ABU SCHMIDT
Na verdade meu nome é Abimael Schmidt,
filho de uma mulher turca com um alemão, nada mais, moreno, alto como o filha
da puta do meu pai, dele só herdei uma coisa os olhos azuis, que segundo meus
colegas ficam duros quando estou fazendo um interrogatório.
Minha mãe, saiu do interior do pais, de uma
família complicada, veio para Istambul, para trabalhar na casa de uns parentes,
mas claro não lhe pagavam nada, só conseguiu uma coisa, aprender a ler e
escrever.
Logo conseguiu o emprego na casa de um
comerciante alemão, esse tinha mulher, duas filhas, um dia abusou da minha mãe,
essa quando viu estava gravida.
A mulher do sujeito, no caso meu pai, era
uma pessoa honesta, o obrigou a dar seu sobrenome, bem como pagar uma pensão
aos dois, que minha mãe guardava para um dia eu poder ir à universidade.
Esfregou muito chão, pelas casas ricas de
turcos, vivíamos numa casa velha, perto da Torre de Gálata, por fora o edifício
parecia que ia cair, isso era tramoia do dono, para não pagar um imposto muito
alto, vivíamos no último andar, era um quarto grande, com um banheiro no
corredor, a cozinha era dessas de camping, em cima de uma mesa.
Eu ia a escola, depois conseguia sempre
ganhar uns trocados, para ajudar nas compras de mercado.
Ela era uma mulher bonita, podia ter se
transformado numa puta, mas preferia fazer o que fazia, limpeza.
Roupas ela conseguia nas casas que
trabalhava, se o patrão avançava, mudava de emprego, as mulheres entendiam,
normalmente eram feias, ela era bonita.
Quando fiz 17 anos, entrei para a
universidade, fui estudar direito, tinha ideia que ser advogado ganhava um bom
dinheiro. Mas justo no primeiro estagio
que fiz no segundo ano, vi que o buraco era mais embaixo, o escritório era bom,
mas a maioria dos clientes eram bandidos.
Conversei com um professor, ele me disse
que fosse ser fiscal, não é muito diferente vais lidar com muita gente, mas
estarás do outro lado da lei.
No ano seguinte ele me arrumou um estagio
com um fiscal, o mesmo gostou de mim, quando acabou o estagio me contratou,
trabalhava na parte da tarde, sem hora para terminar, o sujeito dava um duro
desgraçado, estava sempre reclamando dos juízes que eram corruptos.
Ele sabia da minha história, era amigo do
meu professor, me disse na cara, aqui os bandidos, são os juízes corruptos, bem
como alguns fiscais, além do pessoal da polícia, que por qualquer tostão,
vendem a alma ao diabo.
Era uma verdade, mas eu levava a sério, com
o que ganhava, nos mudamos para um apartamento pequeno, ali perto, mas melhor,
pelo menos tinha uma pequena varanda, que transformei em meu escritório, acabei
o curso, fiz provas para ser fiscal.
Segui trabalhando ainda um tempo com o que
me ensinava, melhor não podia ser.
Nessa época ajudei o cônsul alemão, a
resolver um problema, sua mulher tinha morrido num atentado, quando fazia um
passeio com amigas que tinham vindo visita-la, claro os policiais queriam
dinheiro para liberar o corpo, fui com ele, resolvi tudo.
Me falou que agora o problema, seria alguém
para cuidar de suas filhas, que falassem alemão, lhe contei de minha mãe, ela
tinha aprendido, bem como eu também tinha estudado, a mulher do meu pai, fez
questão que eu aprendesse.
Eu quando me formei, fui até a casa dele,
falei com ela, o ignorei totalmente, era um estranho para mim, agradeci a ajuda
todos esses anos, mas agora não precisava mais, tinha trabalho.
A ajudaria anos depois, com um problema, na
Alemanha.
Minha mãe foi trabalhar para Hans Weber, cuidar
das garotas, que se apegaram a ela, pela falta da mãe.
Sempre sonhei em ter filhas, agora tenho
duas.
Quando Hans voltou para a Alemanha, a
convidou para ir junto, afinal ela manejava a casa toda, além de cuidar das
meninas.
Um ano depois eu já era fiscal, segundo o
que me treinou, dos duros, comigo, as provas eram analisadas mil vezes.
Uma parte da cidade, justamente aonde eu
seguia vivendo, era normal a policia me chamar para atender o que estava
acontecendo, principalmente se era um crime.
Um juiz que era odiado pelos policiais,
sempre que liberava um bandido, dizia que a culpa era da policia que fazia um
trabalho de merda.
Era um desses hotéis de putas, quando subi
acompanhado do policial que tinha me chamado, esse me contou o que era. O homem estava coberto de sangue, tinha
esfaqueado uma garota, de uns 14 ou 15 anos, muitas vezes, ela estava nua, ele
disse que tinha se defendido.
Uma garota que era pele e osso, ter atacado
aquele homem gordo, com uma aparência nefasta.
Eu o conhecia, sempre tinha problemas com
ele, mandei o fotografo fazer todas as fotos, inclusive dele ao lado do
cadáver, com a desculpa de segurar a câmera para o mesmo, retirei o cartão.
Sabia que ele moveria suas fichas, tentaria
fazer desaparecer as provas.
Os policiais o acompanharam a sua
delegacia, nem chegou a ficar horas lá, eu falei com o delegado, esse era um
desses corruptos, disse que tinha sido em legitima defesa.
Argumentei com ele, sobre uma garota
subnutrida, além da quantidade de facadas, o juiz não tinha nenhuma ferida no
corpo.
Nem iam mover um processo,
Eu como tinha o cartão de fotografia da máquina,
fiz uma coisa, tirei cópia, no meu computador particular, depois devolvi a
mesma ao fotografo, como eu imaginava o dito cujo desapareceu.
Só conhecia uma pessoa que podia fazer
alguma coisa, publicar no jornal que trabalhava, que era o que lia a população
em geral, diziam que a parte de crimes era tanta, que se espremessem o mesmo
saia sangue.
Entreguei a ela, uma cópia num pen drive.
Claro no dia seguinte estava estampado no
jornal, o juiz que matou uma garota, era um pédofilo, pai de família, com
filhas jovens, além de ser avô, pela filha mais velha.
Foi um escândalo, ele veio me ameaçar,
depois fez o mesmo com o fotografo.
Acabei sendo transferido para o cu do
mundo, como se chamava a fronteira com Síria, ainda pensei, pelo menos no
interior isso deve ser diferente.
O lugar de trabalho era uma merda, a
relação com a polícia, pior, mas fui me virando, os relatórios de crimes, era de
chorar, uma merda, sempre tinha dinheiro pelo meio, a não ser que fosse um
qualquer que matasse alguém.
Tinha um manda mais na cidade, esse fazia o
que queria, tudo ficava no ora veja.
Ele como meu pai, abusou de uma empregada,
Kurda, de família pobre, ela ficou gravida, um belo dia desapareceu, a foram
encontrar num lugar, aonde se jogava o lixo da cidade.
Eu movi mundos e fundos, a policia dizia
que tinha sido sua família, mas o único familiar que a mesma tinha era sua mãe,
uma senhora já de idade, não poderia ter feito o que tinham feito com ela. Comecei a investigar por conta própria, um
belo dia o mesmo me parou na rua, me ameaçou.
Observei que um homem ali parado escutava
tudo. Esse veio falar comigo, era irmão
da vítima, tinha vindo de aonde vivia, na zona conflitiva Kurda. Temos certeza de que foi o seu braço
executor que matou nossa irmã.
Estava furioso, soltei quem era, lhe dei um
pequeno gravador, se consegues gravar ele declarando que fez por ordem de seu
patrão, tudo bem.
Mas claro ele não fez isso, simplesmente
matou o mesmo, gravou a conversa entre os dois, lhe interrogou sobre a casa do
dito cujo, quem vivia lá.
Este disse que na casa viviam o mesmo, a
mulher e seus filhos homens, as mulheres ele não queria.
Nunca soube como foi, mas queimaram a casa
com todos dentro, só o manda mais sobrou, ficou como um louco, todos seus
herdeiros tinham morrido.
Contratou dois guarda costas, para
protege-lo, mas claro a policia queria saber quem tinha feito isso.
Eu resolvi ficar quieto, tinha a gravação,
mas não a podia usar, pelo visto não era a primeira vez os abusos.
Dias depois encontraram o mesmo, nas suas
terras, amarrado numa árvore, tinham cortado seu piru, o deixaram ali
dessangrando.
Por sorte, não tinha falado nada, um dia
voltando para casa, encontrei o mesmo homem, esse filho da puta, não sabia que
somos uma família imensa, agora aprendeu.
A calma tomou conta da cidade, tempos
depois o chefe de policia que tinha acobertado o outro, por ser corrupto,
recebi uma pasta, nunca soube de aonde tinha vindo, eram extratos bancários, dos
depósitos que lhe fazia o manda mais, para que ele olhasse para o outro lado,
levantei tudo, a casa que o sujeito morava, era impossível com o salario que
tinha, o filho na universidade em Istambul, aonde era mal estudante, levantei
cada movimento do mesmo, falei com o juiz, da cidade, esse se cagou nas calças,
mas tinha uma coisa ao meu favor, os que estavam baixo o mando do mesmo o
odiavam.
Me ajudaram, o escândalo, chegou a
Istambul, meu chefe de lá, me chamou para me dar os parabéns.
Meses depois, soube que o juiz de lá tinha
sido assassinado, estava tentando abusar de um garoto que se prostituia nas
ruas, quis fazer algo com ele, este não gostou, lhe passou a navalha no
pescoço.
Desta vez não puderam esconder, meu chefe
arrumou um advogado para o rapaz, me chamou de volta a Istambul, não vamos
deixar dessa vez o chefe de polícia, nem o juiz que vai julgar, esconder os
podres dele.
Se abriu de novo o processo da garota que
ele tinha matado, bem como os podres todos do chefe de polícia, na época, este
tinha recebido uma bela soma de dinheiro do juiz.
Foi um belo escândalo, pelo menos limpamos
um pouco a sujeira, que sempre era jogada embaixo do tapete.
Resolvi tirar férias, fui ver minha mãe na
Alemanha, fiz uma coisa, tirei meu passaporte como alemão, pois tinha direito, fui
registrado na embaixada, feita pela senhora.
Tinha tido um bom professor, depois fazia
uma coisa, aulas de conversação numa escola, então me virava bem em Alemão.
Hans, tinha deixado o serviço consular,
tinha um escritório de advogados em Munich, minha mãe seguia trabalhando para
ele, as meninas agora adolescentes, ele dizia que elas obedeciam minha mãe, mas
a ele nunca.
Me perguntou se não queria ir trabalhar lá.
Mas claro, teria que fazer um ano, pelo
menos a adaptação para as leis alemãs, bem como uma prova para o colégio de
advogados.
Ele tinha uma imensa quantidade de turcos
ou descendentes como clientes, por isso me queria.
Pensei muito, conversei com minha mãe,
sentia sua falta.
Resolvi aceitar, fui a Istambul, pedi uma
licença por dois anos, se não desse certo podia voltar.
Lá fui eu, começar tudo de novo.
Por sorte Hans me ajudou, estudava, ao
mesmo tempo que ia me adaptando no escritório ao que faziam, alguns preferiam
falar, comigo juntos, pois falavam melhor o turco árabe que o alemão.
Já me pagava um bom salário, nada comparado
ao que ganhava na Turquia.
Tinha alugado um pequeno apartamento, na
parte antiga perto do fórum.
Apresentei os exames, logo podia exercer
como advogado.
Hans dizia que o faturamento tinha
aumentado, comigo, no fundo eu era um a mais na família, as meninas me chamavam
de tio.
Minha mãe me cobrava um casamento, mas não
passava de aventuras, seja com homens ou mulheres.
Alguns pensavam que tinha alguma coisa com
o Hans, devido a intimidade que tinha com ele, mas eu sabia que tinha amado com
loucura sua mulher, não se escutava falar de nenhuma aventura dele.
As meninas foram estudar em Berlin, podiam
fazer a universidade ali, mas queriam voar como dizia minha mãe, depois a
família da mãe delas era de lá.
Tinham aonde ficar, ele pediu que minha mãe
continuasse a cuidar da casa.
Propôs que eu fosse morar com eles, mas eu
gostava da minha vida.
Tinha um circulo de conhecidos, tanto
turcos, como alemães, por isso preferia ficar na minha vida.
Recebi um convite para ir trabalhar em
Berlin, numa grande empresa, que levávamos ali, seus problemas. Falei com ele.
Riu muito, dizendo que era uma verdade,
joguei nas tuas mãos os problemas que eles tinham, normalmente era de clientes
ricos turcos.
Eu se fosse você, ia, aqui sempre será o
mesmo, eles tem uma parte que atendem em Istambul, isso pode ser interessante,
pois me pediram todo teu curriculum.
No final dessa conversa, me falou uma coisa
que fiquei parado pensando.
Disse que queria se casar com minha mãe,
ela sempre cuidou das meninas, de mim, posso dar uma boa vida a ela, as minha
filhas, duvido muito que voltem para casa, estou sozinho.
Perguntei se já tinha falado com ela.
Me disse que não, queria minha aprovação
antes.
Lhe respondi que a vida era dela, portanto
ela tinha que decidir.
Depois foi ela quem veio falar comigo,
realmente estava acostumada a cuidar dele, é uma pessoa fácil de se relacionar.
Respondi a mesma coisa, que a vida era
dela, que a decisão que tomasse eu apoiaria.
Resolveram se casar, as filhas vieram,
acharam ótimo, segundo minha mãe, assim se livravam dele de uma vez, mas claro
ele dava as mesmas mesadas generosas.
Eu fui a entrevista em Berlin, era um
escritório de fazer gosto, o dono, foi quem me entrevistou, tinha sido meu elo
no problema que tinha resolvido para eles.
Depois de conversarmos, fez uma reunião com
os outros advogados, era para substituiu um homem que ia se aposentar, teria
que trabalhar com ele durante um tempo.
Alguns riram, embora o mesmo depois me
levou para almoçar, assim me conhecia melhor.
Ele era quem levava alguns casos de turcos,
que acabavam se relacionando com Istambul, falou todo o tempo em árabe comigo,
de repente me fazia uma pergunta em alemão.
Eu ri muito, estava fazendo um jogo, para
me pegar desprevenido.
Gostei do sujeito, embora ele mesmo me
disse que tinha muito mal humor, que os outros riram por causa disso, sou
conhecido como mister perfeito, pois gosto de ter tudo a minha maneira, se vou
defender alguém, tem que ser com honestidade.
Aceitei, assim como queria o Hans, vender
seu escritório, se aposentar, seria mais fácil, eles iriam viver numa casa no
campo, que tinha herdado de sua família.
Iria ganhando para Berlin, um belo salário,
no primeiro ano, eles pagariam o aluguel do apartamento que eu escolhesse.
Arrumei um em Mitte, um edifício
restaurado, primeiro andar, mas que tinha uma varanda interna.
Tinha uma bela sala, um escritório, com
todas as paredes forradas de estantes, o que era um problema, pois eu tinha
muitos livros, não só de direito alemão, bem como turco.
Tinham deixado no mesmo, uma mesa que virou
minha paixão, era dessas imensas, perfeita para estudar um caso. O resto era
simples, um quarto com banheiro e um pequeno vestidor, cozinha, para mim era
perfeito, também só tinha que andar uns três quarteirões, estava no escritório.
Herdei a secretária do homem que ia
substituir, pensavam que eu a ia colocar na rua, mas porque todos tinham
secretárias jovens, ela era a mais antiga ali.
Gostei dela desde o primeiro dia, sabia
como funcionavam as coisas, viu como o velho me tratava, se esse velho louco
gosta de ti, eu também gostarei.
Ele foi me passando os casos, alguns
resolvemos juntos, ele fez uma coisa que ninguém esperava, saia comigo para me
apresentar pessoas importantes no que fazíamos, pessoal da embaixada Turca, bem
como gente que realmente resolvia os problemas.
Resolvemos seu último caso juntos, uma
partilha de bens, tanto na Alemanha, como em Istambul, de um comerciante, que
tinha filhos dos dois lados.
Estávamos lá, o levei para conhecer meu
antigo chefe, esse fez uma coisa, olhou meu terno, passou a mão pelo mesmo,
dizendo, agora eres um homem do mundo.
Conseguimos resolver, chegar a um acordo
com os herdeiros dos dois lados, numa mesa de reunião, em que os herdeiros
turcos insistiam em falar árabe, os outros alemão.
Eu fazia uma coisa, falava com cada um, sem
parar na sua língua, gostaram disso.
Ficamos num hotel cinco estrelas, o levei
para passear por aonde tinha vivido.
Um dia no hotel, me chamaram na recepção,
era a mulher do meu pai.
Achei estranho, mas desci para falar com
ela.
Me fez festa, chegaste longe, mas vim te
consultar por um problema de família.
Me contou o que era, seu marido, tinha
deixado as coisas muito confusas, suas duas filhas estavam brigando na justiça
pela herança, pois ele não deixou testamento.
Ele chamou o homem que levava o escritório
ligado ao deles em Berlin, analisaram a situação, esse deu uma sugestão,
perguntou as filhas se elas pensavam em administrar o negócio.
Nenhuma das duas queriam, pensavam sim em
vender ir para a Alemanha, nada mais.
Fizeram uma proposta, mas ele insistiu que
fosse em três partes, as duas tinha sua parte, mas cinquenta por cento seria da
mãe.
Elas achavam um absurdo, pois a mãe tinha
fortuna própria.
Ele fez um comentário que as deixou de boca
aberta, pensem bem, as conheço a pouco tempo, mas acredito, que as duas querem
viver a boa vida, vocês vão gastar esse dinheiro num estalar de dedos, depois
virão correndo para sua mãe, ela pelo menos sabe empregar o dinheiro que tem.
Acabaram aceitando, ela agradeceu muito,
como sabe que isso vai acontecer?
Ora elas nunca trabalharam, querem viver o
que não viveram, se casar com homens ricos, isso se tiverem sorte, as duas eram
feias.
Um dia virão correndo pedir mais dinheiro,
ai tocará a senhora, seguir administrando, dar dinheiro em doses homeopáticas.
Ela se matou de rir, eu acredito em tua
profecia.
Ele voltou a Berlin, ainda a tempo de ir à
festa de despedida do velho. Todos
falavam como ele podia se dar bem com ele.
Não sei, o trato com respeito, escuto seus
argumentos, tenho os meus, sempre chegamos a um acordo, talvez seja questão de
educação.
Tinha um amigo por muito tempo, uma vez por
semana, ia almoçar com o velho, ou mesmo ia a sua casa consultar sobre algum
antigo cliente.
Esse dizia que nem o dono do escritório se
lembrava mais dele.
É duro chegar a uma idade, não ter família,
sempre fui um homem discreto, tinha minhas aventuras, nunca verbalizava, o
homem que amei durante muitos anos, era casado, eu fui o outro, nada mais.
Sabia que ele falava isso, porque lhe tinha
falado de seu romance atual, era um cliente de outro advogado, um belo exemplar
alemão, mas casado, rico, aparecia em seu apartamento, como se fosse ir de
putas.
Até que ele deu uma ordem na portaria, diga
que já não vivo aqui.
O outro não gostou, mas foi irredutível,
agora quando tinha alguma aventura que queria seguir, ele ria, pois a maioria
era casada.
Pensava muito a respeito disso, de um lado
era cômodo, não tinha laços com ninguém, mas também era sozinho. Gostava de estar só em casa, estudando
algum processo do momento, ou mesmo, tinha que ir a Istambul, ou qualquer outro
lugar para resolver algum problema.
Estava um dia no escritório, com um
processo espalhado na imensa mesa que tinha em sua sala, quando a secretária
lhe avisou, que tinha chegado um senhor, sem hora marcada, me parece um caso
importante.
O leve para a sala de reuniões, pois não
quero ninguém olhando esse processo, fez inclusive uma coisa, fechou a sala com
chave.
De primeiro um impacto, era um homem
belíssimo, um belo bigode, alto como ele, com uma cara séria.
Me indicaram o senhor, pois me disseram que
fala árabe, sou libanês, a pouco tempo descobri uma coisa, que meu pai era
alemão, ele me reconheceu, mas nunca estive perto dele, tampouco de sua
família. Minha mãe emigrou para cá, se
casou novamente, mas fui procurado por um advogado de lá, tenho direito a
herança, mas há uma bela briga na família por isso.
Preciso um advogado que entenda as leis de
lá, bem como falem árabe, para me ajudar caso tenha algum problema.
Era hora do almoço, o outro o convidou para
almoçar.
Sem pensar muito aceitou, pediu se podia
esperar um momento, quando chegou a sua sala, um outro advogado, estava
tentando entrar forçando a fechadura.
Esse não suportava que ele levasse casos
importantes, portanto tinha umas belas bonificações.
Por sorte tinha voltado, o outro não sabia
aonde se enfiar.
Entrou fechou tudo que estava aberto em sua
mesa, colocou no cofre da sala, todos tinham, mas ele fazia uma coisa, tinha
aprendido com a secretária a mudar todos os dias a combinação.
Se alguém tentava, disparava um alarma.
Estava se deliciando com o novo cliente,
esse disse que tinha herdado a empresa de seu pai adotivo, de importação e
exportação, durante esses anos tive inclusive negócios com meu pai verdadeiro,
mas não esperava que ele me tivesse colocado no seu testamento.
Lhe deu o endereço do advogado de lá, para
ele fazer contato.
Assim marcamos a viagem.
Quando voltou ao escritório, viu a maior
confusão, o mesmo advogado tinha tentado abrir seu cofre, disparando o alarma.
O chefe chamou os dois, resultava que o
outro levava um processo, contra o seu cliente, ele queria saber o que tinha
entre mãos.
Por que não me falaste disso?
Levantou os ombros, sempre ganhas mais que
nós, pelo teu trabalho, acabou soltando que o seu cliente não tinha
possibilidades de ganhar o caso, ele queria saber algo para poder ganhar ele.
Ganhou sim, foi despedido da empresa.
Semanas depois ele ganhou o processo para
seu cliente, o do outro não gostou, o ameaçou, por sorte, ele foi para Beirut,
ficou lá uma semana, resolvendo o processo do seu cliente.
Gostava de estar junto com ele, as vezes
sentia isso, falta de um amigo, no caso os dois eram vamos dizer simples,
bastardos.
A família era complicada, todos queriam
sair ganhando a melhor parte, ele analisou tudo, fez uma pergunta ao seu
cliente, se ele se interessava por alguma propriedade.
Nenhuma, não penso em viver aqui, só tenho
interesse na parte de importação e exportação que ele tinha, nada mais.
Os herdeiros pensavam em vender essa parte,
quando ele abriu mão das propriedades, aceitaram que ele ficasse com os
negócios do velho.
Em seguida chamou para ficar lá um homem
que ele descobriu depois que tinha sido amante dele.
Numa comida, disse, assim eu crio uma
distancia grande, já não vivemos juntos, mas sem querer me controla.
Pensou para seus botões, mais um que eu
seria o outro.
Se tornariam sim grandes amigos, com o
tempo confidentes.
Quando o cliente que tinha perdido a causa,
atentou contra ele, que correu para ficar com ele no hospital, foi seu amigo.
Não quis avisar sua mãe pois sabia que ela
viria correndo, as vezes passava alguns dias de suas férias com eles no campo,
nunca tinha visto sua mãe tão feliz.
Ela cuidava agora do Hans, com uma doença
degenerativa, adorava quando os ia visitar, dizia, minhas filhas só vão
aparecer quando eu morra, para saber se deixo alguma coisas para elas.
Quem morreu antes foi sua mãe, um dia não
despertou, o enfermeiro que a ajudava cuidar do Hans, chegou, se preocupou pois
sempre estava levantada, preparando o café.
Ele estava saindo de casa para trabalhar,
pegou o primeiro avião que pode.
Estava era preocupado com o Hans, como ia
ser agora, ligou para suas filhas, que vieram mais por sua mãe que as tinha
criado.
Quando lhes perguntou como iam fazer com
seu pai, a solução delas, era o levar para uma residência de pessoas,
descapacitadas.
Se fosse sua mãe ele iria tentar cuidar
dela.
Ninguém sabe como, ele conseguiu desligar o
aparelho que usava para respirar, então ao contrário de um enterro foram dois.
Ele ficou furioso com as filhas dele, mas não
ia se meter.
Um advogado apareceu, avisou da leitura de
testamento, ficaram furiosas, pois deixava para ele o dinheiro que os dois
tinham no banco, que era muito, as terras e casa, ficavam para um orfanato ali
perto, além de dinheiro para o enfermeiro que desde o principio ajudava sua
mãe, a elas não deixou nada.
Descobriu a verdade, elas estavam casadas, sequer
tinha falado com seu pai, viviam desde que foram para Berlin, viviam com a
família de sua mãe que era riquíssima, não aceitaram o casamento de seu pai,
com a mulher que as tinha na verdade criado com muito amor.
Ele simplesmente passou o dinheiro que lhe
tocava para sua conta, procurou o dono do apartamento que vivia, para saber se
queria vender.
Esse disse que não, então começou a
procurar por ali, algum que gostasse, acabou encontrando um que muitos diriam
que era elitista, ficava virado para o rio Spree, era um apartamento clássico,
a principio ficou em dúvida, pois o mesmo estava cheio de papel de paredes, mas
a proprietária que tinha recebido de herança, como todo mundo criticava, mandou
tirar tudo, só iria sentir falta da mesa que tinha no escritório, mas acabou
encontrando uma num antiquário.
Esse apartamento tinha realmente um antigo
escritório, achei ótimo.
Agora era um sócio sênior, a única coisa,
era que se sentia totalmente só, as vezes em casa, pensava, como seria seu
futuro.
Um dia foi procurado no escritório, por um homem,
um pouco mais velho do que ele, pediu desculpa, mas se expressava melhor em
árabe. Era professor na Universidade de
Istambul, procurava um familiar que tinha emigrado para Alemanha.
O convidou para almoçar, pois nesse momento
estava saindo.
A conversa foi interessante, o Yussuf,
falou o mesmo que tinha sentido, sem querer riu, foi exatamente isso que me
perguntei esses dias.
Tenho já uma certa idade, mas estou
sozinho, sem família.
Pois comigo aconteceu o mesmo, meu irmão
veio embora para cá, eu fiquei, cuidei de meus pais, até morrerem, tinha claro
meu trabalho lá.
Meu irmão dava notícias, de um momento para
outro, deixou de fazê-lo, nunca soube o que aconteceu, era uma pessoa fechada
em si mesmo.
Ele contratou um dos detetives, um velho
policial que já o tinha ajudado antes, esse quando escutou o nome, sorriu, não
vou ganhar dinheiro com esse caso.
Trouxe um processo que tinha feito parte na
polícia, a foto era igual, o mesmo era um testa de ferro de um mafioso turco
aqui, acreditamos que ele quis passar a mão no dinheiro do outro, pois este o
usava de fachada, pois tinha uma certa aparência. Mas aqui usava outro nome, nunca encontramos
nada relacionado a ele, inclusive a foto foi mandada para a policia de lá,
nunca responderam.
Ficou com pena do Yussuf, lhe mostrou o que
tinha encontrado, ele reconheceu o irmão, conseguiu sim, ordem para
desenterra-lo, fizeram um teste de ADN, para confirmar, cremaram seus ossos
para levar para Istambul.
Sem saber por que o convidou um dia para ir
a sua casa, lhe mostrou tudo, Yussuf riu, dizendo me esta convidando para viver
aqui contigo?
Acabaram na cama, de manhã, despertou com
ele ao seu lado, sentado, estou aqui pensando, posso tirar uma licença, estudar
alemão, posso tentar arrumar um emprego aqui.
Ele era especialista numa determinada época
da história de Constantinopla, sonho a muito tempo escrever sobre isso.
Como tinha uns dias ainda, esperando as
cinzas do irmão, ficou na sua casa.
Adorava chegar em casa o encontrar lá, lhe
preparava comidas turcas, os dois tinham sempre o que conversar.
Lhe conseguiu um curso de alemão, assim ele
poderia se mover bem.
Foi com ele a Istambul, o curioso que ele
também vivia perto aonde tinha passado sua infância.
Depois de conseguir a licença para escrever
o livro, voltou com ele para Berlin.
Anos depois dava classe de história dessa
época na universidade.
Dizer que viveram felizes e comeram
perdizes, é mentira, mas tinham um ao outro.
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