CORMAN CORWELL
Corman, tinha recebido a chamada de sua
irmã, justo quando acabava de resolver um caso a muito parado. Nunca tinha entendido isso, sua irmã, era
mais velha do que ele, Mary, tinha passado toda sua juventude reclamando de
viver ali em Fowey, em Cornualles, sul da Inglaterra.
Tudo era motivo de reclamação, ele ao
contrário adorava, os dois acabaram de ser criados pelos seus tios, que ele
considerava como seus verdadeiros pais, sua mãe tinha morrido logo depois que
eles foram viver com seus tios, o que sua irmã não gostava, tinha uns doze anos
na época, era que a assistente social não lhes perguntou nada.
A mesma tinha sido avisada pela polícia,
que foi atender uma chamada justamente dele, Corman, a mãe estava na motorhome,
completamente drogada, era uma cantora de Rock, a peça-chave do seu grupo, seu
pai era o guitarrista, o da Mary, ninguém sabia quem era.
A assistente social, depois de chamar falar
com os da ambulância, que disseram que mais um pouco ela tinha morrido.
Olhou tudo na motorhome, perguntou se iam a
escola, quem ia respondendo tudo era ele, que era o mais novo.
Não senhora, só vamos se ficamos muito
tempo num lugar, sabemos ler e escrever nada mais.
Lhes perguntou se tinham parentes, ele
procurou a livro de endereços e números de telefone, temos a tia Anne, casada
com tio Brian, disse aonde viviam, ele tinha adorado passar umas férias longas
lá, foi o lugar aonde fomos a escola.
A mulher se colocou em ação, telefonou para
tia Anne, que no dia seguinte, estavam os dois lá.
Tinha dormido na delegacia, não havia outro
lugar para ir.
Ele abraçou tio Brian pela cintura, depois
seria muito mais alto do que ele, a coisa hoje em dia era invertida.
A mulher conversou com os dois, souberam
depois que tia Anne que não tinha filhos, sempre dizia a irmã para deixar os
meninos com ela, mas sua mãe insistia querer arrasta-los de concerto em concerto.
Seu pai concordou imediatamente, assim se
livrava dos dois, tinha horror a crianças, ele mesmo no fundo era uma criança
grande, que sonhava ser considerado o melhor rockeiro do pais.
A mulher foi com tia Anne a motorhome, ela
ficou horrorizada, no que reviravam as coisas em buscas de roupas deles,
encontraram cocaína, bem como marijuana.
Ai a coisa ficou feia.
Mary reclamou muito, depois passaria o
tempo todo o acusando de ser culpado de estarem ali em Fowey.
Assim que pode, escapou, com a desculpa de
ir para Londres, arrumar um emprego decente, lá se casou, descasou, colocou o
rabo entre as pernas, voltou a viver com os tios.
Esse nunca lhe disseram nada, ele sim, a
considerava uma desagradecida.
Seus tios depois da morte de sua mãe por
overdose na Motorhome, os adotaram efetivamente, seu pai, concordou sem sequer
piscar o olho.
Para ele, tinha sido como sair do inferno,
ir viver no paraíso.
Sua irmã, falava pelo celular, da rua,
disse aonde estava sentada, era o lugar preferido dele, para ver os barcos
saírem de noite, ou voltarem de manhã.
Comentou que ela estava mal, acabamos de
voltar do hospital, aonde tinha ido fazer uns exames, sabes como ela é, nunca
quer preocupar ninguém, principalmente o tio Brian, com a idade, ele era
totalmente dependente dela.
Saio agora para ai, acabo de resolver um
caso, vou pedir uma férias vencidas que tenho, o chefe não vai poder me negar.
Quando foi viver com os tios, também acabou
um dos problemas que tinha, tinha os lábios leporinos, tinham feito uma
operação de merda, os garotos gozavam dele.
Sua tia tomou como sempre as rédeas de tudo, o levou ao médico, lhe
disse que precisava resolver o problema, pois não queria seu sobrinho, sofrendo
bullying na escola.
Foi um alivio, inclusive passou a ter que
usar uma prótese dentaria, que foi sendo aumentada conforme foram passando os
anos, agora usava uma fixa que resolvia melhor o problema.
Seu pai, nunca se incomodou com isso, dizia
que tinha sido porque sua mãe o tinha tido de sete meses.
Até podia ser, ela estava no palco cantando
uma das músicas horríveis deles, isso ele sempre pensaria, quando rompeu águas,
mas terminou a música como se nada.
Dali para o hospital, aonde ele nasceu,
como sempre quando tinha problemas, correu para a irmã, essa veio correndo,
ficou ali, cuidando de mim, nessa época tia Anne podia ser considerada uma
solteirona, pois ainda não tinha se casado com Brian.
Mas claro, quando estive pronto, lá saímos
de turnê com o grupo, minha tia ainda disse para me deixar com ela, mas minha
mãe nunca escutava ninguém.
Por minha sorte, nessa época ainda não
usava drogas, a coisa começou depois, quando entendeu que nunca seria uma
cantora famosa, ai a coisa foi pro brejo.
Depois de resolver tudo, passou por seu
pequeno apartamento, Londres era uma merda para conseguir aonde morar, ele
vivia em cima da casa de uma senhora, a quem tinha atendido uma vez, o
inquilino, estava morto no pequeno apartamento de cima.
A mulher quando sentiu o cheiro, chamou a
polícia, mas claro era tarde.
O sujeito tinha um belo tiro entre os
olhos, quando lhe perguntaram, disse que nunca escutava nada, estou meio surda,
a entrada de cima, é pela lateral, senão teriam que passar pelo meio da minha
casa, ele quando viu o apartamento, lhe perguntou como quem não quer nada,
quanto cobrava de aluguel, ela rindo disse para ti cobrarei barato, pois assim
terei segurança em casa.
Ele só fez uma coisa de acordo com ela,
jogou tudo que estava ali fora, pintou o mesmo todo de branco, tirou os papeis
de paredes, que eram horríveis, além de velhos.
Tinha um outro conhecido, que também tinha
ajudado, esse fazia obras, reformou o banheiro, bem como a pequena
cozinha. A mulher quando o viu pronto,
disse que se fosse assim, ia esperar o dia que ele fosse embora, para ganhar
mais dinheiro, mas era tarde, tinha assinado o contrato.
Ele conseguiu caçar quem tinha matado o
homem, esse era advogado de um traficante, era desses de porta de cadeia, não
conseguiu livrar o mesmo de uma boa condena.
Esse deu ordem para mata-lo, assim de
simples, segundo a gravação, que lhes deu o que tinha cometido o crime, um tiro
no meio dos cornos.
Avisou a senhora que ia visitar sua mãe,
sempre tinha chamado a tia Anne de mãe, ao contrario de sua irmã que a chamava
simplesmente pelo nome.
Tinha um bom caminho pela frente, mas nem
se preocupou, só avisou sua irmã que iria dormir em algum motel na beira da
estrada, que chegaria a hora que chegasse.
Escutou sua tia reclamando, porque
incomodar seu menino.
Ele apesar de seus 1,90 metros de altura,
seria sempre seu menino, era com ele, que tia Anne falava tudo, os problemas, conselhos,
afinal como dizia ele era inspetor da Scotland Yard, para alguma coisa.
Tinha entrado para lá por não poder ir à
universidade, não havia dinheiro.
Na época ela ainda pensou em pedir ajuda ao
seu pai, esse tinha deixado o Rock Roll, para ser administrador de empresas,
tinha se casado, dois filhos, mulher, cachorro, papagaio, disse que nem pensar.
Na verdade, nem se lembrava da cara dele.
Como num flash back, foi se recordando de
todas as coisas, uma semana antes da mãe morrer, tinha aparecido, faziam um
show ali perto, queria os levar, sua
irmã tinha inclusive preparado a maleta, mas ele não. Quando a tia Anne disse que nem pensar, que
ela tinha a guarda dos dois, se quisesse nos recuperar, tinha que ser através
da via judicial, provar que estava livre das drogas.
Mary ficou uma fera, estava louca para sair
de lá.
Ele ao contrário só de pensar em viver
outra vez numa motorhome, lhe dava medo.
A casa de sua tia, era pequena, mas cada um
tinha seu quarto, nada ali era grande, como todas as casas velhas, perto do
velho cais, aonde chegavam, partiam todos os dias, o ferry para o outro lado. Teria que deixar seu velho rover ali, quando
o comprou de segunda mão, o mesmo estava no bagaço, mas o motor era bom, mandou
reformar o mesmo, levou meses, pintou o mesmo de verde escuro, como gostava.
Agora ia parando, se lembrando de tudo,
depois da operação nos lábios, os outros meninos deixaram de encher o saco, tio
Brian, o levou a uma academia pequena que tinha ali, de um amigo de sua época
do exército, que era campeão de boxe das redondezas, aprendeu a se defender.
Hoje em dia, podia dizer que tinha
sobrevivido a muitas coisas, na sua vida, ao exército, aonde por sua altura foi
da policia militar, depois a guerras, esteve destinado em muitos lugares, mas
nos últimos anos, a embaixadas em países complicados, foi quando aprendeu o
resto, recebeu um curso para poder investigar os problemas, quando saiu foi
convidado para a Scotland Yard.
Ali começou sua carreira, hoje em dia,
cuidava de um projeto dentro da empresa, como ele chamava a Scotland Yard,
revisava casos sem resolver, tudo por culpa de um bom filho da puta, que
pensava que era seu amigo.
Achava seu companheiro na época, nos
últimos tempos muito estranho, quando lhe perguntou, recebeu um comentário de
mal humor, meta-se na tua vida.
Um belo dia por culpa dele, recebeu uma
bala no ombro esquerdo, bem como um tiro na perna direita, motivo pelo qual ele
usava um bastão até hoje.
Por pouco não lhe amputam a perna, mas
ficou como uma perna mais curta que a outra, o bastão lhe servia de apoio, mas
claro, já não podia estar nas ruas.
Seguia atirando muito bem, tampouco queria
se aposentar, ficar fazendo o que.
Quando se recuperou, voltou a trabalhar, o
maldito de seu companheiro, tinha desaparecido, foi encontrado morto, anos
depois, tinha deixado muito mal sua mulher e filhos, trabalhava com um
traficante, como ele diria na hora que soube, cada um tem seu merecido.
Sequer foi ao enterro, que a Scotland Yard,
quis camuflar, imagina um de seus homens metido com o tráfico de drogas.
Até gostava de seu novo trabalho, porque
tinha tempo de analisar, buscar provas, reanalisar tudo outra vez, já tinha
resolvido vários casos dados como parados por falta de provas.
Para isso seu carro tinha tudo na direção,
era moderno nessa reestruturação do mesmo.
Parou para dormir no meio do caminho, num
motel de um posto de gasolina, mais a frente seria impossível, pois entraria em
zona de estrada estreitas, só conseguiria em alguma vila que tivesse um pub com
um pequeno hotel, isso ele não gostava muito.
Anos atrás tinha sido procurado por seu
pai, que queria sua ajuda, para liberar um de seus irmãos, preso com drogas,
não moveu nenhum dedo.
O velho fez o maior escândalo, como podia
fazer isso com a família.
Ele ficou rindo, não sei como tens a cara
de pau para falar isso, aonde estavas quando eu e minha irmã tivemos que dormir
na cadeia, porque os dois estavam drogados, o mandou tomar no cu.
Talvez se fosse sua irmã, essa sim teria o
ajudado, embora não fosse filha dele.
Quando conseguia tirar umas férias, passava
pelo menos cinco dias com Anne e Brian, com os dois podia conversar horas,
sobre qualquer assunto.
Mas adorava os dias que saia com Brian,
para andar pelas noites, em que a chuva tinha deixado as ruas perto do cais
molhadas. A preocupação dele, era
quase sempre a mesma, se ele tinha alguém em sua vida.
Para ele se encontrar com a Anne, tinha
sido como encontrar um porto seguro, a segunda guerra o pegou desprevenido,
primeiro serviu no deserto, contra Rommel, o que nem sempre foi fácil, segundo
ele viu morrer muita gente, depois na Europa no assalto final.
Isso durante anos o tinha desconcertado, seu
ponto era, como o ser humano era capaz de tanta barbárie.
Ele não falava muito, como dizer Brian,
hoje em dia as guerras são piores, mas desumanas com as crianças, essas são
muitas vezes manipuladas por fanáticos.
Brian tinha vivido também os últimos anos
da Palestina Inglesa, segundo ele, por sua sorte, ele foi repatriado primeiro,
pois tinha sofrido um atentado, nunca se descobriu por parte de quem.
Foi no hospital, que conheceu a Anne, as
largas conversas com ela, o ajudaram.
Quando voltou a vê-la anos depois,
finalmente se casaram, ela já não tinha idade para ser mãe, ele por outro lado,
era mais velho. Mas com os dois, ele era
o mais próximo a um filho que ele poderia ter sonhado, adulto era o melhor,
pois o entendia.
Anne ao contrário sempre tinha sido uma
mulher independente, as vezes escutava a reclamação dos dois, pois se ela ia ao
médico, era ele que sofria, já ia imaginando o pior, por isso ela preferia ir
sozinha.
Agora com a idade, aceitava que Mary a
acompanhasse, mas desde que não criasse problemas depois, gostava de explicar
para o Brian da maneira mais suave.
Realmente o problema deve ser gordo, para a
Mary o chamar, verdade seja dita, a ela não era fácil resolver problemas, nem
tomar medidas.
No dia seguinte, deixou o carro, pegou seu
saco, ainda usava o mesmo do exército para viajar, era o mais prático que
conhecia.
Brian estava o esperando do outro lado,
junto a saída das escadas do ferry, bastou olhar para ele, para o ver
assustado.
As vezes tinha a sensação de que aquele
homem que amava como se fosse seu pai, era mais frágil que uma criança.
Dá última vez que tinha saído de passeio
com ele, contou que dormia em quarto separados, pois os pesadelos que sempre o
tinha atormentado, tinha voltado, talvez porque agora tenho medo que nos
aconteça alguma coisa, as vezes comentava rindo, que a Mary, apesar de ser mais
velha que ele, não era muito pratica em resolver problemas.
Foram andando de braços dados como sempre
tinham feito, de vez em quando o olhava, sorria, já vejo cabelos brancos,
nesses cabelos rebeldes.
Dizia isso, porque ele tinha os cabelos
crespos, quando era jovem, usava alguma coisa para os deixar lisos, mas se o
produto secava, em seguida estava como loucos.
Era verdade, o tempo estava passando.
Cruzaram com um policial, ali só existia
uma delegacia simples, dois carros para atender as outras vilas pequenas em
volta, um inspector, que fazia as vezes de detetive, duas secretárias, bem como
duas celas.
Quando entraram na pequena casa, agora ele
era obrigado a se curvar, para passar pela porta, mesmo a escada para o andar
de cima, ele tinha que tomar cuidado para não bater a cabeça.
Sua irmã o abraçou, fazendo um gesto muito
peculiar nela, mexer em seus cabelos, como fazia a mãe dos dois.
Fez sinal de silencio, depois falamos,
disse ao ouvido dele.
Mas qual, com a Anne isso era difícil, ela
percebia tudo.
Depois de se ajoelhar para beija-la, ela
olhou feio para a Mary, como sempre tens que chamar a cavalaria para te ajudar,
verdade.
Mas não soltou a mão dele, sempre tinha
sido seu preferido.
Sente-se meu velho, pois de qualquer
maneira saberás por que nosso filho veio correndo quando sua irmã o chamou.
Os resultados do exames não foram bons, Mary
se assustou, porque tomei algumas decisões como sempre, na frente do médico.
Sentia dores de estomago, que achei que era
da nossa alimentação, que é a mesma desde sempre.
Mas na verdade, quando retiraram meu
ovário, motivo pelo qual nunca pude ser mãe, devem ter deixado alguma coisa
para trás, isso virou um quisto, depois um tumor, já se estendeu demais, as
chances são de 10%, por isso, resolvi, nada de quimioterapia, ou radioterapia,
prefiro ir diretamente a cuidados paliativos.
Não sabem quanto tempo aguentarei, mas uma
coisa é, nada de sofrimento, nunca soube levar muito bem, isso de me fazer de
vítima, ou mesmo estar doente.
Teremos que colocar nossas coisas em ordem.
O grande problema, seria, quem herdaria o
Brian, ele segurou a mão livre daquele homem que amava como um pai, não se
preocupe, pensarei em alguma solução.
Anne se virou para a Mary, vê, sempre fazes
de um copo d’água uma tempestade, eu já ia falar com teu irmão.
Teria que ser ele na verdade, Brian nunca
tinha tido paciência com a Mary, bem como ela sempre reclamava dele.
Levou suas coisas para cima, seu quarto
continuava o mesmo, a não ser a cama, que ele tinha comprado a muitos anos uma
maior, porque a original era pequena para ele.
Estava colocando as coisas no velho
armário, quando sua irmã entrou.
Foi direto ao assunto, isso era dela, me
desculpe, mas sabes que lido muito mal com isso de doenças, câncer, tudo
relativo a problemas.
Realmente o problema, seria quem ficaria
com o Brian, apesar da idade, nosso relacionamento nunca foi bom, nem o tempo
ajudou muito.
Tenho o convite de uma amiga de Cardiff
para ir ficar com ela, com o que ganho, posso viver bem.
Bom vou pensar no assunto.
Desceu, preparou uma sopa que tinha
aprendido com a Anne, para os dias frios, com problemas tudo se cura com uma
boa sopa de legumes.
Ela mesma sentada numa cadeira, foi
limpando as batatas, cenouras, ele ia fazendo a seguinte parte, cortar tudo em
juliana. Olhou a geladeira, encontrou
outras coisas para acrescentar como ela fazia, tudo que tinha sobrado um pouco.
Não voltaram a tocar no assunto.
No dia seguinte, se levantou como sempre
fazia, as seis da manhã, tomou um bom banho, fez a barba, nunca tinha suportado
levar a mesma, a raspava todos os dias.
Se vestiu, jogou um casaco nas costa, mas
quando saiu, estava fazendo frio, o vestiu rapidamente, o problema do frio ali,
era a humidade, por causa do mar.
Sabia aonde o chefe de polícia tomava café,
foi para lá.
Na verdade, estava era buscando soluções.
Encontrou o mesmo, sentado no pub, de uma
certa maneira que vigiava quem saia do primeiro ferry que chegava.
Depois de lhe dizer bom dia, foi soltando,
esse hábito do primeiro ferry é muito importante, pois é nessa hora que chegam
os mais complicados.
Perguntou se ele estava de férias, comentou
por alto, que teria que conseguir um emprego por ali, pois tenho que cuidar dos
meus velhos.
Bom, venha trabalhar comigo, o inspetor
chefe se aposenta, eu dentro de um ano, também, assim podes tomar relevo.
Lhe lembrou do problema que tinha, não se
preocupe, temos gente nova na praça, coloque os mesmos para correr atrás dos
bandidos, só tens que dar a ordem.
Foi até a pequena central de policia dali,
ele conhecia todo mundo, foi dizendo bom dia, que bom revê-los a todos, os que
eram jovens, não conhecia, sabiam de sua fama.
Na sala do chefe, ligaram para Londres,
falou com seu chefe, dos problemas que tinha pela frente, não os posso levar
para ai, primeiro porque não tenho espaço no apartamento, segundo, porque estão
velhos para se adaptarem.
O outro reclamou, que agora o departamento
que tinha criado para ele ia ficar sem cabeça, tu sabes que eres a cabeça
pensante do mesmo.
Mas aceitou, qualquer coisas, sempre
poderás voltar.
Bom o chefe Dickson ia mandar o pedido da
transferência dele, mas se fosse possível ele devia começar a trabalhar logo.
Quando saiam um dos novos, ficou parado
olhando para ele.
Sabe de quem é filho esse sem vergonha,
falou o nome de um companheiro de escola.
Ótimo, viu que o mesmo estava com um
processo nas mãos.
O que passa?
Bom o senhor me desculpe, mas o inspector
chefe, desde que vai se aposentar, nunca dá muita atenção aos casos que vejo
mais complicados.
Sem que os dois dissessem nada, foi abrindo
todo o processo na frente deles.
Corman, sem querer, foi analisando tudo, a
cada papel, que ele colocava em cima da mesa, o pegava, lia inteiro.
Tirou rapidamente do bolso, um bloco que
usava, hoje em dia todos usavam uma gravadora, mas ele gostava mais de
escrever.
Quando o rapaz, acabou, soltou, eu te
entendo, olhaste por esse prisma, mas veja bem, a pessoa tem uma coartada,
conseguira escapar, a não ser que essa mulher tenha mentido, que é o mais
certo.
Foi analisando com ele todo o caso, o chefe
não dizia uma palavra.
Sem querer os outros que estavam ali, foram
se aproximando, como querendo saber o que ele estava fazendo.
Tinha uma parede de vidro que separava dois
escritórios, pegou um lápis tipo marcador, foi escrevendo ali os nomes, as
hipóteses, o que necessitavam, uma ordem para ver a casa do sujeito por dentro,
bem como visitar ou trazer essa mulher a delegacia.
Quando ele parou, o chefe disse, agora
vocês vão aprender como se trabalha na central, o Corman vai trabalhar conosco
durante um bom tempo, já viram sua maneira de trabalhar.
Willton, vais ser o ajudante do Corman,
aviso, ele não pode correr atrás de um suspeito, tem um problema na perna, por
isso usa bastão.
Já que estamos nisso, Willton, vá com algum
companheiro buscar essa mulher, vamos a interrogar.
Falou com o chefe, sai de casa, ninguém
tinha se levantado ainda, só vou até lá para avisar, já volto, a casa de seus
tios, era relativamente perto.
As pessoas de mais idade o conheciam, os
mais jovens olhavam para ele, aquele homem imenso, com os cabelos crespos grandes,
com um abrigo que ia até a metade da perna, era uma coisa diferente ali.
Chegou em casa, sua irmã estava preparando
o café.
Lhe disse que problema resolvido, já tenho
emprego aqui na delegacia, agora só tenho que ir ao outro lado, trazer meu
carro para cá.
Aquele velho jeep, dizes tu?
Mas nunca me deixa nas mãos.
Nisso entrou o Brian, se via que tinha
dormido mal, o abraçou, disse baixinho, meu velho, consegui um emprego aqui,
fico trabalhando na delegacia.
O sorriso que se estampou na cara do velho
foi ótimo, ah meu filho, sabia que podia sempre contar contigo.
Ele só foi a Londres, para assinar sua
transferência, trazer roupas, bem como algum livro novo que ainda não tinha
lido, comprar mais alguns.
Seguiria pagando o aluguel do apartamento
por um tempo, pois não o queria perder, nem tampouco levar as coisas que
estavam lá, para Fowey.
Sem querer, aconteceu uma coisa, o pessoal
jovem, vinha sempre consulta-lo, o que tornou seu trabalho mais fácil,
infelizmente ali os mais antigos, já sonhavam com a aposentadoria.
Willton, virou seu braço direito, era
inteligente, queria sempre aprender mais, o incentivou a ir em frente.
O duro era voltar para casa, agora ia
sempre comer, assim controlava sua irmã, bem como aplicava alguma injeção em
sua tia, ela se negava a fazê-lo, faziam uma coisa, cada dia um dormia numa
poltrona aos pés da cama dela.
Mas meses depois morreu segurando a mão
dele, antes lhe agradeceu que ele ficasse para cuidar do Brian.
Esse era realmente o elo mais frágil da
família.
Sua irmã, mal a tia morreu, foi viver em
Cardif com sua amiga, arrumou um emprego por lá.
Ele conseguiu uma senhora que vinha limpar
a casa, deixava alguma coisa de comida, mas ele normalmente de noite preparava
comida para os dois, se fosse algo diferente convidava o Willton.
Brian, foi quem lhe disse uma vez, esse
rapaz te olha com adoração.
Tio, eu estudei com seu pai, podia ser meu
filho, nada disso. Evidentemente ali
tinha esse problema, em Londres, se escapava para alguma aventura de uma noite,
ou um final de semana, mas nunca além disso.
Sabia que tinha uma profissão complicada.
Quem abordou o assunto foi o Willton um dia
no carro, meu pai fala muito em ti, se lembra da época da escola, me pediu para
convida-lo, ele não vive aqui na cidade, mas sim mais afastado, realiza o sonho
de sua vida, coisa que ele queria fazer quando jovem.
Pinta o dia inteiro, gosta de estar nessa
casa. Com o dinheiro do meu avô, ele
fez como queria, vais gostar, pois é uma casa grande, eu vou sempre que posso.
Começou a rir, me contou que descobriu o
sexo contigo, aliás os dois juntos.
Ele parou para pensar, disse é verdade, mas
te lembro que sou teu superior, esses assuntos só num pub, tomando uma cerveja,
nunca num carro de polícia, indo para o lugar de um crime.
Eles tinham que atender as vilas vizinhas
também, um dia reencontrou seu velho amigo, ficaram se olhando, estavam iguais.
Willton pai, estava mais magro, mas os
olhos azuis, os cabelos loiros, eram a mesma coisa.
Foram comer os três juntos.
Meu filho está encantando de trabalhar
contigo, me disse que eres duro na queda, coloca as coisas no seu lugar, que
agora a delegacia funciona bem, falou isso, enquanto o filho tinha ido buscar
cervejas.
Lhe perguntou se ele tinha alguém em sua
vida?
Velho amigo, impossível, nessa vida é
difícil ter alguém, pois se constróis uma família, não sabes que futuro estás
dando para ela.
Por outro lado, nunca me apaixonei por
ninguém.
Pois eu nunca te esqueci, quando foste
embora para entrar para o exército, eu fui para a universidade estudar o que
não queria, meu sonho era belas artes, mas o velho queria que eu fosse alguém
na vida.
Depois me casei, tive meu filho, mas claro
sabes como é um casamento arrumado, um belo dia ela se fartou, arrumou um outro
homem, foi embora com ele, vive em algum lugar perdido da América profunda, as
vezes escreve para seu filho, mas não o quis levar.
Um pouco como tua mãe.
Não a minha queria me levar, eu é que não
queria ir.
Tens que vir um dia conhecer meu studio.
Ele foi, mais por curiosidade, volta e meia
agora se lembravam como os dois se apanhavam para se beijarem, isso ele
guardava na sua cabeça, foi a melhor coisa que lhe tinha acontecido na sua
juventude. Adorava os beijos do Willton
pai.
Esse o recebeu bem, viu seu trabalho, lhe
perguntou se vendia.
Sim, alguns vendo nas pequenas galerias das
vilas próximas, mas claro meu tempo passou, eu faço isso mais para me ocupar.
Outro dia depois que estivemos juntos, me
lembrei de uma coisa, mostrou um quadro, os dois adolescentes, com os cabelos
compridos, abraçados.
Sou honesto de te dizer que foi a época
mais feliz da minha vida.
Da minha também soltou ele, adorava teus
beijos, não sei se porque era como se estivéssemos pecado, escondidos.
Ficaram os dois rindo muito, até que ele se
aproximou, se beijaram, foi como recuperar algo de sua vida.
Se deram conta, quando estavam na cama,
depois do sexo, abraçados.
Riram quando se lembraram que tinha que se
apanhar para fazer sexo.
Mas nunca como tinha feito, agora eram uns
homens de cinquenta anos, com experiencia.
Um dia o filho os encontrou juntos, se
matou de rir.
Foram levando, vinha passar os finais de
semana com ele, trazia junto seu tio, Brian era uma excelente companhia,
gostava de conversar com os dois, nada de ficar vendo televisão, as vezes
jogavam pôquer, uma coisa rara por ali.
Quando um dia, foi avisar seu tio, que ia
trabalhar mais cedo, o viu dormindo, o chamou, mas não despertou, entendeu,
tinha um sorriso nos lábios.
Semanas antes tinha contado aos dois, que
quando voltou da guerra, esteve mal principalmente que o homem que amava tinha
morrido em seus braços.
Anos depois encontrei a Anne, ela sempre
soube disso, mas eu a amava a minha maneira, era meu porto seguro.
Desta vez tinha alguém ao lado dele, sua
irmã veio ao enterro, depois para surpresa dos dois, ali estava um advogado, a
casa ele deixava para ele, seu filho, além de dinheiro no banco, para ela
também dinheiro, mas tinha uma caixa forte, que era só dele.
Se lembrou de uma vez ter ido com seu tio
ao banco, ele ter guardado alguma coisa lá.
O que encontrou foi uma série de diários,
falando de sua vida, mas iria ler com calma.
Sua irmã resolveu ir viver em Londres,
queria tentar outra vez ter uma vida interessante.
Lhe cedeu o apartamento que vinha pagando
todo esse tempo.
Agora passava o tempo todo na casa do homem
que finalmente amava, tinha uma saleta que ele usava para analisar algum caso
que estivesse trabalhando, assim não lhe incomodava quando pintava.
Willton jr, era como o filho que ele
gostaria de ter tido.
Com ele junto com seu pai agora, ele podia
se arriscar, falou com os dois, queria tentar ir para uma cidade grande.
Foi para uma entrevista, voltou para casa.
Gosto de viver aqui, enquanto esperava para
a entrevista, vi coisas que não gostei, prefiro seguir trabalhando aqui.
Agora ele era o chefe de polícia, os
policiais e detetives, tinham elegido Willton Jr, como inspector chefe, pela
sua maneira de trabalhar.
As vezes tinha medo, de como estava
feliz. Se lembrou dessa sensação, ali
com seus tios estava bem, era feliz vamos dizer assim, tinha arrumado sua boca,
lhe davam tudo que ele precisava, carinho, adorava seu tio Brian o colocar na
cama, todas as noites, conversar com ele.
Ela apareceu, queria que fossem com ela,
mas só de imaginar perder tudo isso, estar de novo num mundo que não gostava,
disse não, mas essa sensação de felicidade que tinha agora o fazia pensar.
Os dois conversavam muito, ele fez uma
coisa que depois poderiam dizer, que se arrependeria, Wilton pai, necessitava
de uma chance, se lembrou de um galerista que tinha conhecido, depois que
estavam juntos, ele tinha feito uma série que claro não eram para as cidades
dali perto.
Tirou fotos, mandou para esse dono que
galeria, este veio pessoalmente para ver.
Resultado, Willton fez sucesso, já tinha
exposto duas vezes em Londres, mas claro a fama, estar cercado de gente que
queria estar com ele, foram se afastando.
Nesse meio tempo tinha mandado fazer uma
coisa, com o dinheiro do tio.
Mandou reformar a casa, contratou um
arquiteto que Willton conhecia, este fez o projeto, retirando todo o centro da
casa, só deixando as paredes, refez a casa como ele gostaria.
Foi comprando os moveis todos como ele
gostava, nada demais, uma poltrona de orelha, para perto da janela que dava
para a parte detrás da casa, com uma mesa e um abajur ao lado, para sentar-se
tranquilamente e ler. Depois o salão era grande, com uma cozinha americana.
No andar de cima, só ficaram dois quartos,
os dois com banheiro, assim ficava como ele gostava.
Willton Jr, não gostou do comportamento do
pai.
Foi ele que o fez entender, teu pai, nunca
pode realizar seus sonhos de ser pintor, primeiro por culpa de teu avô, depois
se casou, tinha a ti para cuidar. Aqui
ele nunca passaria de pinturas banais, o que ele tem feito, o colocou a outro
nível.
Tem que ser ele a descobrir, o que quer de
sua vida.
Mas não fizeste nada para prendê-lo.
Era uma verdade, não tinha mexido um dedo, aliás
tinha sido ele que o tinha ajudado a seguir seu sonho.
Agora estava expondo em Paris, com o
dinheiro das suas primeiras exposições, tinha um studio em Londres, tinha feito
novos amigos, gente que pintava, ou escrevia.
Ele ao contrário tinha descoberto um mundo
novo, quiça talvez pelos diários do tio.
Nele contava como um jovem despreparado, teve
que ir para o exército, ir para a guerra na Africa, tão diferente de aonde
tinha saído, viver no meio do deserto, ia junto com ele seu melhor amigo, sem
querer se aproximaram tanto que se tornaram amantes, depois foram para a guerra
na Europa, avançando até as portas de Berlin.
Foi quando seu amigo morreu em seus braços, relatava o desespero, a
sensação que estava perdido no meio de alguma coisa que não conseguia
descrever, até encontrar na Mary, justamente quando ela foi obrigada a retirar
os ovários, nunca poderia ter filhos.
Embora ele sonhasse em ter um filho, com
quem pudesse falar, relatava apesar de saber que o tinha em contrapartida da
perda de sua mãe, de um pai que não o queria.
Mas foi o filho perfeito para ele, adorava
as conversas, os passeios quando ele já era mais velho, quando vinha visita-lo.
Relatava uma vez em especial, tinha
chovido, os dois saíram de casa, de braços dados, ele lhe perguntando, porque
nunca tinha ninguém em sua vida, quando me falaste da sensação de ter medo de
causar ou perder alguém, me lembrei do amor de minha vida.
Sem querer aquela conversa me fez bem,
queria te contar como tinha sido, mas antes comentei com tua tia Anne, que
sabia dessa parte, me disse que não, cada um resolve à sua maneira sua vida.
O último, esse ainda estava na sua mesa de
cabeceira, era ele falando de ver seu filho querido com o Willton.
De tonto Brian não tinha nada, escrevia, um
dia Willton vai ser realmente um bom pintor, ira pelo mundo, será quando
perderá meu filho.
Ele achava interessante, quando tudo
aconteceu, ele imaginou que ia sentir muito, mas adorava o espaço que tinha em
sua casa, como ocupação, começou a escrever, queria testar sua memória,
procurou se lembrar do primeiro caso que tinha resolvido na Scotland Yard, depois
quando trouxe suas coisas de Londres, trouxe duas caixas cheias de cadernetas
aonde anotava tudo. Foi procurar
justamente esse caso, agora cruzava suas lembranças com as coisas escritas, era
como escrever, com um certo distanciamento, nada emocional, era como relatar
algo que tinha acontecido, analisando cada parte do processo.
Escreveu a lápis, como gostava, depois
mostrou para o Willton Jr, que riu muito, perfeito.
Dias depois lhe trouxe um Laptop, creio que
o melhor será escrever aqui, depois imprimes.
Quando ele depois de corrigir umas duas
vezes, entendeu que tinha que criar um personagem, que fosse um inspetor, como
ele tinha sido, o fez da mesma maneira, um homem alto, com um casaco do
exército, que ele tinha usado durante muitos anos, que era grande, com um
chapéu surrado, que usava nos dias de chuva, para andar por Londres.
Reescreveu tudo, quando deu para o Junior
ler, esse se levantou, o abraçou, ficou incrível.
Agora estava sempre ali em sua casa, vinha
conversar com ele a respeito dos casos que estava levando.
O incentivou, acabou mandando o texto para
um editor em Londres, este o convidou para ir até lá conversar.
Junior era mais inteligente que ele, lhe
disse, para fazeres um comparativo, mande para outra editora, assim pode
analisar com ponto de vistas diferente.
Aonde aprendeste isso.
Com o melhor professor que pude ter.
Ele fez assim, aproveitou, foi a Londres,
para ser conversar com os dois, procurou sua irmã, o apartamento era outro,
tinha colocado papel de parede que ele odiava, mas ganhava bem num emprego que
tinha, ao parecer tinha encontrado um certo equilíbrio.
Ficou num hotel antigo que ele conhecia, no
centro, mais ou menos no meio caminho entre as duas editoras.
Foi conversar com os dois, nem disse sim,
tampouco não, depois analisou as propostas.
Qual era a melhor oferta, foi a que ele
aceitou, mas nada de contratos. Não
queria ter a obrigação de escrever, tinha sem querer desenvolvido um processo
todo seu.
Antes de ir embora, foi visitar o Willton
pai, era uma outra pessoa, convivia com um rapaz, muito mais jovem do que ele,
só lhe disse uma coisa, mas em tom de amizade, cuidado com as drogas, esse
rapaz, as toma.
Ele lhe perguntou como sabia?
Lhe falou que ele tinha as pupilas
dilatadas, mas não disse mais nada.
Só ficou sabendo através do Junior que seu
pai não tinha gostado do comentário.
É interessante, quando te conheci, me
apaixonei por ti, mas depois pensei, ele é meu chefe, é mais velho, não tenho
chance nenhuma, fiquei contente, quando te descobri vivendo com meu pai, como
adoro vir a tua casa, conversar. Sempre
me cobram porque não tenho ninguém, sem querer digo uma coisa que me disseste
uma vez, que não queria fazer ninguém sofrer.
Mas fiquei furioso com meu pai, além de o
teres ajudado a finalmente ir em frente, as vezes parece um tonto.
Quando fui a Londres da última vez, estava
cercado de homens que são pintores, escritores, mas todos no convívio
superficial.
Aonde está as conversas que tínhamos,
sempre sérias, isso busco quando venho aqui.
Eres como um filho para mim Junior, Brian,
me disse que me olhavas de uma maneira especial, mas não quero de maneira
nenhuma perder isso.
Tempos depois, um dia Junior apareceu com
um homem que tinha conhecido, um novo advogado que tinha vindo se instalar na
cidade.
O trazia com ele, quando vinha jantar,
ficavam para conversar.
Sem querer, pois o mesmo tinha comprado uma
casa, queria fazer o que ele tinha feito, recomendou o arquiteto, que apareceu
para agradecer.
Lhe ofereceu uma bebida, por acaso nesse
dia, tinha chegado uma quantidade de livros que já estavam a venda, lhe deu um,
se gostas de ler, depois me conta se gostas ou não.
Recebeu um telefonema, dizendo que tinha
lido de cabo a rabo, escreves bem.
Saíram para um jantar, depois foram a casa
do arquiteto, ele só era ligeiramente mais jovem do que ele, foi diferente, era
atencioso com ele na cama, procurando pontos aonde ele pudesse se excitar, foi
melhor que esperava.
Nem podia comparar com o Willton, porque
tinha sido como encontrar seu companheiro de juventude.
Com Barry, era diferente, mas viviam em
mundos opostos, ele precisava de uma vida social, por causa de seu trabalho,
isso ele odiava.
Mas se viam sempre sem compromisso.
Um belo dia Junior apareceu em sua casa,
agora ele estava aposentado definitivamente, podia viver tranquilo, tinha um
novo caminho a seguir.
Entrou na casa, estava mais branco do que
era.
O que aconteceu meu filho?
Sem querer sempre o chamava de filho.
Lhe mostrou uma mensagem que tinha
recebido, seu pai estava preso em Londres, o tinham encontrado no studio,
completamente drogado, com ele um rapaz menor de idade.
Telefonou para um amigo seu, falou com ele,
tinha saído nos jornais, tanto na televisão, como na imprensa.
Junior foi para lá, esse amigo dele, lhe
conseguiu um advogado.
Não esperava escutar o que veio em seguida,
que tinha se sacrificado na vida pelo filho, que agora lhe tocava viver
finalmente seu tempo.
Mas claro, o escândalo, sempre tem dois
lados, deixou de vender como vendia, foi para Paris, lá se meteu em confusão
outra vez.
Acabou voltando para casa com o rabo entre
as pernas.
Quando tentou se aproximar, apareceu
justamente num dia que ele estava revisando seu novo livro, primeiro olhou a
casa inteira, que não tinha conhecido.
Soube que teu livro fez sucesso?
Sim, ganhei um bom dinheiro, agora está
sendo traduzido para o Francês, será editado lá, bem como nos Estados Unidos.
Estou agora revisando o segundo, tenho que
entregar dentro de dois dias, por isso vou a Londres amanhã, aproveito para ver
minha irmã.
Willton lhe pediu desculpa pelo que tinha
acontecido da última vez que o tinha visto.
Não passa nada, tinhas direito a viver tua
vida, como queiras, sem querer fui eu que te dei o empurrão, a única coisa que
não gosto, é que teu filho que te adora, veja que o colocas em segundo plano.
Lembra-se que comentaste comigo, quando nos
reencontramos sobre minha mãe. Pois é
ela tinha tudo para ser um sucesso, tinha voz, presença cênica, o único
problema eram, as companhias, inclusive meu pai. Pensar em viver numa motorhome outra vez,
quando eu sonhava em ter uma família normal, um pai que me colocasse na cama,
como fazia o Brian, uma mãe que se preocupasse que eu fosse a escola, que
estivesse limpo, que me ensinava o que eu não sabia.
Confesso a ti, que ao contrário de minha
irmã, nunca senti falta dela, tampouco de vê-la drogada, quem esta do outro
lado, não é nada agradável.
Mas a vida sempre foi tua, deves pensar só
nos que estão em tua volta, no teu caso teu filho.
Pois é, ele agora vive com esse advogado,
está apaixonado.
Fico contente, você não?
Sinto que perdi meu lugar, meu rumo, agora
é como se estivesse tentando me acomodar aqui, embora não seja o que quero.
Chegou um momento, pediu desculpas, mas
tinha que acabar o trabalho que estava fazendo, tenho que corrigir, imprimir
outra vez, sair amanhã, muito cedo para Londres, quando volto te procuro.
Willton ainda tentou beija-lo, pediu
desculpas, mas tinha um relacionamento.
Foi embora furioso, mas isso já não era com
ele.
Em Londres, entregou o texto, falou muito
com seu agente, que já estava com o terceiro em linha.
Depois de ver sua irmã, recebeu uma chamada
do Junior, alguém da Scotland Yard, de Londres o procurava, leu o nome, buscou
em sua memória quem poderia ser.
Era um companheiro que tinha trabalhado no
inicio numa mesma delegacia, mas depois cada um foi para outro lugar.
Esse, agradeceu a chamada, perguntou se
podiam conversar.
Estava a mesma coisa, um pouco mais gordo,
nada demais.
Lhe tinham oferecido ser chefe de policia
aonde ele tinha sido antes, o teu lugar está sem ser preenchido a algum tempo.
Contou que tinha tido um principio de
enfarte, mas que o trabalho atrás de uma mesa, não era o seu, o que ele achava.
Contou para ele, porque tinha voltado a
cidade de aonde tinha saído, mas depois que estava livre, fui ficando, pois lá
tinha paz que precisava, se é isso que busca, tudo bem.
Seu inspetor chefe, é um dos melhores que
já trabalhei, o queriam aqui em Londres, mas ele prefere ficar lá, qualquer
coisa, ele te leva a minha casa, vivo perto da delegacia.
Apertaram as mãos, não sei se me
acostumarei ao ritmo de lá.
Ah, li teu livro, me lembrei do caso, na
época ninguém imaginou que ias resolver sozinho o mesmo.
Pois é acabo de entregar o segundo, claro
mudo o nome dos personagens, algumas coisas que vi no momento, tudo começou
como um exercício de memória, sempre me disseram que eu tinha uma estupenda,
então a estou usando.
Só se foram ver meses depois, uma noite num
pub para jantar, o mesmo não tinha se adaptado, prefiro viver atrás de uma
mesa, mas em Londres, minha mulher odeia isso aqui.
Quem seguia o visitando, seja para uma
consulta, ou para conversar era o Junior.
Contou que o relacionamento com seu pai,
tinha ido a merda, me da mais prazer falar contigo, do que com ele.
Outro dia cheguei ao seu studio, estava
cheirando cocaína, para ter inspiração, por mais que eu argumentasse que não ia
funcionar, me mandou embora.
Sabemos como isso funciona, mas sou honesto
se um dia o pegam por aí, não penso em defende-lo.
Meses depois, o chamou.
Perguntou se podia ir a casa de seu pai,
quando chegou lá, pelo visto estava morto a dias, uma sobredose, quando
levantou a manga da camisa, se viam várias picadas.
Olhou em volta a pintura, nada era mais
como ele tinha ficado famoso, uns quadros escuros, complicados, algo que era
difícil alguém querer ter nas paredes, sem querer verbalizou em voz alta, seus
próprios fantasmas.
O jeito foi o Junior chamar seus
companheiros, que vieram em seguida, teriam que fazer uma autopsia, que seria
numa cidade maior.
Junior optou por não falar muito no
assunto, mesmo quando um jornalista tentou entrevista-lo para isso, seu
namorado o advogado, resolveu tudo.
No enterro que não tinha sido anunciado,
foi uma coisa simples, os dois, além dele no cemitério.
Ele perdeu o rumo completamente, acho que
ele nunca teve coragem de ir embora daqui, porque sabia que não tinha
estrutura. Quando fui chamado a
Londres, para entrevistas, disse que não, ele ficou furioso, foste o único em
entender.
Junior na verdade, que quando vim para cá,
foi pensando em ficar só um tempo, mas sempre amei como meus pais, meus tios, não
o fiz como obrigação, mas porque os queria.
Depois aqui encontrei uma coisa que não
tinha em Londres, paz, por isso fui ficando, agora tenho minha casa, meu canto
aonde trabalhar, mas não renego tudo que fiz na minha vida, nem por aonde
andei, cada um tem direito a sua trajetória.
Eu te entendi quando não quiseste ficar em
Londres, aqui sempre tiveste liberdade para trabalhar, lá tens que lidar com
tipos mais perigosos, além de companheiros que não sabes se pode confiar, lhe
contou finalmente o que lhe tinha acontecido.
Só senti pela mulher e filhos, alguém
sustentar mulher, filhos, escolas, apartamento, vendo como ganham dinheiro mais
fácil um traficante, deve ter força para vencer isso.
Eu que nunca tive família, para mim era
mais fácil, o meu dinheiro dava.
Tive um companheiro que saiu da polícia,
para trabalhar em segurança privada, porque tinha duas famílias para sustentar,
isso ele não conseguia com seu salário, mesmo vivendo no subúrbio.
Toda essa complicação, acabou afetando o
relacionamento dele, com o namorado.
Apareceu em sua casa, tinha herdado a do
pai, bem como dinheiro que ainda tinha no banco, pediu se podia ficar lá um
tempo, foi ficando.
Aqui me sinto em paz, como cada vez que
vinha te procurar.
Quando saiu seu terceiro livro, se
interessaram em transformar em série, tinha duas propostas uma americana, outra
da BBC, ia a Hollywood, conversar com a produtora de lá, convidou o Willton que
tinha férias para ir com ele, foram os dois.
Mas claro lá queriam que ele transformasse
o personagem em americano, pois como estava no livro era muito inglês.
O da BBC, ele gostou mais, o produtor
perguntou se pensava em alguém como tipo para o papel, ele olhou o Willton,
disse que um tipo como ele.
O queria para fazer o casting, disse
rotundamente que não, que não ia sair de aonde vivia, explicaria que não
saberia levar a fama, gostava do que tinha.
Se amanhã me expulsas de tua casa, nem sei
como vou me sentir, quando viram estavam num relacionamento, ele interessante
Junior era em algumas coisas mais velho do que ele, tinha suas manias, ele se
matava de rir.
Lhe disse claramente que gostava dessa vida
que levava com ele, sempre te amei desde que te vi, teu tio Brian tinha razão.
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