ANTON D'GRACE

 

                                       

 

Despertou por um momento, pensou, aonde estou, as vezes isso acontecia, de acordar na cama de outra pessoa, até preferia, assim, se levantava no sigilo, se vestia, ia embora, sem se despedir, sabendo que nunca mais ia ver ou se encontrava, quanto muito fazia uma inclinação de cabeça como dizendo “olá”, nada mais.

Isso era sinal que nem se aproximasse, as vezes isso acontecia, as pessoas pensavam que ele inclinar a cabeça significava alguma coisa.

Cortava logo o assunto, mentalmente pensava se tivesse que dar uma nota, qual seria pela noite de foda, a maioria nem passava do cinco.

As vezes preferia o Bas-fond, alguém que nunca desconfiaria sequer quem ele era, quando lhe perguntavam o nome, inventava algum, pois dava igual.

Na época que estudou no Brasil, no Rio de Janeiro, todo mundo o chamava de Antonio da Graça, ele deixava, para que explicar.

Seu nome era Anton D’Grace, tinha nascido em Fort-de-France, na Martinica, se a maioria nem sabia aonde ficava isso, em Paris era igual.

Quando falava de aonde era, as pessoas só ligavam a uma ilha, colônia Francesa, aonde era bom para passar férias, alguns ainda saltavam, temos que alimentar esses negros dessa ilha.

Ele era negro retinto, mas tinha os olhos azuis muito claros.

Sempre achava interessante, quando começavam as aulas na Sorbonne, os alunos entravam na classe, alguns nem sabiam por que estudavam essa matéria, davam de cara com esse negro de dois metros de altura, olhos azuis, cabeça raspada, vestido a última moda, de uma maneira muito pessoal, alguns chegavam a parar para olhar para ele.

Como perguntando o que faz esse aqui.

Era professor de história, mas claramente sobre as colônias francesas, tinha que começar o curso, com um grande mapa do mundo, mostrando os lugares que tinham sido colônias francesas pelo mundo.

De uma certa maneira era uma maneira de dizer, que a maioria o pais tinha perdido para os nativos, como diziam alguns alunos.

Os que pensavam em estudar essa matéria, para conseguir uma boa nota para seu curriculum se fodiam com ele, era duro na queda.

Usava palavras nas línguas do pais, anteriormente dominado pelos franceses, tinha visitado cada um.

Falava todas essas línguas, por isso as pessoas se surpreendiam com ele.

Tinha sido durante muitos anos, professor substituto do catedrático da área, um velho e querido amigo.

Quando se aposentou, foi embora do pais, dizia que com o salario de aposentado na Martinica que ele adorava, la era milionário.

Em seu primeiro dia de aula, quando disse que era de Fort-de-France, abriu um sorriso imenso, dizendo que adorava a ilha.

Anos depois com a intimidade, contou para ele seus romances com aqueles negros, adorava isso, tinha tido um homem em sua vida, um negro do Senegal, que cuidou dele até morrer.

Dizia rindo que era o único que o podia pegar no colo, Gerard Phillippe, tinha mais de dois metros de altura, mas muito magro.

Com ele aprendeu a conhecer Paris, a sociedade, o Bas-fond, as pessoas que interessavam, as que devia manter distância, por serem falsas.

Sua mãe, uma negra lindíssima, descendente de escravos, o tinha mandado para França, quando era adolescente, era um garoto muito bonito, os olhos azuis, atraiam muitos homens, seu amante na época, andava atrás dele, falou com um padre que ela conhecia, ele arrumou para ele estudar numa escola interna perto de Lion.

Mal sabia ela, que lá não seria diferente, que os padres andariam atrás dele, bem como alguns companheiros, mas ela lhe falou muito na sua cabeça, tens que aprender a te defenderes, eres bonito, as pessoas vão te querer como a mim, para fazerem sexo, te possuírem, depois te darão com o pé na bunda.

A primeira coisa que fez, depois que um padre tentou alguma coisa com ele, foi começar a fazer esporte, todos os tipos que oferecia a escola.   Assim quando o primeiro companheiro tentou abusar dele, deu uma surra no mesmo, que se apaixonou como um louco por ele, o seguia por todos os lados da escola.    Seguia hoje em dia sendo seu amigo, trabalhava nos Eliseu, tinha um alto cargo, não importava o partido que governasse o pais.

Hoje em dia era casado com um negro de Angola, com dois filhos adotivos, levava uma vida discreta, Jean-Paul durante muitos anos, esperou que acontecesse alguma coisa entre eles, mas isso era impossível, queria um amigo, pois não tinha nenhum.

Os dois contava tudo um para o outro, não havia segredos.

Abriu os olhos, sorriu, estava em casa, na sua cabeça, tinha escutado durante seu sonho, Joanna Francesa, quem cantava era sua querida amiga Jeanne Moreau, era muito amiga de Gerard-Phillippe, quando o apresentou ela o examinou com uns olhos maliciosos, disse que estava para começar um filme, tem um pequeno personagem que creio que vai com teu tipo.

Estavam sentados num café, perto do Palácio do Eliseu, telefonou para alguém, que apareceu em seguida, ficou olhando, concordou com ela.

Depois de fazer o casting, teve que compaginar, seus estudos, com fazer o filme.

Aproveitou o dinheiro que ganhou, mandou para sua mãe, para comprar o hotel, que ela tinha na praia, com seu ex-amante, assim seria ela a única proprietária.

Quando foi para o Rio de Janeiro, para pesquisar sobre San Sebastien du Rio de Janeiro, ela lhe deu uma série de recomendações, lhe ensinou a cantar a música de um filme que tinha feito no norte do Brasil, Joana Francesa, de Cacá Diegues.

Ele amou a música, quando cantou para ela, com sua voz rouca, ela riu muito, esse menino vai longe Gerard, se adapta a tudo.

Foi um período produtivo, em dias estava falando português, com sotaque carioca, logo pensavam que ele era algum neguinho metido a besta, saído de alguma favela.

Foi para ficar dois meses, acabou ficando quase dois anos.

Aprendeu a cantar, apreciar velhos compositores brasileiros, mas amava mesmo, era Noel Rosa.

Junto com Joanna Francesa, adorava o Último Desejo, quando entendeu a música, passou a fazer parte de seu repertório.

Foi viver ali na Gloria subida para Santa Theresa, tinha encontrado o lugar perfeito para viver.

Estava fácil para se deslocar a Biblioteca Nacional, aonde fazia pesquisa.

O mais interessante no dia que se apresentou, vinha com uma carta do Consulado Frances, bem como uma outra do Eliseu, cortesia de Jean-Paul, bem como outra da universidade, escrita a punho e letra por Gerard.

O policial, que estava ali, o examinou de cima a baixo, afinal era tão negro como ele, avisou uma pessoa, falou na frente dele, quem é esse negrinho besta.

Não esperava que ele lhe respondesse em perfeito português, meu nome é Anton D’Grace, sou um francês da Martinica, venho estudar a época que a França foi dona desse pedaço de terra que é o Rio de Janeiro.

Qual o que, soltou o outro, isso aqui foi sempre desses filhos da puta dos portugueses, por isso é uma merda.

Ele se matou de rir.

Nesse dia quando saiu, este também tinha acabado seu turno, o convidou para tomar um chopps ali no Amarelinho.

Lhe disse rindo, se queres conhecer o Rio de Janeiro, eu posso te ensinar, resta saber se tens samba no pé.

Demorou a entender isso.

Ficaram amigos, Josué Castro, acabou sendo um amigo e amante, os dois na cama, era como um verdadeiro vendaval.

Infelizmente pensava, ele não tinha tido oportunidade de estudar, tampouco fazia nenhum esforço, acabaria sendo sempre um funcionário a mais da baixa hierarquia da Biblioteca Nacional, como ele dizia, se tinha sexo, chopps, samba, ele estava no seu elemento, mas estava sempre com um livro embaixo do braço.

O arrastou para todas as rodas de samba, para a Mangueira que era sua escola de coração, como ele dizia, quando o viu sambando, disse de noite no seu ouvido, meu neguinho tem samba no pé.

Graças a Jean-Paul, conseguiu esticar o máximo sua bolsa de estudos, por isso ficou tanto tempo, realmente quando as pessoas diziam que ele tinhas costas quentes, pois conseguia bolsas de estudos, pós graduações, fez umas quantas.

Ele tinha um acordo com o Gerard, ele saia para fazer uma pós-graduação, esse dava as aulas, quando ele voltava, ao mesmo tempo que escrevia sobre o que tinha ido pesquisar, quem saia era o outro.

Alguns diziam na universidade, que era uma maracutaia. Mas sempre apresentava uns trabalhos, que depois se transformavam em Livros.

Olhou para o lado, sorriu, tinha conhecido esse menino, como ele gostava de dizer, falando em português, numa reunião, até achou engraçado, pois o mesmo foi apresentado para ele como jogador de futebol.

De fato tinha ido para Paris, para jogar num grande time, mas claro, meses depois teve problemas com o joelho, depois todas as contusões, possíveis.

Mas tinha feito uma coisa que os outros não faziam, mal chegou, se inscreveu numa escola que ensinava francês para emigrantes, como a equipe conseguiu para ele, documentos para trabalhar, seguiu indo em frente, estudando.

Agora estava no primeiro ano da universidade, atrasado, pois era mais velhos que todos os alunos.

Quem o tinha apresentado, tinha sido um professor que veio falar com ele, pois ele queria fazer seu curso, como já tinha começado a mais de uma semana, se era possível.

Abilio Frontin, mais conhecido como Nenê, pois tinha cara de garoto sempre, era tão alto quanto ele, se surpreendeu quando começou a falar com ele em português, pensou que ele era brasileiro, mas lhe disse que não, sou de Moçambique, meus pais emigraram para Portugal, lá comecei a estudar e jogar futebol, que era a saída que eu tinha.

Imediatamente passou a falar com ele com sotaque de Lisboeta, tinha passado um bom tempo, entre idas e vindas, pesquisando na Torre do Tombo, um famoso arquivo sobretudo das colônias portuguesas.

Riu muito quando ao dizer que nunca tinha escutado falar de um jogador chamado Abilio Frontin, ele soltou, me conhecem como Nenê.

Dias depois, já fazia aulas com ele, era um dos alunos mais interessados na matéria.

Justamente nesse dia, estava falando com os alunos, que cada pais, tinha um lugar especial para fazerem pesquisas, principalmente da época que estudavam, O Arquivo das Índias em Sevilla, bem como a Torre do Tombo em Lisboa, foi mencionando cada um.

De repente parou, soltou, ah bons tempos de Lisboa, lá se come um bacalhau dos Deuses.

Mas falou isso em português, só o Abilio riu, os outros esperaram a tradução.

Fez uma recomendação, cada um que escolhesse sobre que pais queria escrever sua pós-graduação, sugiro ir aprendendo a língua do mesmo, isso facilita muito.

Um lhe perguntou quantas línguas falava, ele foi dizendo todas, Português, tanto o de Portugal, como o do Brasil, Crioulo, árabe, quando estudei sobre a parte de Tunez, Argélia, bem como a língua Fon do Senegal, falada em particular, embora todos falem Francês.

Disse que atualmente estudava o Holandês, pois estava começando a fazer um trabalho, sobre os Judeus, a diáspora, muitos foram para Holanda, saindo de Portugal.

Muitos alunos depois diziam, que tinham ido para conseguir nota, mas acabavam se apaixonando como ele ensinava a cada um as origens, a mistura de culturas, as influências.

Um dia estavam com um grupo num bar que iam sempre, não sabia com quem o Abilio tinha ido, tinha um homem tocando música brasileira, pediram para ele cantar alguma.

Perguntou ao homem se ele sabia alguma de Noel Rosa, o homem abriu um sorriso imenso, claro que sim.

Quando viu, tinham cantado mais de uma hora, tinham ido desfiando músicas que ele tinha aprendido no Brasil.

O dono do lugar, perguntou se ele não podia ir ali cantar nos finais de semana, quando sua mulher brasileira, fazia comidas da terra.

Abilio nesse dia, segurou sua mão sorrindo, mestre, o senhor é uma caixa de surpresa, por mais que lhe dissesse que não era mestre de ninguém, tampouco gostava que o chamassem de senhor.

Pode me chamar como os outros Grace, fica melhor.

Na hora de irem embora, saíram um grupo, cada um foi tomando a direção de sua casa, Abilio acabou na sua.

O que gostou dele, era que era discreto, nunca tinha tido relacionamento nenhum com alunos, pois tinha visto vários exemplo, de que se achavam no direito de terem melhores notas, chantageavam os professores.

Mas Abilio, não só era discreto, como o seguia chamando de senhor na frente de todos, dizia que ele gostava de respeito.

Vê-lo nu era uma delicia como ele dizia, um corpo perfeito, os dois saiam as vezes para largos passeios a pé, ia lhe mostrando lugares da cidade, que tinha descoberto com o tempo.

Um dia passaram por um cinema que passava filmes antigos, estava passando o que tinha feito com a Jeanne, o convidou para ver.

Disse ao ouvido dele, vou gritar aqui dentro, que eu faço sexo com esse menino que está na tela.

Foi quanto lhe contou que graças a este filme, alguns outros que tinha feito, bem como desfilar para moda, que tinha feito um patrimônio, comprei para minha mãe o Hotel que tem lá em Fort-de-France, embora nunca vá para lá.

Comprei com esse dinheiro aplicado, esse apartamento, quando o Gerard, resolveu se aposentar, claro ele me fez um preço especial, além de o hospedar quando vem a Paris.

Nunca tiveste nada com ele?

Jamais, ele como eu, nunca gostou de misturar as estações.

Jogou as cobertas de lado para observar como sempre fazia o corpo perfeito do Abilio, adorava tê-lo em sua cama, mas só estavam juntos no final de semana.

Abilio vivia num pequeno apartamento, em Belleville, na verdade era mais um quarto na casa de uns parentes dele.  Mas como dizia, só vou lá dormir, pago a minha madrinha para lavar e passar minha roupa, depois das aulas, ia para a biblioteca, aonde tinha arrumado um emprego, tinha especialidade, de conhecer todos os livros, de algum escritor, ou sobre Africa.

Quando contou para ele, que na casa de seus tios, só falavam um dialeto de Moçambique, pediu se ela podia lhe ensinar.

Com isso, sempre arrumava um jeito de ir comer lá, bem como de uma certa maneira, ela vinha limpar o apartamento dele duas vezes por semana.

Na primeira vez, ficou parada, na porta da sala que emendava com a velha biblioteca do Gerard, lhe perguntou se ele tinha lido tudo isso.

Riu, uma grande maioria sim.

Se ele estava em casa, só falava com ele em dialeto, bem como colocava alguma música de lá.

Ela sempre lhe agradecia, ele ter conseguido uma bolsa de estudos para o sobrinho.

Sem querer foi ela que lhe contou, que o futebol para ele, era uma saída, uma maneira de poder pagar os estudos, tinha jogado em dois times portugueses, mas minha irmã, exigia que lhe pagassem a melhor escola.

Depois dos treinos, tinha era que estudar duro, tinha que tirar as melhores notas.

Mas de uma maneira, tantas contusões, nas verdade, lhe deram a chance de estudar aqui.

Seu marido trabalhava nas obras, assim fez pequenos serviços no apartamento, como modernizar os dois banheiros, a cozinha que era muito velha.

Tinha uma coisa que ele odiava, o quarto que usava tinha sido dos pais do Gerard, tinha um papel de parede, horrível, arrancou o mesmo, pintando o quarto de branco, assim quando se levantava, não tinha nenhuma imagem de cara.

Tinha sim pelo corredor que tinha feito a mesma coisa, objetos de todos os lugares que tinha andado.

Sem querer descobriu um dia que o dois tinham um relacionamento, só disse que esperava que ele cuidasse bem de seu sobrinho.

Quando os dois foram de férias a Moçambique, levaram os velhos juntos, foi uma festa, as pessoas se surpreendiam, com ele, pois falava o dialeto perfeitamente, melhor que o Abilio, muitos o tratavam como se fosse dali, misturado com algum português.

Sabia que um dia o Abilio ia bater asas, apesar de adorar estar com ele, sabia que isso aconteceria.   Por isso, quando lhe perguntavam por que não viviam na mesma casa, dizia que precisava seu espaço.

Anos depois isso aconteceu, Abilio foi fazer uma pós-graduação sobre os negros americanos em NYC, nunca mais voltou, conheceu um homem negro, rico, ficou vivendo com este.

Ele sabia que isso ia acontecer, estava agora a beira dos 50 anos, daqui uns quantos anos tinha que se aposentar, mas ninguém tinha se candidatado para ser adjunto, ou se interessava por ser professor dessa área.

Nessa época sua mãe morreu, teve que ir a Fort-de-France, para resolver a situação do hotel, chegou para o enterro, se falavam por telefone sempre, ela ainda foi umas duas vezes com o Gerard, quando esse ia resolver algum problema pessoal em Paris, apesar de conversarem, ele dizia que era uma bela desconhecida para ele, agradecia de uma certa maneira ela o ter mandado para França, tinha se tornado alguém.

Estranhou encontrar no seu quarto de hotel, todos os livros que tinha escrito, talvez tivessem sido dados por Gerard, abriu um, ali estava uma dedicatória ao seu professor.

Quem queria comprar o hotel, pois já levava tempo ajudando, era o velho companheiro do Gerard, esse tinha morrido a mais de cinco anos.

Fizeram negócios, ele andou uns dias vagabundando pela ilha, não se lembrava de nada.

Pela maneira como se vestia, mesmo informalmente, logo atraiu atenções, mas ele sabia que queriam era explorar.

Voltou para Paris, relaxado dos dias na praia, tinha que pensar nos alunos que teria no semestre seguinte, pelos sobrenomes viu a origens dos mesmos, pediu as fichas de inscrição.

Logo em seguida, foi para Amsterdam, para lançar o livro que tinha levado anos escrevendo, sobre os judeus, convertidos ou não, que tinham emigrado de Portugal, para Holanda, Inglaterra, mesmo para o Brasil e América.

Com isso escapava para todos esses lugares, mas os famosos registros estavam mesmo em Portugal, lá alugava sempre o mesmo apartamento no Bairro Alto, era pequeno, mas jeitoso como diziam.  Conheceu muitos emigrantes, brasileiros, os que vinham de Africa.

Mas desta vez tinha acontecido uma coisa, que ele atribuiu a sua idade, não se interessava realmente por nenhum, quando muito a famosa foda de uma noite.

Talvez buscasse nesses homens o único que tinha amado na vida, o Abilio.

Quando esteve em NYC, pesquisando sobre os judeus, estiveram juntos várias vezes, achava estranho o relacionamento dele, com esse homem com quem vivia, era um judeu riquíssimo, este fez questão de mandar fazer um jantar, aonde o apresentou a todos seus amigos.

Todos muito superficiais, preocupado em aparentar, dois inclusive se insinuaram para ele.

Um único dia que esteve a sos com o Abilio, lhe perguntou se era feliz com essa vida, era professor adjunto da universidade, o que lhe dava tempo de pesquisar para um livro que estava escrevendo.

Disse para ele que devia ir a New Orleans, que lá ele poderia encontrar material.

Meses depois lhe mandaria duas cópias de registros que tinha encontrado.

Marcaram de se encontrar por lá, mas foi quando aconteceu do desastre do Katrina.

Estava de novo em Paris, acabava de vir de uma reunião com os diretores e reitor da área, a preocupação deles, era que não tinha ninguém especializado no que ele fazia, para ser de momento professor adjunto, posteriormente ficar no lugar dele quando se aposentasse.

Estava andando pelo claustro pensando, quando recebeu uma chamada do Abilio, dizendo que o que lhe interessava estava a salvo do desastre, irei para lá esta semana, porque não consegues escapar.

Voltou a falar com o seu diretor, esse se lembrava do Abilio, disse que gostaria de ir para se documentar a respeito, bem como quem sabe convence-lo de voltar para Paris.

Quando Chegou a New Orleans, depois de um transbordo em Miami, se abraçaram muito, sem querer fez uma coisa, nunca tinha contado para ninguém, mas tinha uma camiseta com o cheiro dele, que guardava para dormir quando estava sozinho.

Inspirou, o cheiro ainda era o mesmo.

Abilio se afastou rindo, ainda tens essa mania, me cheirar.

Foram para aonde se hospedaria esses dias, com ele, numa casa, das antigas, que tinha sobrevivido ao desastre.

Tirou dois dias para andar com ele pela parte afetada, ficou como louco, escutando algumas pessoas falarem, o melhor foi quando Abilio conseguiu uma pessoa para o levar ao mais profundo, as margens de um manguezal.

Foi como que sonâmbulo em direção a uma senhora sem idade definida, sentada embaixo de uma árvore imensa, essa sorriu para ele, lhe ofereceu água.

Sem que se desse conta, começou a falar com ela, a mistura de crioulo, francês, com algumas palavras em africano.

No teu curriculum meu filho, te falta estudar profundamente o Yoruba, feche os olhos, vou te mostrar a pessoa que deves procurar quando chegares em Paris.

Ele via perfeitamente um homem com uma roupa, como tinha visto no Senegal, com um barrete branco, ele vai te ajudar.

Depois começou a falar com ele sobre o Abilio, ele se perdeu, se deslumbrou com a riqueza que nunca teve, mas não é feliz, o que lhe salva é o seu trabalho, senão estaria na merda.

Podes conseguir que ele vá de novo para Paris, mas nunca mais estará contigo, aliás seria muito mal para ti, querer recuperar o passado, pois esse realmente já passou, não passa da melhor lembranças que tens.

Na sua cabeça concordava com ela, sabia que se retornasse um relacionamento, ele sempre de uma certa maneira teria ciúmes do homem que este tinha em NYC.

Ela lhe deu uma indicação, procure um homem na universidade, ele pode te ajudar.

Pierre Lascaut, foi o nome, conseguiu falar com o mesmo, que tinha seus livros na estante, gosto como escreves, não tentas ser um erudito, mas sim, fazer com que te entendam.

Falou com ele, que realmente nessa época, ou mesmo posteriormente, muitos que tinha emigrado para a Holanda, ou para Inglaterra, seus descendentes alguns acabaram aqui, o levou a ver documentos, que conseguiu tirar cópias, para seus estudos.

Como ele sempre mencionava a diáspora judia tinha sido durante séculos, um eterno movimento, pois cada vez que um rei chegava a dever tanto aos judeus, os massacrava ou bania.

Não tiveram boa sorte os que emigraram para Polonia, ou os países que foram da Rússia, tens que ir a Israel, lhe deu um contato por lá, de um professor que estudava isso.

Antes de ir embora, quando soube que o companheiro do Abilio, soube que ele estava lá, vinha passar uns dias com ele.

Mal sabia que ele iria embora no dia seguinte, ciúmes talvez, mas ele tinha ficado num quarto sozinho, entre eles não tinha acontecido nada.

Sentou-se com o Abilio, conversou com ele, o problema que tinha na universidade, que ele seria um bom candidato, se isso lhe interessava, creio que te receberam bem, além de todo o trabalho que desenvolveste aqui.

Abilio ficou olhando serio para ele, sabes que nunca mais vamos poder ter nada, verdade, cheguei à conclusão de que me perdi aqui, estava tão acostumado contigo, que não tive muitas experiencias, aqui a principio me joguei em aventuras, pois chamava a atenção.

Mas mesmo meu relacionamento está em ponto morto, como tudo na vida, chega um momento que temos que mudar, tenho um amante aqui em New Orleans, mas nunca chegarei a lugar nenhum com ele, pois é casado.

Não se preocupe, meu convite não tem nada a ver com essa parte, inclusive, conversei antes de vir com meu chefe e o reitor da Sorbonne a teu respeito, todos concordam comigo.

Pense nisso, podes entrar para o semestre seguinte, mas tens que resolver logo.

Não preciso resolver, aceito o convite, mas preciso que seja uma coisa formal, uma carta, servirá, aproveitarei isso para cortar meu relacionamento falido, no momento ele me pressiona para casarmos, pela nova lei, mas não quero, é uma atadura.

Voltou ao lugar que tinha ido, mas a senhora não estava, foi interessante, pois um homem lhe disse, estás procurando uma pessoa que morreu a mais de dez anos.

Ficou de boca aberta.

Mas me sentei aqui com ela, mostrou a árvore.

Sim me lembro, o senhor se sentou aqui, ficou com uma garrafinha de água na mão, como se tivesse falando com alguém.

Ah, esse mundo misterioso lhe intrigava.

Não comentou com ninguém a respeito, pois a única pessoa que ele poderia ter esse tipo de conversa seria seu grande amigo Gerard.

Quando chegou a Paris, no velho telefone da casa, tinha um recado do Jean-Paul, seu companheiro de tantos anos tinha morrido.

Telefonou imediatamente para ele, estava desolado, lhe disse, tomo um banho vou para aí.

Conversaram muito, os meninos estavam desolados, pois tinham muito mais atenção desse pai, do que Jean-Paul, este disse que estava se afastando do cargo que tinha, para um que lhe sobrava mais tempo para os mesmo, agora são adolescentes, preocupados com o que estudar.

Sem saber por que Jean-Paul, tocou no assunto de um homem que tinha ajudado seu companheiro nos últimos tempos.

Amanhã vou visita-lo porque não vens comigo, ele está me orientando, de como me aproximar dos meus filhos.

Aceitou, nesse dia, teve um sono profundo, sonhou com a mulher outra vez, isso já tinha acontecido antes, ela mostrou o homem para ele.

Quando entraram no apartamento humilde em Belleville, ele começou a rir, o homem se levantou do cadeirão que estava sentado, vejo que encontraste o caminho a tua maneira.

Jean-Paul, ficou de boca aberta, o homem conversou com ele, depois os dois começaram a conversar em Yoruba, o mesmo ia corrigindo o que ele falava errado.

Ainda tens um tempo de férias, porque não vens comigo a Nigeria, seria interessante.

Só tinha livre uns 15 dias, no dia seguinte conversou com o diretor, lhe passou o número do celular do Abilio, calcularam a diferença de fuso horário, o pegaram se levantado da cama.

Os deixou conversando, telefonou para o homem, nem sabia o nome dele.

Foi comprar o bilhete, se encontrou com o mesmo, conversaram muito, esse disse que muitos o conheciam como Julien du Bara, pois tem a ver com um espirito que me acompanha.

Sentaram-se depois, para tomar um chá, visto o outro não beber.

Comentou da história da senhora, eu tive a sensação de que conversei horas com ela, mas na verdade o homem que me acompanhou, disse que estive sentado nesse lugar uns 15 minutos.

Essa mulher é tua protetora, na verdade por um acaso, foste ao lugar que ela vivia, ela é Nanã Baruque, por isso podes vê-la.

No dia seguinte embarcaram, tinha tido que correr muito, pois precisava de um visto para entrar na Nigeria.

Esses 15 dias, foi como uma maratona, Julien du Bara o levou para conversar com um homem velho sem idade nenhuma, este lhe mostrou a Nanã, sentada do lado dele.

Deves estudar Yoruba, mas antes, deves ir a Israel, para conversar sobre a famosa diáspora, isso vai dar um belo trabalho.

Ele voltou para Paris, relaxado, em seguida, soube que o Abilio tinha aceitado, que chegava na semana seguinte, falou com sua tia, ficaria com eles, tinha comprado um apartamento melhor para os dois.

Ele entrou numa roda viva, ao mesmo tempo que nos seus momentos livres estudava Yoruba com Julien do Bara, aprendeu a cuidar de uma pequena imagem de mulher que lhe tinham dado de presente na Nigeria.

Já tinha o curso todo preparado, quando chegou o Abilio, durante um tempo, acompanharia sua aula, para saber depois como seguir o trabalho.

Na primeira oportunidade, foi a Tel Aviv, para conversar com o professor.

Foi como um choque, era um homem da mesma idade dele, tão alto como ele, com uma cabeça que parecia um leão, pois tinha os cabelos crespos imenso, brancos, se sorriram um para o outro, tinha encontrado alguém que o atraia como um louco, nunca tinha imaginado isso.

No mesmo dia, conversaram horrores, iria começar a estudar para poder saber ler, além de escrever em hebreu.

Na primeira oportunidade, começou a fazer como na época do Gerard, deixou Abilio tomando conta da turma, foi para Israel, se dedicou a pesquisar junto com Ariel Roman ao mesmo tempo que iam se conhecendo.

O mesmo tinha pesquisado sobre o assunto, a partir de emigração desde Sevilla e Granada, para Marrocos, incluía a parte Portuguesa, quando algumas famílias também o tinham feito, seguiu a trajetória de um Alquimista, desde Lisboa, até Marrocos, posteriormente para Turquia, a família tinha chegado a Palestina muito tempo antes da primeira grande Guerra, foram se misturando com árabes, hoje eram poucos.

O levou para conhecer a família que vivia em Jerusalém, tinham permitido os dois a acederem aos documentos que tinham guardados.

Escreveram um livro sobre isso em conjunto, bem como ao mesmo tempo, começaram um romance que duraria muitos anos, depois Ariel embarcou com ele num projeto, que era pesquisar em vários lugares da Africa, aonde tinham chegado também durante esse período, muitas famílias, cansadas de escaparem de um lugar a outro da Europa.

Quando se aposentou, passou a viver em Tel Aviv, aonde tinha encontrado pouso, era conhecido somente como Grace, dava ainda aulas de vez em quando ou seminários na universidade de Tel Aviv.

 

 

 

 

 

 

 

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