SOBREVIVENTE

 

                                             

 

 

Tinha o jornal com a crítica literária nas mãos, sem querer ria muito, no dia que se lançou seu último livro, o mesmo jornalista tinha feito duas perguntas, uma se era uma autobiografia, ele negou, depois perguntou se tinha alguma coisa de sua vida na história, lhe respondeu que ele já tinha feito a mesma pergunta com outras palavras, tornou a dizer não.

Tinha no fundo ficado com pena do mesmo, era jovem, não tinha vivido na mesma geração que ele, aliás ali, não havia nenhum jornalista que tivesse vivido essa geração, os que ele tinha conhecido, estavam todos mortos e enterrados, ou vivendo quem sabe donde.

Isso ele sentia nos ossos, pois todos seus amigos estavam mortos, alguns bem enterrados a sete palmo baixo terra, outros ele não sabia.

A ideia do livro tinha nascido, pois teve que ir até o lugar de aonde tinha saído, um orfanato no meio do nada.   Não foi expressamente para isso, mas para atender o último desejo de um velho amigo, levar suas cinzas de aonde tinham saído os dois.

Os dois tinham escapados juntos, foi muito difícil, na verdade eram três, caminharam muito até chegar a uma estrada, no meio do caminho tinham decidido, cada um ir para um lado, por sinal, era um cruzamento, cada estrada conduzia a um lugar diferente.

Ele decidiu ir para Los Angeles, nem sabia por que, tinha lido num livro de policiais, que faltava a metade das páginas, a história se passava lá, tampouco tinha ideia de como três livros do mesmo autor tinham ido acabar no orfanato, não que existisse uma biblioteca no mesmo, mas sim uns quantos livros apilhados na única sala, aonde aprendiam a ler e escrever.

Sem querer era o mais velho do grupo, não tinha sido abandonado quando bebê, mas sim porque seus pais tinham morrido num acidente, estavam totalmente embriagados, os dois tinham saído justamente desse orfanato, como constava isso na ficha deles, o levaram para lá, depois de estar pelo menos dois meses no hospital, a primeira vez que tomou consciência, estava como uma múmia, todo engessado.

Depois apareceu uma assistente social, ninguém sabia como tinha sobrevivido ao acidente, tinha voado do banco detrás passado pelo vidro da frente, caindo mais além no precipício.

Foi encontrado por um acaso, por um polícia, que buscava alguma coisa.

De uma certa maneira, ele preferia que o tivesse deixado ali para morrer, porque depois sua vida na verdade nunca tinha sido fácil.

Foi pulando de caminhão em caminhão, até chegar a Los Angeles, não pedia carona, podia sofrer algum abuso, isso dizia todos que escapava e voltavam para o orfanato.

Por isso queria ir para tão longe.

Primeiro andou pela periferia da cidade, até chegar à parte mais complicada.  Viu de tudo, prostitutas, garotos fazendo igual, comeu comida do lixo, roubou, enfim, tudo que se podia fazer para subsistir.

Um dia parou na frente de uma loja de instrumentos musicais, viu um sujeito experimentando uma guitarra, a mesma parecia gemer em suas mãos, talvez fosse o sentimento que o homem queria exprimir.

Ficou ali paralisado, ao mesmo tempo embelezado com tudo isso, a boca aberta, o homem sem querer parecia estar contando tudo que ele sentia, sem saber muito por que as lagrimas começaram a correr pela sua cara.

O homem o viu, seguiu tocando, mas olhando para ele, ao final deu um sorriso, deixou a guitarra aonde estava, disse que voltaria para busca-la, que a deixasse reservada.

Passou por ele, “sempre”, fez um sinal que o acompanhasse, na esquina havia um Macdonald, disse que o esperasse fora, claro sujo como estava não o iam deixar entrar.

Saiu com uma bolsa de papel, foram se sentar na praça em frente.

Me fale sobre o que escutaste?

Para mim estavas contando um momento triste de tua vida, encaixa na minha, perdi tudo, é difícil seguir em frente, sem saber por que foi contando tudo que tinha sentido.

Houve um momento no final, que foi uma sensação que tive, quando um dia despertei num hospital, meus pais tinham morrido num acidente, eu me perguntava, quem tinha feito a maldade de me deixar viver.

Não tinha nada, como hoje, nem para aonde ir, ou a quem procurar.

Fugiste de um orfanato?

Balançou a cabeça, não podia falar, pois tinha dado uma mordida grande em seu sanduiche.

Eu também escapei de um, fui pela vida, dando tombos, andei por muita navalha afiada, mas sobrevivi, sempre temos que ter a garra de sobreviver.

Sem saber por que, o outro disse, se confias em mim, venha comigo.

Foram para uma casa, num dos bairros da cidade, que tinha praia.  A casa de uma certa maneira era grande, mas totalmente despovoada de moveis, só na cozinha tinha uma mesa com duas cadeiras, o resto eram velhas poltronas, duas estavam na varanda, achou interessante, sempre eram duas.

Ele inocente perguntou pela outra pessoa.

Morreu nas drogas a meses, sou músico, tocávamos na mesma banda, mas ele nunca aguentou a pressão, o fracasso de nosso último disco, o levou a melancolia, afinal as músicas eram dele, ninguém segundo ele, entendeu o que ele queria dizer.

Dizia sempre que as drogas eram seu único consolo, mas não vivia aqui, vivia num belo apartamento, desses que muito dinheiro pode comprar, se deslumbrou com o sucesso, mas quando se sentiu perdido, sem saber o que compor, veio para cá, falou muito de sua infância, de seu passado.

Como tu, eu, ele escapou de uma vida miserável com a família, se prostituiu, fez de tudo na vida, até se tornar um cantor com fama e dinheiro.

Esse último disco era para isso pagar suas dívidas, de drogas, abusos de álcool.  Talvez seja o disco mais verdadeiro dele, que ninguém entendeu, pois as letras eram melancólicas, falando das misérias humanas, pode ser que daqui um tempo ele possa ser considerado como um dos melhores letristas do mundo.

Se levantou, colocou o disco para escutarem, me diga o que sente.  Num primeiro solo de guitarra, ele disse, este eres tu.

Sim sou eu, talvez do grupo o único que tinha entendido o que ele sentia.

A voz era desgarradora, era um ritmo lento, a guitarra acompanhava a voz de quem cantava.

Ao final havia momentos que ele tremia, não fazia frio, mas entendia o que o outro estava dizendo, para que estou aqui, o que faço, como seguir em frente.

Pois é ele desistiu, me chamou dois dias antes de o encontrarem, se despedindo, me disse que ia fazer um retiro, quando falava isso, eu sabia que ia se meter drogas.

Sai correndo daqui, ele vivia no outro lado da cidade, mas encontrei o apartamento vazio, com a porta aberta, tudo estava perfeitamente em seu lugar.

O foram encontrar dois dias depois num beco, com metade da cara comida pelos ratos.

Combinamos entre todos do grupo, não falar disso para ninguém, os jornalistas, esses são como urubus, queriam saber o porquê, mas mesmo a caixa estava fechada, tinham feito uma autopsia, só a polícia falou a respeito, os do grupo não.

Na verdade estamos agora sem rumo, eu estava ali, experimentando essa guitarra pensando nele, que dizia que a minha estava muito velha, que um dia ia explodir em cena.

Talvez do grupo eu seja o único que tenha medo do futuro, por isso guardo cada tostão que me toca, mesmo essa casa é alugada, eu tenho só o necessário para viver.

Lhe deu uma toalha para tomar um banho, antes como viu que tinha piolhos, raspou sua cabeça, não se preocupe que cresce de novo.

Mas na verdade ele nunca mais voltaria a usar cabelos compridos, passou como regra de higiene a raspar a cabeça sempre.

Enquanto tomava banho, uma das músicas estava na sua cabeça, pensava eu a cantaria de maneira diferente, depois riu, porque não tinha nem noção de música, tinha escutado seus pais tocando nas ruas, para ganhar um trocado, nada mais.   Essas músicas estavam na sua cabeça, se lembrou de uma que sua mãe cantava muito, seu pai tocando um violão, ela cantando, ele ali sentado no chão, mas a música sempre o emocionava.

A entendia sempre de outra maneira, Mon River, começou a cantar, enquanto pela terceira vez, passava sabonete pelo corpo, como se o mesmo fosse tirar toda sujeira que sentia, não só fora na pele, mas a que estava como que entranhada dentro dele, seria uma sensação que sempre o acompanharia.

Nem viu que Sasha, estava parado na porta escutando, ele quando viu, o outro sorriu, tens uma voz bonita, como sabes essa música inteira?

Minha mãe a cantava acompanhada de meu pai, para ganhar uns trocados.

Ele saiu da porta, ele se enxugou, em cima da cama tinha uma camiseta, que ele tinha sinalizado, para vestir, era grande mas confortável.

Quando voltou a cozinha, ele estava com um violão, se via que era velho, porque as partes que eram negras, estavam desbotadas.

Estava tocando baixinho a música que ele tinha cantando.

Venha, vamos ver se posso te acompanhar.  Tocava da mesma maneira que seu pai, foi fácil cantar.

Tens uma voz bonita, apesar de não ser educada.

Serias capaz de cantar a música que escutamos, a do meu amigo?

Creio que sim. Estava sem jeito, pois só vestia a camiseta, nesse momento se o outro resolvesse abusar dele, aceitaria em agradecimento a comida que lhe tinha dado, além do banho.

Mas qual nada, colocou a música outra vez, foi deixando que essa nostalgia entrasse nele, fechou os olhos, foi memorizando a letra, o acompanhamento.

Era como se fosse Mon River, mais trágica.

Experimentou cantar junto, sentir a dor que o outro sentia.

O interessante era o que cantava, era afinado, mas parecia que cantava para o nada, como se tivesse medo de que as pessoas descobrissem o que sentia.

Ele não tinha esse medo, primeiro porque não tinha nada que esconder, nem sabia quem era.

Por isso colocou essa emoção para cantar o trecho que já sabia de cabeça.

Sim, isso faltou no disco, lhe disse mil vezes, se ele tinha escrito essa letra, tinha que passar a mesma, mas ele tinha medo, dizia que podia perder o controle no palco.

Depois de algum tempo conseguia cantar inteira, nem viu que Sasha estava gravando.

Colocou para escutarem, parecia até outra música.

Sem querer sorriu, apesar de ser jovem, não sabia sua idade real, não tinha crescido muito por causa da alimentação no orfanato.

A vida ali era dura, tinham que trabalhar no campo, mas 80% do que produziam, era para ser vendido, então nos dias frios, era uma sopa rala, aonde algum troço de batata, ou cenoura, caia na boca, saboreava esse pedaço, como se fosse um manjar.

Demorava até engolir, principalmente se fosse cenoura, tinha um sabor peculiar.

Sem querer voltou ao presente, tinha falado nisso no livro, mas nunca iria reconhecer a esse grupo de jovens, sabia que a maioria vinha de uma classe acomodada, que não tinham passado por nada disso.

Foi assim que começou essa fase de sua vida, a de cantor, Sasha conseguiu para ele documentos, como se tivesse 18 anos, assim podia cantar, o grupo original tinha ficado reduzido, o levou de compras, calças jeans de duas cores, cuecas que ele nunca tinha tido, meias, tênis, camisetas.   Lhe ensinou como colocar a roupa para lavar, na máquina que tinha na cozinha, nunca ande com a roupa suja.

Quando o apresentou para os que tinha ficado do grupo, que depois sempre seriam os mesmos, liderado pelo Sasha, disse que seu novo nome, pelo qual tinha tirado documentos era Jos Drago.

A primeira apresentação, ele pensou que ficaria nervoso, era para um grupo de pessoas, que eram fans deles. Num club pequeno.

Cantou as músicas do disco, mas a sua maneira, os outros do grupo, diziam que agora sim fazia sentido.

Mas cantava sempre de uma maneira peculiar, não abria os olhos, o fazia como que com isso pudesse interiorizar tudo, as baladas eram simples.

Depois todos comentavam isso, que ficava diferente na voz dele, o produtor, disse que deviam regravar tudo.

Sasha disse que não, iriam tocar outras música, fariam coisas novas.

O que tocava o piano, era quem as vezes escrevia as letras, Sasha fazia a parte de composição da música, tocava primeiro no violão, depois passava para a guitarra.

Foram buscar a tal guitarra que ele tinha visto.  Lhe deu de presente, lhe ensinou a tocar, em meses era capaz de se acompanhar com ela.

Foram trabalhando músicas novas, algumas antigas do grupo, principalmente se tinham sido composta pelo Sasha, ele lhe comentou que a família de seu amigo se tinha feito dona das outras, se as cantassem teriam que pagar.

Primeiro no mesmo lugar, se apresentaram, todo mundo achava interessante que ele continuava raspando a cabeça, tinha a sensação de limpeza, como suava, colocava uma bandana na cabeça, para assim controlar, ao mesmo tempo escapar das luzes.

Até se atreveu a tocar a guitarra em duas delas, quando lhe pediram um bis, olhou o Sasha, disse que iria cantar uma música que sua mãe cantava, tinha aprendido a tocar no violão dele Mon River.

Assim fez, era ele o violão, com um foco em cima dele, nada mais.

Os aplausos foram muitos.

Os do grupo disseram que ficava sensacional na voz rouca que tinha, ele quase sussurrava a música.

Acabou ficando sempre como um bis.

Quando gravaram o disco, ele nunca tinha estado num studio, foi uma experiência única para ele, era como se tudo ali estivesse pendente do que fazia, ao mesmo tempo, se sentia isolado.

Sasha tinha entendido que ele as vezes ficava cismando sentado na varanda olhando para o nada.

Quando lhe perguntou a respeito, fico buscando uma sensação, o que a música me transmite, ou mesmo uma coisa interior, que tenha vivido na minha curta vida, as vezes me fazem lembrar coisas da infância.

Sasha lhe deu um caderno de capa negra, escreva essas sensações.

Do que escrevia, acabou fazendo ele mesmo com o tempo, durante a saída para alguma turnê, alguma música, mas fazia como sempre, se isolava, se sentava com o velho violão, sempre iria preferir a ele, para isso.

As vezes se lembrava de alguma coisa que sua mãe cantava.   Um dia se lembrou de uma que ela cantava, estavam os três sentados no chão, no meio do nada, tinham fome, repartiram um pão velho que ela tinha guardado, era como roer o mesmo.

Não fazia sentido, pois estavam a borde da miséria, ela cantava “what a wonderful world”, que falava da beleza da vida, das flores, estavam ali, comendo um pão duro, mas não ousava interromper sua mãe, que cantava a capela, como se fosse a coisa mais verdadeira do mundo.

Passou a fazer como ela fazia, cantar assim, sem nada, como estar despojado de tudo em volta o fosse devolver aquele momento, que agora achava mágico.   Era como estar nesse lugar que ele nunca saberia dizer aonde era, em comunhão, o pão velho deixou de ser uma coisa presente.

Agora fazia como o Sasha tinha lhe ensinado, a guardar o dinheiro que ganhava.  Gostava de cantar, sempre de calças jeans negras, a camiseta igual de negra, dizia que encaixava com seus olhos negros.

Um dia escutou uma conversa, entre um do grupo e Sasha, se o mesmo estava fazendo sexo comigo.

Nem me passou pela cabeça, ele poderia ser quase meu filho, o que não era verdade, pois ele era uns 10 anos mais velho.

Eu sim me sentia atraído por ele, sabia que tinha aventuras, mas nunca levava ninguém para casa, me dizia sempre se sais com alguém, tome cuidado, pois a maioria quer os cinco minutos de fama, nunca dizia 15 como descobriu depois, que fazia essa frase.

Um dia estavam trabalhando uma música, ele se perguntava isso, como era esse romance ou sexo de cinco minutos, em que na verdade não sobrava nada.  Tinha tido uma experiencia com um jovem que o esperou depois do show, fizeram sexo ali mesmo no carro do outro, uma coisa com urgência, pois na verdade ele nunca tinha tido outro tipo de sexo.

Sentia como descarregar alguma coisa, tudo bem poderia dizer isso, descarregar o semem guardado, pois não tinham chegado a vias de fato, no outro dia o rapaz estava outra vez na plateia, no intervalo veio falar com ele, se o podia esperar, lhe disse que não que estava cansado, iria para casa.

Posso te levar?

Sinto mais vou com o grupo, temos que rever uma música nova.

O rapaz ficou insistindo, mas ele olhava para o mesmo, entendia agora, não tinha existido nenhuma emoção a mais nesse breve encontro.   O rapaz queria algo, pois o via no palco, imaginava que estando junto apareceria.

O mesmo tinha um carro do ano, na saída, pediu um favor ao pianista, que ia mais ou menos na mesma direção, mas nem precisou, Sasha devia ter percebido, chamou um taxi para os dois.

Se abriu com ele, não sei lidar com isso, a partir de então quando recebia convite, ou insinuações, escapava com alguma desculpa.

Essa música fez sucesso, ganharam um disco de platino com ela, apareceram num programa de televisão de NYC, sobre música.

Quando perguntaram ao Sasha de quem era a letra, ele disse sorrindo, do garoto.

Era o garoto do grupo, de uma certa maneira até agradecia, os outros eram mais velhos, o protegiam.

Um dia um jornalista lhe perguntou que sendo ele o solista, se ganhava mais, ou mesmo comandava o grupo.

Olhou para o Sasha, para os outros, respondeu como sentia, somos um grupo, ninguém é melhor que o outro, eu canto, tudo bem, mas eles também podiam cantar, me deram a chance, isso não se caga.

A cara do outro, pois era ao vivo, ele dizer isso “se caga”.

Ao contrário, o grupo elogiou sua maneira, foi quando soube que o que tinha morrido, era justamente a estrela, ganhava mais que os outros, pois exigia isso, ele era o chefe, mas na verdade como diziam sem o Sasha ele não era nada.

Um dia estava pensando no dia que tinha encontrado o Sasha, o que vinha pensando pela rua, estava desanimado, sem saber o que fazer, não tinha nem uma moeda no bolso, estava pensando quando passou por um grupo de rapazes que eram de sua idade, estavam ali numa esquina, se prostituindo, se resistia a isso, pois pensava, será que depois vou me respeitar.

Tinha escutado um deles dizer para um novato, depois de fazer sexo, é só lavar, estas pronto para outro.

Tinha tido uma outra experiencia, com um surfista, mas esse o levou para sua casa, se beijaram, ele nunca tinha beijado ninguém direito, havia uma coisa, que era o que sentia, como que forçado a isso, como se beijando, criasse uma intimidade, disse ao rapaz que não gostava muito, que lhe desculpasse, quem sabe de outra vez.

O outro tinha um belo corpo, que ele queria somente abraçar, nesse dia estava se sentindo sozinho, foi quando finalmente entendeu isso, que havia uma diferença, entre fazer sexo e querer um abraço carinhoso, um afago, como fazia as vezes o Sasha, passando a mão pela sua cabeça.

Sabia que no momento ele estava com alguém, pois raramente vinha dormir em casa.

Quando o apresentou a pessoa, não gostou, sentiu um repulsa, que não sabia qualificar.

Fez uma letra, pensando nisso, o beijo como uma invasão, a repulsa de um corpo que aparentemente desejas, mas queres outra coisa.

Era uma balada triste, pela primeira vez, colocou ele mesmo a música numa letra.

Sasha tinha ficado dois dias sem aparecer em casa, entendia, não tinham no momento nenhum concerto, ou mesmo apresentação em algum lugar, como dizia um deles, dique seco.

Nem viu que o Sasha estava parado na porta, escutando o que ele estava cantando.

Quando o olhou, ele tinha isso, lagrimas nos olhos.

Me descuidei do meu garoto, foi tudo que lhe disse, tinha entendido a música.

O ajudou a arrumar a música, de tal maneira que encaixasse na letra.

Nunca mais o viu com o tal sujeito, foi uma distração molesta disse ele para o pianista, com quem sempre falava.

Esse de todos era a pessoa mais fechada, nunca o tinha visto com ninguém, até descobriu que ele era amante do cantor que tinha morrido.

Um dia lhe disse que ele seguia sendo o mesmo garoto que um dia tinha aparecido no grupo, não tinha mudado em nada seu comportamento, apesar de estarem juntos a cinco anos.

Nunca tinha pensado nisso, tampouco se tinha deslumbrado com nada.  Foi franco com ele, só me sinto ainda confundido com relação ao sexo.

Falou com ele dessa sensação que tinha, de não saber quando queria ficar apenas abraçado com alguém, ou quando queria sexo nada mais, acabo sempre frustrado.

Ele foi franco, contou que isso tinha destruído o amor de sua vida, pois se deixou deslumbrar justamente com a fama, era bonito, isso ele sabia, tinha visto as fotos, então quando aparecia um tipo estupendo, ele se deixava levar, ignorava que eu estava esperando por ele.

Aparecia no outro dia na merda, pois tinha esperado que fosse acontecer algo estupendo, nada, tinha sido um fracasso.

Andy, o pianista se tornou sem querer seu confidente, seria seu amigo a vida inteira.

Quando lhe falou do beijo, eu via meus pais se beijarem, era uma coisa interessante, contou que uma vez, sua mãe cantava uma balada triste, num bar que tocavam sempre, nessa época tinham um lugar pelo menos para dormir.   Quando acabava de cantar, pois o fazia olhando para ele, a beijava.

Nunca consigo me lembrar dessa música, não tinha nada a ver com as outras que cantavam, talvez fosse alguma composição dela.   Mas era um beijo casto, quando estou com alguém que me quer colocar logo a língua dentro da boca, sinto como uma invasão, não estou preparado para isso, queria que fosse uma coisa simples, casto, como dizer uma olá, sou eu.

Nessa noite sonhou com a mãe cantando essa música, se despertou, tinha sempre seu caderno ao lado, anotou toda a letra, se levantou, foi para a varanda, com o caderno, fechou os olhos, ficou dedilhando o violão até encontrar a maneira como seu pai tocava a acompanhando.

Quando abriu os olhos, Sasha estava ali sentado na frente dele escutando.

Música nova?

Não, estive conversando com o Andy sobre algo, lhe disse que minha mãe cantava essa música, mas nunca a escutei cantada por ninguém, portanto não sei se era uma composição dela, devia ter uns sete ou oito anos.

Não sei por que, ela andou indo a uma clínica, foi quando os dois começaram a beber muito, algo tinha acontecido, que eu nunca soube o que era.

Só sei que quando voltou desse lugar, passou horas abraçada a mim.

Quando cantava a mesma, a sensação que tinha, era como se tivesse perdido algo, veja a letra, fala justamente disso, uma mulher que perdeu alguma coisa.

Antes de mais nada Sasha, andou investigando se essa música realmente existia, não encontrou nada.

Então num bis, ele disse que eu trabalhado uma música nova, a dediquei a minha mãe, só sabia que se chamava Beth, cantei como eu a sentia, ali no palco com os olhos fechado, podia me sentir um garoto, escutando ela cantando.   No final as lagrimas corriam pela minha cara.

Nem sei quem me tirou do palco, mas o público tinha amado.

Mas nunca contei em nenhuma entrevista nada sobre isso.

Ao contrário, peguei o texto em cima disso, construí uma história, um conto, dei para o Sasha ler, ele adorou, depois o Andy comentou que eu devia fazer um curso de escritura.

Foi interessante, o próprio me levou a um na universidade, eu morria de vergonha, pois só tinha estudado na escola do orfanato, se é que podia se chamar escola, uma pessoa que te ensina a ler e escrever nada mais.

Eu não sabia nada de gramática, uma primeira crítica que o professor me fez, foi essa, que eu algumas palavras a escrevia errado.   

Fui honesto com ele, nunca tinha estudado gramática, sabia ler e escrever.

Este telefonou para o Andy que conhecia, disse que o texto era bom, mas nunca tinha imaginado que eu fosse um semi analfabeto.

Andy me arrumou uma professora ali perto, que me ensinou gramática, eu sem querer depois diria que infelizmente tinha me criado um problema, pois na hora de escrever uma música ou algo, parava para pensar se estava certo ou errado.

Nunca tinha pensado nisso.    Sem querer, como a minha melhor forma de desabafar era escrevendo, fiz uma música justamente nisso, que a palavra era um mundo, a professora foi a primeira em ler, depois escutar.

Disse que estava perfeita, que era justamente isso, a palavra, qualquer que fosse, primeiro era um mundo à parte, que se podia interpretar de muitas maneiras.

As vezes trabalhávamos com um dicionário, me ensinou a amar os mesmo, teria sempre depois um para me acompanhar no que escrevia.

Reescrevi o mesmo conto várias vezes, procurando me lembrar do momento, sem querer isso me fez lembrar de detalhes, de como no dia, que morreram ela estava profundamente triste, tinham ganho um dinheiro, mas dizia que tinha sua alma cansada.

Quando me lembrei disso, “alma cansada”, fiquei imaginando de mil maneiras, o que ela poderia estar dizendo com isso.

Sasha quando me via assim, se sentava ao meu lado, colocava a mão sobre a que eu não estava usando, como para me dizer, olha estou aqui.

Eu tinha mania de escrever na varanda, numa mesa que existia ali, as vezes ficava olhando o mar, mas ele sabia que eu não estava vendo nada.

Um dia soltou que quando eu fazia isso, era como um cego, pois com toda a paisagem eu não via nada.

Andy também falava nisso, a maneira que eu tinha de me abstrair cantando, como se o público não estivesse presente, me perguntou sobre algumas músicas, para quem eu estava cantado.

Nunca poderia reconhecer que estava cantando para o Sasha, mas o Andy sim percebeu.

Anos depois quando Sasha morreu, de uma maneira idiota, na última turnê que tínhamos feito, ele reclamava que estava cansado, Andy disse que devia ir ao médico, mas ele não se mexeu.

Saiamos do teatro aonde nos apresentamos, um sujeito saiu do nada, se plantou diante dele, ele levou um susto, caiu.   Na hora pensamos que o homem o tinha matado, mas qual, nada, estava ali com os olhos muito abertos de susto.

Soubemos depois que o mesmo estava no mesmo orfanato aonde Sasha tinha estado.

Quis fazer uma surpresa para ele.

Foi quando descobrimos na autopsia que tinha um problema sério de coração, nunca tratado.

Os anos de mal nutrição, as vezes beber demais, o tinham levado a isso.

Quando se falou beber demais, eu achava raro, ele nunca bebia em casa.

Mas na verdade, algumas vezes ele saia do show, ia a algum bar gay, eu me negava a ir, tomava um taxi, ia para o hotel aonde estávamos.   Uma coisa sempre fazíamos, cada um tinha seu quarto, só no princípio comparti quarto com ele.

Foi como tirar o tapete debaixo de mim, Andy nesse ponto foi de grande ajuda, pois entre os dois cuidamos do seu enterro, que foi uma coisa como ele tinha deixado escrito com nosso advogado.    Nada de fans, uma coisa discreta, talvez ele já soubesse, tinha comprado um tumulo num desses cemitérios, que se coloca simplesmente uma placa no chão, com o nome da pessoa, a data de nascimento e da morte.

Foi quando descobri que seu nome real era John Smith, como tantos outros, Sasha era seu nome artístico.

O advogado nos avisou aos dois, para irmos ao seu escritório.

Me deixava a casa, que tinha comprado, bem como um bom dinheiro no banco, para o Andy igual, o terceiro membro do grupo tinha saído recentemente, dizia que estava farto de fazer turnês, foi ao enterro nada mais, agora era professor de precursão numa escola de música, tinha se casado com uma garota que tinha conhecido num show.

Do grupo só sobrávamos Andy e eu, teríamos que pensar uma outra maneira de nos apresentar.

Nessa época me surgiu uma história na cabeça, a fiz de uma maneira muito particular, pois depois que Sasha tinha levado o susto, seu antigo colega de orfanato, tinha contado como tinham escapado.

Fomos cada um para um lado, eu consegui emprego numa oficina mecânica, sempre gostei de motores, aprendi, fuçando o carro do diretor do orfanato.

Foi o que me salvou, do John, nunca mais soube, até que lançou seu primeiro disco, o comprei é claro, mas me dava vergonha aparecer num espetáculo dele.

Depois de tantos anos, finalmente vim de férias para cá, vi o cartaz, assisti o show, achei que ele estava muito pálido, quis fazer uma surpresa, para ver se ele se lembrava de mim, mas nunca esperei mata-lo com isso.

Peguei esse gancho, dos rapazes que fogem de sua cidade, um vai ser mecânico, o outro se torna famoso como ator de cinema, o mecânico chantageia o outro que faz papel de macho alfa, mas quando eram jovens fugiram por isso, tinham um relacionamento.

Criei um enredo em cima disso, dei para o Andy ler.

Tinha criado um personagem de um detetive que vai descobrindo tudo isso, ao entrevistar o que está preso.

Andy levou para um conhecido, um editor, esse gostou da história.

Quando me chamou, eu estava desanimado, foi falar com o homem, ele comentou que a figura do detetive era interessante, pois o descrevia como o via.

Continue, construa outra história em cima disso.

Foi o que eu fiz, lendo um jornal, acompanhei toda a tragedia do jornal, mas criei uma história que esse detetive analisava o caso, procurando uma solução.

Quando saiu o primeiro livro, os jornalistas perguntava, se eu tinha deixado a música, sem querer eu disse uma coisa, “a fonte secou”, pensaram que todas minhas músicas tinham a ver com o Sasha.    Tive que explicar que não, a maioria tem a ver como a minha infância.

O livro fez sucesso, fiquei conhecido como Jos Drago, da música a literatura.

O que me tinha dado aulas de escrita, soltou numa entrevista que quando apareci, nem sabia de gramática.   

Tinha aprendido, que esse tipo de coisa, quando rebates, crias mais controvérsia, vira uma coisa como lavar roupa suja em público.

Não ia dizer que só tinha feito uns dias de curso com ele, que na verdade não me tinha ensinado nada.

Com o segundo livro, me procuraram para seguir escrevendo, o primeiro foi vendido para um canal de televisão que montou uma série com o detetive.

Ia ganhando dinheiro, aplicando, mas nunca sai de casa.

Meu único amigo e companheiro era o Andy, que resolveu dar aulas de música para uma escola aonde já trabalhava o outro.

Assim nos aposentamos da parte musical.

Com o personagem do detetive, escreveu uns dez livros, depois se dedicou a escrever sobre coisas que sentia.

Uma vez Andy o cobrou sobre a solidão que vivia, se colocou a reflexionar sobre isso, talvez tinha sentido isso a primeira vez, depois da morte dos pais, pois não tinha realmente ninguém, já que os dois tinham saído de um orfanato.

Depois lá tampouco acontecia de alguém adotar um dos rapazes, estava ali na verdade como numa prisão, trabalhando, mas não se podia confiar em todos, defendiam seu espaço, com medo de usurpação, pois se falhava alguém comia tua porção de comida, tinha assim também aprendido a dormir no chão, pois as camas eram dos que chegavam primeiro no dormitório.

Eram camas velhas que se moviam quando alguém estava em cima dela, depois iria sempre preferir dormir no chão, com os anos tinha piorado, agora dormia num quarto como se fosse uma casa japonesa, com tatames, um futon.

Sasha sempre respeitou os momentos que estava sozinho pensando ou escrevendo, o agradecia muito por isso, talvez por isso nunca tinha imaginado conviver ou morar com o Andy, pois ele as vezes falava sem parar, tinha obsessões, que lhe incomodavam, em sua casa nada podia estar fora de lugar.

Quando ficou sozinho na imensa casa de Sasha, não mudou nada de lugar, tampouco, comprou moveis para preencher o vazio da casa, suas únicas coisas, eram seu quarto, bem como um laptop, além de uma impressora, o resto era tudo igual.

Escreveu um livro sobre ser despossuído, ou realmente não ter nada para levar de um lado para outro, ou mesmo como ele dizia, se morresse amanhã, não precisava de nada para levar para o outro lado.

Entre os únicos objetos que sua mãe usava, tinha uma estrela de David, que usava no pescoço, quando soube seu significado, se informou, apesar de nunca pensar em Deus, ou anjos, no orfanato não seguiam religião nenhuma, se aproximou de uma sinagoga que havia no bairro, descobriu logo que era frequentada por pessoas ricas ali da região, mas uma do centro da cidade, era interessante, ele entrava se sentava, sentia paz, o mesmo aconteceu quando foi a uma mesquita, entrou se sentou, não havia ninguém rezando, então sentiu a paz do lugar.

Numa viagem que tinha feito com Sasha e Andy, já no final do grupo, foram se apresentar em Paris, andaram pela cidade, quando visitaram o Sacré Couer, se incomodou com o ruido que faziam as pessoas andando pelas laterais para conhecer o lugar, a sensação que tinha era que todos arrastavam os pés.

A tempos tinha ido a um enterro de um vizinho, a cerimônia em si, foi longa de gente falando da pessoa morta, se notava que queriam cada um dizer, eu era seu melhor amigo.

Ele achava estranho, pois a pessoa estava sempre sozinha na praia, fazia imensas caminhadas.

Depois a festa que fizeram em sua casa, soube posteriormente da briga ou disputa pelos seus bens.

Ele não tinha ninguém para deixar nada, tampouco tinha nada, cada ano, depois de ter lido os livros que lhe interessavam, colocava numa caixa, levava a um orfanato que tinha descoberto numa parte da cidade.   Quando fazia isso, deixava também um cheque para ajudar as freiras do local.

Em seu testamento, deixava primeiro tudo para o Andy, mas este morreu antes que ele, assim que recebeu o piano que lhe deixava, como sabia que no orfanato tinha aulas de música, levou para lá, assim fariam bom proveito, era um som que nunca tinha lhe interessado muito.

Dizia que suas calças era imortais, podiam durar anos, o seu uniforme para ir a lançamento de livros era sempre o mesmo, todo de negro, o mesmo tinha usado nos seus anos de cantor.

Odiava isso sim a cada lançamento, responder a mesma pergunta, porque já não cantava mais, como explicar que nem no banheiro cantava, tudo tinha ido para o caralho com a morte do Sasha.

Um dia vendo um filme, pensou em passar a dizer, que acolhia a 5ª emenda da constituição, mas sempre respondia quando faziam perguntas inúteis, “sem comentários”.

Alguns jornalistas sempre escreviam, que seus livros tinham muitas palavras, mas que nas entrevistas ele era parco delas.

Quando um se atreveu a falar nisso, lhe perguntou se realmente tinha lido o livro, se tinha entendido o mesmo, então não via motivo para ficar falando besteiras.

Com os anos, o passaram a chamar de velho rabugento, mas na verdade só tinha 45 anos, talvez por ser o mais jovem do grupo, tivesse essa idade.   Nunca soube se a do Sasha era a real, já que ele as vezes dizia que não sabia.    Andy era o mais velho dos dois, quando morreu foi silencioso, o fez dormindo, um enfarte massivo, quando foi reconhecer seu cadáver em sua casa a pedido da polícia, era como se ele tivesse levado um susto.

A partir desse momento, era como se a palavra morte tivesse outro significado para ele, foi vendo toda sua geração, seja de músicos, escritores, artistas desaparecendo, ou mesmo sendo esquecidos nesse mundo que andava mais rápido que as pernas podiam acompanhar.

Talvez seu último livro fosse isso, o mundo tinha mudado, os leitores de hoje, queriam uma história, para se distrair, nada para pensar.

Ele tinha tido a vida inteira a sensação que sua cabeça nunca parava, pois as vezes se despertava de noite, porque em sua cabeça tinha aparecido um enredo de algo para escrever.

Durante muito tempo, escreveu para uma revista de contos, usava outro nome, como se fosse um personagem.

Eram justamente essas histórias que lhe aparecia nos sonhos, ou fantasias como ele dizia.

O dia que seu último editor descobriu isso, queria editar todas num livro só, quando descobriu que eram muitas, bem como muitos nomes que usava desistiu.

Ele tinha aprendido a guardar tudo em disco duros, porque imprimia, ficavam apilhados em volta da mesa.   Aproveitava o texto impresso, para revisar a gramática, sua grande preocupação, os primeiros levava para a senhora que tinha lhe ensinado, quando ela morreu ficou órfão também disso.

Tentou fazer novas amizades, mas viu que ficava cada vez mais difícil, pois quando a pessoa começava a falar em coisas fúteis, ele pulava fora.

Se lembrava do Sasha dizendo que tinha inveja dele, quando ficava olhando para o nada, sabia que sua cabeça estaria funcionando a mil.   Dizia de gozação, que podia sentir o cheiro de queimado, um dia os fusíveis se vão apagar.

Antes de começar a escrever seu último livro, escreveu um sobre um suicídio, tinha tirado a ideia de um jornal, um crime que não se encontrava solução, pois a casa estava fechada por dentro, todos alegavam que a pessoa odiava que tivesse chaves de seu apartamento, estava por dentro, fechada.

Mas a secretária dizia que estava errado, o revolver estava do lado direito, a pessoa escrevia e fazia tudo com o esquerdo.

Não havia carta de suicídio, nem nada parecido, tudo estava nos seus lugares, nada tinha sido roubado, era uma incógnita.    Escreveu o último livro do inspetor, com ele já velho, sendo chamado para analisar esse caso, claro inventou que esse tinha visto que os outros não tinham visto, que era possível uma pessoa entrar e sair pela janela do banheiro se fosse uma pessoa magra, de estatura média, acabava descobrindo entre os pretensos amigos justamente um assim.

Mas na sua cabeça ficou a ideia, sabia que se lhe acontecesse alguma coisa, teria que ir para uma casa de pessoas de idade, um dia foi ver uma, pensou que era como voltar a um orfanato, mas com mais comodidades.

Pegou justamente um dia, em que parecia que o pessoal que trabalhava estava de mal humor, soube então que era o dia do pagamento, que pagavam pouco para tanto trabalho, escutou as reclamações, inclusive uma enfermeira dizendo que fulano devia morrer rápido, que estava cansada de atender o mesmo.

Riscou de sua cabeça essa possibilidade, foram ficando cada vez menos, já nem tinha o Andy para falar dessas coisas, este dizia que ele tinha muitos anos pela frente.

Tinha feito um exame completo anteriormente, riu quando o médico lhe disse que tinha muitíssimos anos pela frente, em sua família devia viver muito.

Que família pensou, meus pais morreram quando era um garoto, meus dois amigos, morreram jovens, não tenho família, mas não disse nada, para que ter que explicar.

Atualmente se apegava nisso, quando as pessoas faziam muitas perguntas, odiava explicar as coisas, inclusive tinha reanalisado tudo que o crítico tinha falado de seu livro.

Procurou saber aonde este tinha estudado, pois estava tudo ali, ficou surpreso em saber que o mesmo no curriculum tinha duas universidade com pós-graduação, morreu de vontade de ir atrás para saber se era verdade.

Uma vez Andy comentou isso com ele, que muita gente apresentava curriculum, metade das coisas eram inventadas.

Ele não tinha esse problema, realmente era no começo semianalfabeto, como dizia o professor de escritura, tinha aprendido gramática tarde.

Tinha tomado uma decisão, fez seu testamento, deixando tudo para o orfanato, que vendessem essa casa, com certeza daria um bom dinheiro.

Nesse dia, acreditavam que era seu aniversário, mas ele não sabia com certeza, fez uma coisa tomou um banho demorado, procurando limpar de sua cabeça qualquer imagem, depois se vestiu como se fosse apresentar, com roupas negras, se sentou no velho cadeirão do Sasha, seu último pensamento, foi vou me encontrar novamente com meu único e melhor amigo.

Realmente tinha sido tudo isso para ele.

O pessoal que estava na praia, escutou o barulho do tiro, pela primeira vez tinha a casa totalmente fechada.  O policial que veio se surpreendeu do vazio da casa, demorou para entender que ali vivia um artista, só quando um vizinho falou quem ele era, se lembrava dele quando garoto como ele cantava nada mais, nem sabia que era um escritor conhecido.

Seu advogado tinha uma carta aonde falava de tudo como queria, tinha comprado a muito tempo um lugar ao lado do Sasha e do Andy, estaria em paz, iriam cantar em outra freguesia.

Os jornais falaram, os críticos, soltaram que estava ficando um velho ranzinza, que nunca respondia com bons modos as perguntas, isso ele sabia.

Demorou para ver a famosa luz do final do túnel, mas a alcançou ou será que era só uma imagem.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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