HASTE

 

                                      

 

Meu pai dizia sempre “ando devagar, porque já tive pressa”.

Na época não entendia, até que conheci realmente sua história, ele como um exercício de memória por seu trabalho, escrevia tudo que pensava, que lhe tinha acontecido.

Era um dos atores dos antigos de Hollywood, aonde conheceu minha mãe,

Imagine um balseiro, era por aonde tinha começado, tinha escapado de Cuba, com um grupo de amigos, só ele escapou, pois sempre foi um malandro, se dedicou antes a aprender a nadar direito, sabia se a polícia marítima os pegavam, devolviam.

Foi talvez o único que se preparou a consciência, a muito tempo vivia pelas ruas de Havana, ele era do interior, tinha ido em busca de uma vida melhor, mas quando chegou lá, entendeu que só sendo muito sem vergonha podia sobreviver.

Fez de tudo um pouco, os gringos o queriam para fazer sexo, tinha boa pinta, era bonito, alto, magro, diria depois que pela fome, cabelos negros, uma barba fechada, olhos negros, o típico latim lover.

Juntou todos os dólares que podia, seu sonho era ser ator de cinema, ia em busca disso.

Tinha estudado num velho mapa, como chegar a Hollywood, que ficava do outro lado, longe a bessa de Miami, aonde ele podia chegar, mas era uma pessoa com caráter.

Fez uma coisa também aprendeu a dirigir, isso era importante para seus planos.

Ensaiou muitas vezes, como faria quando chegasse as costas americanas, cairia pela borda antes de chegar, iria nadando, colocou uma roupa limpa, só não tinha cuecas, um tênis roubado de um turista, bem como calças jeans, camisetas, tudo que tinha era roubado.

Quando nos contou essa história, minha irmã, ficou horrorizada, nunca entendi isso, afinal ela era uma psicóloga conhecida.   Lhe pediu que não contasse isso para seus filhos.

Achei uma besteira monumental.

Ele planejou tanto, que tinha que dar certo, sempre tinha se movido a base do otimismo, que lhe seguiria a vida inteira.

Quando viu ao longe a costa americana, estava morto de fome, a travessia tinha sido tranquila, mas viu luzes de um barco da policia marítima, não teve conversa, já estava mesmo perto da borda da embarcação por isso, colocou seu saco com as roupas no pescoço, caiu na água, a maioria ali não sabia nadar direito, ele se afastou do barco o mais rápido possível, ficou de longe observando, todos subirem a bordo, coitados pensou, terão que voltar a miséria.

Ele foi nadando lentamente para a costa, procurou um lugar afastado para sair da água, por sorte era de noite, tirou toda sua roupa molhada, colocou a limpa e seca, limpou os pés, saiu, tinha entre suas coisas um mapa velho dos Estados Unidos, a primeira coisa que fez, foi procurar um carro velho, o mais comum possível, nada de um carro que chamasse a atenção, fez uma ligação, saiu como um louco dali, foi lendo placas, até encontrar a saída da cidade, em direção ao que queria.    Nunca entrou em nenhuma cidade grande, quando acabava a gasolina do carro, roubava outro, ria muito, pois tomou predileção, por carros velhos.

Alguns ele roubou inclusive num posto de gasolina, tinha dinheiro economizado ao longo dos anos, fudendo com os gringos, tudo dólar, assim era mais fácil.

Levou meses atravessando o pais, parava em lugares que pudesse esconder o carro, evitava estradas que sabia que podiam ter policiais, afinal ele não tinha documento nenhum.

Dormia olhando o céu as estrelas, sorria para si mesmo pensando, serei uma estrela de cinema.

Quando finalmente chegou a Los Angeles, viu que a coisa era difícil, conseguiu chegar à frente de um studio.  A quantidade de gente era imensa, todos os tipos possíveis, homens bonitos, alto loiros, olhos azuis.

Ele era ao contrário de tudo isso.  Andou dormindo aonde podia, de noite se metia em alguma fonte de praça, isso de madrugada, tomava um banho, com um sabonete desses pequenos roubados de uma lanchonete.

Dias depois estava ali, ele não ficava parado como os outros, grudados a grade, esperando uma oportunidade, parou um carro para entrar, um homem abaixo o vidro, lhe perguntou se sabia andar a cavalo.

Claro quando era garoto no interior de Cuba, tinha andado a pelo nos cavalos da fazenda que plantava cana.

Disse que sim, com seu sotaque carregado.

Fez seu primeiro filme, era um bandido, um bando de mexicanos, contra o mochinho, lindo, alto loiro, olhos azuis.

Me contaria rindo, que tinha comido o cu dele, depois de um dia de filmagem, de mocinho não tinha nada, era mais uma mocinha.

Um dos homens dali, disse, que mesmo estando sujo em cena, com a barba crescida, a câmera o comia.

Quando lhe perguntaram o nome, respondeu Antony Ruiz, seu nome era Antonio Ruiz.

Conseguiram para ele os documentos, firmou um contrato, fez todos os filmes possíveis de cowboy, policiais, tudo classe “B”, não lhe incomodava, nessa época, ao contrário dos outros que gastavam o que ganhavam, ele guardava, queria ter uma casa sua, sonho de juventude.

Fez sexo com todos que lhe passaram pela frente, homens, mulheres, atrizes fantásticas.

Agora Antony Ruiz, tinha pelo menos um teto para dormir, conseguiu alugar um quarto com banheiro num lugar, que a maioria que vivia ali, eram putas.

Ele tratava a todas muito bem, sabia o que era a vida dura que levavam.

Um dia fazendo um casting para um segundo papel, conheceu sua mãe, uma loira das famosas loiras burras, mas ela pelo contrario de burra não tinham nem um pelo.

Sabia que como ela, havia muitas por ali, então tinha aprendido a se maquilar, sem chamar atenção, os dois tinham o texto na ponta da língua.  Tinham que contracenar, foi o que fizeram.

Se saíram bem, foram contratados, ele fazia o papel de um detetive, desses que procuram alguém, ela de uma mulher rica, mas vulgar, que busca uma pessoa que a enganou.

Mas o ator principal, fazia o papel que qualquer um queria para aparecer.

Sem saber muito por que a química entre os dois funcionou, as cenas juntos eram ótimas.

Quando o filme ia estrear, ia ser a primeira vez que ele ia a um lançamento, se virou para ela, Maud, disse que não tinha roupa para ir.

Ela uma esperta, disse que tampouco, mas aqui o negócio é fazer amizade com o pessoal do vestiário, foi assim que ele conseguiu seu primeiro smoking, que nunca devolveu, ela um vestido deslumbrante que alguém famoso tinha usado a uns anos atrás.

Chamaram mais atenção que o ator principal que chegou bêbado, foi levado logo dali, para não falar merdas.

Os diretores gostaram dos dois, juntos, a partir daí, fizeram uma série de filmes, antes de qualquer coisa, ficaram amigos, ensaiavam juntos o texto, o que ajudava. Fizeram de tudo, filmes de Cowboy, policiais, romances complicados.

Sem querer um dia fizeram sexo, se deram bem, mas antes ele contou para ela sua verdadeira história que já tinha feito muito sexo com homens para sobreviver.

Ela contou de aonde vinha, do cu do judas do Nebraska, que também tinha tido que fazer a mesma coisa, nunca esconderam nada um do outro.

Os dois sonhavam a mesma coisa, ter uma casa, nada como os famosos faziam, compravam logo uma mansão nas colinas de Hollywood.

Quando começaram a viver juntos, alugaram um apartamento, para os dois, ela tinha aprendido, fazendo amizade com o pessoal a conseguir roupas boas, para os castings, lia como era o personagem, se vestia mais ou menos igual.

Os diretores gostavam dos dois, eram sérios, nunca estavam metidos em confusões, nada de bebida, ela porque tinha nascido, sido criada no meio de alcoólatras, diria depois que quando tinha uma certa fama, se tinha que beijar um ator, o fazia escovar os dentes antes.

Ele porque achava que a bebida o faria perder o rumo, nisso os dois eram iguais, queriam alcançar alguma coisa, nada de se perder no meio do caminho.

O trajeto dos dois, era bom, quando ficou gravida de mim, riram, fizeram uma coisa na surdina, nada de chamar a atenção, foram ao registro civil, simplesmente se casaram, depois foram comer num restaurante que iam sempre, nada de luxo.

Ela temia que a deixasse de chamar, por causa da gravidez, resultou que fazia um papel de uma mulher que estava gravida o tempo todo do filme.

Nem precisou de uma barriga postiça, ele nesse filme fazia o seu primeiro papel como ator principal, era o xerife de uma cidade perdida no mundo, um lugarejo.

Ele disse que eu lhe dei sorte, pois ficou super conhecido pelo filme.

Ela me pariu no último dia de filmagem, quando o diretor disse o “cortem” famoso, rompeu águas, ele achou que ela estava de gozação, correram para o hospital, nasci logo em seguida, ela estava tão preocupada, que disse que nem sentiu dores nenhuma.

Nasci uma mistura dos dois, cabelos negros, olhos verdes como os dela, pele branca, cheia de sardas, mas grande para um bebê, pesava cinco quilos.

Nessa época, compraram sua primeira casa, com os dinheiro dos dois, que guardava tudo, em Malibu, em frente ao mar.  Ele conseguiu em seguida uma babá, cubana, uma senhora, que de certa maneira me ensinou a falar o castelhano, bem como me cuidou até minha irmã nascer, mais de oito anos depois.

Eles seguiram fazendo cinema, ora como papel principal, ou segundo, mas ganhando dinheiro, que para eles era o importante, quando tinham que dar entrevista, nunca era lá em casa, mas sim em alguma montada pelo studio.  Finalmente sabiam que eram marido e mulher, tinham que aguentar as famosas perguntas, se não sentiam ciúmes quando um ou o outro tinha que beijar outro ator.

Quando ficou gravida da minha irmã, diria depois que ela já era complicada antes de nascer, pois foi uma gestação complicada, ficou um ano sem trabalhar, o que para ela foi uma merda, adorava estar embaixo dos focos do studio.     O parto em si, também foi complicado, ela que me tinha tido como fácil, jamais imaginou que o dela fosse complicado, era como não quisesse sair ao mundo.

Era totalmente contraria a mim, saiu parecida com meu pai, morena, pele mais escura que a minha, olhos negros, cabelos crespos como o dele.   Ele a adorava, era sua boneca, disse que o fazia se lembrar de sua irmã pequena, por isso ela tinha o nome de Sara Smith Ruiz.

Foi complicada desde garota, tudo que eu tinha nas mãos ela queria para ela, se eu dava, em seguida colocava numa caixa que tinha, com suas coisas, que eu não tentasse reaver.

Mas em casa os brinquedos eram raros, eu gostava mesmo era de desenhos, meu pai, quando me via desenhando, dizia vai ser pintor.

Foi quando ele fez um filme, fazia o papel de um médico mexicano, inclusive falava como eles o inglês, bem carregado, ganhou um prêmio, como a senhora Mercedes, ficava mais com a minha irmã, eu fui a quase todos os dias de filmagem, estava de férias na escola.

Vendo as cenas, disse depois a ele, que quando fosse grande, seria médico, levaram na gozação, pois eu tinha visto como se fazia tudo.

A partir daí, virou uma ideia fixa em minha cabeça.  Quando fui para a secundária, era o melhor aluno em ciências, tudo que tinha a ver com meu sonho.

Minha irmã ao contrário, era complicada, segundo Mercedes, mal educada, agressiva, tudo para ela, tinha a ver com um sentimento de posse.

Meu pai, era só seu, tinha inclusive ciúmes de minha mãe.

Eu aprendi a evita-la, saia de fininho, quando ela começava com suas crises, me fechava no quarto, com chave, pois a primeira pessoa que ela ia incomodar era eu.

Eu guardava toda minha mesada, para comprar algum livro de medicina, numa livraria de segunda mão, meu pai se matava de rir com isso.

Foi quando o chamaram para fazer uma série baseada nesse personagem, minha mãe pela primeira vez não fazia um papel de loira, usava uma peruca negra, lentes de contato, tinha aparecido assim no casting, assim os dois tinham os mesmo horários para estar em casa.

Sabiam que Mercedes tinha dificuldade de controlar o mau gênio de minha irmã.

Eu acabei a escola, nenhum dos meus companheiros sabiam que era filho deles, atores com certa fama.

Afinal tinha um nome estranho, Tom Antonio Smith Ruiz, todo mundo me conhecia como Tom, isso facilitava.   Meu pai, dizia que eu tinha seus genes, pois tinha ideia fixa, nessa época foram fazer uma série em NYC, alugaram uma casa no Brooklyn, lá fomos nós, minha irmã reclamava que odiava a vizinhança, que ali não tinha praia, não era boa estudante, eu ao contrário, estava pronto para a universidade.

Meus pais tinham guardado dinheiro para isso.   Entrei para medicina, com entusiasmo, muita gente se espantou, pois parecia que eu já tinha estudado, tinha devorado cada livro de medicina, nas primeiras aulas de anatomia, era o primeiro, em querer alguma parte complicada do corpo, tinha sempre um caderno pequeno ao lado para anotar, para depois comparar com o que tinha em casa nos livros.

Alguns desmaiavam, pelo cheiro do formol, ou de tocar num corpo morto, segundo um dos professores, eu ao contrário estava concentrado, depois lhe faria milhões de perguntas.

Um dia me perguntou o que pensava em ser, lhe respondi sem duvidar, cirurgião.

Claro com isso, virei seu aluno predileto.

Enquanto a maioria estava ali, também para aproveitar que estava livre da família, saiam de festas, me convidavam, pois tinha um belo tipo.

Meu pai me dizia que seria um ator fantástico, mas na verdade, não lhes podia dizer, nem ir ao cinema eu gostava, sabia que tudo aquilo era falso, sabia como o faziam.

Um dia uma menina disse que eu tinha um que de um ator que ela adorava, Antony Ruiz.

Eu disse que ela estava louca, nunca ia ao cinema, se fosse minha irmã iria logo dizendo que era meu pai.

Eles voltaram para Los Angeles, para outro trabalho, arrumei um apartamento pequeno para mim, ali mesmo no bairro, os companheiros todos tinham carro, eu ia de metro a universidade, me movia rapidamente pela cidade.

Quando surgiu a primeira oportunidade, fui estagiar num hospital em urgências, tinha encontrado meu lugar, depois todos os anos, em vez de férias, eu ia para algum hospital, mas enquanto os outros escolhiam lugares fáceis, com o que queriam fazer pós-graduação, o meu eram as urgências.   Quando terminei o curso, tinha facilidade em cortar, costurar, sabia mais que qualquer um deles.   Nessa época tive minha primeira aventura.

Com um companheiro, ele se matou de rir, eu era totalmente inexperto em se tratado de sexo, sabes tanto de medicina, mas sexo te parece complicado.   Ele adorava o que eu tinha no meio das pernas, usufruía, eu ao contrário tinha que me concentrar, pois minha cabeça estava pensando em como resolver algum caso.

Antes de ir para um hospital fazer práticas, fui passar o final de ano em casa, tomei um voo, meu pai me esperava no aeroporto, os dois juntos segundo ele chamávamos atenção, eu a primeira coisa que fiz, depois de abraçar minha mãe apertado, sentia falta dos papos com ela, embora falássemos todas as semanas por telefone, abracei a Mercedes, a coitada estava com os cabelos brancos, dizia que por culpa da minha irmã.

Fui dar um mergulho.

Depois é que fiquei sabendo, ela andava com um grupo ali da praia, amigos seus de infância, alguns andavam nas drogas, meu pai teve que ir busca-la em alguma delegacia por causa disso.

Quando me viu, a primeira pergunta que fez, se eu ainda era virgem.

Foi um suplício esses dias, estava louco para voltar para meu pequeno apartamento.

Um dia sai com meu pai, caminhando pela praia, ele estava mais queimado, disse que fazer série, seria o futuro dos atores, trabalhas alguns meses, depois tens tempo de fazer um filme, diferente.

Perguntou como eu ia de dinheiro, me mandava uma mesada, riu quando lhe contei, que nem tinha tempo de gastar, além de pagar o aluguel, que na verdade ia direto para uma conta deles, mas eu tinha que pagar o condomínio, meus gastos de transportes, livros que continuava comprando, roupas nada demais, pois acabava usando o uniforme dos hospitais, enquanto os companheiros queriam roupas de marcas, isso para mim não era importante.

Me perguntou como ia de amores, sem querer me vi conversando com ele, a dificuldade que tinha, de estar com outra pessoa, pois minha cabeça seguia funcionando.

Isso é porque não encontraste teu parceiro ideal.

Contei da aventura que tinha tido, sem querer esperava que se escandalizasse, riu, disse, meu filho, sexo é sexo, contou como tinha sido sua vida em Havana, que tinha feito sexo com muito gringo, para ganhar dólares para realizar seu sonho, agora olho para trás, me parece um roteiro de um filme.

Lhe disse brincando que devia escrever, senão o senhor vai esquecer.

Depois me diria que tinha seguido meu conselho.

Perguntou como eu iria agora ao hospital que ia fazer as práticas, lhe expliquei, que tinha que tinha era que trocar de metro nada mais.

Um carro não seria bom para ti?

Eu teria que me preocupar com ele, pai, acho mais fácil isso, daqui um tempo quando tenha dinheiro comprarei uma moto de segunda mão, mas mesmo assim no inverno, o senhor sabe como é, será mais fácil o metro.

Na verdade, eu achava fácil, por um motivo, ia estudando alguma coisa que chamasse minha atenção, ou alguma operação que tinha programado para aquele dia.

Chamei atenção do cirurgião chefe por causa disso, eu sempre sabia tudo na ponta da língua, quando ajudava, tinha minha atenção totalmente voltada para o que estava fazendo.

Nunca reclamava de turnos como os outros, entendi que isso era complicado, principalmente para os que tinham família.

Eu chegava em casa, colocava o despertador, fechava as cortinas, deixava o mais escuro possível, só ficavam embaixo do travesseiro o busca, assim eu escutava, dormia como um tronco, assim estava pronto para o seguinte turno, aproveitava para sair para correr, mas não o fazia num ritmo louco, ia devagar, pois tinha que prestar atenção, pois senão minha cabeça se desviava do caminho.

Tive aventuras, mas nada sério, os que queriam continuar, logo se davam conta que meu tempo estava dedicado a outra coisa, tinha aprendido a satisfazer a outra pessoa, mas sempre acabava sentindo que me faltava alguma coisa.

Os enfermeiros e outros médicos riam, diziam que alguns pacientes me devoravam com os olhos, mas que minha atenção estava voltada para o que estava fazendo, principalmente em urgência que tudo tinha que ser muito rápido.

Nisso eu era bom, quando acabei, com a nota mais alta na minha avaliação, me ofereceram emprego em dois lugares, todos ficaram de boca aberta, quando resolvi ficar aonde estava, ali eu conhecia cada parte do edifico, o caminho mais fácil para chegar à cirurgia, ou a urgência. Além dos pacientes, realmente precisarem de médicos, ninguém ia ali, para besteiras.

Fui as entrevistas, meu professor me disse que devia ir, assim podia avaliar minha escolha. Fui inclusive a um dos melhores hospitais da cidade.

Tudo era do melhor, mas claro, tudo me parecia bom demais, não senti uma coisa que necessitava, emoção.

Conversei com meu pai, nesse ponto ele era pé no chão, só me disse, se queres ficar aonde estas, eles te apreciam, mas peça mais dinheiro, muito mais, assim eles chegaram a um salário bom.

Meu único luxo, eram minha batas de médico, tinha muitas, encontrei perto de casa uma lavanderia chinesa, a avô do dono, bordou no bolso meu nome, eu a tinha socorrido um dia que cheguei lá estava com um principio de enfarte, como se nada a atendi.

A partir disso, eu era super bem atendido por eles, qualquer coisa apareciam no hospital para falarem comigo.

Ela sempre dizia que eu estava muito magro, que não me alimentava direito, quando ia buscar minhas batas, sempre tinha uma bolsa com comida chinesa, feita por ela.

Eu aproveitava, lhe tirava a pressão, levava sangue e urina, para fazer exame, volta e meia, chegava lá tinha alguma amiga dela, me pedia para atender.

Riam de mim no hospital, pois sempre tinha um grupo de gente que aparecia, chineses ou porto Riquenhos, cubanos, mexicanos, pois os atendiam na sua língua.

Alguns eu consegui operar, por baixo dos panos, atendia todo mundo que podia.

Mas seguia sendo o filho preferido, pois nenhuma semana passava sem que falasse com meus pais.

Eles tinha muitos problemas com minha irmã, até que ela se apaixonou por um psicólogo, ai se endireitou, foi estudar psicologia, mas o interessante nunca falava com ela.

Meus pais vieram fazer uma série que era filmada em NYC, faziam o papel de avôs de uma família de emigrantes mexicanos, riam dizendo que agora só lhe ofereciam isso.

Arrumei um apartamento perto do meu, assim, os via sempre.

Um dia foram os dois ao hospital, me buscar, quando o pessoal viu os dois, a maioria ali, no seu tempo livre via a série, se mataram de rir, pois jamais imaginaram que eu era filho de dois atores com fama.

A minha mãe lhe chamaram para fazer um papel numa peça na Broadway, assim não voltou para casa, ficaram os dois na cidade, quem não gostou foi minha irmã, disseram para ela vir, mas disse que nem pensar, odiava NYC.

Pela primeira vez, passei as festas em muito tempo com eles, éramos só os três.  Quando souberam que no final do ano, o pessoal do hospital faziam uma festa, foram comigo, ficaram impressionados, pois todos vinham falar comigo, os apresentei aos principais cirurgiões que trabalhavam ali, os deixava falando, pois se iam me elogiar, que fosse pelas minhas costas.

Nesse dia, um dos homens que eu conhecia, que trabalhava numa ambulância, veio falar comigo, me tinha convidado várias vezes para sair, me sentia terrivelmente atraído por ele, o que me dava medo.

Se apresentou ele mesmo aos meus pais, depois isso seria sempre uma gozação, pois ele conhecia todos os filmes deles, desde quando chegaram ao cinema.

Disse que seus pais adoravam os filmes de cowboy que tinham feito.

Telefonou para eles, logo apareceram na festa, para conhecerem meus pais, a mãe logo soltou, só assim conheço seu filho, o meu vive falando nele, gosta de o ver trabalhando, sonhava em ser médico, mas nunca tivemos dinheiro para isso, temos mais filhos.

Jim Smith Rodrigues, era um puto enfermeiro, de urgências.  Logo conseguiu pelos seus trabalhos um posto ali no hospital.

Um dia de verão saiamos ao mesmo tempo, me convidou para uma cerveja, lhe disse que não bebia, quando muito uma coca cola.

Acabamos no meu apartamento, foi uma loucura, tínhamos o corpo iguais, ele me levava a loucura, depois sempre tínhamos coisas para falar, de algum paciente que tinha atendido comigo, ou mesmo algum caso que queria me consultar, as vezes lá isso era impossível.

Insisti que ele começasse a fazer um curso para ser enfermeiro numa sala de operações, estudava com ele, foi o melhor de sua turma.

A estas alturas, já estávamos vivendo juntos, meus pais que seguiam ali, sorriam, diziam que me viam feliz.

Era uma verdade, eu o adorava, podia ficar horas o beijando.

Nessa época já era o segundo em cirurgia, sugeri um dia que devíamos ter uma sala de operações em urgências, pois as vezes não dava tempo de subir um paciente, tinha que ser imediatamente.

Nenhum médico de cirurgia queria ser o responsável, já que a ideia era minha, me tocava, agora era conseguir um doador rico para bancar o mesmo.

Sem querer consegui por via indireta, chegou a urgência um rapaz, que tinha sofrido um acidente de carro, o salvei, operando ali mesmo numa sala esterilizada, era o típico, se fosse subir por elevador, ele morreria.

O pai era um milionário, veio falar comigo, com meu chefe, esse lhe deu uma facada, dinheiro para a sala como eu queria.

Depois quando precisou de uma operação de coração, ao invés de ir para um puto hospital, foi até lá, me pediu se eu podia opera-lo, era uma coisa delicada.

Estudei o caso junto com o Jim, ele foi meu ajudante nessa operação, o pessoal adorava o ter na sala, ele parecia saber o que o medico ia pedir, quando iam falar, ele já estava com o necessário nas mãos.

Eu só não gostava de uma coisa, de perder algum paciente.

Meus pais, voltaram para Los Angeles, odiavam o inverno de NYC, foram fazer um filme por lá, resolveram ficar.

Minha irmã reclamava porque se sentia sozinha, Mercedes tinha morrido já a alguns anos, nas férias fomos para lá, houve entre ela e Jim uma antipatia imediata, ele a achava tonta demais.

Como pode ser psicóloga se é assim, mas na verdade seu marido era quem cuidava da clínica que tinham.

Eles agora tinham dois filhos, eu me matava de rir, pois era estrita com eles.

Quando minha mãe morreu, eu estava numa sala de operações, não puderam me interromper, como a chamada era dela, não dei atenção, até que ela resolveu chamar o Jim.

Foi um deus nos acudam, para conseguirmos voo, tinha nevado horrores na cidade, a metade dos voos estavam cancelados, mas chegamos a tempo de assistir o enterro.

Depois ela se virou para mim perguntando por que tinha trazido o Jim.

Quem lhe respondeu foi meu pai.

Porque ele além de ser seu melhor amigo, vivem juntos, são casados.

Até seu marido riu, pois ficou escandalizada.

Eu não disse nem um pio, quem falou foi meu pai, pois eu em Havana, me prostituiu com muitos homens, tua mãe sempre soube disso, mesmo antes de nos casarmos, mesmo aqui, fiz sexo, parecia que tirava de uma cartola como um magico, o nome de vários atores que tinham sido famosos, os bonitões.

Ela fazia a famosa frase, “papai”, escandalizada.

Seu marido se matava de rir.

Chegou a época da Aids, foi complicado, alguns conhecidos foram morrendo, tínhamos um protocolo complicado para atender os pacientes, basicamente em cada operação se fazia uma análise de sangue.

Meu pai me chamou um dia, perguntando se eu podia atender um velho companheiro do cinema.

Era um tipo impressionante apesar da idade, alto, bonitão, precisava se operar do coração, mas seu último companheiro tinha morrido de AIDS, fiz o exame para ele, não tinha nada.

Rindo depois me contou, que estava com o outro por acomodação, mas que fazia tempo que não faziam sexo, ele pegou a maldita, fazendo sexo com jovens, queria recuperar sua juventude.

Meu pai, pegou um avião, veio para NYC, ficou no apartamento do mesmo, para o cuidar.

Foi uma operação complicada, pois ele tinha sido desses homens que fumam como uma chaminé, então tinha problemas de respiração.

Um dia meu pai me contou, que tinha sido o único homem que ele tinha gostado, chegamos ao mesmo tempo em Hollywood, algumas vezes quando fazíamos filmes de cowboy, tivemos uma aventura, tua mãe sabia, ria com isso, dizia que era um pedaço de homem, que ela também o faria.

Ver os dois juntos era interessante, um diferente do outro, mas pareciam ter tanto o que falar, as vezes íamos jantar juntos, Jim se matava de rir com eles, pois sempre tinham alguma coisa divertida para contar.

Tinham sido chamados por um diretor, para fazerem um filme gay, dois velhos amigos que se reencontram anos depois.

Havia uma parte que era quando jovem, feito por dois atores até parecidos com eles, depois do meio para o final, era os dois.

Minha irmã quando soube me telefonou, dizendo que isso ia acabar com a carreira do meu pai.

A mandei a merda, que fosse estudar psicologia direito, ou que fosse a um.

Seu marido adorou, mas ela proibiu os filhos de verem o filme quando estreou, ficou furiosa, pois foram com o pai.

Alias eu nem sabia como o marido a aguentava, era cheia de manias.

Para os dois foi ótimo, os novos diretores, redescobriram esses grandes atores, durante cinco anos, não pararam de fazer filmes, diziam que finalmente lhes chegava roteiros interessantes, para meu pai, era o máximo, ao mesmo tempo me contou que estava escrevendo sobre sua vida, tudo que ele lembrava de aonde tinha saído, não sei se pela idade, me lembro de detalhes que pensei que nunca mais ia lembrar.

Meu tempo de Havana, ou mesmo como cheguei até Los Angeles, perseguia o meu sonho de ser ator, consegui.

Seu amigo morreu durante uma filmagem, ele refez o filme inteiro, fazendo o papel do amigo, mas senti que ele estava cansado, lhe dizia para parar um pouco, mas se não fosse o Jim, não sei como seria.

Nesse tempo foi como uma bomba, minha irmã se divorciava do marido, mas quem ficou com os meninos foi ele, a idiota ainda foi falar com o velho, que essa vida de família não era com ela, sei que desapareceu no mapa.

Conversei muito com meu pai, que ele deixasse seu dinheiro para os netos irem a universidade, eu realmente não precisava de dinheiro.

Ele fez uma coisa, ainda vivo, disse ao Jim que tirasse um tempo para estudar medicina, o velho sonho dele.

Conseguiu trabalhar só um horário, como ele tinha experiencia, estudava como um louco, se agarrava a mim, tinha paciência que nunca tive com ninguém de lhe explicar o que não entendia.

Quando o Mr. Antony Ruiz morreu, ia em seguida começar um filme, foi um belo baque, estava acostumado com ele, teve uma pneumonia, muito forte, pelo inverno da cidade, não durou nem dois dias, o difícil foi encontrar minha irmã, vivia num grupo de velhos amigos seus, perto de Sacramento.

Mas disse que fizessem o enterro sem ela, a última vez que falei com ele, disse que não me preocupasse, a mim não deixaria nada, mas sim para os meninos, fui uma péssima mãe, nunca entendi esse meu lado protetor.

Vieram meu cunhado, com os meninos, o mais interessante a igreja estava lotada, velhos fans dele, bem como diretores de cinema, velhos e novos, um deles soltou, foi o melhor ator que conheci, perfeito.

Saiu em todos os jornais, televisão, fizeram uma retrospectiva de todo trabalho dele, desde o princípio, os meninos adoraram, um deles o que tinha herdado seu nome, me soltou que ia estudar cinema na universidade, queria ser diretor.

O outro iria estudar psicologia, mas com o tempo acabariam, trabalhando juntos.

Meu cunhado nessa época estava meio perdido, mas voltou a se casar novamente, depois que os meninos foram a universidade.

Segui levando minha vida, agora tinha um concorrente, Jim se destacou logo, tinha aprendido a trabalhar em cirurgia, era excelente, mas seguimos trabalhando no hospital.

Sua mãe estava orgulhosa dele, tinha realizado seu sonho.

Meu pai me deixou o apartamento que morava, a casa de Malibu, dinheiro, para que eu ajudasse alguém a estudar.

Por um acaso, ajudamos um cubano, que estudava medicina com dificuldade, fazia limpeza no hospital, um dia atendeu um paciente que chegou na porta das emergências, caiu desmaiado, foi quando descobri que estudava medicina.

Jim conversou com ele, o ajudamos, era mais um.

Numas férias, fomos até aonde ele tinha saído, levamos os garotos, que iam filmando tudo que viam, eu falei do diário dele.

Fizeram seu primeiro filme, que ia desde sua saída da casa familiar, até chegar a Miami.

Foi um sucesso danado, conseguiram licença para filmar lá, porque eram descendentes de um cubano.

Eu e Jim, éramos produtores, depois do primeiro foi fácil, fizeram o segundo contando a viagem dele, desde Miami a Hollywood, terminava com o diretor perguntado se ele sabia montar a cavalo.

Eu os sigo chamando de meninos, Jim se mata de rir, diz que chamar de meninos dois marmanjos barbados é muito.

 

 

 

 

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