I'M NOT THERE
Pierre Saint Claude, escutou cortar, sabia
que a cena tinha acabado, foi quando viu seu agente e advogado no cenário,
estava fazendo uma das últimas cenas de uma série que era o protagonista.
Viu que o mesmo estava agitado, foi direto,
o que aconteceu, sabia que coisa boa não era, tinha sido igual, quando veio
anunciar a morte de seu pai.
Este tinha morrido no meio de um atentado
contra a embaixada da França no Sri Lanka, seria seu último posto, depois se
aposentava.
Tudo por um acaso, ele estava passeando no
jardim, quando viu estava no meio da protesta, lhe deram uma porrada na cabeça,
caiu morto.
Ele estava no meio de uma filmagem, sorte
que era uma das últimas cenas, até o ajudou a compor o personagem.
Foi o tempo que transladaram o corpo para
Paris. Amava o pai, que o tinha criado,
educado sozinho, era um homem carismático, alto como ele, segundo seus amigos,
podia ter sido ator de cinema ou teatro, os dois eram extremamente parecidos.
Ninguém se dava conta que no seu registro
ele era brasileiro, tudo fruto de um romance de seu pai, com uma atriz
brasileira, se casaram mas ela não se adaptou a Paris, gostava de fazer
novelas, voltou para lá, o abandonando com seu pai.
O único com quem ele mantinha contato era
com seu avô brasileiro, na verdade um emigrante que escapou do gueto de
Varsóvia, durante a guerra, mas se negou a ficar na Palestina, aonde conseguiu
chegar, sabia que logo ali teria muitas guerras, na primeira oportunidade, se
mandou para o Brasil, tinha conversado muito com um emigrante judeu de lá, se
trabalhas muito ficarás rico.
Foi o que ele fez, foi trabalhar com outro
judeu no Saara, no centro da cidade, se casou com a filha deste uma solteirona,
só tiveram uma filha, minha mãe, que foi mal educada por sua mãe, que sonhava
em ser atriz.
Era bonita, loira com os olhos azuis de seu
pai, com um bom corpo, logo começou a fazer teatro em vez de estudar como
sonhava ele, que tinha abandonado em Varsóvia a universidade. O velho era muito bom em matemática, então
para ele administrar o dinheiro do sogro foi fácil, logo fez fortuna, comprando,
vendendo apartamentos em Copacabana, Flamengo, aonde fizesse falta.
Tinha sido contra o casamento, disse muito
ao meu pai, ela é cabeça de vento, nunca leva nada a sério, era uma verdade,
primeiro se deslumbrou com a alta sociedade francesa, mas depois como meu pai
seria destinado a China, ficou sozinha durante sua gravidez.
Odiou, ela mesma me diria depois nos poucos
encontros que tivemos, segundo ela, não tinha nascido para ser mãe, tanto que
mal me pariu, meu pai voltou da China, me largou com ele, pediu o divórcio, se
mandou para o Brasil.
Voltou a fazer novelas como gostava, vivia
num apartamento do pai no Leblon, tinha de novo suas velhas amizades.
Uma das últimas vezes que a viu, foi quando
foi ao enterro do avô com seu pai, nem a reconheceram, tinha tantas cirurgias
de estética na cara, que estava irreconhecível.
O pior foi na leitura de testamento, o
velho na verdade não deixava nada para ela, tudo era para mim, quando fizesse
trinta anos, nunca entendi por que disso.
Ela entrou na justiça, mas não ganhou,
acabou indo viver no apartamento do velho no Leme.
Eu adorava ir passar as férias lá com ele,
meu pai me colocava num avião, ele ia me buscar no aeroporto, com o taxista que
o levava para todos os lugares, ao centro da cidade, para ver seus negócios,
controlava tudo com mão de ferro.
Quando chegou a uma idade que já não podia mais, eu tinha começado a
fazer teatro em Paris, ele não gostou, mas eu para seu sonho tinha feito
universidade ao mesmo tempo, tinha estudado Literatura, assim teria facilidade
em analisar os textos que iria trabalhar.
Ele me dizia na cara, que era a parte do
sangue ruim de sua mulher, de minha mãe, mantinha uma bela amizade com meu pai.
Eu tinha passado uma parte de minha
infância e juventude, indo de país em país, aonde meu pai ia a mando do
governo. Quando tinha uns 16 anos, foi
que ele parou, ficou trabalhando com um presidente que era amigo dele. Foram os anos mais estáveis na minha vida,
fui estudar num colégio bom, embora em todos os lugares, eu tivesse estudado
nos melhores colégios. O melhor é que falava várias línguas, japonês, inglês, dialetos
de aonde tinha passado, enfim, tinha facilidade, mas ele nunca me deixou
esquecer do português.
Meu avô, enquanto pode, as vezes vinha nos
visitar aonde estávamos, eu aproveitava, adorava o velho, embora não tivesse
sido criado ao seu lado.
Mas quando íamos ao Rio, fazia passeios
largos com ele, pelo calçadão de Copacabana, ele ia reclamando sempre da
sujeira, dizia que o povo brasileiro não aprendia, as vezes as misturas de
raças, não ajuda.
Houve um período que minha mãe esteve no
auge, fazia uma novela atrás da outra, ora como madame, outras em qualquer
papel que lhe passavam, teve vários relacionamentos, mas nunca mais se casou,
tampouco conheci ninguém dessa parte de sua vida, nunca falava a respeito, nos
rápidos encontro que tínhamos.
No fundo era uma bela estranha para mim.
Para pagar impostos, autorizei que se
vendesse o apartamento do Leblon, foi quando ela voltou a viver no apartamento
do pai. Um advogado de confiança do
velho, administrava tudo.
Eu não parava, ora fazia teatro, ou cinema,
mesmo filmes para a televisão, foi quando surgiram as famosas series, eu
gostava, pois filmava durante um tempo, depois tinha tempo livre para fazer
teatro.
A que fazia agora, já ia para a sua quinta
temporada, que estávamos acabando de filmar.
Meu agente se aproximou, me disse que a
tinham encontrado morta no apartamento, mais pelo cheiro, foi quando me contou
que ela tinha o síndrome de Diógenes, que o mesmo estava cheio de lixo que ela
trazia para casa, o estado era lastimável.
De qualquer maneira iam fazer uma autopsia,
assim me daria tempo de chegar para o enterro.
Me perguntou se queria que divulgasse para
os jornais a notícias.
Lhe disse que não, pois sabia como
funcionava isso, os urubus dos jornalistas, em cima da carniça.
Pedi que preparassem o mausoléu da família,
no cemitério do Caju, aonde havia uma parte para os judeus.
Lhe disse que acabaria de filmar duas
cenas, depois iria. Me daria tempo para
retornar a gravação.
Ele fez uma pergunta que na hora fiquei no
ar, quantos anos eu já tinha.
Nunca falava minha idade, ri, devo estar
como ela, escondendo a idade, disse que faria em breve 33 anos.
Temos então que ver o testamento de seu
avô, pois te tocava quando fizesse 30, mas como esses anos todos não vieste.
Era uma verdade, depois da morte de meu
pai, durante um tempo, estive enrolado com suas coisas, tinha morrido sem
testamento, o herdeiro era eu, mas algumas coisas, ele compartia com os irmãos,
foi complicado, pois esses tinham filhos, que também tinha direito.
Fiquei mesmo foi com o apartamento do velho
que valia muito, na Rue de Saint-Honoré, o que era bom, pois corria para fazer
exercícios no Jardim des Tuileries, mas nunca paravam quando alguém me
reconhecia, para pedir autógrafos, o bom era isso, os franceses não eram muito
dados a isso.
Falei com o diretor do problema, me
perguntou se eu podia fazer um tour de force, gravar todas as cenas em dois
dias, que me faltavam.
Disse que sem problemas, disse ao
Jean-Marcel, meu agente e advogado que providenciasse os bilhetes, pedi que
fosse comigo.
Ele até gostou, tinha acabado uma relação a
pouco tempo, que lhe tinha dado muita dor de cabeça, ele era meu amigo desde a
juventude, seu pai, também fazia a mesma coisa que o meu, assim nos encontramos
em muitos lugares do mundo.
Foi duro os dois dias seguintes, na verdade
nem me lembrava da cara original de minha mãe, tudo que me lembrava era a que
tinha quando a vi a última vez, cheia de retoques.
Sabia que não a chamavam para nada, pois
queria que fosse mãe de alguém, ou avô, se recusava fazer esse tipo de papel,
na sua cabeça, ainda podia fazer o papel de mocinha.
Quando, eu chamava, nunca atendia ao
telefone, tudo que sabia era através do advogado.
Esse claro era um senhor de idade, não
estava para o labor de a ficar vigiando.
Embarcamos em primeira classe, mal sentei,
nem vi o voo levantar, apaguei, estava cansado do tour de force que tinha
feito, para gravar os últimos capítulos, só me chamariam se fosse necessário
refazer alguma cena.
Assim quem sabe podia descansar um pouco,
resolver os problemas que iria ter pela frente.
Basicamente só despertei, quando acenderam
as luzes para o café da manhã, nem sabia aonde estava, por sorte vi a cara
conhecida de meu amigo.
Jean riu dizendo que eu tinha sido um
excelente companheiro de viagem, ele odiava voos largos, disse que quando o voo
saiu de cima da Africa, em pleno oceano, houve turbulências, nem assim
despertaste, quase me caguei nas calças, sabe que odeio isso.
Me desculpei, estava cansado, necessitava
dessas horas de sono.
Durante os últimos dias, as filmagens eram
de madrugada, um carro vinha me buscar, eu mal dizia bom dia para o motorista,
estava mergulhado em seguida no texto, odiava repetir cenas, embora as de
movimentos algumas vezes fossem necessárias.
A série acabava essa temporada como as
outras, em aberto, para sua continuidade, fazia um papel que gostava de um
inspetor de polícia, com um passado um tanto quanto errático.
Todo o tempo parecia ter uma doble vida,
mas isso nunca se esclarecia.
Esse ano, justamente não tinha aceitado
fazer uma peça de teatro, que era uma remontagem, que ele já tinha feito, mas
agora era no papel principal, riu pensando, já tenho idade para fazer esse tipo
de personagens, mas não tinha aceitado, pois quando lhe falaram, lhe veio na
memória o texto inteiro.
Ele tinha imaginado, sair de férias um
tempo, ir para a casa que tinha herdado de seu pai, perto de Sete, no
mediterrâneo, fazia tempo que só tinha quando muito uma semana ou duas de
férias, normalmente estava morto de cansaço, fazia um programa ridículo, praia,
sol, dormir, ou estudar algum texto.
Desceram do avião, passaram pelo controle,
afinal ele usava era um passaporte francês, nada de brasileiro. Fora estavam esperando o advogado, que se
via já muito velho, com o de sempre sorridente motorista de taxi.
Foi falando que os taxis do aeroporto não
eram de confiar.
O advogado falou, que o apartamento estava
uma merda, tivermos que contratar um caminhão de caçamba, para recolher todo o
lixo que esta lá dentro, alguns moveis tivemos que atirar fora, pois estavam
podres, com essas merdas em cima. Por
surpresa os dois únicos quartos que estavam lacrados era do pai dela, bem como
o seu, fechados a chave.
Fiz reserva num hotel perto, de frente para
a praia, mandei pintar o apartamento inteiro de branco, depois você decide.
Para quem foi famosa, morrer dessa maneira,
é trágico, nada foi falado aos jornais como você tinha pedido, afinal, isso
seria como uma carniça.
No dia do enterro, colocamos um anuncio no
jornal, dizendo a hora do enterro, com o caixão fechado, não creio que apareça
ninguém.
Segundo a autopsia, ela morreu de um
infarto massivo do coração, estava subnutrida, o grotesco, melhor de dizer,
pois verás as fotos, estava maquilada e vestida como se fosse entrar em cena,
mas com a morte, tudo se borrou, era horrível, tive que ir reconhecer o
cadáver, nada a ver com a moça bonita que conheci de jovem, quando comecei a
trabalhar para teu avô.
Na época me apaixonei por ela, que me disse
na cara que era um pé rapado.
Tive sorte em me casar com uma mulher
maravilhosa, nunca tivemos filhos.
Nisso seu Jose o motorista disse que sorte
ele tinha, tive quatro filhos, trabalhei como um burro para estudarem, nenhum
gostava, queriam ficar ricos como todos os brasileiros sem esforço, agora me
toca cuidar de um neto, esse sim gosta de estudar, deve ser os genes de seu
pai, que pelo visto era americano, mas minha filha nem sabia o nome do mesmo.
Os dois rapazes, um se misturou com os das
drogas, morreu num beco, o outro foi embora, disse que ia procurar ouro no
Amazonas, nunca mais soube dele, minha outra filha a caçula, a obriguei a
estudar na marra, hoje é professora, se casou vive em Deodoro, uma vez por mês
me chama, diz que o dinheiro que ganha não dá, tiveste sorte.
De repente se fez um silencio fantástico,
estavam passando os tuneis Rebouças, quando saíram do outro lado, a cara do
Jean era fantástica.
Soltou, entendo por que todo mundo se
apaixona por esta cidade.
Seu Zé tinha feito de proposito, como ele
dizia, para meu amigo ver um pouco da cidade, fez uma parte da lagoa, depois
desceu para a orla da praia de Copacabana, era como fazer uma caminho
invertido, parou num hotel, já no final do Leme.
Era realmente perto da casa.
O advogado, perguntou se eu queria vê-la,
antes que fechassem o caixão.
Sinceramente não, rezarei o Kadish, como
fiz com meu avô e meu pai, tinha sido educado na religião do velho, mas se está
pior que da última vez que a vi, que parecia uma caricatura de si mesma,
prefiro não ver.
Imagino que queiram descansar?
Jean soltou, mas se esse sem vergonha veio
dormido o voo inteiro.
Comentei que tinha feito em dois dias,
todas as cenas que tinha que fazer do final da temporada, gravando de
madrugada, essas coisas.
Se o senhor esperar, tomo um banho, troco
de roupas, podemos ir ver o apartamento.
Seu Zé, se o senhor pode, mais tarde venha
buscar o meu amigo, é também meu advogado, dar um passeio com ele, essas coisas
de turista, Cristo, Pão de Açúcar, o senhor sabe.
Claro menino, deu um cartão com seu número
de celular.
Se não se importa vou trazer o meu neto,
afinal ele não conhece nada disso.
Claro que sim, sem problemas.
Se registraram no hotel, eram dois quartos
interligados, no último andar, de frente só o mar, de um lado o caminho que ia
contornando a montanha.
Jean, ia ficar descansando para o passeio
da tarde, ele foi com o advogado o senhor Oliveira, ver o apartamento.
Não havia mais porteiro no prédio, agora
contratam o pessoal da limpeza, ele sinalizou, uma das últimas compras de teu
avô, foi esse apartamento do térreo, está alugado, precisa sim de uma reforma,
isso ele nunca fazia, dizia que dava dor de cabeça.
Se o inquilino fizesse, ele descontava os
valores do aluguel.
Você não imagina, a quantidade de merdas
que tinha no apartamento, se não fosse uma vizinha reclamar do cheiro, ninguém
ia encontrá-la.
Uma lastima, essa é a verdade, foi educada,
imagina a oportunidade que teve em se casar com teu pai.
Bom segundo ele, ela nunca se adaptou a
viver lá, não era conhecida como aqui, queria o sucesso da televisão, lá na
época as telenovelas não existiam, depois segundo ele, ela nunca falou bem o
francês.
Menos mal que não perdeste o português.
Ele sempre fez questão que eu nunca
esquecesse disso.
Fiz inclusive um filme que fazia o papel de
um emigrante português, claro que tive que aprender o sotaque de Portugal.
Desceram no hall dos apartamentos, o deles
era de frente, apesar da limpeza, se sentia o cheiro, olha que a senhora que
trabalhava para teu avô, veio com umas quantas mulheres, limparam tudo, disse
que havia que deixar as janelas abertas.
Foi o que fizeram foram abrindo tudo.
Tocaram o timbre, era a vizinha dos fundos,
a que tinha denunciado o cheiro, lhe deu os pêsames, o conhecia quando vinha
ver seu avô nas férias.
Vi teu último filme, passou num canal
desses de pago, estas irreconhecível.
Explicou para ela, que por causa dessa
última série, ele usava barba, tinha gostado, ficava é claro com a cara mais de
velho, porque apareciam os primeiros cabelos brancos.
Mas seu pai dizia que tinha cabelos brancos
muito cedo.
Ele tinha errado, em breve faria 35 anos,
se tinham passado 5 anos do tempo pedido por seu avô, mas como ele disse ao Oliveira,
nunca precisei de dinheiro, ganho bem, tenho a herança do meu pai, toda em
investimentos, nunca se sabe o dia de amanhã.
Quanto tempo ficas, perguntou o Oliveira.
Só me chamaram se tenho que refazer alguma
cena, mas pelo visto começaremos a gravar a última temporada, dentro de uns
três meses.
Bom então temos tempo de resolver tudo, pois
tens muitas coisas de teu avô para ti.
Nem quero imaginar.
Fiquei com pena do seu Zé, com essa
história dos filhos.
Pois é, no Brasil é assim, os filhos são de
uma época que todos colocaram na cabeça ficarem ricos ou com a loteria, ou
fazendo merdas, na cabeça desses rapazes só tem em mente isso.
Que raro, eu comecei a fazer o meu primeiro
filme, ainda estava na universidade, depois nunca parei de trabalhar. Quando meu pai foi para o Sri Lanka, era sua
última embaixada, pensei em ir, mas justo, me contrataram para um filme que foi
um dos melhores que fiz.
Tive que esperar seu caixão para enterra-lo,
menos mal que como ele era da embaixada, fizeram tudo, agora isso seu Oliveira,
estou sozinho no mundo.
Não tinha falado nada demais, o seu
Oliveira disse que ia para o escritório depois de comerem num restaurante ali
perto.
Quando o seu Zé veio para irem de passeio,
resolveu ir junto, se matou de rir, quando o neto dele, um mulato sarará, se
via que tinha muito mais sangue branco que negro, pois não tinha o típico nariz
achatado, só os cabelos crespos amarelos, era tão alto quanto o avô isso que
ele só tem 14 anos, se chamava Mario.
Riu muito, porque ele disse que tinha visto
um dos seus últimos filmes, teu avô estava sempre mostrando alguma revista que
saias, eu era criança, guardei tua cara.
Teve que explicar ao Jean que cara era
rosto.
Ah, ele não fala português, ficaram
surpreso dele começar a falar imediatamente em francês, pedindo para corrigi-lo
se falava errado.
Desde que estou na escola, escolhi aprender
inglês e francês, essa é mais fácil, pois tem algumas palavras que se entende
melhor. Procuro ver todos os filmes
franceses, tiro a legenda, tento entender.
Foi falando de uma série de
artista que ele gostava, o cinema francês e diferente do americano, esses
parecem que estão mais preocupados em fazer rir ou chorar, do que contar uma
história com substância.
Jean ria, fazia muito tempo que não via o
amigo assim relaxado rindo.
Quando chegaram ao Cristo, quem tomou a
dianteira com o Jean, foi o Mario, ele subiu devagar com seu Zé, esse não
queria entrar para não ter que pagar, mas Jean já tinha comprado a entrada de
todos.
Apesar de nunca ter ido o Mario ia
mostrando o Rio de Janeiro, desde a zona norte, explicando cada coisa ao Jean,
esse ria muito da maneira como ele falava, num momento, mostrou a Mangueira,
vivemos lá perto, é complicado as vezes, nas aulas da escola aonde vou, vão
muitos garotos de lá, sonham em ser jogador de futebol, eu não gosto, quero
estudar, ser alguém na vida.
Jean o escutava muito sério, contou que a
pouco tempo tinham roubado o carro do avô, imagine nessa idade ele ter que
comprar outro de segunda mão, porque senão como vai trabalhar, verdade meu
velho.
Falava isso fazendo um carinho nas mãos do
avô.
Foi difícil, mas o seu Oliveira foi meu
fiador, quem vai querer vender uma carro, mesmo de segunda mão a uma pessoa na
minha idade. Mas como sempre estou o
levando de um lado para outro, como fazia com teu avô, me ajudou muito.
Queria pagar por fora para meu neto ir a
escola de línguas, ele adora ler, mas livro só se for da biblioteca.
A cara de Jean era ótima, se virou para ele
dizendo, tivemos sorte verdade Pierre, fomos as melhores escolas de Paris, mas
tivemos os mesmo problemas que tens, muita gente só quer viver a vida, nos dois
queríamos mais, nossos pais tinham um trabalho bom, no governo, até os 15 a 16
anos, vivemos pelo mundo, o que nos facilitou aprender línguas, algumas vezes
coincidíamos em algum pais, reatávamos nossa amizade, íamos a escola juntos.
Pierre sempre ia lá em casa, minha mãe
ainda era viva nessa época, reclamava sempre dessas mudanças, mas meu pai como
o dele, estavam no seu mundo, tinham estudado para isso.
Em que trabalhas Jean, lhe perguntou Mario,
fazes cinema também?
Nem pensar, o bonitão é só ele, nas escolas
que passamos, ele sempre estava no grupo de teatro, mas o meu era outro
caminho, fui estudar direito, bem como literatura.
Hoje cuido dos contratos dele, das suas
contas, é um desastre, mas é meu amigo, sempre que precisei dele estava aí,
quando morreu minha mãe, meu pai estava com o seu em outro pais, teve que
voltar correndo, mas ele estava ali ao meu lado, para me ajudar.
Claro depois foi a vez dele, quando seu pai
morreu no Sri Lanka, meu pai coordenou que repatriassem seu corpo.
Temos uma coisa em comum, descendemos de
judeus, erámos os únicos da escola que uma parte do dia íamos a sinagoga, até
que desistimos.
Aprendemos sim a rezar o Kadish juntos,
pois nos toca rezar pelos nossos mortos.
Seu pai então é vivo, lhe perguntou seu Zé.
Sim, mas está aposentado, voltei a viver
com ele, quando meu marido morreu, mais uma vez meu amigo esteve ao meu lado.
Estiveste casado então?
Sim, com outro companheiro de muitos anos,
o escritório de advogados era dos dois.
Mario estava prestando a atenção em tudo,
ao final perguntou quantos anos eles tinham estado juntos.
Desde meu 18 anos, Pierre sempre nos
aceitou, era nosso padrinho em tudo. Quando começou a trabalhar firme no cinema
e no teatro, passamos a cuidar de seu contrato, de seu dinheiro.
Mario, muito curioso perguntou como
funcionava isso, Jean foi andando com ele na frente contando como funcionava os
contratos, seja para atores, escritores, muita gente trabalha assim.
Seu Zé mais atrás ia conversando sobre o
Jean, bom amigo tens.
O senhor imagina, ele perdeu quase em
seguida a sua mãe, o amor de sua vida, seu amigo e companheiro, estavam os dois
conversando, quando o outro caiu para a frente morto, um enfarte fulminante.
Eu estava na Bretanha filmando, me chamou
comocionado, avisei o diretor, dei no pé, peguei o primeiro trem, para Paris, aliás
o senhor iria bem lá, pois eu detesto conduzir, normalmente quando me levam,
tudo bem, mas senão vou de trem a todos os lugares.
Tenho uma casa na praia no sul, então, vou
de trem, se ele vai junto vamos de carro.
Seu problema é seu pai, acostumado a que o
levem a todos os lugares, agora deixou uma senhora com ele, sempre trabalhou na
família, mas claro não sabe conduzir.
Quando desceram o Jean ia falando com o
Mario, sobre a Sorbonne aonde tinha estudado, eu vivo relativamente perto, já o
Pierre tinha que vir de ônibus ou metro.
No dia seguinte seu Zé veio busca-los para
ir ao centro da cidade, soltou logo que entraram no carro, o Mario não parava
de falar em vocês dois.
Disse que tinha inveja, nunca teve um amigo
assim.
Acho que eu falo muito na cabeça dele,
tenho medo do que aconteceu com meu filho mais velhos, caiu na drogas, não
quero que se repita.
Sua mãe nem temos ideia de aonde está
quando era pequeno ainda aparecia, um dia por causa da escola, precisava de
documentos, não tinha nenhum só uma certidão de nascimento, falei com ela,
fiquei como pai adotivo dele, assim posso resolver tudo para ele.
Seu Zé falava um francês macarrônico, mas
Jean, prestava atenção.
Seu Oliveira, os recebeu, perguntou do
passeio do dia anterior, Jean disse que tinha gostado muito, tivemos um guia
para ninguém botar defeito.
Quando ele começou a ler a lista de
propriedades, Pierre ficou de boca aberta, tudo isso está alugado foi ele
dizendo, o único que se vendeu, por culpa da tua mãe, foi o apartamento do
Leblon, valia uma fortuna, em primeira linha de praia.
As lojas todas do Saara, ele foi comprando
dos amigos que a vendiam, se queres vender, há interesse nelas, posso te
levantar um valor para isso.
Depois falou dos apartamentos, um outro ali
no Leme mesmo, menor, mas muito bom, acabo de mandar reformá-lo, pois o ultimo
inquilino deixou tudo destroçado.
Mais duas lojas em Copacabana, essas alugadas
ao mesmo homem, tem interesse em compra-las.
Depois falou de dinheiro aplicado, lhe
entregou um envelope, com duas chaves dentro, temos que ir ao banco, além desse
dinheiro que está lá, tem essas duas caixas, a última vez que fui com ele, numa
sei que tem os documentos desses locais, no caso precisamos para vender.
No outro ele fazia um grande mistério, não
tenho ideia do que contém, ele só dizia que era mais seguro que ter dinheiro
fora do Brasil, uma vez consultou seu pai a respeito.
Ele nunca me disse nada, é verdade que
quando vinha, queria aproveitar, o senhor sabe adorava andar com ele pelo
calçadão, assim ele saia de casa, ia reclamando o tempo todo da sujeira, de
como estava a conservação, essas coisas.
Vamos até lá, depois podemos almoçar na
Colombo, creio que o Jean vai gostar.
É verdade, fui muitas vezes com ele lá, mas
reclamava dizendo que a maioria dos seus amigos já tinha morrido.
É uma verdade dolorosa, eu atualmente passo
por isso.
Chamou um rapaz, os apresentou, se
telefonas, não estou, podes falar com o Viriato, é meu braço direito, é como
meu filho.
Quando saíram, foi contando que o Viriato
era filho de uma senhora que foi secretária dele, quando o pai morreu, eu sem
filhos, conversei com minha mulher o adotei, assim ele pode estudar, seguir em
frente.
Jean ia prestando muita atenção nisso.
Realmente uma das caixas, continha os
documentos das propriedades, inclusive de algumas já vendidas. Mas na outra uma surpresa, era menor, mas
estava cheia de saquinhos de diamantes, agora entendia, seu pai, sempre trazia
um para o velho.
Se lembrou como ele fazia, misturava com
pulseiras, relógios, até mesmo cordão de ouro que usava, com uma estrela de
David, assim não me roubam no Rio lhe dizia.
Nunca tinha entendido, agora o mistério
estava ali.
Cada um tinha o valor da época dos
diamantes, soltou um assobio, era impressionante, daria inclusive para produzir
um filme que ele queria fazer a muito tempo, só com dois deles.
Entregou os documentos para seu Oliveira,
para que pudesse negociar a venda dos locais, não valia a pena ter propriedades
no Brasil, se ele nunca tinha pensado em voltar.
Iria olhar esse outro apartamento menor,
como dizia seu Oliveira, o manteria para quando viesse, mas o outro iria
vender, devia valer um bom dinheiro.
Nesse dia saia uma necrológica, falando da
morte da mãe, usavam seu nome de artista, segundo seu Oliveira o telefone não
parou.
Queriam entrevistar o Pierre, mas ele disse
que nem pensar.
Fizeram uma cerimônia no próprio cemitério,
uma repórter perguntou por que um caixa de cedro, teve que explicar que ela era
judia.
Havia alguns atores que tinham trabalhado
com ela no passado, mas não muita gente.
Uma que era da televisão, sabia que ele era
ator na França, perguntou se ele podia dar entrevista, se pensava ficar morando
lá.
Não, sempre vivi em Paris, não penso em
voltar, só estou aqui para o enterro, resolvendo coisas de família, tenho
trabalho lá.
Realmente não lhe interessava esse tipo de
coisa, Jean as vezes discutia com ele sobre isso, fazia as reportagens dos
lançamentos do filme que tivesse feito, mais nada, nunca dava entrevistas para
revistas nada disso, sua vida era dele.
Sabia que sua mãe era tudo ao contrário, só
faltava contar a cor do peido que tinha dado.
Odiava isso, alguns conhecidos dele, faziam
isso, participavam de todos os programas possíveis, diziam que ele não fazia,
porque normalmente fazia o papel principal.
Na verdade ele escolhia os papeis que
fazia, esse agora, ele tinha escolhido o segundo papel da série, segundo dizia,
dava mais samba que o primeiro, tanto que trocaram o artista principal, ninguém
reparou.
Fizeram a cerimonia simples, ele rezou o
Kadish, depois foram embora, Mario para surpresa dele foi com seu avô, viu que
Jean explicava a reza para ele.
Era um garoto interessante, o que o
surpreendia era o Jean. Esse sempre
tinha reclamado do seu relacionamento, pois queria adotar alguma criança, mas
seu companheiro nem pensar, tinha uma família complicada, que deu muito
trabalho depois para o Jean, menos mal que os dois tinham um testamento, se um
morresse antes, o outro herdava tudo que tinham em conjunto, mesmo assim lhe
encheram o saco.
Seu Oliveira, perguntou ao seu Zé se tinha
alguma coisa para fazer, como esse disse que não, pediu que os levasse a um
restaurante na Barra, assim nos relaxamos olhando o mar.
Mario foi explicando todo o caminho ao
Jean, disse que assim usava o que tinha aprendido na escola.
Seu Oliveira, num momento que os dois foram
andar um pouco pela orla, soltou, isso me faz lembrar de ti com teu pai, vocês
faziam muito isso quando ele vinha aqui.
É verdade, creio que a pessoa que mais
conversei na minha vida foi ele, pois esteve presente sempre. Só nos anos que fiquei em Paris, para
estudar, ir a Universidade, mas mesmo assim falávamos quase todos os dias, o
senhor sabe ele foi minha família, minha mãe para mim sempre foi uma bela
desconhecida.
Creio que os jornalistas esperavam que eu
fizesse uma cena dramática, uma hora pensei nisso, quase solto uma gargalhada.
Fiz um filme, em que a viúva fazia isso,
olhava ali em volta, todos odiavam seu marido, mas estavam até chorando, as
famosas lagrimas de crocodilo, como se diz aqui, de repente, pois só ela e o
diretor sabiam, soltou uma gargalhada, o artista que fazia o papel de padre,
ficou horrorizado, mas era essa a intenção, odiavam o defunto, mas estavam ali,
compungidos.
É a mesma coisa, não me lembro nunca de um
gesto de carinho dela comigo, ao contrário, como já disse para o senhor, se a
tivesse encontrado na rua, passaria por ela, com a máscara que ficou.
Esse foi seu grande problema, não aceitou a
idade.
Eu daqui um tempo também estarei fazendo
papel de pai, nos filmes, na série faço um papel de um homem mais velho do que
eu, mas claro quando deixei a barba crescer, vi que a metade estava branca,
então fazem mechas no meu cabelo, para parecer que os tenho com fios brancos.
Mostrou uma foto, seu Zé riu, ficas
parecido com teu pai da última vez que estiveram aqui, só que ele nunca usou
barba.
É verdade, dizia que fazer a barba logo de
manhã para ele fazia parte da higiene.
Mesmo quando íamos para a casa da Praia, fazia
a mesma todos os dias.
Riu muito quando os dois voltaram do
passeio, Mario crivava o Jean, sobre o que ele tinha aprendido no seu curso de
literatura, lastima que não lês em português, senão ia te trazer alguns contos
que escrevi.
Seu Zé, comentou isso, ele quando não está
lendo, está escrevendo, nada como esses outros garotos, que vivem com um
celular na mão, aliás ele nem tem, ou um desses jogos. Sonha sim ter um laptop, para escrever.
A cara do Jean era ótima.
Sem que ninguém esperasse, tinha passado
toda a comida, com a cabeça, baixa, Pierre pensou esta ruminando alguma coisa,
sempre fazia isso.
Se virou para o seu Zé, lhe disse, porque o
senhor não vem comigo, com o Mario para Paris, eu sempre quis ser pai, tenho a
sensação de que ele seria o filho que sempre sonhei.
Seu Zé não entendeu, ele teve que explicar
melhor, a cara do Mario era interessante, o senhor sabe que sou gay, se o fosse
adotar aqui, ninguém deixaria.
Mas se o senhor vem junto, até seria
interessante, podia fazer companhia ao meu pai, move-lo de carro pela cidade,
se consegue conduzir nesse tráfico, será fácil em Paris.
Ele tem um mercedes desses grandes, que
usou durante anos, quando se aposentou, comprou do governo, por uma bagatela.
O senhor converse com o Mario, eu adoraria
ajudar, só tenho meu pai como família, além é claro do Pierre, que é meu melhor
amigo. Ele pode dar referencias da
minha família e de mim.
Mario o olhava entre assustado,
curioso. Pediu para falar, se eu te
contei meus sonhos, não foi pensando nisso.
Eu sei, lhe respondeu, mas estive aqui
pensando, numa coisa que seu Oliveira vez, adotou o Viriato, para ele poder ser
seu braço direito, bem como estudar, fazer universidade.
Lá poderias ir a Sorbonne, isso meu pai, ia
conseguir para ti direto. Ia adorar te
ter como neto, pois sempre sonhou com um, sou filho único, ele quando soube que
eu era gay, demorou a aceitar por isso, queria netos.
Seu Zé o senhor poderia me ajudar com ele,
na verdade não está tão velho, o que sente é estar sozinho, sem gente da mesma
idade para conversar.
Mas meu francês é macarrônico.
Ora meu português também, mas consigo me
entender com o senhor.
Voltaram em silencio, seu Oliveira, disse
que iria falar com os inquilinos, lhe deu a chave do outro apartamento.
Saíram os dois andando como ele fazia com
seu avô pelo calçadão, conhecia o Jean suficiente para saber que era uma pessoa
ruminante, gostava de pensar, repensar nas coisas, tinha estranhado o rompante
dele.
Esse menino merece uma oportunidade, aqui
nunca vai conseguir realizar seus sonhos, eu sempre sonhei em ter um filho, por
que não?
Ele concordou, sou sincero que pensei
igual, mas com a vida que levo, seria complicado, nessa série a maioria dos
dias, saio de madrugada de casa, as vezes tenho que filmar de noite, seria
impossível se tivesse uma família, tenho companheiros que reclamam a bessa, mas
sabes que quando firma os contratos, a maioria deles, esta pensando no dinheiro
que vai ganhar, não o trabalho que vai dar conseguir o mesmo.
Me nego a escutar, o diretor disse que sou
o único que nunca reclama de nada.
Por isso nunca passei de uma simples
aventura, sou sincero de dizer que quando estou na casa da praia, sinto falta
de alguém comigo, dou graças a deus quando apareces.
Te dou a maior força. Quando voltaram,
foram olhar o apartamento, era realmente menor, não era o último andar, mas
tinha uma bela vista da praia, dois quartos, com banheiro, um bom salão, bem
como cozinha, o Jean achava interessante as áreas de serviço, explicou que
antigamente as famílias tinha empregados que ficavam.
Na casa dos meus avôs na Bretanha tinha,
mas era afastada da casa central, creio que só a governante ficava dentro da
casa.
Mal chegaram ao hotel, seu Zé ligou,
perguntou se no dia seguinte poderia falar com ele, estava conversando com seu
neto agora, assim falaria no dia seguinte conosco.
Ele riu, parece que conseguiste uma
família, esse menino merece, imaginou como tinha mostrado lá do Cristo, aonde
viviam, quase pegados a Mangueira, não tinha nada contra, inclusive as senhoras
que sempre tinham cuidado de seu avô eram ali da favela atrás do Leme, o Chapéu
Mangueira.
No dia seguinte, seu Zé apareceu com o seu
Oliveira, claro tinha pedido apoio de um conhecido.
Tinha medo de arriscar, afinal já era
velho. Pago todo tempo para ter direito
a uma aposentadoria.
Se for o caso lhe disse Pierre, como tenho
dinheiro aqui, seguiria pagando para o senhor, o Jean, lhe pode conseguir um
visto de trabalho lá, assim o senhor pode conduzir o carro do seu pai, o
levando para todos os lados.
Se não der certo seu Zé de qualquer maneira
o senhor pode ficar na minha casa também que é grande, o senhor sempre cuidou
do meu avô, lá inclusive teria um seguro médico por trabalhar, com direito a
hospital essas coisas.
Seu Oliveira ajudou, aqui não tens nada a
perder, teus filhos desapareceram, inclusive a mãe dele, menos mal que o
adotaste, assim sem problemas para ir.
Ok, ele chegou a chorar, imagina avô, me
disse, poderia estudar na Sorbonne, teve que me explicar o que era, aqui nunca
poderia fazer isso.
Jean pediu para sair com seu Zé, foram os
dois de braços dados conversando.
Voltou horas depois, depois que ele tivesse
negociado tudo com seu Oliveira, só um dos que alugavam loja, não estava
interessado em comprar, mas um outro sim, compraria, deixaria o outro usar,
pagando aluguel.
O duro que esses alugueis são velhos,
pagavam uma micharia para teu avô, ele não me deixava aumentar.
Vou colocar mão a obras nisso, resolveste
sobre os apartamentos.
Eu fico com o que o senhor reformou, pode
colocar esse aonde vivia minha mãe a venda, não me interessa, é grande demais.
Manterei o outro só para vir de vez em
quando.
Ah, numa das bolsas de diamantes, tinha um
cartão de quem vendeu, vou telefonar e perguntar, como posso levar a maioria
comigo.
Aproveitou que depois ficou sozinho, para
ligar para o diretor da série, que estava numa edição. Este disse que até agora
sem problemas.
Disse que necessitava ficar mais dias,
muitos problemas de família para resolver, qualquer coisa me chame, pego um voo
noturno, de manhã estou ali.
Seu Oliveira, ainda comentou com ele, que
sua mãe nos últimos anos, vinha vendendo as joias que tinha, para se sustentar,
mas em que eu não sei.
Quando Jean chegou, vinha com um sorriso na
cara, bendita hora que me convidaste a vir contigo. Estou super feliz, se eles vierem bem, senão
de qualquer maneira o ajudarei.
O Seu Zé me levou até aonde vivem, depois
os três fomos comprar um laptop para ele, o garoto é sensacional, podia ter ido
atrás de um, me levou a uma loja que vende de segunda mão, disse que para o que
queria, servia.
Ah mandou esse texto para que você lesse e
traduzisse para mim.
Depois do jantar, ele foi lendo ao mesmo
tempo traduzindo para o Jean.
Era um trabalho da escola, o texto era
sobre o amanhã, tinha que escrever como imaginava que seria seu amanhã.
Ele falava dos seus sonhos, escrevia com
uma letra clara, fácil de ler, que via os colegas de classe de desviando,
alguns já estavam metidos nas drogas, mas ele sonhava em um dia ser escritor,
escrever e ler, o tinham salvado de se misturar com quem não devia como dizia o
seu avô.
Para quem tem uma família, como a minha,
não sei quem é meu pai, minha mãe desapareceu a muito tempo, meu tio mais velho
morreu nas drogas, o outro, desapareceu indo procurar ouro na Amazonia, a única
que anda por perto é minha tia, a pequena da família, se casou, tem quatro
filhos, dá um duro desgraçado para os tocar para frente.
Não quero nada disso, quero ser escritor.
Quando acabou, olhou a cara do Jean, que
chorava.
Estou certo, passou a mão no telefone,
falou com seu pai, que quando voltasse iria levar um neto para ele.
Contou mais ou menos a história, o velho
lhe deu força, inclusive ia procurar saber quem o podia ajudar no consulado da
França no Rio de Janeiro.
Sei por minha intuição pelo jeito que é o
seu Zé, que os dois vão se dar bem, devem ter mais ou menos a mesma idade.
Meses depois já em Paris, as coisas tinham
engrenado, até o pai do Jean, falava algumas palavras em português, sai todos
os dias com Seu Zé para irem tomar café nos lugares que ele gostava, os dois
conversavam horrores.
Mario estava estudando numa escola
especial, tinha recuperado as matérias que eram diferentes, se encaminhava para
a universidade.
Seu amigo, estava feliz, tu sabes que
depois da morte do meu marido, pensei mil vezes em me suicidar, mas tinha meu
pai que precisava de mim. Só conseguia
ver tudo escuro.
Ele tinha acabado de gravar a série, a
mesma ia receber um prêmio, enfim pode retirar a barba, ficava mais jovem.
No verão foram todos para sua casa de
praia, Jean vivia falando que ele precisava alguém, foi honesto nunca me
interessei por ninguém a não ser para uma simples aventura.
Nunca te disse, mas na época que te
apaixonaste, eu também te queria, mas sabia que era melhor ser teu amigo.
Os papos dos dois eram
impressionantes. Iria filmar agora na
Alemanha, estava estudando o texto, com um professor, não queria ser dublado.
O dia de amanhã, só deus sabe.
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