SAINT-MICHEL
Despertou como sempre assustado, tinha
sonhado outra vez, com a estatua de Saint-Michel, que dava nome ao boulevard
perto de seu minúsculo apartamento que dava para o Sena, quando marcava com
alguém, marcava ali.
Para ele, o apartamento era fantástico,
pois podia ir a pé para o trabalho, dava classe de arqueologia na
Sorbonne. Era especializado em
arqueologia submarina, bem como sobre os celtas. Diziam de gozação, que claro com o nome que
tinha, sendo também originário da Bretanha, isso era normal.
Tinha um nome que sempre era gozação, pois
mais bretão não podia ser, Dedyer Michael Saint-Karmac, alguns diziam que isso
sim tinha um erro no final, devia ser Saint-Karma, numa alusão ao budismo que
ele professava.
Tinha se especializado em submarinismo, ou
em francês “Plongée”, uma coisa que faziam gozação, alguns colegas o chamavam
de sereio.
Não era muito alto, nem chegava aos 1,75
metros de altura, mas tinha os cabelos castanhos, amarelados pelo sol, e o mar,
olhos azuis, mas muito branco, não tinha um corpo avantajado, tinha sim quadris
estreitos pela natação. Foi na marinha
que descobriu essa paixão pelo mergulho, depois participou já na universidade,
de arqueologia submarina, que amava, já a especialidade na parte Celta, devia
que sua família era de Morbihan, aonde estavam os famosos menires, bem como uma
capela dedicada a Saint-Michel, na parte de baixo haviam feito escavações, pois
o morro aonde estava a capela, era falso, tinha sido feito para esconder o que
estava em baixo, não estava aberta ao público, tinha encontrado como dois
lugares para enterramentos, mas nenhum corpo no local.
Um dos seus passeios prediletos, era andar
pelo meio desse imenso vestígio de menires, um total de quase 3000, essa duas
tumbas, tinha sido datadas, como 5000 anos antes de cristo.
Quando queria pensar, ia pelo meio dos
menires, sempre encontrava uma solução para seu problema.
Seu pai ainda era vivo, um grande artista
de Jazz, só o chamavam de Karmak, nunca respondia quando perguntava por que
tinha adotado esse nome.
Sua mãe, tinha morrido quando ele tinha
dois anos, mal ele nasceu, ela teve problemas, dos quais nunca se
recuperou. Foi criado por sua tia, a
mais jovem da família, mesmo quando esta se casou, seguiu sendo como seu filho
mais velho. Era em sua casa que se
hospedava, na verdade era a casa familiar de todos os Saint-Carmac, era como
uma mansão, imensa no meio do campo, entre o interior e a praia.
Quando era garoto, fazia com ela imensos
passeios pelas praias perto dali, foi com ela que aprendeu a nadar, era uma
mulher fantástica, muito ligada a cultura celta, quando ele fez 16 anos,
fizeram juntos o Caminho de Santiago, até Finisterre, aonde ela dizia que
acabava o mesmo, segundo ela, foi quando ele desenvolveu essa paixão pelo
Celta, não era verdade, pois a tinha escutado falar nisso, desde garoto.
A viagem segundo ela, era como a iniciação
dele. Foram conversando a viagem
inteira, sobre todos os assuntos possíveis.
Isso com ele era uma coisa diferente, pois
sabia escutar como ninguém, bem como era conhecido por falar o justo, nas aulas
era direto, nada de baboseiras.
No semestre anterior, tinha ido com alguns
alunos, que primeiro treinou numa piscina, para fazer uma viagem, a partir de Morbihan,
num navio de um amigo seu, o tinha levado anos recuperando, tinha sido da
marinha francesa.
Os alunos ficaram como loucos, tinham é
claro de se comportar como marinheiros, assim exigia o dono do barco. Ele gostou, pois assim saia de Paris.
Depois fez cada um escrever um relatório
diário de tudo que tinham feito. Alguns
claro reclamava de ter que limpar o convés, ou trabalhar na cozinha, mas quando
mergulhava, em lugares especiais, foi uma maravilha, estiveram justamente
fazendo isso, na costa de Ilha de Man, que ficava entre Irlanda e Inglaterra,
segundo se dizia, era de aonde tinham saído os Celtas.
Depois visitaram a ilha inteira, por seus
caminhos estreitos, alguns lugares, tinha que caminhar durante horas,
reclamavam é claro, a maioria era de Paris, nem em sua cidade andavam, imagine
no meio do campo.
Mas os resultados tinha sido bons, o reitor
elogiou sua ideia, queria que repetisse com outra turma no ano seguinte.
Foi justamente nessa época que conseguiu
uma dor de cabeça, uma professora de outro departamento, numa festa que o
reitor deu, sobre o resultado da expedição, o viu conversando com um professor,
se colou na conversa, depois o mesmo o avisou sobre ela, era meio
desequilibrada. A mesma passou a
persegui-lo, aparecendo em sua casa, a altas horas da noite, até que ele entrou
na justiça com uma ordem, para ela não se aproximar dele.
Descobriu então, que não era a primeira
pessoa a quem ela fazia isso, perseguia as pessoas.
Foi uma das muitas pessoas, que comentou,
como a estatua de Saint-Michel se parecia com ele.
Ficava assustado a principio quando começou
a sonhar com a estátua, pois ela lhe falava, sempre tinha alguma coisa a ver
com o trabalho que estivesse fazendo no momento.
Era conhecido também por conhecer grande
parte da Bretanha, o fazia quando jovem, nas férias largas caminhadas, com uma
mochila, um saco de dormir, o sonho começou a acontecer, quando uma noite,
dormiu num lugar que tinha como um abrigo no meio dos menires.
No sonho, Saint-Michel, disse que ali
estava a entrada para uma parte subterrânea, primeiro achou que era besteira,
no verão seguinte voltou, com material, foi sua primeira escavação, realmente,
embaixo da terra, encontrou como uma porta fechada por pedras.
Quando falou com o departamento de
arqueologia da região, foram com ele até lá, pois não tinha nessa época
experiencia, tampouco material para saber como proceder.
Deram com uma sala circular, aonde
encontraram muito material, como se o local fosse usado para sacrifícios,
pontas de sílex, metal, inclusive uma lamina, da idade do bronze.
Foi quando decidiu se dedicar a
arqueologia. O governo, resolveu manter
fechado o local, pois acreditava que os turistas, iriam estragar tudo, hoje só
era autorizada visitas de estudantes de universidade.
Tinha levado seus alunos lá, esses riram
quando viram seu nome como descobridor do local.
Estava como gostava, as aulas tinham
acabado, no dia anterior, ele tinha ido com alguns professores a um show de seu
pai, numa casa de Jazz, em Saint-Germain de Prés.
Quase não via seu pai, apesar dos dois
viverem na mesma cidade, ele tinha outra família, tinha se casado de novo, com
uma professora de música da universidade, tinham duas garotas, hoje
adolescente, reclamava sempre que estava mais para ser avô delas que pai.
Ele ao contrário, tinha como família a de
sua tia, adorava ir para casa como dizia, nas férias, dali se não tinha nenhum
trabalho, ou caminhava, ou ia de bicicleta por esses lugares que amava, mas
procurava sempre ir num horário que não tivesse turistas.
Estava pensando nisso, quando seu celular,
começo a vibrar, leu o nome que aparecia, achou estranho, era do principal
arqueólogo, da região, ele dirigia o departamento.
Gostava dele, porque ia direto ao assunto,
perguntou se vinha esse final de semana para Morbihan, se tinha algum trabalho
ou escavação em vista.
Lhe disse que tinha pensando ir no final do
dia, dependia de se alguém pudesse o recolher em Nantes.
A que horas?
Bom meu saco de marinheiro já está pronto,
usava sempre para viagem, um saco da marinha, era o mais prático possível. Tomo um banho, creio que poderei pegar o TGV
das 9:30 que chega na hora do almoço, é algo urgente?
Prefiro falar contigo aqui, vou te esperar,
assim almoçamos juntos.
Ficou excitado, alguma aventura nova, para
lhe chamar a essa hora da manhã, tomou um banho rápido, fez a barba embaixo do
chuveiro como sempre, tinha pouca, mantinha sua cara de garoto.
Se vestiu, já como era normal, seu uniforme
de campanha como chamava, calças jeans, camiseta, um casaco de camurça leve,
que já tinha seus anos de uso, botas.
Quando chegou a porta do edifício, viu a
sua perseguidora do outro lado da rua, saiu por detrás foi em direção a estação
do metrô Odeon, andou rápido pelas ruas, entrou no metro, viu que não tinha
sido seguido, isso parece um filme policial.
Fez uma coisa, tirou o celular, ligou para
o policial ao que tinha feito a denúncia, disse que a fulana, estava do outro
lado da rua de sua casa, que não podia sair.
Está aqui perto, envio, um grupo
imediatamente.
Não disse que tinha saído pela porta dos
fundos do edifício.
Chegou a Gare de Montparnasse, comprou o
bilhete, entrou direto no trem, que saiu minutos depois.
Recebeu uma chamada do policial, a pegamos
tocando a campainha de seu apartamento, se dizendo preocupada, pois não atendia
as chamadas dela, bem como as chamadas da porta.
Sai por detrás, essa mulher está louca.
Desta vez como desobedeceu a ordem do juiz,
vou coloca-la de molho.
Aonde vais, ele disse que estava indo em
direção a Brest, para embarcar num barco, estaria fazendo um trabalho de
submarinista.
Que inveja.
O policial, era um tipo que lhe atraia, não
gostava de mentir, mas sem querer podiam soltar alguma coisa, essa louca
aparecer por lá.
Quando desceu do trem, duas horas e meia
depois, lá estava seu conhecido Pierre Saint-Germain, o abraçou, queria levar
seu saco da marinha.
Venha vamos almoçar no meu restaurante
predileto de Nantes.
Foram a um Bistrô que todo mundo parecia
conhecer Pierre, os levaram para um reservado, assim podemos conversar
tranquilamente.
Pediram vinho branco, Pierre soltou, a dois
dias, um pastor, estava com suas ovelhas do lado contrário a entrada do tumulo
de Saint-Michel, de repente escutava uma que não parava de balir, mas não a
encontrava, até que viu um buraco no chão, tem chovido muito por lá.
Pediu ajuda, ao guarda de segurança, que
está lá quando tem muito turista, pois todos querem que abra a porta da parte
debaixo do Capela.
Com muito esforço tiraram a ovelha, a
surpresa foi que tinha como uma rampa embaixo de pedras arrumadas
perfeitamente, acredito que seja outra entrada, já tenho ordens para escavar,
mas claro queria alguém que conheça bem a zona.
Uau, foi tudo que soltou, claro que te
ajudo.
Suas férias já pareciam brilhar na sua
cabeça.
Foi até a casa familiar, deixou seu saco,
vestiu umas botas, quando chegaram, já tinha alguns policiais cercando a área,
com curiosos é claro.
Tinham alguns funcionários, já escavando,
ficou quieto observando, começou a marcar o chão, creio que isso parte de aqui,
disse aonde, mal começara, viram a rampa, isso vai descendo, mas será que vai
sair na parte de baixo, que era a última que tinha descoberto no principio do
século, vazia totalmente.
Quase ao final do dia, já tinha uma grande
parte, a rampa, algumas vezes parecia uma escada, que descia mais do normal.
Uma semana depois, chegaram a uma parede,
estava selada, tinha medido por dentro o que já havia, se descia mais
profundamente. Abriram as laterais, para saber se havia alguma porta, usaram um
meio moderno, uma câmera que entrava por entre as pedras, a mesma tinha um
sistema de iluminação, em aparência era igual as duas câmeras anteriores, então
levaram um dia, em abrir uma passagem, escorando para que as pedras de cima não
caíssem, foi preciso fazer um sistema de sustentação, só depois retiraram as
debaixo, deixando uma entrada, o cheiro era impressionante, esperaram que o ar
exterior entrasse, com medo de alguma coisa, mas nada, era simplesmente um
lugar fechado a muito tempo.
Quando iluminaram o interior, era realmente
um tumulo, mas com muita gente, era como se um grande senhor tivesse morrido,
que seus vassalos tivessem sido enterrados juntos, porque a maioria estava com
a boca aberta, tinha se mumificado exatamente pela falta de ar, foram
fotografando tudo.
Claro a noticia saiu nos principais
jornais, bem como televisão, tinham montado um sistema de barracas perto, para
analisar tudo que iam retirando, mesmo algumas cerâmicas, a maioria das múmias
tinha como uma abertura na cabeça, como se tivessem reagido, tentando se
defender.
Deduziu que eram escravos, ou pessoas que
serviam ao que estava enterrado, não havia coroas, nem joias importantes,
apenas restos de plumas, ossos, talvez de algum sacrifício.
Um policial se aproximou para lhe dizer que
uma mulher o procurava, quando olhou de longe, viu que era a louca, ligou para
Paris, falou com o seu conhecido.
Este lhe explicou que o irmão dela, era um
advogado, ele passou o celular para o policial que estava ali, pois ela estava
dizendo a todo mundo que era mulher dele.
Seu amigo, fez uma coisa, venha vamos até
lá, na frente de todos os jornalistas lhe deu um beijo na boca, ela ficou uma
fera. O policial a saiu arrastando, ele falou ao jornalistas, que era uma pessoa
desequilibrada, nunca fui, nem me imaginaria sendo casado com ela.
Ela de longe dizia mil palavrões.
Ele agora tinha o numero de celular de seu
irmão, o chamou, se identificou, dizendo que sua irmã era uma acossadora, que
estava sendo presa outra vez, se o senhor não a interna, irei a juízo não só
contra ela, mas também contra ti, pois a libera sempre.
O silencio do outro lado era fantástico, ao
final disse que ele fizesse como queria, ela já tinha sido internada várias
vezes, depois do de Paris, tinha perdido seu emprego, mesmo na escola que
trabalhava, tinha acossado vários professores.
O que o senhor está esperando, que arruíne
sua vida, sua carreira também.
Escutou um suspiro largo, na verdade ela só
é minha meia irmã, seu pai também era desequilibrado.
Ele estava gravando tudo isso, viu uma
jornalista que conhecia, passou para ela a gravação, o nome do irmão.
Fodam-se pensou, depois ficou pensando no
beijo que seu amigo tinha lhe dado, tinha gostado.
Levaram meses para terminar tudo, ele não
voltou a Paris, estava adorando, fazia com seu amigo largos passeios pela área
do menires, falavam que ali por baixo devia haver mais coisas.
De qualquer maneira, a igreja católica,
queria que se fechasse como o anterior, tudo que estava por baixo da capela de
Saint-Michel.
Como sempre, enfiou aí em cima esse
símbolo, uma igreja que abre uma vez por mês, isso se algum turista assiste a
missa.
O problema não era seu, já tinha feito seu
trabalho.
Em seguida embarcou no barco de seu antigo
companheiro da Marinha, ia com um grupo grande de fotógrafos, principalmente de
National Geografic, para fazer fotos num lugar novo, perto da Ilha de Man.
Outro mês fora de casa. Quando voltou foi a Paris, principalmente
porque um vizinha tinha denunciado que uma pessoa tinha entrado no prédio,
invadido um apartamento debaixo do seu.
Ele imaginou quem seria, sua sorte era que
o elevador só ia até o andar de baixo, ali, tinha uma porta disfarçada, que se
abria a uma escada para dentro do seu, que era como se fosse a parte antiga do
edifício, aonde viviam os empregados.
Não deu outra, era a dita cuja, o
proprietário do apartamento, moveu uma ação contra ela, ele passou o contato
com a jornalista, que inclusive foi entrevistar seu irmão.
Tinha escapado do hospital que estava
internada, por pouco a mesma não tinha morrido, pois o proprietário estava
dormindo, despertou com o ruido, pensou que era um ladrão, deu um tiro, por
sorte era mal atirador, lhe acertou o ombro.
Desta vez ele se apoiou, moveu um processo
contra a família, por não tomar medidas realmente eficazes.
Veio a mãe dela com o irmão falar com ele,
queriam que retirasse a acusação.
Se negou, por causa dela, estava suspenso
de seu trabalho na Sorbonne, por seus escândalos.
Não gostaram muito, mas aceitaram,
reclamavam que atrapalhava a carreira do irmão, que se postulava a ser fiscal.
Me parece que um mal fiscal, pois se fica
tentando livrar seu irmã de ir a cadeia, acho mal, os dois não sabiam que ele
tinha mania de gravar todas as conversas.
Quem perdeu os papeis foi o irmão.
Vejo que é uma coisa de família, não
moverei nada, aliás, senhor, tenha constância que tenho o hábito de gravar
todas as conversas, mostrou o que tinha gravado, o mesmo só faltava babar.
Via sua carreira ir para o brejo.
Tenha em mente que no julgamento
apresentarei essa gravação.
Se retiraram.
Ele passou a gravação para seu advogado,
bem como para o vizinho que passasse para o seu.
Soube depois que como havia uma câmera de
vídeo na entrada do edifício, que ela já tinha tentado entrar antes.
Seu advogado descobriu que ela não tinha
estado internada, mas sim na casa de sua mãe.
No dia do processo, a família, se ofereceu
para pagar uma indenização, mas nenhum deles aceitou, se juntou ao processo, o
homem que ela tinha causado sérios problemas, antes, inclusive provocado seu
divórcio, dizendo a todo mundo que era amante dele.
Saiu da sala algemada, por ofensa ao Juiz.
A carreira do irmão tinha ido para o brejo,
souberam durante o julgamento que o pai da mesma vivia num hospício a muitos
anos, que a filha tomava o mesmo caminho.
Ele voltou a dar aulas na Sorbonne, tinha
só um semestre, fez no final dele a viagem com o grupo, para visitarem os
descobrimentos na Bretanha.
Em seguida, foi chamado pelo seu amigo,
para o apresentar a um arqueólogo, que estavam agora pesquisando uma outra área
em Alexandria, basicamente era um trabalho de submarinismo. Adorou a ideia, partiu imediatamente,
conseguiu convencer seu amigo, para irem com seu barco, que tinha mais
possibilidade de apoio, que o que usavam lá.
Na verdade por causas das viagens a Ilha de
Man, o barco, estava preparado para justamente dar suporte aos submarinistas.
Foi uma viagem interessante, saíram desde a
costa de Bretanha, passaram por Espanha, contornaram todo Portugal, até
chegarem a Alexandria, foi uma viagem espetacular.
Depois acabaram ficando basicamente quase
dois anos, pois ao contrário da arqueologia no Vale dos Reis, ali não tinha que
interromper pelo calor do verão.
Foi um trabalho impressionante, pois
conseguiram recuperar muitas coisa, inclusive uma grande escultura de Anúbis,
que estava embaixo do mar. O barco
servia justamente para isso, recuperar grandes obras.
Evidentemente iria tudo para o Museu, mas
isso não era importante, ele escreveu dois livros, sobre esse trabalho.
Quando voltou depois de dois anos a Paris,
se sentia fora de lugar, o apartamento, era limpado pelo porteiro e sua mulher.
Um dia cruzou com o vizinho do andar de
baixo, se matou de rir, quando contou que o irmão dela o tinha procurado muitas
vezes, para retirar a queixa. Disse que
era um acossador, como ela, o que sei que mesmo sendo um aluno brilhante, não
conseguiu o cargo de fiscal, pelo seu comportamento.
Ficou poucos dias, em Paris, depois foi
visitar a família em Morbihan, achou estranho o pai estar por lá, foi quando
soube que além de andar mal de saúde, tinha tido câncer de próstata, tinha se
divorciado de sua segunda mulher.
Fez alguns passeios com ele, esse dizia que
quando andava pela zona dos menires, se sentia melhor.
Tinha duas oportunidades a escolher, uma
fazer uma viagem com alunos, a China, para visitarem o famoso tumulo dos
soldados, ou ir para San Juan de Acre, para uma pesquisa arqueológica, ao longo
da muralha submersa da cidade.
Aceitou esse último, seu amigo ainda tinha
o barco no Egito, aceitou a participar, pois lhe pagavam bem pelo seu trabalho.
Pensavam em que seria por meses, o trabalho
durou anos, pois descobriram entradas secretas na parte baixa da muralha, bem
como esculturas de várias épocas, acreditavam que cada um que dominava a
cidade, atirava ao mar, deuses da cultura anterior.
Depois foram chamados pelo departamento de
arqueologia da universidade de Israel, para mergulharem num poço, encontrado
embaixo da Mesquita da Roca.
Era um trabalho difícil, por causa que
tinha que usar aparelhos de iluminação para poderem ver.
Encontraram vários tuneis, que iam dar em
outro lado da cidade, detalhar isso num mapa era difícil, acabaram encontrando
uma saída de um desses tuneis, numa casa familiar, foram outros tantos tempos
de trabalho.
Seu pai morreu, ele teve que ir até
Morbihan para o enterro, sair de seu principal centro que era seu trabalho, ao
chegar a Paris, era como se tudo o incomodasse, mesmo o trem, lhe parecia
ruidoso, mas o encontro com todos os familiares pior.
Sua tia se matava de rir com ele, se
escapava na primeira oportunidade, depois do enterro, teve que esperar, pela
leitura do testamento, seu pai tinha vivido seus últimos dias ali, esquecido
totalmente do mundo musical, o que lhe incomodava muito, de ter sido um músico
conhecido, o ostracismo o levou ao Alzheimer.
Quando sentiu isso, ainda de posse de suas
faculdades mentais, redigiu com um advogado seu testamento, seu medo era que
suas irmãs, pedissem parte das terras e mansão familiar.
Foi o que aconteceu, queriam impugnar o
testamento, mas ele era o principal beneficiário, claro uma parte disso,
pertencia a família de sua mãe, não de seu pai.
Agora tudo era dele.
Foi visitar uma casa que fazia parte, com
terras em voltas, quase ao lado aonde estavam os menires.
As irmãs, com quem nunca tinha convivido,
queriam essa parte, mas justamente ele provou que fazia parte da herança de sua
mãe, não de seu pai.
A casa, bem como as terras tinham estado
alugadas, seu pai recebia esse dinheiro, estava tudo no banco, mas para ele,
era uma conta separada. Elas só
receberam como herança, o que ele ganhava com música, seus discos, o que não
significava muito.
Com o dinheiro, ele reformou a casa
totalmente, tinha sido a casa de seus avôs maternos, para se isolar do resto,
passou a viver, lá, escrevendo justamente sobre seus últimos trabalhos.
Voltou várias vezes a Israel, para falar,
justamente desses tuneis que tinham explorado, se encontravam restos de várias
épocas, o que dava nessa casa, nesse local, anteriormente tinha sido palácio
dos Cruzados, talvez uma via de escape, ou mesmo uma maneira de aceder a água
durante os sítios prolongados, pelas tropas de Saladino.
Havia muitas hipóteses, mas sem dados
nenhum.
Depois esteve dando aulas sobretudo do
Acre, ai sim havia vestígios das várias civilizações que tinham ocupado a
cidade, inclusive tinha encontrado uma escultura de um cristo, que tinha
sobrevivido todos esses anos no fundo do mar.
Talvez atiradas depois da retirada dos
cruzados, pelo porto de Acre.
Quando deu por si, os anos tinham passado,
vivia já a algum tempo finalmente com alguém, um arqueólogo da universidade de
Tel Aviv, que tinha conhecido justamente nessa época que tinha trabalhado sobre
Acre.
Recebeu uma proposta de venda da casa de
Morbihan, foram os dois até lá. Mas sua
vida tinha estado tanto tempo fora, que mesmo ali, ele era um intruso.
Agora vivia numa bela casa, numa praia
pequena, justamente entre Haifa e Acre, seguia estudando, de vez em quando era
chamado para analisar peças do período que ele tinha se tornado um experto, os
das cruzadas.
Não podia reclamar, agora a cada tempo, ia
até Paris, para dar conferências na Sorbonne, mas com a idade, pensava em
vender seu apartamento, para viver definitivamente em Israel.
Só voltou para Paris, já com quase 82 anos,
estava só outra vez, seu companheiro tinha morrido de um câncer como seu pai,
ver uma pessoa próxima definhar, era demais para ele.
De vez em quando ia até Morbihan, fazia
largos passeios pela zona dos menires.
Depois voltava para Paris, mesmo sendo uma
zona muito turística, os vizinhos reclamavam muito do barulho, mas ele
ignorava, levava uma vida tranquila, ia sim muito a grande biblioteca da
Sorbonne, para pesquisar, sobre a época das cruzadas, principalmente a última.
Ainda escreveria um belo livro, muito bem
documentado sobre essa época.
Que era a decadência dos templários que
tinham participado das cruzadas, bem como tinham sido de importância na Paris
desse época,
Os Templários, ocupava uma parte de Paris,
que era uma cidade dentro de outra cidade, pesquisava para se distrair sobre
isso, mapas dessa época, busca de vestígios em antigos palacios desse época.
Assim ocupava seu tempo.
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