UNTAMED - INDOMÁVEL

 

                                                          

 

Walter Payne, num primeiro momento, quando recebeu a chamada pelo celular, estava tomando café da manhã na sua casa em Melbourne, acabava de receber um prêmio, pelo último edifício que tinha projetado, construindo no Dubai.

Era mais conhecido fora do pais, que ali mesmo em sua cidade.

Tinha o escritório, justamente debaixo de sua casa, mas para surpresa das poucas pessoas que levava até lá, não se podia subir pelo edifício, havia que sair, entrar num beco, para subir.

Era a parte de cima do edifício, havia uma parte que era a casa de máquinas do Elevador, mas ali não se escutava barulho nenhum.   Uma parte era um salão imenso, aonde as vezes trabalhava sozinho, a outra parte, o que surpreendia as pessoas, ali estava um trailer, que foi necessário uma grua, mas tinham feito isso durante a semana, depois uma imensa varanda.

A cozinha ficava na parte do salão, mas seu quarto, era justamente esse trailer que ele tinha vivido basicamente metade de sua vida, longe do centro num parque de motorhome, depois o resto era uma imensa varanda, que dava para o porto da cidade.

Sua aparência era distinta que se poderia esperar de um arquiteto afamado, cabeça raspada, com uma imensa cicatriz, óculos de grau, redondos, como os usados por alguma criança retardada diria ele, suas roupas eram as mais cômodas possíveis, mas totalmente fora de moda, as comprava em lojas de segunda mão, umas botas que já tinham visto dias melhores, que ele levava sempre para consertar em um sapateiro árabe.  Depois pelos braços, subiam tatuagens todos desenhos dele mesmo.

Ao saber do prêmio, sabia que isso se falaria na televisão, bem como nos jornais, avisou rapidamente a senhora que era sua secretária direta, que fizesse uma seleção dos jornalistas, que falaria com todos ao mesmo tempo.

Acabou de fazer um café, o dia seria quente, só com uma cueca velha que usava em casa, se sentou na varanda, ria pensando quanto tempo levei para chegar ai, mais do que o normal essa era a verdade, se fosse um rapaz de família, ou mesmo com estampa, ou trabalhasse num escritório grã-fino, talvez tivesse chegado cedo.

Mas não, ele vinha de uma vila perdida do meio do pais, filhos de pais complicados, que tinham escapado da cidade grande, para fazer o que lhe desse na cabeça.

Foi criado assim, viviam numa motorhome, que nessa vila parou, não deu mais nenhum passo, seu pai se dedicava a pintar, sua mãe conseguiu um emprego de garçonete no único restaurante da cidade, se é que podia chamar de cidade um lugar que só tinha uma rua principal, imensa diga-se de passagem.   Mas logo foi obrigado a ir a escola, era uma mistura de raças, com alguns filhos de aborígines, para ele tudo bem, tampouco era uma figura corrente, tinha os cabelos todos em pé, vermelhos escuro, a pele como de sua mãe, branca cheias de sardas, um olho de cada cor, um verde outro azul.

Talvez isso tudo devido a mistura dos dois.

Era de longe o melhor aluno da escola, que por si só era uma coisa complicada, ali estudavam todos os alunos ao mesmo tempo, era uma sala imensa, aonde estavam misturados, os que aprendiam a ler e escrever, ao mesmo tempo os que já estavam no último ano.

A professora um dia se matou de rir, estava dando a parte da aula dedicada aos alunos mais avançados, quando fez uma pergunta, ele sem se mover de seu lugar do outro lado da sala, como ninguém respondia, disse a resposta certa.

Com sabes disso, lhe perguntou ela.

Oras prestei a atenção, disse inclusive o dia que ela tinha explicado para os outros alunos.

Ela o mandou ficar depois das aulas, lhe aplicou um teste de todas as turmas ao mesmo tempo, ele respondeu tudo, na época tinha oito anos.

Ela foi falar com seu pai, este estava pintando, uma coisa completamente louca, fruto de sua cabeça, que em seu tempo andou cheia de ácidos, drogas.

Ele somente levantou os ombros, como dizendo, e eu com isso.

Ela foi falar com a mãe dele, que estava no intervalo, esfregando o chão do restaurante para ganhar mais alguma coisa de dinheiro.

Se sentou no chão ficou olhando a professora, que teve que lhe mostrar todos os exames.

Sacudiu a cabeça, não posso fazer nada, estamos encalhados aqui, nunca nos moveremos, creio mesmo que acabaremos morrendo aqui, no cu do mundo.

Ele gostava dali, a terra era vermelha, não existia nenhuma floresta, mas sim, arbustos por donde fosse, ele se misturava com os outros garotos, para irem explorar tudo.

No futuro diria que era como um canto a liberdade.

Sua mãe soltou, eu nem sei como esse garoto sobreviveu, nasceu antes do tempo, por causa do seu tamanho, ele realmente aparentava mais anos por isso, era mais alto que os outros de sua idade.     Pensei sempre que seria retardado, pois nunca chorou ou reclamou de nada, mesmo agora parece um animal selvagem, as vezes trás, algum animal que caçou, para comermos.

Os coelhos silvestres, ele consegue pegar os mesmos, vivos.    As vezes vende para o dono do restaurante, mas cobra, esse dinheiro ninguém sabe aonde esconde.

Isso tudo a mãe, falava, ele estava ali parado, com os braços caídos ao longo do corpo, realmente parecia um idiota.

De repente movido por alguma coisa, como sua mãe tinha parado, se ajoelhou, seguiu limpando desde aonde tinha parado.

Quem a senhora pensa que limpa a motorhome, com o dedo indicou a ele, meu marido tem a cabeça muito ida para fazer ou prestar atenção em alguma coisa.

Ele escutou o ruido da maquina de lavar louça parando, se levantou, já tinha esfregado mais rápido que ela o que faltava do chão, a ajudou a se levantar, se via que tinha sido uma mulher bonita, que a vida e as drogas tinham acabado com sua beleza.

Ele abriu a máquina, foi tirando pratos, com uma toalha, secando os mesmo, separando por pilhas e tamanhos.  Depois fez o mesmo com os copos. Só não podia colocar no lugar, pois não tinha altura.

A professora foi embora para sua casa, que era um quarto pegado a escola, com um banheiro, ficou pensando nesse garoto, que desperdício pensou, se ele fez isso com oito anos, como será no futuro, viu que sua letra era perfeita, como se tivesse feito aulas de caligrafia, como antigamente se podia ler perfeitamente o que fazia.

No dia seguinte ele chegou deixou um desenho em cima da mesa dela, primeiro ela pensou que tivesse sido o pai dele.

Era ela prestando atenção na mãe dele quando falava.

Mas se ele estava esfregando o chão, perguntou se era seu pai que tinha feito.

Não, eu me lembrei da senhora, roubei um pedaço de papel dele, a desenhei.

Ela o colocou de uma maneira, que pudesse assistir as aulas todas, era como se ele fosse um papel absorvente.

Escreveu uma carta para sua supervisora, falando no assunto, a mesma lhe telefonou, a ligação era horrível, ainda pensou aqui nesse fim de mundo como vai ser diferente.

A mesma pensava que ele fosse um aborígine.

Não senhora, creio que a mãe é descendente de Irlandeses, o pai de inglês, pelo nome que tem Walter Payne.

Me manda essas provas, bem como as de fim de ano.

O contrato da professora acabava no final do ano, nem tinha ideia para aonde a mandariam.

Depois das aulas, lhe ensinava matemática, já do último ano, bem como lhe falava de coisas, foi lhe emprestando os livros que tinha ali no seu quarto.

Ali as chuvas eram torrenciais, quando caiam, parecia que era para alimentar as terras por muito tempo.

Na motorhome, só estava o pai, a mãe estava no restaurante, ele na escola, a água entrava pelas imensas goteiras do telhado.

Quando ele voltou para casa depois disso, estranhou, a motorhome não estava, tinha sido arrastada, jogada num barranco mais à frente.

Foi correndo avisar a mãe, ela o dono do restaurante, bem como o único policial dali, foram olhar, estava meio soterrada lá no fundo do barranco.

Foi complicado chegar até lá, conseguiram uma corda, amarrada na cintura do policial, ele foi descendo, a terra tinha entrado na motorhome, seu pai estava lá dentro.

Levaram um dia para conseguir um trator para trazer a mesma para cima, ao mesmo tempo retirar a terra.

Ele estava sentado na única poltrona que tinha dentro com a boca aberta, cheia de terra.

O enterraram no cemitério da vila.

Ficaram um tempo vivendo no fundos do restaurante, um dia sua mãe desapareceu, foi embora com um motorista de caminhão, ele ficou para trás, ela só deixou a certidão de nascimento dele, bem como um bilhete, não temos parente nenhum.

A professora conseguiu a guarda dele, se matava de rir, pois ele seguia fazendo a trabalho da mãe, com dez anos de idade, limpava o restaurante, colocava a máquina de lavar louça, quantas vezes fosse preciso, depois estendia a mão para o proprietário cobrando.

Fez os testes todos, tinha tido sorte, a professora conseguiu um contrato maior, preocupada com ele.   Quando apareceu um juiz na cidade, conversou com ele, consegui a adoção do mesmo, ele nunca a chamaria de mãe, mas sim pelo seu nome.

Martha Bayer, finalmente com os documentos, pegou seu velho carro, foram os dois para Brisbane, para aonde tinha sido transferida, mas claro como sempre para uma escola complicada nos subúrbios da cidade, ali era difícil conseguir uma casa, o jeito foi morar num camping que tinha esses trailers que não se movem do lugar.

Ele amava, pois tinha a praia logo ali, comentou com ela, depois de tanta terra vermelha, agora temos agua azul, conforme o dia, olhava para o céu, dizia, hoje a água do mar, vai ficar verde.

Logo aprendeu a fazer surf com os meninos dali, os mesmos iam a escola com ele.

A escola para ele era muito fraca, ela sabia, foi falar com o diretor de uma considerada a melhor da cidade, mostrou as provas que tinha feito com ele, perguntou se podia fazer uma dali da escola, para ver seu nível, se podia conseguir que ele estudasse ali.

Ele foi, suas roupas, eram sempre de algum amigo, que já não as queria mais, para ele eram como novas.

Foram lhe dando as provas para fazer, o classificaram com 14 anos, no último ano da escola, perguntaram a ela, se o tinha ensinado tudo isso.

Ela riu, dizendo que não.

Eles concordaram, em aceita-lo como aluno, mas teria que fazer os dois últimos anos antes da universidade.

Ele ia a escola, gostava porque tinha uma biblioteca, os professores pensando que iam encontrar um aluno complicado, se deram mal, não falava, nem brincava como os outros durante as aulas, prestava atenção, tampouco era daqueles alunos que querem parecer mais sábio que o resto, ali tinha uma outra maneira de fazer as provas, eram de surpresa.

Ele sempre tirava a nota máxima, havia uma classe em especial que ele gostava, aulas de desenho.

Um dia fez um desenho imenso, de uma cidade do futuro.  A professora ficou de boca aberta, um dia as cidades serão assim, todas de vidro, imensas, mas para cima.

Um dia viu um desenho de Escher, correu a biblioteca para buscar coisas sobre esse homem.

Era capaz não só de desenhar, mas como de inventar em cima do que tinha visto.

No ano seguinte, o professor levou os alunos a um passeio pela universidade. Foi falando dos cursos que eram oferecidos ali, bem como se podia conseguir bolsas de estudos,

Passaram por uma sala de aula, que um professor, dava uma classe de calculo de estrutura, ele ficou olhando o quadro, falou com o que os levava, tem alguma coisa errada.

O outro fez sinal de silencio.

Ele foi descendo, foi até o quadro, arrumou aonde estava errado, o professor ficou olhando aquele garoto, magro, desajeitado, com óculos de graus, depois ele foi aonde estava parado, foi fazendo o cálculo até o final.

Este se matava de rir, tinha feito de proposito o erro inicial, para ver se os alunos prestavam atenção.

Foi falar com o professor acompanhante.   Este explicou que ele era um aluno diferente, está fazendo o último ano da escola, mas só tem 15 anos.

Lhe deu um cartão, mande sua mãe falar comigo.

Ele contou para ela o que tinha feito, pensei que o coitado tinha errado, os alunos pareciam patetas, olhando para o nada.

Que aula era?

Matemática, mas na porta estava escrito cálculo de estrutura.

Ela foi com ele, com suas roupas modestas, o salário eram baixo nesses lugares, dava graças a deus poder pagar o parque de caravana, ainda mais poder sustentar os dois.

Achava graça, ele nunca reclamar das roupas, sabia pelos pais de seus alunos, que todos queriam roupas de marcas, isso para ele, não estava no seu circuito.

Mesmo sua prancha de surf, era uma que alguém tinha lhe dado.

Ela telefonou antes para o professor, marcaram com ele.

A primeira pergunta que fez a ela, quando ele tinha aprendido matemática.

Ela contou mais ou menos sua história.     O foi arrastando, até a sala que dava aulas, colocou o inicio de um cálculo, no quadro.

Consegues resolver.

Ele se afastou, esqueceu dos dois ali, que seguiam falando, mas olhando o que ele fazia.

Quando finalizou, se virou para o professor, lhe perguntou, em que vai ser aplicado esse teste, Martha me disse que calculo de estrutura, se faz, para calcular como se vai construir um prédio.

Fui dar uma olhada na biblioteca, sei que se não estiver bem, o prédio pode cair.

Pronto tinha um padrinho, no ano seguinte começou a universidade.

Todo mundo falava que ele era o protegido do professor Smitbrown, que era conhecido como o professor mais mal humorado da universidade, mas com ele, ria.

O mesmo tinha vindo de Oxford na Inglaterra, lá não o queriam pelo seu mal humor, por chamar os alunos de burros.

Mas ele fazia uma coisa que Martha tinha lhe ensinado, nunca aparente saber mais que os outros, não esperam, pode te fazer bullying com isso.

Mas ele aprendeu a se defender desde sempre, desde ali no meio do nada, na praia, nunca levava desaforo para casa.

Um dia numa aula de desenho, o professor, perguntou aos alunos como eles imaginavam um futuro, ele projetou um lugar cheio de edifícios de vidros, torres de todas as maneiras, como se fosse um filme futurista.

O professor Smitbrown, foi chamado para olhar, levou o desenho para a sala de aula, vou dar para vocês pensarem como seria construir esse edifício, mostrou um que parecia uma nave espacial.

Deu as condições do terreno, imaginem Londres, que tem um solo complicado, mostrou uma foto, como posso calcular a estrutura para esse edifício.

A metade dos alunos, se perdeu, mas ele fez perfeitamente imaginando como seria.

O professor, tirou uma foto do desenho dele, bem como sinalizou o edifício, mandou para um amigo que era arquiteto em Londres.

Esse lhe escreveu, quem é esse sabichão.

Nas férias foi até Brisbane, para visitar o amigo, seu escritório ia construir um edifício em Melbourne.    Ficou com a boca aberta, quando o conheceu. As calças que usava, eram velhas  curtas nas suas pernas longas, isso seria um problema sempre, mas ele cagava para isso, tinha aprendido, a ir a um lugar de caridade, lá separava as roupas que gostava.

O Professor Smitbrown, lhe disse que eram de segunda mão, que ele se vestia num lugar para mendigos, a família é pobre.

Havia um exercício, que o arquiteto escreveu no quadro, falando de um edifício a ser construído no porto, as condições da terra, como aguentaria ali uma estrutura.

Ele fez o cálculo, no final, começou a escrever, como teriam que preparar o local, imaginava isolarem esse espaço, até chegarem a terra firme, depois fazerem ali, uma base imensa de cimento com pedras grandes, para dar uma segurança, depois foi calculando os pilares todos, só fez uma observação, fazia tudo isso, sem saber do projeto que iria por cima, quantos andares, nada.

A maioria nem fez o cálculo, o arquiteto, ficou mais ou menos numa diagonal, observando como ele trabalhava.

Depois pediu para ver, o arrastou depois da aula, com o professor, a uma sala com uma mesa imensa, além de um quadro negro, mostrou o projeto que tinha feito.

Mas claro o fiz em Londres, sem saber das condições aqui, agora tenho que fazer toda a base de novo.

Quando soube que ele tinha férias em seguida, perguntou se não queria vir com o professor a Melbourne, tenho que consultar minha mãe. 

Esse não é um problema, que ela venha junto.

Martha não ia a séculos a cidade de aonde tinha saído, tinha uma irmã lá.

Lá foi ele, examinar com o arquiteto, tinha demolido o armazém que ocupava toda um quarteirão, retirado tudo, os dois começaram a examinar a terra, ele perguntou, pois tinham falado sobre isso, se não tinha um químico, que pudesse analisar a terra.

Imaginou um broca que fosse furando a terra, até trazer o substrato mais profundo que podiam alcançar.

Era como ele imaginava, creio que é mais ou menos o que pensei, há como uma terra firme, depois deve haver uma grande base de pedra, mas com água por baixo, por isso o edifício que estava aqui aguentou tanto tempo, vamos dizer que se constrói, embora aqui não acostuma ter terremotos, se houvesse o mesmo viria abaixo.

O arquiteto, olhava aquele garoto, tinha 19 anos incompletos, mas que falava muito sério.

Este obrigou ao proprietário do local a pagar a consulta, ele mesmo deu um recibo, pois Walter nem tinha terminado ainda o curso.

Devias vir estudar em Londres, lhe disse.

Não posso deixar para trás a Martha, ela é tudo o que tenho.

O homem ficou impressionado, quando termines a faculdade, me procure, venha trabalhar um tempo comigo.

Ele conversou com a Martha, tenho medo, sabes que meus pais andaram nas drogas, a pouco tempo fiz um exame, dizem que nunca poderei beber ou tomar drogas, ficaria viciado em seguida, um simples cigarro me deixara ansioso por mais.

Ela riu, acabe o curso, já pensaremos a respeito.

Ele terminou a universidade Cum Laude, com as notas máximas, seu projeto, tinha a ver com um prédio construído em cima de uma montanha de pedra, aonde ele costumava ir se sentar.

Imagino, desenhou o mesmo, como um lugar completo para um hotel.

Sem conhecer nenhum, tomou como referencia ao que tinham se hospedado em Melbourne, que tinha ficado na sua memória.

Recebeu de novo o convite do arquiteto, ele foi honesto, eu nunca poderia viver em Londres, como ia pagar o aluguel, bem como sustentar Martha, nunca a chamava de mãe, embora ela sim o chamava de meu filho.

O homem disse quanto era o salário, para Australia era uma fortuna, falou com Martha, essa disse que ele tinha que pensar que o futuro era dele, tinha que tentar, mas uma coisa meu filho, não mude nunca sua maneira de ser.

O arquiteto Lord Serwood, o foi buscar pessoalmente, o hospedou até ele conseguir um lugar para viver, num apart-hotel, perto de seu escritório.

Lhe perguntou se ele precisava de roupa, a resposta o deixou de boca aberta, fui aonde vou buscar, disse que vinha para cá, as irmãs de caridade, me arrumaram muitas roupas, só tive que comprar cuecas e meias.

Lord Serwood, olhou os sapatos dele, estavam bem remendados, mas com cera.

No dia seguinte o foi buscar para irem ao escritório, que tomava todo um andar de um edifico que ele mesmo tinha construído.

Ele ficou parado olhando o mesmo, não se mexia do lugar.

Algum problema perguntou o arquiteto?

Não, estou calculando a estrutura dele, o senhor me deixa ver o projeto, quero ver como resolveu o problema das colunas, de que material está feito.

Este caiu na gargalhada, quisera eu que meus filhos fossem com tu, são uns idiotas, vivem boa vida, o mais velho, acaba de ser reprovado em Oxford, pois foi fazer as provas bêbado.

Antes de subirmos, tenho que dizer ao senhor, que nunca posso beber, tampouco tomar drogas, meus pais era adictos, eu o seria em seguida.

Gosto como falas meu jovem.

Ele chamou atenção desde o primeiro momento, levava os cabelos imensos, de surfista, queimados do sol, suas roupas eram totalmente diferentes dos demais, uma mistura de algo que não sabiam definir, bem como sua postura era diferente, aqueles óculos que ninguém sabia classificar de que desenhista eram.

Lord Serwood, os apresentou, esse foi o rapaz, que me salvou o cu na Australia, recalculando tudo do projeto.

Riam, pois ele nem barba tinha.

O arrastou com ele, a uma sala ao lado da sua, vais trabalhar aqui, ele pediu se podiam colocar na parede dos fundos um quadro negro, pois resolvia melhor os problemas escrevendo ali.

Um dos diretores, perguntou se ele não tinha Laptop.

Não senhor, gosto mesmo de fazer os cálculos mentalmente, depois posso usar um computador para conferir, mas primeiro tenho que fazer na minha cabeça.

Pediu para tirarem a mesa que estava ali, preciso de uma mesa grande para ter o projeto para olhar.

Lord Serwood ria, pois ele já estava trabalhando, quando trouxeram um projeto, que ia ser construindo perto da Torre de Londres, ele pediu para ir ao local.

Estavam escavando o terreno, ele desceu como se fosse mais um da obra, colocou um casco, se colocou de joelhos, começou a examinar a terra, a cheirar a mesma, Lord Serwood, que o acompanhava com um diretor, além do rapaz que tinha feito o projeto.

Olhavam sem entender, ficaram ali olhando, ele subiu, perguntou se essa área tinha sofrido bombardeios?

Sim, podemos nos informar, creio que existe aqui um vazamento de esgotos, mostrou o lugar, naquele ali, tem algo como um cheiro que creio que é algo de alguma bomba, numa aula, examinamos isso.

Lord Serwood, pensou, rapidamente, vieram técnicos examinando tudo, realmente havia um vazamentos de esgoto de muitos anos ali, mas no lugar que ele tinha falado, havia uma bomba enterrada, quase completa, não saberiam dizer se não tinham explodido.

O diretor adjunto, reclamou que isso ia atrasar a obra.

Vieram especialista, examinar tudo, começaram a escavar com muito cuidado, ele acompanhou tudo, conseguiu um químico, para ir analisando cada camada de terra retirada, imagino que aqui existam séculos de terras acumulada.

Eres pior que um arqueólogo soltou o diretor que não estava nada contente, pois a cada atraso, significava dinheiro.

Quando finalmente chegaram a bomba, os técnicos diziam que o esgoto tinha corroído todo o metal, todos que andavam ali, tiveram que fazer um exame.

Lord Serwood, discutiu com o diretor, imagina se escavamos sem cuidado, essa merda explode, podiam morrer operários.

Ele tinha ido documentando tudo, fez os exames, tinha conseguido com um rapaz que fazia a limpeza do escritório, um lugar para viver, num bairro cheio de indianos, em cima de um armazém desses que tem de tudo, era velho, mas ele fez uma limpeza em regra, lhe saia barato, uma parte de seu salário mandava para a mãe.

Escrevia sobre tudo que tinha achado para o professor Smitbrown.

Descobriu aonde podia conseguir roupas de inverno de segunda mão, quando apareceu no escritório com umas botas impressionantes, além de um casaco de marinheiro.

Numa reunião, um arquiteto que se vestia em Savile Row, perguntou aonde ele tinha comprado, disse a loja de segunda mão, no bairro aonde vivo.

Ele tomava um ônibus, depois o metro para chegar.

O outro devia pensar, esse idiota não pode estar falando sério.

Quando começaram as obras de construção, ele ia, sempre para verificar a pureza da mistura de concreto usada, bem como o metal usado.

Comentou numa reunião, que prestassem atenção as vigas que vinham preparadas, algumas não estavam boas.

Lord Serwood, falou com o engenheiro, eram ordens do diretor, para economizarem, ganharem mais dinheiro.

Como proprietário, o colocou na rua, idiota.   Quer sujar nosso nome, o muito idiota soltou que tinha feito isso nos dois últimos prédios, antes de chegar esse idiota.

O único idiota aqui eres tu, estas despedido.

Pronto tinha conseguido um inimigo.

Dias depois saindo de noite do edifício, fazia um frio louco, vinha com o rapaz da limpeza que era seu amigo. Quando foram atravessar a rua, um carro que estava em fila dupla, avançou em cima deles, ele teve tempo de empurrar seu amigo, mas bateu com a cabeça num carro estacionado.

Foi para o hospital, com uma contusão grave na cabeça, logo foi operado, lhe rasparam a cabeça toda, uma das enfermeiras dizia, esse menino tem uns cabelos impressionantes.

Ficou em coma, uma semana, quando despertou achou estranho Martha estar ali segurando sua mão, Lord Serwood, tinha mandado traze-la, bem com seu querido amigo Professor Smitbrown.

O rapaz, disse quem conduzia o carro, o tal diretor, pois não conseguia emprego nenhum.

Quando se recuperou, fez uma coisa, quero saber se minha cabeça funciona, pediu ao professor para colocar um calculo na parede, este escreveu, uma enfermeira deu a maior bronca.

Ele mentalmente foi resolvendo o mesmo.

Estou bom, posso ir para casa.

Ficou sim com uma imensa cicatriz na cabeça, pois tiveram que abrir para tirar os coágulos que tinha ficado ali.

Depois dos últimos exames, ele foi para casa, levou Martha com ele, essa se matou de rir, pois era modesto como sempre tinha sido, por isso sobra dinheiro para me mandares.

O professor os arrastou com ele para Oxford, falou com o Decano, o apresentou numa aula, meu melhor aluno desde que sou professor.

Ele ainda trabalho mais de cinco anos com Lord Serwood, quando esse teve um enfarte, deixou de trabalhar, ele pediu as contas, sentia falta de sua terra, não suportava o frio do inverno, o surf que ele vivia falando com seu amigo.

Lhe ensinava tudo que este estava aprendendo na escola que ia, para pessoas atrasadas nos estudos.

Falou com o professor, este conseguiu um visto na embaixada, lá foi ele de volta, como dinheiro que tinha, podia ter voltado de primeira classe.

Mas não, turística com seu amigo, ria muito tinham ido visitar Lord Serwood, em sua casa, os dois ficaram de boca aberta, o primeiro comentário com ele, é mais fácil morar num trailer, não da muito trabalho para limpar, aqui, precisa de muita gente.

Se despediu dele, agradeceu a oportunidade, mas ia voltar para casa, levava seu amigo Samir, para outra vida.

Conseguiu um trailer ao lado de Esther, para viverem os dois.

Samir, foi fazer faculdade, apadrinhado pelo professor, este dizia que no final do curso se aposentava.

Ele com o dinheiro que tinha guardado montou um escritório num edifício antigo no centro da cidade, antes tinha sido uma garagem.

O professor disse que assim ele não atraia ninguém.

Mas logo estava dando consultorias de estruturas, projetando alguns prédios para a cidade.

Seguia vivendo no mesmo lugar, tinha sim agora um jeep velho, que tinha sido do exército, que tinham reformado, Samir o deixava, ia para a universidade, depois retornava para trabalhar.

Seria sempre seu braço direito.

Muita gente pensava que eram amantes, nada mais longe da verdade.

Um dia parou na frente do escritório uma limousine, era um sheik árabe, me deram seu contato, através de Lord Serwood, disse que podemos confiar em ti.

Nessa época Samir tinha se casado com a filha de um indiano que tinha chegado a Australia com uma mão na frente outra atrás.

O coitado nem imaginava nas mãos de quem tinha caído, era uma mulher que queria ser rica a qualquer custo.

Vivia reclamando que Walter o devia ter como sócio, não como empregado.

Samir lhe explicava que o escritório funcionava diferente, tudo bem Walter era o dono, mas ganhava como os demais, além de repartir os lucros com todos, até com pessoal da limpeza.

Ela ficava uma fera, assim nunca estaria na sociedade da cidade.

Tampouco queria ter filhos, Samir se desabafava com ele, o que faço?

Quem lhe deu a solução, foi Martha, nas férias vá com ela a Londres, mas te hospede na casa de teus pais, verás como ela pede o divórcio.

Agora entendo, por isso não tens ambição, teus pais vivem numa pobreza total, não são como o meu que ficaram ricos de qualquer maneira.

Mal voltaram pediu o divórcio.

Samir tinha a partir de então Esther como sua confidente.

Acabaria se casando anos depois outra vez, com uma descendente de aborígines, que era professora.

Quando ele foi a Abu Dabi, foi a ponta de lança de sua carreira, escutou tudo que o homem queria, foi com ele conhecer o local, examinou tudo, era o começo da expansão da cidade.

Era para ser um hotel cinco estrelas, com todos os luxos possíveis.

Ele estudou cada detalhe com Samir, contrataram um decorador de milionários como assessor.

Depois foram fazendo trabalhos em Barein, Oman, Riad, Kuwait, não paravam, o sucesso de todos esses anos, dava resultado anos depois.

Na verdade, tinha acabado se mudando para Melbourne, pois ficava mais fácil para eles, Martha teve um câncer, mal cuidado, pois ela não se incomodava com a saúde.

Morreu rapidamente, ele no inicio ficou perdido, viu que Samir também, foi quando descobriu que ela era sua confidente para tudo.

Com o dinheiro que tinha comprou esse prédio antigo na zona do cais, os esvaziou completamente, reconstruiu todo por dentro com o mais moderno possível.

Riram quando viram aonde ia morar.  Quando trouxe o trailer que colocou em cima de tudo, tinha pensado nisso no cálculo de estrutura.

Samir se matava de rir, só mesmo tu.   Este vivia num belo apartamento num dos edifícios que tinha construído na cidade, já tinha cinco filhos.

Reclamava dele que nunca tinha ninguém. 

Era uma verdade, havia algo que o fazia desconfiar das pessoas, quando estava em Londres, o arquiteto que tinha lhe perguntado aonde comprava roupas, se insinuou, conseguiu fazer sexo com ele, mais para dizer aos outros que o tinha na palma de suas mãos, caiu do cavalo, quando um dia disse que seu projeto era ruim.

Ficou uma fera, acabou dizendo que ele era mal acompanhante, pois nunca bebia, não gostava de restaurantes finos, nada disso, preferia comer em algum indiano de aonde vivia.

A partir desse momento tomou cuidado, quando muito tinha alguma aventura de uma noite.

Agora iriam fazer um projeto para um dos homens ricos de Riad.

Esse veio até ao escritório, ele estava em casa com uma gripe horrorosa, Samir queria ver como o homem que era pomposo, reagiria, insistiu de o ver.   Samir o avisou, ele nem se mexeu do lugar, subiu pela outra entrada, num elevador de o levava até a terraça, aonde ele vivia.

O homem quando viu aquele trailer ali em cima, ficou de boca aberta, Samir o fez, entrar, ele se desculpou de estar na cama, mas a gripe era forte.

Mas mandou Samir o levar para a outra parte, esse ficou de boca aberta, ali, havia objetos que ele tinha comprado nesses países todos, coisas de bom gosto, estava passando a mão por cima da mesa imensa que ocupava uma lateral, ali estava aberto um projeto que estava calculando a estrutura, a parede dos fundos era um imenso quadro negro, como de uma escola.

Aqui faço os cálculos das estruturas que vamos construir, assim tenho paz.

O homem curioso, perguntou por que do trailer?

Pelo simples fato de sempre ter vivido em um, além de ser mais fácil de cuidar quando se é sozinho.

Se sentaram, ele pediu ao Samir, podes fazer um café para nós, meu único vicio senhor, tomar muito café.

O homem perguntou aonde ele tinha conseguido uma peça árabe que estava ali.

Ah, foi um presente do Sheik, disse o nome, descobri esse homem trabalhando num castelo caindo aos pedaços, ele fez uma escultura imensa, para a entrada do edifício, depois fez essa para o Sheik que me deu de presente.

Procuro sempre descobrir artistas locais, que podem conjugar com um projeto que faço.

Me fale o que o senhor quer.

Falou de um projeto dele que tinha visto, um hotel, que eram dois na verdade, um de cada lado da rua, ele tinha feito em dois níveis, bem altos, uma passarela que ligava um ao outro.

Esse castelo que dizes, não foi o que o senhor restaurou para o Sheik, o transformando numa coisa moderno no meio do deserto.

Nem imagina o trabalho que deu, a mulher do Samir quase pede o divórcio, pelos meses que ele teve que ficar lá.

Tive que ir a Oxford, meu velho professor Smitbrown, estava para morrer, fui ficar com ele seus últimos momentos, ele nunca teve filhos, acabei trazendo suas cinzas para cá, aonde ele disse que tinha sido feliz, a coloquei junto ao tumulo de minha mãe, de quem ele era muito amigo.

A reportagem realmente tinha aberto um outro frente para eles, agora podia dizer que não quando um projeto não lhe interessava.

O homem pediu ao Samir, se podia ir buscar o homem que estava com ele.

Subiu um árabe, muito bonito, ficou olhando tudo, soltou o que mais tinha gostado era do trailer ali, como tinham subido o mesmo.

Ele riu, foi um escândalo, pois tive que conseguir uma autorização dos bombeiros, mas desde o principio quando reformei o edifício, o esvaziei totalmente, construí uma estrutura para aguentar o peso, por isso a entrada não era a mesma, quero ter a sensação de sair de casa, ir para o trabalho.

Nos fomos apresentados, eu estava numa aula, em Oxford, que o professor Smitbrown, o apresentou, fazem muitos anos, depois tive que voltar para cuidar da minha família, agora sou assessor.

Discutiram o projeto, mas o fizeram descendo, os dois ficaram lhe esperando, enquanto tomava um banho, sentados na varanda olhando o panorama.

Abimael, elogiou o local.

Ele riu, as vezes me sento aqui para pensar, primeiro sinto falta dos dias que posso fazer surf, depois começo a olhar o nada, deixo de ver esse panorama, minha cabeça começa a funcionar, com algum cálculo, não sei por que é assim, mas aceito.

Quando chegou ao escritório, foram a uma mesa imensa, igual a de cima, começaram a estudar o projeto que tinham trazido, perguntou se era um original, ou uma cópia, se podiam rabiscar em cima dele.

Dois rapazes se incorporaram, um era descendente de chinês, o outro de aborígines, começaram a discutir detalhes, enquanto ele mesmo ia anotando a margem, para cálculos, falavam de um vão central, como de uma grande mesquita, que daria um ar impressionante ao lugar.

Teríamos que pensar num jardim lateral com imensas palmeiras, não paravam de falar, mais pareciam o chefe, ele ia tomando notas, redesenhando em cima do projeto o que estavam falando.

Abimael, lhe soltou, quero vir trabalhar aqui.

A vontade, porque não participa, já que a ideia original é tua.

Quando viu estava no meio de tudo, o que era quem ia pagar tudo sorria, me falaram que era assim, mas queria ver com meus próprios olhos.

Quando foram ao local que iam construir, ele dessa vez levou os dois jovens arquitetos, pois uma grande parte das ideias eram deles.

Abimael, o convidou para sua casa, era num edifício que ele tinha construído, o último andar, mas dentro tudo era simples, fui filho de pais pobres, que graças a minha cabeça puderam ter um fim de vida como queriam.

Quando viram estavam na cama, eram completamente diferentes fisicamente.

Não voltou esse dia ao hotel, apenas avisou aos rapazes que tudo estava bem.

Acompanhou toda a obra, mais para ver o Abimael, agora na véspera da inauguração, como ele tinha sido premiado, havia reportes de revistas de arquitetura de todos os lugares possíveis.

A conversa dos dois, era como iam fazer agora. Tens tua vida aqui, a minha lá.

Ficaram olhando um para o outro, até que Abimael, perguntou se naquele trailer cabia mais um.

Olha claro que sim, teremos que dormir agarrados.

Tenho um projeto interessante agora, creio que gostarias de participar, com os rapazes.

Será na China, em Xangai, que se abre para os arquitetos do mundo inteiro, um grande edifício de escritórios, que achas?

Topo, claro, não penso em deixar que escapes.

Estava feliz, logo faria 55 anos, tinha começado muito cedo, lhe preocupava sempre que ia fazer o dia que parasse, por isso preparava esses jovens, tinham conversado sobre isso,

Um Abimael, despertou, ele estava em pé no vidro de seu apartamento, fazendo um cálculo, soprava fazia uma espécie de vapor, seguia fazendo.

Despertei pensando numa coisa da obra, acho que devemos fazer assim.

Tua cabeça relaxa em algum momento?

Sim quando faço sexo contigo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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