BAIRRO PEIXOTO
Outro dia me perguntaram se não tinha
vergonha, com o dinheiro que tinha viver nesse prédio antigo da rua Maestro
Francisco Braga, ali no Bairro Peixoto, quase soltei uma gargalhada, era sempre
o mesmo. Mal sabiam que mantínhamos a
fachada por isso, para não chamar a atenção, o edifício inteiro tinha sempre
pertencido a família, eram três andares, bem como uma garagem que era só para
os carros da família.
Meu avô o tinha comprado de um português
que faliu, aliás fez seu império assim, comprando de emigrantes que não tinham
dado certo, ou que os herdeiros botavam tudo a perder.
Mas por dentro os apartamentos eram os mais
modernos possíveis, todos já tinham sofrido várias reformas ao longo dos anos, uma
vez inclusive trocamos todas as instalações elétricas, além de água e esgoto.
Só tínhamos conservado sempre o parquete,
pois era maravilhoso, todo de pau brasil, que nem existe mais hoje em dia. Na
última reforma tinha mandado raspar o mesmo, que voltasse a forma original, eram
protegido todos por tapetes belíssimos, uma das minha paixões.
No antigo do meu avô morava minha mãe, era
o primeiro andar, no último aonde tinha nascido, sido criado era o meu, no
térreo, nunca tinha vivido ninguém, ali era a central ou escritório primeiro do
meu avô, depois meu e de minha mãe Edna Goldstein, sim somos descendentes de
judeus.
Nos edifícios ao lado viviam sua duas
melhores amigas, mas foram embora de lá, Marcia Sucupira, descendente de
emigrantes portugueses, vive em Ipanema, na rua Joana Angelica, num edifício
antigo também, mas imenso só para uma pessoa, mudou-se para lá, pois dá aulas
na Universidade Candido Mendes, no quarteirão seguinte.
Ellie Hadad, a terceira do grupo, hoje
minha sogra, vivia a tempos na Praia do Pepe, na Barra da tijuca, pois tinha lá
um restaurante de seu pai, um desses libaneses tão tradicionais no Rio.
As três iam a escola desde pequenas juntas,
depois seguiram sua adolescência uma na casa da outra, sem distinção, foram a
universidade na PUC, Pontifícia Universidade Católica, na Gavea, as três tinham
carro, mas cada dia, uma levava o seu, todas três tinham um Fusca, mas só o da
Marcia era cor de rosa, os outros normais.
Depois das aulas, elas esticavam para o
Arpoador, seus namorados da época eram todos da universidade, surfistas ao
mesmo tempo.
Nunca se casaram, viveram juntas com seus
namorados, minha mãe foi a que deu exemplo, quando pensou em se casar, por
insistência de meu pai, sentou-se com meu avô, na época já era viúvo, tinha um
belo relacionamento com a filha. Lhe
disse claramente, teu namorado o Noronha, não tem aonde cair morto, é mau
estudante, vai se formar em direito, mas se for esperto, fara concurso para
algum cargo público, disso não passara, tu ao contrário, vais herdar tudo que
eu tenho, que não é pouco, estamos na época da liberação feminina.
Ela quando se lembrava disso se matava de
rir, seu pai, podia ser tudo, mas era um sujeito informado, moderno, esperto,
ninguém o enganava.
Viva junto com ele, se eu estiver errado,
bata na minha cara, casasse com ele, mas caso contrário, vá à luta.
Arrumou o apartamento que hoje vivo, deu
para eles viverem, ele seguiu vivendo no debaixo, sem interferir nunca na vida
deles.
Foi o que acabou acontecendo, ela se formou
em administração de empresas, mas fez um concurso, foi trabalhar no IBGE, ele
por insistência dela, pois nunca parava em nenhum emprego, fez concurso para a
Petrobras, vivia de peito estufado, se apresentava para todo mundo assim, Dr.
Noronha, advogado da Petrobras.
As amigas seguiram seus passos, inclusive
Ellie, mandou seu pai, conversar com meu avô, dizem que foi produtiva a
conversa, o velho libanês, era duro, meu avô o conhecia de sempre.
Pense bem, só tens essa filha, o namorado
quer é se encostar, olhe bem a pinta dele, nunca será ninguém na vida, tu
construíste um bom negócio, esse sujeito vai gastar tudo. Se te enganas, mais
tarde que se casem. O velho depois
diria que ele tinha toda a razão.
Marcia era a única diferente, tinha feito a
universidade, com bolsa de estudos, seus pais eram porteiros num dos edifícios
ali da rua, o mais alto, viviam nos fundos do edifício.
Os pais eram tremendamente católicos, foi a
única que se casou, mas não com o namorado da época, sim com um dos seus
professores, isso porque ficou gravida, antes das amigas, mas abortou, teve um
problema, nunca mais pode ter filhos, também se divorciou anos depois, ele lhe
deu esse apartamento que ela vivia, era nossa tia para todos os efeitos,
qualquer coisa era com ela que eu conversava, afinal era advogada ao mesmo
tempo, professora, entendia das coisas.
Minha mãe, só teve a mim, Raul Goldstein,
meu avô fez uma coisa, foi ele ao registro civil, me registrou assim Raul
Noronha Goldstein, meu pai ficou uma fera quando soube, mas depois pensou bem,
assim eu era herdeiro do velho.
Ellie teve dois filhos, um deles o mais
velho, foi meu primeiro beijo, tínhamos a mesma idade, com diferença de meses,
tinha uns doze anos, um dia disse que queria experimentar, que eu tinha uns
lábios bonitos, me deu um beijo na boca, hoje somos casados, sócios em vários
negócios, grandes amigos, para o que der e vier.
Marcia mais nenhum, mas seria a tia de
todos, as três se reunião pelo menos um domingo do mês, a mais complicada era
tia Ellie, pois dava aulas numa escola de ricos na Barra, além de cuidar do
restaurante, dizia que se não fazia isso, perdia todo o lucro.
O local era do pai dela, mas os outros
restaurantes espalhados pela cidade, quem administrava era o irmão dela mais
velho.
Seu marido tinha um emprego mixuruca na
prefeitura da Barra, mas passava todo o tempo na praia com os amigos, ou na
varanda do restaurante, contando vantagens. Dos seus filhos, o mais velho,
Lucius fazia surf, mas era bom estudante, o menor o Decô ou Eduardo, esse era
igual ao pai, não queria nada com a hora do brasil, ia mal sempre na escola,
não se podia esconder, pois estudava na escola que a mãe era professora.
Lucius era brilhante, estudava muito, fazia
seu surf, mas era sério.
O único que nunca fazia surf era eu, não me
interessava muito, talvez por isso, meu pai, nunca foi muito próximo. Se eu ia a praia, dava uns mergulhos,
preferia jogar vôlei com o pessoal conhecido.
Ele dizia sempre, não sei a quem esse
garoto saiu.
Meu avô Alfred Goldstein, era filho de um
emigrante alemão, vindo anos depois da primeira guerra mundial, foi trabalhar
no Saara, logo se casou com a filha de um comerciante, estava ficando para
titia, só teve meu avô, ele com o dote de sua mulher começou a trabalhar como
um louco. Breve tinha mais lojas pelo
Saara, ao meu avô o educou para estudar, viviam ali mesmo, em cima de uma das
lojas, dizia a ele, tens que aprender a administrar as lojas, não vou viver
para sempre. Meu avô fez contabilidade,
depois vários cursos na Fundação Getúlio Vargas.
Assim foi aprendendo a administrar os
negócios do pai, expandindo o mesmo, o pessoal passou a comprar nas galerias de
Copacabana, ele estendeu os negócios para lá, foi quando se casou, tinha ido
num casamento judeu, com seu pai, conheceu minha avó lá, estava prometida em
Israel, mas acabou ficando por causa dele.
Os dois juntos, via nas fotos que me
mostrava saudoso, dizia que tinha sido sua parceira perfeita, ela cuidava das
lojas das galerias, depois estenderam para Ipanema.
Seu negocio era vender, camisetas, camisas,
calças jeans, em algumas tinham até ternos, tudo feito em São Paulo, camisas
feitas no subúrbio do Rio de Janeiro, acredito que minha mãe, passou a ter bom
gosto a partir dela.
Quando eu tinha uns quatorze anos, passava
muito tempo com meu avô, ele dizia tens que pensar no teu futuro, quero que
sejas feliz. Me falava do patrimônio
familiar, aonde ele abria loja, comprava o local, nunca alugava. Mesmo o restaurante dos meus avôs paternos
de comida nordestina, sim o Noronha, era filho de nordestinos, que ele escondia
dos amigos de todos os jeitos, era dele, meu avô paterno o administrava junto
com sua mulher.
O Noronha sempre pensou que era dos seus
velhos, por isso, aos sábados convidava os amigos para tomar uma cerveja, saia
dizendo, coloque na conta do Abreu, nunca pagava, todos pensavam tai um sujeito
legal.
Achava estranho, ele aparecia cada vez
menos em casa, falei com meu velho, ele disse que eu perguntasse a minha mãe.
A primeira coisa que me soltou foi, bendita
hora que escutei meu pai, pois se tivesse realmente casado com teu pai, estaria
lascada, no meio de um divórcio, ele querendo o dinheiro do teu avô.
Eu suspeitava disso, pois não tinha no
final o sobrenome dele, aliás ele participava muito pouco da minha vida, nunca
foi a minha escola, ou me levava de passeio.
Sem querer, perguntei a minha mãe, porque
estavam juntos.
Me respondeu que por minha causa, eu
precisava de um pai.
Lhe respondi, eu tinha meu avô que era mais
meu pai que o Noronha, eu sempre o chamei assim, nunca de pai.
Se for por mim, pode dar cabo dele, foi
minha resposta. Ela disse que ia
conversar com tia Marcia, para ver se não tinha problemas.
Meu pai era uma incógnita para mim, falei
com meu velho, ele me disse, vá ao sábado no restaurante de tua avô, escute as
conversas dele.
Fui com um grupo de amigos, me sentei
relativamente perto para escutar as conversas, estava de óculos escuros, um
boné, na cabeça, o lero-lero, era forte, contava muitas vantagens, que nada
como ser advogado da Petrobras, essas merdas.
Lá pelas tantas, se levantou para ir
embora, virou-se para minha avó que estava no caixa, disse que coloca-se na
conta do abreu, saiu rindo.
Nem foi se despedir da mãe, ou beija-la, o
segui, me despedi dos amigos, paguei a conta, afinal os tinha convidado. Fui atrás dele, andou um quarteirão, entrou
em outro restaurante, foi se sentar numa mesa, aonde estava uma loira bonita,
com um garoto, o mesmo era parecido comigo.
Fiquei escutando a conversa dela, ela lhe
cobrando uma ajuda para a escola do garoto, bem como tinha o aluguel atrasado,
me lembrei da cara dela, trabalhava numa das lojas do meu avô em Copacabana,
ele cortou rapidamente a conversa, dizendo que estava se divorciando de minha
mãe, que iam se casar.
Filho da puta, pensei, se não é casado com
ela.
Perguntou, se ela tinha descoberto alguma
coisa do velho, para ele usar como chantagem, se ele não tinha nenhum romance
com alguma vendedora.
Como vai ter, se aparece uma vez por
semana, se senta com a gerente, repassa toda a contabilidade, o dinheiro que
foi para o banco, a lista de material que falta, essas coisas.
Nunca o vi saindo nem com ela, para
almoçar, ou tomar uma cerveja, essa sempre nos diz, que patrão como ele,
difícil, pois é uma verdade, ganhamos melhor que em outras lojas.
Ele ficou contrariado, uma garçonete tinha
se aproximado várias vezes para pedidos, mas ele pagou o que a mulher tinha
consumido, vamos embora para casa.
Ela saiu levando o garoto, esse tentava
segurar sua mão, mas ele ignorava, os fui seguindo, até a rua Prado Junior.
Eles entraram num edifício. Eu esperei um pouco, fui entrando, mas não
sabia que andar era o apartamento.
Falei com o porteiro, todos eram uma fonte
de fofocas.
Me disse que ele não vivia ali, quem pagava
o aluguel era ela, que trabalhava numa galeria de Copacabana, esse sujeito é um
bom Pica Flor, isso sim, tem aparência, lábia, antes morava aqui outra das suas
garotas, foi embora levando uma filha dele, casou-se com um homem rico do
interior.
Agora essa usa o mesmo apartamento.
Me disse o número do mesmo.
O vi saindo em seguida, todo lampeiro, o ia
seguir, mas resolvi, falar com a mulher.
Ela abriu a porta, me reconheceu, eu fui
entrando, me disse sem cerimônia, teu pai não está.
Lhe disse que sabia, o tinha visto sair.
Olha, queria esclarecer a senhora de uma
coisa, ele não vai se divorciar nunca, porque não é casado com minha mãe,
coisas do meu velho, que sabia da sua calanha, é um bom filho da puta isso sim,
o garoto me olhava, com olhos compridos.
Passei a mão na sua cabeça, lhe disse sou
teu irmão mais velho.
Vais contar para o teu avô?
Nem pensar, não o vou meter nisso, mas
nunca lhe conte nada ao pica flor.
Sabias que aqui morava uma outra namorada
dele?
Não, me diz sempre que assim que se
divorcia, vamos morar no Bairro Peixoto, que tem um belo aparamento.
Eu me matei de rir, é o edifício do meu
avô, isso nunca vai acontecer.
Mas se quiseres vou te ajudar, não me
pergunte como, mas vou.
Afinal vocês almoçaram?
Nada, sempre faz isso, sai de fininho, os
convidei, descemos para comer num restaurante ali embaixo, o garoto ria, me
olhando, como te chamas, ele ficou sem graça, vais esconder de mim teu nome?
Ele tímido disse que se chamava Francisco,
o mesmo nome do meu pai.
Eu quase soltei uma gargalhada, pois o pica
flor, se chamava Gilberto Noronha, os convidei para me acompanhar, os levei
para nossa casa.
Minha mãe, claro sabia da existência da
moça, ficou contrariada, mas eu enfrentei a situação, esse menino não tem culpa
de nada, é meu irmão.
Meu avô desceu, deu de cara com sua
empregada, riu com o menino, esse é nosso avô, lhe soltei. Ele se abraçou ao velho que se derreteu.
Ficou quieto um tempo, disse para ela, eres
boa funcionária, nunca tive reclamações de ti, to precisando de uma moça numa
das lojas do Saara, alguém que tenha experiencia, sabes contabilidade?
Não, mais posso aprender, muito bem, vamos
fazer o seguinte, arrume tuas coisas nesse apartamento, amanhã te vamos buscar,
tenho um apartamento na Men de Sá no centro, o comprei de um amigo a algum
tempo, estava apertado. Creio que é
melhor, inclusive tem escola perto.
Minha mãe pareceu despertar de um sonho,
porque não fazemos isso agora, se é o que queres.
A senhora realmente não é casada com ele?
Nem pensar minha filha, a muito tempo, ele
só aparece aqui em casa, esperando a notícia que meu pai morreu, para botar a
mão no dinheiro.
Mas ele é advogado da Petrobras.
Minha mãe, caiu numa gargalhada
impressionante, isso ele diz para todo mundo, mas quando fez o concurso, só
passou para office boy, nada mais, até tem um salário para fazer nada.
Mas nunca foi advogado coisa nenhuma.
Me deu um cartão de visita, com seu nome,
cargo lá.
Ora isso todo mundo pode.
Eu olhei para ela, disse que iria
verificar.
Nesse dia, minha mãe chamou um senhor que
fazia pequenos transportes ali na rua, tinha uma Kombi, fomos até a casa dela, retiramos
suas coisas, o Francisco, não largava minha mão, fomos para a Men de Sá, as
duas se meteram a limpar o apartamento, que era tipo um lugar que o conhecido
de meu avô usava para levar suas aventuras.
Tiraram todas as merdas, depois ajudei a
levar para jogar no Lixo, meu avô disse aonde devia se apresentar na
segunda-feira, para começar a trabalhar, deixa que eu falo com tua chefe.
A mulher chorava abraçada a minha mãe, eu
sempre pensei mal da senhora, mas era esse filho da puta que me enganava.
No domingo o assunto da reunião das três
foi esse.
Nesse dia, minha mãe, encheu umas bolsas de
supermercado com as roupas dele, as três desceram com tudo isso, deixaram no
lixo ali na rua. Por acaso ele tinha
pensado passar por casa, para buscar umas roupas, deu com as três, atirando
suas coisas no lixo.
Minha mãe lhe pediu a chaves do edifício,
bem como do apartamento.
Não podes fazer isso, não vou assinar o
divórcio, ele mentia tanto que tinha acreditado nisso.
Mas o melhor que foi falar com o advogado
de meu avô, o atual era filho do anterior.
Esse lhe soltou que não podia fazer nada,
pois meu avô, com a doença de seu pai, tinha comprado o local, para ajudar a
pagar as despesas.
Quando meu avô soube, me pediu para chamar
a tia Marcia.
Ela veio preocupada, tirou informações a
respeito do advogado.
Esse é um sem vergonha seu Alfred, melhor o
senhor tirar seus documentos das mãos dele, se o senhor não tem problemas,
recomendo uma conhecida minha, foi minha aluna, é perfeita para esse tipo de
coisas, acaba de abrir um escritório.
Quando disse o nome, ele respondeu que
tinha alugado para ela esse escritório.
Na semana seguinte, foi com meu avô ao
escritório do sujeito, esse ficou branco como um papel, afinal meu avô era um
dos seus grandes clientes.
Acabou contando a história do meu pai.
Esse foi reclamar com minha mãe, como seu
pai podia fazer isso.
Olha é melhor tu dares no pé, teu filho
sabe tudo ao teu respeito, inclusive na segunda-feira foi a Petrobras, atrás de
ti, descobriu quem eres na verdade.
Tomei coragem, foi falar com meus avôs, o
velho estava em casa doente, tinha tido um pequeno derrame, chorou com a
história, por isso ele as vezes aparece para dormir, mas como sempre não ajuda
nada, minha avó soltou, que ainda tenho que pagar do meu bolso as bebidas que
ele paga para os amigos, com a história de colocar na conta do Abreu, que sou
eu, a tonta.
Pois a partir de hoje, o obrigue a pagar,
ele nunca conta para ninguém que vocês são seus pais.
Deixa minha avô, no sábado eu vou ficar com
a senhora no caixa.
Ele chegou como sempre, foi se sentar com
seus amigos, pediu cerveja para todos, mas não foi na parte de dentro falar com
sua mãe, tampouco viu que eu estava lá.
Quando fez menção, de ir embora, eu estava
atrás dele com a conta, acabou a conta do Abreu, esse restaurante é meu, se
queres fingir que ganhas bem, aviso a todos meu pai, é um simples office boy na
Petrobras, esse cartão de visita que dá para todo mundo é falso.
Os senhores veem aquela senhora de cabelos
brancos no caixa, é a mãe dele, é ela que acaba pagando a conta para ele, pois
o restaurante pertenceu ao meu avô materno, esse filho da puta, se aproveita,
mas isso se acabou.
Estava todo mundo escutando, ele entrou
para falar com a mãe, como me deixava fazer isso.
O que meu filho, falar a verdade na tua
cara, teu pai está em casa, doente, tu nem para perguntar por ele, ou se
necessitamos de alguma coisa.
Demos muito duro para pagar tua
universidade, teus luxos de surf, mas teu filho tem razão, eres um sem
vergonha.
Ele saiu furioso dali.
Voltou meia hora depois, tinha ido ao
apartamento de mulher, quando descobriu que eu tinha levado eles dali.
Tinha contado a história para minha avó,
ela tinha pena, tenho outro neto, não sabia.
Ele entrou furioso, mas lhe parei os pés,
seus amigos estão rindo do senhor até agora, claro que já sabiam da história de
advogado, todo mundo fala nas suas costas, além claro das amantes que enganas
dizendo que vais pedir o divórcio, a não ser que tenhas se casado com alguma
das suas amantes, pois com minha mãe não.
Já pedi a nova advogada de meu avô, que
quero mudar de nome, tirar do meu registro um tal de Noronha, todo filho tem
vergonha de ter um pai assim.
Ficou me olhando de boca aberta, eu era
mais alto que ele, tinha saído ao meu avô.
Só para lhe sacanear, te aviso de uma
coisa, sou gay, assim é melhor para o senhor, um pica-flor, não fica bem ter um
filho gay.
Ele não sabia que fazer.
Nesse dia voltou para a casa dos pais. Semanas depois seu pai morreu, o filho da
puta não ajudou em nada, quem fez o enterro, no cemitério de Jacarepaguá, foi
meu avô.
Perguntou a minha avó o que ela queria
fazer.
Na verdade nem sei, estou velha para seguir
no restaurante.
Bom vou te aposentar, venda seu
apartamento, venha viver aqui, a levou a uma residência de pessoas de idade, eu
pago para ti. Foste sempre honesta comigo.
Um dia meu pai apareceu no apartamento,
estava tramando vender o mesmo, mandar a mãe para casa de algum parente no
nordeste, se deu mal.
Mal entrou, o porteiro lhe avisou que sua
mãe tinha mudado, tinha vendido o apartamento, uma pena, uma senhora descente.
Ele correu para o restaurante deu de cara
que meu avô tinha vendido o mesmo, os amigos o chamaram se ia pagar uma cerveja
para o Abreu.
Se deu conta que estava queimado na praça.
Eu todos os sábados, ia buscar meu irmão,
assim sua mãe descansava, pois nesse dia, ele não tinha aulas, ficava o dia
inteiro na casa de uma vizinha.
O levava lá para casa, íamos a praia, ou
fazer algum programa, o levei ao zoológico, nunca tinha ido também, mas ele
adorava.
Pensei muito no que fazer da vida, resolvi
atender meu avô, era bom em matemática, fui para a Fundação Getúlio Vargas me
informar, logo estava fazendo administração de empresas, os professores eram
todos modernos.
Mas os dias que não tinha aulas,
acompanhava o velho em sua ronda por suas lojas.
Comecei a colocar em sua cabeça ideias, daqui
um tempo as galerias deixaram de funcionar, é melhor ir liquidando as que não
dão muito lucro, pensar em comprar num shopping.
Eu mesmo tinha ideias.
Um final de semana, Francisco ficou com
ele, sai de noite com uns amigos da universidade, me levaram a uma discoteca
gay, na barra da tijuca, dei de cara com o Lucius, com um namorado, ele veio
falar comigo, começamos a conversar, ele sabia de tudo, pois sua mãe tinha lhe
contado.
Ela devia fazer o mesmo, meu pai é um bom
filho da puta, o duro é que meu irmão está se metendo com quem não deve, falo
horrores, minha mãe também, mas ele colocou na cabeça que meu irmão vai ser
campeão de surf.
Depois se virou para mim, disse que não
sabia que eu era gay, pois sempre estas tão sério.
Como não vou ser gay, a primeira pessoa que
me beijou na boca foste tu, caímos na gargalhada, o namorado não gostou.
Um dia telefonei para tia Ellie, perguntei
por ele, sabia que estava estudando administração como eu, mas numa faculdade
da Barra.
Marcamos em Ipanema, lhe mostrei uma das
lojas do meu avô no shopping, aqui falta uma loja que venda coisas para os
surfistas, o que achas?
Ficamos falando horas, lhe disse que nas
férias ia fazer uma loucura, vou para a California, quero ver como fazem as
coisas por lá, modernizar algumas coisas que meu avô vai me passando. Queres vir comigo?
Ficou me olhando, estas falando em sério?
Olha Lucius, eu não entendo nada de surf,
tu sim, podemos ir vendo, discutindo essa ideia.
Falei com tia Ellie, no domingo, ele para
minha surpresa tinha vindo.
Claro, que sim, te pago a viagem meu filho.
Mas meu avô disse que de jeito nenhum, eu
já tinha falado com ele, da ideia.
Já sabia que para entrar para um shopping,
tinha que ter uma marca com nome, nisso pensava. Mas queria ver como funcionava
por lá, o mais parecido a Rio de Janeiro, era justamente California.
Os dois tínhamos sido bons alunos de
inglês, isso não seria problema.
Nos divertimos muitos, pois andávamos por
todos os lados aonde tivessem surfistas, jovens, primeiro fomos a Los Angeles, realmente
parecíamos estar de férias, ele sempre conseguia uma prancha emprestada para
dar um rolê, como dizia. Ao mesmo tempo,
íamos pelas lojas, comprávamos camisetas que fossem legais, tirávamos fotos, de
como funcionavam as lojas.
Fomos cimentando a ideia.
Por último fomos a San Francisco, assim podíamos
ver como os jovens se vestiam, as marcas preferidas já sabíamos eram a calças
Lewis, Lee, nisso tínhamos que pensar.
Compramos modelos que não existiam no
Brasil.
Havia uma empresa, que fabricava para a
marca, mas eram peças caras, muita gente trazia de Foz de Iguaçu, iam até o
Paraguai para comprar.
Anotávamos tudo o que pensávamos, um belo
dia acabamos na cama, foi perfeito, eu não tinha experiencia, que ele tinha,
mas foi o famoso depois dizer, “foi bom meu bem”.
Nem sabia ainda dizer que o amava, mas era
perfeito.
Voltamos cheios de ideias, agora a coisa
era colocar em prática, claro contamos com a ajuda do meu avô, sentamos com a
gerente da loja de Ipanema, ela reclamava sempre, preciso de coisa de gente
jovem.
Começamos, com camisetas pintadas a mão,
fazia um sucesso danado, tínhamos trazido fotos de lá, Lucius era bom nisso,
conhecia o pessoal que pintava qualquer coisa.
O mesmo fizemos, ele conhecia gente que
fabricava pranchas, mas que não tinham aonde vender.
Um professor nos orientou, ele passou a
estudar na Fundação também, nada de vendas a prazo, como faz o pessoal, o
Brasil não é um pais estável, nem nunca será.
Comprem barato, vendam barato, para que as
pessoas possam pagar imediatamente.
Inventamos que os vendedores, tinham que
usar as roupas que vendíamos, gente jovem ali da praia de Ipanema.
Nessas alturas, o via preocupado, quando
nos sentamos para falar, depois de uma bela noite juntos, me disse que era seu
irmão, tinha ido parar no hospital, tinha tomado drogas.
Já tinha entendido que essa história de ser
campeão de surf, era coisas da cabeça de seu pai, ele era quando muito
razoável, mas campeão jamais.
Entrou numa espiral, pior que o filho da
puta do meu pai, só fala merdas para ele.
A reunião das três agora, era sobre isso,
como ajudar a Ellie, mas foi ela mesma, depois que o Deco morreu, o foram
encontrar dias depois na praia.
O babaca foi dizer para todo mundo que seu
filho estava surfando de madrugada, para ser campeão.
Lucius perdeu a paciência, deixa de dizer
asneiras, essas merdas quem enfiou na cabeça dele foste tu, ele nunca ganhou
nenhum campeonato.
Pior foi descobrir que um dos
distribuidores de drogas na Barra era seu próprio pai, não o perdoou, denunciou
a polícia.
Tinha sido despedido de seu emprego a
meses, finalmente como ela dizia, Ellie despertou de um longo pesadelo,
justamente nessa época seu irmão, que levava as coisas do pai, morreu de AIDS,
ninguém sabia que o mesmo era gay, foi outro choque, mas ela superou, fez uma
coisa vendeu o local a Barra, tinha uma empresa interessada no local para
construir um prédio, fez um acordo, vendia, mas queria um lugar embaixo, assim
Lucius abriria ali uma loja.
Para todo mundo viviam juntos.
Com o tempo, foi convencendo o avô a vender
os locais que não davam lucro, que as lojas não iam para a frente, lhe disse
claramente, o futuro hoje é os shopping, vão acabar com o comercio de rua.
Investiram no primeiro, com suas lojas de
camisetas de surf, bermudas, tinha um setor de roupas para surf, bem como
pranchas.
Depois abriram para experimentar uma loja
só de jeans, não vendiam Lee, nem Lewis, mas sim as fabricadas no Brasil, que
tinham copiado as duas marcas, tinham um preço excelente, vendiam como água,
juntaram a mesma camisetas, polos, camisas modernas, funcionou, logo abriram no
shopping, chegou um momento, mantinham uma loja, a melhor em Copacabana, a do
centro comercial em Ipanema, as outras fecharam aos poucos, mas nunca tocou nas
do Saara, ali vendiam sem ser da marca, mas basicamente fabricadas nos mesmos
lugares.
A mãe do Francisco era gerente de uma dela,
ia em frente.
Um dia conversando com ela, lhe falou do
pessoal que estava indo a Foz de Iguaçu, comprava material informático vendia
numa loja ali perto.
Foram os dois até lá, olhou bem, o tipo que
era, tinha uma em Copacabana igual, começaram mandar pessoas a Foz, para
passear, ao mesmo tempo lhe traziam material, principalmente coisas que
clientes encomendavam, pois eram caras no Brasil.
Ele tinha remodelado o comercio do avô,
como a mãe do Francisco tinha um namorado, ele foi viver com eles, era o filho
que ele precisava.
Anos depois adotariam garotos que estavam
em algum orfanato, chegariam a ter mais filhos que os próprios pais.
Sua mãe deixou o trabalho no IBGE, para
trabalhar com ele, as três agora solteiras, tinham seus programas de final de
semana, aproveitavam a vida, namorados, nunca mais diziam.
Eles faziam uma coisa todos os anos, uma
viagem, para saber como ia o comercio nos lugares que interessavam a eles.
Ninguém entendia como os dois sendo homens
bonitos, não tivessem aventuras.
Eles riam dizendo que já tinham.
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