DRAMATIC

 

                                      

 

Tinha aceitado fazer esse filme somente por um motivo, precisava de dinheiro, para pagar as despesas da operação de sua mãe.

O tinham descoberto na Parsons School of Design, tinha se formado já a dois anos, era especialista em gravações de vídeos de música, de arte em geral.   Seu professor da época, lhe pediu para substitui-lo até o final do semestre, pois tinha que fazer uma operação complicada.

Como devia a ele uma série de favores aceitou, no momento estava fazendo uma edição de um trabalho que era uma homenagem ao costureiro para quem sua mãe trabalhava.

Nesse dia tinha avisado que uma serie de fotógrafos, agentes de artes, estariam por ali, que entrariam na sala, procurando não perturbar os alunos.

Viu que um deles fazia fotos, o que incomodava um pouco, mas como era sem flash não reclamou.   Seguiu adiante.

No dia seguinte, quando chegou, depois de passar pelo hospital, aonde sua mãe se recuperava de uma das muitas operações que já tinha feito, tinha um homem lhe esperando.

Era um dos agentes, recordou-se que era o mesmo que fazia fotos.

Preciso falar contigo, podias passar pelo meu escritório. Lhe entregou um cartão de visita, ele fez o mesmo do seu, Robert D’Arnaud, marcaram uma hora, lhe disse que só dispunha desse tempo, pois hoje dou aulas o dia inteiro.

Quase se esqueceu, por sorte tinha mania de colocar isso no seu celular, uma maneira de o lembrar.

Estava saindo quando tocou o celular com a lembrança, menos mal que não era longe, mesmo assim chegou uns 15 minutos atrasado.

Pediu desculpas, a secretária o fez entrar em seguida, ele estava ali com outro homem, que se levantou imediatamente, ficou dando voltas em torno a ele, fazia como alguns fotógrafos.

É impressionante, o parecido.

Depois que viu que ele estava incomodado, o fez sentar-se se apresentando, era um diretor de cinema, muito conhecido.

Disse que estavam refilmando uma filme antigo, na época se denominava de classe B, de detetives, mas que tinha lançado ao estrelado um ator, que durante 15 anos fez um sucesso impressionante.    Nossa ideia é misturar o filme antigo, que foi remasterizado, com um atual.

Disse mais ou menos a ideia.

Ele fez uma pergunta que deve ter surpreendido os dois.    Quanto me pagaram por isso, no momento quero explicar, tenho minha mãe no hospital, não posso me mover de NYC, além de ter que dar aulas substituindo o meu professor.

Soubemos que eres especialista em vídeos e edição dos mesmo, verdade?

Sim, essa é minha especialidade, participei de vídeos de amigos, da época que estudava, mas sou especialista principalmente em vídeos de moda e música, lhe em que estava trabalhando atualmente, minha mãe, trabalho quase toda sua vida com esse costureiro.

Na verdade era como se fosse meu tio, nos ajudou sempre.

Bom as filmagens são aqui mesmo na cidade, pois o original foi feito aqui, embora uma parte de studio foi feito em Hollywood.

Isso complica, como já disse não posso sair daqui.

Mas o mais importante para mim, é saber quanto vou ganhar com isso, pois minha divida com o hospital é grande.

O diretor lhe perguntou qual era o hospital, ele disse.

Está numa suíte?

Ele começou a rir, quando o fazia, ficava com a boca torta, o diretor batia as mãos na perna, é igual.

Lhe mostraram uma foto, de um homem na idade que ele tinha agora, eram realmente muito parecido.   Na atualidade, ele tem quase 90 anos, mas se nega a conversar, vive numa fazenda perto de Nevada, não permite a entrada de ninguém.

O filme na verdade o original é muito antigo, mas quem escreveu o roteiro, o fez de uma maneira que é quase uma comédia.

Lhe deu um texto, poderias ler?

Ele leu sem se preocupar muito, algumas palavras quando falava era como se sua boca ficasse torta.

Perfeito, agora teremos que fazer com uma câmera, evidentemente muita coisa, será feita na edição.

Ele voltou a mesma tecla, o quanto lhe pagariam.

Lhe disseram um valor, mas ele estava acostumado ao mercado, lhe disse que por esse valor nem iria a esquina.    Disse um valor muito mais alto do que precisava, o outro ficou olhando para ele sem dizer nada.

Bom falamos em dinheiro depois do teste.

Saiu dali, louco para contar para sua mãe, mas claro levou um desgosto imenso, quando chegou ao hospital ela estava em coma induzido, pois tinha passado mal.

Passou a noite ali com ela, era um quarto desses compartidos, ele teve que aguentar dormir numa poltrona, o melhor que no dia seguinte não tinha que dar aulas.   Foi para casa, os dois viviam num apartamento antigo, ele sempre que podia nas férias dava uma mão de pintura no mesmo, o edifício precisava de tudo.

No momento funcionava só com um dos elevadores, isso que tinha três, era sempre um problema, mas claro, era o que ela tinha podido comprar, no Bronx.

O ter sempre em movimento, evitou que ele se misturasse com alguma gang.

Sua paixão pelos vídeos, pelo que fazia, tinha nascido, que como os outros garotos, as consolas de jogos, só que nunca pode comprar um novo, sua mãe lhe conseguiu um através de seu padrinho Jean, como sempre era ele que conseguia tudo.

Mesmo do apartamento, tinha sido ele o avalista para a comprar, menos mal que tinham pagado tudo.   Quando ganhou seu primeiro dinheiro fazendo o vídeo de um músico complicadíssimo, pegou o dinheiro foi ao banco, pagou tudo.

Mesmo agora, estava usando o dinheiro que tinha economizado, para montar o studio de seus sonhos.

Trabalhava em casa, seus computadores, aonde fazia edição, eram todos montados por ele mesmo, inclusive alguns programas que ele tinha inventado.

Tomou um belo banho, colocou as roupas que usava sempre, camisetas com estampa, com uma sobre camisa de jeans, tênis, foi para a direção que lhe tinham dado.

Já tinha estado por ali uma vez, procurando emprego como assistente de filmagem, isso a muito tempo atrás.

Tinha pensado na noite anterior, procurar os filmes desse ator na internet, mas como tinha dormido no hospital, era impossível.

Fez tudo que o diretor mandou, ignorou completamente a câmera, só uma vez, pediu que ele fizesse a cena de frente para ela.   A fez sem problema nenhum.

Marcaram com ele de tarde, pois viram que ele queria sair, tenho que ir ao hospital, mal tinha acabado de filmar, lhe tinham chamado pelo celular, comentou com o agente, que sua mãe estava em coma.

Este lhe perguntou seu nome, ele disse Martine D’Arnaud, não tenho o nome de meu pai, morreu antes que eu nascesse.

Saiu correndo, ela tinha saído do coma, mas estava muito mal, nem lhe deu tempo de contar o que tinha acontecido, faleceu em seguida.

Ficou desesperado, quando sentiu uma mão no seu ombro, era o agente.

Sinto muito, mas vim ver se precisavas de ajuda.

Imagina, a seis meses perdi meu padrinho o Jean, agora minha mãe, quando ele morreu, para ela era sua aposentadoria, mas em seguida descobriu que tinha câncer, foi um atrás do outro, quando operavam um, aparecia outro, por isso precisava de dinheiro.

Terei que falar agora com o hospital, para ver como vou pagar tudo isso.

Deixa comigo, o agente foi com ele, liberar o corpo, bem como avisar suas velhas amigas ainda vivas do ateliê.

O agente disse que conseguiria que a cremassem como ela queria, se um dia ele fosse a França levasse para a terra aonde tinha nascido, na Bretanha.

Só dois dias depois é que ele voltou a se encontrar de novo com o agente, para resolver sobre o filme.  

Mantenha pé firme, quanto ao dinheiro, queriam te pagar menos por ser um novato, mas sei que tens por detrás uma carreira.

O diretor disse que tudo bem que podiam começar dentro de dias a filmagens.

Ele disse os dias que tinha que dar aulas, no momento é meu único problema, pois o professor está se recuperando de uma operação, devo muito a ele.

Era interessante, foi outro que o tomou baixo suas asas quando o viu.

Nesse dia pediu ao agente, que lhe desse todos os filmes que esse ator tinha feito, ia dar uma olhada por internet.

Tinha fechado a porta do quarto de sua mãe, com o tempo já veria o que poderia fazer.

Buscou o filme que era baseado o que ia fazer, o viu uma vez, realmente o homem e ele eram parecidos, só os cabelos que ele já sabia que teria que escurecer, pois era loiro como sua mãe, mas de resto era igual.

Riu muito quando numa cena, ele sorria, ficava com a boca torta, aí ficavam realmente parecidos.

De uma certa maneira o ator, era meio canastrão, viu os outros filmes que havia na internet, era quase sempre um personagem parecido, até mesmo um filme de cowboy, nesse ele riu, pois era uma comédia, mas em nenhum momento ele sorria.

No outro dia recebeu o roteiro do filme para estudar, começou a rir já na primeira cena, era o personagem tendo um sonho com o detetive do filme, lhe dizendo quem tinha cometido o crime, esse sempre sonhava com o outro, mas fazia tudo procurando não seguir o que o outro dizia, mas tinha que dar mão a palmatoria, pois o acabava tendo razão.

Sem querer foi para sua sala, copiou dois filmes da internet, misturou as cenas, de um falando com o outro, colocou sua voz nos dois personagens, ele mesmo tinha uma voz muito parecida com o ator.

Depois de trabalhar no seu programa especial, mandou uma cópia para o agente, esse devolveu a chamada, rindo muito.  Vejo que captaste a ideia, vou falar com ele, pode ser que ele queira que trabalhes nisso também.

Isso sim ia adorar fazer, é minha profissão.

De uma certa maneira se lembrou como tinha feito no documentário, se baseando na história que sua mãe tinha lhe contado, como ela bem como o Jean tinham vindo parar em NYC.

Ele usou a si mesmo para fazer essas cenas, as colocou em edição, mandou para o agente, esse tornou a ligar, fantástico.

Depois temos que falar nisso.

No dia seguinte, acordou rindo, pois a cena tinha ficado na sua cabeça, era como se ator falasse com ele.

Despertou com o diretor lhe chamando desde Hollywood, foi ótimo isso, pois consegui convencer um dos produtores, com teu vídeo, bom trabalho, aliás devias participar comigo depois na edição, te pagarei mais.

Talvez com esse dinheiro além de pagar suas dívidas, com o hospital, pudesse montar seu studio como queria.

Não se moveria dali, apenas abriria mais espaço, para montar tudo como sonhava.

O agente tinha lhe perguntado de novo sobre sua mãe, tudo que sabia era que a tinham chamado para fazer um filme, foi quando conheceu seu pai, mas que o filme nunca tinha acabado, pois ele morreu antes, num acidente de carro.

Lhe contou que tinha odiado fazer esse trabalho, fazia o papel de uma garota francesa, que chega a Hollywood cheia de imaginação.  Tinha se deslumbrado com ele, pois era muito bonito, mas claro no dia que viu suas cenas numa edição, viu que não era a sua, muito canastrona, mas quando chegou para lhe dizer que estava gravida, foi uma merda, me avisaram que o filme estaria parado, teria que ser feito outra vez, pois ele tinha morrido na noite anterior num acidente de carro, estava muito alcoolizado.

Telefonei para o Jean, que me mandou um bilhete de avião, disse que sentia minha falta, afinal eu era seu braço direito, voltei a trabalhar, por pouco não nasces ali, estava de joelhos provando um vestido quando rompi em águas.

Por sorte o hospital era perto, lá nasceste tu.   Jean queria te colocar o seu sobrenome, mas eu disse que o meu bastava.

Tinha contado para ele, na verdade tinha duas versões, a dele, bem como a dela, os dois tinham sido separados de suas famílias durante a guerra, eram pequenos, foram para uma vila no interior, no sul, que mesmo assim não escapou dos alemães, ficaram com a mesma família, ali ela aprendeu vendo a senhora costurar, alias os dois, quando terminou a guerra, nenhum família reclamou os dois, ficaram com essa senhora que os ensinou a costurar, a ele a modelar, cortar os tecidos, quando esta morreu, foram para Paris tentar a sorte, conseguiram um emprego numa casa de alta costura, ali aprenderam tudo sobre moda.   Uma das clientes era americana, reclamava que odiava as viagens transatlânticas, convenceu o Jean de ir para NYC, afinal ele entendia seu corpo, o ajudou no começo, a montar seu pequeno ateliê, foi levando as amigas ricas, de qualquer maneira consideravam que era um costureiro francês, ele nunca tinha sido famoso, mas atendeu todas essas mulheres, suas famílias, durante toda sua vida.   Algumas eram inclusive artistas de cinema, que precisavam de alguma roupa para alguma ocasião especial.

Foi tentado para ir para Hollywood, mas gostava de como vivia e trabalhava.

Ele tinha escrito um roteiro em cima disso, mas acabou optando pelo documentário, embora bancasse tudo ele mesmo, pois já não havia nenhuma dessas mulheres ricas para o ajudarem.

Agora as ricas iam a Paris, como quem vai tomar um café na esquina, fazer compras, voltar na mesma noite frescas depois de aguentar uma primeira classe.

Mesmo assim nos últimos tempos, elas compravam, mas ele tinha que adaptar para seus corpos, já nesse final, trabalhava só os dois, como nos seus inícios.

Jean tinha vivido quase desde que chegou a NYC, com um homem todo poderoso, mas casado com uma cliente sua, aparecia quando podia, depois que o mesmo morreu, nunca mais teve ninguém.

Dizia que tinha sido pobre nisso, só amei um homem em minha vida, ainda por cima escondido, como se fosse um bandido, ele queria fazer um filme assim, mas claro não tinha dinheiro, quem sabe num futuro.

Quando começaram a filmagem, ele sem querer começou a fazer dois trabalhos ao mesmo tempo, colocar o outro ator em cena, o diretor alucinava com ele, mas ele nunca dizia como funcionava esse programa que tinha inventado.

As filmagens estava quase acabando, quando um dia Austin um dia o chamou para ir ao teatro, vamos ver uma velha gloria do cinema e do teatro, a muitos anos vive em Londres, trabalha no teatro mais que cinema.

Assistindo o espetáculo, ainda pensou, ela faz isso, como quem está tomando um café, era uma das famosas peças de Noel Coward, devia ter feito mil vezes, ele perguntou baixinho ao Austin a quanto tempo representava a mesma, ele soltou rindo, dois anos.   Depois falaria com ele sobre isso, é como ir trabalhar, carimbando papeis, faz sem pensar, sabe o texto, esta na sua cabeça, é como tomar um café, falar da vida alheia.

O arrastou para o camarim, mas o colocou atrás dele, quando ela o beijou se afastou rapidamente, quem é esse?

A resposta de Austin foi, são iguais não?

Quem é teu pai?, foi a pergunta dela.

Sinto muito mas não o conheci, morreu antes que eu nascesse num acidente de carro em Hollywood.

Ela foi se sentando lentamente, buscou uma caixa de papel, enxugando as lagrimas, parecia mais verdadeira que em cena.

E tua mãe quem é?

Ele disse o nome dela, Martine D’Arnaud, só fez um filme que acabou inacabado, pois justamente ele morreu antes de terminar.

Porra, soltou ela com violência, mandou todo mundo sair, só ficaram os dois, então ele é o meu neto?

Agora quem estava espantado era ele.

Menor ideia senhora, como não sei o nome do ator, só sei está história, tampouco posso confirmar, pois minha mãe acaba de morrer a meses, antes de começarem o filme, Austin ainda me acompanhou em tudo.

Tu já imaginavas verdade seu filho da puta, soltou ela para o Austin.

Esse de uma certa maneira, ria, imagine, vou a um encontro de agentes, para conhecer novos artistas, na Parsons School, o vejo dando aula, ensinando o pessoal a pensar para fazer um vídeo, mais natural impossível, o garoto ainda tem uma coisa, sorri igual a ele, é produtor de vídeos, bem como faz montagens, tirou seu celular do casaco, mostrou para ela a cena que ele tinha editado.

Puta que pariu, soltou ela, é igual ao mesmo.

Posso saber de quem estão falando?

Já falamos, esperem que eu troque de roupa, limpe a cara dessa merda de maquilagem, vamos comer alguma coisa, essa história me abriu o apetite.

Eles saíram, podes me explicar Austin?

É melhor que ela mesma te conte a história, já veras como foi que te descobri.

Eu sou agente dela aqui nos Estados Unidos, na Europa ela tem outro.

Ela saiu, nem parecia a mesma, tinha tirado a peruca que usava, o cabelos eram iguais aos dele, vamos sair por detrás, assim não paramos.

Foram a um restaurante, o Austin pediu um reservado.

Ele soltou, eu sabia que isso existia, mas nunca sobrou dinheiro para isso.

Tua mãe o que fazia.   Ele contou para ela com quem ela trabalhava, então devi a conhecer, pois o Jean fez muitos vestidos para mim.

Tirou uma foto dela, quando mais jovem.

Sim claro a menina Martine, sempre tão tímida, uma beleza de garota, então ela era tua mãe?

Sim, Jean morreu a seis meses mais ou menos, ela em seguida descobriu que estava com câncer, foi uma coisa atrás da outra, no dia que fiz o casting, tive que sair correndo, pois estava em coma, tinha despertado, mas morreu nada mais eu chegar ao hospital.

Imagine que ele aceitou fazer o filme, para poder pagar o hospital.

Ela colocou a mão sobre a dele, sinto muito tudo isso.

Austin contou para ela, que os efeitos especiais, do filme, que já estava quase terminando, eram feitos por ele, não deixa ninguém ver como faz, é um programa inventado por ele.

Amanhã posso ir a filmagem?  Adoraria ver isso.

Na verdade, eu preparo as cenas antes, sei como vai ser a filmagem, coloco o texto dele, que faço eu mesmo, aprendi como ele usava a voz, soltou uma frase, ela ficou de boca aberta, depois soltou uma sonora gargalhada.   Isso mesmo, impostava a voz, para se fazer de durão.

Ele começou a rir, ela quando viu sua boca, passou a mão em cima, como os dois.

Como os dois?

Tive um filho com ele, que foi uma bala perdida, não se encontrava em nada, não parava em escola nenhuma, claro já não vivíamos juntos, ele tinha mil amantes, cada dia aparecia em casa com uma, eu vivia aqui em NYC, o teatro sempre foi o que eu gostava de fazer.

Então era um entra e sai das escolas internas, quando resolveu ser ator, usou o nome verdadeiro de seu pai, Robert Robledo, pois era descendente de espanhóis, fazia o papel da época de Latim Lover, o machão.

Na época me casei com um produtor da Broadway, que não suportava crianças, foi quando ele foi a primeira vez para um internato.   Aceitou ou conseguiu fazer o inicio desse filme, era bonito, uma mistura dos dois, mas com a boca torta como o pai, eu estava em Londres fazendo um filme, quando me avisaram já era tarde, pois tinha morrido no ato, seu pai estava no Mexico, fazendo um filme de cowboy no deserto, foi difícil avisa-lo.

Quando finalmente chegamos, o caixão estava numa geladeira lacrado, nem pudemos nos despedir dele.

Cada um foi para seu lado, agora algumas vezes nos falamos, pelo Natal, que nunca passamos juntos, ele vive perto de Nevada, tem um rancho por lá, diz que cansou do cinema.

Me fale de ti?

Contou como tinha sido sua vida, estudar para ser o melhor, incentivado por sua mãe, pelo Jean, que era como seu tio, sempre o tinha chamado assim.

Depois fui estudar na Parsons, a antiga, mas claro nem sempre podia me manter lá, tinha que trabalhar, assim aprendi mil coisas, podia trabalhar tanto numa empresa de informática, como alguma outra coisa, demorei mais que os outros alunos em terminar o curso.

O dinheiro sempre era curto, pois minha mãe tinha comprado esse apartamento, que nos comia quase tudo que entrava, embora tio Jean ajudasse, nunca era muito.  Ele tinha todas as outras costureiras ao seu cargo, ajudava a todas que podia.

Era uma pessoa maravilhosa, podia ter sido um grande costureiro de moda, mas sempre trabalhou para suas clientes especiais.

O descobri por causa de uma amiga, precisava de um vestido para uma obra de teatro, levei o texto para ele, logo me apresentou o vestido, eu não gostava do que a produção apresentou.

Conheci a ele, bem com a Martine, seu braço direito.

Como sempre vivi, mais tempo em Londres que aqui, aliás a maioria dos meus filmes é lá, não em Hollywood, quando não estas presente te esquecem.

Quando estarás livre da filmagem?

Dentro de duas semanas. Mas depois tenho a edição toda com o diretor por terminar, enxugar.

Quem diria, assim que pudemos, vamos falar com esse sem vergonha, se quiseres faremos um teste de ADN.

Trocou de celular com ela, o tinha aceitado sem mais.

As duas semanas seguintes foram complicadas, pois tinha uma cena quase no final, que era difícil de fazer, era o fantasma, salvando sua vida, teve que procurar o filme inteiro alguma que pudesse aproveitar, em que ele aparecia com um revólver na mão, levou dois dias para fazer como ele achava, mostrou para o diretor, agora teriam que encaixar as duas, o pior que o outro ator, não entendia a cena.

Fizeram uns quantos ensaios para isso, mas o idiota, não entendia até quase ao final.

Só quando viu na edição, é que finalmente entendeu a cena, mas de qualquer maneira o fato dele não entender que basicamente estava atuando com duas pessoas, tornava a cena real.

Depois foram semanas, trabalhando a edição, sua avó iria para San Francisco com o espetáculo, ficaria duas semanas por lá, depois estava livre, combinou com eles dois, que assim que tivesse livre iriam a Nevada.

Ele aproveitou esse tempo para acabar o filme, recebeu de dois lados.

Austin perguntou que ia fazer com esse dinheiro?

Ele riu, vou realizar meu sonho, montarei meu studio como sempre sonhei, pagarei minha dívida com o hospital.

Nada disso, tua avó, já pagou tudo.

Não podia chamar nesse momento para agradecer, pois estaria em cena.

Viram o filme inteiro, o final era interessante, eram os dois detetives frente a frente, o fantasma falando que ele devia acreditar mais em si mesmo, senão terei que voltar outra vez para te ajudar.

O diretor convidou dois críticos famosos de cinema para ver o filme montado, os dois se matavam de rir da confusão, ao final perguntaram quem era o técnico que tinha feito os efeitos especiais.

Quando descobriu que tinha sido ele mesmo, apertaram suas mãos, vamos te recomendar a muita gente.

Depois apesar de exausto, embarcou com o Austin, o diretor queria saber aonde iam, embarcaram de primeira classe, ele se matou de rir, sempre vou na turística, para poder pagar que me levem meu material de trabalho.

Robledo sabe que vamos até ele, perguntou ao Austin?

Creio que não, pois se ela disse que não ia contar, acredito que sim.

Assistiram ainda sua última apresentação em San Francisco.  Estava louca para acabar essa turnê, nem penso mais para fazer as cenas, quando entro penso sou fulana de tal, sai tudo naturalmente, mas no final depois de tanto tempo, é como se o personagem estivesse roubando horas de minha vida.

No jantar perguntou que tal tinha ido à edição do filme?

Austin o deixou contar, como tinha sido a apresentação aos dois críticos de arte, que aplaudiram o filme no final.

Se gostaram, será um sucesso.

Ainda me disseram quando descobriram que os efeitos especiais tinham sido feitos por mim, que me indicariam a mais diretores.

Antes queria agradecer, por ter pagado as contas do hospital, a senhora não tinha por que fazer isso.

Sempre estarei em divida contigo, não estava aí, quando precisaram de mim, nunca soube que meu filho, tivesse me dado um neto.

Agora quais os teus planos?

Lhe contou do que estava fazendo com o Jean, mas falta muito ainda.

Primeiro vou reformar o apartamento, para aumentar meu studio, depois terminarei as cenas que tenho que inventar.

Se precisas de uma atriz dizendo que lhe fez muitas roupas, conte comigo.

Bom amanhã vamos pegar esse velho de surpresa.

Por que deixou de fazer cinema?

Simplesmente porque bebia demais, se tornou um ator complicado, diz ele que se sentia repetindo a si mesmo o tempo todo.   Uma coisa ele fazia bem, como tinha vindo do nada, guardava todo seu dinheiro no banco, vivia numa casa do studio, então tudo lhe saia grátis, quando fez seu último filme nesse rancho, caia aos pedaços, ele disse que se apaixonou pelo lugar, reformou o mesmo, se retirou do mundo, diz que com o dinheiro que aprendeu a aplicar, nunca passa fome, se for o caso, mata uma vaca.

No dia seguinte, alugaram um 4X4, pois Austin disse que a estrada era uma merda, na verdade era pior, isso ele deixa assim para dificultar a que qualquer um chegue aonde vive.

Quando foram chegando, ele pediu ao Austin para parar o carro, tinham dois cavalos, brigando, ele filmou tudo, se matando de rir.

Ela soltou, vejo realmente que essa é tua.

Depois te mostro uma coisa que foi difícil de fazer, imaginar através do que me contava o tio Jean, bem como minha mãe, como os dois chegaram a NYC, aproveitei essas filmagens que as pessoas colocam na internet, sobre uma chegada a cidade, vendo primeiro a Estatua da Liberdade, sou eu, com uma amiga que foi o mais parecido que encontrei para representar minha mãe.

Ela ainda chegou ver essas cenas, chorou muito, me dizendo que queria que eu tivesse uma vida melhor.

Quando foram chegando ao Rancho, ela o chamou por celular, disse que estava chegando, que ele se preparasse, o chamando de filho da puta.

Mal desceram do carro, ele saiu da casa, quando se aproximou, ela o fez ficar de costas, quando ele se virou, disse apresento teu neto.

O velho quase desmaiou, tiveram que ajuda-lo, entre os dois o levaram para a varanda, para o sentar.

Queres é me matar, velha vingativa, ficou olhando para ele, passou a mão pelo seu rosto, quando ele sorriu, o velho fez igual, era como a cena que tinha imaginado.

Quando entraram, apareceu uma senhora mexicana, que ele apresentou como sua carcereira, me obriga a tudo, não posso beber, fumar, nada.

Ela olhava para um e para o outro, meu neto disse ele.

Ai a senhora o beijou muito, o abraçou, mas pela cintura, pois era baixinha.

Quando mostrou depois, a montagem que ele tinha feito dos dois, ele se matava de rir, vou processar esse diretor, fez sem minha autorização.

Austin disse que o mesmo tinha comprado o direito do filme, naquela época sabes o direito era dos estúdios, os atores não tinham direito a nada.

Me obrigaram a fazer uns quantos filmes seguidos.

Ele não parava de olhar para ele, é mais parecido comigo, que nosso filho, verdade?

Sim, eu quando o vi, fiquei com as pernas bambas.

Mas ele não conheceu nosso filho, ele morreu antes de saber que ia ser pai.

Antes de eu ir para o México, me contou que estava saindo com uma francesa, que ia fazer parte do filme, que era muito ingênua.

Ele mostrou a foto de sua mãe.

Mas não a conheci, só sabia que o filme tinha ficado inacabado.

Agora estou louco para ver esse filme que fizeste.

Ganhei dinheiro pelos dois lados, como ator, bem como editor de efeitos visuais, que é minha especialidade.

Mostrou o início do documentário, dizendo que tinha sido uma boa experiencia, dirigir a filmagem, ao mesmo tempo atuar, sem nada em volta, nem o barco existia, tudo é criado pelo computador.

Quando lhe perguntou aonde vivia, ele explicou que só tinham podido comprar o apartamento que já viviam no Bronx, com o primeiro dinheiro que ganhei fazendo um vídeo para um cantor famoso, paguei tudo, assim minha mãe não se preocupava mais.

Acabaram ficando os dois ali, quase um mês, ele trabalhava todo os dias no seu Laptop, mas chegou um momento que tinha que ir, Austin chamava todos os dias, chegou o momento de ir para as entrevista de lançamento do filme.

A estreia seria em Los Angeles, no cinema famoso para isso.

O velho disse que ia, esses filhos da puta, pensam que estou morto, vão ver que estou vivo, matando a tiros.

Sem querer foi fantástico, proporcionou mais ainda o filme, o diretor fez as apresentações, contado que Robert fazia não só o papel principal, mas também todos os efeitos visuais.

No final quando os dois apareceram juntos, claro a diferença de idade era grande.

Depois todos os jornais e televisão falavam que o neto do famoso ator, tinha feito um papel contracenando com o avô no seu filme mais falado.

Depois mesmo com as chantagens do velho, foi para NYC, tinha que seguir seu trabalho.

Agora tinha dinheiro livre para fazer invés de um documentário, fazer um filme.

Sua av que tinha lido o texto que ele tinha escrito, lhe disse que seria interessante ele ir a França pesquisar realmente sobre os dois.

Falava sempre com o velho, esse dizia que sentia saudades, tinham feito por desencargo de consciência um teste de ADN, tinha saído bem.

Sua avó, o ajudava em contatos na França, quando foi ao lugar que sua mãe dizia, não era uma vila, mas sim um orfanato, ainda em funcionamento.

Procurou o registro dos dois, segundo as anotações, tinham chegado no mesmo dia, vindos de Paris, os pais tinham morrido, os dela levados para um campo de concentração, alguém a escondeu no meio do grupo que ia para esse orfanato.

Seus nomes reais não eram esses, os dois tinham inventado, quando voltaram para Paris, realmente no orfanato, tinha uma parte que as meninas aprendiam a costurar, só na ficha dele havia uma que ele participava.

Ele reescreveu um roteiro a partir disso, duas crianças chegando a um orfanato, de mãos dadas, vindas de Paris, depois anos mais tarde voltando para lá, para trabalhar com moda, mas fez uma coisa, a segunda parte era pura fantasia.

Inventou em cima dos vestidos que se usava na época pós guerra, os manequins na verdade estavam com uma roupa cor da pele, por cima ele criava as roupas.

Chamou o diretor, para o ajudar, esse veio correndo, a grande noticia que concorriam ao Globo de Ouro, bem como ao Oscar, em duas categorias, de roteiro, bem como efeitos visuais.

Tens que ir, assim é uma maneira de divulgar teu trabalho.

Sua avó no filme de agora, fazia a madre superiora do orfanato, pagaram para filmar lá mesmo.

Fizeram uma pausa, foram a Los Angeles, o velho para surpresa deles, aceitou ir as duas, estar ao lado de meu neto, é o melhor.

Eles ganharam os dois prêmios, quando lhe perguntaram que lastima que não concorria a ator, ele ria, nunca pensei em ser um.

Saíram em muitas reportagens, os avôs com o neto, mas nunca comentaram nada sobre o tempo que tinham perdido.

Isso era deles, os desfrutava como podia, seu avo Robledo morreu dois anos depois dormindo, deixou para ele dinheiro, o rancho era do casal que tinha sempre cuidado deles.

Sua avó ainda aguentou mais tempo, fez mais dois filmes com ele, como diretor, roteirista.

O da historia do Jean e sua mãe, ganhou um premio Cesar, mas fez mais sucesso por lá.

Ele acabou se mudando para Londres, como dizia sua avó, ali estava perto do velho mundo, era mais fácil se virar.

Ficou conhecido realmente por efeitos visuais, que fazia para muitos diretores, nunca ensinava nada a respeito.    Se casou anos depois, com uma costureira que tinha conhecido num set de filmagem, dizia que ela o entendia.

 

 

 

 

 

 

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