SVEN SKOV

 

                                                

 

Sou de uma família imensa, para as de hoje em dia, meus pais tinham 8 filhos, isso ele dizia que assim não precisava pagar ninguém para trabalhar para ele.

Vivíamos no cu do mundo como dizia meu irmão mais velho, quase no final de uma estrada que seria sua ligação com o mundo.

Criava porcos, pois era o que todo mundo em volta fazia, pois a única coisa que dava emprego as pessoas ali, era isso, uma fábrica de salsichas.   Todos em casa eram grandes, eu tinha dois metros de altura, meu irmão mais velho, dois metros e dez de altura, as mulheres também eram grandes, pois claro desde criança todos trabalhavam duro.

Cuidávamos dos porcos, havia que estar sempre cortando lenha, não só para o velho fogão que ele se negava a mudar, bem como uma grande lareira que esquentava a casa inteira.

Estudos, bah, para que dizia ele, que soubéssemos contar, assinar o nome bastava, mas eu tive sorte, por causa de uma lei, na cidade apareceu uma mulher desses duras na queda, as crianças tinham que ir à escola, até a idade para irem à universidade.

Eu então me dividia, levantar as cinco da manhã, era noite profunda ainda, alimentar os porcos que me correspondiam, nessas alturas minha querida mãe já estava em pé, tomava café, me vestia, ia para a escola, de lá voltava para casa, seguia trabalhando.

Com 14 anos, comecei a trabalhar na fábrica, levantar as cinco da manhã, porcos, depois escola, de lá á fabrica, saia as oito, chegava em casa, comia, estudava um pouco, cama.

Minha mãe descobriu que eu era considerado o melhor aluno da escola, tirava as melhores notas, sem fazer muito esforço.

Evidentemente eu era seu preferido, meus irmãos e irmãs, saíram todos ao meu pai, eu era o único que era parecido com ela, se me colocassem ao lado dele, ninguém diria que era seu filho.

Ela só ia a cidade para fazer compras de supermercado.

Nessa época meu irmão, mais velho um dia desapareceu, tinha ido embora, tinha feito uma coisa, como a empresa depositava os salários no único banco da cidade, ele deixou de dar dinheiro ao meu pai.  Assim conseguiu formar um pé de meia, um dia desapareceu.

O segundo, bom esse pensava como meu pai, para que ia embora, quando fez 18 anos, se casou, com uma vizinha, era uma família que só tinham mulheres, era tão grande como ele, tinham se conhecido na escola.

Era uma mais, para trabalhar segundo meu pai.

Um dia o diretor da escola chamou minha mãe, que foi nervosa, me perguntou antes no velho carro se eu tinha feito algo errado.   Nem tinha ideia.

O mesmo disse para ela, que eu poderia ir para uma cidade maior, me preparar melhor para conseguir uma bolsa de estudos, para ir à universidade.

Meu pai fez um escândalo imenso, para que, se ia ficar o resto de minha vida, cuidando de porcos.

Isso ficou na minha cabeça, eu odiava cuidar dos porcos, pois parecia que o cheiro deles entranhava na nossa pele.

Passei como meu irmão, a dar o mínimo em casa, meu pai me dava uma bronca incrível, em que eu estava gastando dinheiro.

Ele nunca tinha confiado em bancos, guardava tudo em latas, que guardava em seu escritório, mal contava o dinheiro, quem controlava era minha mãe, eu muito sem vergonha, sabia que o que teria quando fizesse 17 ou 18 anos, não daria para ir à universidade.

Fiz uma coisa, ia tirando das latas mais velhas, as notas que estavam por baixo, pois por cima, ele colocava um papel preso com elástico.   Fui depositando tudo no banco.

Estava ficando desesperado, quando ele resolveu que para assentar a cabeça que eu tinha que me casar, um outro vizinho tinha filhas também, me apresentaram a garota, notei que ela passava muito a mão pela barriga, me lembrei que minha mãe fazia isso quando estava gravida dos meus irmãos menores.  

Não era tonto, comentei com minha mãe isso, a escutei discutindo com ele, a garota realmente estava gravida, mas será um mais para trabalhar aqui, grátis, dizia ele.

Mas a coisa se torceu, pois na véspera do casamento, ela se enforcou, foi um escândalo imenso, depois soubemos que o pai, tinha abusado da mesma.

O irmão que tinha se casado tinha dois garotos gêmeos, a mulher vivia reclamando que para trabalhar assim, ela tinha ficado na granja de seu pai, que era mais fácil de lidar.

Um dia convenceu meu irmão, foram viver com a outra família.

Meu pai, montou um escândalo, dizendo que isso que dava mandar os filhos a escola, esqueciam que deviam obedecerem aos pais até morrerem.

Ele não perdoava de maneira nenhuma meu irmão mais velho.

Minha irmã depois de mim, tinha a mesma altura, se a visse caminhando pela rua, pensaria que era um homem, ela brincava de fazer pesas segurando um porco com cada mão, subindo, abaixando, era o braço direito do meu pai, na criação.

Essa sim, nunca saíra daqui dizia ele todo orgulhoso.

Eu levava as contas da granja, como agora também ganhava mais, pois trabalhava no escritório da fábrica, conhecia todo mundo.  Era eu que preparava os envelopes, com os pagamentos, um outro trabalho que valia a pena, era os de motoristas, tinham que levar a salsichas, até quase Estocolmo, mas tinha um que fazia um outro tipo de viagem, descia essa estrada toda, depois atravessava ia para Oslo, esse era meu cometido.

Se fosse para Estocolmo, meu pai podia ir atrás de mim, nem pensar.

Fui me informando, na escola tinha um professor que era de lá, começou a me ensinar as diferenças da língua que eram parecidas.

Me dizia que eu tinha futuro, eu sonhava com isso, ir à universidade, já tinha lido basicamente todos os livros interessantes da biblioteca da escola.

Minha conta cada vez aumentava mais, um dia o gerente da fábrica me chamou, eu tinha que fazer um curso numa cidade maior, aonde eles tinham a central.

Meu pai, quase saiu aos tapas com o homem, não deixou, ele me avisou que no meu lugar iria outro, mas que eu perderia meu lugar, teria que voltar a trabalhar na fábrica.

Fiz amizade com o homem que levava o caminhão até Oslo, sabia os dias que ele ia.

Um dia de brincadeira, disse que ia me escapar com ele.

Riu muito, se falava muito dele, pois nunca tinha se casado, na época devia ter uns 40 anos.

Eu sempre destoava dos outros, enquanto todos eram loiros, olhos azuis, muito brancos, eu tinha saído minha mãe, tinha os cabelos castanhos escuro, olhos azuis, mas mais para o escuro, a pele sim era branca demais, um bom corpo, hoje diriam que eu ia ao ginásio, mas lá nem se sabia o que era isso.

Me preparei, na surdina, peguei duas latas das que estavam por baixo de tudo, retirei o dinheiro que estava dentro, levei tudo para o Banco.

Nas vésperas de ir embora, fui lá, perguntei se tinham agência em Oslo, não tinham, então pedi um cheque no valor que tinha ali, que para os da cidade era muito, mas daria para começar em Oslo.

Guardei um pouco para a viagem.

Nesse dia, sabia qual o horário que ele saia da fábrica, tinha combinado com ele, me esperava numa curva depois de minha casa.   Fazia um frio desgraçado, tinha nevado durante a noite, me levantei, peguei uma mochila, a que sempre usava, mas dentro ao contrário de livros, tinha duas calças jeans, cuecas destas até embaixo térmicas, camisetas térmicas, além de um outro polar.

Ele tinha o motor em marcha, nessa noite ainda peguei mais dinheiro, que enfiei na mochila.

Fomos embora, ele parou deviam ser as 10 da manhã para tomarmos um café, depois parou para comermos, além de abastecer.

Quando fomos ao banheiro, vi que ele mirava meu piru, comentou que era grande, como meu tamanho.

Fiquei sem saber o que falar, não tinha experiencia.

Quando chegamos a fronteira era de madrugada, teríamos que esperar o dia amanhecer, ele conseguiu alguma coisa de comer, café quente, abriu uma cama na parte detrás do assento, me disse, agora te toca pagar a viagem.

Fiquei mais branco que a neve segundo ele, mas o que ele queria estava no meio das minhas pernas, entendi então por que ele não era casado, gostava de homens.

Dizia que as mulheres eram chatas na cama, que os homens eram mais divertidos.

Me ensinou como me devia comportar, abaixou as calças, abriu a minha, colocou meu piru inteiro na sua boca, foi me excitando, quando viu que estava como queria, se sentou em cima, mas não me deixava gozar, quando via que estava a ponto parava.

Vê uma mulher, goza, mas os homens podemos controlar mais, elas mentem, querem que gozes logo para acabar isso, se estão casadas, tem dor de cabeça, o sujeito falava isso em tom divertido, depois voltava a me provocar, eu gostei demais, o duro era isso, fazer sexo de roupa, pois fora fazia muito frio.

Logo de manhã, atravessamos, aonde tinha que descarregar, era fora da cidade.

Ele deixou o caminhão lá, pois agora teria que esperar que carregassem o que era para levar de volta.

Nessa noite dormimos num motel ali perto, aí sim fizemos sexo direito.

Cheguei à conclusão que gostava de fazer sexo com homens.

Tinha prestado atenção, a cada x tempo parava um ônibus, que tinha uma placa, centro de Oslo.

Perguntei a um garçom, se funcionavam a noite inteira, me disse que a partir das quatro da manhã, vi que meu companheiro antes de dormir, tomava uma pastilha, comentou que isso da estrada, cansava, pois ficava com o sono todo desajustado, hoje dormirei até tarde, pois antes do meio-dia, o caminhão não está carregado.

Acostumado como estava de me levantar as cinco, foi o que fiz, tomei um belo banho bem quente, me vesti, falei com ele, que resmungou.

Sai de fininho, entrei no primeiro ônibus que passou, comprei um bilhete, me sentei fui observando tudo.

Agora era encontrar um lugar para ficar, quando vi o mesmo passava em frente a área que era da universidade.

Dei o sinal, desci, ali parecia tudo morto, vi um bar grande, pedi um café da manhã bem carregado.

Me informei se por ali tinha algum quarto para alugar, fiquei conversando com o dono, pois tinha pouca gente no lugar.

Estás procurando emprego, eu preciso de ajudante na cozinha, mas para o turno da noite.

Me mostrou uma casa, aonde acabavam de acender as luzes, ali vive uma irmã minha, sempre aluga quartos para estudantes, vou ver se pode te atender.

As aulas ainda não começaram, quem sabe.

Fui até lá, era uma mulher como minha mãe, eu poderia passar por seu filho tranquilamente.

Me falou que era viúva, na parte de cima da casa, tinha dois banheiros, depois quatro quartos, que alugava para estudantes, mas só para uma pessoa, depois entendi, eram pequenos.

Me levou a um, em que a cama era maior, assim não dormes com os pés fora.

Falei que ia tentar trabalhar com seu irmão.

Só me disse uma coisa, cuidado que é muquirana, paga mal, por isso não para ninguém, eu lhe respondi que tinha que começar em algum lugar.

Depois foi a universidade, me informei aonde era a secretária, mostrei meus papeis, uma das senhoras me acompanhou a falar com um diretor de área, nem sabia o que era isso, lhe disse o que queria estudar, literatura, queria futuramente ser escritor, mas também queria estudar línguas.

Ele disse que eu teria que fazer uma prova.  

Sem problemas, não disse nada, que o professor que me tinha dado aulas, já tinha me feito uma prova similar, me tinha soltado, tens que pensar que vão te avaliar.

Disse o tempo que eu tinha para fazer, me colocou numa mesa, enquanto numa outra ele escrevia alguma coisa.

Eu estava deslumbrado, pois ele usava um laptop, que eu nunca tinha visto um na vida.  Escrevia sim numa máquina dessas de escrever da fábrica, nos dias de muito frio, ficava com a ponta dos dedos doendo.

Foi quando me toquei que não tinha pedido a demissão, mas claro tinha uma explicação, se o tivesse feito, meu pai teria descoberto.

Na minha cabeça, minha ideia era estudar muito inglês, conseguir ir para a América.

As raras vezes que passavam filmes na cidade, quando muito a cada dois meses quando aparecia um homem com seu maquinário, eu sabia que muitos conhecidos tinham televisão, mas meu pai achava que isso fazia as pessoas dormirem tarde, havia que levantar cedo, o filho da puta era o que se levantava mais tarde, já para dar uma olhada nos porcos, depois ir para a fábrica, fazer salsichas.

Nem prestei a atenção no tempo, fui respondendo, realmente era muito parecida com o que tinha feito antes.   O homem elogiou, que eu tinha respondido tudo, iria corrigir que eu voltasse no dia seguinte.

As aulas seriam pela manhã, perguntou se eu tinha alguma bolsa de estudos.

Claro que não, esperava ir ao banco, para depositar o talão de cheque que tinha, bem como algum dinheiro que tinha na mochila.

Pedi indicação de algum banco por ali, fui a um que era da Suécia, então não houve problemas com o cheque, além de depositar uma parte do que tinha na mochila.

Dei uma volta por ali, já sabia o quanto me pagaria o irmão da senhora, lhe tinha pago três meses de aluguel do quarto.

Tomei um ônibus, fui para o centro da cidade, andei para ver como era, nunca tinha visto uma cidade grande.   Fiquei como louco com uma livraria, era muito maior que a própria biblioteca da escola.

A senhora gentil, me perguntou se eu ia fazer universidade, lhe disse que sim.

Então quando fizeres a matricula, vão te dar um cartão, com ele te damos descontos.

No dia seguinte, fui a universidade, tinha sido aprovado, me disseram quanto custava a matricula, que paguei com o cartão de crédito que me tinham dado no banco.

Agora o jeito era pensar se ia trabalhar com o homem, uma senhora, que estava ali na secretária, me viu olhando um lugar cheio de ofertas de emprego.

Viu que olhava um da própria biblioteca da universidade.

O que vais estudar?

Mostrei em que tinha acabado de me matricular.

Disse que fosse com ela, era a chefa da biblioteca, me falou que mesmo as meninas que vinham estudar biblioteconomia, queriam era arrumar um marido, quando ofereço trabalho, dizem que querem aproveitar esse tempo para viver.

Se eu tinha me deslumbrado na livraria, imagina ali, parecia que estava no paraíso.

Ela riu, não me enganei contigo.

Lhe contei que a biblioteca da escola aonde eu tinha estudado, quando muito eram duas filas de estantes num lugar estreito.

Me disse qual o serviço, além do que pagavam.

Estava perfeito, poderia seguir pagando o quarto sem problemas.

O professor me passou para entrevistas com os outros professores, foi interessante que todos diziam o mesmo, que bom que chegas cedo, pois a semana que vem isso vai ser uma loucura, todo mundo deixa para a última hora.

Eu dizia em seguida que iria trabalhar na biblioteca, um deles rindo disse que pelo menos eu tão teria que subir escadas, para colocar os livros de cima.

Era uma verdade, era só esticar o braço.

Iria descobrir depois que a mesma se dividia em duas partes, uma era para os alunos que começavam, mas tinha uma outra mais reservada, que era para os que faziam pós-graduação, essa era melhor, funcionava também diferente, os alunos, ou professores, chegavam marcava os livros que queriam ler, me tocaria, ir buscar, procurar para eles, depois devolver ao mesmo lugar.   Tive sim que aprender a usar o computador, o que foi bom.

Nessa época antes de aulas, já estavam ali os que faziam pós-graduação, foi o primeiro contato com um mundo que eu desconhecia totalmente.

A senhora gostou quando disse que não ia trabalhar com seu irmão, que iria trabalhar na biblioteca da universidade.   Tens agora que arrumar uma bicicleta, para se mover.

Lhe disse que estava acostumado a andar largas distancias, que isso era bom para mim, pois usava esse tempo para pensar.

Quando começaram a chegar os outros alunos, eu vi que estava defasado no tempo, pois a maioria chegava com seu laptop, fones de ouvido, andavam todos com um celular, pendurado, escutando alguma coisa.

Eu nem me imaginava com um, pensei para que.

Chegaram também duas pessoas novas na biblioteca, uma era a que cuidava da parte dos alunos novos, outro era um rapaz, que tinha feições de alguma tribo, era loiro, mas tinha os olhos puxados, depois descobri que o pai era dali, mas a mãe japonesa.

Ficamos amigos, foi ele que me deu um toque, se eu não tinha um laptop, vais necessitar pois os professores mandam as vezes o que tens que estudar por Messenger.

Eu soltei o famoso “o que”?   ele ria muito, estas fora do tempo.

Me levou a um rapaz que segundo ele recauchutava os laptops, as vezes as pessoas nem sabem como usar isso direito, estragam sem saber por quê.

Ele arrumava os mesmos, vendia como de segunda mão.

Me conseguiu um que me acompanharia uns bons anos. O Jin, me disse que se eu precisasse de copias podia fazer ali mesmo na biblioteca, me ensinou como faziam os outros alunos, com ele foi aprendendo mil coisas.   Ele já estava no terceiro ano de literatura.

Conhecia bem a cidade, aonde comer bem, embora ao meio-dia comíamos na cantina, me disse o melhor horário para ir, essas coisas,

Descobri depois com o tempo, que ele morava num edifício ali perto, que todos os apartamentos eram studios, pagava o mesmo que eu por um quarto.  Quando um ficou vago, me avisou, paguei os três meses, agradeci a senhora que tinha me acolhido.

Ela riu, as vezes tenho que ir atrás, pois as pessoas vão embora sem pagar o último mês, tu me avisaste antes, por isso só te cobrarei os cinco dias que estas aqui.

Limpei o mesmo a fundo, comprei uma cafeteira, fiz tudo para uma pessoa, um copo, um prato, coisas que tinha num supermercado perto de casa.

O mesmo tinha uma cama grande, embora eu ficasse com os pés para fora, mas isso estava acostumado, só tive que comprar roupa de cama.

O Jin, disse para esperar o final de semana, me levaria a Ikea, foi o que fizemos,

Comprei o que faltava.

As aulas iam bem, a cada coisa que me passavam, eu estudava profundamente.

No segundo semestre Jin me disse que teriam um professor ensinando como escrever um livro.

Ele ia fazer, lá fui eu também.

De uma certa maneira, me sentia como uma criança que se vai ensinando os primeiros passos, ia absorvendo tudo, nada tinha a ver com a vida que eu tinha levado até agora.

Despertar as cinco, sair de casa, ver tudo branco, depois muita merda para limpar, um cheiro insuportável, correr, andar rápido para a escola, de novo ver tudo branco, os meses de verão eram curtos demais, ali era ao contrário, estávamos mais abaixo.

A única diferenças, era que com a neve, os carros deixavam as ruas sujas.

Aprendi com Jin aonde comprar roupas baratas, como me vestir como os outros.

Ele fazia gozação, que estava tirando minha virgindade, de garoto caipira.

Ia com ele ao cinema no centro da cidade, ele gostava de filmes dali mesmo, eu adorava os americanos, que mostravam praias, ou se passavam no deserto, pois imaginava o calor, um dia soltei para ele, que a primeira vez que tinha visto um filme de cowboy, que tinha índios, essas correndo como loucos com seus cavalos, tinha uma cena que um dos índios em cima do cavalo abria os braços, eu imaginava que ele estava sentido uma coisa “liberdade”.

Isso ficou na minha cabeça, mas aprendi a gostar dos filmes nórdicos, lhe dizia que eram retorcidos, teve um que parecia preto e branco, pois até os carros era negros, se movendo por cima da neve, lhe disse vê, pois isso as pessoas bebem muito, são neuróticas.

Lhe contei como era aonde tinha vivido, tudo o que via durante meses, sempre muito branco.

Menos mal que não eres um assassino em série, como o que estávamos vendo.

Eu não queria comprar uma televisão como ele tinha, pois achava que me distraia dos estudos.

Quando começamos o curso de escritura criativa, o professor, segundo o Jin, um velho escritor, com síndrome de bloqueio, tinha uns quantos livros de sucesso, mas depois algo tinha ido mal, pouco escrevia, segundo ele, tinha sorte pois seus livros faziam sucesso no mundo inteiro.

Mas eu sentia uma certa repulsa do homem, digo de estar perto dele, cheirava a bebida, fumava como um louco, bem como tossia logo cedo sem parar.

Nos pediu para escrever alguma coisa que fosse a nível pessoal, como tínhamos escolhido isso, escrever.

Comecei falando de levantar, sair só ver branco, como ia pela escola, lembrando do texto do livro que tinha lido na noite anterior, que falava de sol, plantas, campos floridos, coisas do gênero, com usava a cabeça para imaginar isso, sonhava em viver num lugar assim.

Da sensação que fui tendo no caminhão, vendo de como mudava a paisagem, como ela ia interferindo em mim.

Como agora gostava de sair, passear pelos jardins bem cuidados da cidade, o que fazia esse colorido na minha cabeça, bem como os livros tinham me feito crescer, sabendo que existia algum lugar além de aonde tinha passado minha infância.

Escrevi tudo a lápis, no momento que ia passando para o laptop, fui corrigindo, modificando frases, criando outras, pois na minha cabeça, surgiam coisas que tinha pensando a caminho da escola.

Depois imprimi na biblioteca uma cópia, tornei a revisar tudo, buscando erros de ortografia, consertei, dei para o Jin dar uma olhada.

Ele gostou, pois dizia que eu conseguia descrever o que tinha sentido, eu ao contrário, estou bloqueado.

Comecei a conversar com ele, sobre o que significavam os livros para ele.

Me contou sua história.

Lhe disse que escrevesse sobre esse efeito que tinham os livros sobre ele, me soltou uma coisa que me fez pensar, que para a cultura que tinha sido educado, falar de si mesmo era falta de educação.

Meu argumento com ele foi, nem vives lá, sempre viveste aqui, então esse conceito fica fora de lugar.

O professor escolheu os dois como melhores trabalhos, pois os outros lhe pareciam superficiais, perguntou ao Jin, como tinha sido para ele falar dessa parte dele tão pessoal.

Me indicou com o dedo, ele me ajudou, me disse que devia pensar que os prejuízos que tenho com relação a uma educação tão fechada como a japonesa nada tem a ver com o pais em que vivo.

Depois rindo me contou que também vinha de uma zona do pais assim, que em sua casas ainda era pior, pois todas as mulheres se vestiam de negro.

Aí descobrimos que a série que víamos na casa do Jin, tinha sido baseada num livro dele.

Quando falou nisso, disse que gostava da abertura da série, eu descrevia isso, como imaginava ver tudo de cima, eles conseguiram transpor exatamente como eu me sentia ao imaginar ver de cima como era os lugares, os carros negros, as pessoas vestidas de negro, no meio de tanta brancura.

Nesse dia nos avisou, que seu gabinete estava aberto, a nos atender quando tivéssemos dúvidas a respeito do que estávamos escrevendo.

No grupo, tinha umas quantas garotas, só uma não se inscreveu imediatamente para falar com ele.

Essa ao contrário veio falar comigo.

Era como se fossemos estrangeiros, ela era descendente de mulçumanos, a primeira em sua família ir à universidade.  Nem posso me imaginar descrevendo o que eu penso, pois minha família não entenderia.

Fui claro, eles leriam?

Creio que não, pois tanto meu pai, como minha mãe, sabem ler em sua língua natal.

Um segundo tema que ele deu, “liberdade”.

Comecei falando o que senti, vendo num filme os índios correndo como loucos com seus cavalos, no meio de um rebanho de búfalos, depois uma outra cena, um desses índios sentado em cima de uma pedra no meio do nada.

Mas para mim o conceito liberdade, hoje em dia, apesar de não ter vivido tanto, é muito relativo, só somos livres se respeitamos uma série de leis, que são escritas por outras pessoas, esses índios hoje estariam mortos antes do tempo.

Tinha escutado uma pessoa num café contando como se sentia livre quando tomava drogas, eu achava que era uma ideia errônea, pois para mim era como se ele comprasse momentos de liberdade.

Acredito que só estamos livres, nos nossos pensamentos, mas também depende de como fomos educados, serão que não nos censuramos nisso também.

Fui analisando cada conceito ao mesmo tempo que contrapunha como era a realidade das coisas, agora tinha por hábito ler os jornais, o que não acontecia quando estava em casa, lá quando muito se minha mãe tinha comprado alguma coisa no supermercado, viesse enrolado em alguma compra, um velho pedaço de jornal.

Argumentava se um jornalista era realmente livre para escrever o que pensava sem limites nenhuma, tinha chegado à conclusão que não.

Era o mesmo assunto escrito por diversas pessoas com formação e educação diferentes.

Ele gostou do que tinha escrito, marcou comigo, já que eu não tinha marcado falar com ele.

Me disse mal sentamos, que eu era dos alunos, o que mais aproveitava as aulas.  Gosto como escreves, pois ao mesmo tempo argumentas consigo mesmo.

Ficamos conversando um bom tempo sobre o que eu tinha escrito, agora veja bem, analise outra vez, vê se de nossa conversa consegues aumentar o texto.  Me pediu para escrever, como os que vinhamos de fora analisávamos tudo isso, esbarrar em um momento moderno, que era fácil o acesso a tudo, como tinha significado para mim, ter um correio eletrônico, um laptop, poder buscar na internet tudo.

Escrevi todas essas sensações novas para mim, como tinha visto tudo isso, o quanto tinha me deslumbrado nem tanto o correio, pois não tinha muita gente com quem me corresponder, mas sim o fato de poder através dos buscadores saber das coisas.

Comentei por exemplo o fato do artigo sobre liberdade, que pude buscar para saber realmente o que tinha acontecido com todos esses índios americanos, que de uma certa maneira cortaram as assas.

Ele me recomendou um filme antigo, “Voar é para os Pássaros”, que consegui ver através da internet, pois era muito antigo.

O quanto tinha me impactado.  Sempre estávamos dispostos a cercear a liberdade dos outros, ou através de leis, ou de guerras.

Revisei mim vezes, mostrei para o Jin que gostou, o mesmo a nossa companheira, que concordava comigo, todos queriam ver o filme.

Ele leu, me devolveu, dias depois me mostrou uma revista que saia junto com os jornais ao final de semana, lá estava meu artigo, Sven Skov, fiquei com a boca aberta.

Corri a colocar no banco esse dinheiro, era o primeiro que ganhava na minha nova vida como escritor.

Todos diziam que o professor gostava de mim, mas eu acreditava que era pelo meu trabalho, pois quando ia ao seu gabinete as conversas era sobre isso, nunca a terreno pessoal.

Ele nos deu como trabalho final de curso, um projeto maior, queria que escrevêssemos uma novela negra.

Eu me coloquei a pensar, nunca tinha aparentemente visto nada demais na vida.

Nessa noite sonhei, era como se tivesse aberto uma caixa de lembranças, que te dizem para deixar fechada.

Era um dia que tinha nevado muito, íamos a caminho da escola, quase como em fila indiana, eu ia a frente, meus dois irmãos maiores já não iam.

Me tocava levar os outros e cuidar deles. Eram quase cinco quilômetros andando pela lateral da estrada, nesse dia ia reclamando pois o caminhão que limpava a mesma não tinha passado, podia ser que não tivesse nevado o suficiente para isso.

De repente vi o homem caído, já o tinha visto antes, reconheci pelas roupas que usava, meu pai não o suportava, dizia que era um sem vergonha, que bebia demais.

Mas o que me chamou atenção, era que estava caído para frente, um braço estava estendido, como querendo parar alguém, o outro também estava numa posição estranha, disse aos meninos para ficarem aonde estavam me aproximei, a neve em volta estava vermelha, isso eu sabia que era sangue, quando olhei a sua cabeça, tinha um buraco por ali tinha saído sangue.

Disse a minha irmã, que levasse os meninos com ela, como era grande demais os outros a obedeciam, que passasse na delegacia, falasse com o policial, aonde eu estava, fiquei ali.

Tinha lido uma novela policial a pouco tempo, uma das poucas que chegavam na biblioteca da escola, de longe sem me aproximar fui dar uma olhada no local.  Não havia sinal de pisadas, com certeza a neve tinha tapado tudo, fui pelo outro lado, nada, em momento algum me aproximei, foi quando chegou o policial, com o chefe, ali nunca acontecia nada, por isso só eram dois, grandes, pois o que faziam era apartar vizinhos brigando por alguma coisa.

Escutei o policial dizendo, que o tinha apartado de uma briga no dia anterior, pois alguém o tinha chamado de cornudo.

Escutei os dois falando, esse homem vivia com uma mulher muito bonita, que eu soubesse era a mais bonita dali, tinha estudado fora, quando seu pai ficou doente, voltou casada, com um filho pequeno, esse homem já trabalhava com seu pai.

Um belo dia o marido desapareceu, o velho também morreu, ela herdou tudo, esse quis se casar com ela, mas segundo minha mãe falou, disse que um erro se comete só uma vez.

Mas claro dormia com esse, isso falavam todas, que quando bebia, perdia a cabeça.

O policial foi chama-la, depois de virar o corpo, realmente tinham lhe dado um tiro na cabeça.

Ela chegou como se tivesse levantado aquela hora, pensei comigo, é que ninguém trabalha nesse fazenda.

Mas depois me lembrei que ela era a única que não criava porcos, tinha galinhas, patos, coisas assim.

Fez uma cena, que parecia cinema, só faltou se jogar em cima do homem morto, mas o chefe não permitiu, disse ao policial, que fosse a cidade, chamasse os forenses da cidade maior, que me levasse, pois eu já devia estar perdendo aula.

Foi uma pena, mas em casa de noite, o assunto não era outro que esse.

Ele teve seu merecido disse meu pai, vivia provocando brigas com todos, dizem que de vez em quando pegava essa mulher, bem como o filho dela.

Minha mãe tinha outra versão, que o marido sempre foi dado como desaparecido, mas se falava muito que ela dava graças a deus, assim não tinha que se casar mais, nem aguentar homem nenhum.

Meu irmão mais velho, disse que a policia tinha ido a casa em busca de armas.  Que o mesmo tinha uma armário cheio de espingardas, todas tinham cheiro de pólvora, pois o sem vergonha não limpava as mesmas, podia ter sido qualquer uma delas, pois não tinha encontrado o cartucho, claro havia que esperar que se derretesse a neve.

Meu pai mandou todo mundo dormir, mas eu dormia ali perto da lareira, fazia um frio desgraçado.   Escutei todo o resto da conversa de certa maneira pensando, como era possível que já soubessem tudo isso, sem se mover de casa.

No dia seguinte, me adiantei, cheguei ao local, apesar da pouca neve que tinha caído durante a noite, ainda se via a mancha de sangue no chão.

Imaginei como no livro, que se o tiro tinha a queima roupa, o tal cartucho estaria perto, com as luvas fui mexendo na neve, depois, fiz uma distância maior, se fosse com uma espingarda de caça, seria um pouco mais longe, até que encontrei o mesmo.

Ia ser como um souvenir para mim, o tinha preso numa fivela de um cinto.

Não escutei mais falar do tal cartucho, a temperatura subiu, vi passar um carro diferente, ali tudo que fosse diferente se sabia, os forenses tinham levado as armas dele, mas ao parecer, todas estavam sujas, com cheiro de pólvora, mas sem encontrar o cartucho, não se saberia.

Fiquei quieto, nesse dia não tinha que trabalhar na fábrica, vinha voltando, quando vi o tal carro parado no lugar, a mulher estava com outro homem, procurando alguma coisa por ali.

Quando passei do outro lado, nem se molestaram em se virar, para dizer alguma coisa.

Eu segui meu caminho.

Todo mundo falava do tal carro, diziam que era do seu irmão, minha mãe cortava dizendo, que se ela tivesse irmãos, eles teriam herdado a fazenda, não ela.   Que o pai dela só tinha tido a ela como filha.

Meu irmão, soltou, pode ser que tenha pedido um socorro a algum conhecido.

Minha irmã, riu dizendo, que nada, eu já a vi antes com esse homem, a senhora não se lembra, quando fomos a vila mais a frente a vimos numa entrada para uma fazenda.

Minha mãe lhe chamou atenção, que isso não era assunto para uma garota descente.

Mas depois que as meninas foram para seu quarto, seguiram falando, ela sempre teve essa postura, a mais esperta, porque estudou fora, vivia numa cidade grande, mas a incógnita quem era esse.

No dia seguinte, os vi na cidade, saindo da delegacia, ele desapareceu, segundo a conversa essa noite, ela estava vendendo a fazenda, meu irmão casado queria comprar a mesma, mas claro não tinha dinheiro, sua mulher tinha ido falar com seu pai, mas nada.

Ele estava frustrado, porque como todos sabia que nosso pai tinha dinheiro.

Mas dias depois se soube que tinham vendido.

Dois dias depois da venda, a vi saindo da delegacia, apertando a mão do chefe, entrando num carro, ela mesma ia dirigindo, coisa que as mulheres dali, faziam, mas em caminhonetes para ir ao mercado, essas coisas.

Depois se fez muitas fofocas, que ela tinha vendido mal, outros que muito bem, pois eram boas terras, meu irmão reclamou muito, pois queria para ele, aos poucos tudo ficou por isso mesmo.

Eu tinha enfiado o cartucho nas calças me esqueci dele, só quando minha mãe pediu para dar as calças para lavar, foi que o encontrei, ainda pensei agora é tarde.

Me despertei suando, a história estava toda aí na minha cabeça, me levantei da cama, eram as 3 da manhã, comecei a fazer anotações.

Separei a primeira parte, o que tinha sentido ao ter visto o cadáver ali na lateral da estrada, fui anotado cada sensação, primeiro de medo, preocupação que os pequenos visse e ficassem impressionados, depois a tal influência do livro que tinha lido, que não sujasse a cena do crime, mas depois vi que era besteira, porque quando chegou o chefe de polícia e o policial, andaram por tudo como se nada.

Fui anotando cada coisa, num determinado momento, me lembrei do nome da mulher.

Entrei numa pagina sueca, coloquei o nome dela, quase tive uma gargalhada em plena madrugada, lá estava uma foto dela, como me lembrava, tinha matado o amante com um tiro na cabeça, porque o mesmo tinha dado uma surra nela, por ter outro homem em sua vida.

Copiei a reportagem inteira num pen drive, depois tiraria cópia na biblioteca, procurei mais coisas, dias depois se falava que tinham ido a tal fazenda, andaram procurando por ali, tinham encontrado um tumulo bem escondido no meio da floresta, era o marido, conseguiram checar, com o ADN do filho.

Agora examinavam a cena do outro crime sem resolver, eu ria, falava da incompetência do policial, bem como do chefe, segundo o legista, tinham contaminado toda a cena do crime, por isso não tinha encontrado nenhum casquilho.

Fiquei rindo, mais uma coisa para o pen drive, segui procurando, como sempre as coisas eram assim, iam passando de páginas, até chegar ao desinteresse da última página.  Depois só havia uma reportagem falando que ela tinha se suicidado na prisão.

O filho tinha sido dado em adoção para alguma família.

Já tinha minha história, já não consegui dormir mais, escrevi o primeiro capitulo, a sensação de um garoto de uns 14 anos, vendo isso, tendo que coordenar que seus irmãos fossem a escola, a influência de ter lido livro de novela negra, que o fazia saber se comportar direito na cena do crime.  Finalizava com a do policial e o chefe, de como tudo ia a merda, pois pisavam tudo, a ordem do mesmo de ir buscar a mulher, o drama que ela tinha feito.

Fui para a faculdade com um sorriso na cara, passei pelo gabinete do professor, disse que já tinha a história.

Ele queria saber como eu tinha encontrado, lhe disse que tinha sido pela caixa de Pandora, ele riu, tinha falado nisso a algum tempo, que as vezes guardamos coisas na memória, que um dia saem a luz.   Falou então na caixa de Pandora.

Lhe dei a cópia do que tinha escrito para ele, que ria, batendo as duas mãos em suas pernas.

Depois me olhou, pela primeira vez notei o que os outros diziam, me soltou, não me enganei contigo, tens uma cabeça privilegiada, só faltou se levantar, me beijar.   Sem querer fiquei esperando por isso.

Havia uma parte do dia, que todos pareciam fugir da biblioteca, principalmente se o dia lá fora tinha sol, aproveitei para seguir escrevendo, quando comentei com o Jin, este estava enrolado, de um lado um a história da Yakuza, mas que o que estava fazendo era ler histórias, ver filmes de samurais, essas coisas, de outro como dizia ele um branco total, andei lendo notícias no jornal principalmente na coluna policial, para ver se tinha algo interessante, mas nada.

Trabalhei como um louco a história, a terminando a anos depois com o final como um resumo de tudo que tinha lido no jornal sobre como tinha matado o amante.

Todos os três tinham sido com um tiro na testa, não sabia que nome colocar, se Pandora, ou Tiro certeiro.

Levei tudo para o professor, ficou me olhando sorrindo, com todo aqueles papeis na frente dele, te esqueceste de uma coisa, há um limite de palavras, de páginas, era verdade, tinha que ser como uma novela curta, eu tinha me estendido demais.

Eu ia tirar das mãos deles o que tinha escrito, ele sorriu, ficava bonito quando sorria, o que era raro nele, agora vou ler esta história, depois te comento.

Tirei outra cópia, comecei a trabalhar, era um final de semana, Jin me chamou para sair, mas eu não podia largar isso, era como ter uma brasa nas mãos, tinha aprendido com ele, a ver quantas palavras, páginas tinha escrito, no Word era fácil, pois o próprio programa fazia, isso.

Quando acabei, ainda assim me sobravam duas páginas e palavras a mais.

Estava morto de cansado, era as dez do domingo, me joguei na cama, apaguei.

Sonhei com ele, sorrindo para mim.

Despertei com um sorriso na cara, tomei um belo banho, resolvi sair para andar um pouco, ia tomar café na rua, normalmente fazia em casa para economizar, mas era um domingo afinal, merecia.

Sem querer dei de cara com ele sentado ao lado do vidro de um café, fez sinal para que eu entrasse.

Estas com uma cara tremenda, me soltou.  Contei que tinha passado o dia inteiro e a noite escrevendo, revisando como ele tinha pedido, não gostava muito, mas tinha reduzido, tinha saído para isso, esticar as pernas, tomar um café, voltar a trabalhar.

Ficamos conversando, ele tinha um sorriso na cara.

O senhor está debochando de mim?

Me disse que quando estivéssemos juntos, o podia chamar por seu nome, Cameron, eu sabia que se chamava assim mas não atrevia a usar esse nome tão em particular.

Disse que tinha lido de uma tacada só o que eu tinha escrito, fiz algumas anotações, aproveita que ninguém me entregou nada ainda.

Já estou imaginando o que vai sair, acredito que só tu, o Jin e Fethima, terão alguma coisa interessante, do último trabalho ele tinha ficado furioso com uma das garotas, pois a mesma tinha copiado descaradamente um texto de outra pessoa, se deu mal pois ele conhecia o texto.

Nem sei por que fazem meu curso, no fundo mesmo copiando, ainda encontrei erros de gramática.

Vives muito longe me perguntou?

Eu soltei que quase a volta da esquina.

Estou morto de curiosidade, não vou aguentar até amanhã, posso ir até lá.

Eu ia morrer de vergonha, nem tinha feito a cama, tinha roupa atirada em cima de uma das cadeiras, isso eu nunca fazia era super ordenado, tinha aprendido com minha mãe.

Ele foi direto para o laptop, começou a ler, pegou um pedaço de papel, anotava alguma coisa, a página, leu até o final.

Sabia que não ias me decepcionar, lhe disse que me sobravam duas páginas, deixa, pois senão vai perder muito da essência.

Quando se levantou, estava frente a frente comigo, segurou minha cara, com as duas mãos, ele era muito mais baixo do que eu, ficou na ponta dos pés, me beijou na boca.

Quando vi estávamos nus na cama, ele deitado em cima de mim, é como estar numa prancha de surf, pois eu não era gordo, mas sim musculoso para o corpo que tinha.

Quando te vi da primeira vez, me perguntei o que vem fazer aqui esse fisioculturista.

Mas me enganei contigo, desde o primeiro texto, vi que eres o melhor, depois entendi que trabalhas desde garoto, por isso tens o corpo assim, mas eu gosto.

Voltamos a fazer sexo, ao ir embora, me disse se eu era capaz de guardar esse segredo de nós dois.

Isso, já era de madrugada.

Fui olhar o que ele tinha anotado, eram duas dúvidas que eu tinha, arrumei imediatamente, coloquei num pen drive, iria imprimir outra vez, no dia seguinte, fazer correções.

Com isso consegui reduzir mais uma página.

Quando entreguei a ele, sorria.

Estávamos em gabinete, se não fosse proibido ter a porta fechada, o faria só para te beijar.

Mais tarde na aula, eu estava feliz, tinha tirado a nota máxima em Literatura americana, analisando o trabalhos de Tennessee Willians, o professor me disse que tinha uma bolsa de estudos de pós graduação para NYC, se me interessava, me deu uns papeis, para preencher.

Na hora nem pensei duas vezes, me sentei preenchi o mesmo.

Ele me deu um trabalho, um texto em Sueco, perguntou se eu podia fazer a tradução, para o Inglês, tinham lhe pedido, mas estava cheio de trabalho.

Pagam bem.

Jin dizia que eu tinha sempre medo de ficar sem dinheiro, realmente não gastava muito, o que ganhava na biblioteca pagava o apartamento, como normalmente comia lá também, saia barato, só nos finais de semana e que gastava mais, as roupas que tinha me duravam.

Era duro encontrar roupa para o meu tamanho, até um colega que tinha o mesmo problema, me falou de uma loja de segunda mão, me disse que tinha muita roupa militar grande.

De lá usava um casaco tipo bomber, forrada de lã, militar, mas tirei o que tinha de coisas costurada, tinha uma outra que era de couro, a encontrei lá também, ficava bem com a minha cara.

Meus cabelos crespos, estavam imensos, rebeldes, como dizia o Cameron, tinha adorado ele mexendo no mesmo.

Na verdade Jin e Fethima, tinham família, que lhes ajudava, eu ao contrário só tinha dinheiro que tinha ganho trabalhando, ou roubado.

No primeiro momento livre, li o livro, o sujeito usava termos complicados, com querendo parecer intelectual, a história em si, era interessante, mas ele se perdia.

Ainda pensei, se esse palavreado não ia se perder na tradução, mas do meio do livro em diante, entendi que quem falava desse jeito era o personagem, que era um tipo que se fazia passar por um intelectual, para conquistar as garotas, mas no fundo as vezes ele mesmo nem sabia do que falava.     Do meio do livro em diante, o escritor ia desconstruindo o personagem, para chegar a um final um tanto quanto trágico.

Comecei a trabalhar essa mesma noite, meu celular tocou, até levei um susto, pois as únicas pessoas que tinham meu número eram a minha chefe, o Jin e Fethima.

Era o Cameron, perguntando se podia ir ao meu apartamento, ou se eu queria ir a sua casa.

Lhe contei que estava fazendo um trabalho para o professor, traduzindo uma livro sueco para o inglês.

Bravo, me disse, gosto de ti por isso, nada vai te parar.

Podemos nos ver amanhã se queres.

Tínhamos aula, uau soltou, queres dizer que queres fazer sexo na mesa do professor diante de todo mundo, começou a me provocar. Por sorte bateram na minha porta, fui atender era o Jin.

Estava com uma cara de fazer gosto, lhe expliquei que tinha um amigo necessitando de mim.

Depois falava com ele.

Jin tinha o texto nas mãos, por sorte não perguntou quem era, ia ter que mentir.

Estou completamente perdido, nos sentamos, comecei a ler, fiz o que o Cameron tinha feito, colei uma página ao lado, fui fazendo anotações.

Ele tinha se perdido ao começo, lhe perguntei de aonde tinha tirado esse história?

Me lembrei de uma coisa que numa das férias que fomos ver o meu avô, ele me contou, disse que seu avô era segundo sua mãe uma vergonha para a família, eu quando criança não entendia, achava incrível, tomar banho de ofurô com ele, pois tinha o corpo inteiro tatuado.

Eu ficava deslumbrado com isso.

Depois um dia apareceram uns homens, minha mãe, me levou da sala, mas claro as paredes são finas, eu escutei toda a conversa.

Tai talvez minha fixação na história de samurais e Yakuza.

Havia uma discussão muito forte, sobre alguém que tinha feito uma coisa errada, queriam que ele tomasse uma decisão.   Respondeu ao que lhe fazia pressão que fosse falar com o pai do rapaz, afinal era seu parente.

Depois passou o resto do dia resmungando, tipo sempre a mesma coisa, fazem merda correm para que eu resolva.   Eles que se matem entre si.

Dois dias depois o rapaz apareceu, vinha acompanhado do pai, tinham lhe cortado um dedo.

Foi então depois que foram embora que minha mãe explodiu, imaginava que ele tinha mudado.

Ele disse uma frase que deve ter ficado no meu subconsciente, que quando entras, não há como sair.

Bom título.  Comecei a revisar com ele, desde o começo, pois tinha romanceado um pouco a coisa, tens que pensar que novela negra, ou se começa com uma morte, ou falas de uma pessoa.

Crie uma distância, fale como é um menino de repente, descobrindo que seu avô é da Yakuza, não um guerreiro samurai como ele imagina.

Fale do deslumbramento de estar no ofurô com ele, ver todas essas histórias, como que bordadas no seu corpo, tocaste as mesma alguma vez?

Sim, fiquei como um louco, para tocar, lhe perguntei com respeito se podia.

Nessa casa no meio de uma floresta, só estávamos nós, fora sempre tinha um homem.

Descreva essa casa, esse homem.

De repente ele começou a rir, se lembrou de um dia que entrou no ofurô, seu avô estava lá com esse homem falando justamente do caso.

Tente se lembrar disso, escreva essa parte como um capitulo, depois agrupe toda a conversa que te lembres, dos homens falando com teu avô, para em seguida contar do rapaz, que vem pedir perdão, como se ajoelha na frente dele, em sinal de respeito, que vês que lhe falta um dedo na mão.   Sabe que isso é como um castigo, para quem faz a coisa errada.

Tente se lembrar do que foi que ele fez errado.

Na minha cabeça, parece mas em japonês, tenho que encontrar uma maneira de traduzir para norueguês.   Há palavras em japonês que já não me lembro, minha mãe nunca permitiu que eu estudasse, tinha medo de que quisesse voltar para lá.

São tuas raízes, disso não escapamos, veja estou fazendo a pedido do professor de inglês a tradução de um livro em sueco, para o inglês, lhe contou como tinha sentido o livro, até entender, agora o duro vai ser encontrar palavras para isso, vou conversar com ele.

Jin foi embora, na porta parou, olhou na cara dele, finalmente aconteceu verdade?

O que lhe perguntei?

Encontraste um amante, eu sei quem é, pois vejo como te olha, cuidado.

Ele tinha razão, afinal Cameron era meu professor.

Mas Jin saiu, o vi caminhando com a cabeça baixa, uma mania que ele tinha para pensar, pensei ver o Cameron ali.

Fechei as cortinas, apaguei a luz, estava cansado.

Retomei meu trabalho no dia seguinte, falei com o professor.

Este se matou de rir, confessou que não tinha passado das dez primeiras páginas, passou a mão no telefone, marcou com uma pessoa, me deu o cartão, era de uma editora.

Telefonei para o sujeito, marquei no dia seguinte, de qualquer maneira comecei a tradução, fiz colando uma folha ao lado, o palavrório complicado que o escritor usava, realmente era um erro, se o mesmo uma parte do final no começo seria mais interessante, anotei isso, tipo, ele desconstruindo o personagem, mas ao mesmo tempo se lembrando do comportamento dele.

Nesse dia não vi o Cameron, sabia que Jin tinha hora com ele, fui fazer as outras aulas, depois segui no meu horário vago, fazendo a tradução.

Escutei na sala ao lado minha chefe falando com Cameron, mas não me movi de aonde estava, ele devia estar me procurando.

Nessa noite me chamou, mas não atendi, queria ter a cabeça limpa para a conversa com o editor no dia seguinte.

Quando cheguei, estava com ele, um professor da universidade, que eu sabia que dava aulas de sueco.

O homem era pomposo, sem fazer críticas, apenas mostrando, comentei como eram os americanos, mentira, que eu basicamente não conhecia nenhum.  Que se as dez primeiras páginas não interessassem, desistiam do livro.

Ficou me olhando, como dizendo esse fedelho imenso, ousa me criticar, comecei a falar com ele em sueco, explicando tudo o que tinha pensado, mas em nenhum momento levantei a voz, quando o vi nervoso.

Lhe disse que tinha amado o livro do meio para o final, levei um tempo para entender o princípio, justamente por isso, vi que o editor não entendia o que falávamos, por isso tinha passado para o sueco.

O homem sorriu, garoto sem vergonha, se não fosses tão grande ia te chamar para sairmos aos tapas lá fora.

Vou levar o que você escreveu, pediu outro livro para o editor, para que eu continuasse o trabalho, se despediu, me deu o número de seu telefone para qualquer dúvida.

O editor me perguntou por que tinha passado a falar em sueco com ele, sei de aonde ele é, por isso falava em dialeto com ele.   O senhor tem que pensar, que ele é um professor conhecido, eu um simples estudante, que está lhe dizendo o que está errado, isso nunca cai bem ao ego de ninguém.

O homem soltou um palavrão, dizendo se eu quisesse trabalhar com ele nas férias seria bem-vindo.

Agradeci fui embora, o professor de inglês me chamou rindo a bessa, o escritor tinha telefonado para ele, dizendo que ele tinha sido malandro em passar para outra pessoa a tradução, que eu era inteligente, lhe contou o que eu tinha feito.

Muito bem, o editor me telefonou também, gostou de ti, me disse que te convidou para trabalhar nas férias.

Fui para a biblioteca, um quarteirão, antes vi o Cameron num café, como se estivesse me esperando, ali passavam alunos demais, fiz que não tinha visto, ele me chamou pelo celular, segui adiante, me pedes para ter cuidado, estás de comportando como um colegial.

Tens razão, mas creio que me apaixonei.

Eu não disse nada, não tinha parado para pensar, agora achava que tinha feito um erro, em ter ido para a cama com ele, tinha adorado essa era a verdade, mas podia ser um problema.

Fui comer com Jin, que me contou que tinha encontrado como eu tinha lhe ensinado o caminho, mas queria escrever tudo, depois de dou para ler.

Lhe contei o quanto era difícil lidar com escritores, que fosse ao mesmo tempo professores, lhe contei a bomba que tinha caído nas minhas mãos.

Ele riu a bessa, Fethima, fazia aulas com esse professor, disse que ele jamais exibe um sorriso, que as notas são justas.

No dia seguinte, Cameron pediu que eu passasse no seu gabinete, tinha os dois trabalhos na frente dele.

Disse que já tinha lido o novo, prefiro o texto grande, mas o outro tampouco ficou mal, virou um conto, mas tomei a liberdade de tirar uma cópia, mandei para o meu editor.

Ele gostou, quer falar contigo, me deu o cartão, era o mesmo sujeito com quem eu tinha falado no dia anterior.

Agradeci o que ele tinha feito por mim, me deu um cartão, esta ai a direção da minha casa, fica fora da parte universitária, se queres me avisa te espero essa noite.

Entendi a mensagem.

Marquei como editor no dia seguinte, ele reconheceu minha voz, disse rindo que me esperava.

Segui trabalhando a tradução até que me deu fome, liguei para o Cameron, perguntei se na casa dele tinha comida, pois estava morto de fome.

Pode vir.

Cheguei ele queria fazer sexo em seguida, lhe parei os pés.

Como vens agindo, creio que cometemos um erro em fazer sexo, dizes que estas apaixonado por mim, veja bem, tens um nome, eres meu professor, gosto de estar contigo, mas estou no meio de um furacão, cheio de trabalho, tens que entender.

Gostas de mim pelo menos?

Claro que sim, mas tudo isso ficou em minha vida em segundo plano a tempos, eu tracei um caminho a seguir, Jin e Fethima me sacaneiam, pois quando me chamam para sair tomar uma cerveja, nunca posso.

Não gosto de bebidas, bares, nada disso, minha cabeça está voltada para o que quero conseguir, veja eles tem seus pais para ajudar, eu ao contrário, um pouco de dinheiro, o trabalho me paga o aluguel, mas tenho que pensar.

Lhe dei um beijo e me despedi, claro ficou frustrado, pois pensou esse vai falar muito, mas vai para a cama.

Parei pelo caminho para comer alguma coisa, quando cheguei perto de casa, encontrei o Jin e Fethima, iam para lá.

Agora era ela que precisava de uma certa ajuda.

Fazemos uma coisa, eu leio, amanhã tenho um dia complicado, pedi dia livre na biblioteca, pois tenho que resolver uma coisa, depois te chamo, falamos ok.

Me agradeceu, deixou o texto.

Estava cansado, tomei um bom banho quente, me joguei na cama desmaiei.

Despertei tarde o que não era normal.

Sai correndo, tomei um café na esquina da editora, o editor me esperava.

Quer dizer que além de tradutor, escreves também, eu levava tudo que tinha escrito para ele dar uma olhada. Inclusive o que tinha sido publicado na revista.

Gostei do texto, li, reli uma duas vezes, tens razão se as dez primeiras palavras ou páginas não cativam, ninguém lê o resto.

Estou interessado em publicar teu livro, me passou um contrato, fale com teus professores, consulte um advogado, depois falamos.

Riu dizendo que eu devia ter corrigido esse texto mil vezes.

Pior foi reduzir o mesmo, o exercício é para ter um número de páginas bem como de palavras, isso passa, tirei da mochila a cópia reduzida, depois de uma olhada.

Tenho que olhar alguma anotação do texto?

Não, só faça o que te digo.

Mal sai, por um acaso o professor de inglês me chamava, tinha ali com ele o escritor, se eu podia ir.

Lá se ia meu dia livre, fui até lá, disse ao professor que queria falar com ele depois.

O professor de Sueco tinha dúvidas, nunca me sai bem no inglês.

Fiquei trabalhando com ele, o que tinha reescrito, afinal entendeu o que eu sugeria, se virou para mim, o fazes de uma maneira tão fácil, da próxima vez, te contrato para escreveres tu a história.

Fui almoçar com o professor de inglês, lhe contei do editor, ele viu o contrato.

Vou te sugerir uma coisa, tirou da sua pasta um cartão, esse é meu advogado, ele sempre me sugere, que eu faça um contrato pelo livro, nada mais do que isso, pois senão fico com problemas, veja o Cameron assinou um contrato, agora é obrigado a escrever, lhe deu um branco.

Agora entendia certas coisas, por isso dava aulas de escritura criativa.

  Agradeci, ele me levou ao escritório do advogado, esse me deu um contrato, já conhecia o editor, ligou para ele, disse que eu aceitava, mas dentro do contrato dele, seria por cada livro editado, além disso, esses trinta por cento, me parece muito, esse livro vai ser um sucesso, por isso, que tal reduzirmos esse primeiro livro e edição, para vinte, os seguintes, cobras quinze.

Se escutava gargalhada do outro lado.

Contei ao professor, que tinha me convidado para trabalhar nas férias lá.

Acho que deves aceitar, a bolsa de estudos é para o ano que vem, quando terminas, assim será mais fácil.

Encontrei com o Jin que vinha te ter apresentado o trabalho para o Cameron, ele gostou, disse que nessas férias eu devia ir tomar um banho de Japão, me indicou um professor da universidade, para que revise alguns termos que uso.

Ainda me soltou na cara, se eu queria ir com ele ao Japão.

Lhe contei do convite que tinha, ficou me olhando, usava um boné, fez um gesto de reverencia, Touche.

Rever o texto da Fethima, foi fácil, parecia que eu já sabia o truque, ela se perdia na primeira parte, vi que não queria se colocar no lugar do personagem, mas depois deslanchava.

Telefonei para ela, que apareceu em seguida, estivemos conversando a respeito, tu só tens duas opções, ou muda todo o princípio do texto, pegando esse personagem que surge mais adiante, transforme o mesmo o que não queres fazer pessoalmente, aí fica completo.

Disse que ia passar as férias estudando a língua do seu pais, o Iran, que assim ficaria mais completa, sei falar, mas nem ler e escrever.

No dia seguinte não tinha aulas, foi falar com o editor, que aceitou o contrato, vamos editar imediatamente.

Tenho uma sugestão, revise estas histórias de antes, vamos lançar como um livro de contos, enxugue o texto.

Marcamos quando eu poderia começar a trabalhar.  Teria que falar com minha chefa.

Essa riu muito, dizendo quero ler os textos, mas te digo, ele é um dos melhores editores da cidade, quiça do pais.  Se gostou é porque está bem.

Tire como férias, depois já veremos.

O melhor foi a semana seguinte, Cameron não me chamou nem uma vez.

Tinha falado com ele no seu gabinete, que tinha assinado um contrato, segui a orientação do editor, procurei um advogado que me orientou, nada de contratos de tantos livros por ano.

Achas que posso usar o texto que escrevi, que foi publicado na revista.

Ou o texto é deles.

Vou consultar, depois te falo.   Ele quer publicar como se fosse um livro de contos, mas eu preferia, fazer isso com os textos do Jin e Fethima.

Ele sério olhou para mim, vais dar certo nisso, mas não deixe de escrever, vi o que fizeste com o Jin e com a Fethima, me disseram que te consultaram, os orientaste dentro do texto.

Poucas pessoas fazem isso.

Por tua culpa, voltei a escrever, depois que tiver mais texto, de dou para ler.

Quando Cameron lhe mostrou a primeira parte do livro, descobriu que de uma certa maneira falaria dele, claro sem mencionar seu nome.

De como tinha reaprendido a analisar sentimentos, que pensava que tinham morrido em sua crise, sem poder escrever, mas que o contato com gente jovem o tinha feito recuperar a fé nisso.   O texto era bom, mas faltava alguma coisa, sem pensar, soltou faltas que te impliques que assumas realmente quem eres, por detrás da fachada de professor, de um escritor com sucesso.

Ele ficou primeiro vermelho, depois começou a rir, acabou numa gargalhada, não se pode ensinar as pessoas, viram um perigo.

O que queres dizer com isso?

Criaste uma capa protetora que te protege, veja bem, teu interesse por mim, é uma mistura de sentimentos, que não analisas direito, de um lado, queres fazer sexo, de outro, gosta como eu escrevo, que aprendi a analisar contigo, mas em momento algum, mostras o homem que eres na verdade, uma pessoa, controvertida para ti mesmo, queres tudo isso, mas aonde está o Cameron verdadeiro.

Lhe deu um beijo na boca, saiu correndo de seu gabinete, estava atrasado para falar com o Jin que ia para o Japão primeiro como férias, depois já se veria.

Ele começou a trabalhar no dia seguinte, encontrou uma mesa grande, cheia de textos em cima, pilhas deles, uma senhora se apresentou, seria sua secretária, eu devia estar aposentada, mas trabalho aqui, desde o editor antigo, pai do atual, ele me sugeriu trabalhar contigo, pois me falou muito bem de ti.

Todos esses textos, são de pessoas jovens, alguns são suecos, outros inclusive finlandeses.

Fiz uma coisa, os coloquei por ordem de chegada, pois creio que assim, vamos limpando o cenário.

Nesse dia, leu 10 textos, desses só ficou um, assim mesmo o reveria, para fazer anotações.

Perguntou a senhora o que se fazia com os rejeitados.

Nada, já que não se vai editar, nem sequer arquivamos, devolvemos a pessoa, dentro do mesmo envelope, com uma carta explicando que não foi aprovado.

Bem, pelo menos recebem uma resposta de algo que estão esperando a meses.

No final do dia, pegou um novo texto, tinha a cabeça cansada, mas a primeira parte era super interessante, pensou levo para casa.

Depois pensou bem, se fazia isso, perderia o tempo precioso dele mesmo.

Nesse dia não escreveu nada, deixou sua cabeça descansar.

Viu que tinha uma mensagem do editor, a pergunta era se ele queria algum adiantamento sobre o livro.

Respondeu imediatamente que não, preferia receber dinheiro quando vendesse, assim iria fazendo dinheiro para sua ida a América.

Dormiu tranquilamente, despertou a uma certa hora, com o celular tocando, o apagou, viu que era Cameron.

Sinto muito pensou, mas necessito minha cabeça limpa pelo menos uns três dias.

No dia seguinte quando abriu a porta, tinha um envelope, já que não me abriste a porta, deixo para que leias, que a crítica seja mais suave.

Tinha encontrado um lugar ideal para tomar o café da manhã, a volta da editora, deu uma olhada no texto do Cameron, agora sim estava interessante, começava com ele analisando seu sentimento de estar com a cabeça vazia, sem poder pensar em nenhum texto.  Porque tinha aceitado trabalhar com jovens num curso de escritura criativa.   Embora soubesse que nem todos os alunos brilhariam com luz própria.

Falava abertamente, de quando o tinha visto, com todo aquele tamanho, pensou o que faz esse gigante na minha sala.

A descoberta que o gigante era sumamente inteligente, que seus textos era ricos em detalhes, que entendia como tinha que ser o trabalho de sua cabeça, de como era receptivo a ser guiado, falava do Jin e Fethima, como buscavam dentro de si, essa essência de escrever, pisando firme no chão.

Acabo descobrindo, que contei histórias, mas sem nunca me envolver nelas, analisava seu primeiro livro, na época era professor de literatura comparada, de como o tinha afetado, escrever com uma certa distância, de um acontecimento, uma ruptura, que jamais voltaria a mencionar a ninguém.

Começava contado essa ruptura, mas voltava ao primeiro momento desse romance, que ele não tinha esperado.

Falava o que influiu o conservadorismo em que tinha sido criado, temente a deus, ao pecado, como tinha sofrido para romper esse molde.

Merda pensou, o café estava frio, pediu um para levar, no trabalho acabou o texto, até aonde ia o Cameron.

Realmente era muito interessante vê-lo analisar o seu primeiro livro de sucesso.

Depois seguiu seu trabalho, agora usava um lápis vermelho, ia tachando as frases, ou mesmo uma palavra ali perdida.

Separou dois dessa pilha, outros dois, separou numa pilha que começava, ler de novo atentamente escreveu em cima.

No final de semana, tinha acabado tudo que estava ali, seguiu trabalhando, ficou sem saber se era para passar esses separados, para algum outro editor, mas resolveu rever todos que tinha separado.

Na segunda falou com o chefe, como tinha procedido, agora vou rever todos, analisar, chamar os escritores se acho necessário.

Fez uma coisa, não posso ser o editor desse livro, mas li essa primeira parte, sei que o Cameron é editado pelo senhor.

Quando viu a temporada de férias acabou, voltaria as aulas em breve, nesse tempo tinha levado a sério o que fazia, só saiu basicamente duas vezes com a Fethima, que estava ampliando o trabalho que tinha feito para o Cameron, quando termine, quero que leias, me diga se tenho possibilidades.

Esse ano, ele estaria mais fora que o normal, tinha só que fazer algumas materiais, era como se o projeto de pós-graduação, fosse mais emergente.

Não tinha visto o Cameron todo esse tempo, recebeu uma carta do Jin, que lhe contava que tinha resolvido ficar um ano por lá, nem sabia que seu avô era vivo, estou com ele.

Aceitou o convite de seguir trabalhando na editora, já que o trabalho que ele tinha feito, tinha que ter continuidade.     Se saia bem falando com os jovens escritores, além de claro ganhar muito mais, assim podia juntar dinheiro para o que vinha pela frente.

Seu livro saiu, foi um sucesso, o chefe lhe disse que tinha sido procurado por dois cineastas que queria transformar o mesmo em filme.

Disse que ia pensar, se matriculou num curso que fazia logo de manhã, de como escrever um roteiro.

Pegou os recursos básicos, começou a desenvolver o roteiro, o que primeiro fez, foi reanalisar os sentimentos desse garoto, que de surpresa, vê um cadáver, atirado na lateral de uma estrada, como a neve tinha caído nessa noite, revisou mil vezes esse início, para saber como fazer melhor.

A formula que achou, foi como fazia diariamente, parava da porta analisava o que tinha acontecido durante a noite, quanta neve tinha caído como estava o frio.

Então o roteiro partida disso, uma coisa normal, colocar os irmãos em fila, para irem a escola, de repente a ruptura, ver o homem morto.

Quando mostrou ao seu chefe dois roteiros, ele gostou dos dois.

Agora era negociar, passou para o seu advogado fazer isso por ele.

Os dois cineastas tinha se interessado, a parte financeira era com o advogado, mas aceitou falar com os dois, um sentiu logo que esse captaria a ideia, mas a construiria à sua maneira.

O outro elogiou como ele tinha montado as cenas, me facilitaste o trabalho. Disse que ele sabia que os diretores eram cabeças duras se apropriavam de um texto, faziam do mesmo uma história que eles mesmo tinham elaborado.

O segundo ficou com a história, iniciaria o filme como ele tinha escrito.

Nesse meio tempo foi para NYC, era como se estivesse de férias da editora.

O mais interessante, era um dos únicos ali, que já tinha alguma propriedade literária publicada.

Conversou muito com seu orientador.

Seu livro agora seria traduzido para o inglês, ele mesmo começou a fazer isso, era duro encontrar palavras em inglês, para dizer o que tinha sentido.

O professor se surpreendeu que ele em menos de um ano, tivesse o trabalho feito.

Se informou, sobre como ir até os índios, foi uma experiencia única.

Foi a um encontro tribal, nenhum dos outros companheiros se interessou.

Mesmo ali, ele era como um gigante no meio daquelas pessoas morenas, se destacava.

Foi um momento magico em sua vida.

Fez amizade com um chefe índio, bem como o chamã de sua tribo, entrevistou longamente os dois, perguntou se podia ir até sua aldeia, para escrever sobre os dois.

O melhor foi descobrir que os dois eram irmãos, escolhidos ao nascer, qual função tocaria a cada um.

Acabou o curso, seu livro tinha ido muito bem de venda, isso refletia sua conta no banco.

Resolveu realizar seu sonho, foi para a reserva aonde viviam esses homens.

Conversou longamente com o chefe primeiro, ele falou desde sua infância, a responsabilidade de saber que tinha que ser o melhor, para poder dirigir seu povo.

Fez uma experiencia com ele, montado num cavalo, no meio de um rebanho de búfalos, que disparam.  Foi uma coisa única.

Depois falou longamente com o chamã, esse adoraria ter estudado medicina, mas conseguiu pelo menos ser enfermeiro, agora com a idade, via tudo de uma maneira diferente, ao contrário do irmão, ele via os guerreiros mortos.   Falou das suas experiencias todas.

Um dia preparou numa cabana a parte, entraram os três sem roupa, era como uma sauna, tudo que tinham era um cheiro a canela, bem como baunilha.

Se sentiu liberado, nessa noite sonhou que estava justamente em cima de um cavalo, com os braços abertos, no céu negro ameaçava chover.

A chuva caindo sobre ele, no meio dos búfalos, ele ali de braços abertos.

Voltou para Oslo, se reincorporou a rotina, seu chefe lhe trouxe um dia duas coisas, um era seu novo livro, nas verdade as histórias que tinha escrito durante o curso, mas eram novelas curtas.

O outro era o livro do Cameron, me disse que ele queria que fosses o primeiro.

Era um livro cru e realista, sobre um escritor que não consegue botar uma palavras no papel.

De uma certa maneira ele rompia os moldes inclusive do primeiro livro, tinha encontrado um roteiro para seguir em frente.

Nas férias seguintes, não teve conversa, estava impressionado, pois não parava de sonhar sobre a mesma coisa, a imagem que tinha, em cima de um cavalo, sentindo a liberdade.

Desta vez aprendeu a montar como faziam os dois irmãos, sem sela, foi todo um descobrimento, pois tinha que se equilibrar melhor.

Um dos dias ameaçava uma chuva imensa, tirou toda sua roupa, ficou nu em cima do cavalo, no meio dos búfalos, cavalos, o seu parado estático, a chuva caindo, relâmpagos caindo como se estivessem ali fogos de artifícios, esse sentimento, ele guardou dentro dele, escreveu primeiro um conto, sobre esse sentimento.

Depois colocou no papel um romance, em que falava do sonho de um jovem, sobre essa imagem de cinema, da liberdade no meio de um rebanho de búfalos, montado em cima de um cavalo, a chuva caindo torrencialmente sobre el, seu corpo nu reagindo a todas as sensações, como os relâmpagos, o rebanho estático, bem como seu próprio cavalo, a sensação do sonho realizado, ir abrindo os braços gradativamente.

Falava do passado que tinha ficado para trás, que tinha nascido em um lugar completamente diferente.  Falava das duas sensações, a que tinha em criança, de abrir a porta só ver neve branca por toda parte, ali ao contrário quando estava no deserto, com seus cactos, esse contraste, analisar aonde era mais feliz.

Chegou à conclusão que era feliz, no seu quarto pequeno, podendo escrever, descrever tudo isso.

De novo tanto o conto que foi publicado numa revista de cultura, como o livro fizeram sucesso, traduzido para várias línguas.

Jin voltou do Japão, completamente diferente, cabelos compridos, uma tatuagem em cima da mão a qual escrevia, trouxe dois textos que tinha escrito, queria que ele corrigisse e falasse sobre os mesmos como os via.

Foram semanas de reunião pela noite, revisaram tudo.

Dirigiu o amigo a pensar, começar o primeiro livro a partir da sensação que lhe faltava alguma coisa ligada ao seu passado, que era tema tabu em sua família.

As coisas que ele tinha guardado na sua mente, incorporando o que ele tinha escrito antes, a história que lembrava do avô, todos os sentimentos confusos da sua chegada ao Japão, pois como tinha sido criado em outro lugar, a maioria dos seus valores eram outros.

Depois no seguinte, era seu encontro com seu avô, os ensinamentos dele, sobre o passado da família como samurais, ao momento que se uniram a Yakuza, ele tinha como que absorvido tudo isso.

Inclusive o velho falava da negação da filha, bem como alguns dos filhos, como se ele fosse louco, mas a família tinha perdido tudo durante a segunda guerra, a única solução que encontrou foi entrar para a Yakuza, lhe contou a história de seu irmão mais velho, educado estritamente como samurai, que se tornou piloto Kamikaze no final da guerra, desaparecendo no Pacífico, um rapaz que amava os livros, que sonhava ser escritor.

Para seu avô era como se ele fosse a reencarnação desse seu irmão, relatou como tinha se sentido com a noticia de sua morte, a chegada dos americanos, como acabou se unindo aos da Yakuza.

Era um livro do encontro de um homem do presente, com seu passado, que nunca tinha se falado, quando mencionou ao seu pai, este gostou, mas sua mãe ficou uma fera, desde sua partida.

Tentou falar com ela, porque não aceitava o avô, deu de cara com um muro.

Isso segundo ele tinha aprendido era natural no Japão, as coisas intimas nunca se falavam, entendeu que o avô tinha conversado com ele, pois estava com um câncer, podia morrer de uma hora para a outra.

O ajudou a montar o livro, quando o apresentou ao editor chefe, esse além de aprovar, disse que dava um belo filme.   Agora tocava insistir com Jin que fizesse o curso de roteiros, mas este estava com a cabeça em outro lugar, autorizou que ele fizesse a versão para cinema, foi passar os últimos dias do avô no Japão.

Ele conhecendo o amigo, se colocou na pele dele para escrever o roteiro, mandou a primeira prova para ele, que riu muito, mostrei ao meu avô, tinha levado o livro, li para ele como tinhas escrito, no final disse um ah, disse que conseguia visualizar tudo como tinhas feito, que conhecia alguém que lhe devia favores.

Pediu que ele fosse até lá, tirou férias, foi, já no embarque, quando a maioria dos passageiros eram japoneses, achou divertido que todos se inclinavam para ele, afinal parecia um lutador de sumo.

Jin o esperava em Narita, o levou aonde vivia seu avô, num campo fora de Osaka, pelo visto a central da família da Yakuza que pertencia.

O comentário do avô foi justamente esse, que ele parecia um lutador de sumo.

Fez questão de o levar aos banhos de ofurô, justamente aonde iam todos da Yakuza, foi extremamente interessante, todos se aproximavam para render pleisia, ao mesmo tempo que se inclinavam para ele, que correspondia, seu amigo tinha lhe ensinado que era importante.

Um deles era como ele, imenso, se tornaram companheiros, esse lhe ensinou o básico do Sumo.

Depois conversaram com o diretor de cinema, discutiram como dois loucos o texto, seu novo amigo, Tksuro, o arrastou pela noite, dizendo que ele tinha que encontrar a alma japonesa, lhe mostrou o Japão atual, depois o arrastou de aonde tinha saído, uma vila perdida no vale perto do monte Fuji, para ele entender o passado.

Todos queriam fazer tatuagem nele, mas sua pele era muito fina.

Um dia os dois tomando banho num lago, fizeram sexo, nunca tinha se sentido assim com alguém, disse ao ouvido dele, que poderia gritar como Tarzan, batendo no peito.

Ninguém pode saber disso, pois somos muito fechados, mas se matava de rir, pois era ele quem fazia gestos para lhe tocar.

Releu o texto inteiro, começou a colocar no mesmo, essas coisas que ele tinha absorvido, como a reverencia, o respeito, o velho lhe falava muitas coisas, que Jin ia traduzindo.

Um dia o velho rindo muito, disse para o neto, que o Tksuro, estava louco com seu amigo gigante, que os dois deviam fazer sexo para se realizarem.

Falou isso para o rapaz na frente dele, ficou vermelho como um pimentão, se dobrou no chão, encostando a cabeça, perguntou se o seu protetor o apoiava.

Claro que sim, aprendi isso com meu neto.

Um dia Tksuro, contou sua história, tinha sido vendido em criança, pois era muito grande, era de uma região no norte, ao parecer, antigamente havia russos imensos por lá, desse cruzamento de pessoas, ele nasceu, mas comia muito, a família vivia no campo, não o podia sustentar com comida, o venderam a um entrenador de lutadores de Sumo.

Mas ele nunca gostou de lutar, gostava de certas partes, quando o avô do Jin o encontrou na rua abandonado pelo treinador, já que ele não servia, o tomou sobre seus cuidados, era como o neto que estava em outro lugar do mundo.

A partir desse dia, ele vinha dormir com seu futon perto dele.   Tinha medo de se acostumar, começou a aprender com ele, como falar japonês.

Foi quando pediram que transformasse seu livro, sobre o que tinha sentido com os índios, comentou e contou a história ao Tksuro, esse ficava em pé dentro de casa, abria os braços como ele falava, soltava grossas gargalhadas, o levou pelas encosta do monte Fuji, até uma parte que era um despenhadeiro, contou que uma vez tinha ido ali, para se matar, já que ninguém lhe queria.  Cheguei aqui, tirei toda minha roupa, a dobrei, fiquei só com o taparabos, me preparei, fiz o que me disseste outro dia, dei o grito do Tarzan abri os braços, me senti livre completamente, nesse momento como um milagre apareceu uma velha, sem idade nenhuma que vivia por ali, me fez sentar, conversou comigo, voltei para cá me sentindo livre.

Mas livre sou agora que te conheço.

O levou consigo para Oslo, foi imediatamente para uma escola para aprender a língua, fez muitos amigos, pois claro chamava muita atenção aquele homem imenso, cheio de tatuagens, um diretor de cinema o descobriu, o ajudou a se preparar para o filme.

Agora o quarto dos dois, era todo de tatame, pois a ele, lhe dava medo cair da cama.

Cameron quando os viu juntos, riu muito, disse que queria ficar no meio dos dois.

Tksuro não gostou, disse que nem pensar, era homem de um só.   No fundo Cameron tinha alguns gestos de homem mais frágil, ele disse que não gostava.

Jin tinha ficado no Japão cuidando dos últimos meses do avô, só voltamos para seu enterro, fui conversar com sua mãe, a convenci de ir, que para o Jin isso seria muito importante.  Acabaram indo seus pais.

Depois do enterro voltamos, fui com Tksuro, para os Estados Unidos, encontrar meus amigos índios, foi uma festa imensa, era como se ele estivesse em casa, um dia de chuva, ele saiu nu no pasto, ficou ali parado com os braços abertos, disse que finalmente era livre, que queria ficar ali com seus novos amigos, me amava, mas minha vida era absorvente, ele tinha que ficar esperando que tivesse tempo para ele, ali ele estava bem.

O que era chamã, concordou com ele, ficou ali, agora a cada tempo livre corria para lá.

Sua irmã o localizou, pois um dia viu um filme na televisão, o que falava deles em garotos, vendo o homem morto, assim descobriu aonde ele vivia e o que fazia.

Contou que agora a fazenda era dela, que vivia ali basicamente sozinha, que tinha empregados por temporada, que tinha deixado de criar porcos que odiava.

Foi até lá visita-la, foi como fazer o caminho inverso do que tinha feito, foi interessante.

Passou um final de semana ali com ela, os outros irmãos estavam dispersos pelo pais.

Isso de uma certa maneira lhe deu paz, só sentia uma coisa, uma falta brutal do Tksuro, pois com ele se sentia feliz.

Quis fazer uma experiencia, de lá trabalharia, escreveria como sempre.

Desta vez Jin que tinha voltado depois do enterro do avô, foi com ele, disse o mesmo que Tksuro, era como encontrar outros de sua própria raça.

Ele com seu dinheiro comprou umas terras ali ao lado, construiu uma casa tipicamente japonesa, para agradar seu amado, que orientou como devia ser, seus amigos adoravam, Tksuro, construiu um ofurô que foi uma sensação, agora todos se metiam nus ali, ficavam conversando.

Ele pediu licença a todos, colocou vários gravadores em ângulos diferentes, gravava a conversa deles, que se esqueciam que estavam sendo gravados, falavam de tudo que sentiam, da vida como os jovens de hoje não respeitavam a tradição, o perigo das drogas, como cada um via isso.

Contavam histórias que tinham se passado ali, principalmente o que era chamã, como via os seus desaparecendo com tantas opções falsas.

A pouco tempo tinham lhe deixado um garoto, que não tinham pais, os avôs, acharam que ele poderia ser um futuro chamã, mas era uma criança como outra qualquer.

Se metia no ofurô com eles, ficava escutando tudo muito sério, um dia contou como se sentia, ao se dar conta que os pais viviam nas drogas, que desapareciam o deixando para trás, quando o arrastavam pelas ruas para pedir dinheiro, uma vez um pédofilo o quis comprar, por sorte sua mãe não permitiu, pois seu pai estava louco por drogas, o queria vender.

Isso sem querer o uniu ao Tksuro, que contou como tinha sido com ele, se tornou sua sombra.

As vezes em noites de tempestades, corria para se jogar num futon ao lado deles.

Era como se Tksuro fosse seu protetor.

Seguiu trabalhando com edição, agora os editores americanos, lhe mandavam trabalho, Jin trazia escritores jovens descendentes de japoneses, para conversarem com ele, vinha até lá, se não tinha dinheiro, lhes pagava a passagem, ficavam um tempo refazendo seus livros.

A única coisa moderna que tinha era uma antena de Hi-fi, para a internet, o resto era como gostava o Tksuro, tudo tradicional.

Ele tinha aprendido a língua dos nativos, falava perfeitamente, por isso todos confiavam nele.

Não conseguia imaginar sua vida a partir de agora longe dali.

Escreveu um livro falando principalmente nisso, um homem sueco, que sai das região das neves eternas, para viver perto do deserto.

Ainda saia com seu amigo que era chefe, para andar a cavalo, se meter no meio das manadas, aonde o cheiro nunca lhe incomodava, Jin dizia que era muito forte, mas ele que tinha sido criado sentido o cheiro dos porcos, nada disso era importante.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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