TEMPO
Realmente o tempo tinha passado, mas ele
nunca tinha esquecido de nada, de um lado, tinha se saído bem, mas quando
pensava na base, as vezes tinha vontade de gritar, filho da puta.
Tinha uns doze anos, vivia já a algum tempo
num orfanato, durante os últimos anos, tinha vivido nas ruas com sua mãe, de
uma mulher bonita, tinha virado um lixo.
Quando morreu de overdose, de um certo
ponto analisaria mais tarde, foi como um alivio, pois a maior parte do tempo
tinha medo.
O levaram para o orfanato, rasparam sua
cabeça, estava cheia de piolhos, aprendeu a tomar banho sozinho, ganhou uma
cama para dormir, se pode dizer que adorou.
Um dia apareceu um homem no orfanato, se
apresentou a madre superiora, como um advogado, ela foi com eles a um hospital,
aonde fizeram uma prova de ADN.
Depois de um tempo, foi levado diante de um
juiz, lá estava um homem, que saberia depois que era seu pai.
Mal pode se despedir da madre superiora,
que sempre tinha de uma certa maneira cuidado dele, foi ela quem o ensinou a
ler e escrever, pois nunca tinha ido à escola, pode assim se recuperar
acompanhar a turma da escola para sua idade.
Ela avisou ao advogado, esse garoto é muito
inteligente, merece uma vida melhor.
Ainda pensou, então era verdade, ele tinha
um pai, mas alguma coisa não encaixava, não gostava do mesmo, sequer tinha
curiosidade.
Embarcaram num avião particular, a aeromoça
cuidou bem dele, quando o voo subiu, se sentou ao lado dele, lhe segurando a
mão.
O pai, ao contrário, estava sentado numa
poltrona a mais distante dele. O
advogado ia falando baixo com ele.
Quando desceram em NYC, embarcaram numa
limousine, ele que tinha vivido nas ruas, nunca tinha imaginado nada disso, mas
ao contrário de estar deslumbrado, estava era preocupado, tinha escutado alguns
falarem nas adoções com abusos, como voltavam, morria de medo.
Mas o homem, nem sabia seu nome, se sentou
o mais longe possível dele, só lhe disse, que iriam agora visitar seu avô.
Entraram num edifício, de alto luxo, no
Central Park.
O velho estava sentado numa poltrona, ao
lado tinha uma cadeira de rodas, venha aqui meu neto, o examinou segurando seu
rosto com as duas mãos.
Realmente tinha os olhos como os dele,
verdes, além dos cabelos meio avermelhados.
Viu que ao lado dele, tinha um envelope,
com o resultado do ADN.
Virou-se para o que dizia ser seu pai,
dizendo, pela primeira vez não mentiste.
Fez um sinal para eles irem embora, ficaras
vivendo aqui comigo, teu pai, viaja muito.
Um mordomo, depois o levou ao que seria seu
quarto, sem querer riu, pois era horrível, com um papel de parede combinando
com a colcha, uma cortina horrorosa.
O homem perguntou do que ele ria, soltou na
maior tranquilidade, para quem dormia no chão, em algum beco, ou num edifício
abandonado, isso pode parecer um luxo, mas prefiro como era no orfanato, lá as
paredes são brancas, as camas simples, não sei se vou me sentir cômodo aqui.
Espere, saiu, voltou em seguida com o velho
sentado na cadeira de rodas.
Lhe disse que repetisse o que lhe tinha
dito.
Ele olhando a cara do velho, repetiu, terei
até medo de cair dessa cama, lá a cama é mais baixa, porque tem outra em cima.
Um beliche disse o mordomo.
Acho que é esse o nome, quando dormi na
cama estranhei, pois estava acostumado a dormir no chão, sempre fiquei com medo
de cair.
Mas essas paredes, me dão medo.
O velho fez um sinal para o homem
concordando.
Esse o levou para a área de serviço,
arrumou um quarto ao lado do dele, vamos reformar o outro.
Não, esse está bom, é pequeno, mas simples
como eu gosto.
No dia seguinte tomava café da manhã,
quando o que dizia ser seu pai apareceu, trazia um homem com ele, disse que
esse ia ser seu professor, para ele poder ir a uma escola melhor que a do orfanato.
Mas ao chegar, nem lhe disse bom dia, nada,
tampouco perguntou como tinha dormido.
A primeira coisa que o velho quando se
levantou fez, falou com o professor, podes ir embora, já tinha contratado uma
professora.
Quando essa chegou, deu ordem e dinheiro
para ela, comprar roupas e sapatos para ele.
Era uma senhora de idade, entraram numa
loja de luxo, disse que ele podia escolher o que quisesse.
Ele olhou o vendedor com uma roupa simples,
perguntou aonde tinha igual a ele.
O levou a um setor mais simples, tinha
aprendido com a superiora a falar de preços, a olhar o que era bom, essas
coisas.
Quando ela disse que tinha que escolher
mais coisas, ele só se interessou em escolher cuecas, meias, tudo simples, sem
marcas.
Depois a escutou falando com o velho. Ele se matava de rir, esse pelo menos não
puxou ao pai, esse idiota que tenho por filho.
No dia seguinte, ele começou a estudar com
ela, a maioria já sabia, só lhe pediu para ensinar direito para ele matemática,
não gosto muito, as vezes não entendo o raciocínio, preciso que seja mais
simples.
Ela ria com a maneira dele se expressar.
Um mês depois, foram a escola aonde ele ia
estudar para ele ter uma ideia.
Entendeu que era como um internato. Ela lhe explicou, que ele estudaria ali,
aqui vem os rapazes da tua idade, filhos de família bem.
Ele só via o pai, quando este vinha nos
sábados a jantar com o velho, fora disso, jamais.
Antes dele ir para a escola, finalmente,
teve que sair com a professora, comprar todo um enxoval, para lá, uniformes, tudo
vinha numa lista.
Nem se incomodou, pelo menos não era roupas
chamativas.
Perguntou a ele, se gostava de esportes.
Ele lhe respondeu, que no orfanato, só
tinha uma bola, muitos garotos para jogar, que ele preferia ficar lendo algum
livro velho que estivesse por lá.
Isso ele tinha feito nesse tempo, usar os
livros da biblioteca do velho, aonde passava o dia inteiro, saia com ela, para
andar pelo Central Park, pouco mais.
Antes de ir embora, o velho se sentou com
ele, disse que esperava que ele não o defraudasse como o filho, que estudasse
bem para ser alguém na vida.
Receberas todas as semanas um dinheiro para
gastares, com o que queira, frisou.
Lhe deu dinheiro, que ele achou muito.
Mal chegaram na escola, ia com ele a
professora, bem como o advogado, teria um quarto simples, pequeno só para ele.
Demoraria a entender, até que escutou um dos
alunos falando para o outro, que ninguém queria se misturar com ele, pois
afinal era um bastardo, mas que seu avô tinha doado dinheiro para a escola, por
isso o aceitavam.
Para ele, era como voltar ao orfanato, com
a diferença que não passava frio, tinha um quarto só para ele, com água quente,
podia usar a biblioteca da escola.
Um professor de educação física, veio ver
em que ele queria aprender, sabia que ali tinha uma piscina, tinha visto no dia
que tinha visitado a mesma com a professora.
Disse que queria aprender a nadar, nada
mais.
O outro sugeriu vários esportes, ele disse
que não queria se distrair dos estudos.
Se destacou desde a primeira prova, até
mesmo matemática que tinha aprendido a usar o sistema mental que ela tinha lhe
ensinado.
O orientador disse que tinham mandado uma
cópia para seu avô, que tinha ficado contente.
Todas as semanas esse homem, lhe trazia um
envelope.
Ele não entendia, porque ali ele tinha de
tudo.
Pensou muito, se lembrou de uma conversa
que tinha escutado no orfanato, que quando saíssem tinham que economizar,
guardar dinheiro, pois nunca se sabia o dia de amanhã.
Pediu ao advogado que apareceu um dia, se
podia arrumar uma caixa para ele guardar seu dinheiro, o homem trouxe uma com
chave, guardou tudo que já tinha escondido no fundo do armário, depois, como
andava sempre sozinho, pelo pequeno bosque que tinha ali, encontrou um
esconderijo. Cada vez que recebia o
envelope, guardava.
Uma vez por semana um ônibus os levava
todos a uma pequena cidade perto, via que os outros gastavam dinheiro em
besteira, ele sempre levava um minino.
Ia sim a uma sorveteria, mesmo no inverno,
tomar um sorvete, isso ele se lembrava, da mãe lhe comprando quando ainda
estava bem, um sorvete de morango para ele.
Sempre era o mesmo, se sentava ali,
saboreando o mesmo, forçando a memória para se lembrar dela nessa época.
Quando começaram as aulas de desenho,
conseguiu passar para o papel, primeiro com uma certa dificuldade, mas depois
ensinado pelo professor, conseguiu fazer mil vezes esse mesmo retrato, até ter
noção, que era como ele se lembrava dela, nas épocas boas.
Antes do Natal, o velho morreu, o vieram
buscar para o enterro, esteve sempre ao lado do advogado, bem como da
professora.
Nas vésperas do Natal, todos os alunos
basicamente foram embora, só dois que os pais viviam em outro pais
ficaram. Ele estava acostumado, nunca
tinha tido natal, lhe dava igual, somente a comida nesse dia foi melhor.
Um dia o advogado apareceu, lhe trouxe uns
documentos, eram uma certidão de nascimento, em que aparecia o nome de sua mãe,
bem como o de seu pai.
Ele gostava mesmo como sempre tinha se
chamado Kevin Brooder, que era o sobrenome dela.
Perguntou a ele se podia seguir usando
assim, que ele preferia.
O advogado com o tempo passou a entender
sua maneira de pensar.
Um dia soltou para ele, que tinha outro
aluno ali, que ele também cuidava, seus pais viviam fora do pais, mas não me
das o trabalho que esse me dá.
Nesse tempo todo, nunca mais viu o pai.
Quando chegou a época de ir à universidade,
ele já tinha se decidido, o velho falava muito em estudar administração de
empresas, mas ele preferia fazer direito, se pudesse literatura.
Concorreu sem ninguém saber a uma bolsa de
estudos para as duas. Conseguiu.
Foi a mesma coisa, o advogado, veio, quando
soube que ia a universidade com bolsa de estudos, fez uma coisa, o levou ao
banco, abriu uma conta no seu nome, disse numa conversa particular com ele,
fora da escola, teu avô deixou um fideicomisso para ti, ir a universidade, vou
passar esse dinheiro para ti, ele aproveitou disse ao homem espera, foi até o
bosque, levou duas caixas dessas de biscoitos que tinha conseguido na cozinha
da escola.
Lá estavam todo o dinheiro que recebia, alguns
ainda dentro do envelope.
Depositou tudo, como ia com bolsa de
estudos, lhe perguntou se podia seguir tendo um quarto só para ele, pagaria por
fora isso, vivia dentro do recinto da faculdade.
As vezes saia de ônibus, pegava um em
frente da faculdade, via o roteiro do mesmo, foi conhecendo a cidade.
O que ele mais gostava, era ir à
biblioteca, ali era seu mundo.
Um dia conversou muito com um professor,
que vivia martelando, que nunca se deve assinar nenhum papel, sem ler o mesmo
antes.
Isso ficou na sua cabeça.
Quando estava no segundo ano da faculdade,
sempre tirando boas notas, tinha se interessado com esse professor a ler
contratos, que normalmente eram enfadonhos, bem como contratos.
Aprendeu ele mesmo a redigir alguns, o
fazia numa maquina de escrever antiga da biblioteca.
Nas aulas de literatura, a maioria dos
companheiros usavam um laptop, que era a moda agora.
Ele preferia escrever a lápis, depois
passar o exercício a máquina. Revisava
o mesmo mil vezes para corrigir erros de gramática.
Desta vez seu pai, mandou lhe buscar para
passar um final de semana no apartamento do velho.
Achou estranho, ficou desconfiando desde o
princípio, o homem que o veio buscar, era um tipo estranho, mas viu que seu pai
colocava a mão sobre a dele, na hora de comer.
Depois que foram para a biblioteca, o seu
pai, se esforçava ao máximo para aparecer normal.
Estava sentado numa poltrona, ao lado tinha
uma planta, lhe ofereceram uma bebida, ele agradeceu, nunca tinha bebido, nem
gostava do cheiro.
Mas viu que o homem pelo espelho, servia da
mesma maneira, que tirava do casaco um tubinho, pensou filho da puta, tinha
visto um filme a pouco tempo que aparecia uma cena que drogavam uma pessoa.
A principio fingiu que bebia, mas nem
molhar a boca, quando se distraíram, jogou a bebida na planta, logo fingiu que
estava dormindo.
Ficou escutando os dois falando, que ele
era a salvação, que no dia seguinte teria que assinar os papeis de venda do
apartamento, o filho da puta do velho tinha deixado para ele.
Estou precisando desse dinheiro para
desaparecer, pois a bomba logo vai estourar.
Quando um tempo depois escutou os dois se
beijando, entendeu muitas coisas, tinha colegas gays, embora reconhecesse que
ainda era virgem, faziam gozação com ele sobre isso.
Foi dormir, tinha achado estranho o velho
mordomo não atender mais, agora era outro.
Quando perguntou a esse, riu, dizendo com a
boca torta, esses dois se livraram dele.
Não sabia por que, mas sentia confiança
nesse, esses estão pensando em me dopar, para assinar papeis, passando o
apartamento para meu pai, ele parece que tem problemas de dinheiro.
Espere, um tempo depois, apareceu com uma
pasta que estava em cima da mesa da biblioteca, deu para ele ler.
Ele não só passava o apartamento para o
pai, bem como abria mão do seu fideicomisso, para o mesmo, além de todo seu
dinheiro no banco.
Pensou, filho da puta, quer me devolver a
rua.
O homem disse para ele, não assine, amanhã,
saia logo cedo, lhe indicou um lugar ali no Central Park, vai ter um homem te
esperando com o teu advogado, que não é o mesmo de teu pai.
Ele foi dormir, estava como sempre no
quarto dos empregados.
Logo cedo, estava acostumado a se levantar
muito cedo, desceu pela saída de empregados, foi ao lugar que este tinha
falado.
Seu advogado, lhe explicou, o homem era do
FBI, seu pai, enganou muita gente, deve muito dinheiro, por isso quer passar a
mão no apartamento, no seu fideicomisso, no dinheiro do banco.
Se ontem ele experimentaram alguma coisa
que não bebi, para me deixar dormindo, creio que vão me drogar, para que assine
tudo.
O advogado lhe explicou, que seu avô o
tinha contratado só para atender a ele, seu pai já tentou comigo, por isso
avisei o FBI, fiquei preocupado que te quisessem matar.
Ele é bem capaz disso, realmente eres filho
dele, conheceu tua mãe em Los Angeles, ela sonhava em ser atriz de cinema,
tiveram uma aventura, por isso ele sabia que tinha um filho, quando o velho
exigiu, para ele levar a empresa.
Mas pelo testamento do velho, ele só tem
49% das ações, os 51% restantes, são teus, ele precisa que assines esse
documento, pois já vendeu a mesma inteira para os chineses.
Isso é proibido por lei, mas ele precisa de
dinheiro, por isso deve querer vender o apartamento que vale uma fortuna, para
fugir do pais.
Soltou alto, filho da puta, me deixa para
trás como sempre.
Na verdade o senhor sabe que mal o conheço,
estava achando estranho tudo isso, pois desde que estou na universidade, nunca
o vi, fazem dois anos que não fala comigo.
Sim o único contato sou eu, pois sou teu
advogado, mas se assinas esse papel, deixarei de ser.
Entendi a jogada, eu li os mesmos, esse
mordomo novo me conseguiu.
Ele é dos nossos, disse o homem do FBI,
está la para vigiar o mesmo.
Ficou pelo menos mais tranquilo, mas saiu
andando pela cidade como gostava, resolveu fazer uma coisa que nem os outros
tinham falado, foi ao banco que tinha a conta, pela primeira vez pediu um
extrato, estava com o nome de Kevin Brooder Silver. Disse ao gerente que queria mudar o nome,
mostrou seus documentos como Kevin Brooder, a tempos venho usando esse que é só
o sobrenome de minha mãe, problemas de família, sem nenhum problema fez isso, o
homem ainda lhe falou da caixa de segurança que tinha ali, deixada pelo seu avô
para ele, se fazia igual.
Algum mais está autorizado a entrar na sua
conta, ou aceder a essa caixa?
Ninguém, só eu mesmo.
Saiu dali, deu uma volta imensa pela
cidade, só voltou no final do dia para o apartamento.
Quando o homem, bem como seu pai, lhe
perguntaram aonde tinha estado, disse que tinha ido ao banco retirar algo de
dinheiro, pois queria comprar livros, mostrou a bolsa de uma livraria com ele,
não gosto de usar cartão de crédito.
Depois passei pela cidade, imaginei que o
senhor tivesse ido trabalhar.
Foram jantar, lhe serviram vinho, mas ele
sem querer virou a taça, não posso beber, disse isso olhando ao mordomo que os
servia, depois não sei o que faço.
Como na noite anterior, foram se sentar na
biblioteca, o pai lhe disse que precisava que ele assinasse alguns documentos
para ele.
Coisas de teu avô.
Viu que o outro servia como no dia
anterior, alguma coisa, mas desta vez, virava tudo.
Filho da puta, pensou, viu que na porta
meio escondido estava o mordomo, fez um sinal para ele, na hora que foi beber,
esse fez um ruido, ele verteu tudo na lixeira que estava ao lado da mesa.
Depois disse que estava se sentindo mal, o
pai insistia que ele assinasse, mas fazia de conta que não conseguia, esse
inclusive, segurou sua mão, desesperado que ele assinasse, porra.
Ele usou o truque de cair para frente como
desmaiado.
Merda, colocaste drogas demais na bebida,
queria tirar os papeis que estavam debaixo dele, mas se fez de duro, o homem se
cerimonia nenhuma o foi pegar pelas costas, ele fez uma coisa, arrastou todos
os papeis jogando tudo pelo chão.
Que desastre, nisso, a porta se abriu de
todo, entrando os homens do FBI, o homem que o segurava, ameaçou, joga-lo pela
janela, um do policiais, disse, olhe-se no espelho, ele tinha no meio da testa
uma luz vermelha.
Seu pai já estava algemado, o outro soltou,
tudo foi ideia dele.
Isso o senhor deixa para contar para o
juiz.
O pai o olhava com raiva, filho da puta, te
tirei da sarjeta, me pagas assim.
Ele o olhou bem, fizeste nada, se o velho
não te ameaça a deixar sem herança, não tinhas ido me buscar, ele me contou
tudo isso, o filho da puta eres tu.
Depois foi um largo processo, ele teve que
depor inclusive. Tinha acedido com o
advogado que tinha a caixa do velho, ali tinham mais propriedades, que o filho
não sabia.
O único medo do seu pai, era que os
chineses, o matassem pois os tinha enganado.
Ele mandou vender o apartamento, pagar os
mesmo o valor da parte dele, do outro não lhe interessava.
Mandou vender os negócios do velho, bem
como mais da metade das propriedades.
Mas não escutou nada de obrigado, por ter
pagado aos chineses ou melhor devolvido o dinheiro que ele tinha roubado deles.
Pensou é um bom filho da puta.
Mas deixou que a justiça fizesse seu
trabalho, ele tinha estafado muita gente, isso ele não queria saber. Quando o juiz lhe perguntou pelo dinheiro que
tinha deixado seu avô, não estava no banco, ele em pleno tribunal, esse idiota,
sinalizou o pai, se esqueceu que eu estudo direito, li tudo que tinha que
deixar para ele, nos papeis que tinha em cima da mesa.
No dia seguinte quando sai, fui a ao banco,
eu sempre tive dois documentos oficiais.
Um me chamo Kevin Brooder Silver, o
sobrenome do meu avô, mas sempre usei só o nome da minha mãe Kevin Brooder, por
isso, abri uma conta nesse nome, passei tudo para a mesma, bem como uma caixa
que estava em meu nome. Ninguém poderia
tocar nessa conta.
Se ele tivesse me matado, tudo iria para o
orfanato aonde fui criado, nada para ele.
A cara de ódio do pai, para ele, foi como
uma doce vingança. Tinha deixado sua mãe
morrer na sarjeta, depois planejava mata-lo, o tiro tinha saído pela culatra.
Pensou muito, depois disso, descobriu que
nos documentos do velho, um apartamento perto da universidade, foi com o
advogado olhar o mesmo, estava fechado, mandou pintar tudo, jogar tudo que
estava dentro fora, foi mobiliando ao seu gosto.
Seu pai tinha sido condenado a 16 anos de
prisão, tinha tentado sair várias vezes por boa conduta, mas ele não estava no
pais, para o ajudar nisso.
O outro morreu na prisão nas mãos de
mafiosos, se descobriu que era amante do seu pai.
Ele assim que acabou a universidade,
conseguiu uma pós-graduação na Sorbonne, se mandou para Paris, tinha dinheiro
para isso, foi se especializar em escritores franceses.
Talvez por isso, tinha sido fácil, escrever
um livro, falando da primeira etapa que tinha noção da sua vida, a degradação,
como foram descendo, até viverem nas ruas.
Sua mãe se prostituindo para sobreviverem, comerem, depois as drogas,
até chegar ao orfanato, o que sentiu a primeira vez em muito tempo, tendo um
bom banho, quando rasparam sua cabeça, que estava cheia de mordidas de piolhos,
pulgas, ter uma cama para dormir.
Revisou mil vezes tudo, isso, no que fazia
esse processo, se lembrava de coisas, ruas, as sensações, comer comida de lixo,
a primeira vez que comeu um pedaço de pizza, que tinham jogado fora. Detalhes como se preocupava com sua mãe, como
a encontrou morta, depois de ter ido pelas ruas pedindo dinheiro, tirado comida
do lixo de um restaurante, um pedaço de carne que levava para ela.
Foi incluindo todas essas lembranças no
livro, o escreveu pois o curso que fazia era lá, em francês, um professor que
examinou o que ele tinha feito, levou para um editor, que veio falar com ele.
Se era realmente tudo verdade, ele lhe
mostrou todos os recortes de jornais que tinha, relativos ao processo de seu
pai, como tinha sido toda a história.
Assim foi publicado, com sucesso.
Agora estava num avião, em primeira classe,
com destino a NYC, tinha falado com seu advogado, estava a mais de 8 anos fora,
ia para o lançamento do livro. Tinha
pedido que pintasse o apartamento, mandasse dar uma limpeza.
Era o único bem que tinha sobrado, o
dinheiro da venda de sua parte da empresa, fez uma coisa, doou o mesmo todo
para o orfanato avisou a madre superiora, para melhorar a escola e a vida dos
meninos.
Pensava em dar um pulo lá. Depois teria que resolver uma coisa, aonde
viver, o que fazer de sua vida, se dedicar a escrever ou dar aulas.
Quando desceu do avião, lá estava o
advogado, foram conversando, ele tinha sido o intermediario, na negociação com
a editora.
Sabia que nos Estados Unidos, funcionava
diferente na promoção de um livro, que na França, por isso tinha no contrato, firmado
um acordo, que em momento algum falaria em seu pai, tampouco lhe interessava
lavar trapos sujos na televisão ou entrevistas.
Havia interesse de um diretor de cinema
para transformar o livro num filme, mas isso ele ainda tinha que pensar,
conversar com o mesmo.
Tinha conversado várias vezes com outros
escritores sobre isso, um de seus professores reclamava muito disso, que o
filme distorcionava o livro que tinha escrito, mas não pude fazer nada, tinha
assinado um contrato.
Nesse ponto, quando o seu de NYC, mandou o
contrato da primeira editora, ele devolveu o mesmo com muitas partes rasuradas,
dizendo que não lhe interessava editar assim, mandava em contrapartida um
contrato como ele queria.
Essa acabou desistindo, quem se interessou
foi um amigo do advogado, que aceitou as cláusulas que ele queria.
Ele mandou junto, quando se falou das
entrevistas, uma que tinha dado em Paris, em que um jornalista, tinha
pesquisado a história, de seu pai.
Quando lhe fez a pergunta, a fez em inglês,
ele disse que não entendia, pois isso não estava no livro, que ele só falava do
livro, mas respondeu em francês.
Outro lhe perguntou sobre o dinheiro que
ele tinha doado ao orfanato, tampouco respondeu, tornou a dizer que só falava
do livro, como seguiram, ele se levantou foi embora, deixando o platô da
televisão.
Claro tiveram que colocar uma propaganda, o
diretor da mesma foi atrás dele, se via no vídeo, ele dizendo eu avisei, agora
aguente.
Se alguém se interessar em me entrevistar,
mostre esse vídeo antes, se não for sobre o livro não falo.
Um tinha comentado, de como um homem como
ele, pois estava vestido normal, tinha um bom tipo, podia realmente ter vivido
assim.
Não seja por isso, da próxima vez, venho
como um miserável.
Todo mundo riu, não respondeu à pergunta.
Estava louco para dormir, uma boa noite,
pois estava cansado do voo.
O advogado o avisou que o de seu pai,
tentaria entrar em contato com ele, parece que quer que fales no seu processo
de liberdade condicional.
Só se for obrigado, pela primeira vez,
falou com o advogado no assunto, imagine, ele sabendo que minha mãe estava
gravida, a deixou para trás, sabia que eu existia, nunca procurou ajudar, só
mandou me procurar, quando precisou, pois o velho o ameaçava.
Isso já contarei no próximo livro. Começou a rir, na divulgação do próximo, não
falarei nada.
No dia seguinte começou uma roda viva, foi
almoçar com o editor, que lhe falou da proposta do cineasta, pediu o nome, iria
olhar os filmes dele, só depois me sentarei para negociar.
Quanto as entrevistas já sabe.
Teve duas tardes de autógrafos, depois numa
delas, um homem lhe estendeu um cartão de visita, era o advogado de seu pai.
Disse que ele se colocasse no final da
fila, quando faltavam uns quantos, se levantou para ir ao banheiro, saiu pela
porta detrás.
Nos dias seguintes, aonde ele aparecia o
homem estava. Para não ficar fugindo,
foi falar com ele, disse que de maneira nenhuma iria fazer o que ele pedia, que
cumprisse sua pena, era um problema dele.
O homem ainda quis inventar uma história
que ele tinha câncer, mandou seu advogado que estava ali, ligar para a
penitenciaria, se informar a respeito.
Era mentira.
Se o senhor quer, que eu vá, diga aos que
vão examinar o caso, que ele é um bom filho da puta, vou, que não devem dar
liberdade condicional para ele.
No dia seguinte foi para San Francisco, num
canal de televisão, lhe fizeram uma pergunta relativa a ele, não respondeu.
Outro lhe perguntou se era verdade que ele
tinha se negado a ir falar na sua liberdade condicional.
O senhor espere o próximo livro, aí falarei
tudo, o senhor leia com atenção, pois nunca falarei ao vivo no assunto.
Se mais alguém tem alguma pergunta a
respeito, aviso que sairei do programa, não respondo nunca nada a respeito,
disse isso olhando ao apresentador.
Voltaram a fazer uma pergunta, ele se
levantou, tirando os cabos, foi saindo.
O diretor do programa veio falar com ele, o
alcançou já estava saindo do lugar, eu avisei, agora se apanhem.
No dia seguinte estava nos jornais.
Mas a estas alturas ele já estavam em Los
Angeles, fez duas tardes de autógrafos, depois foi para o orfanato. A madre superiora o beijou muito, eu imaginei
que chegarias longe, mas primeiro lançar um livro na França, ficar famoso,
rimos muito ontem vendo a entrevista.
Se sentaram, para conversar, ela tinha
feito uma bela obra no orfanato, menos mal que seu advogado veio para cá, pois
claro a arquidiocese queria logo meter a mão nesse dinheiro.
Depois os apresentou aos garotos mais
velhos, que estavam em aulas.
A maioria não acreditava que ele tivesse
estado lá.
A mais pura verdade, ela lhe disse que dois
deles, tinham boas notas, podiam ir em frente, conversou em particular com
eles, o que queriam fazer depois de sair de lá.
Estudar disseram os dois.
Muito bem, vou conseguir bolsas de estudos
para vocês. Assim fez.
Ninguém nas entrevistas falou nada a
respeito de seu pai, já sabiam como ele era.
Viu os filmes o diretor, não gostou da
maioria, eram baseados em fatos reais, mas o sujeito extrapolava, exagerava no
assunto.
Ligou para o editor, disse que nem pensar,
não gosto do trabalho dele.
Dois dias depois o mesmo apareceu num platô
de televisão, quando ele dava uma entrevista, falando da época que estava
estudando na Sorbonne, como tinha sido sua adaptação.
Aqui estudei basicamente sobre escritores
americanos, tinha um leve conhecimento dos escritores de lá. Tive que aprender a entender a maneira
deles, escreverem, mesmo os filmes de lá tem uma maneira diferente.
Quando chegou a hora das perguntas, o dito
cujo perguntou se ele ia autorizar que fosse transformado em filme.
Lhe perguntou o nome, quando entendeu que
ele era o interessado.
Saiu pela tangente, acho que no momento
quero pensar, talvez faça um curso de como escrever roteiros, para que eu mesmo
possa escrever, sei por amigos, que venderam seus livros, que os roteiros nunca
eram como queriam.
O homem queria vender seu peixe, mas o diretor
do programa cortou com um anuncio.
Ele falou para o diretor, esse homem quer
me colocar numa situação difícil, pois vi seus filmes, não gosto como trabalha.
Esse o esperou no final do programa, queria
tomar satisfação, olhou para o mesmo, disse que fosse transformar em filme,
escolheria um diretor francês, que faria um filme cru, como deve ser.
Quando voltou para NYC, estava farto,
resolveu algumas coisas, conseguiu que uma parte dos lucros do livro, fossem
transformado em bolsa de estudos para os rapazes do orfanato, depois falou com
a Madre superiora, como tinha resolvido a questão, me mantenha informado a
respeito.
Voltou para casa, agora passaria a viver
definitivamente em Paris, ao longo desses anos todos, tinha vivido
simplesmente, trabalhado, escrito, fez o que tinha pensado, entrou num curso
para roteirista, começou a trabalhar o texto do livro.
Não sabia por que, mas talvez ao ter ido ao
orfanato, muitas coisas que não tinha falado, lhe vieram a toma, escreveu o
mais cru possível.
Principalmente a decadência de sua mãe,
tinha tentado descobrir de aonde ela tinha saído, mas nunca tinha conseguido.
Sabia que era de algum lugar perdido de
Dakota, ou mesmo Arizona, mas seu advogado não encontrou nada.
Tinha um problema sério com os
relacionamentos, isso já era uma coisa antiga, pois nunca conseguia confiar
totalmente nas pessoas, agora era pior, muitos se aproximavam porque sabiam que
era um escritor, que tinha dinheiro.
Preferia ter aventuras de uma noite,
acabava confessando aos poucos amigos que tinha, que adorava essa solidão que
vivia, era difícil a maioria das pessoas entenderem.
Um inclusive comentou a história de um
escritor, que tinha passado a vida inteira sozinho, quando chegou a uma certa
idade, viu que não tinha vivido, começou a fazer sexo, com jovens, quase morreu
por causa disso.
O assunto lhe interessou, foi falar com o
mesmo. Se deram bem desde o princípio.
Quando foi a casa dele, se surpreendeu, era
mais limpa, se ele não vivesse lá, iria imaginar que era para uma fotografia,
nada fora de lugar, ele ao contrário, adorava uma mesa grande que tinha
comprado no mercado de Saint-Queen, feita de resto de madeiras de obra.
Ali tinha seu laptop, bem como uma
impressora, depois tudo em volta era uma eterna bagunça.
Conversaram muito a respeito.
Kevin lhe disse que necessitava do silencio
que tinha seu apartamento, o tinha escolhido bem, as vezes posso escutar o
bater das assas de um mosquito.
Assim organizo melhor minha cabeça, mas ele
saia com seus poucos amigos, nunca bebia essa era a verdade, mas gostava de
escutar cada um falando no que estava desenvolvendo.
O outro não tinha amigos, odiava escutar as
pessoas falando de seus trabalhos.
Chegou à conclusão que não estava tão mal
assim.
A editora, lhe pediu se podia traduzir um
livro, de um escritor jovem americano.
Leu o livro, esse falava de sua infância,
nos bairros pobres de New Orleans, dos pais, drogas, músicos, achou o livro
interessante.
Mas disse que antes iria falar com ele,
tomou um avião, via Miami, foi até lá, marcou de se encontrar com ele, foi
imaginando um negro, deu de cara com um tipo mulato, olhos azuis, soube depois
que o mesmo era albino.
Se deram bem desde o primeiro momento, ele
trazia seu livro, a cada lugar, tinha anotações, conversaram muito, acabou
fazendo uma revisão do texto inteiro com ele, depois fez a tradução.
As dúvidas, eram que muitas vezes ele usava
o crioulo, a mistura de francês com inglês, ou mesmo dialeto vindos de Africa.
Ele dava aulas na universidade, lhe trouxe
um aluno, ele disse que era assim que o imaginava, um negro de dois metros de
altura, imenso, sua história era mais recente, tinha a ver como tinha perdido
sua família inteira no Katrina, quando descobriu o que sua família escondia,
que tinha uma avô que era santeira.
Adorou o livro, sentou-se com ele,
trabalhou o texto inteiro.
Se surpreendeu, um dia que esse disse,
porque fazes isso por mim, meu irmão.
Li teu livro, mas ao te ver, tem estampa,
podias até ser ator de cinema, mas sentas com um negro, preocupado com seu
livro.
Oras tens talento, só estou dando um
empurrão, já fizeram isso por mim, não pense que sai brilhando no primeiro
filme B, que é história de minha vida.
Quando o texto ficou pronto, mandou que ele
revisasse muitas vezes agora o texto.
Ele o levou para conhecer sua avó, foi uma
coisa incrível, pois falou de toda sua infância, a que ele não tinha mencionado
no livro, disse de aonde era na verdade sua mãe, de Long Island, que ele
procurasse por lá, mas que tirasse um “o” de seu nome, seu sobrenome era
Brodthe, ela tinha mudado.
Avisou seu advogado, que encontrou uma
família assim.
Levou o texto do rapaz, para sua editora,
depois foram visitar a família de sua mãe.
Nunca a encontramos, sonhava em ser uma
atriz, conheceu alguém aqui, que a levou para lá, depois nunca mais.
Era uma família imensa, agora podia dizer
que tinha família, fizeram um teste de ADN, só para tirar dúvidas. Todos trabalhavam na construção, sua avó lhe
disse que ela tinha vergonha disso, queria ser famosa, também no meio de tantos
homens, talvez a protegi demais.
Deu para ela o livro, depois um dia esteve
só com os velhos, agora ele sabia que o sonho dela ser famosa, tinha sido uma
balela.
Seguiria mantendo contato, voltou para
Paris, com o texto dos dois rapazes.
Anos depois já editor de livros, conheceu
um parceiro ideal para sua vida, era um homem que escrevia muito bem, vinha do
Marrocos, estudava na universidade, quando leu seu primeiro livro, o ajudou, um
dia acabaram na cama.
Eram diferentes, mas se completavam,
Mansur, adorava o silencio como ele.
Podia trabalhar juntos na imensa mesa, sem
perturbar uma ao outro.
Anos depois soube que seu pai tinha saído
da prisão, mas em seguida se meteu em confusões, tentava vender sua parte da
empresa, mas isso já tinha feito a muitos anos atrás para pagar seus
advogados. O pegaram como sempre com a
mão na massa, voltou outra vez para o presidio.
Um dia conversando com o Mansur, soltou que
devia ter conversado com ele, para saber por que era assim.
Sem querer se lembrou de seu avô falando do
filho, dizendo que não entendia, pois lhe tinha dado todas as oportunidades,
ele que tinha chegado a NYC, como emigrante, tinha feito sua fortuna baseada em
seu trabalho, como o filho podia ser dessa maneira.
Seguiu ajudando o orfanato, em seu
testamento inclusive constava que quando morresse tudo devia ir para lá.
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