tio.
Mas tu tens filhas, elas poderão usar.
Ela foi honesta com ele, dois colares,
tinham diamantes que valiam uma fortuna, foi com ele a uma joalheria para
avaliar. O dono comprou os mesmo por
uma fortuna, depositaria esse dinheiro na sua conta.
Mas ele ao longo dos anos, vivendo com o
Jean, tampouco se preocupava com dinheiro, usava o mínimo do seu, o que tinha
economizado esses anos todos.
Do banco assim que ele tivesse em NYC, lhe
transferiam.
Foi quando comprou o apartamento no Harlem.
O melhor foi recuperar a amizade do Dan,
seguia se escrevendo com sua mãe, está um dia perguntou quando ia vê-la, ele
agora trabalhava numa escola ali do bairro, dando classes de francês e
literatura francesa aos mais adiantados.
Lhe respondeu que assim que tivesse férias
da escola, iria até lá. Quase dias
depois recebeu uma chamada do advogado, dizendo que ela tinha morrido, que a
tinham levado ao outro lado, esperando que ele viesse ao enterro.
Mas que passasse por lá antes.
Foi o que tinha acabado de fazer, já estava
quase perto, menos mal pensou que a casa da fazenda, ficava no início, de uma
certa maneira era fácil de chegar. Tinha
caminhado uns trinta quilômetros.
Viu o velho Tobias, sentado na varanda da
casa, tudo precisava de uma bela reforma, as janelas estavam quebradas, afinal
era uma casa de madeira.
O velho quando o viu, se levantou, ficou
vendo se aproximar, foi andando devagar até ele, a idade devia pesar, o
abraçou, dizendo como estou encolhendo, pois o abraçou pela cintura.
Venha, descansar, me conte tudo.
Sentaram-se na varanda, no velho telefone
da casa, Tobias, chamou o xerife da cidade do outro lado, que ficou de vir no
dia seguinte logo cedo, para tratarem do enterro.
Ele tomou um banho no velho chuveiro, o
banheiro lhe dava a sensação que estava para cair.
Esta casa está um perigo Tobias.
Este lhe contou que dois dias antes tinha
levado o rebanho de cavalos para o pasto de cima.
Mas sozinho?
Não chamei dois garotos do outro lado, que
vieram, lá em cima não se precisa de ninguém cuidando.
O pasto de cima, era uma coisa que
remontava a muitos anos antes mesmos de sua família viver ali, essas terras seus
antepassados, tinham comprado uma parte de uma comunidade de índios que viviam
numa reserva perto.
Sua mãe como seu avô, queria ser cremada, assim
suas cinzas irão para o lugar que eu deixei a dele.
Seu avô ele não sabia por que nunca deixava
ir la em cima, ia com o Tobias.
Falou como tinha visto a cidade deste lado.
Ele riu, enquanto a do outro lado
prosperou, essa foi a merda, sempre comandada por uns idiotas, da família do
famigerado teu pai.
Depois consertou, agora ele já sabia que o
mesmo não era seu pai, tinha se casado com sua mãe gravida.
O melhor segundo Tobias, foi a fera que
ficou, quando descobriu que não tinha direito a nada, na morte de teu avô, um
dos motivos que tua mãe te mandou embora.
Como sabia que serias o herdeiro, pensou
que ele te mataria, bem como a ela.
Mas no dia que desapareceste, ele queria ir
atrás de ti, sentado na mesa não parava de falar, o que faria contigo.
Nunca a vi, como naquele dia, estava com
aquela faca, que usava para cortar o assado, bateu com a mesma na mesa,
desperta homem, aqui não eres ninguém, nem nunca será. Essa fazenda jamais será tua. Ele tinha descoberto que teu avô tinha usado
um truque, o tinha feito assinar um documento, em que renunciava a qualquer
direito a herança da família.
Nesse dia quase teve um enfarte, foi para a
cidade, tomou um porre, o primeiro que comentou alguma coisa, pois nessas
alturas todo mundo já sabia, caiu dando murros, dormiu na velha cadeia, quando
voltou, ela tinha preparado um quarto para ele, me fez colocar uma trave na
porta de seu quarto, aonde escrevi, proibida a entrada.
Ele foi reclamar, ela soltou na cara dele,
roncas demais, aqui, eres um simples empregado, dê graças a deus, não te mandar
dormir aonde dormem os que vem trabalhar na temporada.
A partir desse dia, ele se sentava na mesa,
de cabeça baixa.
Quando ele morreu, ela mandou o corpo para
sua família, ficaram furiosos, porque ela sequer foi ao enterro. Uns quantos apareceram perguntando se não
tinham direito a herança dele.
Que herança lhes perguntou?
Ele aqui era um simples empregado, lhes deu
o cartão do advogado, que teve que explicar, que ela nunca tinha usado o nome
dele, tu tampouco. Teu sobrenome é do
teu avô.
Por isso faziam bullying contigo na escola,
não levavas o nome dele.
Mas ela jamais mencionou quem era teu pai, esses
anos agora só os dois, um dia me soltou, que nem sabia por que aquele homem
tinha se interessado nela. Era um
desses que vinham do exercito para comprar cavalos, hoje não fazem mais isso. Nunca soube o nome real do mesmo, se ela
sabia ficou quieta.
Teu avô a estava obrigando a se casar com
esse que depois poderia ser teu pai, mas ele era muito mais velho do que ela.
Depois mostrou o quarto dela, tinha uma
mesa, cheia de revistas, com fotografias dele, inclusive por cima essa da
entrevista quando voltou aos Estados Unidos.
As francesas, ele mandava para a caixa
Postal, aqui continua igual, os carteiros acham longe.
Ainda vou ao outro lado na velha
caminhonete, mas a mesma tem dia que é impossível andar.
Ele riu, pois é me lembro que querias me
ensinar a guiar, o velho não deixou.
Acho que tinha medo de que roubasses, a
mesma para fugir.
Dormiu essa noite no seu velho quarto,
cheirava a mofo, mas aguentou, abriu a janela, de madrugado com sempre choveu,
tinha goteiras no quarto. No dia
seguinte, descobriu que basicamente na casa inteira. Agora a luz da manhã, começou a andar por
ela inteira, a pior era a cozinha, perguntou ao Tobias, porque a casa estava
assim.
Ela dizia que quando você chegasse,
resolveria, se ele vende tudo, não creio que queira ficar aqui, então para que arrumar.
Desde um ponto de vista ela tinha razão,
ele tinha vindo para seu enterro, agora não sabia o que fazer.
Estavam tomando café, quando escutaram um
jeep subindo a estrada, que pelo visto estava mal também.
Deve ser o xerife, ele vinha sempre
conversar com tua mãe, ela adorava mostrar as revistas que aparecias, dizia
cheia de orgulho, esse é meu filho, nem sei como um homem tão bonito, pode sair
de uma mulher tão feia como eu.
Foram os dois receber o xerife, ficou
impressionado com o mesmo, ou era mestiço, ou um índio real. Alto como ele, só que moreno, cabelos
escorridos, presos num rabo de cavalo, olhos negros, achou que estava de boca
aberta, tinha alguns fios de cabelo branco nos seus cabelos.
Ah, o famoso filho veio afinal.
Temos tua mãe esperando para um oficio,
depois ser cremada.
Me dê tempo só de trocar de roupa, estou
com esta desde ontem.
Tobias, foi servindo café, parecia saber
como o outro gostava.
Na hora de irem para a outra cidade, disse
a Tobias que viesse junto, tinham que comprar um carro novo para a fazenda.
O xerife, fez algumas perguntas, por aonde
ele tinha vindo, contou a besteira que tinha feito, achei mais fácil, já que
tinha que falar com o advogado, ir pelo outro lado, se referia ao lado de aonde
tinha saído, ali isso sempre lhe fazia confusão.
O levaram aonde estava sua mãe, agora ali
relaxada na morte, até que tinha ficado uma velha bonita. Apareceu o homem da funerária, ela tinha
deixado tudo encomendado, inclusive eles tinham a roupa com a que queria ser
cremada.
Liberaram o corpo, no dia seguinte fariam o
oficio. O xerife informou que ela mesma
tinha preparado tudo, não haverá claro muita gente, a maioria serão os
curiosos, pois aqui as notícias voam.
Dali foram ao banco, apresentou os
documentos ao diretor, ficou de boca aberta com o valor que existia ali, anos
seguidos só depositando, alguma que outra despesa.
Perguntou ao homem se podiam comprar um
carro?
Claro que sim, vou mandar preparar um
cartão de crédito com limite aberto, sua mãe nunca aceitou nada disso, dizia
para que se ia esquecer o código, essas coisas.
O último valor era alto, ele perguntou ao
Tobias, o que era?
Ela vendeu uma grande parte da manada,
disse que iam ficar velhos se não vendesse, que depois ninguém queria, apareceu
um homem, imagina esses cavalos eram todos chucros, nunca tinha sido domados, o
mesmo fornece cavalos para rodeios, levou tudo, o resto como te disse subi para
o pasto de cima.
O xerife soltou, sempre escuto falar nesse
pasto, mas nunca subi.
O senhor imagina que ele subiu esses
cavalos com dois garotos que contratou.
O teu salário como te pagava?
Esta tudo aqui no banco, salvo as compras
de supermercado que fazíamos quando vinhamos, o resto nunca gastei.
Virou-se para o gerente do banco, o senhor
tem ideia de quanto ganharia se vendesse tudo?
Ele disse um valor bárbaro, são muitas
terras, olhe tirou um papel da gaveta, ela disse que o senhor poderia perguntar
isso, essa avaliação ela mandou fazer antes de morrer.
Puta merda, não ia dizer que nem tinha
tocado no dinheiro do Jean-Paul, tinha usado suas economias para comprar o
apartamento do Harlem.
Perguntou ao diretor do banco se conhecia
alguém que fazia obras.
Ele indicou um, o xerife atrás dele,
balançou a cabeça.
Venha te levo a um lugar, para dares uma
olhada, tem carros novos, mas eu recomendo um de segunda mão, forte, pois essa
estrada está uma merda.
Quando saíram, ele disse que o diretor
tinha lhe dado o nome de um parente seu, é daqueles que começa várias obras ao
mesmo tempo, não é de fiar, sempre recebo reclamações a respeito.
Mas o rapaz de aonde vamos ver os carros,
tem na sua família gente que trabalha com obras.
O mesmo estava incomodo no terno que usava,
riu muito, o xerife foi lhe retirando a gravata, deixa de besteira homem, se
isso é para impressionar os brancos, estás errado, o que vale é o teu serviço.
O senhor Joel, quer comprar um carro para a
fazenda.
A caminhonete foi para o brejo Tobias,
perguntou o mesmo. Riu dizendo ao Joel,
que quando começou eu consertava a mesma para tua mãe, lhe dizia que devia
mandar para a sucata, pois estava boa para isso, cheia de ferrugem.
Por mais que o Tobias a guardasse no
celeiro não tinha jeito, no inverno, nunca funcionou direito, eu dizia a ela,
que um dia os ia encontrar mortos os dois congelados, na estrada.
Andaram por ali, mas viu que o Tobias,
estava era olhando um Jeep, como o do xerife, mas tipo caminhonete.
Gostas desta meu velho?
Sim, mas tem que ser como esta, para poder
levar coisas de um lado para o outro.
Experimenta, o rapaz lhe deu as chaves, de
uma volta no quarteirão.
Quando ele saiu o xerife perguntou se ele
não sabia conduzir, pois vi um filme que fazias isso.
Riu, era um filme, não sei conduzir, quando
o Tobias quis me ensinar o marido da minha mãe, não deixou.
Eu quando fui embora andei até a estrada,
para conseguir que um caminhão me levasse até Chicago, aonde comecei minha
vida, trabalhando num dos maiores armazém de moda de lá.
Foi lá que me descobriram.
Eu ria muito, o Tobias, dizia que era a
hora do sacrifício, quando ela começava a me mostrar as revistas que
aparecias. Uma vez passou um filme
aqui, em que fazias o papel principal, a fui buscar e depois levar, trouxe os
dois para te verem.
Nesse dia fiquei com a mão doendo, soltou o
Tobias descendo do Jeep, me apertou tanto a mão que cheguei a reclamar.
Nessa noite a escutei chorar em seu quarto.
Bom vamos ao que interessa, quanto custa
esse jeep, mas tem que ser em nome do Tobias, pois não tenho carta de condutor.
O velho ficou todo cheio, sorria.
Sempre sonhei em ter um, depois pela
convivência com tua mãe, pensei, para que, morrerei em seguida.
Nada disso, preciso de ti.
Perguntou ao homem se ele conhecia alguém
para obras?
Bom posso falar com meu pai e meu irmão
mais velho, eu fui o único que escapou da construção, a minha vida sempre foram
os carros.
Aproveitou que estava ali, comentou chamou
o Dan, que perguntou aonde estava, tinha ido a sua casa, ninguém atendia, tua
vizinha disse que te viu sair depressa com uma mochila.
Ele disse, estou preparando o enterro da
minha mãe.
Porra se tivesses dito, iria contigo, estou
sem fazer nada. O xerife lhe informou para aonde tinha que tomar um avião, a
cidade não tem aeroporto, mando alguém lhe buscar.
Irei para o La Guardia agora mesmo,
arrumarei uma bolsa de viagem.
Depois os dois perguntaram ao mesmo tempo
quem era o Dan?
Meu melhor e grande amigo, foi ele quem me
lançou internacionalmente, inclusive no teatro e no cinema, ele me convenceu de
voltar para cá quando fiquei viúvo.
Foste casado, lhe perguntou o xerife.
Ele como se nada, disse que sim, com um
francês, por isso fiquei tanto tempo por lá. Depois te conto a história.
Num momento duvidou que tivesse feito bem,
mas depois pensou, eu sou assim, foda-se.
Precisava comprar roupas, viu que o velho
também, o da loja de carros, deu uns documentos provisórios para o Tobias,
tinha uma garantia de vários anos.
Qualquer problema, velho traz que eu
conserto grátis.
Tobias, o ameaçava com o dedo, como se faz
com uma criança.
Agradeceram ao xerife, este tinha dado o
seu número de telefone para o Dan, mandarei buscar.
Pararam num desses armazéns na saída da
cidade, que tem de tudo, comprou umas botas que não tinha, além de camisetas,
calças jeans, inclusive camisa de lã, para ele e Tobias, esse reclamava, mas
estava com uma camiseta cheia de remendos, tenho muitas camisetas velhas.
Nada disso.
No dia seguinte voltaram, encontrou o Dan
conversando com o xerife, aí ele ficou sabendo o nome do outro, Sam Worth.
Foram a cerimônia, realmente como o xerife
tinha falado, tinha algumas velhas, que estavam ali para ocupar o tempo, essas
vão a todos os enterros.
Uma moça se aproximou, sou a jornalista da
cidade, escrevo sobre arte, em geral, podias me dar uma entrevista qualquer dia
desses?
Sim, quando queria venha até a fazenda.
Teriam que voltar para buscar as cinzas,
foram almoçar, antes de irem para casa, Dan quando viu tanta comida, era um
restaurante mexicano, assim vou engordar.
Que nada gente ruim não engorda, sempre
estas igual de magro, creio que passas fome.
Quando chegaram na fazenda, viu que tinha
uma caminhonete, parada em frente a mesma, ah, o pai do rapaz, deve ter vindo
ver a casa.
Este estava andando por ela, com um outro,
que era a cópia do outro, um pouco mais velho talvez.
Riu, pois o senhor ia dizendo o que devia
anotar, claro, estava a casa cheia de panelas velhas para conter a agua.
Vou ser honesto com o senhor, faria uma
coisa, o melhor, e tirar o teto inteiro, fazer tudo novo, porque algumas vigas
estão más.
Posso arrumar as duas casas de empregados,
enquanto isso, o senhor decide. Mas temos que fazer isso antes do inverno.
Ele viu um papel em cima da mesa, desenhou
a varanda, desse lado o senhor a poderia fazer fechada, com uma coisa como esse
da cozinha que esquenta.
Este está para jogar fora, colocaríamos
dois, tenho que vir de manhã para revisar as duas casas que disse, que são as
mais próximas, arrumaríamos essas primeiro.
Em seguida começaríamos a obra, ah, meu
nome é Miguel Cervantes.
Ele riu, como o de Quixote, de Cervantes.
Sim esse mesmo, a cozinha eu a faria toda
nova moderna, os moveis, a maioria está para ser jogada fora, estão podres
cheias de bichos.
Ele entendia.
Voltariam no dia seguinte, para olhar o
resto de manhã, inclusive o celeiro.
O garoto vai gastar muito dinheiro.
Tobias, vieste o que tem no banco, posso construir
inclusive uma casa nova.
Depois que falou nisso, ficou matutando,
nada realmente o prendia em NYC, podia viver ali, não pensava mais em fazer
cinema, aqui seria como começar de novo.
Riu muito, teve que explicar aos dois, agora
só poderei fazer filmes de cowboy, que nunca fiz.
Dan estava apaixonado pela paisagem.
O senhor não viu o pasto de cima, é um
lugar muito bonito.
Não conte nada ao Dan, senão não vai te dar
sossego.
Adorava ter o velho amigo ali, o agradeceu
muito, ficou sentado com ele na varanda.
Esse ria, o xerife te devora com os olhos.
Dan, tudo o que quero é me encontrar comigo
mesmo, paz, esse anos com o Jean-Paul, foram bons, mas o final foi uma merda,
quero tranquilidade, vou me instalar primeiro.
Terei que chamar a diretora, menos mal que
meu contrato terminava agora, tenho que avisar que não renovo.
Depois irei a NYC, colocarei minha casa a
venda, mas isso pode esperar.
A vizinha tem chaves, ficou de abrir para
mim de vez em quando.
Foi anotando isso, tudo que tinha que
fazer, uma mania que tinha.
Tomaram uma sopa, depois ficaram os três
sentados na varanda, Tobias, insistia chamar Dan de senhor.
Pare com isso, sou velho mas nem tanto.
Por um momento, eles escutavam o silencio.
A cabeça dele estava a mil, pensando em
tudo que tinha que fazer pela frente.
Ali lhe faltavam vacas, precisava depois de
tudo pronto, ter gente para trabalhar, quem sabe um casal, para a mulher cuidar
da cozinha, na sua cabeça, se lembrou de uma mesa imensa que tinha visto na
loja, perfeita para a cozinha.
Terei que aprender a conduzir, foi o que
surgiu na sua cabeça.
Quando foram dormir, pois estavam ali
cabeceando, Dan dormiu no quarto que era da sua mãe.
De manhã se espreguiçava, dizendo que nunca
tinha dormido tão bem na vida, só levei um susto, por despertar, não saber
aonde estava.
Estavam tomando café, quando chegou o Miguel,
com muitos homens em várias caminhonetes.
Mandou cada um verificar uma coisa, um que
fosse olhar o telhado do celeiro, ver as frestas, ia dizendo anote tudo.
Outros dois as casas que tinha falado, uma
o telhado estava no chão.
Tobias ria, dizendo tua mãe sonhava com
isso, que chegasses, fizesse tudo isso.
Depois o Tobias preparou comida para todo
mundo.
Miguel disse que normalmente traziam uma
pessoa para cozinhar.
Montaremos barracas, para os primeiros
dias, até termos tudo com telhado novo.
Depois se sentaram para fazer contas.
Mais ou menos o valor, ele disse que queria
uma coisa, que a casa tivesse dois banheiros, um outro na entrada da cozinha,
quando os homens viessem comer.
Ele foi anotando tudo isso. A cozinha vamos fazer uma grande moderna,
sem querer tinha uma foto da do seu apartamento.
No meu apartamento, mandei fazer isso,
creio que podíamos encontrar alguma coisa igual aqui.
Outra coisa, troque todo o assoalho da
varanda, por madeira nova, se levantou, passei a noite sonhando com isso, disse
aonde queria fechar, era uma parte que ficava ligada a sala.
Outra coisa, a luz daqui é muito fraca,
isso precisa ser arrumado.
Tens tratores?
Posso conseguir.
Arrume antes de mais nada essa estrada,
pois está uma merda.
Como queres que te pague?
Fazemos o seguinte, conforme for terminando
as coisas, vou dizendo quanto custa, vamos abatendo.
Apertaram as mãos.
Dan, ria, esse é o meu garoto, sempre foi
assim uma pessoa decidida.
As vezes o pegava contando histórias dele
para o Tobias.
Até o velho Tobias parecia ter remoçado.
No dia seguinte despertaram com caminhões
chegando, além de um trator, que arrumou uma parte do pasto para fazerem a
cozinha, bem como algumas tendas, assim que o celeiro estivesse pronto podiam
ficar lá.
A primeira casa, era a que tinha caído o
telhado, os homens já estavam tirando tudo, era a antiga casa de um casal que
tinha trabalhado anos ali com sua mãe, tinha dois quartos, uma sala, uma
pequena varanda, ali talvez ficasse eles.
Dan nem falava em ir embora, prestava
atenção em tudo.
Tobias subiu, trouxe uns quantos cavalos,
ele o ajudou a passar graxa nas celas que estavam no celeiro, quando olhou para
o lado, o Dan olhava, fazia igual.
Quem diria um homem de cidade fazendo essas
coisas.
Lhe
perguntou se tinha andado a cavalo alguma vez.
Ele disse que sim, mas que fazia
séculos. Vá te acostumando, pois depois
só andaremos assim, falava num futuro, Dan sorria, graças a Deus não dizes, bom
já cumpriste com a obrigação, até logo, adeus.
Dan eres o único amigo que eu tenho, como
podes pensar isso.
Ou viveras aqui, ou quem sabe largas
temporadas.
Já verei, como tempo decido.
O homem que cozinhava era relativamente
jovem, contou que tinha tido um acidente numa obra, que gostava disso de
cozinhar, aqui eu sou o rei.
Era um descendente de mexicanos, tinha
olhos verdes, era no fundo bonito, viu que o Dan se interessava pelo mesmo.
Foram comer todos com eles, elogiaram a
comida, estava muito bom.
Dan ria a não mais poder, ele tinha o
habito de ir comer num restaurante perto de sua casa, de judeus, comida Kasher,
por isso nunca engordas.
O rapaz disse que sabia fazer algumas
coisas de comida judia, porque seu pai, era judeu, minha mãe, é mexicana, mas o
velho era judeu.
Entraram em rotina, o xerife apareceu
várias vezes, Dan soltava que no fundo era para ver seu futuro namorado.
Dan já andava bem a cavalo.
Um dia saiu para dar uma volta, com o Sam,
ele disse que ele montava bem.
Claro andei a cavalo toda minha juventude,
foi como pegar um ponto de partida nada mais.
Na França não andava a cavalo?
Só uma vez fiz um filme que tinha uma cena
assim.
Lhe perguntou se podia fazer uma pergunta
indiscreta?
Claro, pode perguntar, mas lembre-se eu
falo sem problema nenhum das coisas.
Me fale de quem ficaste viúvo.
Sem problema nenhum lhe contou do
Jean-Paul, do que tinha acontecido, imagina que sai daqui sem acabar os
estudos, um dia pensei por que não retornar.
Ele adorava a alta sociedade aonde tinha sido criado, eu ao contrário me
aborrecia. Falava e lia francês, mas não
sabia escrever, parti daí, até chegar à universidade.
Ele entrou naquela fase, como muitos amigos
dele, que achavam que fazer sexo com um jovem, recuperavam essa famigerada
juventude.
Um dia voltei da universidade tarde, o
encontrei na cama, com um rapaz, que podia ser seu neto, queria que me unisse a
eles. Fui embora.
Nem me lembrava que quando saiu o casamento
gay, tínhamos nos casado. Depois fui
buscar minhas coisas, lhe disse que seguiria estudando, aluguei um apartamento,
segui fazendo minha pós-graduação, até que vieram me avisar que o tinham
assassinado.
Levei foi um choque em ver que andava nas
drogas com esses jovens, o rapaz, ninguém sabia de aonde tinha vindo. Para que falassem mal de mim, paguei um
advogado para o defender.
Pois se via que o mesmo se prostituia, por
não ter como viver.
Obrigado por confiar em mim.
Depois disso, sou honesto, nunca mais
estive com ninguém, na minha juventude tive um romance com o Dan,
principalmente porque ele é uma pessoa fantástica. Mas é o meu melhor amigo
hoje em dia.
Não sou de aventuras, ele me ensinou bem,
aceitava os convites para festas de milionários, que querem um namorado bonito,
pergunta a ele como fazia.
Mas sem querer de uma delas, saiu minha
primeira oportunidade para fazer teatro.
Agora sou eu que te pergunto, sabes se na
cidade, tem alguma escola precisando de um professor de francês, ou de
literatura, pois queria continuar dando aulas.
Vou me informar, disse o Sam rindo, até eu
quero aprender falar francês.
Ele brincando, soltou, para o que? Dizer mon Amour.
Talvez, por que não.
As vezes aparecia na hora que sabiam que
iam comer, esse rapaz, cozinha de maravilha, tem uma história trágica, menos
mal que Miguel, o contratou.
Sentado na varanda pensava, que coisa
estranha, pensei em chegar aqui, partir em seguida, “não mais que um dia”, mas
parece que fico.
Analisava as possibilidades, as obras
tinham andado num ritmo excelente, metade da casa já estava pronta, a varanda
parecia outra, tinha subido com o Tobias para levar as cinzas de sua mãe, era
um lugar especial, dali se via todo o vale, estava também a urna do meu avô,
segundo Tobias, ele tinha feito desenterrar os ossos de minha avô, para serem
cremados, estavam ali também.
Espero um dia meu garoto que as minhas
esteja aqui também, eles foram a minha família toda a vida. Conheci teu avô do outro lado, nem sei
direito como vim para lá, meus pais viviam de rodeio em rodeio, como teu
padrasto, ele odiava crianças, quando pode, achou que eu tinha idade para me
virar, me mandou fazer alguma coisa, quando voltei, não estavam mais.
Acredito que nunca mais tenham vindo em
rodeios por aqui, com medo que eu aparecesse.
Por sorte no dia seguinte, caia um temporal
desgraçado, teu avô passou com a caminhonete, me viu embaixo da chuva, me
trouxe para cá, nunca mais sai daqui.
Talvez tenha sido o filho que ele queria, o acompanhava a principio como
uma sombra, tinha medo de ficar para trás.
Me tratou sempre bem, inclusive me deixou
algo de dinheiro se eu quisesse comprar terras.
Numa das feiras agrícolas, comprei um
garanhão, que tinha um problema na pata, o curei, agora esta lá em cima, com um
bando de éguas, seus potros são os melhores, rápidos.
A última vez, precisei de ajuda desses
garotos para os separarem, pois daqui a pouco iam começar como sempre a
brigarem com o pai.
O que eu gosto do pasto de cima, é isso, é
tão grande, pouca gente sabe que existe, assim eles podem formar seus grupos,
sem problemas.
Nesse ponto alto, se tinha uma vista
fantástica, iria trazer o Dan, ele tinha ido até NYC, ia buscar material para
trabalhar.
Tinha pensado em alugar seu apartamento,
mas lhe dava medo, pois nunca se sabia a quem, Dan iria conversar com a
vizinha, bem como lhe dar dinheiro para limpar o meu.
Iria trazer algumas coisas de inverno para
mim.
O Sam seguia aparecendo sempre, podia
conversar horas com ele, tinha conseguido a informação que eu lhe pedi, fui
falar com a diretora da escola, que ficou surpresa, tinha sido uma companheira
minha de infância.
Nem sabia que estavas vivo, mostrei meu
curriculum, inclusive das classes que dava na Escola em NYC, ela gostou, me
convidou para a próxima reunião de pais de alunos, bem como professores.
Consegui o lugar, teria duas turmas, uma de
francês, outra de literatura.
Fui olhar a biblioteca, para ver como
estavam de livros, era muito pobre.
Telefonei para o Dan em NYC, fiz uma lista,
disse aonde ir, que comprasse, despachasse para a escola, livros em francês,
inglês, literatura inglesa, enfim um bom surtido para começar.
Achei estranho no dia seguinte que ele foi,
o cozinheiro não estava ali, tinha agora a mulher do Miguel.
Ele foi com o senhor Dan, pois este quer
voltar de carro, os dois se dão bem, assim Nico, conhece uma cidade grande.
Miguel, se sentou me contou sua história,
era seu sobrinho, o mais frágil entre os irmãos, o pai lhe pegava, por isso,
minha mulher o trouxe para viver conosco, um dia me contou que estava
apaixonado por um dos homens com quem trabalhava nas obras, viveram juntos um
tempo, até que o outro arrumou um que apareceu aqui.
Numa briga com o Nico, o empurrou na obra,
ele caiu de costas, por sorte, não morreu, mas agora tem um problema, não pode
levantar peso, fazer trabalho complicados, mas tem bom gosto o garoto.
Aprendeu a cozinhar com minha mulher, aliás
cozinha melhor do que ela. Dá um duro
desgraçado, como agora, fazendo o café da manhã, o pão é ele quem faz, a comida
do pessoal.
Eu gosto dele como meu filho, quando
conheceu o senhor Dan, ficou fascinado, um homem com a vivência dele, se
interessar por ele. Está apaixonado,
embora saiba que o senhor Dan é mais velho do que ele.
É uma pessoa de inteira confiança, meu
melhor amigo, contou ao Miguel, como o tinha conhecido, o que tinha feito por
ele.
Fico mais tranquilo, minha mulher só tem
medo de que Nico se deslumbre pela cidade grande, queira ficar lá.
Na véspera de saírem, Dan se matava de rir,
pois pensou o mesmo, que Nico talvez quisesse ficar lá. Desde ontem tem a sua bagagem pronta, esta
louco para voltar, o levei aos restaurantes, nada desse que vão as bichas
ricas, mas sim, aonde se come bem.
Alguns eu conhecia a chefe, lhe mostrava a
cozinha.
Mas gostamos mesmo de estar juntos, é uma
nova vida começando para mim.
Iremos devagar com o meu carro, vai
carregado, algumas coisas que pediste estou levando eu mesmo.
Chegaram cinco dias depois, Dan parecia
mais jovem, tinha um sorriso de lado a lado permanente.
Combinou com ele, que assim que tivesse
descansado, ele trazia material, para montar um laboratório, queria fazer fotos
analógicas, como quando tinha começado.
Nico, estava feliz, isso deixou seus tios
mais tranquilos.
A cozinha da casa, foi ele quem organizou,
um dia foi com Dan até a cidade, comprou tudo que achava necessário, além de
novo para a cozinha da casa.
Agora dormiam juntos sem se preocupar com
ninguém.
Depois Dan me contaria a versão do Nico da
história de sua vida.
O celeiro tinha ficado pronto, estava bom
para receber as éguas que iam parir no inverno.
No pasto de cima, tinha uma coisa
diferente, seu próprio ecossistema, quase não nevava, os cavalos tinha lugares
para se abrigarem.
Antes de começar a nevar, subiria, já
tinham falado como Sam, ele os apresentou a uma serie de jovens cowboys, mas
Tobias foi atrás dos garotos que o tinham ajudado.
Estavam ganhando mal, aonde estavam, eu lhe
dei carta branca para os contratarem, eles ficariam na casa menor, tínhamos
pensado na outra ter uma família, mas claro como o Nico ficava como cozinheiro,
cuidando da casa, acabamos contratado mais dois cowboys.
Comeriam todos na grande cozinha, tinha
sido aumentada, para ficar como o Nico queria.
Tobias estava louco para subir, começar a
separar os cavalos, haveria uma feira antes do inverno, ele queria levar os
melhores para vender, eu o considerava como sempre o administrador da fazenda.
Quando subimos, Dan levou em dois cavalos
mais velhos, tudo que queria para trabalhar, ficou nessa parte, aonde se tinha
uma vista geral.
A partir daí, podia fotografar de
tudo. Levamos duas semanas lá em cima, Nico
tinha ido junto, os homens montaram tendas, Sam pediu férias, para ir junto,
por nada do mundo perderia isso, tua mãe falava tanto nesse lugar que sonhava
com ele.
Ele compartia tenda comigo, as vezes de
manhã me olhava, eu lhe sorria, um dia de noite lhe dei um beijo prolongado, nessa
noite dormimos juntos.
Era todo um espetáculo, ver Tobias, junto
com os dois garotos, pareciam que os cavalos os conheciam, iam separando o que
deviam descer, os outros dois, os levavam para um cercado que tínhamos feito
fora dali.
Depois o que deu trabalho, foi separar as
éguas que estavam para parir.
Tinha um potro que não deixava de seguir o
Sam, claro esse sempre tinha um troço de cenoura nos bolsos. Lhe dei o mesmo de presente.
Esse ele mesmo levou para o cercado.
Descemos a primeira leva, com as éguas, a
maioria já indo para o celeiro, aonde iriam parir.
Dan tinha ficado lá em cima, como um louco,
fazendo fotos, quando voltamos, teve um dia que tinha caído um puto temporal, ele
me disse depois que tinha feito no meio disso tudo umas fotos incríveis, ousei
descer, fazer fotos no meio deles.
Claro os cavalos já conheciam seu cheiro.
Quando finalmentes descemos, me disse a
parte, quando eu morra, também quero minhas cinzas aqui.
Achei ótimo o Sam ainda ficar uns dias,
dormíamos juntos, fazer sexo com ele, era como uma batalha, eu adorava, ia
descobrindo seu corpo liso, cheio de músculos, quase nenhum pelo.
Me disse que tinha se apaixonado por mim,
pelas revistas, mas quando me viu pessoalmente, queria me beijar.
Teria agora que decidir. Quem tomou a iniciativa foi o Tobias, pois
pediu ajuda a ele, com a administração, ajudar a selecionar os cavalos para
venda.
Eu ria, o sem vergonha esta preparando
terreno, para o Sam ficar aqui.
Antes da feira ele foi um dia a cidade,
avisou ao seu superior, que iria mandar alguém para lá.
Mas precisava que ele ficasse durante a
feira, pois era uma época confusa.
Alugamos um espaço para apresentar os
cavalos, bem como caminhões, para os levar, menos mal que a estrada agora era
boa.
Sam me ensinou a dirigir, pois agora eu
teria que ir três vezes por semana a cidade, dar aulas.
De tarde me sentava, no velho escritório de
minha mãe, preparando aulas.
Sam se matava de rir, dizia que eu ficava
sexi com os óculos pendurados no nariz.
Ele se sentava na mesa ao lado, anotando as
despesas.
Tinha feito com o Tobias, toda a
administração, dos gastos das obras da fazenda.
Tobias, dizia que para o ano, devíamos
pensar em construir um outro celeiro, mais grande, usar esse para comprar
tratores, o que temos esta velho, um desses modernos, que já embalam o feno,
pronto para guardar, assim eles poderiam ficar guardado na parte de cima do
celeiro.
O tempo voou, a única surpresa da feira,
além de termos vendido todos os cavalos, foi um garoto que os pais abandonaram
lá.
Tobias se tomou de amores com o
garoto. Dizia que era como ele,
aparentemente frágil, mas teria forças, estava mal alimentado.
Tobias não o podia adotar, por causa da
idade, o jeito foi o Sam resolver isso, ficando ele responsável pelo garoto,
que acabou virando nosso filho.
Seu prato sempre era caprichado, Nico o
tratava como seu filho também.
Dan estava todo o tempo fechado em seu
laboratório, as vezes ao meio-dia Nico tinha que ir chama-lo, vinha com os
olhos brilhando, eu lhe cobrava, quando ia nos mostrar seu trabalho.
Os da escola, ficaram como loucos, quando
chegaram caixas e caixas de livros, para a biblioteca.
Quando comecei a dar aulas, a princípios os
garotos, estranharam, pois eu usava um método todo meu. Impunha respeito, falava com todos eles pelo
nome.
No dia que eu dava literatura, depois me
reunia com eles, na biblioteca, tirando duvidas deles, das palavras, os ensinei
a usarem um bom dicionário, para isso.
Os que a principio não gostavam começaram a
tirar notas mais altas.
Quando acabou o semestre, a diretora,
elogiou meu trabalho, esses meninos nunca tiraram notas tão altas.
Quando me dei conta, os anos tinham
passado, Tobias já devia estar fazendo mais de 100 anos, mas ele mesmo não
sabia sua idade.
Agora ficava sentado na varanda, nosso
filho, lhe demos o nome de meu avô, Joseph Paster, era quem levava o Tobias
para todos os lados, as vezes o colocava na cama, ficava ali escutando as
histórias que ele gostava de contar dos cavalos.
Ensinava a ele todos os truques que usava
para maneja-los.
Os dois rapazes que tinham ficado, os que
eram como afilhados do Tobias, viviam juntos, de vez em quando brigavam como
todos os casais.
Corriam para conversar com o Dan.
O dia que este apresentou as fotos, a fez,
como tinha montado, um livro, o primeiro que viu foi o Tobias em particular.
Eu o escutava falando, explicando coisas
para o Dan, tudo que ele falou, posteriormente seria o texto do livro.
Era todo em branco e negro, só cavalos,
algumas fotos dos garotos, comandando os cavalos, uma minha em cima do meu, com
meus cabelos largos, soltos ao vento.
Sam soltou que queria uma para o nosso
quarto.
Dan fez uma dos dois sentados numa roca, sem
roupas, para nosso quarto.
Rimos muito.
Ele mesmo foi levar o trabalho todo para
NYC, para mandar imprimir.
Faria com isso uma exposição na galeria de
um amigo, como uma despedida.
Nessa época um dia Tobias não despertou,
foi interessante a quantidade de gente que apareceu no enterro, depois subimos
com suas cinzas para deixar juntos ao que ele falava sua família.
Depois fomos para NYC, para a inauguração
da exposição do Dan. Ficamos na minha
casa.
A vizinha riu, saiu daqui sozinho, volta
com filho e tudo.
Mas o ruido da cidade, me atordoava, no
segundo dia, disse ao Sam que estava louco para voltar.
Ele ria muito, para aonde?
Para o nosso ninho.
Meu filho Joseph, a principio se
deslumbrou, mas depois reclamava da confusão.
Os livros do Dan, venderam como água, ele
perguntou se eu me incomodava dele construir uma cabana lá para ele morar. Queria ter seu studio, bem como um ninho,
como eu chamava com o amor de sua velhice.
Despachou tudo que tinha na seu
apartamento, mandou os livros todos de sua biblioteca, para a escola aonde eu
dava aulas, uma doação de peso.
Eu também tive uns dias para fazer isso,
comprar coisas para lá.
Sam dizia, que era muito dinheiro. Lhe mostrei o que tinha no banco em NYC,
tenho que gastar isso em algo produtivo.
Ele quando voltamos assumiu definitivamente
a administração da fazenda, só posso dizer que foi quando me dei conta, que
minha escolha tinha sido acertada, tinha ido para ficar só um dia, ou talvez
dois, já estava a anos.
Seguimos o trabalho, cavalos, pasto de
cima.
Os dois rapazes, agora fazia uma parte do
trabalho do Tobias com eles, os tinha preparado bem, o Joseph, se encaixava
perfeitamente nisso.
Já tinha meu herdeiro.
Quando Joseph teve idade, ia a escola todos
os dias, comigo, eu esperava até o final das aulas para traze-lo de volta.
A diretora foi me dando cargos de
importância, de como ensinar os outros professores, alguns se desmotivavam, eu
os colocava para frente.
Dois anos depois adotamos novamente um
garoto, que o pai tinha morrido no rodeio, vinha só com esse homem, não sabia
explicar se tinha mãe.
Joseph o acolheu sobre suas asas.
Fomos levando a vida, eu sentia uma paz
incrível, vendo minha família.
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