NASSER
Seu nome era Kamal George Nasser, seu pai
tinha sido o secretário administrativo da fortuna do Xá da Pérsia, hoje Iran,
era primo distante de Soraya, a rainha repudiada, sem querer ele a tinha apresentado
ao Xá.
Era um homem de confiança dele, apesar de
ter contra ele, todo o resto da família da rainha que chegou em seguida.
Era ele que se encarregava de levar para
fora do pais, dinheiro para segurança da família real.
Aproveitava para levar o seu também, com os
anos, as coisas não iam bem, ele foi vendendo na surdina todo o patrimônio
familiar, cada vez que ia a Suiça, levava mais, sabia que um dia teria que ir
embora, pois pela segunda vez, era casado com uma Inglesa, que durante muito
tempo pensei que era minha mãe.
Quando minha mãe morreu, nada mais eu
nascer, meses depois conheceu sua segunda mulher, dava aulas de inglês e
dramaturgia na universidade de Teerã, se apaixonou, se casaram, me diria depois
que as duas tinham saído da Inglaterra, atrás de aventuras.
Dorothy a segunda tinha se casado com ele,
principalmente porque sabia que ocupava um cargo, que era próximo ao Xá, essas
coisas. Mas odiava estar todo o tempo
com a cabeça coberta, a cara tapada.
Quando o Xá caiu, toda sua fortuna estava
basicamente a salvo na Suiça, a de meu pai também.
Eu na época tinha uns cinco anos, ele fez
uma coisa, a família ia viver perto do Cairo, ele optou que fossemos viver em
Alexandria, pois assim estaríamos mais protegidos.
Ia ao Cairo quando lhe chamavam, logo com
suas amizades, estava trabalhando no consulado inglês, atendendo ricos que
vinham comprar moradia fora de Londres.
Ganhava dinheiro por fora com isso.
Minha madrasta, apesar de a chamar de mãe,
sempre tinha sido distante, o que tinha acontecido, tinha lhe estragado o
humor, agora só tinha como diversão, os contatos ingleses.
Novos ricos como dizia ela, gente sem pedigree,
como se ela tivesse algum, descobriria depois que nenhum.
Quando ele fez 16 anos, seu pai tinha
deixado completamente de atender a família do Xá.
Me levou com ele de férias, primeiro fomos
a Paris, um dos motivos que a família não gostava dele, estivemos uns dois
dias, conheci a princesa Soraya, uma das mulheres mais bonitas que
conheci. Ele administrava seus bens,
bem como o que o Xá tinha dado para ela.
Desta vez, ela queria que ele vendesse
algumas joias, quando me viu, me afagou o rosto, passou os dedos pelos meus
cabelos negros, eu era uma mistura e sabia disso, pois era mais branco que meu
pai, olhos azuis, mas cabelos negros.
Era mais alto do que ela, bem como de meu
pai, ele dizia que tinha saído a família de sua mãe, foi então que finalmente
descobriu que Dorothy não o era.
Ela foi ao seu quarto, trouxe uma caixa,
abriu, dentro havia dois diamantes, disse para ele guardar para mim, era um
presente que tinha recebido de um amante.
Depois fomos a Berna, meu pai, dizia que
tudo tinha que ser feito com muito cuidado, em Paris, me comprou uma bolsa, na
verdade tinha encomendado, no hotel, me mostrou os fundos falsos, caso eu
tivesse que transportar alguma coisa.
Tinha me surpreendido, que dois dias antes
da viagem, me tinha feito ir ao consulado, eu tinha dupla nacionalidade, mas
agora só usava a inglesa. Como iria no
seguinte ano letivo, antecipadamente a universidade, Oxford, como ele também
tinha feito, me emancipou, na hora assinei os papeis sem saber muito o que ele
queria com isso.
Durante a viagem, foi me falando das
coisas, que agora eu era adulto, blá-blá-blá, que devia aprender a dirigir
minha vida.
Fomos ao banco, ele contratou uma caixa
forte para mim, descemos os dois, ele tinha uma imensa, cheia de documentos,
sacos de joias da família, bem como documentos de propriedades, tirou algumas,
uma estava presa com um cartão de visita de um advogado de Oxford, esse é
importante para ti, já te explicarei, o que me surpreendeu, pois minha caixa
era grande como a dele, basicamente deixou a sua vazia, com documentos que nem
valiam mais, segundo ele.
Se um dia te pressionem, entregue essa
chave, tirou um cordão que eu tinha no pescoço, para colocar a da minha caixa.
De lá fomos para Londres, ele me disse no
aeroporto, como sempre estão me seguindo, mostrou quem eram, se viam com cara
de árabes, não sabiam ser discretos.
Em Londres, ele fez como num truque,
trocamos de roupas, os dois de calças jeans, camisetas, tênis, um gorro com os
cabelos recolhidos, óculos escuros, saímos pela parte detrás do hotel, primeiro
me levou até uma casa, em Fitzroy Square, me sinalizou discretamente uma casa,
te pertence, já vais ver, demos uma volta pela praça para saber se estava sendo
seguido, foi quando nos sentamos num banco, ai me contou de minha mãe, a tinha
conhecido em Oxford, ele um estudante de administração, que não encaixava com os
outros estudantes, pois era apenas de uma família bem do Iran, nada mais. Mas acabaram se apaixonando, se casaram, a
família dela tinha sido contra, hoje em dia só existe esse teu tio, mas a casa
tocou a ela de herança.
Depois nos dirigimos a casa, um homem alto,
loiro, com os olhos como os meus, abriu, os vi do outro lado da rua, mas estou
ficando velho, entrem, me abraçou, estas parecido com minha querida irmã, se
teus cabelos fossem loiros, seria sua imagem.
Era uma verdade, pois eu não me parecia
nada a Dorothy.
Tio George, agora sabia o porquê dessa
parte do meu nome, era o irmão mais próximo dela, vivia na casa, para proteger
o patrimônio, segundo soube depois era do MI5, por isso a ligação com meu pai.
Vi os dois conversando muito, me disse que
fosse conhecer a casa, tinha três andares, mais o porão, aonde estava a
cozinha, um apartamento para o mordomo.
Ele disse que vivia basicamente sozinho,
vinha uma mulher cozinhar para ele, limpar a parte da casa que usava, realmente
do segundo andar, os quartos estavam com os moveis cobertos por lençóis, mas o
que gostei mesmo foi do sótão, que era de todo tamanho da casa, daria um quarto
especial.
Saímos com ele, depois de o ver telefonar
dizendo que não iria trabalhar nesse dia, tinha problemas familiares para
resolver.
Saímos por detrás, ele de proposito, passou
pela frente do hotel, os homens que meu pai dizia que nos seguiam estavam lá.
Os dois se mataram de rir.
Fomos para Oxford, eu adorei a paisagem, lá
fomos recebidos por um amigo dele, quando me perguntou o que eu pensava em
estudar, soltei logo que línguas, pois falava farsi, inglês, francês, queria
aprender outras, bem como literatura dessas línguas.
Vieste ao lugar certo, nos disse Sir John
Lancaster, uma parte da conversa não entendi, só compreendi depois de comermos
num restaurante daqueles clássicos.
Ao parecer meu tio o tinha tirado de um
aperto financeiro, tinha lhe comprado a parte de cima de sua casa, eu poderia
usar as duas entradas, uma a principal, ou sair por detrás, por uma escada que
ele tinha mandado fazer.
Me mostrou sua biblioteca, era como da casa
de meu tio, imensa.
Poderás consultar tudo que queria, a casa
ficou grande, eu e minha mulher não tivemos filhos, ela temia transmitir a
doença que acabou a matando, por isso fiquei cheio de dividas, foi um final
cruel, com o tempo ele me explicaria.
Como na casa do meu tio, ali tinha um
apartamento, pequenos, sala, cozinha, um bom banheiro, um quarto grande, outro
já com mesa para estudos, uma estante até o teto, riu dizendo que era para ir
comprando meus livros. Tudo estava
coberto com lençóis cheios de poeira.
Disse que a senhora que trabalhava na casa,
a cada dois dias abria as janelas, para não ficar com cheiro.
Depois me arrastou pela universidade, que
eu queria estudar, todos o conheciam, foi me mostrando desde o claustro, a cada
lugar.
Eu gostei, só reclamei de uma coisa, todos
andavam o tempo todo de terno e gravata, eu odiava isso.
Em Londres, novamente, voltamos ao hotel,
meu pai fez questão de sair comigo, irmos jantar num restaurante fino.
Agora eu percebia que estávamos sendo
seguidos, isso tens que aprender disse ele, sempre será assim, nunca sei quem
são, ou dos governantes atuais do Iran, ou da família Reza Pahlevi.
Querem saber dos documentos que te mostrei,
mas na verdade para eles só tem valor, os que deixei na minha caixa, os da
outra são para teu futuro.
Quando venhas, iras direto viver em Oxford,
teu tio já arrumou tudo, eu quando estudei, vivi dentro da universidade, é uma
merda, te colocam de lado, se vives fora, serás livres para fazer o que queira.
Gostei da ideia, embora não tenha gostado
muito da história dos trajes, isso resolvemos amanhã. No dia seguinte fizemos igual, saímos por
detrás, mas destas vez meu tio nos esperava com o carro. Isso será meu presente disse ele, fomos a um
alfaiate, tirou minhas medidas, tinha um mais ou menos do meu tamanho me fez
experimentar.
Só lhe disse que os de negro nada, odiava,
então me mostrou tecidos de quadros discretos, eu optei também por pied poulet,
coisas que gostava.
Me disse que tinha bom gosto.
Só de estar com o professor, bem como
escutar os alunos, eu conseguia falar inglês como eles, meu tio se matava de
rir.
Saímos do hotel, ficamos em sua casa, do
outro lado da rua se via os homens vigiando, caiu um temporal imenso, meu tio
fez uma maldade, chamou um grupo do MI5, desapareceram.
Depois fomos embora, no dia seguinte meu
pai recebeu uma chamada do Cairo, o herdeiro queria falar com ele.
Foi, voltou preocupado, queria o que estava
no cofre, inclusive disse que sabia das joias da Soraya, queriam isso também.
Lhe disse que era impossível, eu não tinha
joias nenhuma, ele disse que sabia que estavam nos vigiando.
Claro que fui visita-la é da minha família,
me disse que isso o aborrecia, é pior que sua mãe.
Isso o deixou nervoso, dois dias depois, estava
estudando, Dorothy, estava irritada, porque eu agora sabia que não era minha
mãe.
O telefone tocou, no que fui atender, tinha
um mal pressentimento, um homem tinha entrado no consulado, na frente de todo
mundo passou a navalha no pescoço de meu pai.
Morreu no ato.
Foi um enterro oficial, como era
funcionário da embaixada, o cônsul me entregou uma carta que ele tinha me
deixado, que devia ir embora em seguida se lhe acontecesse alguma coisa.
Dois dias depois, o advogado leu o
testamento, o apartamento de Alexandria ficava para ela, se colocou a venda,
bem como teria uma pensão do consulado o resto de sua vida.
Tomamos um avião para Londres, nos
acompanhou o chefe de segurança da embaixada, até a porta do mesmo.
De lá, meu tio nos esperava no aeroporto,
me disse que tinha mandado arrumar os quartos, mandei limpar tudo.
Ele deixava a casa, pois era minha, Dorothy
ficava vivendo lá, lhe disse que dentro de meses iria para Oxford estudar.
Ela caiu do cavalo, quando meu tio disse
que a casa era minha, que era herança da minha mãe, ficou branca, mas eu ri
dizendo que já sabia.
Ela escolheu o melhor quarto do andar de
cima, eu arrumei o sótão para mim, como queria, chamei uns homens que levaram
todos os moveis velhos, coisas que estavam por lá, só fiquei com um bau que
encontrei roupas de época de homem.
Depois mandaria arrumar para mim.
Pintaram tudo, fiz uma parte para estudar,
a outra era como um pequeno apartamento.
Achei interessante, no mesmo dia, Dorothy
deixou de vestir roupas como usava antes, no dia seguinte saiu com uma
conhecida que não via a anos, voltou cheia de bolsas.
Ne noite pela janela do sótão a vi saindo
com bolsas que jogou no lixo, eram as roupas que usava antes, nem luto ela
fazia, se sentia livre.
Na verdade pelo que sei, não era feliz com
meu pai, pior foi descobrir que só tinha direito ao dinheiro do apartamento de
Alexandria, que transformado em Libras não seria muito, bem como a pensão,
daria para ela viver modestamente.
Fui ao advogado, conversei com o mesmo,
basicamente me mostrou o que meu pai tinha deixado para mim.
Me explicou antes, que no Iran, só tinha
direito a herança o filho homem, o resto que se apanhasse, por isso Dorothy não
tinha direito a nada.
Contratei a mulher que trabalhava para o
meu tio, para cozinhar, pois isso Dorothy era um horror, uma senhora vinha
limpar a casa a cada dois dias.
As despesas, criei um fundo para isso, mas
tinha um limite, nada de gastar em besteiras.
Pois a primeira coisa que ela fez, foi
fazer um jantar, reunindo suas velhas amigas, queria encomendar num hotel.
Me pediu dinheiro, eu disse que ela se
apanhasse com o fundo, mas lhe lembrei que se gastasse tudo, não tinha o que
comer depois.
Ela me apresentou, como seu filho, mostrou
a casa inteira como se fosse a dona, eu deixei, pois lhe fazia ilusão.
Quase em seguida fui para Oxford, meu tio
tinha feito uma coisa, me deu as chaves dos armários da biblioteca, tem coisas
de muito valor aí, o mais interessante me mostrou ele, que quando os mesmos
estavam fechados, tinham um sistema de segurança que os protegia.
Além de um alarma que o avisava no MI5,
avisei a Dorothy disso.
Ficou horrorizada, estarei sendo vigiada o
tempo todo?
Sim, tens que pensar que nessa casa viveu o
chefe deles, então, é como se estivéssemos aqui de convidados.
Ela na hora não entendeu, pensou que ia
usufruir da casa como dona, fazer festas, a cada coisa, a desanimavam. Um dia olhei pela janela, lhe mostrei a
vigilância, ficou uma fúria, pensei que tinha me livrado desses persas, era
como ela chamava os iranianos.
Lhe disse para tomar cuidado.
Fui para Oxford, fui com meu tio antes
comprar um carro.
Ele se matou de rir, pois comprei o mais
normal possível, um carro que toda classe média tinha, era para não chamar
atenção.
O professor tinha mandado arrumar tudo,
estava limpo, bem como cheira ao pinho, contratei a senhora para fazer isso
duas vezes por semana.
Ele me levou a universidade, já estava
matriculado, antes de ir para lá, tinha ido com meu tio, buscar meus trajes,
tornei a prova-los, ficavam bem em mim.
Pelo menos não estaria vestido como todos
de negro.
A princípio, isso me fazia destoar de todo
mundo. No fundo era o aluno mais jovem
de todos, minha facilidade com as línguas era patente, logo estava aprendendo
outras.
Estudava duro, me convidavam para ir beber,
mas depois da primeira vez, vi que não era a minha, ficar bebendo para fazer
camaradagem, tampouco, sentia que perdia o tempo.
Quando viam meu carro, normal, alguns
chegavam com um último modelo, olhava por cima dos ombros para mim. Era como se eu não encaixasse com eles, mas
era justamente isso, queria ser um a mais no meio deles, a maioria que tirava
notas altas, eram justamente os que eram como eu, pessoas simples, nada de
farras. Nesse primeiro período morreu
um deles, que estava sempre cheirando à bebida, me falaram que consumia drogas,
era filho de um conde.
Ninguém ligava o meu nome a ninguém
importante, na verdade a maioria pensava que eu era egípcio, não me incomodava.
Só quando me perguntavam se eu iria a
mesquita, eu respondia que não tinha religião, pois meu pai era igual. Segundo meu tio, minha mãe era anglicana,
mas isso não me importava.
Descobri uma piscina perto da universidade,
ia lá, primeiro aprendi a nadar, os outros esportes não me interessavam.
Observava que sempre alguém me seguia, mas
fazia de proposito, levar outro tipo de roupa, sair pela saída de empregados,
coisas do gênero.
As vezes olhava pela janela, quando estava
estudando, sempre tinha alguém me observado.
As vezes no final de semana ia a Londres,
principalmente para estar com meu tio, este me avisou que sem querer estavam
vigiando minha casa, que minha madrasta dava festas, sempre com pessoas um
tanto quanto desconhecidas.
Ele andou olhando, tinha um em especial, um
homem que era da Scotland Yard, que ele dizia que era um vendido, sempre ao
melhor postor.
Um dia cheguei este estava sentado na
biblioteca, como se fosse o dono da casa, de chinelos inclusive, com os pés em
cima de uma mesa.
Fiquei parado na porta olhando, ele me
perguntou se eu queria alguma coisa, só lhe respondi que sim, a casa é minha e
o senhor está se comportando como se fosse tua.
Nisso entrou a Dorothy, devia ter dormido
com o mesmo, estava ainda de roupa de dormir, vinha trazendo uma bandeja com
café.
Eu soltei a biblioteca não é lugar para
tomar o café da manhã, isso se toma na cozinha, aqui na minha biblioteca não.
Ela ficou vermelha como um pimentão, o
sujeito me mandou colocar no meu lugar, a casa era dela.
Sinto muito o senhor está mal informado, a
casa é minha, a senhora Dorothy vive aqui, porque foi mulher do meu pai, mas só
tem de seu uma pensão do consulado, bem como um dinheiro que lhe dou.
Coloque-se no seu lugar fedelho, respeite
tua mãe.
Ela não é minha mãe, sim minha madrasta,
vive aqui de favor.
Ela abriu a boca finalmente, ia te contar,
mas é verdade.
O sujeito saiu rápido da biblioteca, eu
pensando que ia ter uma boa vida.
Se vestiu, saiu rápido da casa.
Bom, lhe disse a ela, a senhora já não é
uma menina para se meter com esses sem vergonhas, todo mundo sabe, meu tio me
avisou.
Creio que é melhor que a senhora vá viver
num apartamento, eu lhe pagarei o aluguel, mas que não seja caro, sabe o valor
da despesa da casa, igual, nada mais do que isso.
Foi aí que soube que a senhora que tinha
antes trabalhado com meu tio, tinha ido embora, pois as festas eram continuas.
Ficou uma fera, teu pai me enganou, me
prometeu mundos e fundo, agora estou no hora veja.
Não seja por isso, davas aulas na
universidade lá, procure um emprego, em vez de ficar fazendo festas numa casa
que não é tua.
Arrumou as malas, foi embora no mesmo dia,
iria para casa de uma amiga.
No final do dia voltou com o rabo entre as
pernas, pois todo mundo sabia agora que não era rica, nem dona da casa.
A deixei ficar, mas tinha que arrumar um
emprego, que eu saberia se fazia festas na minha casa, mostrei que tinham
tentado abrir os armários da biblioteca, ela disse que tinha sido o da Scotland
Yard, pois tinha visto um livro interessante.
Fiz uma coisa, abri a vitrine, mostrei para
ela que eram livros falsos.
Até nisso sou uma rica falsa. Falei com meu tio que lhe arrumou um
emprego de professora, numa escola antes da universidade.
Meses depois me telefonou, que tinha
encontrado perto da mesma um pequeno apartamento, se eu autorizava o uso do
dinheiro que tinha falado.
Disse que sim. Quando andei pela casa, notei falta de alguns
objetos, que na verdade não tinham valor, coisas até de mal gosto.
Na verdade pouco a vi depois disso, paguei
essa despesa até ela morrer.
Me convidaram para uma entrevista, eu sabia
que tinha o dedo do meu tio na história, era para trabalhar no MI5, porque eu
tinha facilidades com as línguas.
Isso foi em Oxford, disse que nem pensar,
agradecia, mas estava no meio dos meus estudos, iria passar o ano seguinte,
estudando em Paris na Sorbonne.
Iria me especializar em línguas mortas,
como aramaico, grego, estudaria também hebreu.
Meu tio se matou de rir, disse que não
tinha sido ele, mas sim um dos meus professores, que sempre indicava alguém
para o MI5.
Ele voltou a viver na casa, foi o primeiro
a notar que faltavam coisas.
Pela primeira vez, fez uma coisa que não
sabia, me pediu a chave foi até uma estante no meio, colocou a chave, apertou
uma parte embaixo, a estante se veio para frente, atrás havia um escritório,
uma estanteria cheio de livros valiosos.
Eu sabia que metade dos livros ali, eram
falsos, mas adorei o descobrimento.
Deixei em mãos do professor de Oxford, ele
alugar para o tempo que eu estivesse fora, para algum professor, eu tinha feito
uma reforma no apartamento, tinha tirado os papeis de parede, sempre odiaria os
mesmo, o mesmo tinha algumas paredes com alguma cor, nada demais.
Fui para Paris, contactei o advogado de lá,
este me falou do apartamento que estava alugado, segundo ele era imenso.
Fui com ele dar uma olhada, sabia quanto
pagavam de aluguel, disse que preferia um perto da Sorbonne, que fosse prático
para um estudante, que esse era eu.
O aluguel que me pagavam do outro, pagava o
mesmo, todas suas despesas, além claro de me sobrar alguma coisa.
Era perfeito para mim, tinha dois quartos,
um montei meu lugar para estudar, a sala, tinha uma estante fixa, ali iria
colocando os livros que iria comprando.
Estava cheio de restaurantes por perto.
Meu tio tinha falado uma coisa, se te
escondem muito, ficas com cara de culpado sempre, aja normalmente.
Sabia que me seguiam, ali pude ser
diferente sem a pose de Oxford, só tinha levado um traje o que eu mais gostava,
o resto era o uniforme que usavam os alunos, bem como alguns professores,
calças jeans, camisetas, um velho casaco de couro que comprei numa loja de
segunda mão.
Quando meu tio vinha passar o final de
semana comigo, ou alguns dias se estava fazendo algo para seu trabalho, lhe
arrumava um hotel pequeno ali perto.
As vezes se a pessoa que me seguia, ficava
muitos dias seguidos, eu chegava a cumprimentar, bom dia, boa noite.
Se fazia frio, dizia simplesmente, vá
descansar, que hoje não vou sair mais.
Alguns chegavam a rir.
Como não fazia nenhum movimento estranho,
como gastar dinheiro a rodo, tudo bem, era como qualquer estudante normal,
aplicado.
Ia sim, sempre que podia, pelas lojas de
livros antigos, por Saint Germain de Prés, a maioria nem existe mais, os
proprietários sabiam os assuntos que me interessavam, sempre separavam, me
telefonavam.
Les fazia graça um rapaz da minha idade se
interessar assim por línguas mortas.
Fiz amizade com alguns professores, pois
viam que eu não acompanhava os outros estudantes nas farras, me convidavam para
ir ao encontro que iam eles, fui conhecendo escritores, jornalistas, gente que
escrevia. Algumas mulheres fascinantes,
ou do teatro, ou mesmo escritoras.
Quando uma delas me deu um livro de Simone
de Beauvoir, eu adorei, comentei com ela a respeito, um dia me arrastou com
ela, fomos a sua casa.
Um dos jornalistas, me deu um livro de um
escritor egípcio que escrevia baixo um pseudônimo, amei o livro, me perguntou
se eu conseguiria traduzir, pois tinha algumas palavras que seu amigo tradutor
da editora interessada não conseguia.
Sem querer tinha arrumado um emprego, logo
estava traduzindo obras em hebreu, em farsi.
Me saia bem, pois buscava tudo que o autor
tivesse publicado na sua língua original, para entender a cabeça do mesmo.
Estava traduzindo um autor Iraniano, quando
um dia, um desses homens me avisou, que ele não era bem visto no pais, que eu
fosse com cuidado.
Relaxado, lhe convidei para subir, me
sentei com ele, preparei café, começamos a conversar em Farsi.
Eu na verdade não via nada demais nos
livros, não eram políticos, apenas relatavam velhas histórias, passadas no
interior do pais.
Lia para ele alguma parte que achava
interessante, ele ria, com a minha pronuncia, a corrigia.
Lhe disse que fazia tempo que não falava,
lia e escrevia, mas pronunciar, era diferente.
Ficamos amigos, aí soube que ele me seguia
a mando do descendente do Xá, que achava que eu tinha alguma coisa deles.
Só se meu pai tivesse, mas o assassinaram,
nunca soube por que, mas não me deixou documentos.
Quando falou em joias da ex-rainha Soraya,
lhe disse que a tinha visto uma vez, numa visita de parentes, mas que não sabia
de joias nenhuma, pensei que fosse pobre.
Ele me olhou nos olhos, mas eu o encarava.
Não posso ficar subindo, podem pensar que
tenho algo contigo.
Algo comigo, como o que?
Ele segurou minha mão, depois me beijou,
fomos para a cama.
Nunca mais o vi.
Os seguintes não eram tão interessantes,
por isso segui como sempre.
Talvez ele tivesse liberado uma parte que
para os outros parecia não existir em mim, o libido, agora entendia certos
olhares nos encontros com os professores, escritores.
Um dia comentei com um que era mais
relaxado sobre isso.
Vivemos apostando quem vai te levar para a
cama, mas pareces de outro planeta, nunca olhas ou das margem a que te
convidem, sempre escapas, pois tens que estudar, ou estar trabalhando em algum
livro.
Ele ao contrário dos outros me atraia, me
tratava como um igual a ele, tinha se surpreendido, pois tinha resolvido não
voltar a Oxford, lhe disse que lá me sentia vestindo um espartilho.
As vezes dormia na sua casa, preferia,
assim fazia sexo com ele, depois ia embora, se fosse um final de semana
ficava.
Pierre Trudeau, era de uma família
importante, mas nem por isso pedante, tinha um apartamento muito interessante
em Saint Paul.
Eu adorava o lugar, lhe disse que me
avisasse se visse algum para alugar.
Nunca comentei com ele nada se nos estavam
seguindo, as vezes andávamos pelas ruas de madrugada de braços dados, se a rua
estava deserta, parava para lhe dar um beijo.
Gostava dele, inclusive me arrumava
traduções para fazer, pois estava sempre cheio de trabalho.
Raras vezes ia ao meu apartamento.
Um dia o vi preocupado, lhe perguntei o que
se passava.
Me falou que o serviço secreto francês o
tinha avisado, que eu estava sempre sendo seguido, eles tinham capturado um, era
do governo do Iran.
Me aconselharam a me afastar de ti, pois se
minha família sabe, podem fazer um escândalo.
Eu aceitei, nos víamos na universidade, ou
em grupo com os outros.
Entendi que era vigiado de todos os lados.
Podia voltar a Londres, mas amava a
liberdade que tinha ali.
Um dia ele me chamou, iria deixar seu
apartamento, tinha recebido uma oferta para trabalhar nos Estados Unidos, aqui
estou sempre perto de ti, sinto tua falta, quem sabe a distância me ajude.
Me apresentou o proprietário do
apartamento, paguei três meses de aluguel, me mudei, na verdade do outro, só
uma mesa era minha, o resto era do apartamento.
Durante esse tempo pouco fui a Londres, ia
as vezes para ver meu tio, tinha um certo apreço com ele. Quando me separei do Pierre, ele comentou
que o tinham avisado, antes achavam estranho, nunca estares com ninguém, agora
acham um absurdo seres gay, teres uma relação com um professor famoso.
Siga tua vida, comigo sempre aconteceu o
mesmo.
Ele tinha agora vivendo na casa, um homem
da mesma idade dele, tinha sido mordomo de um homem que ele tinha amado, agora
como que cuidava dele.
Estou me afastando aos poucos das minhas
funções, agora só me chamam quando há alguma crise.
Eu procurava não me interessar por nada que
fosse do Iran, nem ler notícias, usava agora no meu trabalho de tradutor George
Nasser.
Quando o proprietário disse que queria
vender seu apartamento, eu lhe perguntei quanto, me olhou, pois sempre me via
vestido simplesmente.
Falei com meu advogado de Paris e o de
Londres, os dois mandaram o valor para ele, fiz uma coisa o comprei em nome de
George Nasser, tinha me nacionalizado francês, assim só fiz com esse nome.
Meu tio achou que eu estava certo.
Do meu salão, tinha uma janela imensa, dava
para um pátio, do outro lado tinha uma loja no térreo, se via todo o salão
desde lá, nunca coloquei cortinas, assim se ia me vigiar, o faziam abertamente.
Um dia estava fazendo uma tradução do novo
livro do escritor egípcio, quando levantei a cabeça, vi o rapaz que eu tinha
gostado, lhe fiz sinal para subir, indiquei por onde.
Ele na porta me beijou, nunca te esqueci,
me disse em farsi ao meu ouvido.
Lhe perguntei se me estava vigiando.
Me disse que não, mas por ter passado a
noite contigo, me tiveram preso muito tempo, agora sou livre.
Estou a caminho dos Estados Unidos, dormiu
comigo essa noite, o pé direito do apartamento era altíssimo, então na parte
que ficava a pequena cozinha, em cima era o dormitório, mas da rua não se via
nada.
Falei com meu tio, no dia seguinte fomos
para Londres, meu tio arrumou um emprego para ele lá, agora viras mais,
verdade.
Eu tinha que analisar meus sentimentos,
nunca tinha sentido um amor como se falam nas novelas, ou mesmo como diz a
gente pelas pessoas com quem tinha feito sexo, com relação a ele, tínhamos em
comum, que nascemos no mesmo pais, gostávamos de fazer sexo, nada mais.
Ele ficou vivendo na casa do meu tio.
Fiquei mais tranquilo, me sentia culpado de
o ter arrastado ao meu apartamento, nada mais.
Tinha cuidado com os homens com quem fazia
sexo.
Um dia passava por uma banca de jornal, li
a noticia da morte da parente de meu pai, Soraya, tinha morrido sozinha no
imenso apartamento que tinha em Paris.
Começou uma briga surda entre o governo do
Iran, com a família Reza Pahlevi.
Uns falavam nas joias que ela tinha, um
advogado dela, esclareceu, alguns joalheiros confirmaram, que ela nos últimos
anos vinha vendendo as mesmas, para manter o ritmo de vida que tinha.
Alguns desmanchavam a joia original, pois
não a podia colocar para a venda como estavam.
Só um colocou a venda logo em seguida uma
tiara que tinha como rainha, houve uma disputa na compra, de um lado o governo
do pais, de outro a última mulher do Xá.
Mas quem comprou afinal, foi uma mulher da
alta sociedade de NYC.
Pensei em ir a cerimonia que faziam seus
amigos pelo enterro, não se sabe de aonde, apareceram parentes, um eu tinha
visto uma vez falando com meu pai.
Pelo visto esse agora era a cabeça da
família.
Um dia apareceu no meu apartamento, quando
eu estava trabalhando.
Me perguntou o que eu fazia, disse que
estava traduzindo um texto em árabe, para uma editora, que ganhava a vida
assim.
Me olhou de cima a baixo horrorizado,
perguntou se meu pai não tinha deixado dinheiro suficiente para mim.
Com o maior sangue frio possível, disse que
não, que dinheiro tinha herdado sua mulher, mas uma pensão do governo inglês,
nada mais, o que tinha me deixado, tinha feito a universidade.
Foi embora da mesma maneira que tinha
entrado, ele era um dos que tinha comentado em voz alta, achando que ninguém
ali sabia farsi, aonde tinha ido parar as joias da sua querida parente.
No dia seguinte meu tio apareceu, comentou
que o mesmo tinha roubado horrores na época do Xá, mas leva uma vida esbanjando
dinheiro.
Cuidado com ele, pois é conhecido por fazer
contrabando de armas, para os países árabes.
Meu tio, muito sério me perguntou se
realmente eu gostava da vida que levava?
Sim, porque não vou gostar, trabalho em
algo que gosto, odeio essas festas de sociedade, embora me convidem sempre tiro
o corpo fora.
As vezes com meus poucos conhecidos, alguns
professores da Sorbonne, quando se passam com a bebida, me levanto vou
embora. Se matam de rir de mim, pois eu
enquanto eles bebem, tomo chá.
Fui convidado para ir ao Egito para
conhecer o escritor, agora já sabiam lá quem era.
Era um ex-militar, tinha se aposentado,
nesse momento decidiu dizer quem era.
Gostava de como eu trabalhava, me deu dois
textos ainda não publicados, queria que eu já fizesse a tradução para o francês
e inglês, passamos um bom tempo em sua casa, perto do Mar Vermelho, falando
sobre os dois livros.
Quando voltei, dois dias depois meu tio
levou um tiro no quadril, num atentado.
Fiz uma coisa que achei importante, fui ao
meu banco aonde tinha uma caixa forte, deixei os texto lá.
Fui para Londres, fiquei lá até meu tio
sair do hospital, meu amigo do Iran tinha ido para os Estados Unidos.
Mas meu tio se virava bem, com uma bengala,
tinha seu fiel mordomo, disse qualquer coisa eu grito, sei que vens correndo.
Um dia conversando, me disse que sua parte
da herança família tinha aberto mão para os irmãos, eu não conhecia nenhum, os
mesmos nunca tinham aceitado que minha mãe se casasse com um árabe, como
diziam.
Não se preocupe por mim, nem toquei em nada
da fortuna de meu pai, o senhor sabe aonde.
Vivo do dinheiro que ganho com meu
trabalho, sou honesto de dizer que me pagam bem.
Lhe contei que agora tinha os dois livros a
serem publicados ainda, que estaria traduzindo.
Num ponto sinto inveja de ti, sempre foste
na tua, sem problema nenhum.
Lhe dei um beijo na testa, avisei seu
mordomo que qualquer coisa me chamasse.
Um dia quando levava o texto dos dois
livros traduzidos, para a editora, tentaram roubar o mesmo, arrastei o que
tinha tentado, o fiz sentar-se num bar comigo, tirei o texto do envelope,
mostrei para ele, você acha que seria idiota para andar na rua, com alguma
coisa que vocês procuram, nem sei, nem quero saber o que procuram, isso é o meu
trabalho, textos traduzidos, estou levando para a editora.
Da próxima vez, entrego a ti ou qualquer um
aos serviços secretos, estão avisados.
Ainda fiz uma coisa dei um tapa forte na
cara do sujeito.
Fui procurado quase em seguida pelo serviço
secreto, entendi o que buscavam. Havia
uma briga judicial pelo pequeno patrimônio de Soraya. O governo francês reclamava a propriedade,
pelos anos que ela não tinha pago impostos, eram muitos, o do Iran que a
propriedade era deles, os Reza Pahlevi, que era sua, além claro, já entraram
várias vezes atrás das joias, mas já foi provado que só sobrou uma tiara, que
já tentaram roubar de quem comprou.
Parece um circo, pior é que imagina vou
tranquilamente pela rua, com dois envelopes com textos que acabei de traduzir,
os filhos da puta tentam roubar, por isso consegui pegar o sujeito.
Nos relataram, inclusive o tapa que deste
na cara do sujeito.
Nunca me deixaram em paz, essa é a verdade.
Acabou que o governo ficou com a
propriedade, a colocou em leilão, para recuperar o dinheiro dos impostos não
pagos.
Mesmo assim, entraram uma última vez, desta
vez os Reza Pahlevi, para procurar um diamante famoso, presente do Xá para ela.
Ninguém sabia aonde estava, diziam que num
cofre na Suiça, mas os boatos eram muitos, até que um Sheik árabe, confessou
que tinha comprado, dela.
Tinha prometido nunca falar a respeito, na
época ela estava sem dinheiro nenhum, pois o Iran tinha cortado de aonde vinha
o dinheiro de sua manutenção.
Saia uma reportagem no jornal, falando
outra vez de sua morte, ela sozinha naquele apartamento imenso, em que faltavam
metade dos moveis, sem empregados, na ruina completa.
Ninguém da família a tinha ajudado, ele
ficou quieto, nem ousava dizer nada, sabia que seu pai tinha levado as joias
que ela queria para a Suiça, mas realmente depois ele não sabia nada.
Nem se atrevia ir a Suiça para verificar,
para que colocar mais lenha na fogueira.
O mordomo de seu tio o chamou, ia mal, se
negava a sair de casa, ficava deprimido, resolveu que seguiria trabalhando
desde lá, bem como faria contato com editoras inglesas.
Na realidade não necessitava trabalhar.
Vendeu o apartamento de Paris, por um bom
dinheiro, contratou uma empresa para levar todos seus livros, principalmente os
de consulta.
Recebeu nada mais ao chegar um convite da
universidade de Londres, para dar aulas, para alunos avantajados, na área que
ele trabalhava, ficou de pensar.
Dar aulas não o entusiasmava muito.
Seguiu trabalhando, agora o que fazia, era
usar a sala de dentro da biblioteca, a primeira coisa que fez, foi retirar
todos os livros falso, colocar os seus, assim seguiu.
As livrarias de Paris, seguiam lhe mandando
avisos de livros que ele poderia gostar, os comprava, estudava.
Mas um dos manuscritos que encontrou dentro
dessa parte, pertencia a sua família a muitas gerações. Seu tio, feliz por ele estar ali, disse que
se os outros soubessem, voariam em cima dele.
Era um assunto que o apaixonou desde o
princípio, estava em aramaico. Falava a história de uma tumba no Egito, fez a
tradução inteira, havia momentos, que conforme descreviam, ele conseguia ver o
local.
Quando seu tio morreu, riu muito, pois
finalmente conhecia os seus parentes, quando estes perguntaram se não havia a
leitura do testamento, ele mostrou a cada um o que ele tinha doado a eles em
vida.
Reclamaram da casa, não gostaram da
explicação, a casa nunca tinha sido dele, sim pertencia ao seu sobrinho, filho
da irmã que todos tinham relegado a segundo plano.
Dois queriam entrar na justiça, o próprio
advogados deles avisaram, vocês vão perder, pois está tudo legal.
Na verdade esses nunca tinha trabalhado,
estavam todos na ruina.
Mas não moveu nenhum dedo para ajudar, seu
tio sempre dizia que se o fizesse uma vez, nunca parariam de pedir dinheiro.
Doei em vida a eles, mas sempre me pediam
mais.
Ao parecer ele era o único a conhecer seu
tio direito, agora sentia falta das imensas conversas que tinha com ele.
Aceitou dar um semestre de aulas, mas antes
entrevistou os alunos que lhe propuseram, era um vexame, a maioria só tinha
duas línguas para apresentar, só quatro falavam mais de dois idiomas.
Começou avisando que iriam trabalhar um
texto em árabe, outro em farsi, nem precisou seguir adiante, os alunos
desistiram.
Oxford fez a mesma oferta, lá sim ele
poderia ter um bom trabalho.
Mas se tornou o professor rebelde, aparecia
para dar aulas, parecia mais um aluno do que um professor, usava o carro do seu
tio para se locomover até lá, era obrigado a usar a capa de professor, que
tirava nada mais entrar na sala.
Fez uma proposta ao contrário, os alunos
teriam que fazer uma tradução do inglês a outra língua, o primeiro livro seria
uma obra de Shakespeare, do inglês original ao Farsi, ou árabe.
Ele atendia os alunos ali mesmo, já que não
tinham lhe dado um gabinete.
Foi lucrativo.
Saia de Londres no dia anterior as aulas,
ficava no seu apartamento, dava dois dias de aulas, voltava para Londres,
seguia seu trabalho no manuscrito.
Pela primeira vez, resolveu fazer um
trabalho diferente, pegou todo o conteúdo, criou personagens, escreveu um
romance, baseado num fato verdadeiro.
Estudou profundamente, tudo que existia a
respeito da dinastia que se falava.
Depois por ter encontrado um manuscrito,
estava escrito numa língua dada como morta, a usada na corte da China. Procurou um professor, para lhe ensinar
mandarim, este ficava como louco, como ele podia aprender tão rápido.
Este conhecia um que tinha estado preso
anos, pelo governo chines, vivia em NYC, com a família, foi até lá. Como ia com o outro professor, aceitou a lhe
ensinar.
Veio inclusive passar um tempo com ele, os
dois debruçados em cima do manuscrito.
Traduziram o mesmo, atualizando primeiro
para o mandarim falado hoje em dia, depois para o inglês.
Era uma história fantástica, de como uma
concubina comprada por um dos reis da dinastia Tang, a mesma era descendente de
uma tribo de judeus, que viviam num oásis, em pleno deserto de Sinkiang, aonde
viviam várias etnias diferentes.
Se diziam descendentes de uma tribo perdida
de Israel. Essa concubina, deu ao rei
um herdeiro que depois seria um dos mais importantes.
Professava a religião judia, mas tudo
escondido.
O professor que o tinha ajudado, quando
publicaram primeiro o relato do manuscrito, ele colocou o mesmo como seu
colaborador, ou seja o livro era dos dois.
Depois ele escreveu o mesmo de forma
romanceada. O governo chinês disse que
tudo era mentira.
Ele nunca respondeu, recebeu um emissário
do MI5 falando do assunto, ele disse que não ia argumentar, mostrou o
manuscrito original ao mesmo, foi a partir daqui que foi traduzido tudo.
Em seguida o guardou num cofre de um
banco. O professor tinha voltado para
NYC, estaria sempre agradecido, pois recebia metade do dinheiro dos valores da
tradução.
Assim ele seguiu adiante, ele mesmo se
cobrava um companheiro de viagem, como dizia, mas os romances pareciam não ser
com ele.
Tinha sido criado sem muitos gestos de
carinho, por isso as vezes não sabia retribuir.
Quem um dia apareceu com um texto raro, foi
o Pierre Trudeau, estava novamente em Paris, tinha retornado ao seu posto na
universidade.
Nunca tinha se esquecido um do outro. Estava de férias, ele estudou bem o texto,
disse que podia ser em língua dos Uigur, descendente de Turcos, que trabalhavam
na rota da seda.
Procurou entre os livros que tinha
conseguido nos sebos de Paris, até que encontrou um que misturava o turco de
hoje com dessa época.
Era como recuperar uma história de uma
família que trabalhava nessa rota, que tinha construído nesse lugar um
entreposto.
Levaram toda a férias fazendo uma tradução,
ao mesmo tempo, reavivando o romance entre eles. Pierre já não tinha medo, eu
vivi o suficiente para saber que o que vem pela frente e lucro.
Como lhe faltava pouco para se aposentar,
ficou vivendo com ele em Londres.
Foram os anos mais felizes de sua vida, os
dois trabalhavam lado a lado.
A cada trabalho de manuscrito ele escrevia
um livro.
Descobriu por um acaso, um bairro aonde a
maioria eram do Iran, refugiados, passou a dar aulas na escola local de Farsi,
bem como de inglês, ajudava os alunos a irem em frente.
Pela primeira vez numa viagem romântica,
para todos os efeitos ia a Alemanha na feira do livro de Frankfurt, aproveitou
escapou para Berna, transferiu uma grande soma de dinheiro para um banco de
Londres, bem como levou um dos diamantes escondidos em sua pasta.
Olhou o que havia na caixa de seu pai, era
um estudo de como a família Reza Pahlevi tinha usurpado o poder no Iran.
Riu muito, tirou uma cópia ali no banco
mesmo, levou com ele.
O diamante vendeu em Londres, mandou um
cheque para a escola, a mesma foi reformada de cima a baixo, ele mesmo ia
colocando na mesma livros para os alunos estudarem.
Defendia que nunca deviam perder suas
raízes em termos de língua.
Ao mesmo tempo ajudava a maioria dos alunos
a seguirem em frente.
Foi traduzindo junto com o Pierre, o
manuscrito que estava na caixa de seu pai, se remontava na verdade ao primeiro
Reza Pahlevi, o avô do que se tornou Xá da Pérsia, de como tinha roubado o
poder, por ser militar, dando golpes.
Foi publicado como um romance, quando um
advogado da família o procurou, disse que uma pessoa tinha lhe passado uma
cópia de um manuscrito nada mais, tinha chegado por correio.
Mostrou um envelope, com um selo do Iran,
nada mais, nenhuma carta, nada.
Eles queriam essa cópia, ele antes tinha
tirado uma outra, assim lhes entregou, mas exigiu uma boa soma em dinheiro,
para a escola da comunidade aonde dava aulas.
Se negaram a princípio, moveram uma ação
contra ele, mas perderam, ninguém tinha o poder real sobre uma cópia. No que fizeram isso, se gerou uma propaganda
imensa em cima de seu livro, ele saiu ganhando.
Para terem o poder sobre a cópia, tiveram
que pagar o que ele pedia.
Isso também fez com que os Aiatolás, fossem
a caça da família, pelo que tinha roubado do pais.
Esse escândalo, abafou sem querer, que
alguém tinha descoberto a venda numa casa de leilões, um dos diamantes de
Soraya.
Ninguém sabia a procedência do mesmo, mas o
escândalo da outra parte foi grande, assim ninguém prestou muita atenção, foi
comprado por uma grande casa de joias, nada mais.
Ele seguiu em frente.
Agora já sabia a que dedicar o dinheiro que
tinha, bolsas de estudo para jovens não importando a raça, afinal, nunca teria
filhos ou descendentes.
Ele e Pierre analisavam os candidatos,
assim podendo ajudar os mesmos.
Quando Pierre morreu, era muito mais velho
do que ele, seguiu fazendo o mesmo, por último deixou o outro diamante que
Soraya tinha lhe dado de presente.
Alimentaria essas bolsas de estudos durante
anos.
Sem o Pierre, ele seguiu fazendo seu
trabalho de tradutor. Se obrigava a sair
para caminhar, ia conversando com os vizinhos, ia ao parque na frente de sua
casa.
As vezes ficava horas sentado ali, tinha
doado todos os manuscritos da casa, ao Arquivo da universidade de Londres, para
futuros estudos, a mesma coisa foi sua biblioteca.
Assim quando morreu sentado num dia de
inverno, na praça, só restava a casa, para ser vendida, alimentar as bolsas de
estudos.
Anos depois se descobriria os documentos na
caixa de seu pai, mas já era tarde tinham sido publicados.
A sua estava vazia a muitos anos.
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