UMA NOITE E MEIA
Estava realizando uma vingança de uma
maneira dura, mas sem pestanejar, porque o homem que tinha pensado que era seu
pai, o maltratava desde que tinha noção, a ele, bem como sua mãe.
Mas sua mãe antes de morrer, dizia, tudo
tem seu tempo, as voltas que o mundo dá, as pessoas pagam os erros que
cometeram aqui mesmo, nada de ir para o inferno.
Agora ele estava ali sentado, vendo esse
homem morrer aos poucos, já tinha tido um enfarte na leitura do testamento de
sua mãe.
Tinha sido irônico, ele quando ela ficou
doente, nem um dia entrou no quarto, para saber como ia, se precisava de alguma
coisa, era como se não existisse.
Na casa havia uma senhora que cuidava de
sua mãe, bem como ele, que ia a escola numa bicicleta velha.
Tinha 16 anos, na época que ela ficou
doente, os primeiros sintomas já avisavam que seria uma coisa difícil, um
desses cânceres que não adianta muito, nenhum dos tratamentos, tanto que ela
resolveu ir direto para cuidados paliativos.
Antes de ficar imobilizada, foi com ele a
cidade vizinha, aonde tinha uma conta no banco, abriu uma para ele, passando
tudo para seu nome, depois foram a um juiz, que a atendeu, pois tinha conhecido
seu avô. Ela lhe explicou o caso, o
emancipava com 16 anos, lhe explicou que assim ele poderia tomar a decisão de
ir a universidade.
Nessa época ainda não sabia o que ia
estudar.
O avanço da doenças, foi lento, até que
foram lhe falhando os órgãos principais, ai ele avisou o advogado que ela tinha
lhe apresentado. No dia que ela morreu
o avisou logo cedo, ele apareceu, com um xerife, bem como um carro funerário, quando
seu pai tentou vetar tudo isso, disse que a ia enterrar ali mesmo no campo, sem
cerimônia nenhuma.
Se viu frustrado, pior foi quando o
advogado lhe disse que tinham que assistir a leitura de seu testamento, depois
de terem cremado seu corpo, as cinzas iam ficar juntos com o de sua avó no
cemitério da outra cidade.
Ele estava furioso, essa mulher sempre foi impossível,
passou todo o dia falando a mesma coisa, ele foi com o advogado para ver como
fazer a cremação, foi quando descobriu que ela era judia, por isso nunca ia a
igreja na cidade mais perto, a cidade para aonde a levaram ficava a cinquenta
quilômetros.
O velho não apareceu, ele mentalmente o
chamava assim, pois estava sempre reclamando de tudo.
Só foi no dia da leitura do testamento,
quando o homem começou a falar, ele se mexia incomodo na poltrona.
Apresentou um documento, que tinham se
casado com separações de bens, coisas de seu avô, na verdade a certidão de
casamento era como um contrato, ele ganhava por administrar as terras.
Tudo ia para ele, o velho não tinha direito
a nada, a não ser manter seu salário de administrador.
Ali mesmo passou mal, aguentei essa mulher,
além desse bastardo, durante 17 anos, para isso, não é justo. Perguntou se podia impugnar o testamento,
por ele ser menor de idade.
Já não, ele foi independizado por ela, teve
que lhe explicar o que significava isso.
Mesmo a conta do banco, já tinha sido
trocada.
Ele só faltava espumar, foi quando colocou
a mão no peito, foi o tempo justo de chegarem ao hospital.
Uma semana depois voltou, para a fazenda,
na verdade não tinha para aonde ir, era um belo desconhecido quando chegou a
cidade, o mais interessante, não tinha nesses anos todos feito amigos, nem o
pessoal que trabalhava na fazenda, gostava dele.
Já chegou reclamando, foi quando ele, agora
tão alto como ele, forte, lhe disse que já sabia que era realmente um bastardo,
tinha escutado isso tantas vezes da boca do mesmo, que tinha se acostumado, mas
sou um bastardo que é dono de tudo, antes que pense em dar cabo de mim, sabia
que fiz um testamento, se me matas, ou morro, tudo vai para um orfanato da
outra cidade.
O outro ficou branco, como se ele tivesse
descoberto o que tinha ruminado esses dias no hospital.
Só reclamou que ele não tinha ido nenhuma
vez visita-lo lá.
Sequer respondeu. Era o começo de sua
vingança, não ia perder tempo de dizer que ele nunca entrava no quarto de sua
mãe, nem se tinha preocupado com sua doença.
Ele ficou mais furioso, pois a tempos ele
tinha aprendido a administra a parte financeira da fazenda, sabia que o
pretenso pai sempre tirava dinheiro a mais.
A partir de hoje, todo controle da fazenda é
meu.
Dias depois estavam no meio de uma boiada,
ele viu que o mesmo tirava o rifle, lhe apontava, só teve tempo de se abaixar,
matou foi uma vaca.
Lhe avisou que ia descontar de seu salário.
Todos tinham visto isso, ele não teve dúvida nenhuma chamou o xerife da cidade,
mas esse era o único amigo que o velho tinha, não fez nada.
Mas no dia do pagamento, descontou a vaca
que ele tinha matado, este colocou a mão no peito, agora fazia isso por
qualquer motivo, como fazendo chantagem.
Não era com ele, dias depois caiu do
cavalo, tinha tido um enfarte duro, mas não o levou para a cidade, simplesmente
o colocou no quarto de sua mãe, que ainda tinha uma cama de hospital.
O deixou ali, foram exatamente uma noite e
meia que ele levou para morrer, ele ficou ali ao lado sentado, olhando como
finalizava a vida do homem que o tinha maltratado a vida inteira.
Qualquer motivo bastava para um tapa na
cabeça, um empurrão para que caísse no chão, tinha aprendido a não chorar, o
que deixava o mesmo furioso.
Lhe dava trabalhos de um homem feito,
pesado, duros, mas ele aguentava, por isso agora tinha esse corpo grande,
forte.
Só se levantava para ir ao banheiro,
voltava com um copo de água, que o outro ficava pedindo com os olhos, não podia
falar.
O ódio que esses olhos transmitiam sem
querer o faziam rir.
Tinha descoberto por sua mãe no seus
últimos dias que seu pai a tinha obrigado a casar-se com ele, por estar gravida
de um rapaz que tinha ido para a guerra.
Ninguém sabia de aonde ele tinha saído, ela
lhe contou, foi quando prestou a atenção, que quando ia a cidade, ficava
prestando atenção nas pessoas, vigiando se ninguém o reconhecia.
Ela tinha buscado através do advogado, com
sua data de nascimento e nome, era um nome usurpado, pois a pessoa já tinha
morrido.
Mas como não existia nenhum documento, não
podiam saber quem era.
Ali ainda não existia uma base para buscar
pelas digitais.
Ele ali sentado, sem querer foi se
lembrando desde quando era pequeno, as maldades que esse homem fazia com ele,
pensar que o tinha chamado de pai.
Sem querer começou a relembrar em voz alta,
como dizendo te lembras quando fizeste isso, ou aquilo, tudo está aqui, batia
na sua própria cabeça.
Como o outro não podia falar, seu olhar era
de puro ódio.
Foi como fazer uma catarse, foi falando
tudo que tinha guardado, as surras escondidas de sua mãe, uma vez que rompeu
seu braço, a quantidade de vezes que o chamava de bastardo na frente dos
outros, enfim, a primeira noite foi isso, depois um silencio impressionante.
Mas não verbalizou mais nada, fazia uma
coisa tomava água, pingava alguma nos lábios do outro.
Ao final, seu olhar foi mudando, de ódio,
como um pedido de por favor.
Mas não se mexeu, somente quando viu que
era seus últimos momentos, foi que chamou a cidade aonde estava o advogado, lhe
falou que tinha tido outro enfarte, esse veio com uma ambulância, mas já era
basicamente tarde, não podia falar, nem chegou a sair dali mesmo.
Fez com ele, o que queria fazer com sua
mãe, o enterrou no cemitério que havia no alto da colina, que ela odiava, ali
estava enterrado o pai dela.
Quando ficou livre de tudo, nenhum
empregado falou que tinha assistido o enfarte, basicamente dois dias antes, não
suportavam o filho da puta.
Nem seu pretenso amigo, o xerife da cidade
mais perto apareceu.
Ele deu ordem ao advogado para vender tudo,
ali não havia nada para levar, a única coisa que achou interessante, foi um
diário pelo que ele entendeu de sua avó.
Enfiou numa mochila, nem tinha roupas para
montar uma maleta de viagem.
Quando apareceram os pretendentes, ele já
tinha feito um levantamento do gado, cavalos, que eram os animais que tinham
por ali.
Indenizou todo os empregados, com uma boa
compensação, embora a maioria iria ficar ali, trabalhando com o novo dono,
conheciam o terreno.
Quando o dinheiro entrou em sua conta no
banco, ele foi na velha caminhonete que tinha aprendido a conduzir, até a
cidade, se hospedou num motel, já na saída da mesma.
De lá depois de assinar todos os papeis,
colocar o dinheiro em sua conta, se informou se o banco tinha agência em todas
as cidades. Em momento algum disse para
aonde ia.
Tinha que decidir que universidade ir,
tinha sim os documentos da escola.
Tenho sorte pensou, vou poder estudar, não
havia oferta de bolsa de estudo nenhuma por ali.
Quanto teve tudo resolvido, o dinheiro
guardado, pensou num primeiro momento, irei comprar um carro novo.
Mas depois caiu na realidade, se ele
começava a gastar o dinheiro antes do tempo, o mesmo não ia durar muito.
Consultou a lista de cidades que o banco
tinha agência, a mais longe era Chicago.
Na velha caminhonete, tomou direção para
lá, foram dias comendo em restaurantes de beira da estrada, bem como dormindo
em motéis, ao lado de posto de gasolina.
Num deles, um mexicano, disse que gostava
da caminhonete, se tivesse dinheiro comprava de ti, num primeiro impulso pensou
em vender.
Olhou bem para o homem, estava com o mesmo
dois garotos, só perguntou se eles iam a escola.
Sim, mas me ajudam com jardinagem na
cidade, se tivesse um carro assim, iria para o outro lado do país, Los Angeles,
lá poderia ganhar mais dinheiro.
Viu que ele e a família dormiam embaixo de
uma árvore, no dia seguinte de manhã, foi com o mexicano até a cidade, para
surpresa do outro, passou a caminhonete para o nome do mesmo, mas não aceitou
dinheiro nenhum, tinha feito um cálculo durante a noite, de quilometragem,
quanto gastaria de gasolina para chegar a Los Angeles, foi ao banco retirou
dinheiro, deu para o mesmo, para realizares teu sonho.
Juarez queria lhe beijar a mão, soltou,
vejo que eres um jovem de coração limpo.
Meu amigo isso não existe, tampouco sou
puro, apenas tive sorte.
Foi dali a uma agência de carro, o que
comprou foi um de segunda mão, depois de ter visto vários novos, não queria
nada que chamasse atenção.
Colocou o pé na estrada, se tinha feito bem
ou não, lhe importava pouco, pois a vida dava muitas voltas, quando sua mãe
tinha ficado doente, foi que viu que a caridade humana era dura. A senhora que
tinham contratado para cuidar dela, apesar de ganhar, era bruta, acabava ele
mesmo fazendo muitas coisas.
Sabia que a única pessoa que se importaria
com ele, seria ele mesmo.
Chegou a Chicago, no dia seguinte, foi a
universidade, olhou tudo que havia de estudos ali, não se decidia, pensou já
que vim até aqui, vou para a mítica Maça, o paraíso dourado.
Sabia que podia conseguir algum emprego,
foi o que fez, conseguiu um pequeno apartamento no Bronx, já mobiliado, mas
precário, não se importou muito, na fazenda era igual, nada era de luxo.
Pagou três meses de aluguel, assim ele
tinha tempo para decidir, saiu em seguida procurando emprego, estava claro
acostumado a trabalho duro, primeiro trabalhou um tempo numa loja de ferragens,
durante meses, depois entendeu finalmente como se vestiam os jovens de sua
idade, tentou outra vez ir à universidade, olhava tudo, os cursos que poderia
seguir, mas nada lhe entusiasmava. A
conselho de uma professora que o via olhando tudo, está o levou para conversar
com um psicólogo. O outro riu, quando
ele disse que vinha do interior, que sempre tinha vivido numa cidade pequena,
na fazenda, mas que ali todo mundo saia, para estudar direito, ou no máximo
medicina, mas que ninguém voltava.
Nenhuma das duas coisas o atraiam, o outro
lhe perguntou que fazia para se divertir, ele rindo disse que não havia muitas
opções, o máximo que tinha feito, tinha sido ir ao cinema.
Não conheço nada de arte, estou começando a
ir mais ao cinema, me atrai muito, fui a um museu, sem falar nada com o pessoal
que trabalha comigo, mas confesso, que posso dizer, gosto disso, ou daquilo,
mas na verdade não entendo nada, gosto muito de esculturas antigas, as modernas
não.
O homem lhe aplicou um teste, tudo que
saiu, era voltado a arte, ele se matou de rir, se não convivi ou aprendi nada a
respeito, tinha lido alguns livros, porque na escola era obrigatório, mas não
sobrava muito tempo, quando acabava o dia, depois de comer, caia na cama
cansado, pois tinha que levantar cedo para trabalhar.
Um dia estava atendendo um cliente, esse o
olhava muito, viu que ele se afastava, fazia uma coisa com a mão, como um
quadrado, o olhando de longe.
Lhe entregou um cartão, tens uma cara muito
diferente, além de um bom corpo, sou fotografo de moda, gostaria que posasse
para mim.
Ele foi claro, não tenho experiencia
nenhuma.
Isso não pareceu importar ao homem, marcou
um dia com ele.
Vou pedir um dia de folga para assuntos
pessoais.
O chefe logo reclamou, que já tinha dado um
dia para ele fazer o teste, mais outro.
O senhor está contente com meu trabalho,
este disse que sim, que ele era o melhor empregado que tinha, além de que os
clientes gostavam de ser atendido por ele, por sua educação.
Lá foi ele, pensou, nem roupa tenho para ir
a esse lugar, como sempre pensou e vetou em seguida, comprar roupas novas.
Foi como se vestia, se o homem gostou do
que viu assim, dá igual.
Este ficou contente, lhe fez uma série de
retrato do rosto, em todas as posições, depois como ele estava vestido, abriu
uma cortina, viu o tamanho que ele usava, mandou vestir um terno, o homem lhe
fez o nó da gravata, nunca tinha usado nenhuma.
Fez uma coisa, ele usava cabelos grandes,
fez uma coisa, molhou sua cabeça, penteou os cabelos para trás.
Duas semanas depois o chamou, tinha
trabalho para ele, foi honesto não posso pedir outro dia, só tenho o domingo.
Estava no domingo esperando que ele fizesse
as fotos, escutava a conversa de outros dois manequins, um deles dizia que
tinha se matriculado na Parsons, vou fazer um curso primeiro geral, para saber
a que matéria me dedico, assim saberei qual caminho a tocar, o outro falava
numa coisa, queria fazer cinema, ser ator, já tinha feito uma substituição na
Broadway, mas sem sucesso, enquanto isso, vou fazendo fotos.
Os dois tinham uma aparência estupenda,
estavam vestidos a última moda, da cabeça aos pés, coisa que ele achava
exagerada.
Observou como eles posavam as roupas, mas
quando chegou sua vez, o fotografo disse a uma mulher que fazia maquilagem, um
básico, nada demais.
Lhe deu uma primeira roupa para vestir,
parecia ter sido feita para ele, se olhou no espelho, nem se reconhecia, tinha
mandado a senhora prender seus cabelos num rabo de cavalo, assim começou, lá
pelas tantas, disse que soltasse os cabelos, como ele costumava usar, fez isso,
passando os dedos como um pente, para soltar os mesmos.
Isso tudo o homem o fotografando.
Depois uma roupa diferente, entendeu que
eram de Halph Lauren, foi o nome que viu na etiqueta, o fez deitar-se num
tapete com estampado de índios navajos, foi o que ele disse, adorou o mesmo,
estava aprendendo ao mesmo tempo sobre arte.
Em seguida, outra roupa do mesmo. Nisso entrou um homem de cabelos brancos, com
uma pele muito queimada do sol, ficou olhando de longe ele sentado numa
poltrona, tinham igual na fazenda, ele fez o que fazia sempre, com uma perna
pendurada num dos braços, com a camisa aberta no peito.
O homem disse, faça a coleção inteira com
ele, mas tenho pressa para lançar no mercado, estendeu sua mão, Ralph, ele
disse simplesmente Toby McPherson. Foi
assim que assinou um dos contratos que durou anos.
Virou a cara da marca para tudo, perfumes,
inclusive algumas peças de moveis, com ele atirado em cima.
O fotografo lhe recomendou um agente, disse
quanto era o contrato, este agente te cobrara de início 20%, mas creio que
faras sucesso.
De fato quando viu o valor, na segunda
feira falou com o dono da loja, lhe mostrou duas fotos que tinha feito, ele se
matou de rir, com a tua estampa, pensei que alguém viria aqui na loja, te
levaria como gigolo, mas eres sério demais para isso.
Quando fizeram o catalogo, ele posou
inclusive em cima de um cavalo, o vídeo para o perfume futuramente seria assim.
Ele foi a tal Parsons, se dirigiu a um
balcão, perguntou se podia conversar com alguém que o orientasse.
O levaram a uma senhora já entrada nos
anos, com os cabelos, brancos, mas de corte moderno.
Ele contou a sua história, até o momento do
teste que tinha feito com o psicólogo, me confundi todo, nunca tive contato com
a arte em si, agora frequento alguns museus, mas só apreciando.
Disse que estava trabalhando de manequim,
estava fazendo uma seção de fotos, escutei um rapaz dizer que iria fazer um
curso aqui, como uma base para saber a que se dedicar, queria saber se isso
seria possível.
Temos um que começa agora, tipo curso curto
de férias, os professores analisam em que sais melhor.
Ele se matriculou, quando foi para seu
primeiro dia de aula, se matou de rir, havia fotos suas pela cidade, com a
roupa mais moderna de Ralph Lauren.
Quando entrou na Parsons, todo mundo olhava
para ele.
A senhora o foi levar a classe, agora terás
que os cinco minutos de fama, pois todo mundo vai querer ser seu amigo.
Ele entendeu, tinha levado duas cantadas na
loja, tinha feito que não tinha entendido, o convite para tomar uma cerveja, ou
coisa similar.
A primeira aula, era um professor baixinho,
ele deu a cada aluno um bloco de argila, disse que esculpissem como quisesse,
tinham o material na frente deles, sem pensar muito, se lembrou de uma
escultura que tinha gostado muito, da cara de um homem bruto, em mármore.
Quando viu estava fazendo a mesma,
procurou, se relaxar mais, imaginando o que tinha visto.
Quando acabou, o professor, foi olhando o
trabalho de cada um, parou no dele, disse o nome da cara da escultura.
Sim foi o que me veio à cabeça, estou me
informando de arte agora, um pouco tarde, embora só tenha 20 anos, me parece
que chego tarde a tudo isso.
Nada disso, teu trabalho é muito bom.
Foi a primeira paixão, quando chegou a aula
de desenho, se lembrou que na escola, era a única coisa que faziam em termos de
arte, mas claro, era tipo um jarro, com flores, ou uma cesta de frutas, começou
a imaginar a mesma imagem, com uma coroa de flores, foi o que acabou fazendo,
tinha essa imagem tão dentro da sua cabeça, que saiu perfeitamente, se lembrou
de flores do campo na fazenda, era o que ele desenhava na escola.
Viu que o outro modelo, também fazia essa
aula.
Afinal veio falar, com ele, todos
concorríamos naquele dia, para fazer o catalogo do Ralph, ele escolheu a ti,
boa sorte.
Ele resolveu mudar para um apartamento,
aonde pudesse ter um quarto para fazer o que aprendia.
Quando três meses depois, teve que fazer o
vídeo do perfume, filmaram no deserto, adorou, trouxe um saco de terra de lá,
pediu ao professor, que lhe ensinasse a preparar o material com essa terra.
O professor tinha cozido a cabeça que tinha
feito, numa outra aula, ele fez a mesma com a coroa de flores como no desenho,
lhe saiu melhor, o professor lhe explicou como fazer isso, com uma coisa tão
frágil como as flores.
Ao final, tinha sido aceito para fazer dois
cursos a sério, o de escultura, bem como de desenho, de todos os tipos, desde
nus artísticos, a outra tipo de desenho.
Agora ia aos museus que viu numa lista no
jornal, tirava um dia da semana, se informou se podia levar um bloco, para
tirar ideias, levava lápis, assim foi fazendo o que gostava.
Logo apareceram outras marcas querendo que
ele possasse, seu trabalho foi em crescendo, acabou depois de um tempo, indo a
Paris, para desfilar para duas marcas, na semana da moda.
Lá escutou falar da École de Beaux Arts,
foi dar uma olhada, não tinha nada a ver com a Parsons, mas achou interessante.
Quando termine o curso, venho fazer um ali,
se informou como poderia fazer, explicou em inglês, não falava francês o que
fazia.
Quando venha traga material, assim será
mais fácil te aceitarem.
Mal voltou para NYC, se matriculou num
curso de Francês, dividia seu tempo, estudando, inclusive tentou pintar, mas
não gostou muito.
Nas primeiras férias que teve, arrumou um
jeito de conciliar seu trabalho, com moda, foi para Paris, se dedicou a andar
sozinho, primeiro levou seu trabalho, a École de Beaux Arts, depois com auxílio
de um professor, que lhe disse o que deveria olhar, foi ao Museu Rodin, viu
trabalhos de Alberto Giacometi, visitou o museu do Quai-Branly, em todos eles
gastava horas de atenção as esculturas.
Voltou várias vezes a esse museu dedicado à
arte do mundo.
Quando voltou a NYC, escutou falarem de um
escultor que iria estar fora uma temporada, alugou seu ateliê, aprendeu com
ele, como cozinhar suas figuras de barro, já tinha aprendido a fazer moldes.
Um dia levou seu professor até lá, sem
querer influenciado por todos esses grandes artistas, tinha criado em sua
cabeça, uma maneira toda sua de ver essas obras de arte.
O mesmo, voltou lá com um galerista, que
gostou do trabalho, daí foi um pulo para sua primeira exposição, as revistas
que já o conheciam como modelo, agora falavam de seu trabalho.
O que mais lhe impressionou, pensou que ia
passar tudo em brancas nuvens, afinal ele era um belo desconhecido em termos de
arte.
Infelizmente teve que devolver o studio
para o dono, que retornava de sua viagem.
Esse o elogiou, o fato dele ter
aproveitado.
Finalmente tomou coragem, já falava bem o
francês, foi participar de outra semana da moda, desta vez levava o catalogo de
sua exposição, tinha vendido tudo.
Os professores o aceitaram, mas ele queria
mesmo era fazer classe, com um velho professor, com quem tinha conversado.
Este lhe perguntou se necessitava do fato
de ter estudado na École de Beaux Arts, para seu curriculum.
Nem tinha me preocupado com isso, queria
era aprender com o senhor.
Este o levou ao seu studio lá para os lados
de Saint Queen. No dia seguinte, conseguiu um pequeno studio para se hospedar,
começou a trabalhar com ele.
Foi como seu mundo se expandisse, depois
comentariam como ele tinha se relacionado com o professor, pois o mesmo era
conhecido por ser um sujeito de mal humor permanente.
Pois comigo, foi um grande incentivador do
meu trabalho.
Meio ano depois fez sua primeira exposição
em Paris, ficou conhecido como o Enfant Terrible Americano.
Começo a misturar metal com argila, fez uma
série de descobrimento de material, com o velho professor.
Esse se matava de rir, com as pessoas
comentando, finalmente encontro um aluno que tem sede, me toca saciar essa sede
de conhecimento.
Nas férias viajou com ele a Itália, para
verem obras dos Grandes Maestros, como dizia o professor François Girardotti.
Se surpreendeu, com ele, era uma mistura de
mãe francesa e pai Italiano.
Ele dizia que todos esses descobrimentos,
tudo tão novo para ele, um garoto saído do interior dos Estados Unidos, era
como uma bofetada de ar em sua cara.
Ficaram em Florencia vários dias, quando
voltou, tinha ficado impressionado com o David de Michelangelo.
Fez um trabalho, que quando François
comentou algo, disse que era como uma homenagem ao velho mestre, no fundo era
na sua cabeça como o irmão pequeno de David.
O fez todo em argila, metal, peças que
encontrou num ferro velho, era da mesma altura, teve que separar por parte, fez
de uma maneira que se podia montar e desmontar.
Quando na galeria souberam desse trabalho,
o proprietário foi correndo ver.
Não cabia na mesma pela altura, no ateliê
de François sim, pois o mesmo era uma antiga garagem de carros.
O mesmo conseguiu uma licença, instalaram a
escultura no jardim em frente a Galeria, em dois dias estava vendida a um
cliente, que a queria em seu jardim fora da cidade.
Ele fez uma coisa, doou uma parte, já que a
prefeitura tinha cedido ao pedido do Galerista, para a École de Beaux Arts.
Depois entrou num trabalho compulsivo, orientado
sempre por François, que lhe dizia que não fosse dominado pela obsessão.
Trabalhou sem parar em vários tipos de escultura,
viu um quadro no Museu D’Orsay, que lhe impressionou, reconstruiu em tamanho
natural, como uma embarcação de sobreviventes de um naufrágio, de africanos,
como tinha lido nos jornais.
Finalmente contou para o François, que se
preocupava que ele não vendesse, pelo dinheiro investido, disse que tinha
fortuna própria, desde que tinha saído de casa, um dinheiro que está todo no
banco aplicado, na minha cabeça não sei o dia de amanhã.
Sem querer um dia, começou a fazer uma
escultura de sua mãe, como andava na fazenda, com calças velhas, enfiada dentro
das botas, uma camisa de quadros imensa, com um chapéu velho que usava.
Fez os esboços, foi quando aprendeu a
trabalhar policromia, nas esculturas, novamente foi como uma aula particular
com o François, andaram por todas as Igrejas, museus, para verem obras assim.
O processo foi doloroso, ele fez várias de
sua mãe, as ia trabalhando tranquilamente.
Quando finalmente encontrou o processo, fez
a que tinha imaginado, em tamanho natural.
Era como uma homenagem as mulheres
americanas, ou do mundo que trabalhavam sol a sol no campo.
Saiu em mil revistas, um museu americano, a
quis comprar, ai entrou no meio de campo o dono da galeria que era como seu
agente.
Antes toda a série que tinha feito, para
chegar a grande foi exposta de uma maneira diferente, era como uma fila, que
acabava na grande.
Ele fez uma coisa, não aceitou a vender
nenhuma, enquanto estivesse andando pelos museus.
Só depois falou com o advogado que tinha
representado sua mãe, levou todas elas até a cidade de aonde tinha saído. Ficaria
num pequeno museu da cidade. Era uma
homenagem a mulher que tinha sido sua mãe.
Para purgar seu karma como ele dizia,
depois fez uma eram duas figuras, uma sentado com um rifle, observando outro
estirado no chão, tudo policromado.
Os críticos, diriam que era uma forma dele,
reencontrar consigo mesmo com sua alma americana.
Esse ele vendeu a um museu de Washington,
quem foi com ele a inauguração, foi o François, que dizia que não tinha errado,
quando vi seu trabalho aqui, de seus inícios, descobrir que ele tinha saído do
nada, sem saber o que aprender, escolheu uma linha de trabalho, relativo a
imagem em esculturas, sempre digo que ele bem poderia ser a reencarnação de
algum grande mestre.
Ficou mais de um ano, preparando na mesma
linha, uma série de esculturas tidas como americanas, a exposição foi
impressionante.
Depois como François estava doente, voltou
para Paris.
Muito se falava no relacionamento dos dois,
alguns maldosos diziam que iam até a parte sexual.
Mas nunca tinha existido nada disso, ele
tinha o François como um pai.
Na verdade, tinha experimentado na carne,
nos seus começos a história dos cinco minutos, as pessoas que se aproximavam
pela fama, isso o tinha transformado num sujeito esquivo, tinha relação, com
gente normal, que nem tinha ideia do que ele fazia.
Só depois de um tempo, estava fazendo peças
em metal, conseguiu um homem que inicialmente posou para ele, depois disse que
tinha trabalhado numa siderúrgica, sabia cozer o metal.
Quando viram tinha um relacionamento sem
problemas, ele quando assinava a obra, colocava também o nome de seu ajudante.
Pouco depois François morreu, deixou para
ele como herança, já que não tinha família, seu velho studio de Saint Queen.
Anos depois, já beirando aos 45 anos, foram
para o sul, lá se apaixonou por uma vila de pescadores, fez uma escultura
imensa, baseada nisso, os pescadores que saiam de noite para seu trabalho.
Chegou mesmo a sair com vários deles,
desenhando como um louco.
Pela primeira vez a exposição não foi
primeiro em Paris, mas sim num espaço que a prefeitura tinha lhe emprestado,
nas paredes todos os desenhos que tinha feito, no centro a imensa escultura que
tinha feito com Ozon Ruben, seu companheiro, era inteiramente desmontável.
Acabou comprando o armazém que tinha
alugado, passariam a viver lá.
A escultura foi comprada pelo governo
francês, exposta em Marseille.
Aos pouco aconselhado pelo gerente de seu
banco, foi transferindo o dinheiro que tinha nos Estados Unidos, para Luxemburgo,
assim se precisasse tinha dinheiro por perto.
Tinha se enraizado de tal maneira lá, que
quando falava inglês, as vezes falava como um francês falando outra língua.
Anos depois acompanhou a lenta agonia do
Ozon, que pelo seu trabalho tinha um problema profundo. O cuidou com esmero, como tinha feito com
sua mãe.
Nunca mais se escutou falar que tivesse
nenhum relacionamento com outra pessoa.
Ensinava na escola da vila, as crianças a
fazerem pequenas esculturas, depois as levava todas para seu studio, para o
forno.
Ensinou as mulheres a fazerem porcelana,
para assim ganharem dinheiro.
Montou com elas uma cooperativa, aonde
faziam uma série de trabalhos, que depois eram vendidos a lojas de decoração da
região.
Nunca mais saiu dali, tinha encontrado seu
pouso no outro lado do mundo, como ele dizia.
Aos seus 86 anos cuidava da produção da
mulheres e crianças da vila, trabalhava num ritmo tranquilo, esperando a hora
de prestar contas da sua vida.
O tempo tinha passado talvez rápido demais
para ele, que dizia que tinha passado como um vento fresco que lhe dava uma
bofetada na cara.
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