CRUDE LIE
A merda de ser jornalista, tinha seus
problemas, sabia quando uma pessoa estava lhe mentindo.
Isso tinha acabado de lhe acontecer, tinha
ido até a porta para se despedir de seu amante, realmente era isso, um homem
casado, se perguntava sempre por que todos seus relacionamentos sempre acabavam
mal, as pessoas nunca eram como ele imaginava.
Tinha conhecido Karl, quando foi chamado
por um editor, queriam publicar seu livro, o diretor do jornal tinha mandado
para esse seu amigo.
Esperava encontrar uma pessoa de idade, deu
de cara com um homem mais ou menos da sua idade, o poderia chamar de bonito,
alto como ele, cabelos loiros rebeldes, olhos azuis translúcidos. Na hora ainda pensou, uma pessoa com esses
olhos não mentem.
Descobriria por aí, que sim, mudavam de
cor, não comentou nunca com Karl sobre isso, era sua arma de defesa.
Falaram do livro, demorou um pouco para se
concentrar, se tratava de sua última temporada como correspondente na Comunidade
Europeia, tinha analisado profundamente a ideia, os estados membros, tinha tido
livre acesso a tudo.
Claro tinha a mão de seu Editor chefe no
jornal, esse tinha milhões de contatos, quando não conseguia ele, falava com o
chefe, nunca sabia como ele conseguia.
Tinha escrito um livro paralelo as
entrevistas que tinha feito, todas publicadas no jornal.
Tinha sido como um descanso dos anos todos
cobrindo guerras, entrevistando ditadores, coronéis que usurpavam o comando de
uma nação, ou mesmo chefes de guerrilhas.
Estava farto, na época quando voltou, tinha
vindo principalmente para um enterro, aliás duplo.
Seu pai tinha se suicidado, justamente
momentos depois que sua mãe tinha morrido.
Os dois tinham sido o exemplo de um
relacionamento profundo, tinha se conhecido na universidade, era totalmente
opostos um ao outro, mas se amaram profundamente.
Ele sabia desde o principio que ela ia
morrer, preparou tudo como devia, o enterro, os documentos, lapidas, os
desejos, como queriam a cerimônia, sem nenhuma reunião em seguida.
Tinham vivido profundamente seu
relacionamento, que ele tinha sido um estorvo quando nasceu, quando se
descobriu gravida, sua mãe tinha pensado em abortar, mas já era tarde, a única
coisa que os deslumbrou com ele, foi sua inteligência, era como se fosse a dos
dois juntas. Então o amaram profundamente, o incentivaram em tudo.
Nunca tinha sido um garoto do esporte, a
única coisa que ele gostava era de jogar basquete, mas tinha um problema não
sabia funcionar em equipe, ia sempre por livre.
Talvez por isso nunca fazia amigos, era bom
jogando, mas os técnicos reclamavam sempre que ele se esquecia dos
companheiros, quando pegava a bola, não a soltava, ia até o final.
Talvez por sorte para ele, um dia no final
de um campeonato, a maioria dos pontos tinham sido feitos por ele, no último
momento, corria para encestar a bola, quando um da equipe contraria, lhe deu
uma cotovelada na cara, atingiu seu olho, no momento caiu no chão, ficou
desacordado, quando despertou, estava no hospital, quase perdeu o olho, a
partir disso, teria que usar lentes de contato.
Ficou esperando a visita dos outros
companheiros, não apareceu nenhum, pois se naquele momento ele tivesse passado
a bola, teriam ganhado o campeonato.
Levou tempo para se dar conta disso, um dos
técnicos o visitou, já não contaria com ele no seguinte ano, os outros não
queria jogar com ele.
Tens que aprender a jogar em equipe.
Confessou que isso não ia com ele, tinha
sido um garoto sozinho toda sua infância e juventude.
Aprendeu a se defender completamente, tendo
como exemplo seus pais.
Lhe ensinaram desde pequeno a não depender,
nem esperar ajuda de ninguém, tinha que se valer por si só.
Quando entrou na universidade, com uma das
melhores bolsas de estudos, podia escolher aonde estudar, procurou a melhor em
jornalismo.
Mas avisou, não viveria dentro da
universidade, tinha dinheiro que tinha economizado a vida inteira, recebia uma
mesada de seus avôs paternos, bem como de seus pais, aprendeu a administrar a
mesma com seu pai, um crâneo em matemáticas.
Desde pequeno o ensinou a analisar cada situação, se realmente precisava
comprar, se ia durar muito, se o que ele queria era realmente espetacular, se serviria
por um longo tempo.
Então com doze anos, abriu uma conta no
banco, seu pai foi junto é claro, chegava no final do mês, ele depositava tudo
que tinha economizado, que normalmente era a totalidade do que lhe dava seu
avô, mais da metade de seus pais.
Por isso pode ir viver fora da
universidade, ao mesmo tempo arrumou um emprego num jornal, fazia revisões de
última hora, aonde se imprimia o mesmo, entrava para trabalhar as cinco da
tarde, quando o jornal já estava pronto, seu trabalho consistia em revisar todo
o jornal, claro levou tempo para aprender a trabalhar assim, os primeiros
meses, revisava o que os jornalistas escreviam, principalmente os
correspondentes que estavam pelo mundo.
Com essa base lhe pagavam mais para ir
trabalhar nesse cargo, tinha um olho de lince como dizia seu chefe, via os
erros no momento, vinha passando os olhos pelos artigos, de imediato, notava o
erro.
Ele achava incrível isso, se o texto já
vinha revisado, como podiam ter passado esse detalhe.
Mas claro entendia, era um trabalho
desgastante.
Os colegas da universidade, a maioria nunca
chegaria a nada, pois queriam aproveitar a vida.
Ele nem prestava atenção, era como se sua
vida profissional o preenchesse completamente.
As vezes o gozavam, achavam que era virgem,
o que não era verdade, tinha tido algumas aventuras, as famosas de uma
noite. Como saia tarde do trabalho, as
vezes enquanto esperava o ônibus, passava alguém que lhe oferecia carona,
afinal tinha um bom tipo.
Um inclusive pensou que era um prostituto,
pois estava sempre nessa parada de ônibus, explicou ao sujeito que vinha do
trabalho, lhe mostrou aonde era.
O tomou por um operário da imprensa.
Não o corrigiu, mas a maioria desses homens
eram casados, queriam o que não lhes podia dar a mulher.
Ele achava interessante, pois quase todos
eram passivos na cama. Quando se atrevia
a comentar sobre isso, a maioria lhe respondia que o outro tinham em casa.
Mas tampouco voltava a ver os mesmos.
Quando acabou a universidade, foi logo
contratado pelo jornal, com 24 anos, já estava pelo mundo, seus pais de uma
certa maneira, no momento que ele foi para a universidade, foi como reencontrar
o que tinham antes, juraram que nada os ia atrapalhar.
Nunca voltou para casa, seguiu trocando de
pequenos apartamentos, por aonde ia, nunca gostava de hotéis de luxo, precisava
de um básico para trabalhar.
O Editor chefe o elogiava, pois seus
artigos vinham escrito perfeitamente, pois os ia corrigindo no mesmo momento
que trabalhava.
Era capaz de escrever sem se perturbar,
segundo seus colegas, embaixo dos maiores bombardeios, achavam que ele nunca
prestava atenção no que acontecia em volta dele, isso era uma grossa mentira,
pois ao mesmo tempo ia escrevendo um livro, pois ia gravando em sua cabeça,
todas as conversas que escutava em volta.
Uma vez numa conferência, soltou uma coisa
que ninguém esperava ouvir, lhe perguntaram o que se sentia em baixo, em algum
lugar ou bunker que se escondiam as pessoas na hora de um bombardeio.
Soltou que o medo, tinha inclusive cheiro,
que ele notava pelo cheiro da pessoa, que a mesma estava sentindo, embora,
fizesse cara ou gestos que demostrassem ao contrário.
Alguns entrevistados, se sentiam incômodos
com ele, pois tinha um olho um pouco mais escuro que o outro, embora
explicasse, que nesse olho usava uma lente de contato, pelo que tinha lhe
acontecido, ele encarava a pessoa, isso as distraia, sem querer demostravam que
estavam mentido.
Um chefe de guerra no Sudam, disse que ele
era uma pessoa maldita, pois com esse olho, era capaz de olhar a alma da
pessoa.
Isso porque conversando com o mesmo, depois
de uma quantidade de mentiras, ele se virou para o homem que falava um inglês
perfeito, começou a tocar em todos os pontos que tinha mentido.
Tiveram que sair fugido do acampamento,
pois o homem deu ordem de mata-lo.
Seu ajudante, dizia que não sabia se rir,
ou mata-lo ele mesmo, pelo que tinha feito.
Foram para o Cairo, escreveu o artigo de
duas maneiras, como o tal coronel, tinha falado a princípio, depois analisou
cada mentira que o mesmo tinha falado, inclusive o homem era nada mais, nada
menos que um professor de uma escola, que um dia resolveu ser o chefe de todos.
Nem era militar, nem tinha formação a respeito, apenas sabia manipular bem as
pessoas com suas mentiras.
Em seguida teve que voltar para NYC, pois o
tinham ameaçado de morte.
Aproveitou para passar uma férias, foi
visitar seus pais, foi quando descobriu que sua mãe não andava bem, saiu para
um largo passeio com o pai, pelo campus da universidade.
Disse para ele seguir com seu trabalho, que
ele estava cuidando de sua mãe, tinha sido um largo processo, se curou, voltou
a recair, curar-se de novo, foram mais de dez anos nisso.
Enquanto isso ele estava pelo mundo.
Justamente estava fechando seu pequeno
apartamento em Bruxelas, dizia para quem quisesse ouvir, que odiava aquela
cidade, não estava preparada para ser o centro da comunidade europeia.
Ainda citou numa entrevista, que deviam ter
feito como o Brasil, que tinha construído uma cidade só para administrar o pais,
era a única coisa interessante que ele achou em Brasília, tinha ido fazer uma
reportagem sobre umas eleições, lhe impressionou os candidatos, que não tinham
preparação nenhuma para administrar nem suas casas, quanto mais um pais
daqueles dimensões.
Quando saiu o artigo no jornal, por sorte,
ele estava embarcando para outro lugar.
O presidente do pais, se sentiu ofendido
com ele, pois numa entrevista, ele a tinha gravado inteira, tinha uma
tradutora, ele depois contratou uma pessoa, para traduzir o que o presidente
falava com ela.
O chamava de mil coisas, desde gringo
insolente, a filho da puta.
Juntou isso as respostas mentirosas que ele
tinha lhe dito, inclusive comentou que o mesmo falava mal sua própria língua,
pois descobriu que o mesmo nunca tinha feito uma universidade ou nada parecido.
Assim ele ia pela vida, alguns se negavam a
dar entrevista para ele, pois sabia que era o melhor, não mentir, se tinham
alguma coisa para esconder, se recusavam, aí tinha que chamar seu chefe.
Esse se matava de rir, dizia que ele tinha
uma péssima fama.
Estava arrumando suas últimas caixas de
livros, nesse tempo em Bruxelas, tinha muitos, em várias línguas, ele falava
cinco. Nunca fazia publicidade disso, assim era melhor, pensavam que era um americano
idiota, falavam as vezes na frente dele o que pensavam, aí no final da
entrevista, fazia uma pergunta falando a língua do mesmo, com detalhes,
normalmente isso quebrava a segurança do entrevistado, ou ficava quieto, pois
tinha gravado tudo.
Nunca dizia aonde estava sua gravadora,
muitos o faziam cachear, para ver se ele levava alguma, a mesma era sua caneta,
com a qual escrevia.
Quando encontrou esse artilugio, comprou
vários, assim não chamava a atenção.
Tinha um senso de observação
impressionante, analisava inclusive a postura da pessoa, pequenos tiques,
gestos, tudo.
Estava na última caixa, quando tocou o
telefone, na hora não entendeu, era o prefixo da universidade, mas só quando
atendeu, com um certo pressentimento, foi que soube o que tinha acontecido.
Disse que pegaria o primeiro voo da manhã,
pois tinha que deixar alguém encarregado de despachar suas coisas para o
jornal.
Tinha colocado os dois num congelador na
funerária.
O xerife tinha encontrado em cima do peito
de seu pai, uma carta dizendo o que tinha feito, que procurassem seu advogado,
esse não sabia das coisas com detalhes, mas tinha sim uma carta que devia
abrir, para saber como proceder o enterro.
Na verdade o mesmo descobriu que já estava
tudo organizado, inclusive as lapidas, só tinham que colocar a data da morte.
Ele não ficou surpreso, tinha uma carta
para ele, aonde o velho explicava tudo, que acompanhar o sofrimento de sua
mulher, para ele já tinha sido um castigo, pois ele sempre tinha gozado de boa
saúde, na hora que ela parta, sua vida deixaria de ter objetivos, vou junto,
assim como levamos nossa vida, seja feliz a tua maneira.
Esse seja feliz a tua maneira, o pegou se
surpresa, nunca tinha pensado nessa palavra ou frase, ser feliz.
Levaria muito tempo pensando nisso.
Na leitura do testamento, só estava ele
nada mais, deixavam tudo organizado, nenhuma dívida, a casa que viviam
pertencia a universidade.
Portanto, o que havia no banco era o que
tinha sobrado dos largos tratamentos de sua mãe, não era muito.
Junto o advogado leu o testamento de seu
avô paterno, que tinha morrido quando ele estava fora, esse sim tinha deixado
para ele, seu único neto, a casa familiar, uma bela soma num banco.
Mandou vender a mesma, iria juntar isso com
suas economias, para comprar um apartamento que futuramente seria seu pouso.
Ao se despedir do Karl, na porta do
apartamento que usava, ainda pensou na historia “ser feliz”, claro nunca tinha
se considerado infeliz, os poucos momentos que tinha com ele, eram bons, mas
claro depois de um tempo, era mais do mesmo, mal chegava lhe beijava, tirava a
roupa, pois sempre tinha pressa, uma vida social movimentada, se levantava se
limpava, se vestia outra vez, outro beijo.
Desta vez, queria que ele entendesse, que
não podia aparecer ali quando lhe dava na telha, lhe disse “adeus”, ao
contrario de até breve ou o que seja.
No dia seguinte foi para seu novo
apartamento, finalmente teria sua estante de livros, as caixas já estavam lá.
Karl reclamou por celular, que isso não se
fazia. Mas o livro já estava pronto,
seria lançado dentro de semanas.
Andou em volta de aonde estava seu novo
apartamento no Brooklyn, nisso uma conhecida com quem tinha marcado um encontro
lhe chamou, para cancelar o jantar que tinham.
Ele andou mais um pouco, parou na frente de
um cinema, olhou o cartaz do filme, já o tinha visto a muitos anos atrás,
fechou os olhos tentando se lembrar de aonde tinha sido.
Quando abriu os olhos, estava ao seu lado
um homem atraente, da sua altura, desculpa, pensei que estivesse passando mal.
Não estava aqui tentando me lembrar aonde
estava, quando vi esse filme, como um relâmpago, se lembrou, sorriu, isso fazia
sua boca ficar torta.
Mas não disse nada, o outro disse que tinha
ficado curioso, perguntou aonde tinha sido.
Ele lhe disse que em Kosovo, estava no
cinema, quando começou um bombardeio, o filme se via mal, pois a cópia tinha
sofrido já dois bombardeios.
Acabei lendo o livro, assim sabia como
terminava a história.
O outro comentou, a lastima, esse filme é
para ver num grande cinema, como antigamente, esse foi dividido em várias
salas, então perde a graça.
Ias entrar, perguntou ele.
Não vinha te seguindo, paraste por uma
ligação, eu te achei atraente, fiquei te olhando.
Ele olhou diretamente a boca do mesmo, era
daqueles de se beijar.
Tens alguém te esperando?
Não, sai para conhecer a redondeza, acabo
de me mudar, vives por aqui?
Relativamente, tenho meu studio aqui, estou
finalizando a preparação de uma exposição, precisava me relaxar.
Venha conhecer meu novo apartamento, é como
eu, simples, foram andando conversando.
Se sentia terrivelmente interessado no
mesmo, acabaram dizendo seus nomes, ele se chamava Erwan Shelton, disse seu
nome para ele Johnam Borman, seguiram andando, de vez em quando suas mãos se
rosavam.
No elevador para o último andar, deram um
beijo, foi uma coisa elétrica, mais um pouco tiravam as roupas ali mesmo.
O edifício dava de frente para Manhattan,
era uma vista bonita.
Mal entraram no corredor, foram tirando a
roupa um do outro, não paravam de se beijar.
Na cama o rapaz era incrível, lhe explorou
aos mínimos detalhes, ele fez o mesmo, era poucas as oportunidades que tinha,
quando viu estavam encaixados um no outro, de frente, se beijando, num momento
que se separou, ficaram se olhando nos olhos, gostava do que via.
Seguiram adiante. Tinha largado as compras que tinha feito no
corredor.
Duas horas depois pararam, estavam exausto,
enquanto o outro tomava banho, ele preparou uns sanduiches.
Não queres que eu vá embora?
Para que, foi fantástico o que tivemos, a
não ser que tenhas algum compromisso, seja casado ou coisa parecida.
Nada disso, mas pensei que eras deste, que
um momento, basta.
Ele foi tomar banho, quando voltou Erwan,
estava admirando a paisagem.
Lhe comentou que ainda lhe faltava acabar
de colocar os livros na estante, tinha comprado uma mesa para trabalhar, de
resto não preciso de muita coisa, a não ser montar meu sistema informático, mas
isso só a semana que vem.
Comeram voltaram para a cama, quando viram
estavam fazendo sexo de novo, isso nunca lhe acontecia, depois dormiram
agarrados um ao outro.
Despertou com o Erwan na cozinha fazendo
café. Que ainda estava na bolsa no corredor.
O tomaram sentado olhando a paisagem.
Como era um domingo, ficaram ali sentados
de mãos dadas.
Lhe perguntou o que fazia?
Sou jornalista, voltei a pouco tempo depois
de muito tempo fora, em uma semana creio que terei meu livro nas livrarias.
Em seguida estavam outra vez na cama, ainda
riu, assim amanhã não poderemos sentar.
Saíram depois para comer, num restaurante
embaixo da ponte.
Só se separam na segunda-feira, Erwan lhe
perguntou se tinha alguém na sua vida, contou para ele, sem mencionar o nome o
Karl, sempre acabo me envolvendo com uma pessoa errada, casados, que querem
aventura, mas na cama são uma merda, pois depois do primeiro encontro viram
passivos, confesso que prefiro me masturbar.
No sábado estava pensando justamente nisso,
meu pai me deixou um desejo, que eu fosse feliz, mas eu como nunca fui infeliz,
não sei como é isso da felicidade, mas tampouco amei alguém, tenho um listão
muito alto, pois ele e minha mãe, se amavam com loucura, tanto que ela morreu,
ele se suicidou para ir junto.
Caramba, tipo Romeu e Julieta?
Sim mais ou menos, ela teve vários
cânceres, quando curava um, aparecia em outro lugar, ele sempre a cuidou. Nos últimos anos, inclusive se afastou da
universidade, era professor, bem como ela.
De uma certa maneira me educaram para saber
sobreviver sozinho.
Se despediram com um beijo na esquina, ele
ia pegar o metro para o ir ao jornal, pois tinham pedidos dois artigos, teria
que falar com o Editor.
Este lhe deu o que precisava, um era uma
reportagem sobre uma exposição póstuma de um fotografo de guerra, que ele tinha
conhecido a muitos anos. Seus caminhos
tinham se cruzado, estava inclusive presente no dia de sua morte, uma coisa
idiota.
O outro era a inauguração de uma exposição,
mas isso só no final de semana.
Mal saiu do jornal, telefonou para o Erwan,
já sentia falta dele, ficou parado na porta do jornal rindo, isso nunca lhe
acontecia.
Quando ele atendeu, disse que tinha dois
encargos, iria ver uma exposição de fotos, póstumas, disse que era merecida, o
sujeito foi um grande fotografo de guerra, inclusive presenciei sua morte,
depois irei para casa para escrever sobre isso.
Ok, passo de noite por tua, casa, estar
contigo, foi como recarregar baterias.
Ele foi ver a exposição, adorou as fotos,
perguntou ao dono da galeria, se podia lhe conseguir um catalogo, além de usar
duas fotos dali, na reportagem.
Chegou em casa, comeu um sanduiche de
pastrami, abriu seu lap top, se sentou na mesa nova, começou a escrever, contou
primeiro que o tinha conhecido, como era seu trabalho na frente de batalha, como
tinha morrido, tentando fazer uma foto de um bombardeio, eles os jornalistas
estavam no meio, por um acaso, num edifício em ruinas, quando começaram a
bombardear aonde estavam.
Ele tinha se escondido numa coluna do
edifício, avisou aos outros para não ficarem no meio dessa sala, minutos antes,
tinham estourado todo o vidro da imensa janela.
Se protejam, o fotografo se foi arrastando
até a beirada para ver se conseguia fazer uma foto, ele ainda gritou cuidado,
mas nem chegou a terminar a frase, uma bomba, estourou na parte de cima, tudo
que estava no centro ruiu, só tinha sobrado ele, porque estava protegido pela
coluna. Depois começou a analisar as
três fotos que iria incluir na reportagem.
Cada uma de um lugar diferente, uma por si
só era famosa, era a destruição de um enorme Buda, pelos fanáticos, eram duas
uma antes, com a estatua inteira, a outra, já destruída.
Depois uma que tinha gostado, eram duas
crianças, sentadas ao lado dos pais mortos, essa era muito forte, a última era
aonde ele tinha morrido, horas antes, jovens enfrentando-se a tanques pesados
dos inimigos.
Falou muito no instinto do fotografo, essas
fotos só se fazem se tens isso, saber que aquele momento é único.
Já era de noite, quando acabou, tinha
escrito, revisto mil vezes o texto, revisado a ortografia, quando entregasse
para o jornal, já estaria pronta para a edição.
Sabia que lhe tinham pedido para fazer a da
exposição, pois quando estava em Bruxelas, o editor lhe pediu que fosse a Amsterdam,
fazer uma reportagem sobre o Museu Van Gogh, mas disse que a faria, se fosse à
sua maneira.
Levou uma semana, lendo tudo sobre ele, bem
como vendo filmes que tinham feito sobre o assunto, um velho americano, outro
francês, por último um livro que falava do relacionamento dele com Gauguin, que
tinha sido uma coisa complicada.
Viu dois catálogos, falou com o museu do
encargo, queria andar pelo mesmo, sem público, se isso era possível.
Conseguiu, comprou uma lupa, sempre gostava
de analisar as pinceladas de um pintor, cada um tinha uma maneira de pintar.
Analisou profundamente os quadros mais
famosos, principalmente o do quarto tão colorido, bem como um em azul de uma
casa.
Quem o acompanhava no museu, riu quando ele
tirou a lupa do bolso para observar as pinceladas, depois o levou até a parte
de baixo, aonde faziam restauros, lhe deixaram usar uma imensa lupa com que
trabalhavam, ficou ali sentado analisando cada coisa, a direção, do pincel, depois
chegou à conclusão, que ele tinha vivido não só a incompreensão que tanto se
falava, mas também de uma solidão extrema.
Escreveu sobre isso, incluía fotos do
quadros a que se referia, o jornal pediria autorização para publicar as mesmas.
Acabou que a reportagem saiu num domingo
numa revista especial. Teve uma
excelente repercussão, o jornal mandou uma quantidade impressionante de
revistas, para serem distribuídas as pessoas que entravam ali.
Para ele, gostar da arte, era uma coisa
intuitiva, a mesma coisa acontecia com a música, algum livro, se não lhe
atraísse no primeiro minuto, deixava de escutar.
Nesse meio tempo, vinha se encontrando com
o Erwan todos os dias, isso nunca acontecia, ele vinha, ficavam conversando,
como tinha sido o dia, lhe deu uma cópia da reportagem que tinha feito sobre a
exposição de fotografia, disse que saia, no domingo.
Erwan disse que lhe tinha pedido a galeria
que mandasse um convite para ele, na véspera, quando lhe disse que tinha outros
compromissos, que não podia vir dormir, estava chateado.
Não passa nada, foi quando se deu conta que
a reportagem que tinha que escrever, era justamente sobre ele.
Nunca ia a um vernissage, preferia ir
depois, sem muita gente.
Sem saber por que, colocou sua roupa
melhor, um casaco de veludo negro, com uma camisa de malha de gola alta negra,
achava que assim estava bem vestido.
Quando entrou na galeria, viu imediatamente
o Erwan, de braços com uma mulher, eram parecidíssimos, se aproximou, ele o
apresentou era sua mãe, ela ao contrário o conhecia, leio sempre o que
escreves, falou da de Van Gogh, era impressionante.
Agradeceu a amabilidade, quando sentiu uma
pessoa atrás dele, quando se virou, deu de cara com o Karl, lhe cumprimentou.
Mas não esperava o Erwan dizer, já conheces
meu pai?
Sim é meu editor, o livro a semana que vem
vai estar nas livrarias, verdade Karl.
Sim depois tens que falar com o pessoal da
publicidade, sobre tardes de autógrafos.
Erwan e sua mãe riram, pela cara que ele
fez, soltou odeio isso.
É teu primeiro livro?
Não tenho outro editado em Bruxelas, sobre
os anos que trabalhei lá, na verdade é como um complemento deste, mas escrevi
ao contrário, analiso cada pais, como funciona com a comunidade, o que não se
fala, mais político que esse. Devem ter
dado graças a deus, me verem pelas costas.
Agora escreves algum.
Sim, estou escrevendo, sobre o medo, como
nos sentimos ao trabalhar nas guerras, deveria ir a um terapeuta, mas prefiro
colocar para fora escrevendo.
A mãe dele, disse que se quisesse escrever
para a revista que era editora, poderiam se falar.
Saiu o arrastando pela exposição, inteira,
ele comentou que tinha o pedido do jornal para escrever sobre a mesma, mas para
ver os quadros, virei na segunda feira, já conversei com o dono da galeria,
assim vem junto um fotografo, para fazer o que eu escolha.
Num determinado momento, tirou uma pequena
lupa do bolso aonde estava a gravadora, as pessoas não sabiam que ele estava
gravando tudo, ao passar por elas, escutava de uma certa maneira o que falavam,
ou comentavam.
Examinou as pinceladas, de um detalhe do
quadro. Erwan apareceu ao seu lado,
disse a sua mãe, estou perdido, agora vai me analisar a partir das minhas
pinceladas.
Que vez aí, nesse detalhe? Posso saber.
O que vejo, depois te conto, mas a mãe dele
insistiu.
Não sei o dia que pintaste isso, mas tinhas
duvidas, teria que tomar uma decisão importante.
A cara do Erwan era interessante, o olhou
detalhadamente, foi um dia antes de te conhecer.
Já falaremos no assunto.
Nisso escutou a voz do Karl atrás deles,
quer dizer que já conhecias meu filho.
Ele não respondeu, quem o fez foi o Erwan,
sim profundamente, somos amantes, a poucos dias, mas estamos nos conhecendo.
A cara do Karl era ótima, lhe deu vontade
de cair na gargalhada, gritar dizendo, fui para a cama com o pai e o filho.
Se tivesse nesse momento que escolher,
claro escolheria o filho, nunca tinha se sentido assim com ninguém.
As pessoas iam sair para jantar, ele
arrumou uma desculpas, foi para casa, o Erwan disse que depois passavam.
Acabou dormindo apoiado na mesa. Quando ele
chamou a porta.
Mal entrou, o foi arrastando para a cama.
Esse filho da puta, tem que saber que eu te
amo.
Na hora não entendeu, depois deitados um
nos braços do outro, ele confessou, no dia que te seguia, era porque sabia que eras
amante do meu pai.
Só depois entendi que já tinha acabado com
ele, primeiro queria fazer sexo contigo, para saber por que ele faz isso.
Mas na verdade vi que não querias nada com
ele, por isso me apaixonei.
Descobri sim, que ele tem uma série de
amantes, a muitos anos. Ele não aparenta
a idade que tem, mas se prestas atenção, ele já fez uma cirurgia estética,
quando diz a idade diminui pelo menos 15 anos.
Era o que pensei, pois para ser teu pai,
ele teria que ter mais anos, eu pensei que ele regulava comigo, pois sou mais
velho do que tu.
Queres seguir comigo, apesar disso tudo?
Sem dúvida nenhuma, pela primeira vez,
estou interessado numa pessoa, inclusive pensei em pedir ao editor que desse a
reportagem a outra pessoa.
Não, creio que tu, conseguiras separar o
joio do trigo, o que disseste daquele detalhe era verdade, eu tinha duvida se
devia ou não te procurar, pois pensei que meu pai seguia mantendo contado
contigo.
Atualmente ele nem sabe aonde vivo, não
gostou muito que tenha cortado a relação com ele, ao parecer, pois me passou
diretamente ao departamento de propaganda da editora.
Minha mãe ficou encantada contigo, lhe
contei que estávamos juntos, ela não sabe de teu relacionamento com meu pai,
embora acredito, que finalmente vai se divorciar dele.
No domingo estavam os dois na cama, quando
seu celular tocou, era o Karl, queria falar com ele.
Disse que era impossível, estou na cama com
meu namorado.
Sentiu que o celular do outro lado se
apagava.
Erwan estava tomando banho, ele queria sair
para tomar café, bem como comprar o jornal, para ver a reportagem da exposição
de fotografia.
Tinham montado a capa a partir de uma das
fotos, passou rapidamente para o Erwan, que já tinha visto a mesma em sua mesa.
Estavam comentando isso, quando viu o Karl
do outro lado da rua, os olhando, mas desapareceu em seguida.
Na segunda-feira esperou o fotografo diante
da galeria, bem como o dono da mesma, Erwan estava com ele, disse ao fotografo
como fazer as fotos, que ele posasse na frente de um deles, que ocupava a
parede inteira.
Pelo visto, a exposição se tinha vendido
inteira.
Depois que o fotografo foi embora, os três
se sentaram, começou a entrevistar o Erwan, como se fosse um belo desconhecido.
A primeira pergunta, era como tinha se
encontrado com a arte, a pintura o desenho.
Este lhe contou que era um garoto sozinho,
com problemas de relacionamento na escola, não gostava de jogos, era
considerado um viado pelos companheiros, então descobri aulas de desenho na
escola, a maioria dos alunos que faziam eram garotas, não me importei, já tinha
fama mesmo.
Aí comecei a me libertar de muitas
coisas. Anteriormente tinha participado
de uma coletiva, até o convite para fazer essa, oficialmente era sua primeira
individual.
Foi fazendo as perguntas, ele respondendo o
olhando diretamente nos olhos, sabia que não mentia.
Quando perguntou o que iria fazer agora,
quais eram seus planos, quem respondeu foi o diretor da galeria, tinha uma
agendada em Paris.
Seu coração foi aos pés, perdeu totalmente
a concentração, ficou um tempo como pensando.
O mesmo o convidou para almoçar com os
dois, pois tinham que tratar de valores.
Pediu desculpa, mas ia para casa escrever,
queria que a reportagem saísse durante a semana no jornal, bem como no final de
semana na revista.
Quando Erwan chegou, ele estava sentando
olhando o panorama.
Tinha se desconcertado completamente, pois em
sua cabeça, não pensava se separar dele.
Sinto que tenhas sabido assim, eu na
verdade nem disse sim, nem não.
Pensei em ir, não resta dúvida, mas isso
antes de te conhecer, agora tenho certeza.
Tens que pensar no teu futuro, já veremos.
Se amaram com loucura, estou mal
acostumado, fazer sexo contigo é tudo como sempre sonhei.
No dia seguinte quando Erwan se levantou,
ele já tinha escrito basicamente o artigo inteiro, este entrou na sala, escutei
minha voz falando, nem vi que tinhas um gravador.
Esse é o meu truque, lhe mostrou a caneta.
Tomaram café, ele foi para o jornal, levou
todo o material, pela primeira vez, de uma certa maneira, não podia escrever em
casa, não queria que ele lesse antes de publicar.
Deu de cara com o editor, esse comentou,
que Karl o tinha chamado, falou como sempre dele, como esse olhar de encantador
de serpente, mas desta vez fez um gesto, que era como o Karl chupando o pau de
alguém.
Fui amante dele um certo tempo, ele tinha
família, eu também, mas ele acaba sendo mais um, pois só quer uma coisa em sua
boca, bem como no rabo.
Ficaram rindo.
Confessou ao Brian, o editor, que sem
querer tinha ido para a cama, com pai e o filho, por este estou loucamente
enamorado, pela primeira vez em minha vida.
Mas ele ira embora dentro de breve, tem uma
exposição agendada em Paris, sei pelo que vi, que vai triunfar.
A conversa morreu aí, pois chamaram o mesmo
para uma reunião.
Ele já tinha escrito o final da reportagem,
bem como anexado as fotos, a entregou.
Brian o chamou a sua sala, comentou que o
responsável da Europa, e Oriente médio ia se aposentar dentro de algum tempo,
se ele queria o cargo.
Entendeu que ele queria lhe ajudar.
Vou pensar no assunto, mas no fundo não
queria esse cargo, falou de noite com o Erwan, levei um bom tempo para
conseguir me afastar disso tudo, inclusive sigo indo ao terapeuta, por tudo que
vi, ficou guardado aqui dentro, coloco para fora escrevendo, mas está
entranhado.
Aceitar esse cargo só significa ter um
ponto central, Paris, mas teria que me mover continuamente, isso não
resolveria.
Depois trabalhei muito tempo por aí, quero
outro caminho, esse já explorei, agora é o teu momento, tu sim deves ir.
Mas te perderia.
Nunca se sabe, o mundo se abre diante de
ti, resta saber como vais gestionar tudo isso, é um mundo aonde a fama dura
cinco minutos.
Uma vez entrevistei um cantor, que teve sua
fama, perdeu tudo por causa da droga, cada vez que pensava em retornar, o medo
cênico podia com ele, se drogava, era como um círculo, acabou se matando num
acidente de carro, por isso tome cuidado.
Quando Erwan partiu, ficaram dois dias na
cama se despedindo, lhe deu indicação de aonde se instalar, sua mãe tinha
muitos contatos por lá.
Primeiro se falavam quase todos os dias,
depois uma vez por semana, até que chegou o silencio total.
A convite do Brian, começou a ser ele o editor
da revista semanal, a mudou completamente, fez uma enquete com os que liam,
perguntando o que gostava, sugestões, tirando as banalidades, mudou a partir da
capa, todo o conteúdo, preparou uma edição fictícia para os da propaganda
poderem vender anúncios.
Quando saiu a primeira fez um grande
sucesso, escolheu escritores e jornalistas que trabalhavam como Free Lancer, a
assim não os tinha presos ao jornal. A
mãe do Erwan o contatou para saber se não podia fazer o mesmo na sua revista.
Queria evitar o máximo contato com a
família, pois tinha lhe doido muito a separação, mas sabia que estar com ele em
Paris, por ser mais velho, talvez sem querer o dirigisse.
Isso era uma coisa que seu pai lhe dizia
sempre, não permita nunca que alguém o dirija.
Agora saia pelo duas vezes por semana com o
Brian, para almoçar, acompanhou todo seu divórcio, que foi complicado, por
sorte um filho estava em Los Angeles estudando cinema, o outro em Vancouver
fazendo medicina, os dois tinham querido se afastar o mais possível, a mãe era
manipuladora.
Ficou com o apartamento, embora o mesmo
concordaram que fosse dos filhos, ela tinha o uso do mesmo, enquanto fosse
viva.
Ele se mudou para um pequeno que tinha
conseguido.
Estavam os dois sempre conversando, sentia
uma afinidade com ele, embora fosse mais velho, tinha uma cabeça jovem.
Um dia o convidou para ver sua casa, era
seu aniversário, não tinha ninguém para convidar para comemorar. Acabaram na cama, os dois gostaram da
experiencia, mas seguiram durante um tempo vivendo cada um na sua casa.
Com o tempo passaram a viver juntos, gostavam
disso, podiam conversar horas, mesmo na cama depois de uma boa sessão se sexo,
conversavam.
No inverno abraçados, falavam deles, nunca
de trabalho.
Eu quando te contratei, me interessei
contigo, mas vinha queimado do que tinha tido com o Karl, não queria te meter
no mesmo saco, depois tinhas fome do mundo.
Um belo dia, recebeu uma chamada da mãe do
Erwan, estava internado, algo consumo de drogas, por pouco não tinha morrido.
A aconselhou a estar ao seu lado, quando
perguntou por que o Karl não ia, os dois tinham se divorciado, logo em seguida
a partida do filho.
Ela voltou um mês depois, trazendo o filho,
marcou com ele um encontro, tudo tinha sido porque ele tinha se apaixonado por
um rapaz que vivia na drogas.
Estava internado, foi visita-lo, era uma
sombra do rapaz que tinha conhecido.
Ficou com pena, mas com a distância, tinha aprendido
a classificar as coisas, sabia que o tinha amado, que este o tinha feito
descobrir esse sentimento que ele pensava nunca sentir, pela educação que tinha
recebido. Hoje olhando com
distanciamento, sabia que o relacionamento dos pais eram simbiótico, tinham
criado uma dependência entre eles.
Erwan, pediu que ele não voltasse a
visita-lo, tua presença me faz lembrar tudo que perdi, sem querer soltou que
tinha ido atrás dele, com a ideia de conquista-lo, para o roubar do pai, mas
cai do galho, pois me apaixonei por ti.
Brian ficou com ciúmes, mas seguiram em
frente, ele ia se aposentar, se tinha preparado para isso, daria aulas na
universidade, bem como queria escrever.
Ele preferiu seguir com a revista, volta e
meia mudava tudo, outra cara, outros objetivos.
A diretoria gostava, foi convidado para
trabalhar numa revista de arte, experimentou, gostou da ideia, até que o
convidaram para ser editor. A mesma
saia uma vez por mês.
Com isso eles aproveitavam para ir a todas
as feiras de arte do mundo, viajaram muito, gostavam, pois sabiam compartir
isso.
Brian aproveitava para escrever artigos do
que via para o jornal.
Os anos foram passando, ele estava tão
acostumado a viver com ele, que no dia que ele morreu, achou estranho ele não
estar na cama, tinha agora o hábito como dormia menos, se levantar ir sentar-se
para ver o dia nascer sobre a ilha.
O encontrou sentado, com a cabeça caída
para frente. Soltou um urro, foi como se
tivessem tirado o tapete embaixo dos seus pés.
Nunca tinham escondido que viviam juntos,
bem como o romance, ele conhecia bem os filhos do Brian, os avisou, vieram como
loucos, tinham recuperado a amizade com o pai, quando vinham a cidade,
procuravam por ele.
Seria cremado como ele queria, que as
cinzas fossem levadas para a cidade de aonde ele tinha saído, no cu do mundo em
Nebraska.
Foram os três levar, se sentia como um
autónomo, finalmente entendeu seu pai, mas podia dizer que tinha sido feliz
esses anos todos como Brian, tinha sido seu porto seguro.
No enterro viu o Erwan com sua mãe, os
agradeceu.
Voltar para casa foi um suplício, tinha uma
feira de arte em Paris, aproveitou para evadir-se.
Quando voltou, escreveu tudo que tinha que
fazer, pediu demissão, na verdade podia se aposentar, agora escreveria como
free Lancer, sobre uma coisa que tinha descoberto, gostava de falar, escrever
sobre arte.
Erwan, fazia sua primeira exposição, depois
de sua volta. O entrevistou, agora ele
mesmo fazia as fotos, a revista de sua mãe, comprou a matéria.
Fez uma outra no seu velho studio, aonde
conversaram longamente sobre o que tinha acontecido com ele, como tinha se
perdido.
Tinha feito duas exposições com muito
sucesso, inclusive tinha lhe mandado o catalogo, foi quando conheceu o homem
que tinha segundo ele destruído sua vida.
Era um encantador de serpentes como meu
pai, nunca saberei se foi isso. Quando
voltei estive com ele, vive com um rapaz, que poderia ser seu filho, nem se dá
conta que vive uma utopia, da vida que podia ter tido antes, se não tivesse se
casado.
Quando Erwan quis se relacionar com ele,
pediu desculpas, não estou preparado, ainda tenho dentro de mim o meu
relacionamento com o Brian, finalmente entendi meu pai, que se suicidou pois
não podia imaginar viver sem minha mãe, uma parte era culpa dele, pois por ela
ele deixou seu trabalho, estava num terreno vazio, sem nada para se apoiar.
Me mantiveram a margem de suas vidas
sempre, por isso nem percebi nada.
Agora sigo trabalhando, escrevendo que
sabes que é o que amo, estou preparando um livro sobre como um jornalista pode
ver a arte em vários âmbitos.
De vez em quando ele aparecia em sua casa,
viu que ali era um ninho estranho, aonde ele tinha perdido seu espaço, a
estante que era vazia, agora abarrotada dos assuntos que interessava aos dois,
inclusive por falta de espaço, livros empilhados no chão.
Foi se afastando, tempos depois o viu com o
dono de uma galeria, na hora não lhe reconheceram, pois pela primeira vez,
usava os cabelos compridos, roupas relaxadas, um óculos de grau, seu problema
do olho tinha ido a pior, basicamente só via por um, não se incomodava.
Vinha caminhando em direção ao Metro,
quando escutou uma confusão, era uma mulher falando mal dos Homeless, que
estavam ali embaixo da ponte.
Sempre era a mesma coisa, essa fazia
escândalo por tudo, mas não via que o marido vendia drogas, que os filhos
estavam já perdidos, ia a missa todos os dias, adorava falar mal dos outros.
Ele perdeu a paciência, soltou o que
pensava dela, uma falsa, falou do marido, dos filhos, dela mesma, uma idiota, a
mulher foi embora furiosa.
Escutou uma voz atrás dele, vejo que meu
amigo jornalista não mudou nada, Johnam Borman não perdeu a forma, segue
lutando por todos.
Ele se virou lentamente, procurando aonde
tinha escutado essa voz, deu de cara com um homem mulato, vestido basicamente
de militar, começou a rir, David Smith, retificou sargento David Smith.
Erraste sai do exercito como Tenente
Coronel, o que não ajudou muito.
Agora eres Homeless?
Mais ou menos, esses homens serviram
comigo, vivo com eles para controlados, tu sabes como é, foram bucha de canhão,
todos tem algo a menos, quando não a cabeça.
Ia abraça-lo, mas ele avisou, não tomo
banho a dois dias, com esse calor, devo estar fedendo.
O abraçou a sim mesmo, pegou seu celular,
ia chamar a secretária de uma editora que queria falar com ele, para um artigo
na Vogue, essa lhe disse que ele não morria tão cedo, ia lhe chamar para
cancelar, a senhora estava mal, ficou de chamar para marcar quando ela viesse.
Venha disse ao David, vivo aqui perto,
assim tomas um banho.
Ele disse a um outro homem que já voltava.
Foram conversando.
Nunca me esqueci de ti, num dos primeiros
livros, conto nossa aventura na cova.
O outro rindo, disse, com detalhes espero.
Ficaram os dois rindo.
Entrou no apartamento, foi para perto das
estantes de livros, pelo visto vives no paraíso, eu quando muito leio o que
consigo no lixo.
Venha, vou preparar café, enquanto isso
tomas um banho, ele voltou do banheiro, com uma maquina de cortar cabelo, era
do Brian, perguntou se podia usar.
Veja se está carregada, era do Brian, meu
companheiro, depois que ele morreu ficou aí.
Quando saiu do banho, enrolado numa toalha,
tinha passado a máquina na cabeça, estava literalmente careca.
Abriu a toalha, mostrando que tinha
raspando ali embaixo também, mas deixei o banheiro limpo.
Feche essa toalha, sou um homem de
respeito.
Quero ver esse livro, se realmente contaste
tudo.
Claro que não contei tudo, se sentaram os
dois, olhando o panorama, tinha lhe feito um sanduiche, trouxe o livro,
procurou aonde estava essa parte, lhe deu para ler.
O fez em silencio, ao final disse, vou te
processar, usou meu nome, mas não contou tudo.
A realidade, era que estavam num comboio, o
mesmo foi atacado pelos talibãs, só os dois sobreviveram, se escondendo numa
cova na montanha, puxaram um espinheiro que estava por ali, enquanto David,
avisa ao acampamento que tinha sido atacados, que ele estava escondido atrás
nas montanhas com ele.
Mas já estava escurecendo, se via os
homens, roubando as armas dos soldados mortos, empurrando os caminhões, que
estavam na frente, para levarem um que estava carregado de suprimentos, tanto
médicos, como de comida.
Ficaram ali quietos, embora em seguida iam
subindo alguns talibãs para olhar desde ali se tinha algum sobrevivente.
Entraram para o interior da cova, mas os
mesmo nem tocaram no espinheiro, se o tivessem feito teriam visto que estava
solto.
Depois desceram, fizeram uma fogueira, eles
ficaram ali escondidos, ele avisou ao acampamento que deixaria a rádio sem
sinal.
Ficaram os dois olhando um para o outro,
Johnam tinha visto que tinha um ferimento no ombro, David disse que a bala
tinha passado raspando,
Mesmo assim com uma lanterna olhou, abriu a
mochila dele, fez um curativo, estavam super perto um do outro, na hora de
agradecer, David o puxou para si, lhe deu um beijo na boca, foi o princípio,
ficaram abraçados na escuridão, fazendo carinho um no outro.
Estavam excitados, mas ficaram ali,
acabaram dormindo, numa curva que fazia a cova, bem escondidos, com as armas a
mão.
Se escutava ao longe a festas que esses
faziam, acabaram dormindo abraçados.
No dia seguinte tinham desaparecido, se
beijaram antes de sair da cova, desceram quando escutaram ao longe o comboio
que se aproximava.
Vinha dois caminhões, a mais para levar os
mortos, não iriam para o acampamento, sim para a base na cidade.
Lá os dois fizeram o relatório, tinham
desconfiado do tradutor que ia junto, pois este não estava entre os mortos.
Nessa noite dormiram na base, a ele lhe
deram um quarto só para ele, pois era um civil.
Enquanto os outros no bar comemoravam
alguma coisa, os dois ficaram no balcão, David perguntou se ele queria alguma
coisa para beber, pediu água, pois a sua garrafa de metal, de levar agua, estava
vazia.
Nunca bebes como esses daí, mostrou os
outros a maioria estava bêbada.
Depois o foi levar ao quarto aonde ia
dormir, o puxou para dentro, voltaram a se beijar, quando o viu sem roupa,
alucinou, tinha um corpo fantástico, além de um membro grande.
Fizeram sexo umas duas vezes, acabou
dormindo ali com ele, mas logo cedo desapareceu, ficaram uns dois dias assim.
Até que David lhe avisou que tinha sido
transferido. Se despediram numa bela
noitada.
Ele foi também para outro lugar, mas nunca
tinha se esquecido do que tinha passado na cova.
Quando ele abriu a toalha, viu que ele
usava uma prótese, substituindo uma perna.
Perguntou por isso.
Uma longa batalha, quando me trouxeram para
cá, primeiro, as operações, as de lá estavam mal feitas, depois encontrar uma
prótese que servisse, me adaptasse, ao mesmo tempo lutar com os pesadelos, estar
viciado nas drogas para a dor, para dormir.
Foi um longo caminho, por sorte, entendi se
deixava que no hospital me desse essas drogas, nunca ficaria livre, viste os
homens que acompanho, todos são viciados, tenho que ser eu, bem como meu
ajudante, para controlar.
Querem qualquer coisa que seu salário
miserável possa pagar, alguma droga que os faça esquecer de tudo, mesmo que lhe
provoque a morte, pois assim estariam livres.
Quando cheguei para ficar com eles, o grupo
era grande, cinquenta homens, agora são vinte.
São como crianças, os arrasto a algum
albergue para que tomem banho, troquem de roupas pelas que tem ali, mas a
maioria quer mesmo são drogas. A
maioria serviu comigo.
Achas que falariam comigo, contariam suas
histórias.
Pode ser que sim, os apresentarei como meu
amigo.
Me viram saindo contigo.
Alguns pensaram que fui me prostituir, os
que estão melhores, depois de tomarem banho, fazem isso para conseguir dinheiro
para drogas.
Mas contigo, sempre fiz sexo grátis, embora
agora vou reclamar do livro, se matava de rir.
Não contaste dos beijos que nos demos, nada
disso.
Pois é, se viu falando do Erwan, do Brian,
agora estou a muito, mas muito tempo mesmo sozinho.
Opa, se levantou, tinha ainda uma força
impressionante, o arrastou para a cama, tirou a prótese, a cama com ele era uma
montanha russa, quando viu tinha tido um orgasmo, mal começaram, mas não
pararam.
Ficaram ali jogados, abraçados um ao outro,
como faziam no seu quarto no quartel.
Nem tivemos tempo de nos conhecer direito.
Depois foram a um restaurante ali perto,
pediu uma quantidade de quentinhas, eles mandariam levar.
Quando chegaram ele explicou aos que
estavam mais sóbrio, a aventura que tinha passado os dois, únicos sobreviventes
de um ataque.
Ele foi conversando com cada um, não
anotava nada, não sabiam que estavam sendo gravados, a maioria contou sua
história, era a mesma de sempre, tinha entrado no exercito sem preparação
nenhuma, tinha se fudido, termo perfeito para o que lhes tinha passado, a um
lhe faltava um olho, o outro uma perna, dois usavam braços mecânicos.
Fomos cobaias lá, depois seguimos sendo,
com as drogas que nos davam para aguentar, depois a adição, em medicamentos
para dormir, para dores, o que recebemos é uma merda.
Um deles o mais jovem, até bonito, disse
claramente, que quando conseguia umas roupas decentes, depois de cortar o
cabelo, ia para aonde os jovens se prostituiam, fazia isso, os homens que nunca
foram a guerra, lhes dá morbo, fazer sexo com um que lhe falta uma perna.
A primeira caneta vibrou avisando que o
cartão estava completo, apertou a seguinte, ficaram como crianças, quando
chegaram dois homens trazendo caixas de pizzas, coca cola, a maioria se fartou.
Nesse noite David dormiu com ele,
conversaram muito, escutou toda a história dele, sua saída do seminário aonde o
tinham enfiado, não o queriam em casa, os abusos que tinha sofrido, entrei
claro para o exército, para escapar de tudo, sai de um inferno, para outro
pior.
Só tive uns bons momentos, contigo, isso
nunca esqueci, o medo que descreves muito bem no teu livro, ao mesmo tempo nos
agarramos um ao outro, como passando força para sobreviver.
Porque não ficas aqui comigo.
Isso pegou o David de surpresa, no outro
dia, o grupo já não estava no lugar, tinham ido embora, David falou com o que
lhe ajudava, iam para outra cidade, fique em paz.
Ele ficou, mas seu grande problema eram
quando tinha pesadelos, foram passar um tempo numa cabana nas montanhas que ele
sempre com Brian, alugou do mesmo homem de sempre um veterano do Vietnam. Esse subia para conversar com o David, tinha
sido muito tempo terapeuta de retornados da guerra.
Ali ele ficava em paz, como tinham hi-fi,
Johnam podia trabalhar, acabou comprando a cabana, na verdade ali gastavam
pouco dinheiro.
Pela primeira vez escreveu como um romance,
a partir de um jovem que tinha entrevistado, do grupo do David.
Logo queriam levar para o cinema, mas sem
autorização do rapaz, ele não concordou, David mantinha contato com o grupo,
agora mais reduzido, foram ao encontro deles, estavam no meio de uma floresta,
ali podiam ter pesadelos a vontade, gritar, sem ninguém lhes incomodar, levaram
o dono da cabana, este ficou com eles lá.
Depois de muito conversar com o que ia
dirigir o filme, entendeu que o mesmo ia mudar a história, transformando tudo
numa apologia americana, não autorizou.
O mesmo fez um roteiro parecido, virou uma
pantomina.
Estavam juntos a muitos anos, ele na cabana
tinha uma paz que as vezes não tinha em NYC, da última vez que tinha ido até
lá, para resolver movimento de seu dinheiro, pelo seu administrador soube que
tinha demais, acabou comprando definitivamente a cabana.
Mas andando na rua, o ruido que já não
estava acostumado, a confusão, tudo lhe incomodava.
Mandou fazer uma ampliação da cabana,
passou a viver lá, era seu retiro definitivo. Só desciam para fazer compras.
De uma certa maneira, eram felizes, comeram
perdizes, mas nada fora da realidade, as vezes David tinha dolorosas
lembranças, lhe contava depois do pesadelo, reclamava dizendo que parecia nunca
poder se livrar disso.
Quando começaram os primeiros sintomas de
alzaimer, de uma certa maneira cedo, ele tinha sessenta anos, a coisa ficou
feia, pois se tornou agressivo, por duas vezes tentou mata-lo.
Um dia desceu a cidade, quando voltou o
encontrou com um tiro na testa, tinha se suicidado, ao notar que estava
perdendo o controle sobre sua vida, não suportava isso.
Ficou numa duvida tremenda, entre seguir
vivendo lá, ou voltar para a cidade.
Um dia apareceu o que era companheiro do
David, para controlar os homens, esse contou como tinham feito isso, realmente
eram basicamente homens que tinham estado no mesmo batalhão que eles, nos
conseguimos nos controlar, escapar das drogas, contou como se tinham conhecido,
como David o tinha salvado de ficar preso com sua família no interior.
Queriam me controlar, tinha que dormir no
celeiro, por causa dos meus gritos noturnos.
Hoje tenho mais gritos surdos, desperto,
estou com a boca aberta gritando, mas já não sai mais nenhum som, parece que
esgotei tudo.
Era o único que não tinha contado sua
história para ele. Basicamente tinha
sido de casa pelos pais, pois o encontraram com um amigo da escola, fazendo
sexo, no meio do caminho entre as duas fazendas, fizeram de tudo para separar
os jovens, mas nos amávamos.
Resolvemos entrar juntos para o Exército
como forma de escapar, mas claro não contávamos que nos iriam nos separar, ele
acabou indo para outro lugar, morreu no primeiro combate que participou, era
ingênuo.
Eu já não tinha como voltar a trás,
esbarrei com o David em épocas diferentes, nunca tivemos nada, mas ele sabia
dos meus romances com outros soldados, nunca escutei nenhuma chamada de
atenção, só dizia que eu fosse discreto.
Quando voltamos, ele tinha perdido uma
perna, eu quase morri, por causa de uma bala que ficou presa no meu corpo, até
encontrar um especialista que ousasse retirar, eu concordei, ou morria, ou
podia sobreviver.
Ele só me disse depois da operação, não
aceite tomar tranquilizantes, nem remédio para dormir, estávamos no mesmo
quarto, pediu que as camas ficassem próximas, me ajudou a recuperar-me.
Eu fiz o mesmo com ele, quando a primeira
operação dele não deu certo. Depois era
o problema da rejeição das próteses, o governo não quer saber disso.
Quando saímos, demos com um grupo, que eram
soldados que tinham retornados, todos com problemas de vicio, traumas, nenhum
estava preparado para o que tinha visto.
Um deles foi o pior, no final era como
nosso filho, pois o encontraram num momento que o iam empalar, pensávamos que
estava morto, mas estava vivo, com o anus totalmente desgarrado, o comandante
queria lhe dar um tiro de misericórdia, entre os dois o levamos para o
acampamento, de lá o levaram para a Alemanha, até poder andar outra vez, foi um
horror, depois o encontramos totalmente dependente das drogas, ficou feliz, ao
mesmo tempo que dizia quando drogado, que devíamos ter deixado o comandante o
matar, pois nunca poderia ser feliz, de uma certa maneira o tinham castrado.
Acabou se suicidando, numa das muitas
escapadas atrás de drogas, se atirou ou foi atirado de um viaduto, nunca
descobrimos, a polícia, tampouco a militar fez muita coisa a respeito.
De uma certa maneira, se ao final ainda
descobres que da pior maneira, o alzaimer vai te fazer esquecer de tudo, mas
serás uma carga para quem está contigo, ele falou comigo, dias depois de ter o
primeiro surto, quando tentou te matar, por te confundir com algum inimigo.
Estava assustado, uma vez pensei que tendo
essa doença, seria feliz, pois acabaria esquecendo de tudo.
Realmente estava assustado, já nem queria
descer a vila para fazer as compras, com medo de ter algum surto por lá, que o
internassem, seria como ir a prisão, estar entre quatro paredes para ele seria
muito.
Já era duro no hospital, quando nos
recuperávamos, pois levamos meses por lá, considerava como uma prisão com
caridade, pois nos cuidavam. Mas
basicamente não podíamos sair.
Eu ao contrário dele, odeio as grandes
cidade, pois elas sim me parecem uma prisão, se estávamos com os homeless, nos
agrediam, nunca se tocaram que estávamos assim, porque eles não tinham ido a
guerra como nós.
Era como se despertassem, o que foi que
fizemos, ou mesmo, a certeza de que não tinham feito nada, para eles era como
uma agressão ao seu modo de vida, passiva.
Quando os anos passaram, já nem tinha
certeza de sua idade, vivia lá tranquilamente, uma pessoa trazia as compras
para ele, sabia que um dia a mesma o encontraria morto, por isso seu advogado
tinha as instruções como devia fazer, agora lhe restava esperar.
A única coisa que tinha certeza, é que pelo
menos tinha amado, as pessoas que tinham passado por sua vida, agora poderia
dizer ao seu pai, sim fui feliz, quando me tocou. Mas nem sempre a vida é só felicidade, tudo
faz parte, vem tudo no mesmo embrulho.
Comentarios
Publicar un comentario