MARECHAL
Tinha acabado a cerimônia do enterro de seu
pai, Jean-Paul Marechal, quando criança não entendia a brincadeira dos outros
garotos com respeito ao seu sobrenome, Marechal.
Na verdade seu pai tinha sido um Capitão do
exército francês no Senegal.
Quando Senegal de independizou da França,
seu pai ainda ficou um tempo, porque todo seu batalhão era formado de homens
negros que o respeitavam.
O velho podia ser considerado de direita,
mas a verdade era que nunca tinha tido preconceito de cor, ele amava o Senegal.
Minha mãe era de uma aldeia de lá, a viu,
se apaixonou loucamente por ela, os seus superiores disseram que não, mas ele
casou com ela, não só na igreja católica, bem como pelo ritual de seus
ancestrais.
Quase em seguida um do outro, nascemos eu e
meu irmão, a diferença nem chegava a dois anos, o velho como o chamávamos
atualmente, era muito amigo de um dos homens da tribo, Bobou, um velho pai de
santo de lá, os dois podiam ficar falando horas, mas no dialeto local.
Chegou o momento que deveria ir embora,
tinha que se reincorporar na França, foi a contra gosto, nos arrastando com
ele.
Teve um embate colossal com sua família,
com a qual nunca mais voltou a se relacionar, tudo por causa de minha mãe, de
nós dois, somos mulatos, café com leite como diz muita gente, mas com os olhos
dele, azuis, cabelos muito crespos, meu irmão Jean-Paul os tem loiros, eu
negros como de minha mãe.
Acabamos por isso, indo morar no sul, em
Sete, ele conseguiu uma casa imensa na praia, perto da cidade, minha mãe
adorava, andar descalça pela praia, as vezes escandalizava as mulheres, pois
colocava um maio velho, nadava como uma louca, nos ensinou a nadar desde
crianças, meu pai não, tinha horror a água, se quisesse andar na água, tinha
sido marinheiro dizia.
A cada dois anos íamos a Dakar, ele tinha
que economizar dinheiro, para poder ir levando a família, senão, íamos só os
três.
Numa dessas viagens, houve um atentado, num
velho ônibus, que íamos para a aldeia, minha mãe morreu.
Ele veio como um louco, conseguiu liberar
seu corpo, levar para a aldeia de aonde tinha saído, bem como agora tinha
pedido que suas cinzas fossem levadas para junto dela.
Nunca mais se ouvi dizer que tivesse uma
aventura, ou um romance, se fechou para o mundo nesse sentido, ela tinha sido o
amor de sua vida.
Acabou saindo do exército, entrou para a
polícia, não ganhava bem, mas se fazia respeitar, afinal tinha 1,90 de altura,
muito magro, embora comesse como um leão, dizia ele.
Os dois, chegamos a dois metros de altura,
mas magros como ele, dizia assim podíamos nos desviar das balas.
Jean-Paul ao contrário de mim, que desde
criança queria ser policial, foi ser professor, na primeira oportunidade, se
mandou para Saint-Louis, virou professor numa escola de crianças pobres, a
maioria ia a escola sem sapatos, ele se apanhava, meu pai, lhe mandava
dinheiro, eu também.
Logo fui para Paris, para a École de
Police, segundo os professores era um dos melhores alunos, claro alguns tinham
preconceito de cor. Mas sai de lá,
depois de um bom tempo para trabalhar na Préfecture de Police, alguns diziam
que era por causa do meu sobrenome, mas eu na verdade não conhecia ninguém da
família de meu pai, era uma criança quando chegamos, sei que nos repudiaram,
mas daí a conhecer essa gente nem pensar.
Tive sorte, de perseguir ladrões de carro,
logo subi para Inspetor, diziam que eu era um bam-bam-bam. Mas era bom no que
fazia.
Vivia sim longe, tinha que sair muito cedo
de casa, um dia atendi um casal de senhores que viviam em cima do restaurante Le
Lutétia, num terceiro sem elevador, fui atender uma reclamação, de um sujeito
que tinha alugado um apartamento ao lado que pertencia a eles, mas não pagava o
aluguel, o sujeito quando me viu desapareceu.
Olhei o apartamento, era jeitoso, pequeno, era
uma parte do apartamento dos senhores, que tinha feito essa divisão para ali
viver sua filha, mas está se casou com um professor americano, foi embora.
Me alugaram o apartamento, por um bom
preço, eu que não tinha carro, podia ir andando para o trabalho, com os anos, a
senhora Marie, me telefonava, me pedia alguma coisa do supermercado, eu levava,
sabia o quanto era difícil para eles, subirem, descerem as escadarias. O pessoal do edifício brigava por isso, só
concordaram quando os que viviam no primeiro ficaram velhos, se tornou
complicado para os mesmos, na verdade eu era a pessoa mais jovem dali.
Um dia os velhos, me pediram um favor,
precisavam ir ao médico, eu tirei o dia de folga os acompanhei, passei a fazer
isso sempre que fosse necessário.
Me diziam que eu era o neto que eles
gostariam de ter, na verdade não tinham nenhum, sua filha tinha desaparecido na
América, tentei encontrar para eles, o tal professor, mudava de cidade, como
quem muda de camiseta.
Como tinha feito um trabalho em conjunto
com o FBI, me ajudaram, resulta que a mesma tinha morrido a muito tempo, eu não
sabia o que contar aos velhos.
Quando ele morreu, segui ajudando a senhora
Marie, a ela sim contei, ficou triste uns dias, mas se virou para mim, dizendo,
faz tanto tempo, que se não vejo as fotos dela quando jovem, nem me lembro de
sua cara, quando quero pensar num parente, tudo que vejo é a ti.
Quando ela morreu, me deixou o apartamento,
mas fiz uma coisa, alugava o mesmo, como estava para algum professor, ou uma
família pequena. Segui vivendo no de
sempre, era perfeito para mim.
Meus relacionamentos não duravam muito
tempo, pois com minha vida, tinha visto como passavam meus companheiros, alguns
tinham filhos, viviam na corda bamba como diziam, moravam em bairros afastado
dali, aonde sempre era um problema manter uma família.
Nos bairros mais próximos, nem pensar, não
podiam pagar seu aluguel com seus salários manter a família, os mandar a
escola.
Os que eram solteiros sim, alugavam
quartos, ou um pequeno studio no último andar de algum edifício, studios que
anteriormente tinham vivido os empregados dos grandes apartamentos debaixo.
Para fazer a cerimônia do enterro do meu
pai, tive que mandar um bilhete para meu irmão, pois claro com seu salário de
professor lá, era impossível, ele também tinha optado para não casar, imagine
como vou sustentar uma família, se gasto meu dinheiro comprando material
escolar para esses meninos.
Aproveitei com uma companheira, que era
secretária do chefão, fizemos uma coleta na Préfecture de polícia, ele foi
embora, o levei até o aeroporto, conseguimos passar as caixas todas, bem como a
urna que iam as cinzas de meu pai.
Já não poderia ir nas férias, porque com o
dinheiro economizado, tinha pago seu bilhete.
Ele levou todas as roupas que eu já nem
usava, duas malas de roupas.
Na verdade minha roupa durava muito, pois
tinha hábitos de higiene duros, os que me conheciam diziam que eu tinha mania,
nunca podia dormir na casa dos outros por isso, a primeira coisa, fazer a
barba, depois tomar banho, havia toda uma sequência, riam com isso, mas me
facilitava para me vestir rápido, ser o primeiro a chegar, poder escolher em
que trabalhar.
As vezes fazia acompanhamento para algum
fiscal, ou mesmo juiz da Conciergerie, tinha que reanalisar algum processo
desde o início, meus companheiros odiavam, pois sabiam que eu iam me meter em
camisas de onze varas, mas resolveria aonde estavam os erros, alguns tinha
recebido suborno para deixarem passar alguma coisa.
Foi quando tentaram me matar a primeira
vez, me salvei por pouco, vi um reflexo era um dia de sol vinha andando pela
rua, na hora que tiraram o revolver para fora do carro, me abaixei, como se
fosse, amarar os cordões do sapato, mas não podia fazer nada a rua estava
lotada de turistas, atiraram, mas romperam foi um vidro de um restaurante que a
estas horas estava vazio.
Mas consegui ver quem tinha sido.
Era um ex-policial que tinha sido expulso
do corpo, justamente por subornos, tinha duas famílias para sustentar.
Claro o que levava o caso era seu cunhado,
ficou numa situação difícil, se negava a colaborar, podia cair para o lado
dele, afinal me contou tudo na surdina, consegui as provas escondidas, ele não
tinha se desfeito delas, bem como consegui com o chefe, que ele fosse para uma
cidade do interior, sem ninguém saber aonde.
Depois iria me agradecer por ter salvado
sua vida.
O sujeito que ia ser processado foi preso
graças a estas provas, ao mesmo tempo, como eu estava assistindo o processo, se
levantou, ficou apontando para mim, com dois dedos, com um terceiro, fazia como
um gatilho.
Minha sorte era justamente viver perto, eram
basicamente dois quarteirões, eu saia sempre havia muita gente em frente a
Notre Dame, depois atravessava por uma lateral no meio do jardim, se viesse
alguém para atirar, eu podia pegar o sujeito ou assim pensava.
Tentaram de novo, desta vez levei um tiro
no ombro.
Sorte, claro, ali estava o Hotel-Dieu um
hospital, aonde eu levei durante muito tempo os meus velhos como chamavam a
senhora Marie, bem como o marido.
Então me conheciam, tinha tido um romance
discreto com um dos médicos, foi ele quem me atendeu, vives metido em problemas
sempre dizia, mas me tratou como sempre, no dia seguinte eu queria ir para
casa, me fez ficar mais dois dias no hospital.
Sem querer reatamos nosso romance, na época
é claro erámos jovens, agora mais maduros, ele inclusive foi falar comigo,
quando soube que meu pai tinha morrido em Sete.
A vida dá muitas voltas, de uma certa
maneira conseguíamos organizar nossas vidas, ele com seus turnos, eu com os
meus, as vezes conseguíamos conjugar os dias de folga, o primeiro sempre
passávamos na cama, nos explorando.
Ele era filho de uma família importante,
seu pai tinha vastas propriedades no sul, vivia enchendo o saco dele, para ir
para lá, pois só tinha duas filhas, solteironas, o que ele tinha de bonito,
tinha as irmãs de feias.
Um belo dia acabou indo, evidentemente, o
fato de vivermos juntos, pesou muito, pois tudo vira rotina.
Tempos depois, conheci um sujeito lindo,
seu pai era juiz, o conheci, indo justamente atender a um que tinha a sala ao
lado do de seu pai. Era um homem que
por sorte nunca tinha atendido, pois diziam que tinha muito mal humor.
Os dois estávamos sentados, esperando que
nos chamassem, ficamos conversando.
Ele quando soube que era polícia, riu,
soltou na minha cara, sempre tive problemas com ela.
Na hora não entendi, mas me chamaram para
entrar, atendi, fiquei pelo menos meia hora, escutando ao que tinha ido
atender, revendo com ele o processo, mostrando aonde estava o erro, era de dos
meus conhecidos da delegacia, levei o mesmo na minha pastas.
Quando sai, ele estava me esperando, me
convidou para um café, nos sentamos do outro lado da rua, ficamos conversando, era
um tipo agradável, eu disse que tinha que ir resolver um caso, trocamos o
número de celular.
Sem querer lhe disse mais ou menos a hora
que saia, me chamou, eu estava acabando de rever o processo com meu companheiro.
A coisa pintava mal, eles tinham entrado na
casa sem ordem de um juiz, mas conseguiu recuperar a fita que devia estar junto
com o processo, que era de alguém gritando socorro, a mulher que era a vítima.
Quando sai, ele me esperava, fomos comer
alguma coisa, depois o levei para minha casa, estava de pau duro a muito tempo.
Nos primeiros meses as coisas foram bem,
mas depois comecei a desconfiar, principalmente que as vezes vinha com os olhos
dilatados.
Justo nessa época, eu fui transferido para
trabalhar com o pessoal do Eliseu, tinha que ir para as embaixadas fora do
pais, quando tinha problemas.
Numa dessas, acabei ficando muito
tempo. Ele queria usar meu apartamento,
mas me neguei, disse que tinha prometido a um companheiro, foi embora como uma
criança mimada.
No dia seguinte antes de viajar, apareceu
colocadíssimo de drogas até a alma, o tive que levar para o hospital, mandei
avisarem seu pai. Voltei peguei minhas
coisas, fui para o aeroporto, fui parar na Martinica.
Eu adorei, trabalhava na central de
polícia, treinando novos inspetores, para atenderem os fiscais e juízes
franceses. Fui para treinar uma turma,
acabei ficando quase dois anos.
Mal voltei, meu chefe me avisou que havia
uma reclamação ao meu respeito.
Nem tinha ideia do que podia ser, me mandou
falar com o pai do rapaz.
Foi aí que soube que tinha se suicidado,
pois o mesmo o internou numa clínica. O
homem me acusava de ser eu que tivesse levado seu filho as drogas.
Eu lhe disse, que nunca tinha consumido
nada, que tirasse informação ao meus respeito, inclusive me gozavam pois eu
sequer bebia, como tampouco fumava, coisas do meu pai o velho Marechal. Que ele tirasse informações ao meu respeito,
com os outros juízes.
Mas ele fincou pé, que eu era o culpado.
Moveu uma ação contra mim, falei com um
fiscal que ajudava sempre, inclusive o mesmo queria ser juiz do caso, isso era
impossível, mas contratou um advogado muito bom.
Pior o sujeito era preconceituoso, se deu
mal, pois o juiz era um mulato.
Depois de escutar todas as asneiras,
chamaram meu chefe, esse leu minha ficha, um relato de todos os juízes com quem
eu tinha trabalhado, basicamente ele era o único que não.
Soltou sem querer, eu não ia querer um
negro no meu gabinete.
De simples se resolveu o processo, o
problema era ele, que não aceitava o filho gay, além de mimado pela mãe. Não sei como o fiscal, conseguiu que ela
viesse depor.
Ao contrário, o tempo que esteve como
senhor Marechal, ele deixou as drogas, só quando soube que ele iria trabalhar
fora do pais, que se desestabilizou, além das pressões do pai.
De como ele podia se relacionar com um
negro, quando o chamaram do hospital, ele em seguida o meteu numa clínica. O laudo médico, diz que se o senhor não o
tivesse levado imediatamente, com certeza teria morrido na rua.
Ele me dizia quando o ia visitar, que eu
devia ter deixado que morresse.
O juiz fulminava sua mulher, depois soube
que estavam em processo de divórcio.
Deu em nada, apenas fiquei conhecido como
um dos melhores inspetores da polícia, mas gay.
Mesmo assim o Eliseu me chamou para um novo
trabalho, em Madagascar, fui para o consulado de Antananarivo, dei graças a
deus sair de Paris, ali funcionava como segurança da embaixada, controlava todo
o fluxo tanto de informações, com os funcionários, alguns se vendiam por
qualquer favor.
Me dava muito bem com o um dos assessores
do embaixador, ficamos primeiros amigos, eu era o único que não vivia dentro da
residência da embaixada, o controle era imenso, eu gostava de certa liberdade. Consegui numa casa colonial que tinha sido
transformada em apartamentos, um como eu gostava, pequeno, próprio para uma
pessoa.
Ficava perto do Lago Masay, nas férias ia
para as praias de Moçambique, ou mesmo passar um tempo com meu irmão.
Este pela vida dura, estava mais velho do
que eu, sempre lhe mandava dinheiro, agora que tinha os dois apartamentos de
Paris, alugado, além de ganhar melhor, como um funcionário em funções no
estrangeiro.
Nesse tempo, meu relacionamento como
Marcel, foi ótimo, pois ele tinha seus problemas, vinha dormir comigo quando
podia, nenhum cobrava nada um do outro.
Mas claro, quando o embaixador voltou para
Paris, ele foi embora, o que veio, a principio tornou minha vida difícil, era
conhecido do juiz.
Mas com o tempo me fiz respeitar, um dia o
enfrentei, se ele tinha algum problema, era só pedir para me mandarem para
Paris.
Acabou fazendo, quando eu vi o que não
devia, ele misturado com gente pouco recomendável.
No dia seguinte recebi meus papeis, quando
cheguei o chefe dele me chamou, queria saber por que, fui honesto, esta
misturado com pessoas não recomendáveis, que querem licença do governo para
explorar madeira.
O idiota estava a beira da aposentadoria, o
aposentaram um mês depois, voltou para Paris com o rabo entre as pernas.
Eu agora era funcionário efetivo das
embaixadas e consulados, fui mandado para New Orleans, nos Estados Unidos,
adorei, me relacionei com pessoas da universidade, acompanhava o cônsul a todos
os eventos, gozava da confiança dele, me tinha escolhido, justamente por causa
do que tinha acontecido em Madagascar, eu trabalhei com esse filho da puta,
sempre fazendo negociatas por detrás do muro.
Fiquei dois anos lá, me inscrevi num curso
para melhorar o meu inglês, depois fui com ele para San Francisco, ele ia todos
os anos, passar o final de ano em Paris, eu não, não tinha nada para fazer lá,
nessa época algo arrasou com minha vida, um dia me procuraram no consulado, meu
irmão tinha sido assassinado por muçulmanos, pois não queria deixar que na sua
escola, obrigassem as crianças a estudar o Corão.
Foi uma porrada em toda regra, consegui uma
licença fui até lá, levei suas cinzas para junto de meus pais.
Mas voltei a Saint Louis, acabei
descobrindo o filho da puta que tinha mandado fazer isso, tinha usado um
garoto, que tinha lavado a cabeça, que meu irmão era maldito, essas besteira.
O esperei de noite, o peguei, o arrastei no
jeep que usava meu irmão, até o lugar que era o final do Rally Dakar, ali o
matei sem dó nem piedade. O Joguei ao
mar, depois voltei tranquilo a Dakar, peguei o avião com meu passaporte
consular, só passei por Paris, para resolver problemas de Banco, pois agora não
tinham que fazer remessa para ele, a escola tinha sido tomada por esses muçulmanos,
que obrigavam os garotos a ficarem horas lendo o Corão, depois tinham que pedir
dinheiro nas ruas para comer.
Tinha uma proposta de compra para o
apartamento grande, o vendi, coloquei o dinheiro no banco, para o dia que me
aposentasse.
Logo que cheguei, fui com o cônsul para o
de San Francisco, vamos para Sodoma, me disse ele, rindo, mas foi difícil
conseguir lugar para morar, ao contrário de New Orleans, San Francisco era uma
metrópole.
Um dos motorista que trabalhava comigo, me
levou para Oakland, para olhar casas ou apartamentos, mas claro teria que
enfrentar o trafico da ponte, depois fui a Sausalito, até que consegui um
apartamento relativamente perto do consulado, era um studio na verdade, mas
perfeito, minha mudança era simples, basicamente minha roupas, livros, nada
mais.
Eu nem cozinhava em casa, comia sempre na
rua.
Foi uma época tranquila, acabei ficando uns
cinco anos, tive muitas aventuras, essa é a verdade, mas não permitia que
ninguém ficasse muito tempo em minha vida.
Quando me dei conta estava na época para me
aposentar, o tempo passava voando, fui chamado a Paris, lá fui eu, esperando
que iriam me mandar para outro lugar.
Meu amigo cônsul estava agora na Finlândia. Como já sabia que não ia voltar a San
Francisco, vinha com minhas poucas coisas.
Lá fui eu para a embaixada em Helsinki, claro
falavam comigo em inglês, mas resolvi fazer um curso, a própria embaixada me
conseguiu um pequeno apartamento por perto, antes em Paris, tinham falado da
minha aposentadoria. Eu disse que
aguentava mais um pouco.
Era uma coisa real, eu nunca tinha me
preocupado com minha idade, me cuidava, fazia exercícios, todos os anos exames
médicos, meu pai tinha morrido com uma boa idade, pois quando nascemos, ele já
tinha quarenta ou mais anos.
Só minha mãe e meu irmão não tiveram sorte.
O duro para mim que tinha saído de uma
cidade que o inverno não pesa, lá a coisa era feia, eu dizia que está
finalmente branco.
Por sorte meu amigo, agora embaixador, iria
para Washington, mas desta vez, pensei muito, fui a Paris, depois fui a Sete
aonde tínhamos vivido. Com o dinheiro
que ganhei todos esses anos, o do apartamento de Paris, consegui uma casa,
quase ao lado de aonde tínhamos vivido.
Agradeci o convite de ir para Washington,
mas fui para o sul, um belo dia um homem da policia apareceu, me pediu para ir
falar com o chefe de Sete.
Fui pensando se tinha feito alguma coisa
errada. Esse homem tinha trabalhado com
meu pai, queria saber como eu andava, qualquer coisa que eu precisasse me
falasse, me convidou para no final de semana conhecer sua família, era seu
aniversário, iria alguns detetives e inspetores dali.
Ali conheci o homem que me acompanharia o
resto de minha vida. Achei estranho
quando me apresentaram, um negro, me disse que ao contrário do que podia pensar
com seu nome, ele era Argelino, seus pais tinham fugido de algum pais mais
abaixo, depois emigraram para Paris.
Vim parar aqui, por casualidade.
Ele vivia relativamente perto da minha
casa, aparecia, com a desculpa para me consultar de algo, já que seu chefe
tinha feito uma verdadeira propaganda ao meu respeito.
Lhe disse que o ajudava, mas por favor
estava fora disso.
Um final de semana trouxe seu filho, um
garoto impressionante, fazia muito tempo que não ria tanto. Ele depois quando o garoto dormia depois de
ter-se esbaldado na praia, que tinha sido uma tentativa dele, se afirmar como
heterossexual, mas não deu certo, ela foi embora, me deixando o garoto.
Virou o filho que nunca tive, como o Abe,
ou Abraham, trabalhava até tarde, ou tinha turnos, ele ficava lá em casa, dizia
que ali estava bem, um dia Abe, veio para busca-lo, chovia a mares, ficou para
dormir, foi um pulo para minha cama.
Vivemos juntos mais de dez anos, eu poderia
ser o avô de seu filho, mas me sinto como um pai, durante um tempo o levei a
escola, agora adolescente sente vergonha, mas traz seus amigos, alguns do
Senegal, pois falam de mim.
Diz para todos eles, que andei meio mundo,
sem querer eles viraram a família que não tinha.
Abe é muito mais jovem do que eu, mas nos
damos bem em tudo.
Os dias livres, se é verão curtimos praia,
um churrasco com peixe, ou com marisco, mas sempre com os amigos todos do seu
filho Jeremias, parecem que todos tem um buraco na barriga.
Resultou que o pai de um deles do Senegal,
tinha sido aluno do meu irmão, foi o homem que me botou para frente.
Claro eu me emocionava.
Fomos passar umas férias no Senegal, fui
até aonde estavam enterrados meus pais e meu irmão, fiquei furioso pois os muçulmanos,
tinha arrasado o mesmo por ser católico.
Finalmente pensei em vender o apartamento
de Paris, mas Jeremias, ia a universidade lá.
Ficou para ele, agora curto minha velhice,
ao lado do homem que descobri no final da vida, agora é o chefe de polícia, o
pessoal sabe que vivemos juntos, mas ele é tão sério que acham tudo normal.
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